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CONCEITOS:
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
O intérprete, visando atingir o real significado da norma, amplia as
possibilidades de interpretação do termo.
Em regra é admitida.
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
A lei se utiliza de formas casuísticas, especificas, e depois encerra com uma forma
genérica. Ex: Art. 121, §2°, I do CP.
Em regra, é admitida.
ANALOGIA
Não confundir com interpretação analógica. A analogia não é considerada uma forma de
interpretação, mas sim de integração da norma jurídica, já que há uma lacuna da lei, ou
seja, uma situação não prevista pelo ordenamento jurídico. Assim, o operador do Direito
utiliza, para regular aquela situação, uma lei que normatiza situação semelhante.
Só é possível quando beneficiar o réu, a chamada analogia in bonam partem. Ex: Art.
181, I, do CP.
PRINCÍPIOS PENAIS
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
- Previsto no artigo 5º, XXXIX, CF e no artigo 1º, CP: “Não há crime
sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação
legal”.
- Também é conhecido pelo brocardo: Nullum crimen, nulla poena
sine lege.
Deve ser interpretado de maneira extensiva. Já que “crime” deve
ser entendido como infração penal, englobando também as
contravenções. Já “pena” deve ser entendida como sanção penal,
englobando também as medidas de segurança.
Doutrina desdobra este princípio em seis partes:
1) Não há infração penal nem sanção penal sem lei.
Medidas provisórias não podem definir condutas como infrações penais, nem
estabelecer sanções penais (norma penal incriminadora). Entretanto, o STF
decidiu que MP pode criar normas penais benéficas.
Lei delegada também não pode criar norma penal incriminadora.
Resoluções também não podem criar norma penal incriminadora.
2) A lei deve ser anterior.
- Um dos subprincípios da legalidade é o princípio da anterioridade, que proíbe a
retroatividade da lei penal em prejuízo do réu.
3) A lei deve ser escrita.
Como já vimos, costumes não podem ser fonte do Direito Penal, podendo ser usado como
instrumento de interpretação dele.
4) A lei deve ser estrita.
Como também já estudamos, em Direito Penal não é possível a analogia em prejuízo do
réu.
5) A lei deve ser certa.
Neste ponto é consagrado outro subprincípio, o da taxatividade ou determinação.
Esse subprincípio é dirigido ao legislador, que deve produzir lei clara, que evite
interpretações dúbias e proporcionando o integral entendimento da mesma por parte da
sociedade.
Exemplo de lei que não obedece este subprincípio: O artigo 41-B do Esatuto do Torcedor.
6) A lei deve ser necessária.
Decorrente do princípio da intervenção mínima, já estudado.
PRINCÍPIO DA IGUALDADE
Previsto expressamente no art. 5º, CF.
Prevê não somente a igualdade formal, mas também a material,
consubstanciado no princípio da isonomia, tratando os iguais de
forma igual (formal), mas também os desiguais de forma desigual, na
medida da sua desigualdade (material). Exs: Ações afirmativas, Lei
Maria da Penha.
PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE OU PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
Previsto no artigo 5º, LVII, CF: “Ninguém será considerado culpado até
o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.
São consequências da aplicação deste princípio:
a) A prisão do réu só pode ocorrer, em regra, após sua condenação
transitada em julgado (Exceção: Artigo 492, I, e), CPP). Em caráter
excepcionalíssimo, pode ser decretada a prisão provisória no curso da
persecução penal.
b) O ônus da prova, em regra, cabe à acusação.
c) A condenação deve sempre advir de um juízo de certeza, sendo que
na dúvida, o réu deve ser absolvido (in dubio pro reo).
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO BIS IN IDEM, OU PRINCÍPIO DO NON BIS IN IDEM OU
PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM
Este princípio tem 3 significados:
a) Processual: Ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime.
Entretanto, o STJ entende que não fere o princípio a instauração de processo
no Brasil, quando o mesmo fato é objeto de processo no exterior. Entretanto,
em qualquer caso, se aplica a detração de pena prevista no artigo 8º, CP.
Também não confundir o princípio com independência de instâncias de
responsabilidade, já que o autor por ser processado criminalmente, civilmente
e administrativamente pelo mesmo fato sem ferir o princípio ora estudado.
b) Material: Ninguém pode ser condenado pela segunda vez em
razão do mesmo fato.
TEMPO DO CRIME
O artigo 4º, CP, adotou a teoria da atividade: Considera-se praticado o
crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado.
Assim, o CP adotou a regra do tempus regit actum ou teoria da atividade.
Contudo, há exceções, situações em que haverá a retroatividade da lei
penal, regendo situações ocorridas anteriormente à sua entrada em vigor,
e a ultratividade da lei penal, sendo aplicada mesmo após sua revogação
ou cessação dos efeitos.
SITUAÇÕES:
1) Sucessão de lei penal incriminadora
Quando da prática da conduta, a mesma não era crime. Tempo depois, aquela conduta é
tipificada: Lei não retroage
LEI INTERMEDIÁRIA
- No momento do crime, vige a Lei A, que é revogada pela Lei B.
Contudo, no momento do julgamento, a Lei B também já foi revogada
pela Lei C. Se das 3 leis a mais benéfica ao réu for a Lei B, será a
aplicada no julgamento, havendo mais um caso de retroatividade.
EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO
Regras aplicáveis quando um crime pode afetar os interesses de dois ou mais
países independentes, havendo um conflito internacional de jurisdição.
A regra básica está prevista no artigo 5º, CP: Aplica-se a lei brasileira, sem
prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
cometido no território nacional. Este artigo consagra a territorialidade
temperada.
LUGAR DO CRIME
Regulado pela teoria da ubiquidade, prevista no artigo 6º, CP: Considera-se
praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Não confundir com competência, que é uma distribuição interna no caso de não
haver dúvidas acerca da aplicação da lei penal brasileira. Estudamos no artigo
6º a legislação de qual país é aplicado ao caso quando nos deparamos com o
chamado crime à distância, de espaço máximo ou em trânsito, que é aquele
que percorre o território de dois ou mais países. Ex: Crimes de evasão de
divisas, crimes de lavagem de dinheiro internacionais.
Qual a definição de território nacional?
É o espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à soberania do Estado Brasileiro,
incluindo o solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar territorial (12
milhas marítimas).
É considerado extensão do território brasileiro para fins penais, por força do artigo
5º, §1°, CP:
a) As embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro, onde quer que se encontrem.
b) As embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza privada, que se encontrem em
alto-mar ou no espaço aéreo correspondente (águas e espaço aéreo internacional).
- Também se aplica a lei penal brasileira, nos termos do artigo 5º, §2°, CP, os crimes
cometidos dentro de embarcações ou aeronaves estrangeiras, de natureza privada,
que estejam trafegando pelo espaço aéreo ou mar territorial brasileiro, ou
estacionados em portos/aeroportos nacionais. No primeiro caso, ressalvamos a
aplicação do chamado direito de passagem inocente, previsto na Lei 8.617/1993.
EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA
1)INCONDICIONADA
Aplicávelquando o crime praticado for um dos previstos no artigo 7º, I do CP.
Neste caso, aplica-se a lei brasileira e haverá processo no Brasil até mesmo no caso do agente já ter sido julgado no estrangeiro e
independente do conteúdo da sentença, de acordo com o artigo 7º, §1°
2) CONDICIONADA
Aplicável quando o crime praticado estiver elencado no artigo 7º, II do CP.
A instauração de processo ainda depende da ocorrência cumulativa das hipóteses previstas no artigo 7º, §2° do CP, alíneas a) a e) do
Código Penal.
3) HIPERCONDICIONADA
- Aplicável quando brasileiro for vítima de crime cometido por estrangeiro fora do Brasil.
Possível o processo quando reunidas as hipóteses previstas no artigo 7º, §2° do CP, alíneas a) a e) do Código Penal, mais as hipóteses
previstas no artigo 7º, §3°, a) e b) do mesmo diploma legal.
OBS: Nos casos de extraterritorialidade da lei penal, a competência para o processo será regulada pelo artigo 88 do CPP.
OBS 2: Em todos os casos, caso o réu tenha sido condenado no estrangeiro, aplica-se o disposto no artigo 8º do CP para fins de
cumprimento da pena imposta no processo brasileiro.
EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS
Estudo da aplicação da lei penal em relação às pessoas que gozem de imunidade ou foro por prerrogativa de função.
IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS
Não se aplica a lei brasileira ao crime cometido no Brasil (sendo aplicada a lei de seu país), quando o agente for: a)
Chefe de governo estrangeiro, sua família e membros da sua comitiva; b) Embaixador e sua família; c) Funcionários
do corpo diplomático e sua família; d) Funcionários de organizações internacionais quando em serviço. As
imunidades estão previstas na Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, incorporada no ordenamento
jurídico pátrio pelo Decreto 56.435/1965.
Essas pessoas não podem sofrer qualquer forma de prisão ou detenção (art. 29 do Decreto), mas podem ser alvo de
investigação policial.
Os agentes consulares possuem apenas imunidade funcional relativa, ou seja, apenas aos atos relativos ao exercício
de sua função.
As imunidades são irrenunciáveis pelo agente estrangeiro, podendo apenas haver renúncia por parte do Estado de
origem.
IMUNIDADE PARLAMENTAR ABSOLUTA (FREEDOM OF SPEECH)
Prevista no artigo 53 caput da CF.
Contudo, o STF tem entendimento que está imunidade só abrange manifestações que tenham
ligação com o exercício do mandato.
Elementos da conduta:
a) Comportamento voluntário dirigido a um fim
b) Exteriorização da vontade, que pode ser definida como um
aspecto mecânico ou neuromuscular, consistente na prática de
uma ação ou omissão capaz de externar o elemento psíquico.
Causas de exclusão da conduta:
a) Caso fortuito ou força maior: Fatos imprevisíveis ou inevitáveis, não
dominados pela vontade do homem.
b) Involuntariedade: Ausência de capacidade do agente de dominar sua
conduta de acordo com a sua vontade. Assim, são considerados casos
de involuntariedade:
b.1) Estado de inconsciência incompleta. Exs.: Sonambulismo e hipnose.
b.2) Movimentos reflexos, que são a reação automática do corpo a um
estímulo externo, desprovido de vontade/intenção do agente.
c) Coação física irresistível (vis absoluta): O agente, em razão da força
física externa, é impossibilitado de determinar seus movimentos de
acordo com a sua vontade.
FORMAS DE CONDUTA
CLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA QUANTO À VOLUNTARIEDADE DO AGENTE:
CRIME DOLOSO
Previsto no art. 18, I do CP, dolo é a vontade consciente dirigida a
realizar, ou aceitar realizar, a conduta prevista no tipo penal
incriminador.
Teorias que explicam o dolo de acordo com o Direito Penal brasileiro:
a) Teoria da vontade: Dolo é a vontade consciente de querer praticar
a infração penal. Esta teoria conceitua o dolo direto.
b) Teoria do consentimento ou assentimento: Sempre há dolo na
situação em que o agente tem a previsão do resultado como possível e,
ainda assim, decide prosseguir com a conduta, assumindo o risco de
produzir o evento. Esta teoria define o dolo eventual.
CRIME CULPOSO
Previsto no art. 18, II do CP, pode ser definido como uma conduta
voluntária que realiza um evento ilícito não querido ou aceito pelo
agente, mas que lhe era previsível, situação que caracteriza a
culpa inconsciente, ou excepcionalmente previsto, caracterizando
a culpa consciente, e que poderia ter sido evitado se o agente
tivesse empregado a cautela esperada.
ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME CULPOSO
a) Conduta humana voluntária
b) Violação de um dever de cuidado objetivo.
Este elemento deve ser analisado considerando as circunstâncias do caso concreto. Deve o
intérprete verificar se uma pessoa de prudência e responsabilidade médias teria condições de
detectar o perigo advindo da conduta e evitar a ocorrência do resultado lesivo. Desta violação
originam-se as três modalidades de culpa: A imprudência, a negligência e a imperícia.
Imprudência: É a precipitação, afoiteza no agir. A pessoa age sem tomar os cuidados que a
situação requer.
Negligência: É a ausência de precaução. Materializa-se em uma conduta omissiva, um não agir.
Imperícia: É a falta de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão, é o claro
despreparo técnico ou prático do agente.
Não confundir com inobservância de regra técnica, no qual o agente possui os conhecimentos
técnicos e práticos para realizar determinada conduta, mas por opção não os aplica. Há crimes
que preveem causa de aumento de pena nestes casos.
Também não confundir com o erro profissional, situação em que o agente possui os
conhecimentos técnicos, os aplica no momento da conduta, mas, o procedimento aplicado
cientificamente é falho, sendo possível a ocorrência do resultado lesivo. Nestes casos, o agente
não é punido.
c) Nexo entre conduta e resultado.
d) Resultado involuntário previsível.
Esta previsibilidade deve ser analisada sob o prisma da
previsibilidade objetiva do resultado, que é a possibilidade do
homem de mediana prudência e discernimento prever que sua
conduta pode gerar o resultado lesivo, devendo ser analisada pelo
intérprete de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
Importante lembrar que, ainda que o conduta seja previsível, mas
o agente acredita que o resultado lesivo pode ser evitado, seja por
possuir habilidade especial, seja até mesmo pelo acaso, sorte, a
conduta continuará sendo dolosa, caracterizando a culpa
consciente.
e) Tipicidade.
Prevista no art. 18 §único do CP, a punição por crime culposo só
existe quando expressamente prevista na lei, pois as condutas
típicas, em regra, são punidas apenas quando provado o dolo na
conduta do agente.
Elementos:
a) Conduta dolosa visando determinado resultado
b) Provocação de um resultado culposo mais grave que o desejado
c) Nexo causal entre conduta e resultado
d) Tipicidade, pois não há punição do crime preterdoloso sem previsão
expressa em lei.
Exemplo clássico de crime preterdoloso é a lesão corporal seguida de morte,
prevista no art. 129 §3° do Código Penal.
RESULTADO
1) ESTADO DE NECESSIDADE
Prevista no art. 24 do CP: Considera-se em estado de necessidade quem
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade,
nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.
- Conceito: “Se há dois bens em perigo, permite-se que seja sacrificado um deles,
pois a tutela penal, nas circunstâncias do caso concreto, não consegue proteger a
ambos (Sanches).
Requisitos:
1) Perigo atual:
- Trata-se de risco presente, ou seja, aquele que já está acontecendo, sem
destinatário certo e gerado por um comportamento humano, comportamento
animal – desde que não provocado por ser humano - ou fato da natureza.
- Posição majoritária entende que o perigo iminente (aquele que está para
acontecer a qualquer momento) não enseja a arguição dessa descriminante.
- Não condundir com perigo atual de dano futuro (ex.: O afundamento de um
navio de grande porte). Neste caso, admite-se a aplicação da justificante.
Prevista no art. 25 do CP: Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Requisitos
1) Agressão injusta
Injusta é a agressão contrária ao direito, não necessariamente típica e não se exige consciência
do agressor. Assim, um inimputável por doença metal grave pode realizar uma agressão injusta.
Ao contrário do estado de necessidade, na legítima defesa não se exige o chamado commodus
discessus do agredido, ou seja, não é necessário que fique configurado que a legítima defesa
era o último recurso do agredido.
O provocador da injusta agressão pode atuar em legítima defesa, desde que essa provação, por
si, já não seja uma agressão ou quando a provocação tem justamente o objetivo de provocar
uma agressão para que o agente possa atingir seu objetivo, alegando ele legítima defesa.
2) O perigo deve ser atual ou iminente
Atual é a agressão que já está acontecendo. Iminente é a agressão que está prestes a
ocorrer. Não se admite legítima defesa contra agressão passada, que seria uma mera
vingança, nem contra agressão futura, que seria uma mera suposição.
A doutrina, em respeito ao Princípio da Equidade, também vem admitindo a legítima
defesa postergada. Nesta, embora a agressão concretamente já tenha se encerrado,
no ponto de vista da vítima ela ainda está ocorrendo, autorizando então a reação da
vítima. Ex.: Crime de roubo em que a subtração já se consumou, mas a vítima reage
visando recuperar seus bens.
3) Uso moderado dos meios necessários
Deve haver proporcionalidade entre o meio de ataque e a defesa empregada.
Para que seja reconhecida a legítima defesa, deve o agente empregar o meio menor
lesivo à disposição do momento da agressão, mas que, obviamente se mostre apto a
repeli-la.
A defesa deve ser o necessário para impedir a agressão ou fazê-la cessar, sem maior
potencialidade lesiva.
Há posição doutrinária defendendo que a legítima defesa pode ser, inclusive,
exercida por uma omissão. Ex.: Luta em um barco em alto-mar, em que o agressor,
que não sabe nadar, cai na água e o agredido não o salva.
4) Proteção do direito próprio ou alheio
Assim como no estado de necessidade, existe a legítima defesa própria e a legítima
defesa de terceiro.
Ao contrário do estado de necessidade, a legítima defesa não exige proporcionalidade
entre o bem jurídico atacado e aquele atingido na defesa. Assim, é possível investir
contra a integridade física de alguém para proteger um patrimônio (mas sempre a
defesa deve ser proporcional e moderada ao ataque perpetrado).
Perguntas:
1) É possível legítima defesa contra legítima defesa?
R. Em regra não, pois se o primeiro agressor está agindo em legítima defesa, a agressão dele é justa.
Contudo há duas exceções: a) Possível a legítima defesa contra a legítima defesa putativa; b) Legítima
defesa sucessiva, que é a defesa do agressor contra os excessos da legítima defesa.
2) É possível a legítima defesa contra alguém que está agindo em estado de necessidade?
R. Na mesma linha de raciocínio, aquele que age em estado de necessidade está praticando conduta
lícita, logo não cabe legítima defesa.
3) ESTRITO CUMPRIMENTO DE UM DEVER LEGAL
Conceito: “O agente público, no desempenho de suas atividades, não raras vezes é
obrigado, por lei (em sentido amplo), a violar um bem jurídico. Essa intervenção
lesiva, dentro de limites aceitáveis, estará justificada pelo estrito cumprimento do
dever legal” (Sanches).
- Como em todas as outras justificantes, o agente deve ter consciência de que está
agindo sob o manto do estrito cumprimento do dever legal.
4) EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO
Conceito: São “condutas do cidadão comum autorizadas pela existência de um direito definido
em lei” (Sanches).
Requisitos:
a) Proporcionalidade na execução do direito
b) Indispensabilidade da conduta
c) O conhecimento do agente que está agindo sob o manto da descriminante, ou seja, o já
estudado elemento subjetivo, presente em todas as espécies de causas de exclusão da ilicitude.
- Exemplos: a) A possibilidade de prisão em flagrante por qualquer do povo, nos termos do art. 301
do CPP; b) A prática de determinados esportes, que podem acarretar em lesões corporais e até
mesmo a morte; c) Aquele que retém coisa alheia para ressarcir-se das benfeitorias necessárias e
não pagas, nos termos do art. 1.219 do CC; d) A possibilidade de hotéis, motéis, pousadas e
congêneres retenham (peguem) dos clientes as bagagens, objetos como notebook, joias, dinheiro, o
carro na garagem, dentre outros, visando o pagamento das despesas e consumo realizados pelo
hóspede, nos termos do art. 1.467, I, do CC.
OFENDÍCULOS
Aparato preordenado para defesa do patrimônio, como cacos de vidros em
muros, cercas elétricas e lanças em portões.
O que pode ser considerado excesso? “Significa “passar dos limites” de uma
dessas causas eximentes, mas, para “passar dos limites”, será sempre
necessário se ter estado, em algum momento, dentro dele” (Zaffaroni e
Pierangeli).
DESCRIMINANTES PUTATIVAS
Previstas no art. 20, §1° do CP: “É isento de pena quem, por erro
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se
existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo”.
OBS. Emoção e paixão: Nos termos do art. 28, I do Código Penal, não haverá a
exclusão da reponsabilidade, podendo, se houver previsão legal, caracterizar
causa de diminuição de pena como no homicídio privilegiado, previsto no art.
121 §1° do Código Penal.
2) POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE DO FATO
Também chamado doutrinariamente de valoração paralela na esfera do profano.
É sabido que ninguém se escusa da lei alegando não conhecê-la. Assim, a análise
deve ser feita, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, o campo da
potencialidade do conhecimento da ilicitude pelo agente, nos termos do art. 21 §
único do Código Penal.
Assim, se diante das circunstâncias reais não se podia exigir do agente o
conhecimento da lei, o erro será considerado inescusável (inevitável) e
consequentemente será afastada a culpabilidade, nos termos do art. 21 caput do
Código Penal.
Por outro lado, se o agente ainda que desconhecesse a lei, tinha condições de
conhecê-la, ficará caracterizado o erro escusável (evitável), sendo aplicável uma
causa de diminuição de pena nos termos do citado art. 21.
ERRO DE PROIBIÇÃO X ERRO DE TIPO
O erro de proibição, como já estudado, está tratado no art. 21 do CP. É o
desconhecimento da lei, que pode ser inescusável ou escusável, acarretando
as consequências jurídicas já estudadas.
Já o erro de tipo está previsto no art. 20 do CP e pode ser definido como a
falsa percepção da realidade por parte do agente. Ao contrário do erro de
proibição, o agente conhece a ilicitude da conduta, mas acredita que está
praticando conduta diversa da real.
Neste caso, se o erro for invencível (justificado) ficarão afastados o dolo e a
culpa e, consequentemente, a responsabilidade penal.
Já se o erro foi vencível (injustificado) será afastado apenas o dolo, permitindo-
se a punição pelo crime culposo, se houver previsão legal.
3) EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
Elemento está previsto no art. 22 do Código Penal.
São situações que excluem a culpabilidade
a) Coação moral irresistível.
É a ameaça, promessa de realizar um mal contra o agente.
Considera-se irresistível a coação que faz com que o agente sucumba completamente
em face do medo, não tendo nenhuma capacidade de investir contra o coator.
Necessário ainda que o bem ameaçado seja de valor maior que o bem atingido.
Essa coação deve vir de uma pessoa ou grupo definidos, não se admitindo coação
generalizada, da sociedade.
Não configura a excludente o temor reverencial.
Consequência jurídica: Se a coação for irresistível, o coagido não possui
responsabilidade penal. O coator responde pelo crime praticado, nos termos do
art. 22 do CP, bem como pelo crime de tortura, previsto no art. 1º, I, b), da Lei
9.455/1997.
Se a coação for resistível, ambos respondem pelo crime. O coagido será
beneficiado com a atenuante prevista no art. 65, III, c) do Código Penal e o
coator sofrerá com a agravante prevista no art. 65, III, c) do Código Penal.
b) Obediência hierárquica
Requisitos:
b.1) Ordem de superior hierárquico, que é a manifestação de vontade emanada
de um detentor de função pública dirigida a um agente público
hierarquicamente inferior.
b.2) Que a ordem não seja manifestamente ilegal. Em caso contrário, o agente
responderá (juntamente com o superior) criminalmente pela conduta, com a
atenuante prevista no art. 65, III, c) do Código Penal.
ITER CRIMINIS
É o “caminho do crime”, ou seja, o conjunto de fases que se sucedem
cronologicamente no desenvolvimento do delito doloso (não há que se falar
em iter criminis em delitos culposos, pois se não há voluntariedade na
conduta do agente não há caminho do crime).
Elementos da tentativa:
a) Início da execução
b) Não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente
c) Vontade de consumar o delito
d) Resultado desejado possível de ser alcançado
O Código Penal adotou o Sistema ou Teoria Objetiva ou Realística, ou seja, deve ser observado
o aspecto objetivo do delito, que não foi consumado, em detrimento da vontade do agente.
Por essa razão, a punição da tentativa será a pena cominada ao delito, sendo aplicada causa
de diminuição de pena de 1/3 a 2/3, tendo como parâmetro a maior ou menor proximidade da
consumação.
OBS: Existem alguns crimes que punem na mesma medida tanto a modalidade
consumada quanto a modalidade tentada. São os chamados crimes de atentado ou
empreendimento. Exs.: Art. 352 do CP, art. 309 da Lei 4.737/1965, Arts. 11 e 17 da
Lei 7.170/1983.
ESPÉCIES DE TENTATIVA
Classificação quanto ao iter criminis percorrido:
a) Tentativa imperfeita ou inacabada: O agente não consegue praticar todos os atos
executórios à disposição, sendo impedido por fatores externos de prosseguir na
empreitada criminosa.
b) Tentativa perfeita, acabada, crime falho ou crime frustrado: Embora tenha
esgotado todos os atos executórios à disposição, por qualquer razão alheia o
resultado pretendido não é atingido.
Classificação quanto ao resultado produzido na vítima ou no objeto material
a) Tentativa branca ou incruenta: A vítima ou o objeto material não são atingidos, não gerando
lesões efetivas.
b) Tentativa vermelha ou cruenta: A vítima ou o objeto material são atingidos, sofrendo lesões.
Conceito: “Os atos executórios já foram todos praticados, porém, o agente, decidindo recuar na
atividade delituosa corrida, desenvolve nova conduta com o objetivo de impedir a produção do
resultado (consumação)” (SANCHES).
Requisitos:
1) Voluntariedade (não é necessário espontaneidade) em impedir a consumação do delito.
2) Eficácia do arrependimento, ou seja, o agente deve conseguir impedir a consumação do delito.
Caso o arrependimento seja ineficaz, fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, “b”, 1ª parte do
CP.
Requisitos:
1) Crime praticado sem violência e/ou grave ameaça (STJ entende que somente
é possível a concessão do benefício nos crimes patrimoniais ou com efeitos
patrimoniais – Resp 1.561.276/BA)
2) Reparação do dano ou restituição da coisa até o recebimento da denúncia ou
queixa (se ocorrer depois ficará caracterizada a atenuante prevista no art. 65,
III, “b” parte final do CP.
A não concordância da vítima na reparação/restituição não afasta o instituto.
Consequência jurídica:
O autor fará jus a uma diminuição de pena entre 1/3 e 2/3 tendo como parâmetro
a maior ou menor presteza na reparação/restituição.
CRIME IMPOSSÍVEL
Também chamado de quase-crime, crime oco ou tentativa inidônea.
Está previsto no art. 17 do CP.
Elementos:
1) Início da execução
2) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente
3) Dolo de consumação
4) Resultado absolutamente impossível (teoria objetiva temperada ou
intermediária) de ser alcançado, seja por ineficácia absoluta do meio ou pela
impropriedade absoluta do objeto.
CONCURSO DE PESSOAS
Conceito: Concurso de pessoas é “a reunião de vários agentes concorrendo, de
forma relevante, para a realização do mesmo evento, agindo todos com identidade
de propósitos” (SANCHES).