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Lógica Proposicional

Noções gerais
Formas de inferência válida
Noções gerais

 O objeto de estudo da lógica proposicional é, para além do estudo das


proposições e suas relações, uma análise da validade formal das inferências e
raciocínios.
 Esta análise passa pelo denominado cálculo proposicional que assenta na
realização de operações entre proposições.
 As proposições ( frases declarativas que podem ser enunciados verdadeiros ou
falsos, com valor de verdade V , F, sem se admitir uma terceira
possibilidade), podem ser simples (ex. Mariana estuda lógica) ou compostas
( enunciados compostos por duas ou mais proposições. Ex: A Mariana estuda
lógica e raciocina bem).
 A conexão lógica entre duas proposições simples é assegurada na linguagem
natural, pelos chamados operadores de frase que as reduzem a 5 tipos
fundamentais de proposições compostas:
 1. Negações
 2. Conjunções
 3. Disjunções
 4. Condicionais (ou implicação)
 5. Bicondicionais (ou equivalência)
Pontuação (colocação de parêntesis das
proposições complexas
 Os parêntesis usam-se sempre que é necessário isolar uma conetiva
dominante, de modo a se “dar força” (âmbito da conetiva) a uma conetiva
de menor dominância.
 A ordem decrescente de dominância das conetivas é:
 1. equivalência
 2. implicação
 3. disjunção
 4. conjunção
 5. negação
 Dominância máxima ++++++ ↔ Equivalência
 (maior âmbito)
 ++++ → Implicação

 +++ ˄ Conjunção

 ++ ˅ Disjunção

 + ˜ Negação

 Dominância mínima
 (menor âmbito)
 Ser dominante significa que a conetiva resiste na expressão, até as outras
terem sido avaliadas quanto ao seu valor de verdade. Ou seja, a dominante é a
última a ser avaliada.
 Quando uma proposição for complexa, como na matemática, a expressão de
conetiva com menor âmbito é aquela que se encontra dentro de parêntesis,
logo, a primeira ser avaliada.
 Exemplos

1. Negação ˜(p˄q→r)

2. Conjunção ˜p ˄ (q → r)

3. Implicação (˜p ˄ q )→ r
Exercícios de consolidação

 Traduza em linguagem simbólica os seguintes enunciados e saliente a


conetiva dominante:
1. Não é verdade que a Ana tem saúde e trabalha
2. Pedro não tem saúde e trabalha
3. O Rui tem saúde ou trabalha, então ganha dinheiro
4. Se Manuel tem saúde e trabalha, então ganha dinheiro
5. Paulo tem saúde e trabalha se e somente se ganhar dinheiro
Método das tabelas de verdade

 A razão porque transformamos proposições de linguagem natural para


linguagem simbólica é, porque deste modo, podemos calcular de forma
simples em que dada circunstância uma proposição é verdadeira ou em que
circunstância ela é falsa.
Como construir a tabela de verdade?

 NÚMERO DE LINHAS DE UMA TABELA-VERDADE:

 Cada proposição simples (atómica) tem dois valores V ou F, que se excluem.

 Para n proposições simples, o número de linhas da tabela verdade é 2 x.

 Assim, para duas proposições são 2 2= 4 linhas;

 Para 3 proposições são 23 = 8;

 etc.
 
1 Negação (~)

p ~p
Tabela verdade da "negação“
V F

F V
Exemplos:
a) p: Os benfiquistas são fanáticos.
~p: Não é verdade que os benfiquistas são fanáticos.
b) p: Dois é um número ímpar.
~p: É falso dizer que dois é ímpar..
c) p: Os homens são em maioria atletas de musculação.
~p: Os homens não são em maioria atletas de musculação.
REGRA: A negação de uma proposição p é a proposição composta que se
obtém a partir de p antecedida do conectivo lógico “não” ou outro
equivalente resultando ˜p
Dupla Negação: ~ ( ~p ) = p

p ~p  P

V F V
Exemplo:
F V F
p: Os atletas de musculação são fanáticos.
~ p: Os atletas de musculação não são fanáticos.
~ ( ~p ): Os atletas de musculação são fanáticos.
Ou então:
Não é verdade que os atletas de musculação não sejam
fanáticos
Tabela Exemplos:
2 Conjunção ( ˄ ) 1º

p: António é minhoto.

p q p^q q: 4 é um número par.


V V V p ∧ q: António é minhoto e 4 é um número par.
V F F
p=V
F V F
F F F q=V
p∧q=V
2º 3º e 4º

p: A França é um país europeu.

q: A massa da Lua é maior que a da Terra.


Regra: A proposição composta p e q p ∧ q: A França é um país europeu e a massa da Lua é maior que a da
será verdadeira se as proposições Terra.
simples forem ambas verdadeiras.
p=V

q=F

p∧q=F
2 Disjunção Inclusiva ( ˅ ) Exemplos:
1º , 2º e 3º
p q p˅q
p: Madrid é a capital do Espanha.
V V V
V F V q: Zero é um número natural.

F V V p ∨ q: Madrid é a capital de Espanha ou zero é um número natural


F F F p = V
q = V
p∨q = V

Regra: A disjunção inclusiva
p: Um triângulo tem quatro lados.
é verdadeira quando uma
das proposições elementares q: O mês de janeiro tem 30 dias.

for verdadeira ou, é falsa p ∨ q: Um triângulo tem quatro lados ou o mês de janeiro tem 30 dias.
apenas quando ambas são p = F
falsas.
q = F

p∨q= F
3 Disjunção Exclusiva ( v )
Exemplo:
p q p v  q
p: João é minhoto
V V F
V F V
q: João é alfacinha
F V V
F F F p v q : Ou João é minhoto ou alfacinha.

p ∨ q significa

((p ∨ q) ∧ ∼ (p ∧ q)).

Regra: A disjunção exclusiva é verdadeira quando as proposições


elementares Têm valor lógico diferente. Quando possuem o mesmo
valor lógico é falsa.
 
4 Implicação ou Condicional (→)
Exemplos: Exemplos:

p q p →q
p: Airton Senna morreu em um acidente.
V V V q: 13 é um número primo.

V F F p → q: Se Airton Senna morreu em um acidente, então 13 é um número primo.


p = V
F V V
q = V
F F V p→q = V

p: O Natal é comemorado no mês de dezembro.
q: 32=6
p → q: Se o Natal é comemorado no mês de dezembro, então 32=6
p = V
q = F
p→q = F

p: Arcos de Valdevez tem praia.
q: 24=16
p → q: Se Arcos de Valdevez tem praia, então 2 4=16
p = F
p q p →q q = V
p→q = V
V V V

V F F p: O Brasil é uma Monarquia.
q: -3 é um número natural.
F V V
p → q: Se o Brasil é uma Monarquia, então -3 é um número natural.
F F V p = F
q = F
p→q = V

Regra: A implicação só é falsa se o antecedente é verdadeiro e o


consequente for falso. Nas demais circunstâncias é sempre verdadeira
5 Equivalência ou Bicondicional (↔)
Exemplos:

p q p ↔q p: Brasília é a capital do Brasil.
V V V q: 20 é divisível por 5.
V F F
p ↔ q: Brasília é a capital do Brasil se, e somente se 20 é divisível por 5.
F V F
F F V p = V
q = V
p↔q = V

p: A natação é um desporto olímpico.
q: Lisboa é a capital de França.
p ↔ q: A natação é um desporto olímpico se, e somente se Lisboa é a capital de França

p = V

q = F

p↔q = F

p: Fernando morreu afogado.
q: 15 é ímpar.
p ↔ q: Fernando morreu afogado se, e somente se 15 é ímpar.
p = F
q = V
p↔q = F
p q p ↔q 4º
V V V p: Paris é a capital da Alemanha.
V F F
q: 7 é menor que 5.
F V F
F F V p ↔ q: Paris é a capital da Alemanha se, e somente se 7 é menor que 5.
p = F
q = F
p↔q = V

Regra: A equivalência ou bicondicional é verdadeira quando as


proposições elementares têm o mesmo valor lógico. Quando possuem
valor lógico diferente é falsa.
Tabelas de verdade

 A construção de tabelas de verdade para fórmulas com mais de uma conectiva


 obedece a algumas regras, que vamos agora precisar.
 Os valores de verdade de cada conectiva devem ser calculados
ordenadamente, começando pela conectiva com menor âmbito
 . A conectiva principal é a última a ser calculada.
 Vamos construir uma tabela de verdade para a fórmula (P V Q) → R
p q r (p V q) => r
V V V
V V F
V F V
V F F
F V V
F V F
F F V
F F F
 A primeira diferença face às tabelas que vimos anteriormente é, na coluna da
esquerda, o acréscimo de combinações possíveis. A negação tinha só
uma proposição (P), pelo que só havia 2 valores de verdade possíveis a
considerar. As restantes conectivas, como já ligavam duas proposições (P e
Q), implicavam 4 combinações. Ora, nesta fórmula temos três proposições (P,
Q e R), a que se aplicam, portanto, 8 combinações possíveis. Cada nova
proposição introduzida (e simbolizada por uma nova letra) duplica o
número de combinações possíveis. Passemos agora ao cálculo das várias
conectivas. Começamos pela disjunção, (P V Q), que é o conector de menor
âmbito. E assim teremos:
p q r (p V q) => r
V V V V
V V F V
V F V V
V F F V
F V V V
F V F V
F F V F
F F F F
. E seguidamente calculamos a condicional, que é a conectiva principal. Para o fazer partimos
dos valores de verdade obtidos no cálculo da disjunção, que correspondem à antecedente
da proposição complexa, e consideramos R a proposição consequente. Assim:

p q r (p V q) => r

V V V V V
V V F V F
V F V V V
V F F V F
F V V V V
F V F V F
F F V F V
F F F F V
Inspetor de circunstâncias

 O inspetor de circunstâncias é um método usado para, através de tabelas de


verdade, testar a validade de argumentos. Já sabemos que num argumento
dedutivo válido é impossível que as premissas sejam verdadeiras e a
conclusão falsa conjuntamente. Assim, depois de construirmos uma tabela que nos
indicará os valores de verdade das premissas e da conclusão, restar-nos-á verificar
se existe alguma circunstância (ou “linha”) em que todas as premissas sejam
verdadeiras e a conclusão falsa. Caso isso se verifique, o argumento será inválido.
 Vejamos um exemplo: P → Q
 P
 ∴Q

 O símbolo “∴“ lê-se “logo”. Corresponde a um indicador de conclusão.


 A tabela deste argumento será a seguinte:
p q P =>q p ∴q

V V V V V
V F F V F
F V V F V
F F V F F

Da análise desta tabela depreende-se que o argumento é


válido, uma vez que na única circunstância
(representada na primeira linha) em que todas as
premissas são verdadeiras, a conclusão também é
verdadeira.
Formas de inferência válida – Modus
Ponens e Modus Tollens
 Vamos ver agora algumas das formas de inferência válida mais comuns: modus
ponens, modus tollens, silogismo hipotético, Leis de Morgan, silogismo
disjuntivo e contraposição.

Modus Ponens Modus Tollens

p=>q p=>q
p ~q
∴q ∴ ~p
 Um exemplo de Modus Ponens pode ser o seguinte:
 Se tenho carta de condução, então posso conduzir. Tenho carta de condução.
Logo, posso conduzir.

 Para exemplificar um argumento Modus Tollens, pode referir-se:


 Se já tiver 18 anos de idade, então posso votar. Logo, não tenho 18 anos de
idade.
Contraposição

 A contraposição pode ser expressa de dois modos:

Contraposição

P→Q
∴~Q→~P ou ~Q→~P
∴P → Q
Contraposição

 Para exemplificar a primeira forma lógica: Se tenho um cão, então sou feliz.
 Logo, se não sou feliz, então não tenho um cão.
 E como exemplo da segunda forma:
 Se não sou feliz, então não tenho um cão.
 Logo, se tenho um cão, então sou feliz
Silogismo hipotético

 O silogismo hipotético pode ser expresso desta forma:

Silogismo Hipotético
p—>q
q—>r
∴p—>r

Um exemplo desta forma de silogismo é: Se ingerir um antibiótico, então fico


curado. Se fico curado, então já posso praticar desporto. Logo, se ingerir um
antibiótico, então já posso praticar desporto.
Leis de Morgan – Negação da
conjunção.
 Para a negação da conjunção:
Negação da Conjunção

~(p˄q) ou (~p˅~q)
∴~p ˅~q ∴~p˄q

Vejamos um primeiro exemplo:


Não é verdade que estou acordado toda a noite e que consigo estudar.
Logo, não estou acordado toda a noite ou não consigo estudar.
E um segundo exemplo:
Não estou acordado toda a noite ou não consigo estudar.
Logo, não e verdade que estou acordado toda a noite e que consigo estudar.
Leis de Morgan – Negação da disjunção.

 Para a negação da disjunção:

Negação da Disjunção
~(p˅q) ou ~p˄~q
∴~p ˄~q ∴~(p˅q)

Observemos um primeiro exemplo:


Não é verdade que tenho um cão ou um gato.
Logo, não tenho um cão e não tenho um gato.
Um segundo exemplo:
Não tenho um cão e não tenho um gato.
Logo, não é verdade que tenho um cão ou um gato.
Principais falacias formais

 Concluiremos esta secção de lógica formal apresentando duas formas de


 inferência invalidas, duas falácias formais. As falácias são formas
argumentativas que parecem válidas, mas que não são. As duas falácias
 seguintes, tem formas semelhantes ao modus ponens e ao modus tollens,
 respetivamente, mas são formas de inferência inválidas.
Falácia da afirmação do Consequente

Falácia da afirmação do consequente

p—>q
Q
∴p

Como exemplo da primeira falácia temos:


Se estou em Viana do Castelo, então estou no Minho.
Estou no Minho.
Logo, estou em Viana do Castelo.
Falácia da afirmação do consequente

 Esta falácia é bastante parecida ao modus ponens, no entanto, a sua forma é


diferente. Enquanto no MP temos a afirmação do antecedente, nesta falácia
temos a afirmação do consequente, o que não impede que as premissas
possam ser verdadeiras e a conclusão falsa ao mesmo tempo.
Falácia da Negação do antecedente

Falácia da negação do antecedente


p—>q
~p
∴~q

E a exemplificar a negação do antecedente:


Se estou em Viana do Castelo, então estou no Minho.
Não estou em Viana do Castelo.
Logo, não estou no Minho.
Falácia da Negação do antecedente

 Esta falácia é parecida com o MT. Mas, contrariamente ao MT, esta falácia,
consiste na negação do antecedente, o que também não impede que as
premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa, ao mesmo tempo.
O discurso argumentativo e principais
tipos de argumentos e falacias informais
 Entramos agora no domínio da logica informal que e a que enquadra o que no
 inicio deste capitulo se disse a respeito das inferências indutivamente
válidas.
 Apresentamos seguidamente os principais tipos de argumentos não dedutivos
 e especificamos alguns dos critérios ou “regras” que nos permitem testar a
sua validade. Ao contrario dos argumentos dedutivos, a validade dos
argumentos não dedutivos não depende da sua forma logica.

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