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DIREITO PENAL

CONCEITOS:

1) Aspecto formal ou estático: É o conjunto de normas que determina que certos


comportamentos humanos devem ser considerados infrações penais (crimes ou
contravenções penais), determina quem são os agentes deste, e ainda fixa as
sanções penais a serem aplicadas (pena ou medida de segurança).

2) Aspecto material: Define quais condutas humanas devem ser consideradas


reprováveis ou danosas à sociedade, pois afetam bens jurídicos indispensáveis à
sua própria conservação e progresso.

3) Aspecto sociológico: Um dos meios pelo qual há o controle social de atitudes


desviadas, junto com os demais ramos do Direito, visando a manutenção da
necessária disciplina social e a harmonia da convivência em público.
LIMITES AO DIREITO DE PUNIR ESTATAL
(IUS PUNIENDI)
1) Quanto ao modo: Devem ser respeitados os direitos e garantias
fundamentais, como, p.ex., o princípio da humanização das penas e o
princípio da dignidade da pessoa humana.
2) Quanto ao espaço: Em regra, aplica-se o Direito Penal brasileiro apenas
aos crimes ocorridos em território nacional. Exceções: Extraterritorialidade
da lei penal brasileira e intraterritorialidade da lei estrangeira.
3) Quanto ao tempo: Em regra, o direito de punir esgota-se com o decorrer
de certo lapso temporal. Exceções: Crimes imprescritíveis, como o racismo
e a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático, previstos no art. 5º, incisos XLII e XLIV da CF.
 O Ius puniendi é exclusivo do Estado, havendo apenas uma
exceção, prevista no art. 57 da Lei 6.001/1973 (Estatuto do
Índio): “Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo
com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares
contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou
infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte”.
Há quem entenda, ainda (LFG e Antônio Molina), que o Tribunal
Penal Internacional (Corte de Haia) também é outra exceção. A
maioria, contudo, entende que a jurisdição do TPI é complementar,
ou seja, só atuará no caso de falha, omissão ou insuficiência da
prestação jurisdicional pátria.
FONTES DO DIREITO PENAL

FONTE MATERIAL DO DIREITO PENAL: Órgão encarregado da produção do Direito


Penal. Nos termos do art. 22, I, CF, trata-se de competência exclusiva da
União. Entretanto, nos termos do art. 22 §único, CF, lei complementar poderá
delegar aos Estados, o poder de legislar em questões específicas, que deve ser
entendidas como temas de interesse local, mas nunca podendo legislar sobre
assuntos fundamentais.
FONTES FORMAIS DO DIREITO PENAL: São os instrumentos de exteriorização do
Direito Penal, ou seja, a forma como ele torna-se conhecido. São divididas em
fontes imediatas e fontes mediatas.

Fonte Mediata: Tradicionalmente, entende-se que a única fonte formal mediata é


a lei, devendo tal conceito ser entendido em seu sentido estrito, ou seja, aquela
norma jurídica que passa por todo o processo legislativo.
Modernamente, a doutrina vem aceitando outras fontes formais imediatas:
1) A Constituição Federal e tratados internacionais de direitos humanos, que
preveem mandados de criminalização, ou seja, vinculam a atuação do legislador
para obriga-lo a proteger determinados bens jurídicos, Ex: Lei do crime
organizado e Lei Maria da Penal. Os tratados internacional nunca podem criar
crime.
2) A jurisprudência: Julgados e Súmulas, notadamente as vinculantes, também
podem criar matéria penal, mas jamais crime e/ou pena. Ex: Súmula Vinculante
24.
3) Princípios: Também podem fazer nascer matéria penal, mas como a
jurisprudência, jamais criar crime e/ou pena. Ex: Princípio da insignificância.
4) Complementos da norma penal em branco.
OBS: Os costumes, assim definidos como comportamento uniforme e constante
(elementos objetivos) cuja convicção geral é de que seja obrigatório (elemento
subjetivo) são considerados, pela doutrina tradicional, uma fonte formal
mediata, mas pela doutrina moderna são considerados apenas uma fonte
informal e jamais poderão criar ou revogar crime (que como são criados apenas
por lei, somente por esta podem ser revogados), mas são instrumento
importante para a interpretação do Direito Penal.
CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL
1)Exclusividade: Como já estudado, somente a lei em sentido estrito
pode criar crime e pena.

2)Imperatividade: A lei penal é imposta (conteúdo coercitivo), não


depende da aceitação dos destinatários.

3) Generalidade: A lei penal abrange a todos, independente de


qualquer particularidade da pessoa.

4)Impessoalidade: A lei penal regula fatos abstratamente previstos e


futuros, nunca se dirigindo a fatos ou pessoas determinadas.
CLASSIFICAÇÃO DA LEI PENAL
1) Lei penal incriminadora: Define as infrações penais (preceito primário) e a
sanção penal a ser imposta (preceito secundário).

2) Lei penal não incriminadora:


a) Permissiva: Normas que permitem determinadas condutas que, geralmente
são consideradas ilegais. Exs: Legítima defesa e a embriaguez completa e
acidental.
b) Explicativa ou interpretativa: Esclarece o conteúdo de outra normal penal.
Ex: Art. 327, CP.
c) Complementar: Delimita a aplicação de outra normal penal. Ex: Art. 5º, CP.
d) Extensão ou integrativa: Permite a responsabilização penal em situações
que a lei penal incriminadora, se aplicada isoladamente, não conseguiria
responsabilizar o agente. Exs: Art. 14, II, CP (que prevê a tentativa) e o art.
29, CP (que prevê a participação em crime).
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL
“Interpretar significa buscar o preciso significado de um texto,
palavra ou expressão, delimitando o alcance da lei, guiando o
operador para a sua correta aplicação” (Rogério Sanches Cunha).

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
O intérprete, visando atingir o real significado da norma, amplia as
possibilidades de interpretação do termo.
Em regra é admitida.
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
A lei se utiliza de formas casuísticas, especificas, e depois encerra com uma forma
genérica. Ex: Art. 121, §2°, I do CP.
Em regra, é admitida.

ANALOGIA
Não confundir com interpretação analógica. A analogia não é considerada uma forma de
interpretação, mas sim de integração da norma jurídica, já que há uma lacuna da lei, ou
seja, uma situação não prevista pelo ordenamento jurídico. Assim, o operador do Direito
utiliza, para regular aquela situação, uma lei que normatiza situação semelhante.
Só é possível quando beneficiar o réu, a chamada analogia in bonam partem. Ex: Art.
181, I, do CP.
PRINCÍPIOS PENAIS
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
- Previsto no artigo 5º, XXXIX, CF e no artigo 1º, CP: “Não há crime
sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação
legal”.
- Também é conhecido pelo brocardo: Nullum crimen, nulla poena
sine lege.
 Deve ser interpretado de maneira extensiva. Já que “crime” deve
ser entendido como infração penal, englobando também as
contravenções. Já “pena” deve ser entendida como sanção penal,
englobando também as medidas de segurança.
Doutrina desdobra este princípio em seis partes:
1) Não há infração penal nem sanção penal sem lei.
 Medidas provisórias não podem definir condutas como infrações penais, nem
estabelecer sanções penais (norma penal incriminadora). Entretanto, o STF
decidiu que MP pode criar normas penais benéficas.
 Lei delegada também não pode criar norma penal incriminadora.
 Resoluções também não podem criar norma penal incriminadora.
2) A lei deve ser anterior.
- Um dos subprincípios da legalidade é o princípio da anterioridade, que proíbe a
retroatividade da lei penal em prejuízo do réu.
3) A lei deve ser escrita.
Como já vimos, costumes não podem ser fonte do Direito Penal, podendo ser usado como
instrumento de interpretação dele.
4) A lei deve ser estrita.
Como também já estudamos, em Direito Penal não é possível a analogia em prejuízo do
réu.
5) A lei deve ser certa.
Neste ponto é consagrado outro subprincípio, o da taxatividade ou determinação.
Esse subprincípio é dirigido ao legislador, que deve produzir lei clara, que evite
interpretações dúbias e proporcionando o integral entendimento da mesma por parte da
sociedade.
Exemplo de lei que não obedece este subprincípio: O artigo 41-B do Esatuto do Torcedor.
6) A lei deve ser necessária.
Decorrente do princípio da intervenção mínima, já estudado.

 Norma penal incompleta: É a norma penal que depende de um complemento valorativo


(tipo aberto) ou normativo (norma penal em branco).
a) Tipo penal aberto: O julgador, no caso concreto, deve fazer um juízo de valor sobre a
situação, decidindo se ela se amolda ao tipo penal ou não. Ex: Todos os crimes culposos,
o artigo 233, CP.
b) Norma penal em branco: Neste caso, a norma penal requer um complemento, que pode
ser uma outra lei (norma penal própria, em sentido estrito ou homogênea) ou de
qualquer outra fonte normativa (norma penal em branco heterogênea, imprópria ou em
sentido amplo).
Exs: A Lei 11.343/2006 e a Portaria 344/1998 da Secretaria de Vigilância Sanitária ou o
artigo 312 e o artigo 327 do Código Penal.
OBS: Esse complemento da norma penal em branco pode ser feito
por normas de instâncias federativas diversas, como, por exemplo,
uma lei municipal ou estadual complementando o Código Penal (lei
federal) ou até mesmo uma norma internacional.
PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS
Bem jurídico são “valores que emanam da Constituição e dos
princípios do Estado Democrático e Social do Direito” (Rogério
Sanches).
Assim, a criação de tipos penais deve sempre visar proibir
comportamentos humanos que exponham a perigo ou efetivamente
lesionem esses valores. Ex: Vida, patrimônio, saúde pública,
segurança viária, etc.
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA
- “Orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que
a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio
necessário para a proteção de determinado bem jurídico. Se outras
formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se
suficientes para a tutela desse bem, a sua criminalização é
inadequada e não recomendável. Se para o restabelecimento da
ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou
administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais”
(Cezar Roberto Bittencourt)
- É um princípio que orienta o legislador, não o aplicador da lei.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA
- É um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.
 Não possui previsão legal, trata-se de construção doutrinária e jurisprudencial
e não possui efeito vinculante.
 Sua aplicação acarreta no reconhecimento da atipicidade material, ou seja, a
conduta deixa de ser considerada crime.
 O STF fixou os requisitos para reconhecimento do princípio: a) mínima
ofensividade da conduta do agente, b) ausência de periculosidade social da
ação, c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e, d) a
inexpressividade da lesão jurídica causada.
Muitos doutrinadores entendem que os requisitos são redundantes, repetindo a
mesma ideia por palavras diversas.
 O STF ainda decidiu que “a aplicação do princípio deve, contudo, ser precedida de
criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar que sua adoção indiscriminada
constitua verdadeiro incentivo à prática de pequenos delitos” (HC 142.200)
 Contudo, quando se trata de agente reincidente, as opiniões divergem: O STF
entende que a reincidência, por si só, não obsta a aplicação do princípio. Já o STJ
entende que a reincidência impede a aplicação do princípio.
 Os Tribunais Superiores também divergem sobre o valor do prejuízo da conduta
para o reconhecimento do citado princípio. Enquanto o STF não estipula um teto
(mas é praticamente pacífico que qualquer lesão patrimonial superior a um salário
mínimo deixa de ser insignificante), o STJ entende que o valor do dano, para ser
considerado bagatela, não pode ultrapassar 10% do valor do salário mínimo.
OBS: O STF já decidiu (HC 98.381/RS), que o princípio aplica-se também a atos
infracionais.
PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL
 Idealizado por Hans Welzel, diz que uma conduta, embora
devidamente prevista pela legislação, não pode ser considerada
típica “se estiver de acordo com a ordem social da vida
historicamente considerada” (Rogério Sanches). Ou seja, são
condutas humanas que são consideradas crime, mas que a
sociedade como um todo aceita e entende que não deve ser punida.
 A grande maioria da doutrina entende que tal princípio não deve ser
aplicado, por gerar grande insegurança jurídica.
PRINCÍPIO DA EXTERIORIZAÇÃO OU MATERIALIZAÇÃO DO FATO
 Definido pelo brocardo nullum crimen sine actio. Ou seja, o Direito
Penal só deve incriminar condutas humanas voluntárias (um agir ou
um não agir), e nunca pensamentos do ser humano, desejos
íntimos, etc.
 Assim, o ordenamento jurídico pátrio consagrou o Direito Penal do
fato, ou seja, pune-se a conduta, afastando a incidência do Direito
Penal do autor, que pune a pessoa por ela ser quem é,
independente do que praticou.
PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE
 Decorrente do brocardo nullum crimen sine iniuria, ou seja, não há
crime quando não há lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado.
 Princípio que se destina tanto ao legislador quanto ao operador do
Direito. Com fundamento neste princípio, muitos doutrinadores
defendem a inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato,
exemplos: Embriaguez ao volante e porte ilegal de arma de fogo
desmuniciada.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL
 É proibido pela lei penal a imposição de sanção penal em razão da
prática de conduta por outrem.
 São desdobramentos:
a) A obrigatoriedade da individualização da acusação.
b) A obrigatoriedade da individualização da pena.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
 Não basta que a conduta humana esteja prevista na lei penal como
crime, necessário que se verifique a existência de voluntariedade na
conduta, ou seja, dolo ou culpa.

PRINCÍPIO DA IGUALDADE
 Previsto expressamente no art. 5º, CF.
 Prevê não somente a igualdade formal, mas também a material,
consubstanciado no princípio da isonomia, tratando os iguais de
forma igual (formal), mas também os desiguais de forma desigual, na
medida da sua desigualdade (material). Exs: Ações afirmativas, Lei
Maria da Penha.
PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE OU PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
 Previsto no artigo 5º, LVII, CF: “Ninguém será considerado culpado até
o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.
 São consequências da aplicação deste princípio:
a) A prisão do réu só pode ocorrer, em regra, após sua condenação
transitada em julgado (Exceção: Artigo 492, I, e), CPP). Em caráter
excepcionalíssimo, pode ser decretada a prisão provisória no curso da
persecução penal.
b) O ônus da prova, em regra, cabe à acusação.
c) A condenação deve sempre advir de um juízo de certeza, sendo que
na dúvida, o réu deve ser absolvido (in dubio pro reo).
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO BIS IN IDEM, OU PRINCÍPIO DO NON BIS IN IDEM OU
PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM
 Este princípio tem 3 significados:
a) Processual: Ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime.
Entretanto, o STJ entende que não fere o princípio a instauração de processo
no Brasil, quando o mesmo fato é objeto de processo no exterior. Entretanto,
em qualquer caso, se aplica a detração de pena prevista no artigo 8º, CP.
Também não confundir o princípio com independência de instâncias de
responsabilidade, já que o autor por ser processado criminalmente, civilmente
e administrativamente pelo mesmo fato sem ferir o princípio ora estudado.
b) Material: Ninguém pode ser condenado pela segunda vez em
razão do mesmo fato.

c) Execucional: Ninguém pode sofrer uma execução de pena duas


vezes decorrente de condenações diversas pelo mesmo fato.
EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO

TEMPO DO CRIME
 O artigo 4º, CP, adotou a teoria da atividade: Considera-se praticado o
crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado.
 Assim, o CP adotou a regra do tempus regit actum ou teoria da atividade.
 Contudo, há exceções, situações em que haverá a retroatividade da lei
penal, regendo situações ocorridas anteriormente à sua entrada em vigor,
e a ultratividade da lei penal, sendo aplicada mesmo após sua revogação
ou cessação dos efeitos.
SITUAÇÕES:
1) Sucessão de lei penal incriminadora
Quando da prática da conduta, a mesma não era crime. Tempo depois, aquela conduta é
tipificada: Lei não retroage

2) Novatio legis in pejus


Quando a conduta é praticada o fato é crime, regulado pela lei A. Contudo, no momento
do julgamento, o mesmo crime passou a ser regulado pela lei B, mais grave que a A: A lei
B é irretroativa, aplicando-se no julgamento a lei A, mais favorável ao réu, ainda que não
mais vigente. Caso de ultratividade da lei penal.
3) Lei abolitio criminis
Quando a conduta é praticada, o fato é crime, regulado pela lei A. Contudo, posteriormente, a lei A é
revogada e a conduta deixa de ser crime. Neste caso, essa revogação é retroativa e deve ser declarada
extinta a punibilidade do réu, ainda que já condenado em definitivo e em cumprimento de pena, ou seja,
há a desconstituição da coisa julgada.

4) Novatio legis in mellius


Situação muito semelhante à abolitio criminis. Neste caso, lei posterior prevê situação melhor ao réu. Ela
também retroagirá.
Esta situação está prevista no artigo 2º, §único, CP: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.
Neste caso é possível uma combinação de leis, aplicando-se ao caso concreto as partes mais benéficas de
cada uma delas? A doutrina se divide. O STF, embora não tenha entendimento pacificado sobre o tema,
pois o julgamento terminou empatado, favorecendo o réu, entendeu que sim (RE 596.152).
5) Princípio da continuidade normativo-típica
Não confundir com a abolitio criminis, que prevê a supressão material da
conduta. Neste caso, há apenas a supressão formal da conduta. O crime
que tipificava aquela conduta foi revogado. Contudo, seu conteúdo
passou a integrar um outro tipo penal, criado simultaneamente à citada
revogação. Neste caso, se a nova norma for favorável ao réu, aplica-se
(caso de retroatividade). Caso não, aplica-se a norma vigente à época do
crime (caso de ultratividade).
Ex: Estupro e atentado violento ao pudor.
LEI TEMPORÁRIA E LEI EXCEPCIONAL

 Previstas no artigo 3º, CP: A lei excepcional ou temporária, embora


decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que
a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
 Possuem 2 características essenciais:
a) Autorrevogabilidade
b) Ultratividade (sempre, já que por terem características especiais, os
fatos por elas regulados não sofrem os efeitos da abolitio criminis,
salvo previsão posterior expressa).
RETROATIVIDADE DA JURISPRUDÊNCIA
 Não é admitida, havendo decisão do STJ neste sentido.

LEI INTERMEDIÁRIA
- No momento do crime, vige a Lei A, que é revogada pela Lei B.
Contudo, no momento do julgamento, a Lei B também já foi revogada
pela Lei C. Se das 3 leis a mais benéfica ao réu for a Lei B, será a
aplicada no julgamento, havendo mais um caso de retroatividade.
EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO
 Regras aplicáveis quando um crime pode afetar os interesses de dois ou mais
países independentes, havendo um conflito internacional de jurisdição.
 A regra básica está prevista no artigo 5º, CP: Aplica-se a lei brasileira, sem
prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
cometido no território nacional. Este artigo consagra a territorialidade
temperada.
LUGAR DO CRIME
 Regulado pela teoria da ubiquidade, prevista no artigo 6º, CP: Considera-se
praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
 Não confundir com competência, que é uma distribuição interna no caso de não
haver dúvidas acerca da aplicação da lei penal brasileira. Estudamos no artigo
6º a legislação de qual país é aplicado ao caso quando nos deparamos com o
chamado crime à distância, de espaço máximo ou em trânsito, que é aquele
que percorre o território de dois ou mais países. Ex: Crimes de evasão de
divisas, crimes de lavagem de dinheiro internacionais.
Qual a definição de território nacional?
É o espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à soberania do Estado Brasileiro,
incluindo o solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar territorial (12
milhas marítimas).
É considerado extensão do território brasileiro para fins penais, por força do artigo
5º, §1°, CP:
a) As embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro, onde quer que se encontrem.
b) As embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza privada, que se encontrem em
alto-mar ou no espaço aéreo correspondente (águas e espaço aéreo internacional).
- Também se aplica a lei penal brasileira, nos termos do artigo 5º, §2°, CP, os crimes
cometidos dentro de embarcações ou aeronaves estrangeiras, de natureza privada,
que estejam trafegando pelo espaço aéreo ou mar territorial brasileiro, ou
estacionados em portos/aeroportos nacionais. No primeiro caso, ressalvamos a
aplicação do chamado direito de passagem inocente, previsto na Lei 8.617/1993.
EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

1)INCONDICIONADA
 Aplicávelquando o crime praticado for um dos previstos no artigo 7º, I do CP.
 Neste caso, aplica-se a lei brasileira e haverá processo no Brasil até mesmo no caso do agente já ter sido julgado no estrangeiro e
independente do conteúdo da sentença, de acordo com o artigo 7º, §1°

2) CONDICIONADA
 Aplicável quando o crime praticado estiver elencado no artigo 7º, II do CP.
 A instauração de processo ainda depende da ocorrência cumulativa das hipóteses previstas no artigo 7º, §2° do CP, alíneas a) a e) do
Código Penal.

3) HIPERCONDICIONADA
- Aplicável quando brasileiro for vítima de crime cometido por estrangeiro fora do Brasil.
 Possível o processo quando reunidas as hipóteses previstas no artigo 7º, §2° do CP, alíneas a) a e) do Código Penal, mais as hipóteses
previstas no artigo 7º, §3°, a) e b) do mesmo diploma legal.

OBS: Nos casos de extraterritorialidade da lei penal, a competência para o processo será regulada pelo artigo 88 do CPP.
OBS 2: Em todos os casos, caso o réu tenha sido condenado no estrangeiro, aplica-se o disposto no artigo 8º do CP para fins de
cumprimento da pena imposta no processo brasileiro.
EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

 Estudo da aplicação da lei penal em relação às pessoas que gozem de imunidade ou foro por prerrogativa de função.

IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS
 Não se aplica a lei brasileira ao crime cometido no Brasil (sendo aplicada a lei de seu país), quando o agente for: a)
Chefe de governo estrangeiro, sua família e membros da sua comitiva; b) Embaixador e sua família; c) Funcionários
do corpo diplomático e sua família; d) Funcionários de organizações internacionais quando em serviço. As
imunidades estão previstas na Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, incorporada no ordenamento
jurídico pátrio pelo Decreto 56.435/1965.
 Essas pessoas não podem sofrer qualquer forma de prisão ou detenção (art. 29 do Decreto), mas podem ser alvo de
investigação policial.
 Os agentes consulares possuem apenas imunidade funcional relativa, ou seja, apenas aos atos relativos ao exercício
de sua função.
 As imunidades são irrenunciáveis pelo agente estrangeiro, podendo apenas haver renúncia por parte do Estado de
origem.
IMUNIDADE PARLAMENTAR ABSOLUTA (FREEDOM OF SPEECH)
 Prevista no artigo 53 caput da CF.
 Contudo, o STF tem entendimento que está imunidade só abrange manifestações que tenham
ligação com o exercício do mandato.

IMUNIDADE PARLAMENTAR RELATIVA


1) Imunidade relativa ao Foro:
 Prevista no art. 53 §1º da CF.
 Entretanto, o STF fixou entendimento limitando essa imunidade (AP 937) nos seguintes termos: a)
A prerrogativa de foro limita-se aos crimes cometidos no exercício do cargo e em razão dele; b) A
jurisdição do STF perpetua-se caso tenha havido o encerramento da instrução processual, ou seja,
a intimação das partes para apresentação das alegações finais, antes do término do mandato.
2) Imunidade relativa à prisão:
- Prevista no art. 53 §2º da CF
- Questão da crime inafiançável: Doutrina entende que são
inafiançáveis os crimes assim previstos expressamente na lei. Exs:
Racismo, tráfico de drogas, crimes hediondos). Entretanto, o Min.
Alexandre de Moraes determinou a prisão em flagrante do Deputado
Daniel Silveira com fulcro nos artigos 324, IV c/c artigos 312 e 313 do
CPP, decisão de constitucionalidade duvidosa.
3) Imunidade relativa ao processo
 Prevista no artigo 53, §§ 3º a 5º da CF. A votação deverá ser aberta e nominal.
 Tal imunidade não alcança os inquéritos policiais. Contudo, para sua instauração, necessária
a iniciativa do MPF e autorização do STF.

OBS: Parlamentares licenciados, por qualquer motivo, perderão suas imunidades.


OBS 2: Em razão do princípio da simetria, consagrado no artigo 27 §1º da CF, as imunidades
estudadas também aplicam-se aos Deputados Estaduais, com uma única mudança: O foro por
prerrogativa deles será o TJ, TRF ou TER conforme a matéria.
OBS 3: O art. 29, VIII da CF prevê imunidade absoluta para os Vereadores, mas com limitação
geográfica. STF entende que as constituições estaduais podem estabelecer foro por
prerrogativa de função para os vereadores.
FORO POR PRERROGATIVA DOS GOVERNADORES DE ESTADO E DO DF
 Não possuem imunidades.
 O art. 105, I, a) da CF prevê a competência originária do STJ para
processá-los pelos crimes comuns.
 Contudo, o próprio STJ fixou entendimento mais restritivo que o do STF,
afirmando que ainda que o crime tenha sido praticado no exercício do
cargo e em razão dele, o réu perderá a prerrogativa de foro quando
estiver no segundo mandato decorrente da reeleição e o crime tiver sido
praticado no primeiro mandato.
FORO POR PRERROGATIVA DE MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO E
MAGISTRATURA
 Se forem integrantes da 1ª instância, serão julgados pelo TJ se
integrantes da carreira estadual, TRF se integrantes da carreira
federal, ou TER se matéria for eleitoral, de acordo com o art. 96, III da
CF e art. 108, I da CF.
 Se forem integrantes da 2ª instância, serão julgados pelo STJ, de
acordo com o art. 105, I, a) da CF.
 Se forem integrantes dos Tribunais Superiores, serão julgados pelo STF,
de acordo com o art. 102, I, b) e c) da CF.
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO X COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI
 Sempre prevaleceu o seguinte entendimento: Quando o foro por
prerrogativa de função estivesse previsto na CF, prevaleceria sobre o Júri.
Ou seja, dos casos estudados, apenas os Vereadores, que eventualmente
tem foro por prerrogativa fixado em constituição estadual seriam
processados pelo Tribunal do Júri.
 Entretanto, com o novo entendimento fixado na AP 937, já discutido,
verifica-se de dificílima possibilidade concreta alguém com foro por
prerrogativa de função praticar um crime doloso contra a vida no exercício
do cargo e em razão do cargo.
EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA
 Para surtir efeitos no Brasil, deve ser homologada pelo STJ.
 Prevista no art. 9º do CP, serve apenas para:
a) Obrigar o condenado à reparar o dano e outros efeitos civis, como restituições de coisas
apreendidas.
b) Para aplicação de medida de segurança ao réu
OBS: Nunca se homologa sentença estrangeira para execução de pena em território nacional.
OBS 2: A sentença estrangeira produz outros efeitos no país, como gerar reincidência e
possibilidade de concessão de sursis e livramento condicional.
CONTAGEM DO PRAZO
 Previsto no art. 10º do CP.
 Os prazos penais são improrrogáveis e inclui-se o dia do começo, utilizando-se o
calendário comum (gregoriano).
 Nos termos do art. 11 do CP, deve o juiz, no cálculo da pena, desprezar frações de dia,
 São considerados prazos penais prazos diretamente ligados à liberdade do réu como pena,
prisão temporária, decadência, prescrição.
OBS: Não confundir com prazos processuais penais, que seguirão as regras do art. 798 do
CPP, oportunidade em que não se computa o dia do começo, mas inclui-se o dia do término.
Se o prazo expirar em um dia não útil, fica automaticamente prorrogado até o próximo dia
útil.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
 Regras utilizadas quando aparentemente mais de uma norma jurídica é
aplicada ao caso. Aparentemente porque na realidade somente uma
norma é aplicável, e os critérios aqui estudados auxiliam o operador do
Direito a identificá-la.

PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE (Lex specialis derogat legi generali)


 Lei especial é “aquela que contém todos os elementos da norma geral,
acrescida de outros que a tornam distinta (chamados de especializantes).
O tipo especial preenche integralmente o tipo penal, com a adição
elementos particulares” (Rogério Sanches Cunha).
- Exemplo: Artigo 334-A do CP (norma geral) e artigo 33 da Lei 11.343/2006
(norma especial).
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE (Lex primaria derogat legi subsidiariae)
 “Uma lei tem caráter subsidiário relativamente a outra (principal) quando o fato por ela
incriminado é também incriminado por outra, tendo um âmbito de aplicação comum, mas
abrangência diversa. A relação entre normas (subsidiária e principal) é de maior ou menor
gravidade (e não de espécie e gênero, como no princípio da especialidade). A norma dita
subsidiária atua apenas quando o fato não se subsuma a crime mais grave” (Rogério
Sanches Cunha).
 Exemplos: Artigos 132 e 307, ambos do CP.
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO (Lex consumens derogat legi consumptae)
 Também conhecido como princípio da absorção.
 Aplica-se quando “o crime previsto por uma norma (consumida) não passa de
uma fase de realização do crime previsto por outra (consuntiva) ou é uma forma
normal de transição para o último (crime progressivo)”, que é o desejado pelo
agente. (Rogério Sanches Cunha)
 Há entre os crimes, o consumida e o consuntivo, uma relação de meio e fim.
 4 hipóteses:
a) Crime progressivo: Para atingir o resultado desejado, um crime mais grave, o
agente necessariamente pratica um crime mais leve, que fica absorvido. Ex:
Lesão corporal, que fica absorvida pelo crime de homicídio.
b) Progressão criminosa: Há uma mudança no dolo do agente. Em princípio, ele deseja
praticar crime mais leve, e efetivamente o pratica. Contudo, durante a execução ou após a
consumação, altera seu dolo, desejando praticar crime mais grave, o executando. O crime
mais leve, vontade inicial do agente, ficará absorvido pelo crime mais grave. Ex: Agente
deseja lesionar a vítima e efetivamente o faz. Contudo, durante ou logo após altera sua
vontade, desejando matar a vítima, fazendo-o. Neste caso, a lesão corporal fica absorvida.

c) Antefactum impunível: São fatos que, considerados isoladamente, já tipificam a


conduta. Contudo, dentro do caso concreto, são condutas que necessariamente devem ser
praticas pelo agente para atingir sua vontade. Nestes casos, essas condutas anteriores ficam
absorvidas pelo crime-fim. Ex: Crime de furto à residência: O crime de violação de
domicílio fica absorvido. Crime de roubo com arma de fogo: O crime de porte ilegal de
arma de fogo fica absorvido
TEORIA GERAL DO CRIME (e da contravenção
penal)
CONCEITOS DE CRIME:
1) Conceito formal: Infração penal é aquilo que assim está rotulado em
uma norma penal incriminadora, sob ameaça de pena.

2) Conceito material: Infração penal é comportamento humano causador


de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado, passível de sanção penal.

3) Conceito analítico: Infração penal é fato típico, ilícito e culpável


(teoria tripartite). Quando não se observar no caso concreto qualquer
um dos elementos, não haverá crime.
FATO TÍPICO
 “Ação ou omissão humana, antissocial que, norteada pelo
princípio da intervenção mínima, consiste numa conduta
produtora de um resultado que se subsume ao modelo de
conduta proibida pelo Direito Penal” (Rogério Sanches).

 Divide-se em quatro subelementos:


1) Conduta
2) Resultado
3) Nexo de causalidade
4) Tipicidade
CONDUTA
 O Código Penal adotou a Teoria Finalista, idealizada por Hans
Welzel, e que pode ser definida como comportamento humano
voluntário psiquicamente dirigido a um fim.

 Elementos da conduta:
a) Comportamento voluntário dirigido a um fim
b) Exteriorização da vontade, que pode ser definida como um
aspecto mecânico ou neuromuscular, consistente na prática de
uma ação ou omissão capaz de externar o elemento psíquico.
 Causas de exclusão da conduta:
a) Caso fortuito ou força maior: Fatos imprevisíveis ou inevitáveis, não
dominados pela vontade do homem.
b) Involuntariedade: Ausência de capacidade do agente de dominar sua
conduta de acordo com a sua vontade. Assim, são considerados casos
de involuntariedade:
b.1) Estado de inconsciência incompleta. Exs.: Sonambulismo e hipnose.
b.2) Movimentos reflexos, que são a reação automática do corpo a um
estímulo externo, desprovido de vontade/intenção do agente.
c) Coação física irresistível (vis absoluta): O agente, em razão da força
física externa, é impossibilitado de determinar seus movimentos de
acordo com a sua vontade.
FORMAS DE CONDUTA
CLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA QUANTO À VOLUNTARIEDADE DO AGENTE:

CRIME DOLOSO
Previsto no art. 18, I do CP, dolo é a vontade consciente dirigida a
realizar, ou aceitar realizar, a conduta prevista no tipo penal
incriminador.
Teorias que explicam o dolo de acordo com o Direito Penal brasileiro:
a) Teoria da vontade: Dolo é a vontade consciente de querer praticar
a infração penal. Esta teoria conceitua o dolo direto.
b) Teoria do consentimento ou assentimento: Sempre há dolo na
situação em que o agente tem a previsão do resultado como possível e,
ainda assim, decide prosseguir com a conduta, assumindo o risco de
produzir o evento. Esta teoria define o dolo eventual.
CRIME CULPOSO

Previsto no art. 18, II do CP, pode ser definido como uma conduta
voluntária que realiza um evento ilícito não querido ou aceito pelo
agente, mas que lhe era previsível, situação que caracteriza a
culpa inconsciente, ou excepcionalmente previsto, caracterizando
a culpa consciente, e que poderia ter sido evitado se o agente
tivesse empregado a cautela esperada.
ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME CULPOSO
a) Conduta humana voluntária
b) Violação de um dever de cuidado objetivo.
Este elemento deve ser analisado considerando as circunstâncias do caso concreto. Deve o
intérprete verificar se uma pessoa de prudência e responsabilidade médias teria condições de
detectar o perigo advindo da conduta e evitar a ocorrência do resultado lesivo. Desta violação
originam-se as três modalidades de culpa: A imprudência, a negligência e a imperícia.
 Imprudência: É a precipitação, afoiteza no agir. A pessoa age sem tomar os cuidados que a
situação requer.
 Negligência: É a ausência de precaução. Materializa-se em uma conduta omissiva, um não agir.
 Imperícia: É a falta de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão, é o claro
despreparo técnico ou prático do agente.
Não confundir com inobservância de regra técnica, no qual o agente possui os conhecimentos
técnicos e práticos para realizar determinada conduta, mas por opção não os aplica. Há crimes
que preveem causa de aumento de pena nestes casos.
Também não confundir com o erro profissional, situação em que o agente possui os
conhecimentos técnicos, os aplica no momento da conduta, mas, o procedimento aplicado
cientificamente é falho, sendo possível a ocorrência do resultado lesivo. Nestes casos, o agente
não é punido.
c) Nexo entre conduta e resultado.
d) Resultado involuntário previsível.
Esta previsibilidade deve ser analisada sob o prisma da
previsibilidade objetiva do resultado, que é a possibilidade do
homem de mediana prudência e discernimento prever que sua
conduta pode gerar o resultado lesivo, devendo ser analisada pelo
intérprete de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
Importante lembrar que, ainda que o conduta seja previsível, mas
o agente acredita que o resultado lesivo pode ser evitado, seja por
possuir habilidade especial, seja até mesmo pelo acaso, sorte, a
conduta continuará sendo dolosa, caracterizando a culpa
consciente.
e) Tipicidade.
Prevista no art. 18 §único do CP, a punição por crime culposo só
existe quando expressamente prevista na lei, pois as condutas
típicas, em regra, são punidas apenas quando provado o dolo na
conduta do agente.

- No Direito Penal, é incabível a compensação de culpas, instituto


possível no Direito Civil.
- Contudo, é possível a concorrência de culpas, que pode ser
definida como a situação em que dois ou mais agentes,
culposamente, contribuem para a eclosão do resultado. Assim,
todos respondem pelo evento lesivo.
EXCLUSÃO DA CULPA
 Situações em que a culpa é excluída e o agente não responde
pelo evento lesivo.
a) Caso fortuito e força maior: Como um dos pressupostos da
caracterização da culpa é o resultado involuntário previsível, e
a ocorrência de caso fortuito ou força maior são exatamente a
ocorrência de resultados imprevisíveis, a culpa fica excluída.
b) Erro profissional: É a falibilidade dos métodos científicos. O
agente é apto tecnicamente para realizar a conduta, obedece
todas as regras técnicas atinentes ao procedimento realizado,
mas isso não se mostra suficiente, ocorrendo o resultado lesivo.
CRIME PRETERDOLOSO

 Elementos:
a) Conduta dolosa visando determinado resultado
b) Provocação de um resultado culposo mais grave que o desejado
c) Nexo causal entre conduta e resultado
d) Tipicidade, pois não há punição do crime preterdoloso sem previsão
expressa em lei.
Exemplo clássico de crime preterdoloso é a lesão corporal seguida de morte,
prevista no art. 129 §3° do Código Penal.
RESULTADO

 Pode ser de duas espécies:


a) NATURALÍSTICO: Que é a modificação no mundo exterior perceptível pelo sentidos
humanos. Nem todas os crimes produzem esta espécie de resultado, somente os chamados
crimes materiais, que são os delitos em que o tipo penal descreve uma conduta e um
resultado naturalístico, sendo indispensável para a consumação a ocorrência deste. Ex:
Homicídio, previsto no art. 121 do CP.
Além dos crimes materiais, existem os chamados crimes formais ou de consumação
antecipada, em que o tipo penal também descreve uma conduta e um resultado naturalístico,
mas este não é exigido para a consumação, sendo considerado exaurimento da conduta,
interferindo na dosimetria da pena. Exs.: Ameaça, prevista no art. 147 do CP e a extorsão,
prevista no artigo 158 do CP.
Também há os chamados crimes de mera conduta, em que o tipo penal descreve apenas uma
conduta, não fazendo qualquer menção a resultado naturalístico. Evidentemente, tal espécie
de delito consuma-se no momento da prática da conduta. Ex.: Violação de domicílio, prevista
no art. 150 do CP.
b) NORMATIVO: Resultado normativo é a lesão ou o perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado. Sob a ótica desta classificação, todo crime produz um
resultado normativo.
Esta classificação divide-se em duas espécies:
b.1) Crime de dano: Quando o resultado gera uma efetiva lesão ao bem jurídico
tutelado. Ex.: Homicídio, previsto no art. 121 do CP.
b.2) Crime de perigo: Para a consumação, é exigida apenas a exposição do bem
jurídico tutelado a uma situação de perigo, se necessidade de se comprovar
efetiva lesão. Os crimes de perigo se dividem em:
b.2.1) Crime de perigo abstrato: Quando o perigo decorrente da conduta é
presumido de maneira absoluta pela lei. Ex.: Tráfico de drogas, previsto no art.
33 da Lei 11.343/2006.
b.2.2) Crime de perigo concreto: Quando a lei exige que, diante do caso
concreto, fique provado que o bem jurídico tutelado foi exposto à perigo. Ex.:
Dirigir sem habilitação, previsto no art. 309 da Lei 9.507/1997.
NEXO CAUSAL

 Elemento do fato típico previsto no art. 13 caput do CP: “O resultado, de que


depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.
Assim, o art. 13 adota a teoria da equivalência dos antecedentes causais ou teoria da
conditio sine qua non. Segundo a qual, todo fato sem o qual o resultado não teria
ocorrido é causa.
 À citada teoria soma-se o método ou teoria da eliminação hipotética do antecedentes
causais, definindo que causa é todo fato que, suprimido mentalmente, faria com que
o resultado não ocorresse como ocorreu ou no momento em que ocorreu.
 Contudo, somente a aplicação conjunta destas teorias pode levar a um regresso ao
infinito, gerando responsabilidades penais objetivas. Contudo, como já vimos, o
direito penal brasileiro é subjetivo, devendo, além das citadas teorias, verificar-se a
causalidade psíquica, consubstanciada no dolo ou culpa, elemento presentes na
conduta e já estudados.
CONCAUSAS: São situações em há uma quebra do nexo de causalidade, pela interferência de uma
segunda causa, não controlada pelo agente.

1) Concausas absolutamente independentes


A causa efetiva do resultado não se origina, direta ou indiretamente, do comportamento do
agente, realizado paralelamente. Nestes casos, a punição do agente será sempre na forma
tentada.
Para interpretar se uma concausa é absolutamente ou relativamente independente, deverá ser
considerada a experiência de vida, se o fato conduz normalmente a um resultado dessa índole, ou
seja, se o resultado é provável, previsível daquele contexto fático. Se sim, a causa será apenas
relativamente independente. Se não, a causa será absolutamente independente.
Ex1.: Fulano atira em Ciclano, com a intenção de matá-lo. Contudo, um pouco antes, Ciclano havia
sido envenenado por Beltrano, sendo essa a causa mortis.
Ex2.: Fulano envenena Ciclano, com a intenção de matá-lo. Contudo, logo depois, Ciclano é vítima
de disparos de arma de fogo por Beltrano, sendo essa a causa mortis.
2) Concausas relativamente independentes
Nestas situações, o resultado é causado pela soma da conduta do agente e da causa
exterior por ele não controlada. Aqui, importante diferenciar se a causa exterior é
anterior à conduta (preexistente), simultânea à conduta (concomitante) ou posterior à
conduta (superveniente).
Causas relativamente independentes preexistentes ou concomitantes Agente
responde pelo resultado.
Exs.: Fulano desfere golpes de faca em Ciclano, com a intenção de matá-lo. Os ferimento,
por si só, não causariam o óbito. Mas Ciclano é hemofílico. Assim, a hemorragia não
consegue ser controlada e Fulano vem a óbito (causa preexistente) (A hemofilia, sozinha,
não mataria Ciclano).
Fulano, com a intenção de matar, desfere tiros em Ciclano, sem atingi-lo. Contudo, em
razão do susto, Ciclano tem um ataque cardíaco e acaba morrendo (causa concomitante)
(Ciclano não teria o ataque cardíaco se não tivessem atirado em sua direção.
Causa relativamente independente superveniente Agente responde apenas pela
forma tentada, uma vez que o art. 13 §1° do CP adotou a causalidade adequada ao
determinar: A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputa-se a quem
os produziu.
Ex: Fulano atira contra Ciclano, com a intenção de matá-lo. Ciclano, ferido, é socorrido ao
hospital, onde permanece internado. Durante a internação, o hospital pega fogo e Ciclano
acaba morrendo queimado. Morrer em um incêndio não é considerado um desdobramento
natural, logo essa causa é relativamente independente, quebrando nexo de causalidade
entre a conduta de Fulano e o resultado morte, aplicando-se o art. 13 §1° do CP
Por outro lado, se na mesma situação Ciclano, durante sua internação, é acometido por uma
infecção hospitalar e vem a falecer em razão desta, verifica-se uma causa totalmente
dependente, respondendo Fulano pelo resultado consumado, pois é desdobramento natural
que alguém que esteja internado em um hospital possa vir a contrair uma infecção
hospitalar.
TIPICIDADE

- É a perfeita subsunção do fato ocorrido pela norma penal. Cabe lembrar


que não é admitida a aplicação de analogia in malam partem.
ILICITUDE
 2º elemento do crime, de acordo com o conceito analítico.

 Revisão: O primeiro elemento é o fato típico, que se subdivide em:


a) Conduta: Norteada pela Teoria Finalista da Ação.
a.a) Conduta deve ser dolosa ou culposa
b) Resultado: Que pode ser naturalístico (nos crimes materiais e formais) ou
normativo (que ocorre em todos os crimes).
c) Nexo causal: Norteado pela Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais ou
Conditio Sine Qua Non junto com a Teoria da Eliminação Hipotética dos
Antecedentes Causais.
c.a) Para se evitar o regresso ao infinito, junto com as citadas teorias, deve s
verificar a causalidade psíquica do agente, cuja conduta deve ter sido praticada
com dolo ou culpa.
Conceito: Toda “conduta típica não justificada, espelhando a relação de contrariedade
entre o fato típico e o ordenamento jurídico como um todo”. Assim, uma conduta ilícita
em face de um ramo do Direito, contraria toda a ordem jurídica, sendo impossível, em
razão do Princípio Sistemático da Coerência do Ordenamento Jurídico, que determinado
seja ilícito sob o prisma de um ramo do direito e lícito sob a ótica de outro ramo. O que
pode ocorrer, como de fato ocorre, é determinado fato, previsto como ilícito por um
ramo, ser considerado um indiferente por outro ramo.

O Código Penal adotou a Teoria da Indiciariedade ou Ratio Cognoscendi, idealizada por


Mayer em 1915. Este teoria prevê que todo fato típico presume-se, de maneira relativa,
ou seja, admitindo prova em contrário, ser ilícito.
Em decorrência, o ônus probatório sobre a existência de uma causa de exclusão da
ilicitude é de quem a alega, que na grande maioria dos casos é a defesa.
De acordo com o artigo 386, VI, parte final do CPP, no caso de fundada dúvida (que exige
um conjunto probatório maior que a “dúvida”) de que o agente agiu sob o manto de uma
excludente de ilicitude, também deverá ser absolvido.
CAUSAS EXCLUDENTES DA ILICITUDE (TAMBÉM CHAMADAS DESCRIMINANTES OU
JUSTIFICANTES)

 Elencadas no art. 23 do CP.

1) ESTADO DE NECESSIDADE
 Prevista no art. 24 do CP: Considera-se em estado de necessidade quem
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade,
nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.

- Conceito: “Se há dois bens em perigo, permite-se que seja sacrificado um deles,
pois a tutela penal, nas circunstâncias do caso concreto, não consegue proteger a
ambos (Sanches).
 Requisitos:
1) Perigo atual:
- Trata-se de risco presente, ou seja, aquele que já está acontecendo, sem
destinatário certo e gerado por um comportamento humano, comportamento
animal – desde que não provocado por ser humano - ou fato da natureza.
- Posição majoritária entende que o perigo iminente (aquele que está para
acontecer a qualquer momento) não enseja a arguição dessa descriminante.
- Não condundir com perigo atual de dano futuro (ex.: O afundamento de um
navio de grande porte). Neste caso, admite-se a aplicação da justificante.

2) Que o perigo não tenha sido causado voluntariamente pelo agente:


- Posição majoritária entende que somente o perigo causado dolosamente
impede a aplicação do estado de necessidade, admitindo sua aplicação quando o
perigo foi causado culposamente pelo agente.
3) Salvar direito próprio ou alheio
- Fica então admitido o esta do de necessidade próprio ou o estado de necessidade
de terceiro.

4) O agente não pode ter o dever legal de enfrentar o perigo


 Requisito previsto expressamente no art. 24, §1° do CP: Não pode alegar estado
de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
 Existem pessoas que em razão do ofício ou função desempenhados, tem o dever
de enfrentar o perigo, sendo que em nenhum caso serão exigidos atos de
heroísmo. Tais pessoas estão descritas no art. 13, §2°, “a”, “b” e “c” do CP, ou
seja: Aquelas que tenham por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
aquelas que de outra forma assumiram a responsabilidade de impedir o
resultado; ou aquelas que com seu comportamento anterior, doloso, criaram o
risco da ocorrência do resultado.
5) Inevitabilidade do comportamento lesivo
 A conduta típica deve ser o único meio de salvaguardar o direito protegido.
 Quando o agente sacrificar bem jurídico do próprio causador do perigo, ficará caracterizado
o estado de necessidade defensivo. Já se o agente se vir obrigado a sacrificar bem jurídico
de um terceiro, ficará caracterizado o estado de necessidade agressivo. Neste último caso,
embora a responsabilidade penal seja afastada, restará ao agente a obrigação de indenizar o
terceiro, sendo cabível ação regressiva contra o criador do risco.

6) Inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado


 Previsto no art. 24 §2° do CP: Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. 
 Citado parágrafo consagra a Teoria Unitária. Quando o bem jurídico sacrificado for de valor
menor ou igual que o bem protegido (valoração esta feita de acordo com regras, princípios e
valores constitucionais), estará caracterizado o estado de necessidade. Contudo, se o bem
sacrificado for de valor maior que o bem protegido, haverá a responsabilização penal do
agente com a causa de diminuição de pena de um a dois terços.
7) Conhecimento da situação de fato justificante
 Elemento subjetivo. O agente, para poder usufruir do reconhecimento do
estado de necessidade, deve realizar sua conduta com consciência e vontade
de que estava sob o manto da causa de exclusão da ilicitude.

OBS: Furto famélico – Posição majoritária entende que se trata de estado de


necessidade, desde que preenchidos os seguintes requisitos: a) Que o fato seja
para combater a fome do agente; b) Que a conduta seja o único meio para
atingir o objetivo; c) Que a coisa subtraída seja empregada diretamente na
alimentação do agente e; d) Que fique comprovado que o agente não dispõe de
recursos financeiros para se alimentar ou está impossibilitado de trabalhar e
assim auferir rendimentos.
Estado de necessidade e erro na execução
- O erro na execução está previsto no art. 73, CP: Quando, por acidente ou erro no uso
dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender,
atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também
atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste
Código.
- Assim, se o agente, agindo em estado de necessidade, acaba atingindo pessoa ou
objeto diverso do pretendido, por força do previsto no art. 20, §3º, CP (Erro sobre a
pessoa), não será responsabilizado penalmente, incidindo a excludente de ilicitude.
2) LEGÍTIMA DEFESA

 Prevista no art. 25 do CP: Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.     

Requisitos
1) Agressão injusta
 Injusta é a agressão contrária ao direito, não necessariamente típica e não se exige consciência
do agressor. Assim, um inimputável por doença metal grave pode realizar uma agressão injusta.
 Ao contrário do estado de necessidade, na legítima defesa não se exige o chamado commodus
discessus do agredido, ou seja, não é necessário que fique configurado que a legítima defesa
era o último recurso do agredido.
 O provocador da injusta agressão pode atuar em legítima defesa, desde que essa provação, por
si, já não seja uma agressão ou quando a provocação tem justamente o objetivo de provocar
uma agressão para que o agente possa atingir seu objetivo, alegando ele legítima defesa.
2) O perigo deve ser atual ou iminente
 Atual é a agressão que já está acontecendo. Iminente é a agressão que está prestes a
ocorrer. Não se admite legítima defesa contra agressão passada, que seria uma mera
vingança, nem contra agressão futura, que seria uma mera suposição.
 A doutrina, em respeito ao Princípio da Equidade, também vem admitindo a legítima
defesa postergada. Nesta, embora a agressão concretamente já tenha se encerrado,
no ponto de vista da vítima ela ainda está ocorrendo, autorizando então a reação da
vítima. Ex.: Crime de roubo em que a subtração já se consumou, mas a vítima reage
visando recuperar seus bens.
3) Uso moderado dos meios necessários
 Deve haver proporcionalidade entre o meio de ataque e a defesa empregada.
 Para que seja reconhecida a legítima defesa, deve o agente empregar o meio menor
lesivo à disposição do momento da agressão, mas que, obviamente se mostre apto a
repeli-la.
 A defesa deve ser o necessário para impedir a agressão ou fazê-la cessar, sem maior
potencialidade lesiva.
 Há posição doutrinária defendendo que a legítima defesa pode ser, inclusive,
exercida por uma omissão. Ex.: Luta em um barco em alto-mar, em que o agressor,
que não sabe nadar, cai na água e o agredido não o salva.
4) Proteção do direito próprio ou alheio
 Assim como no estado de necessidade, existe a legítima defesa própria e a legítima
defesa de terceiro.
 Ao contrário do estado de necessidade, a legítima defesa não exige proporcionalidade
entre o bem jurídico atacado e aquele atingido na defesa. Assim, é possível investir
contra a integridade física de alguém para proteger um patrimônio (mas sempre a
defesa deve ser proporcional e moderada ao ataque perpetrado).

5) Conhecimento da situação de fato justificante


- Assim como no estado de necessidade, a legítima defesa também exige o elemento
subjetivo, ou seja, o agente deverá ter consciência de que está agindo em legítima
defesa.
Legítima defesa e erro na execução
 Assim como no estado de necessidade, também se aplica o disposto no art. 73 do CP.

Perguntas:
1) É possível legítima defesa contra legítima defesa?
R. Em regra não, pois se o primeiro agressor está agindo em legítima defesa, a agressão dele é justa.
Contudo há duas exceções: a) Possível a legítima defesa contra a legítima defesa putativa; b) Legítima
defesa sucessiva, que é a defesa do agressor contra os excessos da legítima defesa.

2) É possível a legítima defesa contra alguém que está agindo em estado de necessidade?
R. Na mesma linha de raciocínio, aquele que age em estado de necessidade está praticando conduta
lícita, logo não cabe legítima defesa.
3) ESTRITO CUMPRIMENTO DE UM DEVER LEGAL
 Conceito: “O agente público, no desempenho de suas atividades, não raras vezes é
obrigado, por lei (em sentido amplo), a violar um bem jurídico. Essa intervenção
lesiva, dentro de limites aceitáveis, estará justificada pelo estrito cumprimento do
dever legal” (Sanches).

 Em algumas situações, até mesmo particulares podem agir em estrito cumprimento


do dever legal, como, p.ex., o advogado que se recusa a depor sobre fatos que
tomou ciência no exercício da advocacia, invocando o sigilo profissional, bem como
aqueles que em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar
segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho, nos termos do art. 207 do CPP.

- Como em todas as outras justificantes, o agente deve ter consciência de que está
agindo sob o manto do estrito cumprimento do dever legal.
4) EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO
 Conceito: São “condutas do cidadão comum autorizadas pela existência de um direito definido
em lei” (Sanches).

 Requisitos:
a) Proporcionalidade na execução do direito
b) Indispensabilidade da conduta
c) O conhecimento do agente que está agindo sob o manto da descriminante, ou seja, o já
estudado elemento subjetivo, presente em todas as espécies de causas de exclusão da ilicitude.

- Exemplos: a) A possibilidade de prisão em flagrante por qualquer do povo, nos termos do art. 301
do CPP; b) A prática de determinados esportes, que podem acarretar em lesões corporais e até
mesmo a morte; c) Aquele que retém coisa alheia para ressarcir-se das benfeitorias necessárias e
não pagas, nos termos do art. 1.219 do CC; d) A possibilidade de hotéis, motéis, pousadas e
congêneres retenham (peguem) dos clientes as bagagens, objetos como notebook, joias, dinheiro, o
carro na garagem, dentre outros, visando o pagamento das despesas e consumo realizados pelo
hóspede, nos termos do art. 1.467, I, do CC.
OFENDÍCULOS
 Aparato preordenado para defesa do patrimônio, como cacos de vidros em
muros, cercas elétricas e lanças em portões.

 Natureza jurídica: Posição majoritária entende que, enquanto não colocado em


funcionamento, o ofendículo caracteriza um exercício regular de um direito.
Contudo, quando necessária sua atuação, configuraria uma legítima defesa
preordenada.

 Contudo, o uso dos ofendículos deve ser empregado com moderação e


prudência, podendo o agente responder por eventual excesso. Exs.: Eletrificar o
portão, principalmente região acessível a qualquer pedestre ou utilizar voltagem
mortal em cerca elétrica, acima da suficiente para repelir o agressor.
A PUNIÇÃO DO EXCESSO NAS CAUSA DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE

 Previsto no art. 23, § único do CP: “O agente, em qualquer das hipóteses


deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo”, desde que, neste
último, haja previsão legal.

 O que pode ser considerado excesso? “Significa “passar dos limites” de uma
dessas causas eximentes, mas, para “passar dos limites”, será sempre
necessário se ter estado, em algum momento, dentro dele” (Zaffaroni e
Pierangeli).
DESCRIMINANTES PUTATIVAS

 Previstas no art. 20, §1° do CP: “É isento de pena quem, por erro
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se
existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo”.

 O CP adotou a Teoria Limitada da Culpabilidade. Neste casos, há uma falsa


percepção do agente sobre a realidade, provocando uma conduta que, na sua
mente é legítima, mas na realidade é um crime. Assim, por força do
dispositivo legal acima mencionado, caso o erro seja inescusável, ele será
isento de pena. Caso o erro seja escusável, e, embora a conduta tenha sido
dolosa, o agente será punido a título de culpa, caso haja previsão legal.
CULPABILIDADE
 Conceito: “Juízo de reprovação que recai na conduta típica e ilícita que o
agente se propõe a realizar. Trata-se de um juízo relativo à necessidade de
aplicação da sanção penal” (Sanches).
 Na culpabilidade há um “juízo sobre o autor do fato. Assim, se pela tipicidade
e antijuridicidade pode-se fazer um juízo de reprovação sobre o fato, pela
culpabilidade, pode-se fazer um juízo de reprovação sobre o autor do fato”
(Brandão).
TEORIA DA CULPABILIDADE

 O Código Penal adotou a teoria limitada da culpabilidade.


Por esta teoria, a culpabilidade é formada por 3 elementos:
a) Imputabilidade
b) Exigibilidade de conduta diversa
c) Potencial consciência da ilicitude
IMPUTABILIDADE
 Podemos afirmar que o conceito de imputabilidade é residual. Como o Código
Penal elenca apenas as causas de exclusão da imputabilidade, podemos definir
que todos os agentes que não se amoldam a uma dessas hipóteses, pode ser
considerado imputável.

Causas de exclusão da imputabilidade:


1) Inimputabilidade em razão do agente possuir anomalia psíquica
- Prevista no art. 26, caput do Código Penal: “É isento de pena o agente que, por
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo
da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”
 Como a inimputabilidade é norma penal não incriminadora, possível a
analogia. Assim, doença mental deve ser tomada em sua maior amplitude e
abrangência, abarcando qualquer enfermidade que debilite as funções
psíquicas do agente.
 A hipótese ora estudada adotou o critério biopsicológico de inimputabilidade.
 O mesmo artigo 26, mas em seu §único define a semi-imputabilidade: “A pena
pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Reconhecida a semi-imputabilidade, o juiz poderá aplicar a redução de pena
acima ou convertê-la em medida de segurança, de acordo com as circunstâncias
do caso concreto.
 O reconhecimento da imputabilidade, semi-imputabilidade ou inimputabilidade
será apontado em perícia médica. Contudo, nos termos do art. 182 do CPP, o
laudo pericial não vincula a decisão do magistrado, que poderá decidir em sentido
contrário.

2) Inimputabilidade em razão da idade


 Nos termos do artigo 27 do Código Penal; artigo 288 da Constituição Federal; e
artigo 104 da Lei 8.069/1990 – ECA, também são inimputáveis os menores de
dezoito anos.
 Em relação a este critério, a lei adotou o critério biológico, havendo uma
presunção absoluta de que pessoas menores de 18 anos não tem capacidade de
entender o caráter ilícito dos seus atos, independente de seu grau de
desenvolvimento.
 Para aferição da inimputabilidade do agente, verificar-se-á a idade no momento da conduta,
ainda que outro o momento do resultado, em respeito à Teoria da Atividade, prevista no art. 4º
do CP e art. 104 § único do ECA.
 A menoridade deve ser provada por meio de documento hábil, nos termos do art. 155 § único do
CPP e Súmula 74 do STJ.

3) Inimputabilidade em razão de embriaguez


- Embriaguez é a intoxicação aguda e temporária causada pela ingestão de álcool ou substâncias
de efeitos análogos, como as drogas recreativas.
 Exclui a culpabilidade apenas a embriaguez acidental causada por caso fortuito, situação em
que o agente desconhece o efeito da substância ingerida, ou força maior, quando o agente é
obrigado a ingerir a substância.
Exige-se ainda que a embriaguez seja completa, nos termos do art. 28 §1°do CP. Caso incompleta,
o agente fará jus apenas a uma causa de diminuição de pena, nos termos do §2° do citado artigo.
 A embriaguez não acidental, seja voluntária, seja culposa, não gera nenhum
benefício ao agente, nos termos do art. 28, II do CP, ainda que o agente
pratique a conduta sem nenhuma capacidade de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A punibilidade do agente é possível pois aplica-se nestes casos a teoria da actio
libera in causa, onde a análise da voluntariedade do agente (dolo ou culpa) é
transferido do momento da conduta criminosa para o momento do início do
entorpecimento.

 Embriaguez patológica: Dependendo do caso concreto pode configurar doença


mental.
 Embriaguez preordenada: Independente de ser completa ou incompleta
(aplica-se a teoria da actio libera in causa), não só não afasta a culpabilidade,
como é considerada circunstância agravante genérica, nos termos do art. 61,
II, “i” do Código Penal.

OBS. Emoção e paixão: Nos termos do art. 28, I do Código Penal, não haverá a
exclusão da reponsabilidade, podendo, se houver previsão legal, caracterizar
causa de diminuição de pena como no homicídio privilegiado, previsto no art.
121 §1° do Código Penal.
2) POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE DO FATO
 Também chamado doutrinariamente de valoração paralela na esfera do profano.
 É sabido que ninguém se escusa da lei alegando não conhecê-la. Assim, a análise
deve ser feita, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, o campo da
potencialidade do conhecimento da ilicitude pelo agente, nos termos do art. 21 §
único do Código Penal.
Assim, se diante das circunstâncias reais não se podia exigir do agente o
conhecimento da lei, o erro será considerado inescusável (inevitável) e
consequentemente será afastada a culpabilidade, nos termos do art. 21 caput do
Código Penal.
Por outro lado, se o agente ainda que desconhecesse a lei, tinha condições de
conhecê-la, ficará caracterizado o erro escusável (evitável), sendo aplicável uma
causa de diminuição de pena nos termos do citado art. 21.
ERRO DE PROIBIÇÃO X ERRO DE TIPO
 O erro de proibição, como já estudado, está tratado no art. 21 do CP. É o
desconhecimento da lei, que pode ser inescusável ou escusável, acarretando
as consequências jurídicas já estudadas.
 Já o erro de tipo está previsto no art. 20 do CP e pode ser definido como a
falsa percepção da realidade por parte do agente. Ao contrário do erro de
proibição, o agente conhece a ilicitude da conduta, mas acredita que está
praticando conduta diversa da real.
Neste caso, se o erro for invencível (justificado) ficarão afastados o dolo e a
culpa e, consequentemente, a responsabilidade penal.
Já se o erro foi vencível (injustificado) será afastado apenas o dolo, permitindo-
se a punição pelo crime culposo, se houver previsão legal.
3) EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
 Elemento está previsto no art. 22 do Código Penal.
 São situações que excluem a culpabilidade
a) Coação moral irresistível.
É a ameaça, promessa de realizar um mal contra o agente.
Considera-se irresistível a coação que faz com que o agente sucumba completamente
em face do medo, não tendo nenhuma capacidade de investir contra o coator.
Necessário ainda que o bem ameaçado seja de valor maior que o bem atingido.
Essa coação deve vir de uma pessoa ou grupo definidos, não se admitindo coação
generalizada, da sociedade.
Não configura a excludente o temor reverencial.
Consequência jurídica: Se a coação for irresistível, o coagido não possui
responsabilidade penal. O coator responde pelo crime praticado, nos termos do
art. 22 do CP, bem como pelo crime de tortura, previsto no art. 1º, I, b), da Lei
9.455/1997.
Se a coação for resistível, ambos respondem pelo crime. O coagido será
beneficiado com a atenuante prevista no art. 65, III, c) do Código Penal e o
coator sofrerá com a agravante prevista no art. 65, III, c) do Código Penal.
b) Obediência hierárquica
 Requisitos:
b.1) Ordem de superior hierárquico, que é a manifestação de vontade emanada
de um detentor de função pública dirigida a um agente público
hierarquicamente inferior.
b.2) Que a ordem não seja manifestamente ilegal. Em caso contrário, o agente
responderá (juntamente com o superior) criminalmente pela conduta, com a
atenuante prevista no art. 65, III, c) do Código Penal.
ITER CRIMINIS
 É o “caminho do crime”, ou seja, o conjunto de fases que se sucedem
cronologicamente no desenvolvimento do delito doloso (não há que se falar
em iter criminis em delitos culposos, pois se não há voluntariedade na
conduta do agente não há caminho do crime).

 É composto por 4 fases:


1) Cogitação (fase interna)
2) Atos preparatórios
3) Atos executórios FASES EXTERNAS
4) Consumação
1) COGITAÇÃO
 Nesta fase nasce a ideia do crime. A vontade criminosa está exclusivamente
na mente do delinquente.
 Em decorrência do princípio da materialização ou exteriorização do fato, o
agente, nesta fase, sempre será impunível.
 A cogitação é divida em 3 etapas:
a) Idealização: Surge no criminoso a vontade de praticar o delito
b) Deliberação: O agente planeja mentalmente como colocar em prática sua
vontade.
c) Resolução: O agente decide se coloca ou não em prática a vontade já
previamente planejada.
2) ATOS PREPARATÓRIOS
 Também conhecida como conatus remotus
 O agente começa a colocar em prática sua vontade. Começa a criar as
condições materiais para executar a conduta.
 Em regra, os atos preparatórios são impuníveis, exceto se caracterizarem
crime autônomo. Exs.: Art. 288 do CP, art. 291 do CP, crimes do Estatuto do
Desarmamento.
3) ATOS EXECUTÓRIOS
 Em relação à esta fase, predomina o entendimento que preconiza a aplicação
da Teoria Objetivo-Individual (Zaffaroni).
 Assim, serão considerados atos executórios aqueles que, de acordo com o
plano do agente, realizam-se no período imediatamente anterior ao começo
da execução típica, ou seja, da execução do verbo núcleo do tipo penal.
 A partir deste ponto do iter criminis o agente passa a ser punível, na
modalidade tentada.
4) CONSUMAÇÃO
 “É o momento em que o agente realiza em todos os seus termos o tipo legal
da figura delituosa, e em que o bem jurídico penalmente protegido sofreu a
lesão efetiva ou a ameaça que se exprime no núcleo do tipo” (Aníbal Bruno).
 O momento consumativo dependerá da classificação do crime quanto ao
resultado.
 Nesta fase o agente é punível pelo crime na modalidade consumada.
TENTATIVA
 Norma de extensão temporal prevista no art. 14, II, do CP: quando, iniciada a execução, não
se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

 Elementos da tentativa:
a) Início da execução
b) Não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente
c) Vontade de consumar o delito
d) Resultado desejado possível de ser alcançado
O Código Penal adotou o Sistema ou Teoria Objetiva ou Realística, ou seja, deve ser observado
o aspecto objetivo do delito, que não foi consumado, em detrimento da vontade do agente.
Por essa razão, a punição da tentativa será a pena cominada ao delito, sendo aplicada causa
de diminuição de pena de 1/3 a 2/3, tendo como parâmetro a maior ou menor proximidade da
consumação.
OBS: Existem alguns crimes que punem na mesma medida tanto a modalidade
consumada quanto a modalidade tentada. São os chamados crimes de atentado ou
empreendimento. Exs.: Art. 352 do CP, art. 309 da Lei 4.737/1965, Arts. 11 e 17 da
Lei 7.170/1983.

ESPÉCIES DE TENTATIVA
 Classificação quanto ao iter criminis percorrido:
a) Tentativa imperfeita ou inacabada: O agente não consegue praticar todos os atos
executórios à disposição, sendo impedido por fatores externos de prosseguir na
empreitada criminosa.
b) Tentativa perfeita, acabada, crime falho ou crime frustrado: Embora tenha
esgotado todos os atos executórios à disposição, por qualquer razão alheia o
resultado pretendido não é atingido.
 Classificação quanto ao resultado produzido na vítima ou no objeto material
a) Tentativa branca ou incruenta: A vítima ou o objeto material não são atingidos, não gerando
lesões efetivas.
b) Tentativa vermelha ou cruenta: A vítima ou o objeto material são atingidos, sofrendo lesões.

 Classificação quanto à possibilidade de alcançar resultado:


a) Tentativa idônea: O resultado é possível de ser atingido, mas circunstâncias alheias à vontade
do agente impedem sua ocorrência.
b) Tentativa inidônea: O resultado é impossível de ser atingido, ficando configurado o crime
impossível, previsto no art. 17 do CP e que será estudado em tópico próprio.

OBS: Também há a chamada tentativa abandonada ou qualificada, que dependendo das


circunstâncias podem configurar os institutos da desistência voluntária ou do arrependimento
eficaz, previstos no art. 15 do CP e que também serão estudados em tópico próprio.
CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA
 Os crimes culposos
 Os crimes omissivos puros (omissão própria)
 As contravenções penais, por força do art. 4º do Decreto-Lei 4.688/1941
 Os crimes de atentado ou empreendimento
 Os crimes habituais
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
 São espécies de tentativa abandonada ou qualificada e estão previstas no art.
15 do CP.

 Franz Von Liszt chama ambos os institutos de ponte de ouro.

 Natureza jurídica: Prevalece o entendimento que ambos os institutos


configuram causa pessoal extintiva da punibilidade e, portanto, não beneficia
coautores e/ou partícipes.
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
 Conceito: “Situação em que os atos executórios ainda não se esgotaram,
entretanto, o agente, voluntariamente (não se exige espontaneidade), abandona
seu dolo inicial” (SANCHES).

 São elemento da desistência voluntária:


1) Início da execução
2) Não consumação por circunstâncias inerentes à vontade do agente que, durante a
execução da conduta típica abandona seu dolo e desiste de sua empreitada
criminosa

- Consequência jurídica: O agente não responderá pela tentativa do crime, e sim


somente pelos atos efetivamente praticados, se típicos.
ARREPENDIMENTO EFICAZ

 Conceito: “Os atos executórios já foram todos praticados, porém, o agente, decidindo recuar na
atividade delituosa corrida, desenvolve nova conduta com o objetivo de impedir a produção do
resultado (consumação)” (SANCHES).

 Requisitos:
1) Voluntariedade (não é necessário espontaneidade) em impedir a consumação do delito.
2) Eficácia do arrependimento, ou seja, o agente deve conseguir impedir a consumação do delito.
Caso o arrependimento seja ineficaz, fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, “b”, 1ª parte do
CP.

- Consequência jurídica: A mesma da desistência voluntária, ou seja, o agente responderá apenas


pela conduta praticada, se típica, ficando afastada a punição pela tentativa do crime originalmente
desejado.
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
 Previsto no art. 16 do Código Penal.

 Foi chamado por Franz Von Liszt de ponte de prata.

 Requisitos:
1) Crime praticado sem violência e/ou grave ameaça (STJ entende que somente
é possível a concessão do benefício nos crimes patrimoniais ou com efeitos
patrimoniais – Resp 1.561.276/BA)
2) Reparação do dano ou restituição da coisa até o recebimento da denúncia ou
queixa (se ocorrer depois ficará caracterizada a atenuante prevista no art. 65,
III, “b” parte final do CP.
 A não concordância da vítima na reparação/restituição não afasta o instituto.

 STJ entende que apenas a reparação/restituição integral permite a concessão


do benefício (AgRg no RHC 56.387/CE).

 STJ ainda entende que por ser circunstância objetiva, a restituição/reparação


feita por um dos autores beneficia a todos (Resp 1.187.976/SP)

 Consequência jurídica:
O autor fará jus a uma diminuição de pena entre 1/3 e 2/3 tendo como parâmetro
a maior ou menor presteza na reparação/restituição.
CRIME IMPOSSÍVEL
 Também chamado de quase-crime, crime oco ou tentativa inidônea.
 Está previsto no art. 17 do CP.

 Elementos:
1) Início da execução
2) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente
3) Dolo de consumação
4) Resultado absolutamente impossível (teoria objetiva temperada ou
intermediária) de ser alcançado, seja por ineficácia absoluta do meio ou pela
impropriedade absoluta do objeto.
CONCURSO DE PESSOAS
 Conceito: Concurso de pessoas é “a reunião de vários agentes concorrendo, de
forma relevante, para a realização do mesmo evento, agindo todos com identidade
de propósitos” (SANCHES).

 Quanto ao número de pessoas, os crimes podem ser classificados em:


1) Crimes de concurso eventual ou crimes unissubjetivos: São a regra no Direito
Penal pátrio. Tais crimes preveem a possibilidade de sua prática por apenas um
agente.
2) Crimes de concurso necessário ou crimes plurissubjetivos): São exceções. Estes
delitos exigem, para sua configuração, que mais de um agente pratique a
conduta. Ex.: Art. 288 do CP.
Assim, as regras sobre o concurso de pessoas, previstas nos arts. 29 a 31 do CP
aplicam-se somente nos casos de crimes de concurso eventual.
REQUISITOS
1) Pluralidade de agentes e de condutas
2) Relevância causal das condutas
3) Identidade de infração penal, ou seja, todos os agentes devem contribuir para
o mesmo evento criminoso.
4) Liame subjetivo entre os agentes: Há um vínculo psicológico entre os agentes,
que atuam conscientes de que estão reunidos para a prática da mesma
infração.
Não se exige prévio ajuste, sendo suficiente a adesão de alguém à conduta de
outrem, ainda que este desconheça que está sendo ajudado.
TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE AGENTES
 O Código Penal adotou, em regra, a teoria monista, unitária ou igualitária.
Assim, todos os que concorreram para a realização de determinado resultado
criminoso respondem pelo mesmo tipo penal.

 Excepcionalmente o Código também adotou a teoria dualista, na qual os


agentes do crime respondem por tipos penais distintos, como na cooperação
dolosa distinta, prevista no art. 29 § 2° do CP e os crimes de aborto e
corrupção.
DIFERENCIAÇÃO ENTRE AUTOR E PARTÍCIPE
 O Código adotou a Teoria Objetivo-formal.
Segundo esta teoria, autor será aquele que realiza a ação nuclear típica e partícipe é
aquele que concorre de qualquer forma para o resultado, mas sem realizar o núcleo
do tipo penal.

 Entretanto, os Tribunais Superiores vem adotando com certa frequência (e assim


influenciando a doutrina) a Teoria do Domínio do Fato. Idealizada por Hans Welzel
nos anos 1930.
Autor é todo aquele que controla finalisticamente o fato, ou seja, quem decide a forma
de execução da conduta, quando a mesma deve se iniciar e se encerrar, bem como
todas as demais condições. Já partícipe seria todo aquele que contribui dolosamente
para a obtenção do resultado, sem contudo exercer qualquer domínio sobre o fato.
AUTORIA MEDIATA
 Autor mediato é aquele que se vale de uma pessoa não culpável (inimputável, sem
potencial consciência da ilicitude ou de quem não se exige conduta diversa) ou que
atua sem dolo ou culpa para que execute a conduta delitiva.
 Neste caso, o executor não é punido e o “mandante” responde pelo crime na
condição de autor.

PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA


 Prevista no art. 29 §1° do Código Penal: “Se a participação (nunca coautoria) for de
menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço” (grifo
nosso).
 A pouca importância deve ser aferida no caso concreto, devendo ser considerada
aquela que pouco contribuiu para o resultado.
PARTICIPAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA:
- Prevista no art. 29 §2° do CP: “Se algum dos concorrentes quis participar de
crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada
até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave”.
- Embora a lei utilize o termo “participar”, aplica-se o aqui estudado tanto ao
coautor quanto ao partícipe.
COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS, CONDIÇÕES E
ELEMENTARES.
 O tema está disciplinado pelo art. 30 do CP: “Não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares
do crime”.
 Elementares são quaisquer caracteres que constituem a própria figura
criminosa. Sem elas, a conduta deixa de ser aquele crime e pode se tornar
outro ou uma figura atípica. Exs.: Ser funcionário púbico nos crimes funcionais,
ser mãe em estado puerperal no crime de infanticídio, ser gestante no crime de
autoaborto.
 Para se comunicarem, necessário se faz que os coautores ou partícipes
tenham ciência dessa elementar.
PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL
 O tema está disciplinado pelo art. 31 do CP: “O ajuste, a determinação ou
instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”.
 Este artigo regula a punibilidade do partícipe, que por ser conduta acessória,
requer que o autor ao menos inicie a execução do crime, para que seu agir ou
omissão possa ser considerada relevante.
 Exceções são os crimes que punem os atos preparatórios, como a associação
criminosa e a incitação ao crime, previsto no art. 286 do CP.

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