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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E


SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA - PPGSS

QUESTÃO SOCIAL, ESTADO E CIDADANIA

Seminário 09: Estado e Questão Amazônica

D o c e n te s : P r o f ª D r ª H a m i d a Assunçã o Pinheiro e P ro f ª D r ª M ar in e z
Gil N o gu e i ra C u n h a

Discentes: Juliane de Lima Leite e Shirley Vitó ria Teixeira de Menezes


Capítulo 07:
O Estado e a
Questã o Regional
Amazô nica

Violeta Refkalefsky Loureiro Capítulo 08:


Forças Contra o
Possui graduaçã o em
Modelo
Ciências Sociais (1969),
Hegemô nico
mestrado em Sociologia
(1985) e doutorado em
Sociologia (1994).
CAPÍTULO 07: O ESTADO E A QUESTÃO
REGIONAL AMAZÔNICA

1. UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO QUE


NÃO MUDA, APESAR DAS FRAQUEZAS

O modelo econô mico-liberal: em contrapartida, padece de


males que se tornaram cada vez mais inconciliáveis com a
vida social, cultural e natural da Amazô nia brasileira.

As décadas de 1980/90 foram ricas nesses maus exemplos.

“Países e regiõ es com histó ria, povo, cultura, geografia, há bitos,


ideologias, aspiraçõ es, carências diferentes, dificilmente podem ser
tratados como se esses traços individualizantes nã o existissem [...]”
(p.167).

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PAÍSES HEGEMÔNICOS X PAÍSES PERIFÉRICOS

A experiência como colô nia nã o foi


vivida pelos países hegemô nicos, o
que os faz completamente diferentes e
obriga a uma procura de caminhos
também distintos para o
desenvolvimento, que levam em conta
os traços particulares de cada um.

Uma dificuldade na adoção de


esquemas teó ricos desenvolvidos por
países hegemô nicos, diz respeito à s
diferentes posiçõ es que um país
hegemô nico e um periférico ocupam
no sistema-mundo.

Quando se trata da regiã o amazô nica a situaçã o é ainda mais


complexa. A sua condiçã o é duplamente periférica em relaçã o ao
país e ao mundo. 4
2. OBSTÁCULOS QUE DIFICULTAM A
MUDANÇA DO MODELO

- O SISTEMA MUNDIAL IMPEDE A REPRODUÇÃO DO MODELO


HEGEMÔNICO NA PERIFERIA

A posiçã o da Amazô nia no mercado global como exportadora de


semielaborados em larga escala é a configuraçã o típica da inserçã o de
países subdesenvolvidos no mercado internacional em que estes
garantem seu lugar à custa de um alto endividamento.

E esta vinculaçã o ao sistema mundial, também


acarreta em consequências para os países
periféricos e nã o vivenciadas pelos países
centrais, que sã o: uma dívida que se dobra em
duas, já que tem face externa e interna e uma
transferência de renda, por diversas vias, dos
países periféricos para os países centrais, a qual
desde 1950 os teó ricos da Comissã o Econô mica
para América Latina (CEPAL) haviam alertado.
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Um dos graves a. Desestrutura as atividades produtivas
tradicionais em que as pessoas estavam
problemas que o ocupadas;
modelo em vigor na
regiã o provoca: o
sistema b. Nã o absorvem nas novas atividades a
agroexportador. mesma quantidade de pessoas;

Nã o tem havido por parte dos


c. Constituídos à base de enclaves regionais
governos a iniciativa de definir com a produçã o de semielaborados para
caminhos alternativos para o exportaçã o, nã o induzem à instalaçã o de novas
fá bricas que produzem bens acabados [...]
desenvolvimento regional.

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- IMPEDIMENTOS OU DIFICULDADES DE NATUREZA INTERNA

Uma diferença fundamental, nã o desprezível em relaçã o aos


países centrais, é o perfil do Estado brasileiro e das elites do
país.
Os grupos econô micos foram fundamentais para a sustentaçã o
do poder dos governos nos diversos níveis (federal, estadual e
municipal) e na manutenção de representantes conservadores e
aliados corporativos dentro do Executivo, do Congresso
Nacional e Assembleias Legislativas dos estados.
Essas relaçõ es sã o reforçadas O lobby é a pressão que um
pela açã o dos lobbies e por grupo organizado ou uma
pessoa exerce sobre políticos
outras vias, sempre que as
e o poder público com o
condiçõ es vantajosas dos objetivo de influenciar as
grupos e do capital parecem decisões políticas em seu
estar ameaçadas pela mudança favor.
das leis que as consagram.

As alianças e a solidariedade do Estado com as elites e a adesã o de


ambos à forma de conduçã o do desenvolvimento nacional e
regional encontram-se bastante consolidadas. 7
A mudança nesse 2003: bolsa-família, quotas para
perfil do Estado e negros, pardos e pobres nas
no cená rio no qual universidades federais, concessã o
atua é algo difícil de mini-crédito para pessoas de
de ocorrer, pelo baixa renda, ampliaçã o da
menos a médio obrigatoriedade do ensino para as
prazo. crianças a partir dos 6 anos e outras.
2008: o país se encontrava mais
Modelo econômico:
o forte para resistir a vá rios impactos
pela da crise imobiliá ria.
maior responsável
exclusão social

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- AS CRISES ECONÔMICAS TÊM MOBILIZADO O INTERESSE DO
GOVERNO FEDERAL, DESVIANDO-O DA QUESTÃO REGIONAL
AMAZÔNICA

Outro obstá culo ou dificuldade


tem a ver com o contexto
nacional e com as crises
econô micas pelas quais tem
passado o país desde os anos
1980.

Crise Crise
mexicana asiá tica
(1994 e (1997 e
1995) 1998)

Crise Crise
russa brasileira
(1998) (1999)

Crise
Crise turca
argentina
(2000)
(2000)
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3. DAS CONTRADIÇÕES DO GOVERNO
BRASILEIRO

O governo brasileiro enfrenta uma


contradiçã o interna difícil de resolver:
de um lado, estimula o aumento das Commodities são produtos que
funcionam como matéria-prima,
exportaçõ es. Em contrapartida, produzidos em escala e que podem
procura combater os danos ambientais ser estocados sem perda de
decorrentes da produçã o de qualidade, como petróleo, suco de
commodities para os mercados dos laranja congelado, boi gordo, café,
soja, ouro, entre outros.
países centrais.

Ainda que o perfil das empreses mineradoras nã o facilitasse a


internalizaçã o de benefícios na regiã o e contribuísse para as
desigualdades regionais, a produçã o de minérios interessava
enormemente à economia nacional, face à sua participaçã o no
equilíbrio das contas nacionais.

Como forma de controle do desmatamento os governos federais


e estaduais têm procurado criar unidades de conservaçã o
ambiental na regiã o.
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Ao longo de quatro séculos
de ocupaçã o da Amazô nia,
começando pelo século XVII,
foram distribuídos títulos de
terra, sem que os anteriores
fossem cancelados.

Há também uma contradiçã o


no â mbito internacional

O Estado vivencia algumas


contradiçõ es fundamentais que
se colocam à sua frente e que se
assumem conotaçõ es distintas.
A primeira delas implica em
decidir se prossegue ou nã o na
via que estimula a produçã o de
commodities.

E ainda, o novo/velho modelo, revestido da modernidade das


commodities, aumenta a dependência interna e externa do país ao
engajar a regiã o num mercado globalizado altamente competitivo,
através de alguns poucos produtos. 11
4. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A ZONA
FRANCA DE MANAUS (ZFM)

Zona Franca de Manaus (ZFM) Sua implantaçã o como á rea


foi idealizada pelo Deputado livre de importaçã o como á rea
Federal Francisco Pereira da livre de importaçã o e
Silva e criada pela Lei Nº 3.173 exportação somente seria
de 6 de Junho de 1957, como efetivada através do Decreto-
Porto Livre. (SUFRAMA, Lei Nº 288, 1967,
2020). compreendendo parte da
primeira fase da ditadura
militar, o Plano de Açã o
Econô mica do Governo. (PAEG,
1964-1966) (REFKALEFSKY,
2009).

Fonte: SUFRAMA, 2020.


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A criaçã o da ZFM se baseava na ideia que através da criaçã o de
polos industriais e comerciais teria como objetivo expandir o
desenvolvimento das regiõ es, assim através da indú stria, da
agropecuá ria e do comercio poderia assim reduzir as
desigualdades regionais. (REFKALEFSKY, 2009).

Para incentivar investidores para regiã o, foram concedidas a isençõ es


parciais e totais, referindo se a três impostos:

• Imposto sobre produtos industrializados;


• Imposto de mercadorias ou insumos que se destinam ao consumo
local, as industrias da regiã o, ou a reestocagem para a reexportaçã o;
• Imposto sobre circulaçã o de mercadorias hoje modificado para o ICMS.
(REFKALEFSKY, 2009).
ICMS - Imposto sobre Circulaçã o de
Mercadorias e Prestaçã o de Serviços é um
tributo que incide sobre a movimentaçã o
de mercadorias em geral, o que inclui
produtos dos mais variados segmentos
como eletrodomésticos, alimentos,
cosméticos, e sobre serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de
comunicaçã o.
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A ZFM inicialmente teria duraçã o de trinta anos, depois da
CF1988 – foi prolongada até 2023. (REFKALEFSKY, 2009).

Críticas a respeito da ZFM;

 Grande conglomerados
internacionais se aproveitam
dos incentivos fiscais e
demais vantagens oferecidas
pelos governos e dos baixos
salá rios aos trabalhadores.

 Críticas a respeito da isençõ es


fiscais, concorrência desigual
com demais regiõ es.

 Colonialismo cultural, onde se


exalta a cultura europeia ou
norte- americana tendendo a
diminuir a cultura local.

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Efeitos Benéficos da Zona Franca de Manaus

Obrigatoriedade de uma nacionalizaçã o


progressiva dos produtos nela fabricados
ou montados.

Criaçã o do Centro de Biotecnologia da


Amazô nia (CBA). Com o objetivo de
implantar um polo de bioindú stria na
regiã o, através da pesquisa aplicada,
consistindo no aproveitamento dos
recursos florestais da regiã o.

Os benefícios de ordem ambiental, ainda


que nã o tenha sido intençã o original.
No Estado do Amazonas , as populaçõ es
minoritárias sã o mais resguardadas do que
os demais estados amazô nicos.

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5. O ESTADO NÃO ESTÁ TOTALMENTE
CONDICIONADO E PODE CONDUZIR MUDANCAS
IMPORANTES

O Estado, quando
Os obstá culos podem ser
pressionado, pode promover
contornados?
mudanças.

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6. ANTECIPANDO CONCLUSÕES

Modelo Centro/Periferia Pobreza e degradaçã o ambiental

Questionamentos:

 Porque concebemos o nosso futuro persistindo nos erros do


passado e do presente ?
 Porque limitar nossas possibilidades de conceber o futuro a
modelos traçados por sociedade tã o diferentes da nossa ? 17
CAPÍTULO 08: FORÇAS CONTRA O MODELO
HEGEMÔNICO

1. OS MODELOS SOCIAIS - A LUTA CONTRA O


MODELO HEGEMÔNICO

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- MOVIMENTOS SOCIAIS COMO REPÚDIO À FORMA
HEGEMÔNICA DE PODER E RESPOSTA DOS GRUPOS
SUBORDINADOS

As lutas através das quais os movimentos sociais se inscrevem na


histó ria recente da regiã o têm muitos significados.

Em quarto lugar, entendo os


Em primeiro lugar, entendo os
movimentos sociais e os conflitos
movimentos sociais e os conflitos
como as respostas dos grupos
como formas organizadas de
subordinados no sentido de
pressão;
reorganizar a sociedade e os fatos
históricos em direção às aspirações e
utopias do grupo.
Em segundo lugar, os
movimentos sociais e o conflito
exprimem a resposta das classes e Em terceiro lugar, entendo
grupos subordinados à que os movimentos sociais são
permanente exclusã o e manifestações sociais
marginalizaçã o a que estã o organizadas e movidas por uma
submetidos; força política capaz de resultar
em mudança do status quo;
19
- OS MOVIMENTOS SOCIAIS E SUAS CONQUISTAS

Os movimentos sociais logram, frequentes vezes, mudar a realidade


por vá rias razõ es: a) têm consciência de que o Estado cede em suas
posiçõ es quando pressionado e que, nem sempre o faz movido pela
ética da justiça social [...] b) as reinvindicaçõ es dos movimentos
protestató rios sociais têm força porque, em grande parte, sã o
legítimas. [...]
O conflito é, talvez, o ato político que encama a
possibilidade ú nica, e à s vezes, final, de sobrevivência
de um grupo enquanto categoria social.

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a) forma de resposta organizada das classes e grupos
desfavorecidos;

b) forma de realizaçã o de utopias dos grupos


envolvidos;

Resumindo em c) o mais expressivo modo de manifestaçã o e luta por


questõ es étnicas, econô micas, ecoló gicas e na
linhas gerais, Amazô nia, a luta por manter a forma de vida local [...];
entende-se os
movimentos
sociais: d) protestam porque estes ú ltimos se pautam pela
ló gica do mercado e do lucro e nã o pela ló gica do
grupo ou movimento [...];

e) e assim, direta ou indiretamente, as lutas pela


defesa de prá ticas ecoló gicas, pela forma de vida local,
contra o avanço da fronteira e do capital, por direitos
étnicos ou outras [...]

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- OS MOVIMENTOS SOCIAIS ENCONTRAM-SE À FRENTE DA
SOCIEDADE

Apesar de estarem inseridos na sociedade, da qual sã o


componentes indissociáveis, é possível constatar que os
movimentos sociais encontram-se à frente do restante da
sociedade.

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2. MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS NOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

Aspectos novos dos movimentos sociais dos anos 1980 à 1990


(REFKALEFSKY, 2009).

Atomizaçã o
dos
movimentos
sociais

Globalizaçã o
das
comunicaçõ es

Uso da ciê ncia


e tecnologia

Recursos aos
tribunais
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- MOVIMENTOS SOCIAIS DOS ANOS DE 1990 EM DIANTE

Organizaçõ es da Sociedade Civil - ONGs

Por conta do repasse


Projetos Recebem recursos governamental passa a
desenvolvidos por governamentais e retirar o cará ter
ONGs nacionais e passam a funcionar político de contestar a
internacionais como ó rgã o ausê ncia do Estado na
passam a incorporar mediador entre o garantia do acesso aos
demandas de grupos Estado e Grupos direitos, e valendo-se
sociais. Sociais disso, o Estado deixa
de “incomodado” .

A resistência à globalizaçã o neoliberal contam com a participaçã o


de segmentos muito diversificados da sociedade como partidos
políticos, ONGs, Organizaçõ es camponesas, índios, feministas,
pacifistas, humanitá rios, de defesa dos direitos humanos ou da
negritude e outros, o que se expressa claramente que os protestos
partem das mais diferentes camadas sociais. REFKALEFSKY,
2009).
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3. ANTECIPANDO CONCLUSÕES

A partir dos anos de 1990 os movimentos sociais urbanos de


cará ter trabalhista enfraqueceram devido ao desemprego
provocado pelas políticas neoliberais de ajuste econô mico,
embora outros tenham até mesmo recrudescido, como
movimento pelo direito a moradia nas cidades, com a ocupaçã o
de terrenos e prédios pú blicos e privados (REFKALEFSKY, 2009).

Os movimentos sociais sã o as formas pelas quais os grupos


sociais excluídos socialmente procuram realizar suas utopias.
Essas utopias sã o, por vezes, muito simples, mas indispensáveis
ao grupo daí a necessidade de organizaçã o e reivindicaçã o
amparando- se legalmente e com recursos científicos e
tecnoló gicos (REFKALEFSKY, 2009).

25
Para Refletir...

26
REFERÊNCIAS

Texto 18 – REFKALEFSKY, Violeta Loureiro. O Estado e a


Questão Regional Amazônica. In: REFKALEFSKY, Violeta
Loureiro. Amazônia no Século XXI: novas formas de
desenvolvimento. Sã o Paulo: Empó rio do Livro. 2009.
(Capítulo 7)

Texto 19 – REFKALEFSKY, Violeta Loureiro. Forças Contra o


Modelo Hegemônico. In: REFKALEFSKY, Violeta Loureiro.
Amazônia no Século XXI: novas formas de desenvolvimento.
Sã o Paulo: Empó rio do Livro. 2009. (Capítulo 8)

27
28
Hora
da
Dinâmica!

29
Ruth

30
Francisca Trindade
Denise

32
Lucas
Lucas
Lucas
Marcia

http://www.ppgd.propesp.ufpa.br/index.php/br/programa/noticias/todas/557-
estado-nacional-e-o-futuro-incerto-da-amazonia-no-seculo-xxi
Marcia

https://350.org/pt/conheca-os-bancos-europeus-que-praticam-colonialismo-climatico-na-amazonia/
Marcia

Figura 5. Frequência relativa das á reas de vegetaçã o nativa, á reas exploradas, á gua e
outros no bioma Amazô nia
Marcia

Figura 7. Dinâ mica do desmatamento entre 2009 e 2018 no bioma Amazô nia
(Prodes).
Marcia
Marcia

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