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TROVADORISMO

• Trovadorismo – Primeira época medieval


se estende de 1189(ou 1198) – data
provável da “CANÇÃO DA RIBEIRINHA”
escrita por Paio Soares de Taveirós até
1434 com a nomeação de Fernão Lopes
para o cargo de cronista-mor da Torre de
Tombo.
TROVADORISMO
O trovadorismo é um movimento de caráter exclusivamente
poético.As composições líricas desse período são chamadas de
CANTIGAS,porque eram cantadas e sofriam acompanhamento de
instrumentos musicais que incluíam violas de
arco,flautas,alaúdes,pandeiros,saltérios e sonalhas.Os que
cultivavam essas poesias eram chamados de
TROVADORES,embora haja diferença significativa de status e
funções nas várias denominações dadas a autores e intérpretes das
cantigas.Os TROVADORES eram aqueles compositores que tinham
ascendência nobre e que compunham as cantigas;os JOGRAIS não
eram fidalgos e cantavam composições próprias ou alheias em troca
de pagamento;os SEGRÉIS eram os jograis da corte.O trovadorismo
português apresenta dois tipos de cantigas:as cantigas líricas(de
amor e de amigo) e as cantigas satíricas(de escárnio e maldizer).
Cantigas de amigo e de amor
• Cantigas de amigo:
• Eu-lírico feminino
• Ambiente rural
• Origem na Península Ibérica
• Amor correspondido
• Mulher camponesa
• Linguagem simples

• Cantigas de amor:
• Eu-lírico masculino;
• Ambiente urbano
• Origem provençal(Provença – região sul da França)
• Amor inacessível(coita d’amor)
• Vassalagem amorosa
• Mulher idealizada
• Linguagem erudita
Cantigas de amigo
• Lembre-se que embora as cantigas de amigo possuam o eu-lírico
feminino é o homem quem as escreve.O “amigo” é o namorado ou
amante.Tem uma ligação com a dança e a música pois se
prestavam a festas,comemorações e rituais ligados à chegada da
primavera.Podemos encontrar três possibilidades básicas de
ambientação:
• - cantigas de inspiração campesina focalizando o encontro entre os
namorados numa fonte;ou a moça lamentando a ausência do amado
que partiu para a guerra e não deu mais notícias.
• - cantigas enfocando o ambiente doméstico,em que a moça aguarda o
namorado que virá pedir sua mão à mãe.
• - cantigas já adaptadas ao ambiente da Corte,nas quais o
trovador,assumindo o ponto de vista das mulheres,procura
expressar o que ele supõe ser o lamento delas por sua ausência.
Cantigas de amigo
• A vida cotidiana,a saudade do amigo que partiu para a guerra,o ciúme,a
indignação,a vaidade de se saber bela,encontros fortuitos,bailes,festas,o colorido do
mundo medieval português podem ser sentidos nessas cantigas.Elas possuem uma
beleza singela que permite ao leitor entrever os sentimentos que a motivaram.Na
maioria das vezes a mulher não se dirige diretamente ao homem amado – adota
como confidente uma amiga,a irmã,a mãe ou um elemento da natureza.De acordo
com o tratamento dado ao tema amoroso,podem ser classificadas em:
• A) ROMARIAS: a moça convida alguém para ir a santuários ou peregrinações;tinham
finalidade religiosa.
• B) BAILIAS (ou bailadas):temas ligados à dança,aos bailes,circunstâncias propícias
para arranjos amorosos.
• C)BARCAROLAS: focalizam temas ligados ao mar e à vida litorânea.
• D)ALBAS(ou alvoradas): têm como tema os amantes que se separam ao amanhecer
depois de uma noite de amor.
• E)PASTORELAS:diálogo entre uma pastora e um poeta.
• F)SERRANILHAS:cantiga cuja protagonista é uma serrana,ou seja,uma mulher que
habita as serras.
Cantiga de amigo
• Per ribeira do rio Vi remar o barco
• Vi remar o navio i vai o meu amado
• E sabor hei da ribeira e sabor hei da ribeira

• Per ribeira do alto i vai o meu amigo


• Vi remar o barco quer me levar consigo,
• E sabor hei da ribeira e sabor hei da ribeira

• Vi remar o navio i vai o meu amado


• I vai o meu amigo quer me levar de grado?
• E sabor hei da ribeira e sabor hei da ribeira.
• Segismundo In Spina

• Sabor hei: estou contente


• Alto:rio
• De grado: de bom grado,de boa vontade
Cantigas de amor
• Nessas cantigas o eu-masculino lamenta a coyta d”amor,ou
seja,o sofrimento pela impossibilidade de realização
amorosa,já que a dama pertence a uma classe social superior
a dele – ela é esposa ou filha de um nobre, ele-um servo.Essa
poesia saiu dos palácios,portanto foi feita por nobres e apenas
em tese essa impossibilidade ocorreria.Trata-se assim de um
fingimento poético .Um tema frequente é o panegírico(ou
elogio) impossível:a mulher amada é a mais bela de todas,o
poeta A IDEALIZA COMO UM SER QUASE DIVINO.Ela
ignora seu amor ou tem conhecimento dele e o despreza,ela é
a dama sem piedade ou compaixão.
¨Cantiga de amor
• No mundo non me sei parelha, • E,mia Senhor,des aquel”di” ai
• Mentre me for como me vai • Me for a mi mui mal
• Cá já moiro por vós – e ai! • E vós filha de Dom Paay
• Mia senhor branca e vermelha • Moniz,e bem semelha
• Queredes que vos retraia
• D”haver eu por vos gurvaia
• Quando enton vos vi em saia

• Pois eu mia Senhor,d”alfaia
Mau dia me levantei
• Que vos enton non vi fea! • Nunca de vos houve nem hei
• Valia d”uma correia.
• Non me sei perelha – não sei de coisa semelhante
• Mentre – enquanto
• Cá – porque Paio Soares de Taveirós(Cantiga
• Moiro – morro
• Branca e vermelha – branca com as faces rosadas da Ribeirinha)!
• Quererdes que vos retraia – quereis que eu vos retrate
• Em saia – em roupas íntimas
• Que – pois
• Semelha – parece
• d’”haver eu por vos gurvaia – que eu deva receber,por vosso
intermédio,um traje de luxo(usado na corte)
• Valia d”uma correia – qualquer coisa de pouco valor
Cantigas Satíricas(de escárnio e
maldizer)
DE ESCÁRNIO: São aquelas que fazem crítica
indireta,sutil,sem indicar o nome da pessoa
satirizada,lançando mão de uma linguagem mais
velada,que muitas vezes admite duplo sentido.

DE MALDIZER: fazem a crítica


rude,direta,mencionando o nome da pessoa
criticada,usando palavrões e,muitas vezes enveredando
para a obscenidade.Sua linguagem é chula e não se
utiliza de ambiguidades.
Cantiga satírica
• Ai dona fea!foste-vos queixar
• Porque vos nunca louv’em em meu trobar
• Mais ora quero fazer um cantar
• Em que vos loarei toda via
• E vêdes como vos quero loar:
• Dona fea,velha e sandia!
• João Garcia de Guilhade
Cancioneiros e trovadores
• A produção trovadoresca está compilada em três cancioneiros:
• A) Cancioneiro da Ajuda: ou dos Nobres,por ter pertencido até 1825 à
Biblioteca do Colégio dos Nobres,e,posteriormente,à Biblioteca da Ajuda.Contém
310 cantigas,em sua maioria de amor.Exclui as cantigas satíricas e não abrange a
produção de D.Diniz.

• B) Cancioneiro da Vaticana: assim chamado por ser o códice número 4.803 da


Biblioteca da Vaticana.Contém 1.205 cantigas de todos os tipos.

• C) Cancioneiro da Biblioteca Nacional: também chamado de Colocci-


Brancutti,por ter pertencido ao filósofo Ângelo Colocci e depois ao conde
Brancutti.Encontra-se atualmente em Portugal,na Torre do Tombo.Contém 1.647
cantigas de todos os tipos e inclui os trovadores do reinado de D.Diniz.
Principais autores
• Autores: • Literatura:
• D.Diniz; • Cantigas líricas:de amigo e de
• João Garcia de Guilhade; amor
• Pero da Ponte; • Cantigas satíricas: de escárnio e
• Nuno Fernandes Torneol; maldizer
• João Zorro; • Cancioneiros:da ajuda,da vaticana
e da biblioteca nacional
• Julião Bolseiro;
• E,
• Sancho Sanches.
• Novelas de Cavalaria(prosa)
Novelas de Cavalaria
• Enquanto o sul da França cultivava a poesia provençal,o norte guerreiro
acalentava as “canções de gesta”(poemas heróicos-feitos).A provável
obra precursora foi a francesa Chanson de Roland(Canção de
Rolando),escrita no sé.XI,provavelmente por Turold.Alguns autores
preferem deixar em aberto a origem desse gênero,oscilando entre
França e Inglaterra.Surgido durante as cruzadas,esses poemas heróicos
foram os pais das novelas de cavalaria,gênero muito popular na Idade
Média,e que veio a ser a prosificação daquelas canções.

• Apesar de Portugal não ter tido uma cavalaria européia típica,as novelas
de cavalaria encontraram um público apaixonado e fiel nesse país,a
partir do séc.XIII.Traduzidos do francês,encontraram eco no gosto dos
fidalgos e da realeza.
Novelas de cavalaria
• As novelas de cavalaria se dividem em 4 ciclos:
• A)Greco-latino:inspirado nas tradições greco-latinas,dá uma roupagem medieval às
tradições míticas.
• B) Bretão ou arturiano:giram em torno de Arthur,rei da Bretanha,que aliado a seus
cavaleiros,busca o Santo Graal(Cálice que continha o sangue de Cristo),ou une-se a
seus companheiros em torno da Távola Redonda para rememorar façanhas da
guerra.
• C) Carlovíngio: ou de Carlos Magno;canta os feitos militares desse imperador
francês.
• D) Ciclo de Amadis: narra as aventuras de Amadis de Gaula,cavaleiro bretão,filho
de amor proibido entre Elisena e o rei Perion,que o abandonam no mar.É recolhido
por uma família que o designa para pajem de Oriana,a que viria ser seu grande
amor,e por quem ele se entregaria a feitos heróicos.
• Obs.: O ciclo Bretão foi o que mais acolhimento encontrou junto ao público
português.As três novelas desse ciclo teriam circulado em Portugal durante os
séculos XIV e XV,todas interligadas por suas personagens e temas: A Demanda de
Santo Graal,José de Arimatéia e Merlin.
Decadência do Trovadorismo
• Três causas podem ser apontadas:
• * Decadência do mecenatismo(fundada na generosidade e liberdadae)
real:até a metade do séc.XIV,os reis portugueses mantinham os
jograis,segréis,menestréis na corte.Consta que D.Pedro I de Portugal foi o
responsável pela extinção do lirismo jogralesco na Corte em 1366.Esse lirismo já
tinha entrado em decadência na França,saindo dos ambientes palacianos para as
portas de tavernas.
• * Aburguesamento de Portugal: nos anos de 1383-85,com a Revolução de
Avis,Portugal conheceu uma grande virada em sua estrutura econômico-social.A arte
trovadoresca era essencialmente palaciana,não condizendo com a nova realidade
portuguesa.
• *Conflitos entre Portugal e Espanha:Durante todo o trovadorismo,o galego-
português foi a língua usada por todos os poetas da Península,graças a importância
de Santiago da Compostela,na Galiza,que em função das peregrinações,influenciou
culturalmente toda a região peninsular.Mas,a partir do reinado de D.Afonso IV,as
relações entre Portugal e Espanha tornam-se tensas,o que ocasiona uma separação
não só linguística mas também literária.Cada nação procura formas mais próprias de
expressão,abandonando o que foi feito em comum.
O lirismo trovadoresco da Idade
Média aos nossos dias
• Geralmente estudantes diante de um texto galego-português,se perguntam:Pra que estudar
isso?
• Realmente não faria sentido estudarmos o passado pelo passado,mas esse passado não
morreu,a cultura trovadoresca está presente até hoje,mesmo num país como o Brasil que não
viveu diretamente a Idade Média.É evidente que a cultura trovadoresca sofreu contínuas
modificações,adaptando-se aos diferentes ambientes sociais e as peculiaridades de cada
país.Considerando apenas as cantigas líricas,observe em alguns exemplos como é rica a
influência da cultura trovadoresca no Brasil.
• * a vassalagem amorosa presente no romantismo(séc.XIX) tem sua origem na Idade Média(bem
como a idealização da mulher e do herói).Gonçalves Dias escreveu uma cantiga de amigo
indianista:”Leito de Folhas Verdes”
• *Manuel Bandeira,em pleno séc.XX,escreveu “Cantar de amor” em... Galego-português.
• * Vários compositores da MPB escreveram e escrevem cantigas de amigo:Paulo
Vanzolini(Ronda),Chico Buarque(Com açúcar e com afeto,Atrás da Porta, Tatuagem, Olhos nos
olhos e muito mais),além de Gonzaguinha e Gilberto Gil.Caetano Veloso e Juca Chaves têm
músicas que são perfeitas Cantigas de amor.
• Portanto,sempre há algo do passado no presente e,conhecimento se constrói através de leitura
de mundo.
• JBC/2010

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