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O Prefeito de Juiz de Fora durante a Segunda

Guerra Mundial: Intolerância e perseguição a


estrangeiros e seus descendentes durante o
Estado Novo
Luiz Antonio Belletti Rodrigues
Universidade Federal de Juiz de Fora
Doutorado em História
Introdução

 Este trabalho é parte de uma pesquisa que investiga as


perseguições a estrangeiros ocorridas na cidade de Juiz de
Fora, Minas Gerais, durante a II Guerra Mundial.

A pesquisa completa foi feita através da análise de processos
no arquivo do crime, existentes no Arquivo Histórico de Juiz de
Fora, de jornais do período e de documentos do Arquivo
Público Mineiro.
 Este artigo apresenta dois processos, onde em ambos o
prefeito de Juiz de Fora, Raphael Cirigliano, na época foi
vítima.
Motivação


A cidade de Juiz de Fora foi fundada por alemães e recebeu
muitos imigrantes italianos, mesmo assim a perseguição aos
estrangeiros durante a guerra foi implacável.

Durante a participação do Brasil na II Guerra Mundial muitos
estrangeiros foram perseguidos e presos, a Casa de Itália foi
invadida, o interventor municipal, filho de italianos teve que
deixar a cidade e muitas ruas tiveram seus nomes mudados.

Exemplos: rua Berlim passou a se chamar Governador
Valadares e a rua Itália passou a se chamar Oswaldo Aranha.
Perseguição a estrangeiros no
Estado Novo

Mobilização popular que precedeu a entrada do Brasil na
Guerra criou um clima hostil com os estrangeiros lá
residentes.

O estado de guerra serviu de pretexto para a
intensificação do autoritarismo do Estado Novo contra os
estrangeiros.

Foi com a conjuntura de guerra que o processo de
centralização política e econômica se viu mais fortalecido,
mas também encontrou seu limite.
Uso dos processos criminais


As fontes utilizadas foram os processos criminais
existentes no Arquivo Histórico de Juiz de Fora, jornais, e
documentos do Arquivo Público Mineiro.

A análise feita nos processos foi qualitativa e quantitativa.
Foram identificados todos os processo contra estrangeiros
entre 1937 e 1945. Foram selecionados seis processos
para análise qualitativa, pela relevância em relação à
perseguição de estrangeiros no período da Guerra.

Todos os jornais do período também foram pesquisados,
e as notícias sobre estrangeiros foram selecionadas
O arquivo do crime de Juiz de Fora

 O Arquivo Histórico de Juiz de Fora possui todos os arquivos


criminais da cidade até 1945.
 Há dois fundos arquivísticos, o do Fórum Benjamim Colucci,
até 1942 e o do Fórum da Câmara de Juiz de Fora, após
1942.

Foram analisados 232 no primeiro e 135 no segundo fundo
(de 1937 a 1945). O crime mais comum é o de lesão corporal,
correspondendo a 46% dos processos criminais.

A busca por nacionalidade encontrou apenas 5,7% de crimes
onde os réus eram estrangeiros, sendo que em apenas seis
eles eram alemães ou italianos.
Os processos

• 1º Processo (1943): Ulisses Guimarães Mascarenhas foi


considerado culpado de ter escrito as cartas anônimas,
difamando o prefeito e outros descendentes de italianos e
alemães, chamados de “eixistas”.
• O processo foi “esquecido” na delegacia de Belo Horizonte,
não tendo sido enviado para o Tribunal de Segurança
Nacional.
• Somente em 1947, o chefe de polícia o envia para o Tribunal
Criminal. O promotor considera as provas insuficientes e
pede arquivamento do processo. O juiz acata o pedido.
Os processos

• 2º processo (1943): Circulação de um jornal clandestino,


“A sentinela”.
• O jornal ataca italianos e alemães, e principalmente o
prefeito Rafael Cirigliano, que é chamado de italiano
fascista de longa data, e de quinta-coluna.
• Os três acusados seriam cúmplices, enquadrandos nos
artigos 3º e 5º do Decreto Lei 431O inquérito foi enviado
para julgamento no Tribunal de Segurança Nacional. O
processo foi “arquivado” por engano segundo o corregedor
da polícia de Belo Horizonte, que o encontrou novamente
em 1947, quando o tribunal não mais existia.
Fotos
Mimeógrafo usado no jornal
Foto do prefeito
Conclusão

 A primeira etapa da pesquisa foi concluída. A dissertação


de mestrado foi apresentada. Doutorado em andamento –
novas fontes, novas análises

Os processos analisados permitiram cruzar as
informações de diversas fontes, mostrando os sistemas de
comunicação do Estado Novo.
 Fundamental para resgatar alguns acontecimentos
sobre a perseguição de estrangeiros que a impressa
local não relatou.
Conclusão
Relato sobre a difamação sofrida pelo prefeito de outras
personalidades locais, simplesmente pelo fato de serem
descendentes desobre
relato
 italianos ou alemães,
a difamação ou terem
sofrida pelo prefeito
manifestadodesimpatia por italianos
outras personalidades ou alemães no
locais, simplesmente
passado. pelo fato de serem descendentes de italianos
ou alemães, ou terem manifestado simpatia por
italianos ou alemães no passado. Os processos

Os processos
também também foramfontes
foram as únicas as que
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e lojas e
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na cidade,comerciais deescrita
tendo a impressa estrangeiros
também se na cidade,
tendo a impressa
calado. Osescrita também
jornais nunca seocalado.
atacaram prefeito, Os jornais
mas também nunca o elogiaram.
nunca atacaram o prefeito, mas também nunca o
elogiaram.

No mesmo mês dos processos, o prefeito foi “trocado”
com o prefeito de São Lourenço. A imprensa pouco
noticiou sobre esta questão.
Continuidade

• A pesquisa continua no doutorado, agora com a análise


dos processos do Tribunal de Segurança Nacional, no Rio
de Janeiro e com entrevista de estrangeiros e
descendentes, residentes em Juiz de Fora.
Quatro questões abordadas:
A perseguição a estrangeiros durante a guerra
O nacionalismo no Estado Novo
A política de nacionalização de estrangeiros
A questão racial – o imigrante ideal para construir a nação
brasileira

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