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Miguel Torga

Exortação a Sancho
Sancho, meu Sancho Pança Nega-te a ser passiva testemunha
enlouquecido, Do amor cobiçoso
Servo vencido Que os falsos namorados
Na terra sonhada, Fazem crer impoluto e arrebatado
Tem a coragem da verdade nua: Àquela que reflecte o céu lavado
Olha esta Ibéria que te foi roubada, Nos olhos confiados.
E que só terá paz quando for tua.
Venha o teu grito de transfigurado:
Ergue a fronte dobrada Ai, no se muera.... E a Donzela acorda
E começa a façanha prometida! E renega o idílio traiçoeiro.
Cumpre o voto da nova arremetida, Venha o Sancho da lança e do arado,
Feito aos pés da quem foi E a Dulcineia terá, vivo a seu lado,
O destemido herói O senhor D. Quixote verdadeiro!
Da batalha de ser fiel à vida! (TORGA, Poemas Ibéricos, 1965, p. 77)
A Maria Leôncia
• Galafura, vista da terra chã. Parece o talefe do
mundo
• O berço digno da Maria Lionça
• Sua morte: a fonte da Corredoura secando
• Não podia morrer no coração de ninguém uma
realidade que em setenta anos foi o sol de
Galafura
• Um halo de pureza que simbolizava a própria
pureza de Galafura
• Do casamento inesperadamente infeliz: Só
destino, fiel às misérias do mundo, sabia que
fora reservado à Maria Lionça um papel mais
significativo: ser ali a expressão humana dum
sofrimento levado aos confins do possível.
Torná-la imune à desgraça seria desenraizá-la
do torrão nativo.
• Abandonada pelo marido, pelo filho.
• Penélope
Vicente
• O sentimento de revolta diante da injustiça, da
prepotência de Deus
• O seu gesto foi naquele momento o símbolo da
universal libertação. A consciência em protesto
activo contra o arbítrio que dividia os seres em
eleitos e condenados
• Na consciência de todos a mesma angústia e a
mesma interrogação. A que represálias recorreria
agora o Senhor? Qual seria o fim daquela rebelião?
• Terra! Desgraçadamente, a doçura do nome trazia em si
um travor. Terra... Sim, existia ainda o ventre quente da
mãe. Mas o filho? Mas Vicente, o legítimo fruto daquele
seio?
• Vicente, um perfil de vontade
• Não ninguém podia lutar contra a determinação de Deus
• Escolhera a liberdade, e aceitara desde esse momento
todas as consequencias da opção. Olhava a barca, sim,
mas para encarar de frente a degradação que recusara.
• O dilema ou se salvava o pedestal, e a
grandeza do instante genesíaco, a total
autonomia da criatura em relação ao
criadorou morria Vicente e tudo que
representava
• Porque ninguém mais dentro da arca se sentia
vivo

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