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Eco-Evo-Devo

Aula 1: História da
embriologia na teoria da
evolução

2018-1
Eduardo Bouth Sequerra
ebsequerra@neuro.ufrn.br
1809: Filosofia Zoologica
• Primeira teoria a dizer que
as espécies são entidades
mutáveis

• Primeira teoria formal para


explicar a evolução das
espécies

• A fonte da diversidade é a
própria interação das
espécies com um ambiente
em transformação ao longo
das gerações

Jean Baptiste Lamarck


Pergunta 1
De onde vem as informações novas, que
fazem os organismos mudarem ao longo
das gerações, segundo Lamarck?

A Do ambiente e do DNA
B Do DNA
C Da sua própria vontade
D Do ambiente
1830: O grande debate entre
Cuvier e Geoffroy
• Anatomia funcional • Anatomia filosófica
• Defendia que as formas já • A forma deve ser a única
eram formadas para cumprir característica utilizada na
uma função (condição de classificação
existência) • Lança o conceito de analogia
(homologia) entre partes e de
• Diferentes características plano-base na organização do
possuem diferentes pesos de corpo dos animais (unidade do
acordo com sua importância tipo)
no estilo de vida do organismo • Teve que admitir falar de
entidades ideais e defendia a
procura por leis universais
1859: A Origem das espécies
• Herança com modificação

• Seleção Natural

• Se opõe ao fixismo mas sem


Charles Darwin transmutação. Árvore da vida

• Não se opõe a herança de


caracteres adquiridos

• Não propõe um mecanismo de


origem das modificações

• Seleção de variantes
independentes após
isolamento reprodutivo
Pergunta 2
Segundo Darwin, de onde vem a
variabilidade?

A Do ambiente
B De mudanças na informação herdável
C Do DNA
D Da vontade de um design inteligente
A embriologia nos tempos de Darwin:
Karl Ernst von Baer
• Refuta a ideia de que o desenvolvimento embrionário de
animais “superiores” passa por fases correspondentes às
formas adultas de animais “inferiores".
• Ao invés, o desenvolvimento embrionário de um indivíduo
recapitula os estágios de ancestrais cada vez mais próximos.

Haeckel, 1874
A embriologia nos tempos de Darwin:
Karl Ernst von Baer
• Refuta a ideia de que o desenvolvimento embrionário de
animais “superiores” passa por fases correspondentes às
formas adultas de animais “inferiores".
• Ao invés, o desenvolvimento embrionário de um indivíduo
recapitula os estágios de ancestrais cada vez mais próximos.

Haeckel, 1874
Darwin e o desenvolvimento
“Community of embryonic structure reveals community of
descent,” em Origin of Species

Kowalevsky, 1866, apud Gilbert and Epel, 2009


Elaborações sobre Haeckel
“ontogeny does not recapitulate phylogeny: it creates it” Walter
Garstang, 1922
Pergunta 3
O que a relação entre a forma de
embriões revela?
A Que animas mais complexos adicionam fases
de desenvolvimento à fase adulta de animais mais
simples
B Que quanto mais características novas um
organismo tiver, mais fases de desenvolvimento
terá
C Que existe um plano básico desenhado por um
criador
D Que as características mais precoces do
desenvolvimento são compartilhadas por um
grupo maior ao qual o organismo pertence
A caixa-preta do desenvolvimento
O Primeiro passo da caixa preta
August Weismann 1885:
A distinção gameta-soma

apud Gilbert, 2010


A embriologia experimental não
explicava muito sobre variabilidade

Spemann e Mangold, 1924


Um mecanismo vindo de outra escola:
O alvorecer da genética

+
Pergunta 4
Segundo a biologia do século XX, de
onde vem a variabilidade?

A Da interação do organismo com seu


ambiente
B De mutações aleatórias ao DNA
C De mutações no DNA causadas por
fatores ambientais
D De informações dentro da célula que não
estão no código genético
A síntese moderna
• Anos 20. T. H. Morgan- Modelos matemáticos para genética
de populações. Seleção natural dentro da espécie.
• Anos 30. R. A. Fisher, J.B.S. Haldane e S. Wright- Modelos que
incluiam mutações. Coeficiente de relação (r).
• Anos 30 e 40. T. Dozhansky e E. Mayr- Introduzem estudos de
populações naturais e o conceito de isolamento reprodutivo
para eventos de especiação.
• Nos anos 40 G. G. Simpson adicionou a paleontologia a
síntese. Nos 70, a seleção sexual, herança polimórfica
(fenótipos dependentes do ambiente) e kin selection
entraram nos modelos matemáticos da síntese.
A síntese moderna
• Anos 20. T. H. Morgan- Modelos matemáticos para genética
de populações. Seleção natural dentro da espécie.
• Anos 30. R. A. Fisher, J.B.S. Haldane e S. Wright- Modelos que
incluiam mutações. Coeficiente de relação (r).
• Anos 30 e 40. T. Dozhansky e E. Mayr- Introduzem estudos de
populações naturais e o conceito de isolamento reprodutivo
para eventos de especiação.
• Nos anos 40 G. G. Simpson adicionou a paleontologia a
síntese. Nos 70, a seleção sexual, herança polimórfica
(fenótipos dependentes do ambiente) e kin selection
entraram nos modelos matemáticos da síntese.
A síntese moderna
• Anos 20. T. H. Morgan- Modelos matemáticos para genética
de populações. Seleção natural dentro da espécie.
• Anos 30. R. A. Fisher, J.B.S. Haldane e S. Wright- Modelos que
incluiam mutações. Coeficiente de relação (r).
• Anos 30 e 40. T. Dozhansky e E. Mayr- Introduzem estudos de
populações naturais e o conceito de isolamento reprodutivo
para eventos de especiação.
• Nos anos 40 G. G. Simpson adicionou a paleontologia a
síntese. Nos 70, a seleção sexual, herança polimórfica
(fenótipos dependentes do ambiente) e kin selection
entraram nos modelos matemáticos da síntese.
A síntese moderna
• Anos 20. T. H. Morgan- Modelos matemáticos para genética
de populações. Seleção natural dentro da espécie.
• Anos 30. R. A. Fisher, J.B.S. Haldane e S. Wright- Modelos que
incluiam mutações. Coeficiente de relação (r).
• Anos 30 e 40. T. Dozhansky e E. Mayr- Introduzem estudos de
populações naturais e o conceito de isolamento reprodutivo
para eventos de especiação.
• Nos anos 40 G. G. Simpson adicionou a paleontologia a
síntese. Nos 70, a seleção sexual, herança polimórfica
(fenótipos dependentes do ambiente) e kin selection
entraram nos modelos matemáticos da síntese.
O Triunfo da síntese:
O Momento em que ela engloba a biologia molecular
Anemia falciforme- a substituição de
uma A por uma T no gene da b-
globina, alelo recessivo (HbA para
HbS).
O protozoário da Malária
(Plasmodium) mata mais facilmente
hemácias de homozigotos HbA

Regiões com altos níveis de


Plasmodium falciparum tem altas
porcentagens de humanos
heterozigotos para b-globina
A mutação surgiu pelo menos 5 vezes!
Labie et al., 1989; Lapoumeroulie et al., 1992
O Triunfo da síntese:
O Momento em que ela engloba a biologia molecular
Anemia falciforme- a substituição de
uma A por uma T no gene da b-
globina, alelo recessivo (HbA para
HbS).
O protozoário da Malária
(Plasmodium) mata mais facilmente
hemácias de homozigotos HbA

Regiões com altos níveis de


Plasmodium falciparum tem altas
porcentagens de humanos
Friedman, 1978
heterozigotos para b-globina
A mutação surgiu pelo menos 5 vezes!
Labie et al., 1989; Lapoumeroulie et al., 1992
O Triunfo da síntese:
O Momento em que ela engloba a biologia molecular
Anemia falciforme- a substituição de
uma A por uma T no gene da b-
globina, alelo recessivo (HbA para
HbS).
O protozoário da Malária
(Plasmodium) mata mais facilmente
hemácias de homozigotos HbA
Allison, 2002
Regiões com altos níveis de
Plasmodium falciparum tem altas
porcentagens de humanos
heterozigotos para b-globina
A mutação surgiu pelo menos 5 vezes!
Labie et al., 1989; Lapoumeroulie et al., 1992
O Triunfo da síntese:
O Momento em que ela engloba a biologia molecular
Anemia falciforme- a substituição de
uma A por uma T no gene da b-
globina, alelo recessivo (HbA para
HbS).
O protozoário da Malária
(Plasmodium) mata mais facilmente
hemácias de homozigotos HbA

Regiões com altos níveis de


Plasmodium falciparum tem altas
porcentagens de humanos
heterozigotos para b-globina
A mutação surgiu pelo menos 5 vezes!
Labie et al., 1989; Lapoumeroulie et al., 1992
Penetrância: Por que ela tinha tanto
medo do câncer?
Mulheres que herdam um alelo mutado de BRCA1
tem de 55 a 65% de chance de desenvolverem
câncer de mama e 39% câncer de ovário até os 70
anos de idade. Ford et al., 1998

Baranzini et al., 2010


Canalização
Waddington 1940
Schmalhausen 1949
40oC por 4 horas entre
25oC fenótipos normais 17 e 23 horas de formação da
pupa

Todos normais
X

Linha selecionada “Downward”


Choque térmico

Linhagem selecionada “Upward”


Choque térmico
Aumento da porcentagem de defeitos nas
veias cruzadas
X

“Upward” controle
Sem choque térmico em cada geração
% de indivíduos com fenótipo

4
crossveinless

4
... 16
Número de gerações

Waddington, 1953
Waddington, 1953
Lynn Margulis, 1967:
Teoria da Endosimbiose
Elysia chlorotica

Mujer et al., 1996


A teoria endosimbiótica

Lynn Margulis

Margulis, 1996
As “grandes” simbioses
Leguminosas e
bactérias
fixadoras de
nitrogênio
• Esta relação produz 170 Bactéria produz
milhões de toneladas de uma proteína
nitrogênio fixado por ano heme
• 20 milhões são produzidos +
em erupções vulcâncias, A planta produz
relâmpagos e incêndios uma globina
florestais =
• 80 milhões são produzidos leghemoglobina
por um processo industrial
utilizado na produção de
fertilizantes
Ecosistemas entre marés

Removem
Grama marinha e compostos com
bactérias sulfito do meio e
fixadoras de se beneficiam do
nitrogênio oxigênio
produzido
Fungos e plantas

• Sabe-se a muito tempo que


líquen é o produto de
associação simbiótica entre
plantas e fungos

• Todas as plantas testadas, no


entanto, possuem fungos
detectáveis por PCR em seus
tecidos
Micorrizas

• Aumentam a superfície de absorção da planta e se beneficiam de seus produtos


• Estima-se que 95% das plantas façam essa associação
• Fundem plantas de diferentes espécies em uma rede
Eldrege e Gould 1972:
Equilíbrio pontuado

evolution.berkley.edu
O Ano de 1977
• Primeira parte com análise
histórica e avaliação do conceito
de recapitulação
• Traz o desenvolvimento
embrionário de volta a teoria
evolutiva. Conceito de
heterocronia e neotenia
• A estrutura química dos
organismos não é muito
diferente. O que explica a
variabilidades entre eles é a
regulação dessas moléculas no
espaço e no tempo
O Ano de 1977
• Primeira parte com análise
histórica e avaliação do conceito
de recapitulação
• Traz o desenvolvimento
embrionário de volta a teoria
evolutiva. Conceito de
heterocronia e neotenia
• A estrutura química dos
organismos não é muito
diferente. O que explica a
variabilidades entre eles é a
regulação dessas moléculas no
espaço e no tempo
O Ano de 1977
• Primeira parte com análise
histórica e avaliação do conceito
de recapitulação
• Traz o desenvolvimento
embrionário de volta a teoria
evolutiva. Conceito de
heterocronia e neotenia
• A estrutura química dos
organismos não é muito
diferente. O que explica a
variabilidades entre eles é a
regulação dessas moléculas no
espaço e no tempo (sua história)
O Ano de 1977
O Surgimento da Embriologia Molecular:
Homologia Profunda

Halder et al., 1995


Pergunta 5
Qual das opções abaixo NÃO é uma crítica a ideia
de que toda a variabilidade vem de mutações no
DNA?

A A seleção natural selecionou mutações no gene que leva


à anemia falciforme em populações expostas à malária
B Se mutações acumulam com o tempo deveríamos ver
lentas e progressivas mudanças no registro fóssil. E não
vemos
C Novas características causadas por um estresse
ambiental durante o desenvolvimento podem ser herdadas
sem depender mais da informação ambiental
D A maioria dos alelos dos genes não garante em 100% a
ocorrência do fenótipo
Como a biologia do desenvolvimento
ajuda a entender como genes e ambiente
integram na evolução?
Exemplo 1: Herança de RNAs
miRNAS

Alberts et al., 2014


miRNAS e o desenvolvimento de
espermatozóides

Chen et al., 2016


miRNAS e distinção gameta-soma
• Darwin publica em 1868
os dois volumes de The
Variation of Animals and
Plants Under
Domestication

• Nele, sugere que além da


divisão celular, células
podem liberar
numerosas moléculas
diminutas, chamadas
gêmulas, que eram
capazes de auto-
replicação, difusão pelos
tecidos, e transmissão de
célula para célula ou de
pai para filho

Chen et al., 2016


Exossomos

Budnik et al., 2016


miRNAS e distinção gameta-soma

Cossetti et al., 2014


miRNAS e distinção gameta-soma

Cossetti et al., 2014


miRNAS nos espermatozóides e estresse
no começo da vida
• Adverse Childhood
Experience (ACE) study,
EUA
• Questionários de sim ou
não envolvendo
experiências domésticas
até 18 anos
• Cinco sobre abuso físico,
verbal, sexual,
negligência física e
emocional
• Cinco sobre outros
membros da família. Pai
alcoólico, vítima de
violência doméstica,
encarceramento, doença
mental diagnosticada,
desaparecimento de um
pai por divórcio, morte
ou abandono
Dickson et al., 2018
miRNAS nos espermatozóides e estresse
no começo da vida
• Modelo de estresse
social em que
camundongos são
colocados com machos
estranhos duas vezes a
cada semana durante
sua adolescência-
juventude

Dickson et al., 2018


Exemplo 2: Liberação de
variabilidade por estresse
ambiental
Mutantes de hsp90

Susan Lindquist

Rutherford e Lindquist, 1998


REVI EW S

P AD
AD P

Chaperone cycle

HOP

p23 ATP ATP p23 g


Client Bind H

HSP40 Client NT
Mature client
HSP70 HSP40 Client
C
HSP70 CYP40 CYP40
HOP ATP T

Binds
b c Cdc37 d p23
NT
Taipale et al., 2010
y Kinases Ster g

LRR proteins
(v-Sr Nuclear receptors
pr ,
Ster receptors
(GR )
receptors
pr
(PP PXR)
e )
c C Pr
ce y FKBPs tr g
Myosin HSP90 Mitochondrial proteins
TO 0

Viral proteins Transcription factors


? ? P ,
pic vir psid
pr ? ?
reo trithor
? ?
pr

eNOS Calcineurin ce

TERT HSF1

Te e
e
e Taipale et al., 2010
Location( Surface(River( Tinaja( Sabinos(Cave( Rio(Subter6
environment( Cave( reano(Cave( Measurement of eye size. (D) Measurement of orbit size (sta
Temperature( 26.4!°!C! 23.4!°!C! 23.5!°!C! 23.8!°!C! (t-test); grey: standard deviation (F-test)).
pH(
O Astyanax mexicanus e a caverna
Dissolved(
oxygen(
6.6!!
80!%!
7.4!
59!%!
n.!d.!
n.!d.!
n.d.!
n.d.!

Conductivity( 1324!µS! 724!µS! 230!µS! 505!µS!

S Table 1: Abiotic factors in one surface environment (picture bottom left: Nacimiento
del Rio Choy) and three cave environments (picture bottom right: Tinaja Cave) .
!
!

Supplementary Text:

The genetic evidence suggesting that eye loss is adaptive is based on the insight of H.
Allen Orr that the polarity of alleles fixed in a derived population can provide evidence

Fig. S4: Anatomy of orbital bones in Astyanax mexicanus.


Clifford Tabin
A inibição de Hsp90 durante o desenvolvimento
leva ao aumento da diversidade de fenótipos

Rohner et al., 2013


Exemplo 3: Herança epigenética
do comportamento maternal
Metabolismo de stress: Possível
mecanismo molecular do acomodamento
genético

Bear et al., 2002


O epigenoma e o comportamento materno

Quando adultos:

•Menos
medrosos

•Baixa resposta
Hipotalâmica-
pituitária-adrenal

Szyf et al., 2005


Comportamento maternal da prole
depende do comportamento de sua mãe
de criação

H/C H/w H/H H/L L/C L/w L/L L/H

Francis et al., 1999


O gene do receptor glicocorticóide

Weaver et al., 2004


O comportamento parental imprime uma
informação epigenética na prole

Weaver et al., 2004


Aumento da metionina da dieta reverte
metilação induzida pela mãe

Weaver et al., 2005


Metilação do promotor no
hipocampo de humanos

McGowan et al., 2009


Conclusões
Conclusões
• Os genes não explicam o fenótipo completamente

• O ambiente é uma força criativa que gera


diversidade

• Existem mecanismos moleculares para as


informações ambientais registradas pelo indívíduo
se tornarem herdáveis

• O fenótipo é o produto da história da relação


entre os genes, o organismo e seu ambiente
durante o desenvolvimento.

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