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Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias - Português
O romance histórico

Profª. Mara Magaña


Romance histórico é um gênero literário em que a narrativa ficcional se
relaciona com fatos históricos.

A composição das personagens e dos cenários é feita de modo que


estejam em concordância com documentos e dados históricos,
oferecendo ao leitor uma noção da vida e dos costumes da época.

O romance histórico surgiu no século XIX com o escocês Walter Scott


(1771-1832). Ele foi considerado o primeiro a usar esse estilo, sendo o
clássico Ivanhoe sua obra mais famosa.
No Brasil, há importantes obras que reconstroem com detalhes a história
do país, sendo José de Alencar um dos primeiros a escrever usando esse
gênero.

Os romances indianistas também são considerados como romances


históricos pois também tratam de temas históricos.
Características do Romance Histórico

O romance histórico deve descrever fatos e personagens tal qual eles


existiram, recurso chamado de “autenticidade de cor local”.
Para o filósofo húngaro György Lukács, as narrativas da história antiga, os
mitos da Idade Média e os relatos chineses e indianos teriam sido os
precursores do romance histórico.
Segundo ele, a cor local, a informação histórica e o passado apresentado
como uma realidade acabada são as características do romance histórico.
Além disso, destacam-se:
•O fato histórico deve ser o ponto de partida para a construção da ficção,
ambos interagindo;
•Uso de temas heroicos e personagens representando valores éticos e
morais;
•A narrativa é construída no tempo passado, em detrimento do tempo em
que escreve o autor;
•Busca de legitimação dos fatos históricos através de documentos e
referências históricas;
•Tentativa de recuperar estruturas sociais, culturais, políticas e estilos do
passado;
Personagens no Romance Histórico
Personagens no Romance Histórico

Dentre as personagens deveria haver figuras históricas (pessoas


que realmente existiram segundo provam os documentos
históricos) e protagonistas típicos, que deveriam seguir totalmente
os padrões da época tratada e interagir entre si.
As personagens podem ser de 4 tipos:

1.Personagens centrais que se encontram no centro gerador das


mudanças;
2.Personagens médios que são jovens, cujas aventuras pessoais
acontecem em algum lugar da trama;
3.Grupos que seriam uma espécie de herói coletivo,
4.Personagens marginais que se diferenciam dos anteriores por
seus traços externos ou personalidade.
Principais Autores e Obras

Aqui alguns dos principais escritores do Brasil e do Mundo e suas


respectivas obras que tiveram destaque como romances históricos:

Literatura Brasileira
Obras Autores
As Minas de Prata (1865) José de Alencar
O Tempo e o
Vento (Trilogia: O
Continente (1949), O Érico Veríssimo
Retrato (1951) e O
Arquipélago (1961-62)
Mad Maria (1980) Márcio Souza
Viva o Povo Brasileiro (1984) João Ubaldo Ribeiro
Boca do Inferno (1989) Ana Miranda
Principais Autores e Obras

O Tempo e o Vento conta a saga dos Cambará e Campo


Largo, e reconstitui a história do Rio Grande do Sul desde a
Guerra dos Farrapos. Foi transformado em série pela Globo.
Principais Autores e Obras

Literatura Estrangeira
Obras Autores
Ivanhoe (1820) Walter Scott
Nossa Senhora de Paris
"Corcunda de Notre Victor Hugo
Dame" (1831)
Os Romances de D'Artagnan (Os
Três Mosqueteiros (1844), Vinte
Alexandre Dumas
Anos Depois (1845) e o Visconde
de Bragelonne (1847)
Guerra e Paz (1869) Liev Tolstói
O Arco-íris da Gravidade (1973) Thomas Pynchon
O Leopardo (1959) Tomasi di Lampedusa
Romance Histórico Pós-Moderno

No romance histórico tradicional, a narrativa seria uma forma de realçar


valores do passado. Já nos romances pós-modernos, há uma reflexão
sobre esses valores, o que representa maior flexibilidade de interpretação
sobre os fatos históricos.

Isso quer dizer que enquanto nos textos clássicos pretendia se contar a
verdade, nos pós-modernos essa verdade pode ser questionada, cuja
narrativa é ao mesmo tempo ficcional, histórica e discursiva.

Ambos podem ser uma forma de nos ajudar a entender os motivos pelos
quais as coisas acontecem no presente como as conhecemos. Sendo que
os romances atuais são mais críticos em relação ao processo.
Romance Histórico Pós-Moderno

Eliana Alves Cruz é jornalista e escritora carioca, autora de Água de Barrela, obra vencedora do
Prêmio literário Oliveira Silveira da Fundação Palmares, em 2015, e recentemente reeditada pela
Malê. Eliana participou também de várias antologias e coletâneas; e lançou seu segundo romance
histórico-policial O crime do Cais do Valongo.

Água de Barrela permite acompanhar os personagens e acontecimentos desde o Brasil colônia


até os dias de hoje. A narrativa tem início com a festa de aniversário de uma das personagens –
que, após viver momentos de muita dor, dificuldades, alegrias e perdas, torna-se ainda mais forte
para vivenciar as dicotomias da vida. Muitas mulheres compõem essa obra; uma delas é Damiana,
uma personagem que luta o tempo todo por sua liberdade. 

Crime do Cais do Valongo é um romance que se passa no período colonial, em um Rio de Janeiro
do século 19. A narrativa acontece de modo intercalado pelas vozes de Nuno Alcântara Moutinho, que
é um mulato filho de pai português e mãe negra, e Muana Lòmué, africana escravizada, advinda de
Moçambique.
Romance Histórico Pós-Moderno

Nove Noites é o sexto livro do carioca Bernardo Carvalho.


Nele, o autor trata de um desaparecimento misterioso,
tema recorrente em sua obra. A investigação dessa vez é
sobre a morte do antropólogo norte-americano, Buell
Quain.
Aos 27 anos de idade, em 1939, ele se suicidou após a
estada em uma aldeia indígena brasileira. Sem motivo
aparente, Quain se enforcou na frente de dois indígenas
que o acompanhavam na volta para a cidade de Carolina,
no estado de Tocantin.
Os índios retratados por Bernardo Carvalho são os krahô,
quevivem no nordeste do Estado do Tocantins,
na Kraolândia, situada nos municípios de Goiatins e
Itacajá. Fica entre os rios Manoel Alves Grande e Manoel
Alves Pequeno, afluentes da margem direita do
Tocantins. O cerrado predomina, cortado por estreitas
florestas que acompanham os cursos d’água. É mais
larga a floresta que acompanha o rio Vermelho, que faz o
limite nordeste do território indígena.
Romance Histórico Pós-Moderno

Sexto livro de Bernardo Carvalho, Nove Noites – Prêmio Portugal Telecom (2003) e


Prêmio Machado de Assis conferido ao melhor romance do ano pela Biblioteca Nacional
(2003) – é um fenômeno da literatura contemporânea denominado metaficção
historiográfica, como informa o professor Emerson Cruz Inácio, do Departamento de
Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP.  “A metaficção é um dado da história cultural, da História com H
maiúsculo, da história política e ideológica, ou outra que for, ou seja, um dado real que é
tomado de empréstimo e se torna a partir daí uma motivação ficcional”, explica. Ele
continua: “Isso está associado à dificuldade que o narrador – ou um dos narradores, se a
gente preferir – tem de lidar tanto com esse trauma que o persegue quanto com essa
morte suspeita, misteriosa e estranha do etnólogo”. Para Inácio, o mais interessante é
que os dois planos narrativos se complementam.

Acerca do título do romance, Nove Noites, pode haver várias motivações. O tempo de


viagem entre a região em que vivia a tribo indígena que Buell Quain estudava, ou seja, o
transcorrer do próprio tempo, e também as cartas que são trocadas, uma por noite, com o
narrador fictício.
Romance Histórico Pós-Moderno

Obras de Bernardo de Carvalho

Aberração (coletânea de contos) - 1993


Onze (romance) - 1995
Os Bêbados e os Sonâmbulos (romance) - 1996
Teatro (romance) – 1998
As Iniciais (romance) - 1999
Medo de Sade (romance) - 2000
Nove Noites (romance) - 2002
Mongólia (romance) - 2003
O Sol se Põe em São Paulo (romance) - 2007
O Filho da Mãe (romance) - 2009
Reprodução (romance) - 2013
Simpatia pelo demônio (romance) - 2016
Literatura ou História?

O limite entre o que é história ou literatura sempre foi motivo de


questionamentos. Isso porque quem escreve, seja historiador ou
escritor, não consegue ser totalmente imparcial, deixando
transparecer a sua visão sobre os fatos descritos.

O debate entre os limites entre história e literatura já eram


questionados por Aristóteles. O filósofo considerava que o
historiador deveria narrar os fatos como eles ocorreram, enquanto
que ao poeta caberia descrever o que poderia ter acontecido
Referências

AGUIAR, Flavio, et al. Érico Veríssimo: O Romance da História. São Paulo: Nova Alexandria,
2001.

AZEVEDO, Ivete Monteiro de. A Expressão Do Tempo No Romance Histórico: um estudo


em Boca do Inferno de Ana Miranda”. (Tese de Doutorado apresentada à Coordenação de Pós-
graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Doutor em Estudos de Linguagem. Orientadora: Profª. Dr.ª Cláudia Nívia
Roncarati de Souza). Niterói, 2008.

FLECK, Gilmei Francisco. O romance histórico: processo de leituras cruzadas. In: ANAIS DO VI
SEMINÁRIO DAS LINGUAGENS. UNIOESTE. Cascavel: Edunioeste, 2006.

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