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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

DEPARTAMENTO DE SISTEMÁTICA E ECOLOGIA


Prof. Tarcisio A. Cordeiro

Disciplina:
ECOLOGIA BÁSICA
A história natural da
Ecologia e do
Conservacionismo
<ECOLBAS_1>
Pintura rupestre no Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí, datada de
100.000 anos atrás. © 2008 FUMDHAM

2018
ECOLOGIA I . Introdução 1.2

• Entendendo a ecologia
É uma ciência que pode ser
considerada como uma
evolução do conhecimento
informal e empírico acerca
da natureza...

• Definições correntes “Caça à Onça”, Parque Nacional da Serra da Capivara,


Piauí. © 2008 FUMDHAM
ECOLOGIA é:

“o estudo das relações entre organismos e o seu ambiente”

“o estudo da distribuição e abundância de organismos


considerando os fatores orgânicos e ambientais que as
determinam”
ECOLOGIA I . Introdução 1.3

A ECOLOGIA E AS OUTRAS CIÊNCIAS

A ecologia teve sua origem na biologia e inclui ou é uma


mistura de várias disciplinas e filosofias não
necessariamente afins. Por exemplo:

- Biológicas: sistemática, fisiologia, genética, comportamento,


evolução e especiação.

- Exatas: matemática, estatística, química, física...

- Da Terra: clima, geoquímica, oceanografia...

- Humanas: sociologia, economia, geografia...


ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.4

ETAPA IMPORTANTE, A GRÉCIA ANTIGA1


Existe um consenso de que a Ecologia emergiu
como uma nova ciência no final do século XIX,
derivada da biologia e da história natural,
tornando-se muito popular pouco tempo depois,
em meados da década de 1960. Entretanto, o
pensamento ecológico esteve presente o tempo
todo no próprio desenvolvimento da civilização.
Os trabalhos de Aristóteles e de Teofrasto, seu
discípulo, já apresentavam alguns conteúdos
que hoje poderiam ser considerados de
ecologia. Teofrasto descreveu muitas relações
entre espécies e delas com seu ambiente,
reconheceu a ligação entre clima e tipo de solo
na ocorrência de plantas, isso ainda no século 4
AC.
Se pararmos para pensar, os agricultores
Aristóteles (384 - 322 AC), aluno de Platão e
egípcios, tanto quanto os atuais, praticavam
tutor de Alexandre o Grande, é considerado
um dos maiores pensadores de todos os controle biológico de pragas. Todos sabem que
tempos e criador do pensamento lógico. é bom ter um gato morando no celeiro.
Modificado de: Ungenannter Wordpress. 1. Aproximadamente entre 800 e 200 anos AC.
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.5
O ANTIGO E O NOVO

Os trabalhos de Aristóteles e de outros filósofos gregos permaneceram em segredo por mais de


1.000 anos e somente no final da Idade Média começaram a ser tornar públicos novamente. 2
Quando Tomás Aquino publicou sua obra mais importante, Summa Theologiae, entre 1267
e 1272, acabou por suscitar o interesse
em Aristóteles e em outros filósofos da
antiguidade. Os pensadores da época
saíram em busca dos textos antigos nas
bibliotecas do Império Bizantino, no
Mundo Islâmico e em monastérios,
entretanto, somente uma parte foi
encontrada.
Os textos recuperados e publicados
despertaram um desejo de buscar e
aperfeiçoar o conhecimento do mundo;
um sentimento inteiramente diferente à
espiritualidade transcendental forçada
pelo Cristianismo medieval. O espírito
curioso, apegado à realidade, lógico e
metódico dos antigos ajudou a dar forma
à Renascença3 e mais, permanece ainda Um avião de Leonardo da Vinci, um ilustre renascentista que
muito vivo na prática da ciência ocidental. buscou e testou sua compreensão sobre a natureza.

2. Atualmente, a obra completa de Aristóteles está disponível (em inglês) no site da Universidade de Adelaide, Austrália:
eBooks@Adelaide. 3. O nome Renascença vem justamente do resgate de certas idéias dos filósofos da antiguidade (Wikipedia).
O COMEÇO
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.6
LINNAEUS (1707 - 1778) : A EUROPA PÓS-RENASCENÇA
O naturalista sueco Carl von Linnaeus está entre os mais influentes cientistas do século 18.
Embora seja mais conhecido pela criação do sistema moderno de nomenclatura científica,
Linnaeus também escreveu sobre o funcionamento da natureza, as obras Curiositas Naturalis
(1748), Oeconomia Naturae (1749) e Politia Naturae (1760) tratam de assuntos que hoje são
considerados próprios da Ecologia.
Em Oeconomia Naturae, Linnaeus começa referindo-se a Seneca “Tudo está sempre em mutação”
e segue descrevendo os estágios do ciclo de vida, Generatio, Conservatio e Destructio, indicando
um permanente fluxo de materiais
onde tudo está conectado e onde
nada é realmente perdido.
Usando metáforas próprias do estilo
barroco, Linnaeus usa a imagem do
mundo como um palco de teatro,
onde cada espécies tem um papel
definido e, quando um indivíduo
morre, seu papel é assumido por
outro; a isso nós atualmente
chamamos de nicho1, e o teatro
podemos entender como biocenose.
1. Hestmark, G. 2000. Oeconomia Naturae
L. Nature, 405, 19. html.
Carl von Linnaeus e capa da edição de
1760 de Systema Naturae. Wikipedia
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.7
LINNAEUS (cont.)
Em Politia Naturae, Linnaeus escreve “a guerra de todos contra todos”, referindo-se a árdua tarefa
da sobrevivência. Esta visão influenciou muitos autores que se seguiram, inclusive Darwin, que
como sub-título da Origem das Espécies colocou a expressão “...struggle for life”.1 Linnaeus
também procurava indicar os locais de ocorrência das espécies que descrevia, essa prática evoluiu
para o conceito que hoje chamamos de habitat. Por exemplo, Linnaeus atribuiu um nome ao
tubarão branco2 e indicou que esta espécie ocorre em todos os oceanos, preferencialmente em
águas quentes e temperadas, raramente em águas frias, este é o habitat do tubarão branco.

À esquerda, avistamento de Carcharodon carcharias (Linnaeus, 1758), imagem: ©2008, DaKuRaJa, Shugal Point. À direita,
mapa de distribuição de C. carcharias (L., 1758) e sua probabilidade de ocorrência, imagem: FishBase.

1. 2008. Uppsala Universitet, Suécia. html. 2. Originalmente Squalus carcharias, depois modificado para Carcharodon carcharias
mas mantendo a autoria de Linnaeus, California Academy of Sciences - Ichthyology
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.8

Thomas Robert Malthus (1766 – 1834)


Malthus, apesar de sua obra já ter mais de dois séculos, ainda suscita
muito debate, principalmente nas ciências sociais. Embora focado na
economia e crescimento da população humana, sua obra influenciou
muitos cientistas na área da história natural, como Wallace e Darwin.
Alguns conceitos importantes receberam seu nome, por ex. a
“armadilha maltusiana”, na qual as nações utilizam a abundância
momentânea de alimento para aumentar as suas populações antes de
estabelecer uma segurança alimentar e bem estar à todos.
Outro conceito é a “catástrofe maltusiana”, na qual as populações
tendem a crescer até que as classes mais baixas começam a morrer
de fome e/ou doença. Diz-se ainda que uma “sociedade maltusiana”
é aquela que já fez a transição demográfica, equilibrando nascimentos
e mortes, geralmente através de educação e planejamento familiar.

Maltus era um clérigo e isso influenciou muito nas suas assertivas, deixando sua obra recheada de
expressões tais como, miséria, vício, o mal, a salvação e condenação, por ex. No entanto, algumas
observações ainda são válidas.

O que ficou bem assentado para a biologia:

“O aumento da população é necessariamente limitado pelos meios de subsistência” (daí a ideia de k)


“As populações invariavelmente crescem quando os meio de subsistência crescem”
“Enquanto a população cresce geométricamente, os meios de subsistência crescem aritméticamente.”
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.9
Humboldt (1769-1859), detalhe
ALEXANDER VON HUMBOLDT de pintura em óleo de Joseph
"I have always admired him; now I worship him.“ Stieler de 1843,
Eu sempre o admirei, agora eu o adoro, Charles Darwin Humboldt-portal.
referindo-se a Alexander von Humboldt em carta de 1832.

Durante todo o século 18 e no começo do século 19, as potências marítimas


tais como Inglaterra, Espanha e Portugal, realizaram muitas expedições
exploratórias ao redor do mundo, visando desenvolver o comércio e descobrir
novos recursos naturais. Até o começo do século 18, aproximadamente vinte mil
espécies de plantas estavam catalogadas, cem anos depois já eram quarenta
mil; atualmente já são quase 400.000 espécies.
Entre 1799 e 1804, Alexander von Humboldt viajou à América do Sul, suas
observações foram publicadas em muitos volumes ao longo de 21 anos. Suas
obras foram companheiras de viagem de outros exploradores, por ex. Charles
Darwin. Com base em estudos botânicos, foi o primeiro cientista a propor que a
América do Sul e a África estiveram unidas no passado.
Humboldt deixou um grande legado1 e por vezes é considerado o Pai da Ecologia. Procurou sempre mensurar
as relações entre organismos e o ambiente, chegando a relacionar zonas de vegetação usando latitude e
altitude; em 1804 ele cruzou informações sobre a distribuição de um grande número de espécies vegetais
com dados geológicos. Como fazia observações em diversas áreas da ciência, zoologia, geologia, geografia,
antropologia e astronomia, estudou o magnetismo da Terra e descobriu a declinação magnética.
Mas tão importante quanto seus resultados foi a sua forma de fazer ciência, dando origem à expressão Ciência
Humboldiana. A busca pela precisão em seus instrumentos e observações, sua sofisticação mental e novas
ferramentas conceituais, incluindo mapas de isolinhas, infográficos e a teoria dos erros, fizeram uma grande
diferença à época e influenciaram toda uma nova geração de cientistas. Humboldt criava conexões entre áreas
distantes do conhecimento e percebia as implicações sociais, científicas e estéticas do seu trabalho.

1. A maior parte dos trabalhos de Humbold pode ser acessada no site da Universidade do Kansas, The Humboldt Digital Library.
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.10

ALEXANDER VON
HUMBOLDT
(cont.)
Agora já é possível
ler as obras
originais de
Humboldt (bem
como de outros
autores) sem sair
de casa. Muitos
sites trazem seus
livros, cartas e
outros arquivos em
meio digital
(ebooks). A imagem
ao lado é do site
Internet Archive.org
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.11
DARWIN E A ORIGEM DAS
ESPÉCIES ... e as condições da
luta pela vida. (1ª edição em 1859)

Thoughtware
As obras de Charles Robert Darwin e Alfred
Russel Wallace colocaram em evidência que os
seres vivos, tal como conhecemos hoje, são o
resultado da luta pela sobrevivência, na qual as
espécies vão se modificando para sobreviver às
pressões do SOBRE A ORIGEM DAS ESPÉCIES
ambiente físico,
de predadores e “A Origem das Espécies” mudou tudo. Antes de sua
publicação, a diversidade podia somente ser
de competidores.
catalogada e descrita; agora, já podia ser explicada.
A ecologia ainda Antes da “Origem,” as espécies foram vistas como
não existia à entidades fixas, criações de uma divindade; depois,
época de Darwin, tornaram-se conectadas em uma grande árvore de
mas permeava família que se estende através de bilhões de anos,
todo seu trabalho. até ao surgimento da vida.
Hoje podemos Talvez a realização mais importante tenha sido que a
“Origem” mudou nossa maneira de percebermos a
dizer que:
nós mesmos; fez de nós uma peça da natureza, tanto
G I A ÉA
LO quanto os pássaros e as abelhas; nós passamos a
ECO Ç Ã O EM pertencer a uma árvore de família com antepassados
U
EVOL MENTO Wallace (1823-1913) aos 89 notáveis e distintos (Traduzido de Olivia Judson,
A
AND anos. Wallace Home Page 2008, http://wildking.wordpress.com/).
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.12
Darwin Online
DARWIN, UM GÊNIO
INCOMPREENDIDO

Se por um lado Wallace


não recebeu tanta notorie-
dade quanto Darwin, por outro
foi poupado da reação do clero e de
boa parte da sociedade à Teoria da
Evolução. Darwin terminou os seus
dias amargurado,
freqüentemente
atacado em jornais
e tablóides.
Atualmente Darwin
é reconhecido
como um dos
cientistas mais
importantes de
todos os tempos.
Sua obra completa
pode ser acessada
no site: http://darwin-online.org
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.13

Sugestão para entretenimento e cultura, o filme:

A CRIAÇÃO (2009)

O filme coloca na lupa o ambiente em que Darwin


viveu, contextualizando o abismo que se abria entre a
ciência e a religião na Inglaterra do século XIX,
expondo ainda os enormes dilemas de Darwin ao
escrever a Origem das Espécies. Entre a formulação
da teoria e a redação e publicação foram-se quase
vinte anos porque Darwin sabia do impacto de suas
teorias sobre a sociedade e também, sobre a sua
família.

Parte biográfico e em algum momento ficcional, o


filme revela as longas “dores de parto” da obra que
Darwin postergou até o momento em que percebeu
que Wallace estava na mesma pista.

Havia grande pressão política na comunidade


científica, tanto de criacionista como de dissidentes, a
pressão do clero e da aristocracia, a qual Darwin
pertencia, e de sua própria esposa.
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.14
Ernst Häckel 1834 - 1919. Wikimedia
ERNST HAECKEL
Nasceu uma nova ciência, seu nome é ecologia...

Ernst Haeckel foi naturalista, discípulo e um grande


defensor de Darwin, introduziu muitos conceitos à
biologia e em seu trabalho de 1866, Generelle
Morphologie der Organismen, Haeckel criou a
palavra Ökologie (do grego oikos, casa, vizinhança
+ logia, ciência), definindo-a como segue:
“Por Ecologia nós entendemos o estudo da
economia e da manutenção dos organismos.
Isto significa que a ecologia deve examinar
todas as condições presentes, seus aspectos
inorgânicos e orgânicos... todas as relações
mútuas complexas, todas as circunstâncias
que Darwin incluiu na expressão - luta pela
sobrevivência”.

Em vista da longa história, talvez seja possível


questionar o quanto Haeckel seria o pai da
Ecologia, Teofrasto no ano 4 AC já lidava com
problemas típicos da ecologia, mas foi Haeckel
o primeiro a reconhecer, dar um nome e a
tentar delimitar o objeto da nova ciência.
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.15
ERNST HAECKEL (cont.)
Como muitos em sua época, Haeckel acumulava muitas habilidades, foi
naturalista, filósofo, médico, professor e artista. Descobriu e descreveu
milhares de espécies novas, traçou a primeira árvore filogenética, criou o
nível hierárquico de Phylum e o Reino Protista. O seu livro Kunstformen der
Natur (Arte da Natureza, fig. ao lado) influenciou a arte e a arquitetura que
se seguiu, dando origem à escola Art Nouveau.
Haeckel desenvolveu ainda a Teoria da Recapitulação, na qual, segundo ele,
“a ontogenia recapitula a filogenia” e que postula que o desenvolvimento
embrionário de um organismo (ontogenia) reproduz o seu desenvolvimento
evolutivo (filogenia). Na época já foi identificada uma certa dose de
imprecisão mal intencionada em seus desenhos, mesmo assim a imagem foi
reproduzida em livros didáticos até o século 20 (figs. abaixo).
Em cima à direita, medusas do livro Kunstformen der Natur, a obra completa pode ser
acessada no site do Max Planck Institut em Colônia. Abaixo à esquerda, o desenho
original de Haeckel que deu origem à Teoria da Recapitulação, à direita, o estudo que
evidenciou as imprecisões, feito por Richardson et al. em 1998 (Revista Science, html).
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.16

Victor E. Shelford 1877-1968


Seus estudos focaram a importância das relações de
interdependência entre os seres vivos. Mas talvez a maior
contribuição de Shelford tenha sido introduzir a
experimentação na ecologia, em campo e em laboratório.
Em seus trabalhos foram envolvidas ciências como a
fisiologia, biogeografia, climatologia. Formulou conceitos
utilizados até hoje, por ex. o de comunidade. Além disso,
exerceu forte influência política sobre a comunidade
acadêmica de sua época, criando associações e revistas
especializadas. Wikipedia

Arthur George Tansley 1871 – 1955


Tansley criou e definiu o termo ecossistema tal como
conhecemos hoje. Em suas palavras: “o sistema como um
todo... Incluindo não somente os vários organismos, mas
também todo o complexo de fatores físicos que moldam o
que chamamos de ambiente.”
Mais em Columbia University. e Charles H. Smith
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.17

Vladimir Ivanovich Vernadskij 1863 – 1945.


“A humanidade, como matéria viva, está profundamente
conectada com os processos energéticos e materiais do
envelope geológico da Terra - sua biosfera. A humanidade não
pode ser independente da biosfera nem por um minuto.” 1

Vernadskij nasceu na antiga Rússia, estudou em São


Petersburgo, Munique e em Paris, foi mineralogista e
geoquímico. Todavia é mais conhecido pelo seu livro de
1926, “A Biosfera”, que acabou tornando popular o
termo cunhado por Eduard Suess (1885). Desenvolveu
uma visão na qual a vida é vista como uma força
geológica que dá forma à superfície da Terra, extraindo
e recombinando seus elementos e desta forma,
promovendo sua auto manutenção.
Sua obra foi um forte impulso no estudo dos ciclos de
elementos em escala planetária. Também foi Vernadskij
quem demonstrou o papel decisivo da camada de
ozônio para a manutenção da vida, estabelecendo a
mesma como o verdadeiro limite superior da biosfera. É
considerado ainda o fundador de diversas disciplinas
novas, incluindo a geoquímica, a biogeoquímica e a
radiogeologia.2 Imagem: Vernadskij aos 70 anos, Centre de
Recerca Ecològica i Aplicacions Forestals,
1. Executive Intelligence Review nº18, 2005, html. 2. Wikipedia html
ECOLOGIA I . Ecologia e Conservação 1.18

Ecologismo x Ecologia

Diferenças
&

Convergências
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.19
OS PRIMEIROS MOVIMENTOS CONSERVACIONISTAS
O primeiro esforço em proteger a natureza foi feito pelos reis da Inglaterra ainda na Idade Média, que tinham
como motivação o desejo de preservar áreas onde pudessem praticar a caça esportiva 1. Rapidamente foi
aprendido que, para preservar a caça, seria necessário proteger a florestas dos aldeões que a usavam para
colher e caçar, combater o desflorestamento para a retirada de madeira e para a expansão das áreas agrícolas.
Em 1847, o congressista americano George Perkins fez um discurso chamando a atenção para o impacto
negativo da atividade humana na terra, especialmente com
o desmatamento, propondo uma visão conservacionista na
gestão de terras florestadas.3
No ano de 1872 foi criado nos EUA o Parque Nacional de
Yellowstone, foi o primeiro no mundo visando a
conservação da natureza. Sua criação se deve em grande
parte aos relatórios do explorador F. V. Hayden, que ajudou
a convencer o Congresso da importância de assumir o
controle da região.2
Em 1876, nos EUA John Muir publica o livro “Os Primeiros
Templos de Deus: Como devemos preservar nossas
florestas?”, no qual ele sugere a necessidade da proteção
das florestas pelo Estado. No mesmo ano é fundado em
Boston “O Clube das Montanhas Apalaches”, que se tornou
a primeira organização privada voltada para a conservação
e atualmente uma das mais importantes. Seus esforços
resultaram na transformação da região do Vale do Yosemite
em Parque Nacional em 1905.3
1. Great Wild Spaces.org. 2. Wikipedia. 3. The Evolution of the
Conservation Movement, The Library of Congress.
John Muir (1834-1914) em foto de1902. 3
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.20
RACHEL L. CARSON (1907 - 1964) E A POPULARIZAÇÃO DA ECOLOGIA
Carson era bióloga marinha e é reconhecida como a responsável pela popularização da ecologia
e iniciadora do movimento ambiental. Na década de 1950, Carson focou sua atenção aos
problemas ambientais causados por pesticidas sintéticos. O resultado de sua investigação foi
publicado em forma de livro sob o título Primavera Silenciosa (1962), o qual despertou o
interesse em questões ambientais em
uma parcela considerável e sem
precedentes do público americano (
Wikipedia).
A Primavera Silenciosa desencadeou
uma forte reação na população,
manifestada no surgimento de grupos
militantes vindos de todas as camadas
sociais. O resultado foi a proibição da
fabricação e uso do DDT e de outros
pesticidas. O movimento popular
iniciado com o livro inspirou ainda a
criação da Agência de Proteção
Ambiental dos EUA (US -
Environmental Protection Agency ou
EPA) em 1970. Antes desta data, não
havia nenhuma órgão do Estado
responsável pela gestão do meio Acima à esquerda, Rachel Carson; à direita, cadeia trófica e
bioacumulação de DDT. Imagens: Egerton, F. N. 2007. Understanding food
ambiente. chains and food webs. Bull. Ecol. Soc. Amer. 88(1). html
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.21

EVENTOS RECENTES

1972. Stocolmo, Suécia. 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
com a participação de 113 países, 19 agências inter-governamentais e 400 ONGs –
Resultado Principal: United Nations Environment Programme, que trata do CFC, da
camada de ozônio, aquecimento global, poluição e águas.

1983 – Assembléia Geral da ONU emite a resolução A/38/161, tratando do processo de


preparação da Perspectiva Ambiental para o Ano 2000 e Após. Sugerindo a
formação de uma comissão especial focada em questões como:
i) Propor o desenvolvimento de estratégias ambientais de longa duração para
atingir a sustentabilidade até o ano 2000 e adiante.
ii) Recomendar formas pelas quais a questão ambiental possa ser traduzida em
maior cooperação entre as nações, em todos os estágios de desenvolvimento,
apoiando mutuamente o cumprimento de metas, levando em conta as inter-
relações existentes entre pessoas, recursos, ambiente e desenvolvimento.
iii) Considerar formas e meios pelos quais a comunidade internacional possa lidar
com a questão ambiental de forma mais efetiva.
iv) Definir qual seria a percepção compartilhada de questões ambientais a longo
prazo, quais os esforços necessários para solucionar o problema da
conservação, uma agenda de ações para as próximas décadas e quais seriam
as metas ideais para a comunidade mundial.
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.22
O RECENTE (cont.)

1987. Comissão Brundtland, ou formalmente


Comissão Mundial sobre Desenvolvimento e Meio
Ambiente (World Commission on Environment and
Development (WCED)).
i) A comissão recebeu o nome em homenagem
à sua presidente, a então Primeira Ministra da
Noruega, Gro Harlem Brundtland (foto).
ii) O documento final foi publicado com o título
Nosso Futuro Comum (Our Common Future,
Oxford Univ. Press, pode ser
baixado na íntegra - 16 Mb PDF)).
iii) Pela primeira vez a comunidade internacional se depara com a expressão

desenvolvimento sustentável e com as mudanças políticas necessárias


para se chegar a ela.
iv) A definição de desenvolvimento sustentável se tornou muito conhecida
e é freqüentemente citada: ...é o desenvolvimento que atende as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
futuras gerações em atender suas necessidades.
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.23

1990. Bandeira Ecológica, ou ECO


Flag. Marca um amadurecimento do
ativismo ambiental. Foi criada por
ativistas australianos. O tripé representa
as estruturas utilizadas para barrar
veículos e máquinas de uma mineradora
que pretendiam operar em uma área de
especial interesse ambiental e cultural.
Cada barra simboliza, por sua vez, os
três princípios da mudança cultural.

Nas décadas que se seguiram ocorreram


algumas escaladas entre os ativistas
ambientais e os estados; morte de
ativistas e a complacência dos governos
Os três princípios. deram margem ao surgimento de ongs e
movimentos sociais mais preparadas
i) Respeitar a natureza para revidar às agressões físicas. Ex.:
ii) Respeitar a humanidade SEA SHEPHERD (ong). Dissidência do
iii) Não violência Greenpeace, toda agressão irá ter uma
resposta.

AUTONOMEN (movimento social). Ambientalistas,


liberais e anáquicos, respondem às agressões
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.24

O RECENTE (cont.)

1992. ECO 92. Rio de Janeiro, Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e
Desenvolvimento (UN Conference on Environment and Development).

i) 178 nações se reuniram na busca por soluções para a pobreza, o


distanciamentoentre países industrializados e em desenvolvimento e o
aumento dos problemas ambientais, econômicos e sociais.
ii) O objetivo era fazer um balanço da últimas décadas e determinar novos
rumos para o desenvolvimento sustentável em todo o mundo.
iii) Pela primeira vez o desenvolvimento sócio-econômico e a conservação
ambiental receberam pesos iguais.
iv) Foram assinados três acordos não acoplados a leis internacionais:
1) Agenda 21
2) A Declaração do Rio
3) Manifesto dos Princípios da Floresta
v) Também foram assinadas duas convenções (leis internacionais)
1) Convenção sobre as Mudanças Climáticas
2) Convenção sobre Diversidade Biológica
Ver: http://www.youtube.com/watch?v=0uxPGcqxZkc
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.25
ECO 92
Severn Suzuki, garota canadense de 12 anos que calou o
mundo por 6 minutos.
MANIFESTO PELAS FUTURAS GERAÇÕES

Fonte: YouTube
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.26

O RECENTE (cont.)

1997. Rio + 5. A Assembléia Geral da ONU, em sessão especial, discutiu a


implementação da Agenda 21 e fez um balanço dos últimos 5 anos. Foi reconhecido
que:

i) O progresso nas questões sociais, econômicas e ambientais estavam ocorrendo


de forma muito desigual.
ii) A globalização foi intensificada, a diferença entre pobres e ricos aumentou, a
deterioração do meio ambiente continuou inalterada.

1997. Protocolo de Kioto. Assinatura do acordo entre 166 nações para a redução da
emissão de gases que promovem o efeito estufa.

iii) Os gases vilões: gás carbônico, metano, óxido nitroso, enxôfre hexafluor, HFCs e
PFCs.
ii) Os países participantes concordaram em reduzir a emissão de gases estufa em
5,2% dos valores de 1990 até 2010.
iii) Nota: se fossem mantidas as tendências de crescimento de 1990 até 2010, o
corte nas emissões então seria equivalente a 29%.
ECOLOGIA I . História da Conservação 1.27

2002. Johanesburg. Encontro realizado com o objetivo de examinar a implementação da


Agenda 21. Sem muito efeito.
i) Problemas como justiça social, diálogo entre culturas, saúde e desenvolvimento
receberam maior peso.
ii) Foi estabelecida uma clara relação entre a pobreza e a situação ambiental.

2005. Montreal. Após a adesão da Rússia em 2004, uma nova Conferência das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas foi realizada em Montreal. Somente a partir desse momento entra
em vigor o Protocolo de Kioto.

2009. Copenhague. Organizada pela ONU com a meta de pactuar um enfretamento coletivo às
mudanças climáticas, tal como foi preconizado na reunião de Kioto. A reunião terminou como
um grande fiasco, os estados ali representados não abriram mão de seus interesses em prol
de um mundo ambientalmente mais seguro. Uma cisão entre países ricos e pobres se tornou
mais evidente, os ricos e maiores poluidores não querem arcar com os custos do enfretamento
do problema e os pobres não conseguirão fazer muito sem ajuda externa. Seja através de
financiamento ou de transferência de tecnologias, os ricos não abriram mão de seus
privilégios. O então Presidente Lula participou da reunião mas em determinado momento,
irritado, retirou seus delegados prevendo o fracasso do encontro.

2011. Brasil. Ruralistas e alguns políticos tentam derrubar o Código Florestal Brasileiro de 1965,
considerada ainda hoje, como uma lei ambiental bastante avançada e progressista.
ECOLOGIA I . História da Ecologia 1.28
A CONSERVAÇÃO NO BRASIL
Paulo Nogueira Neto, 1922. Estudou História Natural e Direito na USP,
começou a atuar como conservacionista aos 20 anos de idade, numa época
em que poucos se interessavam pelo tema no Brasil. Organizou e dirigiu a
Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) entre 1974 e 1986, ainda
durante a ditadura militar. Nesse período foram criadas 3,2 milhões de ha de
áreas protegidas, distribuídas em 26 estações e reservas ecológicas, e ainda
1,5 milhão de ha em Áreas de Proteção Ambiental - APAS. Foi ativo na
aprovação da Lei Federal 6.902/81 que dispõe sobre a criação de estações
ecológicas e similares, bem como da Lei 6.938/81 que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente. Organizou e presidiu o CONAMA, nesse período
foi baixada a Resolução nº 1, que regulamenta o processo de licenciamento
ambiental. Folha online e Academia Brasileira de Ciências.

Francisco Alves Mendes Filho ou Chico Mendes, 1944 - 1988. Foi


seringueiro, sindicalista e ativista ambiental. Sua intensa luta pela
preservação da Amazônia o tornou conhecido internacionalmente e foi a
causa de seu assassinato, como de muitos outros ambientalista. O resultado
de sua luta foi, até 2006, a criação de 43 Reservas Extrativistas (Resex)
totalizando 8,6 milhões ha e que abrigam 40 mil famílias. Este tipo de
Unidade de Conservação (UC) implica um uso sustentável, garantindo
legalmente a preservação dos recursos naturais, a manutenção da atividade
econômica e a posse coletiva da terra pelas populações tradicionais, as quais
passaram a ter acesso a financiamento agrícola, programas de segurança
alimentar, investimentos na comercialização de seus produtos, escolas e
postos de saúde. Wikipedia
Acima, Paulo Nogueira Neto (ABC), abaixo, Chico Mendes
pouco tempo antes de ser assassinado (Biojornal).
ECOLOGIA I . Legislação Ambiental no Brasil 1.29
1965. Código Florestal Brasileiro (Lei Nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Texto
bastante progressista para a época. Já estabelecia o que seriam crimes ambientais, áreas de
preservação permanente, etc. Ver.

1986. EIA - RIMA. A Resolução nº 001 do CONAMA estabelece entre outras medidas, a
instituição do EIA-RIMA. Daí em diante, todos os anos são publicadas novas normas e critérios
para o exercício do “comando-controle”. Critérios de licenciamento e de conformidade
ambiental são discutidos e melhorados a cada dia.

Atualmente todos os financiamentos para implantação ou expansão de atividades potencialmente


impactantes estão condicionados à comprovação de conformidade ambiental.
ECOLOGIA I . Situação atual 1.30

A nova conjuntura ambiental mundial contribuiu para a formação de opiniões e de


estruturas especiais na sociedade:

i) Como no resto do mundo, a discussão sobre questões ambientais deixou


de ser algo hermético ou apaixonado, também no Brasil a questão se
tornou econômica.

ii) Surgimento de ONGs ambientais (boas e más). O terceiro setor disputa


financiamento para ações e pesquisas ambientais em condições de
igualdade com as universidades e outros orgãos públicos.

iii) Firmas de consultoria ambiental (boas e más) proliferaram, hoje o mercado


é, aparentemente, bastante disputado.

iv) Empresas potencialmente poluidoras podem decidir se internalizam ou


contratam a gestão ambiental por fora, mas nenhuma pode operar sem, no
mínimo, obter uma licença ambiental.

v) Um novo mercado de trabalho, da área ambiental, já está estabelecido e se


encontra em franca expansão.
FIM

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