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Necropolítica
A política de extermínio de corpos negros
Favela do Jacarezinho RJ
Maio de 2021
Achille Mbembe
Necropolítica
Para Mbembe, a necropolítica significa uma alteração na forma
com que são exercidas as noções de soberania e poder, que
passam a ser estruturadas a partir do princípio de quem pode
viver e quem pode morrer. Soberania enquanto a capacidade de
definir quem importa e quem não importa, quem é
‘descartável’ e quem não é. Daí sua afirmativa de que
“expressão máxima da soberania reside em grande medida, no
poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve
morrer. Por isso matar ou deixar viver constituem os limites da
soberania, seus atributos fundamentais. Exercitar a soberania é
exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a
implantação e manifestação de poder”.
Enquanto Foucault concentra sua teoria do biopoder
na gestão da vida, Mbembe foca suas análises na
gestão da morte, porque alguns corpos são vistos
como matáveis, abjetos e se forem mortos, melhor.
O elemento do racismo é importante para
compreender o poder que atua sobre esses corpos.
Por essa perspectiva, é o racismo que regula a
morte.
Uma das primeiras experiências de
biopolítica foi a escravidão (para
Foucault isso aconteceu somente
após a Revolução Industrial,
lembra?). Assim, podemos
abandonar o holocausto judeu como
paradigma de terror e barbárie. Isso
não significa que tal evento hediondo
não mereça esse espaço. Tudo
começou muito antes, tanto na
colonização quanto na escravidão.
É preciso racializar e descolonizar o discurso, segundo Mbembe. É necessário pensar o
conceito de raça em todos os nossos discursos políticos, já que o terror moderno teve início
na escravidão e precisamos pensar em como se formou a escravidão, a diáspora africana (A
diáspora africana é o nome dado a um fenômeno caracterizado pela imigração forçada de
africanos, durante o tráfico transatlântico de escravizados). Junto com seres humanos, nestes
fluxos forçados, embarcavam nos tumbeiros (navios negreiros) modos de vida, culturas,
práticas religiosas, línguas e formas de organização política que acabaram por influenciar na
construção das sociedades às quais os africanos escravizados tiveram como destino. Estima-
se que durante todo período do tráfico negreiro, aproximadamente 11 milhões de africanos
foram transportados para as Américas, dos quais, em torno de 5 milhões tiveram como
destino o Brasil .
Dessa forma, conseguimos compreender como surgiu o discurso racista, o eurocentrismo e
o logocentrismo dentro de um discurso político. Não existe política sem se estabelecer
mecanismos de dominação.
Enquanto houver racismo não teremos democracia. Há quem defenda que não vivemos numa
democracia real, justamente por estarmos imersos desde sempre numa sociedade que a todo momento
vive a luta dos que não reconhecem o racismo estrutural e aqueles que lutam para que sua história, sua
ancestralidade e suas vidas não sejam apagadas.