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AS

REGRAS
DOS
ACTOS DE COMÉRCIO

José Carlos H. P. David de Oliveira


Universidade Autónoma de Lisboa, 30 de Novembro de 2005
INTRODUÇÃO

As regras dos actos de comércio traduzem os


valores e necessidades que fomentam a
autonomia e especialidade do Direito
Comercial face ao Direito Privado Comum
REGRAS GERAIS

1. FORMA
2. SOLIDARIEDADE PASSIVA
3. PRESCRIÇÃO
4. ONEROSIDADE
FORMA

 Vigora o Princípio da Consensualidade,


conforme o art.º 219.º do Código Civil;
 A simplicidade da forma visa a promoção das
relações comerciais, protegendo o crédito
mercantil e a boa-fé;
 O regime de liberdade de prova no Direito
Comercial torna-se, assim, mais amplo que no
Direito Civil;
Previsão legal
 Art.º 96.º do Código Comercial, que observa a
liberdade de utilização de qualquer idioma nos
actos de comércio, atribuindo validade aos títulos
comerciais emitidos em língua estrangeira.
Existem, contudo, algumas excepções relativas a
contratos com o consumidor;

 Art.º 97.º do Código Comercial, conferindo força


probatória aos telegramas, embora não sendo
assinados ou escritos pela pessoa em nome da
qual são expedidos;
 Art.º 396.º do Código Comercial, onde, para o
mútuo mercantil, não está prevista a sujeição a
qualquer documento escrito, inclusive para efeito
de prova, diferentemente do previsto no art.º
1143.º do Código Civil;

 Art.º 398.º do Código Comercial, referindo a


entrega simbólica do penhor mercantil, bastando,
para o efeito, a tradição da guia de transporte, daí
divergindo do art.º 669.º do Código Civil, onde,
por exemplo, o penhor só goza de eficácia pela
entrega da coisa empenhada.
SOLIDARIEDADE PASSIVA

 A solidariedade é o regime geral no âmbito


das obrigações civis, não se presume, tem
que ser fruto da lei ou da vontade das
partes (art.º 513.º do Código Civil), sendo a
regra a conjunção;

 Nas obrigações comerciais, contrariamente


às obrigações civis, impende a regra da
solidariedade dos co-obrigados.
 A solidariedade passiva enuncia-se como a
solidariedade entre os devedores, em que
qualquer um deles (sendo vários os
obrigados) é responsável pela satisfação
integral da obrigação e, se a satisfizer por
inteiro, todos os outros devedores ficam
exonerados em relação ao credor, não
obstante o direito de regresso que tem o
devedor que cumpriu a obrigação sobre os
restantes condevedores.
Previsão legal

 Art.º 100.º do Código Comercial, onde se


verifica a solidariedade dos co-obrigados,
excepto nos actos de comércio unilaterais,
em que não há solidariedade para os
obrigados relativamente aos quais o acto não
for comercial;
 Art.º 101.º do Código Comercial, na previsão
da solidariedade do fiador com o afiançado,
independentemente de ser ou não
comerciante, excluindo o benefício da
excussão, diferenciando-se do regime
previsto no art.º 638.º do Código Civil, em que
o fiador pode licitamente recusar o
cumprimento da obrigação enquanto o credor
não tiver excutido a totalidade dos bens do
devedor.
PRESCRIÇÃO

 Tem como regra o disposto na alínea b)


do art.º 317.º do Código Civil, prevendo
o prazo de dois anos para a prescrição
dos créditos dos comerciantes pelas
suas vendas a não comerciantes (ou,
sendo comerciantes, que adquiram os
bens para uso privado).
 Esta espécie particular de prescrição é
denominada prescrição presuntiva, em
virtude de se fundar na presunção do
cumprimento, podendo tal presunção ser
ilidida por confissão do devedor originário ou
daquele que tiver sucedido na dívida, só
sendo relevante a confissão quando feita por
forma escrita. Existe, todavia, um regime
diferenciado consoante ou devedor seja ou
não comerciante.
 Sendo, então, o devedor comerciante, não pode
tirar proveito da prescrição presuntiva,
atendendo a que a lei privilegia a boa-fé e
segurança das relações jurídico-mercantis. Se,
porventura, o comerciante beneficiasse da
prescrição de curto prazo ou da presunção de
liquidação do débito, o devedor remisso seria
favorecido e criar-se-iam, certamente, condições
adversas à concessão de créditos entre
comerciantes.
ONEROSIDADE

 Nos actos de comércio vigora, com


frequência, o Princípio da Onerosidade,
pois estes actos presumem-se onerosos
pelo facto de a actividade comercial visar
o lucro para quem a desenvolve e, em
regra, à prestação de cada parte se fazer
corresponder uma retribuição pela
contraparte.
Previsão legal

 Art.º 102.º do Código Comercial, onde se


estabelece o decurso e contagem de juros
sobre os actos comerciais, sobretudo os de
carácter pecuniário, fixando no § 1.º a
exigência escrita para a fixação das taxas de
juro nos actos de comércio.
Os juros podem ser:

legais ou convencionais se,


respectivamente, resultarem da lei ou de
estipulação inter partes;

remuneratórios (compensatórios) ou
moratórios, sendo os primeiros
convencionados como remuneração de
um mútuo e os segundos tidos como
indemnização devida ao credor pelo
prejuízo causado pela mora do devedor
(art.º 806.º do Código Civil).
 Quantos aos juros convencionais, pode ver-se no § 1.º
do art.º 102.º do Código Comercial, a exigência de
forma escrita para a fixação das taxas de juros nos
actos de comércio, forma essa que deve, igualmente,
ser adaptada na alteração dessas mesmas taxas, quer
para os juros moratórios quer para os compensatórios.

 Nos termos do § 2.º do art.º 102.º do Código


Comercial, existem limitações às convenções de juros
nos negócios comerciais, previstas nos art.os 559.º-A e
1146.º do do Código Civil - repressão da usura.
 Sobre os juros legais, além do regime geral já
enunciado, vigora um regime especial para as
obrigações comerciais, decorrente dos § § 3.º e 4.º
do art.º 102.º do Código Comercial, com a redacção
dada pelo art.º 6.º do Decreto-Lei n.º 32/2003, de
17 de Fevereiro, remetendo a fixação dos juros
para portaria conjunta dos Ministros das Finanças e
da Justiça, determinando que o limite mínimo da
taxa de juro não poderá ser “inferior à taxa de juro
aplicada pelo BCE à sua mais recente operação de
refinanciamento, atendendo ao semeste do ano
civil e acrescida de 7 pontos percentuais.
CONCLUSÃO

Há duas vertentes nas regras dos actos


de comércio que têm que encontrar um
equilíbrio constante: por um lado, a
observância da forma legal para que
haja segurança jurídica e, por outro, a
promoção da celeridade.
FIM

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