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INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA

PSICOLOGIA JURÍDICA E T. G. DA SOLUÇÃO DAS CONTROVÉRSIAS


PROFESSORA MA. GIOVANNA CARROZZINO WERNECK
Psicóloga CRP 16/3796 – Analista do Comportamento
COMPORTAMENTO DESVIANTE

* DUAS DIMENSÕES

CONDUTAS CONDUTAS
ANTISSOCIAIS DELITIVAS
CONDUTAS ANTISSOCIAIS
 Comportamentos socialmente
indesejáveis.

 Não são definidas como violações


legais.
CONDUTAS DELITIVAS
 Ações que transgridem o Código
Penal.
O QUE LEVA OS INDIVÍDUOS A
TAIS COMPORTAMENTOS?

 Bases neurobiológicas;
 Traços de personalidade;
 Variáveis contextuais de transgressão às normas
sociais e legais.

 (PUTHIN, 2018)
 Fatores causais da prática infracional ao longo do ciclo vital
(infância, adolescência, vida adulta, velhice)
 A) fatores individuais = agressividade na infância, repertório
comportamental restrito...
 B) fatores familiares = relações familiares violentas, disciplina
parental rigorosa, história de comportamento antissocial na
família, composição numerosa e baixa renda familiar...
 C) fatores ambientais = ambiente criminogênico,
relacionamento disfuncional com parceiros...
 (PUTHIN, 2018)
 Há um decréscimo de comportamentos
antissociais ao longo do ciclo vital dos
indivíduos.
 “[...] a descontinuidade das condutas
criminais está relacionada a diversas
variáveis sociopsicológicas que resultam da
interação do indivíduo com o meio”
(PUTHIN, 2018, p. 78).
 = PERSONALIDADE => padrão de
comportamentos, sentimentos e pensamentos.
 = “Os comportamentos típicos, estáveis,
persistentes que formam o padrão por meio do qual
o indivíduo se comporta em suas relações [...]
IMPORTANTE recebem a denominação de características da
personalidade. As manifestações dessas
características formam a imagem mental, para os
observadores, do comportamento mais esperado
dessa pessoa em cada tipo de circunstância”
(FIORELLI; MANGINI, 2020, p. 82).
 Estresse prolongado e eventos traumáticos
modificam as características da personalidade,
contudo essas modificações não são,
necessariamente, suficientes para tirar a
funcionalidade do indivíduo.
 Caso haja comprometimento da funcionalidade, há
um prejuízo da saúde mental e desenvolve-se um
quadro de TRASTORNO DE
PERSONALIDADE.
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PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA
 “[...] o delinquente psicopata representa um
percentual muito reduzido no total da população
delinquente e a maior parte dos infratores da lei é
surpreendentemente normal” (GOMES; MOLINA,
1997 apud FIORELLI, MANGINI, 2015, p. 234).
OUTROS OLHARES SOBRE O DELINQUENTE
 Delinquência e prazer
 = o prazer na dor do Outro
 = o gozo na violência física
 = o gozo na violência psicológica

 Referência: capítulo 6 – Um Olhar sobre o Delinquente – do


livro
FIORELLI, J. O.; MANGINI, R. C. R. Psicologia Jurídica.
10. ed. São Paulo: Atlas, 2020. Biblioteca Digital da Multivix
[recurso online].
 “[...] parece irrecusável que existe urna
contribuição genética para quase toda forma de
comportamento. Mas não é absolutamente
verdadeiro que o comportamento específico dos
seres humanos seja determinado apenas
geneticamente. As potencialidades são genéticas
em sua origem. O talento musical herdado não
basta para formar um músico” ( FIORELLI;
MANGINI, 2015, p. 235).
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O LAR: CONDICIONAMENTO E MODELOS

 “No lar instalam-se as bases de crenças, valores e


fundamentos dos comportamentos de cada indivíduo,
que se refletirão, mais tarde, em condicionamentos
positivos ou negativos em seus relacionamentos
interpessoais. A dinâmica familiar influencia no modo
como o indivíduo irá se relacionar com o meio,
inclusive em questões envolvendo atos ilícitos”
(FIORELLI;MANGINI, 2015, p. 238).
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 A influência familiar se manifesta:
 A) pela aprendizagem de valores inadequados ao
convívio social funcional;
 B) pela observação de modelos, cujos comportamentos
não condizem com os paradigmas da ética;
 Obs.: terceirização afetiva, “[...] crianças e
adolescentes desprovidos dos vínculos afetivos básicos
que se esperam do relacionamento familiar [...]”
(FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 239).
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A ESCOLA E A INFÂNCIA

 Com pais omissos e ausentes, os colegas podem ser modelos


de comportamento
 Modelos comportamentais
 Aprendizagem vicariante

 OBS.: o modelo inicia o comportamento, a aprendizagem o


consolida

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ADOLESCÊNCIA: O CRÍTICO MOMENTO DA TRANSIÇÃO
 Fatores que podem tornar o adolescente mais vulnerável à prática de violência
 A) Vulnerabilidade do adolescente às mensagens que induzem à violência e à
transgressão.
 B) “Percepção da falta de espaço no mundo adulto. As perspectivas futuras exigem
um preparo psíquico que a base parental e escolar parecem longe de
proporcionar” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 215).
 C) O poder do grupo => “Esta equipe diferencia-se pelo componente afetivo, que
fortalece a coesão em torno dos sentimentos compartilhados” (VERGARA, 1999
apud FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 241).
 D) GANGUE = “um por todos, todos por um” => estabilidade, suporte afetivo;
trocam a incerteza que a sociedade proporciona, pela confiança no resultado
coletivo.
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LIDERANÇA/FIGURAS DE AUTORIDADE
 Sem líderes, os grupos não se mantêm coesos
 Aspectos relevantes sobre liderança:
 A) “o estilo da equipe é notadamente determinado pelo líder; os integrantes
tendem a replicar seus comportamentos, tanto mais quanto mais carismática for a
base de sua liderança;
 •B) a coesão da equipe é tanto maior quanto mais forte for a liderança: esse
comportamento aparece com muita clareza na coesão das equipes esportivas;
 C) sucesso mais pela integração que conseguem obter do que pela excelência de
suas orientações técnicas;
 D) os objetivos do líder e os da equipe tendem a se confundir e, quanto maior for a
integração em torno deles, tanto mais eles se tornarão o objetivo de cada
integrante” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 244-245).
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 “Os resultados para a sociedade podem ser devastadores quando a
equipe é conduzida por uma liderança messiânica e representada
por urna personalidade antissocial, disposta aos piores atos
(terrorismo, sequestro, tráfico de drogas, perversões sexuais etc.).
Esse tipo de atuação é conhecido e flagrante em movimentos
políticos e religiosos. Suicídios coletivos de pessoas ligadas a seitas
são exemplares. Os líderes antissociais são hábeis para manipular
grupos de dependentes ou simbióticos, acenando-lhes com
segurança, vidas idealizadas neste mundo ou em outros e
constroem realidades virtuais que os mantém unidos em torno de
castelos de areia” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 255).

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19 MICROFATORES EXTERNOS
 Abandono familiar precoce
 Exposição a ambientes com uso frequente de substâncias psicoativas
 Instabilidade profissional dos pais
 Desemprego
 Más condições socioeconômicas
 Migração excessiva com pouca vinculação à vizinhança
 Falta de limites durante a infância = pode não conduzir a atitudes
criminosas, mas conduz a comportamentos inadequados, considerando a
boa conduta social
 “Uma das consequências mais graves da falta de
limite é a incapacidade de amar. Estrutura-se
uma personalidade com fortes características
antissociais ou, no mínimo, com escassa
consciência social, levando o indivíduo a crer
que tudo é possível, que os outros não possuem
direitos. O exercício dessa superioridade
justifica-se pelos meios que estão disponíveis:
força, poder econômico, carisma, sedução etc.”
(FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 246).
EFEITO-DIVULGAÇÃO
 A) o papel dos meios de comunicação
 B) conduz a aspirações desprovidas de senso de realidade pela prática
corriqueira de dar publicidade excessiva e indevida aos dramas populares.
 “Ao fazê-lo, provocam diversos tipos de efeitos sobre a audiência (sempre
carente de observar o sofrimento alheio, um suave mecanismo de defesa
psicológico), para os quais concorrem os fenômenos de percepção. A execração
pública de pessoas, expostas ao ridículo do gozo de terceiros, maximizada pela
exploração impiedosa e insensata do acontecimento [...] A dor, física e ou
psíquica, ao perder a excepcionalidade, banaliza-se” (FIORELLI; MANGINI,
2015, p. 256).

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 ocorre a sistemática e intencional desvalorização do ser humano,
tratado como objeto de consumo;
 dissemina-se a sugestão de valores despidos de interesse social e
voltados para o mais rudimentar egocentrismo;
 a sutil disseminação de técnicas de violência física e, principalmente,
psicológica;
 “Esses efeitos agravam-se quando as mensagens vêm travestidas de
pretensa seriedade, utilizando recursos subliminares que provocam
enorme impacto, principalmente naquelas pessoas com menor
capacidade de crítica. O ensinamento é acolhido diretamente nos lares
[...]” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 266).
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SUBLIMAÇÃO
 Mecanismo de defesa
 Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=J
pPDmag5cyw
 “Notícias de tragédias injetam adrenalina nas
horas iniciais do cotidiano de milhões de
leitores, ratificando ao inconsciente de cada
um a sublime satisfação de que, mais urna
vez, escapou ao sorteio na loteria do
infortúnio. Prazer que se completa com
notícias semelhantes no noticiário da noite”
(FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 228).
Vários fenômenos contribuem para que a dor do
Outro seja percebida, inconscientemente, como
irrelevante ou prazerosa.
 A) Percepção = “colorido geral dos acontecimentos”
 B) Percepção = habitualidade, banalização de eventos costumeiros
 C) Prazer na dor do outro = característica de personalidade antissocial,
“[...] em que o indivíduo agride a sociedade, representada pelo objeto
da raiva; o agredido não passa de coisa; o prazer de agredir
contrabalança a frustração de não poder destruir; eventualmente,
chega a fatalidade” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 229).
O GOZO NA VIOLÊNCIA
 Experimenta prazer com a violência em si, resultando ou
não em dor para a outra pessoa.
 “A violência torna-se lugar comum, conforta(!) e
proporciona sensação de segurança. Ela integra uma
linguagem que lhes proporciona identidade e sentido de
pertencer a um grupo distinto” (FIORELLI; MANGINI,
2015, p. 230).
 Condicionamento
 Observação de modelos = desenvolve repertório
estereotipado e automático de comportamentos violentos =>
formadores de opinião
 “Esse ‘gozo na violência’ adquire inúmeras
manifestações :
 indumentária e decoração refletem a opção
comportamental;
 a pessoa cerca-se de símbolos que evocam a
violência [...];
 o indivíduo procura o convívio de pessoas
violentas, idealiza-as e torna-as modelos de
referência;
 “[...] esportes, condicionamento físico e outras
atividades são escolhidas e conduzidas de maneira a
exteriorizar o desejo de violência; quando
adequadamente praticadas, o indivíduo consegue
conviver em harmonia com as normas sociais
(sublimação ); entretanto, são conhecidíssimas as
‘explosões emocionais’ que produzem
comportamentos extremos: assassinato no trânsito,
direção perigosa, crimes passionais, espancamento
de filhos etc.” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p.
231).
GOZO NA VIOLÊNCIA
PSICOLÓGICA
 “O físico prevalece, na percepção, sobre o
psicológico porque, muitas vezes, essa
violência pode surgir de modo sutil e assumir
diversas formas de expressão, coma
humilhação e o autoritarismo” (FIORELLI;
MANGINI, 2015, p. 232).
 “O indivíduo que desenvolve o gozo pela
violência psicológica predispõe- se a aplicá-la
com requintes que se aperfeiçoam ao longo do
tempo, por vários motivos. Um deles é a
descrença, entre quem não compreende o dano
sofrido pela vítima, de que os relatos são, de
fato, reais” (FIORELLI; MANGINI, 2015, p.
232).
 “A violência psicológica torna-se ainda mais prazerosa
quando o agressor sabe que a dor provocada apresenta
urna permanência que se prolonga muito além do alcance
da flagelação física; um simples telefonema pode
desencadear urna crise; a lembrança de um sarcasmo, uma
ameaça, uma ridicularização podem continuar a martelar
impiedosamente a mente do agredido por tempo
indeterminado (isso se acentua ainda mais quando se trata
de pessoa obsessiva, que fica ruminando o suplício [...]”
(FIORELLI; MANGINI, 2015, p. 233).
REFERÊNCIAS
 FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia
Jurídica. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2020. Disponível na Biblioteca Virtual
da Multivix [recurso online].
 PINHEIRO, Carla. Coleção Direito Vivo. Psicologia Jurídica. São Paulo:
SaraivaJur, 2017. p. 99-106. Disponível na Biblioteca Virtual da Multivix
[recurso online].
 PUTHIN, Sarah Reus et al. Psicologia Jurídica. Porto Alegre: SAGAH,
2018. Disponível na Biblioteca Virtual da Multivix [recurso online].

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