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Trajetórias Sustentáveis: modos e ações de famílias da comunidade

Quilombola João Rodrigues, Itacaré-Bahia.


Ramiro Duarte Alcântara da Silva 1
Ivan Oliveira Pereira 2
Sayonara Cotrim Sabioni 3

1
Especialista em Desenvolvimento Regional Sustentável, Instituto Federal Baiano-Campus Uruçuca; ramiroalcantara1@hotmail.com
2
Doutor em Engenharia Agrícola, Instituto Federal Baiano Campus, Uruçuca; ivan.pereira@urucuca.ifbaiano.edu.br
3
Doutora em Educação, Instituto Federal Baiano Campus Uruçuca; sayonara.sabioni@ifbaiano.edu.br

INTRODUÇÃO
 
RESULTADOS
 
Pontos específicos conflituosos na Trajetória Habitar da Comunidade João Rodrigues.
O Decreto Federal n.º 8.750 de 09 de maio de 2016, que institui o Conselho dos Povos e Comunidades
Tradicionais, elenca Povos Tradicionais seguintes: indígenas, quilombolas, ciganos, quebradeiras de coco,
Conflitos Histórico - resumo Perspectivas
ribeirinhos, dentre outros. Dentre as diversas competências do conselho, destacam-se promover o
desenvolvimento sustentável, incluindo os de natureza territorial, socioambiental, proteger seus conhecimentos
Venda de terras comunitários vendem terras à Foi informado que devido
tradicionais, ancestrais, formas de organização e suas instituições (BRASIL, 2016).
estrangeiros ocasionando problemas ausência de filhos ou
No quadro geral de comunidades remanescentes de quilombos (CRQs), divulgado pela Fundação Palmares, com de acesso a áreas comuns no território familiares presentes a venda
entre outros. da terra é uma pratica como
dados atualizados em 18 de fevereiro de 2019, constata-se que o Estado da Bahia concentra 797 comunidades
possibilidade de mudar para
quilombolas, contendo o maior número de comunidades entre todos os estados da Federação (BRASIL, 2019). De cidade.
 
acordo o Plano Territorial de Desenvolvimento Litoral Sul da Bahia, o território compõe 14 comunidades
Êxodo Rural Os jovens buscam as cidades próximas Com ausência dos jovens a
quilombolas (PTDS, 2010). à comunidade para trabalho e residência. comunidade perde forças para as continuidades do habitar e ficam
vulneráveis as forças externas de ordem capitalista.
Este trabalho objetivou debruçar no conceito de habitar para revelar através de uma etnografia, as relações e
conflitos sociais, modos e usos dos recursos naturais do território quilombola João Rodrigues. Considerou-se o Identidade Algumas famílias e ou indivíduos não A auto afirmação é um direito e opção
aceitam a identidade quilombola. mas, neste caso especifico, foi
termo “Habitar”, como categoria de análise para refletir os aspectos de lugares de morada, trabalhos, relações
percebido que a negação da
sociais, conflitos, etc. Elaborado com método etnográfico, os resultados e discussões, proporcionam reflexões no identidade está ligada aos
imaginários sociais construídos pelos processos coloniais.
que toca sobre as formas e aspectos de relações dos atores dentro do território; das forças externas que influi no
imaginário comunitário, no manejo, significação e uso dos recursos naturais. Vizinhança As terras que formam o território O título da terra quilombola
Quilombola João Rodrigues margeiam impediria ações destes atores
MATERIAL E MÉTODOS o Rio das Contas que é via fluvial que assediam comunitários
para cidade de Itacaré e exerce influência socialmente vulneráveis.
O presente trabalho foi construído com a Comunidade Quilombola João Rodrigues, situada no município de
turística intensa ocasionando pressão
Itacaré, BA, rodovia 001, Km 4 do trecho Itacaré-Camamu às margens do Rio das Contas, região Sul da Bahia, do mercado imobiliário e dos mini
latifúndios da vizinhança.
através do Instituto Cabruca e Governo do Estado da Bahia pelo Projeto Vida Melhor no ano de 2016. A
comunidade encontra-se envolvida pela Área de Proteção Ambiental (APA), Itacaré/Serra Grande. A APA foi criada Ações e projetos A associação da comunidade João As queixas quanto a
pelo Decreto Nº 2.186 de 07 de junho de 1993. A comunidade localiza-se na zona de proteção ZP1, classificada governamentais Rodrigues foi envolvida em falta de apoio nas demandas
relatados no período. Projetos governamentais em parceria pós projetos em parceria
pela elevada riqueza biológica e hidrológica, possuindo blocos expressivos de remanescentes florestais, com instituições do segmento de com a comunidade são de
vulneráveis e de alta relevância para ciência (BAHIA, 2004. p 29) e desenvolve atividade e renda com cacau apoio e fomento a agricultura familiar. extrema necessidade pois,
Entretanto, os projetos são temporários, as continuidades e
cabruca, frutas e hortaliças. Formam a Associação dos Agricultores Quilombolas do João Rodrigues. incidindo em interrupções nas continuidades, inovações tecnológicas
A elaboração etnográfica que fundamenta este trabalho textualiza o que foi captado pela observação, experiência ausência de insumos e assistência técnica. implantadas são
interrompidas acarretando
ou vivência como maneira de produzir conhecimento. A Observação participante contempla o “mundo fenômeno” em desmotivações.
para elaboração do trabalho textual (DE OLIVEIRA, 2006), fundamentado no que foi produzido por imagens e
audiovisual conjuntamente com os dados dos indicadores de sustentabilidade da comunidade e notas de caderno
de campo num período curto de imersão e contato no território quilombola João Rodrigues.
O “caminhar” com os interlocutores da comunidade, no seu lugar-mundo (CARDOSO, 2016), fez-se como pratica Pontos específicos notados na trajetória Habitar da Comunidade João Rodrigues para conservação dos
da observação participante para a escrita etnográfica articulada numa ótica da técnica de descrição fílmica não
recursos naturais.
continuada, fragmentada ou de passagem (COMOLLI, 2009) e possibilitou uma visualização nos relatos, ações,
conflitos e atividades das famílias da comunidade, para elaboração do texto etnográfico.
Ações Modos
Buscou-se debruçar no termo “habitar” para revelar relações sociais, modos e usos dos recursos naturais, de
famílias do território quilombola João Rodrigues. Considerou-se o termo como categoria de análise para traduzir  
Roçagem Cuidados durante a atividade para não eliminar pequenas mudas de arvores nativas da mata atlântica disseminadas por
perspectivas, ações, conflitos e apropriações que propõe significados para as vidas em suas continuidades. ação dos pássaros ou dos ventos.
Habitar, como um “lugar-mundo” no qual cada ser humano e não-humano propõe combinar elementos diversos
Preservação da Cabruca não permitem conversão da cabruca para outros fins.
para conceber sua própria existência. Habitar, como tornar-se (INGOLD, 2015).
Proteção da Fauna não caçam e não permitem caça no território.
Figura I – PONTO DE LOCALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO JOÃO RODRIGUES  
  Madeira não praticam e não permitem a extração ilegal de madeira.
 
Adubação do solo não utilizam produtos químicos de nenhum modo.
.  
Uso de produtos florestais Fazem uso de diversos produtos
não madeireiros disponíveis (cipó, frutos comestíveis e não comestíveis).
 
Proteção de nascentes Conservação das cabrucas e áreas de vegetação nativa

CONCLUSÕES
Através do estudo da trajetória Habitar da Comunidade Joao Rodrigues, foi possível perceber, identificar aspectos relevantes, que
adentram esferas subjetivas da comunidade nas relações socioculturais, conflitos internos entre os atores sociais nas tomadas de
decisões frente às demandas internas da comunidade e das politicas públicas. Com a perspectiva do ser “tornar-se”, citando Tim

Ponto Território Ingold, habitar, envolvem apropriações individuais e coletivas. Estas apropriações são marcadas por influencias de poder, culturais,

Comunidade políticas de ordem externa que flutuam num campo conflituoso para a comunidade quilombolas João Rodrigues. Abordar, aprofundar

Quilombola os diálogos neste campo flutuante na comunidade em questão, contribuiria para entendimentos de ações externas e internas que
João Rodrigues afetam os modos, ações e desenvolvimento socioeconômico comunitário.
Quanto a agência para conservação e preservação dos recursos naturais da comunidade Quilombola João Rodrigues, afirma-se nos
movimentos da sua trajetória Habitar através dos “conhecimentos ancestrais” na relação com a natureza, pois, o território de uso da
comunidade João Rodrigues foi envolvido e permanece até a contemporaneidade pela zona de proteção da APA Itacaré/Serra
Grande.
Fonte: mapa (Instituto do Meio Ambiente e Recursos hídricos - INEMA, 2012).

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