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Letras Inglês - Sociologia da Educação

Unidade 5
As contribuições de Antonio
Gramsci e John Dewey para a
Sociologia da educação

5.1 Introdução
Para pensarmos em um projeto emancipatório, temos que analisar algumas questões: a so-
ciedade, o indivíduo e a educação que temos e que queremos.
O homem moderno simplesmente não consegue imaginar uma vida além do trabalho. O
homem adaptado ao trabalho, ou seja, a um padrão está fazendo com que a qualidade especí-
fica do trabalho se perca e se torne indiferente. O homem moderno não passa de mercadoria
produzindo mercadoria e vendendo sua própria mercadoria. Os homens tornam-se dependentes
de uma relação abstrata do sistema (SANTOS, 2008).
É na sociedade moderna que se forma a ideia de educação para formar cidadãos, escolariza-
ção universal, gratuita e leiga, que deve ser estendida a todos; a escola passa a ser a forma predo-
minante da educação.
De acordo com Enguita (1989), era preciso inventar algo melhor e inventou-se e reinventou-
-se a escola; criaram escolas onde não havia, reformaram-se as existentes e nelas introduziu-se a
força toda a população infantil. A instituição e o processo escolar foram reorganizados de forma
tal que as salas de aula se converteram no lugar apropriado para se acostumar às relações sociais
do processo de produção capitalista, no espaço institucional adequado para preparar as crianças
e os jovens para o trabalho.
Como já mencionamos antes, a perspectiva que temos é a constituição de um sujeito como
objetivo, capaz de construir uma sociedade igualitária, criativa, diversa, livre e prazerosa no ócio
(SANTOS, 2008).
Como podemos enfocar elementos teóricos básicos e decisivos para entendermos melhor
como podemos elaborar um projeto emancipatório, norteado pelos aspectos apresentados? Exis-
te uma enorme quantidade de autores e teorias que buscam tratar essa questão, mas aqui selecio-
namos dois autores que, dentro da Sociologia da Educação, discutem a sociedade, o indivíduo e a
educação que temos e que queremos. Estes autores são John Dewey e Antonio Gramsci.
Antonio Gramsci foi um filósofo italiano nascido em 1891 e que faleceu em 1937. Conforme
vamos poder observar adiante, Gramsci trouxe uma grande contribuição para algumas linhas te-
óricas em educação ao tentar adaptar o pensamento político marxista às exigências da socieda-
de do século 20.
John Dewey (1859-1952) é geralmente reconhecido como o educador norte americano
mais reputado do século XX. Numa carreira prolífica que trespassou sete décadas (a sua obra
completa engloba trinta e sete volumes), Dewey centrou-se num vasto leque de preocupações,
sobretudo e de uma forma notável, no domínio da filosofia, educação, psicologia, sociologia e
política.
Para melhor apresentarmos as ideias dos autores, a unidade será dividida nos seguintes
tópicos:
5.2 Biografia de Antonio Gramsci
5.3 O homem como sujeito histórico
5.4 Gramsci e a importância da escola unitária
5.5 Dados biográficos de John Dewey
5.6 John Dewey: pragmatismo e educação progressiva

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5.2 Biografia de Antonio Gramsci


Antonio Gramsci nasceu em 22 de janei- Construiu um conjunto de princípios ori-
ro de 1891 em Ales (Cagliari). Em 1911 matri- ginais, ultrapassando na linha do pensamen-
culou-se na faculdade de Letras da Universi- to marxista as fronteiras até então fixadas por
dade de Turim. Marx, Engels e Lênin.
A atividade jornalística foi iniciada em Entretanto, é importante considerar o
1915 e em 1917 inseriu-se como secretário da ambiente sociocultural, econômico e político
Seção Socialista de Turim. Desempenhou in- envolvendo a trajetória de vida de Gramsci e
tensas atividades políticas, entre elas: as influências de tal contexto na sua vivência
• participação no movimento de ocupa- intelectual e principalmente na sua militância
ção das fábricas (1920); política.
• integra-se ao Comitê Central do Partido Originário de uma região da Itália, Me-
Comunista da Itália –(1921); zzogiorno, marcada pelos problemas sociais
• representou o Partido no Comitê Execu- (pobreza, preconceito, racismo,) organiza seu
tivo da Internacional pensamento na tentativa de compreender
• Comunista em Moscou e da 2a Conferên- criticamente estas e outras situações como,
cia da Internacional, onde conhece Júlia por exemplo, a Igreja Católica, instituição
Schlt sua futura companheira (1922); marcante na vida italiana, principalmente no
• designado para a tarefa de articulação processo educativo (JESUS, 1998).
entre o Partido Comunista Italiano e os Processo esse observado com bastan-
outros partidos comunistas europeus - te cuidado pelo intelectual - que o abordará
(1923); tomando como ponto de partida sua experi-
• eleito deputado pela circunscrição do ência escolar. Os pontos negativos e positivos
Vêneto em 1924, ano que nasce em Mos- advindos dessa experiência são elementos
cou o filho Délio; que levam em conta quando idealiza a “esco-
• nasce em 1926 o segundo filho – Julia- la do futuro”.
no. Neste mesmo ano 08 de novembro Outro elemento significativo foi a vi-
é detido e recolhido na prisão. É durante vência política socialista – concepção de re-
o período que se segue que permanece volução como sendo também “reforma inte-
no presídio e em 1928 é condenado a 02 lectual e moral” que configurou um lugar de
anos, 4 meses e 05 dias de prisão; destaque para a “organização da cultura”.
• suas escritas no cárcere iniciam-se em O pensamento social e político de Anto-
1929, ano em que agrava seu estado de nio Gramsci expressa a complexidade expe-
saúde; e rimentada no contexto de desenvolvimento
• readquire plena liberdade (1937) e em econômico, político e social europeu, enfren-
seguida sofre um derrame cerebral e tado no final do séc. XIX e início do séc. xx.
acaba falecendo no dia 27 de abril (COU- O empenho de Gramsci, organização de um
TINHO; NOGUEIRA, 1987, p.113-116). “marxismo renovado”. Por isso o situaremos e
indicaremos alguns aspectos da sua proposta
A trajetória trágica envolvendo a vida de de escola. Indicaremos apenas alguns aspec-
Gramsci nos chama atenção para seu lado cri- tos em função da amplitude dos seus temas.
tico militante e, acima de tudo, coerente com Para exemplificar, o filosofo elaborou os con-
suas convicções políticas. ceitos de Organização da Cultura, Reforma In-
Gramsci, durante o processo de constru- telectual e Moral, Escola Unitária.
ção das suas orientações teóricas, sofreu influ- Muito embora Gramsci tivesse como
ência de Lênin (1870-1924), especialmente dos conduta uma posição política clara, ele não
aspectos referentes à Revolução Russa de 1917 restringiu sua ação apenas à militância parti-
e de Croce (Movimento Intelectual Neo Idealis- dária – assumiu durante sua vida outras “trin-
ta – Itália), reafirmando a partir daí as possibili- cheiras de lutas”, observando, no entanto, sua
dades do Movimento Cultural para a transfor- totalidade.
mação social e a realização do socialismo.

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5.3 O homem como sujeito


histórico
Em Gramsci (1978) o homem guarda um aspecto singular, pois ele é um homem
de gosto, que pensa e é capaz de assumir uma posição diferenciada na vida. Para ilus-
trar, apresentamos o poema “os Indiferentes”, no sentido de ajudá-lo(a) no entendi-
mento da percepção e posição assumidas pelo pensador em seu percurso e princi-
palmente na condição de intelectual e militante político.
Ao proceder dessa forma, Gramsci creditou ao sujeito um papel diferenciado na
história. Nessa abordagem ele é visto como intelectual, o que significa dizer que “to-
dos os homens são intelectuais, (...); mas nem todos os homens desempenham na so-
ciedade a função de intelectuais” (GRAMSCI, 1978, p.7).

BOX 1
Os indiferentes

Odeio os indiferentes.
Acredito que viver significa tomar partido. Figura 24: Antonio
Gramsci
Indiferença é apatia, parasitismo, covardia.
Fonte: Disponível em
Não é vida. <http://educacao.uol.com.
Por isso, abomino os indiferentes. br/biografias/antonio-
Desprezo os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos -gramsci.jhtm> Acesso em
23 abr. 2013.
inocentes.
Vivo, sou militante.
Por isso, detesto quem não toma partido. Odeio os indiferentes.

Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br> acesso em 23 abr.2013

Com isso Gramsci “queria exatamente dizer que todos pensam, todos ligam causa e efeito,
mas de modo empírico, não organizado.” (JESUS, 1998, p.37)
Ou seja, “que todos são cultos” (JESUS, 1998, p.37).
O princípio educacional que mais prezou foi a capacidade de as pessoas trabalharem inte-
lectual e manualmente numa organização educacional única ligada diretamente às instituições
produtivas e culturais.
Foi histórico defensor da escola socialista, a chamava de escola única de escola unitária, evo-
cando a ideia de unidade e centralização democrática.
Criticou a escola tradicional que dividia o ensino em “clássico” e “profissional”, o último des-
tinado às “classes instrumentais” e o primeiro às “classes dominantes e aos intelectuais”. Propõe a
superação dessa divisão, defendendo que uma escola crítica e criativa deve ser ao mesmo tempo
“clássica”, intelectual e profissional. Postulou a criação de uma nova camada intelectual.

5.4 Gramsci e a importância da


escola unitária
A escola sempre foi tratada como objeto la, traz-se à luz quase tudo o que lhe diz res-
de estudo de extrema relevância nas Ciências peito: a qualidade do ensino, a participação
Sociais. Para tanto, entender seu papel, contra- da comunidade escolar, a estrutura, a política
dições e o lugar que a mesma ocupa na vida so- interna e externa, entre outros temas.
cial é um objetivo que estudiosos ou pesquisa- É com propósitos semelhantes que Anto-
dores da educação vêm perseguindo ao longo nio Gramsci buscou elementos teóricos para
dos séculos. propor uma escola que fosse capaz de garan-
Dessa forma, ao se debruçar sobre a esco- tir a formação do homem em sua totalidade.

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Assim, Gramsci reuniu elementos teóricos que lista da escola ou de uma escola do trabalho
visavam à construção da proposta teórica da – escola única. Um exemplo pode ser regis-
chamada escola unitária. trado a partir da Carta enviada a seu filho.
É no caderno do Cárcere 12 que Gramsci Nota-se a preocupação com seu processo de
apresenta sua proposta e concepção Socia- formação:

Antonio Gramsci a Juliano Gramsci Querido Iulik


Estou contente porque você está bem e estuda bastante, mas as tuas cartas
são demasiadamente breves e eu gostaria de saber em que é que você pensa
e como vive: você está bem, mas como? Você assistiu no cinema Os Filhos do
Capitão Grant, mas não me escreve se o filme te agradou e por quê. Li o livro
quando eu era um menino como você gostou muito, lembro: reli-o então vá-
rias vezes com o Atlas Geográfico na frente e procurando outros livros que me
explicassem os costumes dos países por onde passava o paralelo 34 Sul (me
parece). (...) Escreva-me também você sobre as tuas impressões, longamente, e
assim verei se você realmente é bom em redação: tuas cartas são bem escritas,
mas são curtas demais e não se pode julgar todo um ano por um só dia, não é
mesmo? Querido Iulik, te beija . O teu papai (GRAMSCI, 1978, p. 58-59).

E por que essas questões estão sendo co- neamente ou de forma natural, o que significa
locadas? Porque é necessário uma contextua- dizer que ela é resultado de um intenso traba-
lização histórica de inserção de Antonio Gra- lho de penetração cultural.
msci para análise da cultura e do debate sobre Através da cultura é possível conectar-
a escola. -se ao campo de organização das massas e
A cultura, na perspectiva Gramsciana, é ter acesso à aquisição de instrumentos para o
apresentada como condição essencial à for- raciocínio lógico ou seja a “liberdade de pen-
mação da “consciência unitária do proletário”. samento”.
Essa formação implica um intenso traba- No pensamento gramsciano, a vida so-
lho cultural ou a conquista de uma “consciên- cial, na verdade a ação política libertadora é,
cia superior”; que difere do saber enciclopédi- pois, produto da ação dos homens, conscien-
co. Os sujeitos, através da cultura, reúnem as tes, capazes de provocarem transformações
condições essenciais para a implementação na realidade, organizados através da “ativida-
do seu campo organizacional. Dessa forma, de prática”, motivados pela vontade.
“a palavra cultura tem um significado bastan- O fato de ter construído seu pensamento
te amplo, a ponto de justificar toda liberdade a partir de problemas reais, estando plena-
de espírito, mas, por outro lado, tem conteúdo mente envolvido no movimento da história,
preciso...” (JESUS, 1998, p.36). da sociedade e os desafios que sua época
Assim, através da aquisição dos instru- provocou, lhe permitiu elaborar as análises
mentos apropriados, os sujeitos poderiam in- tomando como referência as mudanças nas
fluenciar novas relações sociais e, consequen- condições de vida dos menos favorecidos.
temente, alterar e transformar as condições O encaminhamento do processo de es-
de vida dos menos favorecidos, verificados truturação da hegemonia se dará a partir de
sob a orientação da construção de uma nova todas as relações sociais, fundamentalmente
hegemonia. dos campos econômico e político, pois a pró-
A concepção de cultura adotada por Gra- pria estrutura da sociedade é fortemente de-
msci propiciará o alargamento da convivência terminada por ideias e valores, ou seja, uma
democrática e independente do domínio ide- questão de cultura.
ológico e intelectual, fora da passividade e da É por isso que a esfera da cultura, en-
subordinação. A sua definição está relacionada quanto espaço de desenvolvimento da cons-
às condições do desenvolvimento da consci- ciência crítica do ser social, que o torna capaz
ência crítica do ser social, e também da “orga- de intervir na realidade, é ressignificada por
nização, disciplina do próprio interior, tomada Gramsci como reação à ideologia secular da
de posse da própria personalidade, conquista igreja e da mentalidade católico –jesuítica,
da consciência superior pela qual se consegue que criou uma postura de passividade, sub-
compreender o próprio valor histórico, a pró- serviência e conformismo aos dogmas da so-
pria função da vida, os próprios direitos e os ciedade burguesa e ao avanço do poder do
próprios deveres” (JESUS, 1998, p.32). Estado.
O fator determinante na concepção gra- Assim é que a elevação cultural das mas-
msciana é que ela apresenta alguns elemen- sas assume importância decisiva nesse proces-
tos considerados bastantes significativos para so, a fim de que possam libertar-se da pressão
a formação de uma “consciência unitária” do ideológica das velhas classes dirigentes e ele-
proletariado que não pode ocorrer esponta- var-se à condição destas últimas. Neste sen-

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tido, pode se dizer que “não restam dúvidas nifesta na prática política, o que foi chamado
quanto aos objetivos de Gramsci: ele idealiza por Gramsci de “reforma intelectual e moral”.
a cultura como instrumento de libertação total Nesse sentido, é que situamos a proposta
da sociedade” (JESUS, 1998, p.24). da Escola Unitária de Antonio Gramsci. Apre-
A partir daí, a vontade coletiva vai se fir- sentamos a seguir seu significado elaborado
mando e desenhando uma visão do mundo, pela professora Antônia Aranha (2000, p. 144),
formando uma nova consciência que se ma- como se segue:

Concepção de educação e organização da escola sistematizada pelo pensador


Antonio Gramsci, a partir da filosofia da práxis, da relação dialética entre teoria
e prática. Tem como base o trabalho como princípio educativo, ou seja, a recu-
peração da relação entre trabalho e formação humana estabelecendo uma fir-
me postura contra a visão instrumental do trabalho. Distanciando-se da meta
formação técnica para o trabalho, propõe buscar os vínculos complexos entre
produção social e formação humanista, tendo em vista o desenvolvimento da
omnilateralidade dos indivíduos. Supõe o acesso a uma ampla cultura geral,
ao conhecimento científico, ao desenvolvimento da estética e da arte, ao de-
sabrochar do vigor físico. As garantias desse tipo de educação se encontrariam
no caráter público, gratuito e obrigatório da escola, na ampliação dos vínculos
dessa instituição com a sociedade e nas relações democráticas entre os grupos
que constituem a comunidade escolar, que têm na cooperação e no apoio mú-
tuo suas bases, contraposição à competição e disputa presentes nas relações
sociais dominantes na sociedade capitalista.

O pensador considerou como escola “toda organização que desenvolve a cultura”. Assim,

“escola” não diz respeito somente às instituições escolares em sentido estrito,


mas, de igual modo, “escola”, são as associações de cultura, os clubes de vida
moral, “as escolas” dos jornais da fábrica, do partido, da igreja e assim por dian-
te (GERMANO , citado por JESUS, 1998, p.01).

Na realidade, a escola é qualquer lugar sonalidade dos jovens e, apesar de se apre-


em que se aprende, que contribui para a me- sentarem como uma tendência democrática,
lhoria da capacidade intelectual do homem, mantinham os filhos das classes populares
que transmita cultura, ainda que fora dos cur- para perpetuação das posições subalternas.
rículos oficiais. A escola de Gramsci é uma instituição
E considerou a universidade, uma esco- destinada a um novo tipo de produção: o in-
la em seu mais alto nível, cujo compromisso dustrial moderno. É uma escola para libertar
deve ser com o presente e com o futuro e cuja os operários da “necessidade” de um trabalho
função era “educar os cérebros para pensar de escravizador para a “liberdade” da cidadania
modo claro, seguro e pessoal, libertando-os plena. É uma “escola” que, mesmo em uma so-
das trevas e do caos no qual a cultura inorgâ- ciedade hegemônica dos trabalhadores, con-
nica, pretensiosa e conformista que ameaçava servará sua peculiaridade (JESUS, 1998, p.2).
submergi-los” (JESUS, 1998, p.25). Gramsci, a partir de sua análise, adverte
Mas, em várias oportunidades, Gramsci para a necessidade de encontrar um princípio
acusou também a escola de ser um “privilégio” formativo que oriente toda a organização esco-
das elites, com tendência a excluir o proletaria- lar, sem distinções, um princípio Unitário, com
do das escolas médias e superiores de cultura, vistas a superar a divisão do trabalho intelectu-
e criticou sua forma de organização dualista al e do trabalho produtivo ou manual, unindo o
(indivíduo e /ou sociedade). Ele entende que saber e o fazer, uma vez que o próprio Gramsci
o proletariado necessita de uma escola “desin- reconhece que o trabalho industrial concretiza-
teressada”, de orientação cultural e humanista, do é, por si mesmo, um princípio educativo.
na concepção de tradição grego-romana. Propôs uma nova escola, a partir das
O autor toma o conceito de escola “desin- práticas das escolas tradicional e nova, con-
teressada” como a perspectiva pedagógica de siderando os aspectos positivos, reformulan-
formação de homens superiores, que ofereça do as concepções pedagógicas decadentes e
à criança a possibilidade de se formar e desen- expondo uma política educacional que fosse
volver seu caráter, antes de se preocupar com capaz de formar o ser humano como um todo,
a especialização. “onilateralmente”, de preparar nada mais nada
Para Gramsci, em resposta às exigên- menos do que os dirigentes do novo Estado
cias da sociedade industrial, multiplicava-se a proletário.
criação de escolas profissionais, que em nada Importante enfatizar que o termo dirigen-
contribuíram para o desenvolvimento da per- te está empregado no sentido de “especialista

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mais político”, capaz de se autogovernar, ter pulares e trabalhadoras.


autodisciplina moral e independência intelec- Gramsci enfatizou os aspectos da relação
tual, ou seja, “uma instituição destinada, por escola-vida, nos quais a escola, cuja dinâmi-
missão histórica, a preparar o novo intelectual ca deve ser a criatividade e estará vinculada
para a sociedade socialista. (...) um instrumen- à realidade e a vida do educando, de forma a
to por excelência para a formação dos intelec- permitir sua efetiva participação no próprio
tuais” (JESUS, 1998, p.01). processo de formação, preparando-se para
Como se vê, é fundamentalmente com o ponderar sobre a vida abstrata e teórica e a
objetivo de organizar as classes menos favo- vida real imediata.
recidas, na esfera cultural, para que possam O aluno deve ser acompanhado em suas
se manifestar, propagar sua cultura, aprender, atividades na escola informal, ou seja, sua prá-
emancipar de forma integral corpo-espírito tica extracurricular, sua intenção com as outras
que o pensador propõe a Escola Unitária. formas de sociabilidade.
É preciso considerar, que a formação do O autor defendeu também a relação mes-
homem em todas as suas dimensões não deve tre-aluno, uma vez que o educador deve en-
ser deixada ao acaso, porque a consciência corajar o entusiasmo do aluno, estimulando-
unitária e superior não se faz de forma espon- -lhe o processo de evolução da personalidade,
tânea, mas através da organização das mas- numa verdadeira e perfeita unidade, através
sas, da valorização do saber histórico, da de uma relação ativa, criadora e orgânica.
apropriação do patrimônio cultural e da rigo- Entretanto, o mestre deve se posicionar
rosa coordenação de todo trabalho educativo. como tal, pois representa para o educando
É preciso organizar, sistematizar o pensar a consciência crítica da sociedade, o homem
empírico e as ideias gerais do indivíduo e de- precisa ser, além de mais instruído, mais culto.
senvolver um trabalho específico para eleva- Vale reafirmar que o próprio contexto
ção do nível de cultura de toda sociedade. vivido por Gramsci propiciou a ideia de que
A escola é o instrumento por excelência a cultura era uma necessidade para o resgate
para a formação do homem. É o espaço mais e a hegemonia da classe operária, atuando
próximo no qual se observam e se manifestam como instrumento de mudança revolucioná-
os atritos dos indivíduos, onde se difundem ria, de emancipação histórica. Sendo que “a
as utopias e ideologias, onde se aglutinam as luta é a mesma luta pela hegemonia, porque
questões que atingem o homem na sua reali- o homem deve ser preparado para participa-
dade imediata, como trabalho, relação social e ção na direção da vida social e na condição de
política. massas” (JESUS, 1998, p.119).
Como espaço fundamental para forma- Finalmente, a escola unitária, a escola
ção intelectual e moral do homem, a escola única do trabalho, propondo a unidade do
deve acomodar as inúmeras ideias e aspira- trabalho intelectual ao produtivo, expressa,
ções individuais, e só alcançará sua missão, a no campo pedagógico, a luta contra a divisão
partir da organização da sociedade civil. Tal or- classista.
ganização é condição política da liberdade de Para finalizar apresentamos algumas ci-
pensamento, e resultado das reivindicações e tações que poderão ajudá-lo na compreensão
interesses elaborados das massas. da proposta de Escola do pensador Antonio
A escola verdadeiramente democrática Gramsci.
deve ser espaço de expressão política e ideo- Vejamos que escola unitária tem como
lógica das camadas populares, e produtora de significado “(…) o início de novas relações en-
ensino de qualidade para todos e não para os tre trabalho intelectual e trabalho industrial,
privilegiados, pois, para cumprir seu papel de não apenas na escola, mas em toda a vida so-
politização, a cultura deve popularizar-se. cial. O princípio unitário, por isso, refletir-se-á
A reforma da estrutura do ensino requer a em todos os organismos de cultura, transfor-
formação do educador político capaz de, mais mando-os e emprestando-lhes um novo con-
do que ensinar, mostrar-se mentor, instrutor, teúdo” (GRAMSCI, 1978, p.125). Bastante crítica
amigo e iniciador, além da universalização do a posição do pensador quanto ao papel do
ensino e do acesso facilitado às camadas po- professor, alertava que:

um professor medíocre pode conseguir que os alunos se tornem mais instruí-


dos, mas não conseguirá que sejam mais cultos; ele desenvolverá – um escrú-
pulo e com consciência burocrática – a parte mecânica da escola, e o aluno, se
for um cérebro ativo, organizará por sua conta – e com a ajuda de seu ambien-
te social - ‘a bagagem’ acumulada” (GRAMSCI, 1978, p. 132).

A participação do aluno foi assim tratada:

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Letras Inglês - Sociologia da Educação

a participação realmente ativa do aluno na escola, que só pode existir se a es-


cola for ligada à vida. Os novos programas, quanto mais afirmam e teorizam
sobre a atividade do discente e sobre sua operosa colaboração com o traba-
lho do docente, tanto mais são elaborados como se o discente fosse uma mera
passividade ( GRAMSCI, 1978, p. 133).

A formação do jovem deve ajudá-lo na condução da “escolha profissional, formando-o en-


trementes como capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige” (GRAMSCI,
1978, p. 136). As gerações passadas têm uma função importante na condução da educação, “na,
realidade, toda geração educa a nova geração, isto é, forma-a; a educação é uma luta contra os
instintos ligados às funções biológicas elementares, uma luta contra a natureza, a fim de dominá- DICA
-la e de criar o homem “atual” à sua época” (GRAMSCI, 1978, p. 142). A universidade na visão de Para compreender um
Gramsci tem a seguinte tarefa: pouco mais a escola
em uma perspectiva
“a universidade tem a tarefa humana de educar os cérebros para pensar de crítico-reprodutivista,
modo claro, seguro e pessoal, libertando-os das névoas e do caos nos quais assista ao filme “Sara-
uma cultura inorgânica, pretensiosa e confusionista ameaça submergi-lo, gra- fina: um som de liber-
ças a leituras mal absorvidas, conferências mais brilhantes do que sólidas, con- dade” (EUA, 1993). Em
versações e discussões sem conteúdo” (GRAMSCI, 1978, p. 145). pleno Apartheid, numa
escola de Soweto, em
que o exército patrulha
Por fim a escola unitária, ou “escola única, intelectual e manual, tem ainda esta vantagem: a de armas, e as crianças
de colocar o menino em contato, ao mesmo tempo, com a história humana e com a história das gritam “Libertem Man-
‘coisas’, sob o controle do professor” (idem, p. 142). Pela análise de Gramsci, o homem, para co- dela”, uma professora
nhecer sua função histórica, precisa da consciência clara de sua responsabilidade. ensina história de uma
forma censurável
Para chegar a um mundo superior de vida social, precisa da “consciência revolucionária”, que fugindo ao currículo
tem como instrumentos o partido e a escola e esses se traduziriam numa ação educativa para o aprovado pelo regime.
desenvolvimento da consciência coletiva e individual.
O que pressupõe dizer que revolução exige cultura e é justamente o aspecto educativo que
assegura o valor humano na relação social, portanto na ação política, na hegemonia.

5.5 Dados biográficos de John


Dewey
O filósofo John Dewey (1859-1952) tor- e em 1931; elaborou um projeto de reforma
nou-se um dos maiores pedagogos america- educacional para a Turquia, em 1924; visitou
nos, contribuindo intensamente para a divul- o México, o Japão e a URSS – União das Repú-
gação dos princípios do que se chamou de blicas Socialistas Soviéticas, estudando os pro-
Escola Nova. Estudou nas Universidades de blemas da educação nesses países. Ao falecer,
Vermont e John Hopkins, recebeu nessa última, em 1952, com 92 anos de idade, Dewey deixou
em 1884, o grau de doutor em filosofia. extensa obra na qual se destacam:
Ensinou na universidade de Chicago, 1887 - Psicologia; 1897 - Meu Credo Peda-
onde veio a ser chefe do departamento de fi- gógico; 1899 - Psicologia e Método Pedagógi-
losofia, psicologia e pedagogia, e onde, por co; 1899 - A Escola e a Sociedade; 1910 - Como
sugestão sua, se agruparam essas três discipli- pensamos; 1916 - Democracia e educação;
nas em um só departamento. 1920 - Reconstrução na filosofia; 1922 - Natu-
Ainda em Chicago fundou uma escola ex- reza humana e conduta; 1931 - Filosofia e civi-
perimental, na qual foram aplicadas algumas lização; 1934 - A arte como experiência; 1938
das suas mais importantes ideias: a da relação - Lógica, a teoria da investigação; 1939 - Liber-
da vida com a sociedade, dos meios com os dade e cultura; 1946 - Problemas dos homens.

fins e da teoria com a prática. O lugar de Dewey no movimento radical
Em 1904 assumiu a direção do Departa- norte-americano foi sempre, de alguma forma, Figura 25: John Dewey
mento de Filosofia da Universidade de Colúm- problemático. Por exemplo, vacilou em sua Fonte: Disponível em
<http://www.tc.columbia.
bia, em New York, na qual permaneceu até identificação com o Socialismo (por exemplo, edu/i/media/john-
retirar-se do ensino. A partir de primeira guer- apoiou a entrada dos Estados Unidos na Pri- -deweyLarge.jpg> Acesso
ra mundial, interessou-se pelos problemas meira Guerra Mundial) e referiu-se ao Marxis- em 23 abr. 2013.
políticos e sociais. Deu cursos de filosofia e mo como “utopia não-científica”. Para além
educação na universidade de Pequim em 1919 disso, nos esforços realizados para manter a

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flexibilidade e opor-se ao dogmatismo e, alternativas pelas quais se deve lutar, pois ten-
em particular, a sua discordância relativa- tou evitar todas as “predeterminações” basea-
mente a fins explícitos pré-determinados, das na classe, ou em algo mais.
Dewey revela-se demasiadamente “neu- Além do mais, é questionável se um de-
tro” perante aqueles que se encontram terminado tipo de propósito social comum
envolvidos ativamente na luta por uma e de cidadania ativa defendido por Dewey é
transformação social radical. A sua anti- possível numa sociedade capitalista com ta-
patia perante o ensino de crenças social- manhas e acentuadas desigualdades de poder
mente fixas revelava-se em contraste com e riqueza e dominada pelo consumismo.
as abordagens de muitos educadores so- Alguns questionaram também que a
ciais reconstrucionistas que acreditavam crença de Dewey na ciência era um equívo-
que tal defesa política era uma aspecto co. Tal como C. Wright Mills salientou, a in-
inevitável na educação (TEITELBAUN; AP- teligência científica poderia ser usada tão
▲ PLE, 2001, p. 199). facilmente tanto para servir a propósitos de-
Figura 26: Fernando de Contrariamente a Dewey, pensavam que mocráticos como para aumentar a domina-
Azevedo os estudantes deveriam identificar e exami- ção. Não obstante essas críticas, Dewey per-
Fonte: Disponível em nar problemas específicos do capitalismo manece ainda como uma das maiores figuras
<http://www.jornaldebel-
trao.com.br/blogs/brasili-
norte-americano de forma a encorajar não só da política, filosofia e educação norte-ame-
dade-paranismo-sudoest/ uma compreensão, como ainda uma aliança ricana, uma presença sólida cujo trabalho
biblioteca-de-fernando- com as relações econômicas e sociais mais merece ser lido atentamente, uma vez que a
-de-azevedo-gallo-e-
-unb-7007/> Acesso em 23
cooperativas. sua análise intensiva de muitas das questões
abr. 2013. Os educadores socialistas hesitaram ain- sociais prementes continua ainda hoje a assu-
da menos em ensinar os valores do coletivis- mir uma preocupação vital (TEITELBAUN; AP-
mo e da luta de classe aos estudantes, PLE, 2001, p. 200).
justificando esta posição como uma ne- A sua articulação e compromisso com a
cessidade de contra-reagir à perniciosa democracia participativa nas escolas e outros
influência da cultura capitalista na vida espaços representam a grande contribuição
das crianças da classe trabalhadora. O má- de Dewey para o radicalismo norte- america-
ximo admitido por Dewey era a aplicação no. Na verdade, embora seu otimismo acerca
de uma investigação criativa e científica do progresso, liberdade, comunidade, ciência,
aos problemas sociais (TEITELBAUN; AP- etc, possa ser por vezes visto como despro-
PLE, 2001, p. 200). porcional perante a realidade da cultura he-
Na verdade, a sua orientação vol- gemônica, este serve, nestes tempos cínicos e
tada para o presente e a sua perspectiva pessimistas, para nos relembrar muitos dos
experimentalista, tende, pelo contrário, a caminhos da mudança social progressista
resultar numa descrição bastante vaga de (TEITELBAUN; APPLE, 2001, p. 200).

5.6 John Dewey: pragmatismo e


Figura 27: Anísio
Teixeira
Fonte: Disponível em

educação progressiva
<http://ozildoroseliafa-
zendohistoriahotmail.
blogspot.com.br/2010/12/
anisio-teixeira.html> Aces-
so em 23 abr. 2013.
Dewey propõe a educação pela ação, cri- Tendo o conceito de experiência como
tica severamente a educação tradicional, prin- fator central de seus pressupostos, chega à
cipalmente no que se refere à ênfase dada ao conclusão de que a escola não pode ser uma
intelectualismo e à memorização. Para Dewey, preparação para a vida, mas, sim, a própria
o conhecimento é uma atividade dirigida que vida. Assim, para ele, vida-experiência e apren-
não tem um fim em si mesmo, mas está dirigi- dizagem estão unidas, de tal forma que a fun-
do para a experiência. As ideias são hipóteses ção da escola encontra-se em possibilitar uma
de ação e são verdadeiras quando funcionam reconstrução permanente feita pela criança da
como orientadoras dessa ação. experiência.
A educação tem como finalidade propi- A educação progressiva está no cresci-
ciar à criança condições para que resolva por mento constante da vida, na medida em que o
si própria os seus problemas, e não as tradicio- conteúdo da experiência vai sendo aumenta-
nais ideias de formar a criança de acordo com do, assim como o controle que podemos exer-
modelos prévios, ou mesmo orientá-la para cer sobre ela. É importante que o educador
um porvir. descubra os verdadeiros interesses da criança,

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Letras Inglês - Sociologia da Educação

para apoiar-se nesses interesses, pois, para ele, somente com base nesses interesses a experi-
esforço e disciplina são produtos do interesse e ência adquiriria um verdadeiro valor educativo.

Os processos de instrução são unificados na medida em que se concentram na DICA


produção de bons hábitos de pensar. Enquanto podemos falar, sem nos enga-
nar, sobre o método de pensar, o mais importante é que o pensar é o méto- Para debater um pouco
do de uma experiência educativa. O essencial do método é, por conseguinte, mais sobre o prag-
idêntico ao essencial da reflexão. Exige primeiro que o aluno tenha uma genu- matismo na escola,
ína situação de experiência, que exista uma contínua atividade em que está in- assista ao filme “Mentes
teressado por si próprio (nos seus próprios interesses); em segundo lugar, um Perigosas” (EUA, 1995).
problema genuíno desenvolve-se dentro desta situação como estímulo para A obra conta a história
pensar; terceiro, que possua a informação e faça as observações necessárias verídica da ex- fuzilei-
para gerir a situação; quarto, que lhe ocorram soluções que lhe foram sugeri- ra naval e professora
das, sendo responsável pelo seu desenvolver ordenado; quinto, que tenha a Louanne Johnson.
oportunidade e a possibilidade (ocasião) de testar as suas idéias por meio de Sua trajetória em uma
aplicação, com o fim de tornar mais claro o seu sentido e descobrir por si pró- escola norte-americana
prio a sua validade. (DEWEY, 2008, s.p) de Ensino Médio para
alunos muito capazes,
Atribui grande valor às atividades manu- sequente criação de um espírito social. Dewey porém com grandes
problemas sociais é
ais, pois apresentam situações problemas con- concebe que o espírito de iniciativa e indepen- abordada. Ao transfor-
cretas para serem resolvidas, considerando, dência leva à autonomia e ao autogoverno, mar radicalmente a sua
ainda, que o trabalho desenvolve o espírito de que são virtudes de uma sociedade realmente atitude dentro de sala
comunidade, e a divisão das tarefas entre os democrática, em oposição ao ensino tradicio- de aula, trazendo para
participantes, estimula a cooperação e a con- nal que valoriza a obediência. suas aulas assuntos re-
levantes à realidade de
mundo de seus alunos,
Se insistimos especialmente no lado negativo, foi porque queremos sugerir medidas
ela enfrenta automati-
positivas, adaptadas ao efetivo desenvolvimento do pensamento. Em escolas equipa-
camente a resistência
das com laboratórios, lojas e jardins, que livremente introduzem dramatizações, jogos
da direção da escola
e desporto, existem oportunidades para reproduzir situações da vida, e para adquirir e
que insiste na ideia de
aplicar informação e idéias num progressivo impulso de experiências continuadas. As
que os alunos devem,
idéias não são segregadas, não formam ilhas isoladas. Animam e enriquecem o decurso
exclusivamente, se
normal da vida. Informação é vitalizada pela sua função; pelo lugar que ocupa na linha
deter ao programa edu-
de ação (DEWEY, 2008) s.p).
cacional pré-estabele-
cido, e jamais participar
A Educação, para ele, é uma necessidade experiências próprias, que são aproveita- de atividades que não
social, os indivíduos precisam ser educados das no processo. O professor possui uma forem relacionadas a
para que se assegure a continuidade social, visão sintética dos conteúdos, os alunos ele.
transmitindo suas crenças, ideias e conheci- uma visão sincrética, o que torna a expe-
mentos. Ele não defende o ensino profissiona- riência um ponto central na formação do
lizante, mas vê a escola voltada aos reais inte- conhecimento, mais do que os conteúdos
resses dos alunos, valorizando sua curiosidade formais; e
natural. • uma aprendizagem essencialmente cole-
De acordo com os ideais da democracia, tiva, assim como é coletiva a produção do
Dewey vê na escola o instrumento ideal para conhecimento.
estender a todos os indivíduos os seus bene- O conceito central do pensamento de
fícios, tendo a educação uma função democra- Dewey é a experiência, a qual consiste, por um
tizadora de igualar as oportunidades. lado, em experimentar e, por outro, em provar.
Advém dessa concepção o “otimismo pe- Com base nas experiências que prova, a expe-
dagógico” da escola nova, tão criticado pelos riência educativa torna-se para a criança um
teóricos das correntes crítico-reprodutivistas. ato de constante reconstrução.
O processo de ensino-aprendizagem para A pedagogia de Dewey apresenta muitos
Dewey estaria baseado em: aspectos inovadores, distinguindo-se especial-
• uma compreensão de que o saber é cons- mente pela oposição à escola tradicional. Mas
tituído por conhecimentos e vivências não questiona a sociedade e seus valores como
que se entrelaçam de forma dinâmica, estão propostos no seu tempo; sua teoria re-
distante da previsibilidade das ideias an- presenta plenamente os ideais liberais, sem se
teriores; contrapor aos valores burgueses, acabando por
• alunos e professores são detentores de reforçar a adaptação do aluno à sociedade.

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UAB/Unimontes - 1º Período

Referências
ARANHA, Antônia. Escola unitária. In: FIDALGO, Fernando; MACHADO, Lucília. (Ed.) Dicionário de
Educação Profissional. Belo Horizonte: NETE- UFMG, 2000.

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Coutinho. 4.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

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SANTOS, Rodiney Marcelo Braga dos. A sociedade, o indivíduo e a educação que temos e
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TEITELBAUM, Kenneth; APPLE, Michael. Clássicos: John Dewey. Currículo sem Fronteiras, v.1,
n.2, pp. 194-201, Jul/Dez 2001.

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