Infração Penal. Dizemos que infração penal é gênero,
do qual são espécies: Crime ou delito e contravenção. O Brasil adota a chamada teoria dicotômica ou bipartida. A lei de Introdução ao Código Penal – decreto 3.914/41 Brasileiro,traz a seguinte definição de crime: “Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente” CRIME CONCEITO: Há três conceitos de crime: conceito material, conceito formal e conceito analítico de crime: Conceito material: é lesão ou exposição a perigo de bens jurídicos fundamentais para a vida em sociedade. Conceito formal: é a conduta abstrata descrita no tipo. Conceito analítico (ou estratificado): enquanto alguns afirmam que crime é fato típico, antijurídico e culpável (teoria tricotômica ou tripartida), outros entendem que crime é fato típico e antijurídico, enquanto a culpabilidade figura como pressuposto para a aplicação da pena (teoria dicotômica ou bipartida), para os que adotam a primeira teoria, se alguém que realiza a conduta típica e antijurídica não tiver culpabilidade, não praticou o crime; já para os adeptos da segunda teoria, se o agente não foi culpável, ele não merece pena, embora tenha praticado o crime. As teorias do crime, necessitam para comporem –se dos elementos do crime, e são eles: Tipicidade (Fato Típico) – majoritário. Ilicitude (Antijurídico) – majoritário. Culpabilidade – majoritário. Punibilidade – minoritário. ELEMENTOS DO CRIME CRIME = FATO TÍPICO + ANTIJURIDICIDADE + CULPABILIDADE a) - FATO TÍPICO (Tipicidade ou Antinormatividade) - O conceito de tipicidade ou antinormatividade é o enquadramento da conduta concretizada pelo agente na norma penal descrita em abstrato, isto é, a norma tem de existir anteriormente a prática da conduta delituosa, obedecendo assim o princípio da anterioridade da lei penal, consoante ao artigo 1º do Código Penal: “Não há crime sem lei anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal.” São elementos do Fato típico: Conduta, resultado, nexo causal ou relação de causalidade, tipicidade. - Nexo de causalidade - Nexo causal. É o elo (a ligação) que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa a este. É o chamado caminho do crime. Ex.: um motorista, embora dirigindo seu automóvel com absoluta diligência, acaba por atropelar e matar uma criança que se desprendeu da mão de sua mãe. Mesmo sem atuar com dolo ou culpa, o motorista deu causa ao evento morte, pois foi o carro que conduzia que passou por sobre a cabeça da vítima. - Conduta Humana (dolosa ou culposa) - O dolo e a culpa constituem os denominados elementos subjetivos do tipo. Assim, para que um determinado fato seja considerado típico, é necessário que o ato tenha sido praticado com dolo ou com culpa. - Resultado - O resultado pode ser: - Naturalístico - consiste na modificação do mundo exterior provocada pela conduta. Ex.: crimes de homicídio (destruição da vida); de lesão corporal (ofensa à integridade física ou saúde mental), dentre outros. - Jurídico – alguns crimes não trazem resultado naturalístico (concreto, alteração no campo dos fatos). Ex.: crimes de porte ilegal de arma de fogo. - Tipicidade ou Antinormatividade - Consiste na adequação do fato da vida real ao modelo descrito abstratamente em lei. Em outras palavras, é o fato real perfeitamente adequado ao tipo. b) ANTIJURIDICIDADE - A conduta será antijurídica quando contrariar uma norma de Direito, isto é, quando for contrária ao Direito, causando efetiva lesão a um bem jurídico protegido. Trata-se de um prisma que leva em consideração o aspecto formal da antijuridicidade (contrariedade da conduta com o Direito), bem como o seu lado material (causando lesão a um bem jurídico tute- lado). Uma conduta pode ser antijurídica sem ser crime. Basta que o ato antijurídico praticado pelo agente não esteja descrito na norma penal como crime. Um exemplo disso ocorre no campo do Direito Civil, quando um dos contratantes deixa de cumprir o contrato, ou, o Direito do Trabalho, quando o empregador deixa de pagar os direitos trabalhistas devidos ao empregado. Esses atos, apesar de ilícitos, não constituem ilícito penal. São antijurídicos. Porém, são crimes? Não. Por quê? Porque não são típicos, isto é, não estão descritos na norma penal como crime. Exemplo: prostituição, encesto. c) CULPABILIDADE - Guilherme Nucci conceitua a culpabilidade como “um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e exigibilidade de atuar de outro modo (conceito finalista)”.A culpabilidade é fundamento e limite da pena, integrativa do conceito de crime e não mero pressuposto da pena, como se estivesse fora da conceituação. Dessa forma, um fato típico e antijurídico, ausente a culpabilidade, não é uma infração penal, podendo constituir-se um ilícito de outra natureza. Sem a reprovação da conduta, deixa de nascer o crime. Pensar de modo diverso é esvaziar o conceito de delito. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – Crime consumado – de acordo com o artigo 14I do CP, o crime estará consumado... quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Ou seja, quando a conduta do agente encontra correspondência integral com o tipo penal, realizando todos os elementos da definição típica legal, o crime atingiu a consumação. Ex: Pafúncio cogita uma maneira de perder sua virgindade, começa a se preparar, compra cordas, se esconde num lugar ermo a espera de alguma vítima, quando ela passa, ele executa seu plano, ele consuma, satisfazendo seu libido e foge. Crime Tentado – de acordo com o artigo 14, II, do CP, o crime se considera tentado quando iniciada a execução, não se consuma por circunstancias alheias a vontade do agente. Ex: Eufrásio, querendo dinheiro, cogita uma maneira de roubar alguém, logo, começa a se preparar, escondendo-se num lugar escuro, a espera de alguma vítima, quando esta passa, ele executa seu plano por meio de violência para pegar os pertences da vítima, porém, passava pelo local, o Sr. Medina, que evitou o assalto efetuando a chamada prisão em flagrante facultativa, por ser um cidadão comum e não um policial. A conseqüência do crime tentado é punir com a mesma pena do crime consumado diminuída de um terço a dois terços. Na realização do crime há um caminho, um itinerário - iter criminis, que é composto por: cogitação, atos preparatórios, atos de execução e consumação. Cogitação só será punida (exceção) em caso de um fato típico, como ocorre no crime de ameaça (art. 147), de incitação ao crime (art. 286), de quadrilha ou bando (art. 288) etc. Os atos preparatórios passam à ação objetiva, como a aquisição de arma para a prática de um homicídio ou a de uma chave falsa para o delito de furto, o estudo do local onde se quer praticar um roubo etc. A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei. Na tentativa há prática de ato de execução, mas não chega o sujeito à consumação por circunstâncias independentes de sua vontade. São, pois, elementos da tentativa: a conduta (ato de execução) e a não-consumação por circunstâncias independentes da vontade do agente. Espécies de Tentativas - Branca ou Incruenta: é aquela em que o agente ao praticar os atos executórios não consegue atingir a vítima; - Cruenta: é aquela em o agente ao praticar os atos executórios, consegue atingir a vítima; - Perfeita, Acabada ou Crime Falho: é aquela em que o agente pratica todos os atos executórios, contudo, não consegue consumar o crime; - Imperfeita, Inacabada ou propriamente dita: é aquela em o agente não consegue praticar todos os atos executórios por motivos alheios a sua vontade; - Inidônea, crime impossível, quase crime ou inidônea: é aquela em que o agente pratica um fato, contra um objeto absolutamente impróprio (atirar num cadáver), ou tenta com um objeto absolutamente ineficaz (arma de brinquedo). Abandonada: é a denominação dada pela doutrina às hipóteses de desistência voluntária e arrependimento eficaz. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ. Desistência voluntária – também chamada de tentativa abandonada ou qualificada, estando prevista no artigo 15 do CP: Art. 15 “ O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados”. Ocorre desistência voluntária quando o agente, voluntariamente (por vontade própria, não se exigindo espontaneidade), interrompe a execução do crime (evidentemente, não atinge a consumação). Essa figura exige que a desistência ocorra em meio à prática dos atos executórios, não podendo, pois tê-los esgotado. Nesse caso, como desistiu voluntariamente de prosseguir (e poderia prosseguir, se o quisesse), não irá responder por tentativa do crime que estava praticando, mas apenas pelo crime já praticado até então). Exemplo: Marcos esta em uma casa furtando e, depois de reunir todos os objetos na sala, resolve abortar a pratica criminosa, desistindo da empreitada. Nesse caso, apenas responde pelos atos já praticados (invasão de domicilio). Arrependimento eficaz – de acordo com artigo 15, 2ª parte do CP, se o agente esgota todos os meios executórios, mas na seqüência, antes da consumação, impede voluntariamente o resultado (por tanto por vontade própria, não se exigindo espontaneidade) evitando a sua produção. Exemplo: Antonio descarrega a arma na vítima para matá-la, todavia, esgotada a capacidade ofensiva, resolve voluntariamente levá-la para o hospital e a salva. Nesse caso, apenas responde pelos atos já praticados ( Lesão corporal). Dois requisitos portanto são exigidos: voluntariedade (não precisa ser espontaneidade) e eficiência. Se o arrependimento, embora a iniciativa do agente, for ineficaz (por exemplo, se a vítima é levada ao hospital e morre), a hipótese será de crime consumado (no caso seria de homicídio consumado). ARREPENDIMENTO POSTERIOR. – Está descrito no artigo 16 do CP:” Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”.trata-se de causa obrigatória de redução de pena que exige os seguintes requisitos: crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparação integral do dano ou restituição integral da coisa (pode ser parcial desde que a vítima aceite), ato voluntário do agente (não precisa espontaneidade), até o recebimento da inicial pelo juiz (se posterior), incide a circunstância atenuante, art. 65, II, b, do CP CRIME IMPOSSÍVEL – Trata-se da denominada tentativa inadequada, inidônea, impossível ou quase crime. De acordo com o artigo 17 do CP, não haverá tentativa ( o fato será típico), se, por ineficácia absoluta do meio empregado ou por improbidade absoluta do objeto, for impossível consumar o delito ( se a ineficácia ou impropriedade forem relativas haverá crime). Exemplo: A pretendendo matar B, aperta o gatilho da arma várias vezes e não ocorrem os disparos, existe crime na espécie? Se o exame pericial apontar que a arma apresenta um defeito estrutural que não permite os disparos ou seja, não funcionaria em hipótese alguma, estamos diante de meio absolutamente incapaz, portanto seria crime impossível (não há homicídio nem mesmo tentado). Se a perícia apontar todavia, que a arma apenas não disparou naquela oportunidade, portanto, houve uma falha ocasional e ela está apta a disparar, detendo, pois, a potencialidade lesiva, estamos diante de meio relativamente ineficaz e, nesse caso, há tentativa de homicídio. “Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.