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Desenvolvimento Humano II

2ª AULA

Profª Drª ALDENIRA BARBOSA CAVALCANTE


COMO AS ABORDAGENS PSICOLÓGICAS Para compreender melhor este processo, é
ESTUDAM O PROCESSO DE ADOLESCER importante registrar que Freud dividiu o
desenvolvimento humano em fases, denominadas
por ele como PSICOSSEXUAIS. Para conhecê-las,
clique nas abas a seguir.
 MÉDICO AUSTRÍACO que defendeu suas ideias à
luz da TEORIA DA SEXUALIDADE, Oral: Idade: Nascimento até 1 ano ½.
Freud não apresentou uma Principais aspectos: a zona erógena é a boca
aprofundando, também, o estudo sobre
o INCONSCIENTE.
teorização sistemática acerca (cavidade bucal e lábios), ligada ao ato de
da adolescência, porém trouxe alimentar-se.
 Freud considera: contribuições importantes
Anal: Idade: 2 a 4 anos.
 ADOLESCÊNCIA: Período filogenético, sobre as consequências
Principais aspectos: a zona erógena é o ânus,
evolucionista, ou seja, determinado geneticamente. psíquicas oriundas da
ligada ao ato de defecar (expulsar e reter as fezes).
 PUBERDADE: Momento singular no qual a puberdade que, por sinal,
foram se modificando de forma Ocorre a divisão dos opostos entre ativo e passivo.
sexualidade humana aflora.
significativa no decorrer de Fálica: Idade: 3 a 5 anos.
 Freud acredita que a origem das pulsões sexuais está, Principais aspectos: descoberta dos órgãos
suas formulações. Nesse
primeiramente, na satisfação dos processos sexuais, sendo o falo algo a ser alcançado pelas
sentido, raras são as
orgânicos.
referências ao termo meninas, e mantido pelos meninos. Momento de
 Em seu texto denominado Três ensaios sobre a “adolescência” em sua obra, apogeu do Complexo de Édipo e do Complexo de
teoria da sexualidade (1905), Freud afirma que, já o que pode demonstrar o Castração.
na infância, podemos observar uma escolha objetal,
próprio desuso do termo na Latência: Idade: 6 anos até puberdade.
que se caracteriza fortemente na puberdade. Essa
escolha ocorre em dois momentos:
época.1905,1910… Principais aspectos: pausa na evolução da
sexualidade. Surgem sentimentos de pudor e
 INFÂNCIA (2-5 anos), Por exemplo, quando o
repugnância, além de pretensões morais e
menino "escolhe" sua mãe como um objeto de
amor, dando início ao Complexo de Édipo. estéticas.
Puberdade: Idade: entre 9 e 13 anos.
 PUBERDADE: Momento no qual conclui-se o
Principais aspectos: revivência do Complexo de
desenvolvimento sexual.
Édipo, porém, agora para objetos externos.
Latência (entre 6 anos
FREUD Anal -Essa fase pode de idade até a
ser situada entre dois puberdade), no qual
FASES e quatro anos de dirige as pulsões
idade, sexuais para outros
Fase fálica (entre três e cinco aproximadamente e, objetos, como o
anos de idade). Nessa fase há nela, o prazer se aprendizado (escolar),
A primeira delas, a fase oral (ou uma atenção para as questões concentra na saída do conforme nos lembram
canibalesca), vincula a da sexualidade, que se tubo digestivo (ânus), Vieira e Vorcaro (2014),
atividade sexual ao processo concentra na descoberta da no ato de defecar pausando a evolução de
de nutrição do bebê e ocorre diferença entre os órgãos (expulsar ou reter) e sua sexualidade. Para
entre o nascimento e, genitais. Segundo Laplanche e ao valor simbólico das Freud, durante o período
aproximadamente, um ano e Pontalis (2001, p. 178- 179), fezes. Nessa fase há de latência, a criança
meio de idade. diferentemente da puberdade, uma atenção para as “aprende a amar outras
“a criança, de sexo masculino questões da pessoas que a ajudam
ou feminino, só conhece nesta sexualidade, que se em seu desamparo e
fase um único órgão genital, o concentra na satisfazem suas
órgão masculino”. Para Freud, descoberta da necessidades, e o faz
as meninas não sabem da diferença entre os segundo o modelo de
existência de sua vagina e órgãos genitais, sua relação de lactente
acreditam que o seu órgão diferentemente da com a ama e dando
sexual irá crescer, o que ele puberdade, “a criança, continuidade a ele”
denominou como “inveja do de sexo masculino ou
pênis”, que provoca na menina feminino, só conhece
uma “sensação de ser lesada, nesta fase um único
em relação ao menino”. P órgão genital, o órgão
masculino”.
A escolha de objeto ocorre em dois momentos: o primeiro, Complexo de Édipo é um “conjunto organizado de desejos
entre os dois e cinco anos de idade; e o segundo, na amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais”
puberdade – momento no qual conclui-se o desenvolvimento (LAPLANCHE e PONTALIS, 2001, p. 77). Esse desejo é
sexual. inconsciente e abre um triângulo amoroso. Freud desenvolveu
Uma escolha de objeto entre dois e cinco anos, por exemplo, suas primeiras teorias sobre esse complexo a partir da relação
é quando o menino “escolhe” sua mãe como um objeto de do menino com sua mãe e sustentou que o mesmo aconteceria
amor dando início ao Complexo de Édipo. O verbo “escolher” com a menina em relação ao pai. Mas com o tempo, ele
está entre aspas porque, para Freud, não há uma escolha entendeu que há uma fase pré-edipiana no qual uma relação
racional e consciente. Essa escolha é sempre inconsciente, a profunda de amor se estabelece entre mãe e filho (menino ou
partir dos conteúdos que recalcamos. Alimentar-se ou defecar, menina). Portanto, no caso das meninas, inicialmente há um
por exemplo, são processos orgânicos que satisfazem as apego em relação à mãe, que muda quando ela entra na fase do
pulsões sexuais infantis. Édipo, transferindo o objeto de amor para o pai.
Para Freud, o Complexo de Édipo se divide em positivo e
É extremamente difícil definir, na negativo. O complexo positivo se daria quando a criança deseja
teoria freudiana, o conceito de objeto, o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo
porque ele apresenta múltiplos sexo. O negativo, por sua vez, ocorre de forma inversa e a
sentidos. Neste momento, adotaremos criança ama o progenitor do mesmo sexo e tem ciúmes e rivaliza
a compreensão de que o objeto pode com o progenitor do sexo oposto. Apesar de haver essa cisão, os
ser definido como algo que está fora dois fenômenos estão presentes no Complexo de Édipo, porém,
de nós, mas, ao mesmo tempo, não é o que se deve considerar é a intensidade que eles ocorrem.
concreto. São representações O ápice do Complexo de Édipo acontece na fase fálica, porém, com
psíquicas que, como o próprio Freud o passar do tempo esse complexo começa a declinar, dando início ao
afirmou, não estão destinadas a se período de latência. Mas ele não se encerra aqui, pois será revivido
concretizar. na puberdade.
A adolescência de ambos os sexos informa que através de um
tortuoso processo de separação entre pais e filhos se faz o parto a sexualidade não se inicia na puberdade, mas se
de um sujeito sexuado e desejante. Só que, para isso, ele constitui enquanto processo evolutivo, vivenciado
precisou descobrir, paradoxalmente, o quanto depende de que de diversas formas, desde o nascimento.
alguém o deseje. Assim, no processo de se tornar independente
da família, cada um se descobre escravo para sempre do amor
que o constituiu.

Ego Instância do aparelho psíquico, representante da realidade.


Id Instância do aparelho psíquico, reservatório de energia psíquica com conteúdos inconscientes.
Identificação Processo psicológico no qual o sujeito se constitui. A criança assimila um aspecto do outro (genitor, por
exemplo) e se transforma, total ou parcialmente, segundo esse modelo.
Inconsciente Um sistema contrário à consciência, constituídos por conteúdos recalcados.
Introjetar/ introjeção Ligada à identificação. “O sujeito faz passar [...] de ‘fora’ para ‘dentro’, objetos e qualidades
inerentes a esses objetos.
Mecanismo de defesa Tipos de operações psíquicas realizadas pelo ego, ou superego, para lidar com conteúdos
insuportáveis para a mente ou o corpo biológico.
Recalcar/ recalque Movimento de afastar da consciência, ou manter no inconsciente, pensamentos, imagens,
recordações (etc) ligadas a uma pulsão, ou a um desejo.
Superego Compõe as instâncias psíquicas, ao lado do ego e do id. Ele é entendido como herdeiro do Complexo de
Édipo, porque introjeta as interdições parentais (o incesto não pode ocorrer). Ele é um “juiz”
Anna Freud
Para ela, quando comparamos o
ego da infância com o da
puberdade, percebemos
Anna Freud concentra a
sexualidade humana em dois diferenças tanto em relação ao
pontos importantes: conteúdo, ao conhecimento e às
capacidades que o compõe,
“PERÍODO SEXUAL DOS 1895-1982
quanto nos mecanismos de
PRIMEIROS ANOS DE
INFÂNCIA”: Momento no qual são
defesa utilizados para se
proteger das ameaças externas O conflito que se estabelece entre eles durante
registrados os principais caminhos a puberdade pode encontrar duas saídas :
no desenvolvimento e na e internas, quando o ego entra
O id fortalecido supera o ego, não deixando
organização sexual, além de em conflito com as pulsões do nenhum sinal de “caráter prévio do indivíduo”,
determinar as questões id (FREUD, A., 2006). fazendo com que a entrada na vida adulta seja
relacionadas à “normalidade e tumultuada, cedendo às pulsões, sem controle.
anormalidade do indivíduo” e sua O findar da adolescência e a O ego vence a disputa com o id, emergindo e
“capacidade ou incapacidade de entrada na vida adulta dependerão
consolidando este caráter individual
amor”. da força que os impulsos do id
desenvolvido no período de latência,
lançam sobre o ego (associadas aos possibilitando o controle dos impulsos.
CLIMATÉRIO: “Quando se registra
um declínio nas funções físicas processos fisiológicos); do quanto o Deste modo, segundo Anna Freud (2006), o
sexuais, os impulsos genitais têm ego tolera, ou não, essas pulsão findar da adolescência e a entrada na vida
suas últimas manifestações e os sobre ele (associado ao caráter adulta dependerão:
impulsos pré-genitais se constituído no período de latência); Da FORÇA que os impulsos do id lançam sobre
restabelecem" e da efetividade e natureza dos o ego (associada aos processos fisiológicos).
mecanismos de defesa do ego (que
Outros Teóricos
Os estudos empreendidos por Margareth Mead (1950) se Otto Rank (1884 – 1939)subverte a
tornaram um sério desafio às postulações anteriores acerca do teoria de seu mentor, centrada no
desenvolvimento humano defendidas por Hall e Freud, pondo em complexo de édipo, afirmando que a
questionamento, principalmente a universalização dos padrões matriz da angústia psíquica é a
de comportamento e desenvolvimento humanos. A antropóloga separação biológica entre o bebê e sua
refuta a ideia de adolescência como período de conflito e mãe. É necessário que o adolescente
tensões e contradiz a teoria proposta por Hall (Teoria da vivencie etapas evolutivas para, então,
Recapitulação), que defende que o desenvolvimento ocorre em desenvolver sua vontade.
saltos.
A psicanálise freudiana centra-se no sujeito. Diferentemente da compreensão de Margareth Mead, para Freud, o contexto em que
a pessoa está inserida pouco (ou nada) influencia as etapas evolutivas humanas.
Para Freud, a questão principal é que a sexualidade não se inaugura na puberdade, ela é vivida, de diferentes formas, desde o
nascimento;
Anna Freud enfatiza os mecanismos de defesa do ego, para a resolução, saudável ou não, do conflito entre ego e id; Otto Rank
centralizou seus estudos sobre a adolescência no conceito de ‘vontade’, como algo positivo e integrador, capaz de guiar o eu e
promover um uso criativo dos instintos;
e Mead lança luz sobre a importância do meio sociocultural no desenvolvimento da adolescência, questionando os padrões
universais defendidos pelas teorias de Freud e Stanley Hall.
Arminda Aberastury (1910 – 1972) foi pioneira do movimento psicanalítico na Argentina. Em 1981 publicou, com Maurício
Knobel, o livro Adolescência normal, no qual apresentam o conceito de Síndrome Normal da Adolescência.
Knobel era um médico que se mudou para o Brasil, em 1976, tornando-se professor da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele faleceu em 2008, aos 85 anos.
Para Aberastury (1981), a adolescência se
configura como um momento decisivo no
processo de desprendimento, que teve início no
nascimento. Knobel (1981), a partir das ideias de
sua colega, afirma que o adolescente vivencia
três lutos: Por conta das mudanças internas e
externas, Knobel (1981, p. 10) afirma que essa
fase é “a mais apta a sofrer os impactos de uma
realidade frustrante” e, ainda, citando Anna Freud,
o autor afirma ser extremamente difícil determinar
o limite entre normal e patológico na fase da Publicou mais de 300 trabalhos
adolescência, apontando que a anormalidade científicos, além de ter escrito 52
estaria vinculada, até mesmo, à presença de uma
capítulos de livros e 12 livros na sua área
estabilidade, de um equilíbrio, nessa fase da vida.
Segundo o autor, o adolescente vivencia de especialidade, entre os quais
instabilidades e desiquilíbrios extremos, Adolescência e família (1971), A
configurando-se no que ele denominou de adolescência e a família atual (1981) e
‘síndrome normal da adolescência’, ou seja, “uma Orientação Familiar (1992). Em 2006, o
entidade semipatológica [...] que é perturbada e psiquiatra doou de seu acervo pessoal
perturbadora para o mundo adulto, mas 1.370 títulos à Área de Coleções
necessária [...] para o adolescente, que neste Especiais da Biblioteca Central Cesar
processo vai estabelecer sua identidade, sendo
Lattes da Unicamp.
este um objetivo fundamental deste momento da
vida”. Mas o que vem a ser essa síndrome? O Faleceu 2008 aos 84 anos de idade
autor elenca uma série de características, que ele
denominou como sendo sintomatológicas, para
construir sua ideia de Síndrome Normal da
Adolescência. (KNOBEL, 1981, p. 29-60
Knobel (1981), características, que ele denominou como sendo sintomatológicas, para construir sua ideia
de Síndrome Normal da Adolescência :
1) “a busca de si mesmo e da identidade”
2) a “tendência grupal”, ou seja, a necessidade de pertencimento e identificação com seus pares, transferindo ao grupo
parte da dependência que era, então, atribuída à família, configurando-se como importante processo de transição para a
construção de sua identidade adulta;
3) “necessidade de intelectualizar e fantasiar”, para dar conta das perdas promovidas
por esta etapa da vida e, desta forma, o adolescente se refugia em seus pensamentos, em um processo intenso de
intelectualização e fantasia, como defesa do que está deixando para trás, buscando controlar os impulsos promovidos
pelo id;
4) “crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo mais intransigente até o misticismo mais fervoroso”;
5) “deslocalização temporal, onde o pensamento adquire características de pensamento primário”, ou seja, o adolescente
apresenta dificuldades em discriminar suas urgências (está deslocalizado em relação ao tempo de suas necessidades),
como por exemplo: a prova de amanhã pode esperar, mas a roupa da festa, que acontecerá daqui três meses, é urgente;
6) “evolução sexual manifesta” no qual, a medida em que aceita sua genitalidade, o adolescente inicia a busca pelo
parceiro sexual de forma tímida, mas intensa;
7) “atitude social reivindicatória”, que podem ser a consolidação de seus pensamentos, ou seja, “as intelectualizações,
fantasias inconsciente, necessidades do ego flutuante que se reforça no ego grupal, fazem com que se transformem
em pensamento ativo, em verdadeira ação social, política, cultural” (p. 55);
8) “contradições sucessivas em todas
as manifestações da conduta”, ou seja, certa instabilidade que faz parte do que o autor denominou uma
‘normal anormalidade’, e acrescenta que, quando o adolescente é extremamente rígido em sua conduta,
isto é um sinal de um adoecimento mental, porque uma adolescência saudável pressupõe o trânsito por diferentes
comportamentos e ações;
9) “separação progressiva dos pais”;
10) “constantes flutuações de humor e estado de ânimo”,
relacionadas à forma como o adolescente vivencia e elabora seus lutos infantis.
ADOLESCÊNCIA
Erikson via como o principal
A busca da identidade – que Erikson perigo desse estágio a
 Durante a terceira infância, as crianças definiu como uma concepção coerente do confusão de identidade ou de
adquirem as habilidades necessárias para self, constituída de metas, valores e papel que pode atrasar
obter sucesso em suas respectivas crenças com os quais a pessoa está consideravelmente a
culturas. Quando adolescentes, elas solidamente comprometida – entra em maturidade psicológica. (Ele
precisam encontrar maneiras de usar foco duante os anos da adolescência. O não resolveu sua crise de
essas habilidades. Quando os jovens têm desenvolvimento cognitivo dos identidade até os 20 e poucos
problemas para fixar-se em uma identidade adolescentes lhes possibilita construir anos.) Algum grau de confusão
ocupacional – ou quando suas uma “teoria do self” (Elkind, 1998). Como de identidade é normal. De
oportunidades são artificialmente limitadas –, Erikson (1950) enfatizou, o esforço de um acordo com Erikson, ela é
eles correm risco de apresentar adolescente para compreender o self não responsável pela natureza
comportamento com consequências é “uma espécie de enfermidade do aparentemente caótica de
negativas sérias, tal como atividades amadurecimento”. Ele faz parte de um grande parte do
criminosas. De acordo com Erikson, a processo saudável e vital fundamentado comportamento dos
moratória psicossocial, um período de nas realizações das etapas anteriores – adolescentes e pela penosa
adiamento que a adolescência proporciona, na confiança, autonomia, iniciativa e autoconsciência deles. Grupos
permite que os jovens busquem produtividade – e lança os alicerces para fechados e intolerância com as
compromissos aos quais possam ser fiéis. lidar com os desafios da idade adulta. diferenças, ambos marcas
Os adolescentes que resolvem essa crise de Entretanto, uma crise de identidade
identidade satisfatoriamente desenvolvem a registradas do cenário social
raramente é totalmente resolvida na adolescente, são defesas
virtude da fidelidade: lealdade constante, fé
adolescência; questões relativas à contra a confusão de
ou um sentimento de integração com uma
identidade surgem repetidamente durante identidade.
pessoa amada ou com amigos.
toda a vida adulta.
ORIENTAÇÃO E IDENTIDADE SEXUAL
Não há uma rota única para o
Embora presente nas crianças pequenas, é na desenvolvimento da identidade e
adolescência que a orientação sexual de uma do comportamento homossexual
pessoa geralmente se torna uma questão ou bissexual. Devido à falta de
premente: se essa pessoa se tornará formas socialmente aprovadas
consistentemente atraída por pessoas do outro Grande parte das pesquisas sobre de exploração da sexualidade,
sexo (heterossexual), do mesmo sexo orientação sexual tem se concentrado muitos adolescentes
(homossexual) ou de ambos os sexos (bissexual). em esforços para explicar a homossexuais experimentam a
A prevalência da orientação homossexual varia homossexualidade. Não obstante ela já confusão de identidade (Sieving,
amplamente. Dependendo de se ela é medida por ter sido considerada uma doença Oliphant e Blum, 2002).
atração ou excitação sexual ou romântica (como mental, diversas décadas de pesquisa Os jovens homossexuais que
na definição que acabamos de dar) ou por não revelaram nenhuma associação são incapazes de estabelecer
comportamento sexual ou identidade sexual. entre a orientação homossexual e grupos de pares que
 Muitos jovens têm uma ou mais experiências problemas emocionais ou sexuais – compartilhem sua orientação
homossexuais, mas experiências isoladas ou além daqueles aparentemente sexual podem lutar contra o
mesmo atrações ou fantasias ocasionais não causados pelo tratamento que a reconhecimento das atrações
determinam a orientação sexual. sociedade dispensa aos pelo mesmo sexo (Bouchey e
homossexuais, como tendência à Furman, 2003; Furman e
 O estigma social pode influenciar esses depressão (APA, s.d.; C. J. Patterson, Wehner, 1997).
relatos pessoais, subestimando a prevalência 1992, 1995a, 1995b). Esses achados
da homossexualidade ou da bissexualidade.
levaram a classe psiquiátrica em 1973
a deixar de classificar a
homossexualidade como um transtorno
ORIENTAÇÃO E IDENTIDADE SEXUAL

 Por que certos adolescentes tornam-se sexualmente ativos precocemente? A


entrada precoce na puberdade, o mau desempenho escolar, a falta de objetivos
acadêmicos e de carreira, um histórico de violência sexual ou negligência dos
pais e padrões culturais e familiares de experiência sexual precoce podem ter
influência. A ausência paterna, especialmente no início da vida, é um fator forte
(Ellis et al., 2003). Para aqueles em famílias com os dois genitores, ter pais que
sabem mais sobre suas amizades e atividades está associado a atrasos no início
da atividade sexual (Coley, Votruba-Drzal e Schindler, 2009).
 Adolescentes que têm relacionamentos próximos e calorosos com suas mães
também têm maior probabilidade de retardar a atividade sexual. O mesmo ocorre
com aqueles que percebem que suas mães desaprovam tal atividade (Jaccard e
Dittus, 2000; Sieving, McNeely e Blum, 2000).
 De modo geral, manter um relacionamento envolvido e engajado com os
adolescentes está associado a diminuições no risco de atividade sexual precoce.
Por exemplo, participar de atividades familiares regulares prediz declínios na
atividade sexual adolescente (Coley et al., 2009). Outras razões que os
adolescentes dão para ainda não ter tido relações sexuais são que é contrário a
sua religião ou aos seus valores morais e que não querem ficar grávidas (as
meninas) ou engravidar a namorada (os meninos) (Abma et al., 2010).
Relacionamentos com a família, os pares e a
sociedade adulta
A idade torna-se um poderoso agente de união na A REBELDIA ADOLESCENTE É UM MITO? Os anos da
adolescência. Os adolescentes passam mais tempo adolescência têm sido chamados de época de rebeldia
com os amigos e menos com a família. Entretanto, a adolescente, envolvendo tumulto emocional, conflito com a
maioria dos valores fundamentais dos adolescentes família, alienação da sociedade adulta, comportamento impulsivo
permanece mais próxima dos valores de seus pais do e rejeição dos valores adultos. Contudo, a completa rebeldia
que aquilo que geralmente é percebido (Offer e Church, agora parece ser relativamente incomum, mesmo nas
1991). sociedades ocidentais, pelo menos entre os adolescentes da
classe média que estão na escola. A maioria dos jovens sente-se
Mesmo quando os adolescentes se voltam aos amigos
próxima e positiva em relação aos seus pais, compartilha
em busca de modelos de comportamento, companhia e
opiniões idênticas sobre questões importantes e valoriza a
intimidade, eles – de forma muito parecida com as
aprovação deles . Além disso, contrariamente à crença popular,
crianças que estão aprendendo a andar e que começam
adolescentes aparentemente bem ajustados não são bombas-
a explorar um mundo mais amplo – veem nos pais uma
relógio programadas para explodir mais tarde na vida.
“base segura” a partir da qual podem experimentar sua
Os poucos adolescentes profundamente problemáticos tendiam
liberdade. Os adolescentes mais seguros têm relações
a vir de famílias perturbadas e, quando adultos, continuavam a
fortes e sustentáveis com pais que permanecem em
ter uma vida familiar instável e a rejeitar as normas culturais.
sintonia com a maneira pela qual os jovens veem a si
Aqueles criados em lares com uma atmosfera familiar positiva
mesmos, que permitem e encorajam seus esforços para
tendiam a atravessar a adolescência sem nenhum problema
adquirir independência e constituem um porto seguro
sério e, quando adultos, a ter casamentos sólidos e a levar uma
nos momentos de tensão emocional (Allen et al., 2003;
vida bem ajustada (Offer et al., 2002).
Laursen, 1996).
Individuação e conflito familiar

 Individuação e conflito familiar A individuação é uma luta do adolescente por autonomia e diferenciação, ou
identidade pessoal. Um aspecto importante da individuação é a criação de fronteiras de controle entre ele e os
pais (Nucci, Hasebe e Lins-Dyer, 2005), e este processo pode acarretar conflito familiar.
 As discussões muito frequentemente dizem respeito ao controle sobre as questões pessoais cotidianas –
tarefas diárias, dever de casa, roupas, dinheiro, horários, namoro e amizades – mais do que sobre questões
de saúde e segurança ou certo e errado (Adams e Laursen, 2001; Steinberg, 2005). A intensidade emocional
desses conflitos – fora de proporção com o assunto – pode refletir o processo de individuação subjacente.
 Tanto o conflito familiar como a identificação positiva com os pais atingem seu auge aos 13 anos de idade e
então diminuem até os 17 anos, quando se estabilizam ou aumentam um pouco. Esta mudança reflete o
aumento das oportunidades para tomada de decisão independente pelo adolescente (Gutman e Eccles, 2007),
alargando as fronteiras do que é considerado assunto do adolescente.
 Especialmente para as meninas, as relações familiares podem afetar a saúde mental. Adolescentes que têm
mais oportunidades para tomar decisões relatam autoestima mais alta do que aquelas que têm menos
oportunidades. Além disso, interações familiares negativas estão relacionadas a depressão adolescente,
enquanto a identificação familiar positiva está relacionada a menos depressão.
OS ADOLESCENTES E SEUS PARES
Relacionamentos amorosos
Os relacionamentos amorosos são uma
parte central do mundo social dos
 A maior intimidade, lealdade e troca com os amigos marcam uma transição rumo a amizades
adolescentes. Com o início da
típicas dos adultos. Os adolescentes começam a confiar mais nos amigos do que nos pais na
busca de intimidade e apoio e trocam confidências mais intensamente do que os amigos mais
puberdade, a maioria dos meninos e
jovens (Berndt e Perry, 1990; Buhrmester, 1990, 1996; Hartup e Stevens, 1999; Laursen, 1996). meninas heterossexuais começa a
pensar e a interagir mais com pessoas
 As amizades das garotas podem ser mais íntimas do que as dos rapazes, com frequente troca do sexo oposto. Normalmente, eles
de confidências (B. B. Brown e Klute, 2003). A intimidade com amigos do mesmo sexo aumenta
durante o início até a metade da adolescência, e depois normalmente diminui à medida que a
passam dos grupos mistos ou de
intimidade com o sexo oposto aumenta (Laursen, 1996). encontros grupais para relacionamentos
amorosos pessoais que, ao contrário
 A maior intimidade entre amigos adolescentes reflete o desenvolvimento cognitivo e emocional. das amizades com o sexo oposto, eles
Os adolescentes são agora mais capazes de expressar seus pensamentos e sentimentos
descrevem como sendo uma paixão
particulares. Podem considerar mais prontamente o ponto de vista de outra pessoa e, desse
modo, têm mais facilidade para entender os pensamentos e sentimentos de um amigo. envolvente e um sentimento de
compromisso.
 Um aumento na intimidade reflete a preocupação inicial que os adolescentes têm de conhecer a
si mesmos. Confidenciar a um amigo ajuda os jovens a explorar seus próprios sentimentos, a
definir suas identidades e a validar sua autoestima (Buhrmester, 1996). A capacidade para
intimidade está relacionada a ajustamento psicológico e competência social. Adolescentes que
têm amizades íntimas, estáveis e solidárias geralmente têm uma opinião favorável a respeito de
si mesmos, têm bom desempenho escolar, são sociáveis e provavelmente não são hostis,
ansiosos ou deprimidos.
Comportamento antissocial e delinquência juvenil

TORNANDO-SE UM DELINQUENTE:
FATORES GENÉTICOS E NEUROLÓGICOS
 O que influencia os jovens a praticarem O comportamento antissocial tende a ocorrer em famílias.
ou a absterem-se do envolvimento com Os genes sozinhos, entretanto, não são preditivos de
a violência ou com outros atos anti- comportamento antissocial. Achados de pesquisa recentes
sugerem que embora a genética influencie a delinquência,
sociais? Por meio de que processos as
as influências ambientais incluindo família, amigos e
tendências antissociais se desenvolvem? escola afetam a expressão genética (Guo, Roettger e Cai,
Como os comportamentos 2008). Déficits neurobiológicos, particularmente nas
problemáticos se agravam e se porções do cérebro que regulam as reações ao estresse,
transformam em delinquência crônica? podem ajudar a explicar por que algumas crianças se
O que determina se um delinquente tornam antissociais. Como resultado desses déficits
juvenil se tornará um criminoso neurológicos, que podem resultar da interação de fatores
contumaz? Uma interação entre fatores genéticos ou de temperamento difícil com ambientes
adversos, as crianças podem não receber ou não perceber
de risco ambientais e genéticos ou
sinais de alerta normais para refrear o comportamento
biológicos pode ser a base de muitos impulsivo ou imprudente (van Goozen et al., 2007).
comportamentos antissociais (van
Goozen et al., 2007).
O Transtorno Opositivo Desafiador — TOD
É descrito no DSM, como parte dos Transtornos de Comportamento Disruptivo,
cujas características são comportamentos desafiantes, negativistas e Quais as causas do TOD – Transtorno Opositivo
desobedientes, principalmente diante figuras de autoridade. Fazem parte desse
Desafiador?
grupo também o TDAH — Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade — e
o Transtorno de Conduta. As causas do TOD não são conhecidas, mas segundo
É preciso considerar a hipótese de TOD quando os sintomas causam prejuízos evidências, fatores genéticos e neurofisiológicos
significativos na vida do sujeito. Isso porque os comportamentos presentes no podem influenciar o desenvolvimento do transtorno.
transtorno restringem a vida social da pessoa, devido às manifestações Assim como um ambiente familiar conturbado e
constantes de raiva, teimosia, hostilidades e insubordinação. ambíguo, no que se refere a educação dada pelos
Toda criança e adolescente pode apresentar comportamentos dessa ordem em pais, pode contribuir para o surgimento do TOD.
alguma fase da vida. Por isso, o diagnóstico de TOD é feito quando os sintomas Quais os principais sintomas do TOD?
persistem por mais de seis meses e ocorrem em diversos ambientes. Saiba mais, Os sintomas do TOD costumam se manifestar na pré-
neste artigo. escola, embora possam aparecer mais tarde, na
Como é feito o diagnóstico de TOD? 
adolescência. Como mencionado, os principais
Para realizar o diagnóstico de TOD, é necessário descartar a presença de outros
sintomas do transtorno incluem os seguintes
transtornos psicóticos, afetivos, transtorno de conduta ou personalidade anti social
(maiores de 18 anos). 
comportamentos:
 agressividade;
O diagnóstico é feito através da observação do comportamento e sintomas da
criança, por um médico especialista. É importante também avaliar sinais de  irritabilidade;
depressão, ansiedade e perturbação do sono. Isso porque essas condições  desafia regras e instruções;
podem causar sintomas semelhantes aos do TOD, como irritabilidade e  discute com adultos frequentemente;
desobediência.  desobediência;
Como podemos ver, os comportamentos presentes no TOD prejudicam as  agitação;
habilidades sociais das crianças e podem fazê-las sentir-se mal e culpadas.  incomoda os outros deliberadamente;
Dessa forma, é muito importante buscar ajuda com médico, psicólogo e  culpa terceiros pelos seus erros;
psicopedagogo para receber as orientações e tratamento adequados.
 pode ser cruel e vingativo.
Como ajudar a criança a superar esse comportamento?
Como é o tratamento do TOD? Para superar o comportamento de oposição, a criança precisa perceber
O tratamento do TOD visa modificar esses que seu comportamento é impróprio. A terapia com um profissional
comportamentos que causam prejuízos na vida social e especializado, ajuda a encontrar o que pode estar causando esses
acadêmica das crianças e adolescentes. Na maioria das comportamentos indesejados, assim como ensina novos comportamentos
vezes, isso é feito através de técnicas de controle do mais saudáveis e apropriados.
comportamento e uma abordagem disciplinar com reforço Uma criança com TOD tem mais risco de desenvolver outros
dos comportamento desejados.  transtornos na vida adulta?
Pais e professores podem receber orientações dos A probabilidade de uma criança com TOD ter maiores dificuldades no final
profissionais que trabalham com as crianças para que da adolescência e na idade adulta depende dos tratamentos e das
saibam como agir em casa e na escola, a fim de ajudar as circunstâncias ambientais. Geralmente, elas correm maior risco de ter
crianças a modificar esses comportamentos. depressão e abuso de substâncias, principalmente quando o TOD na
Como distinguir os sinais de TOD do comportamento infância for acompanhado por outros transtornos, como TDAH, depressão
“desafiador” que as crianças podem apresentar? e  dificuldades de aprendizagem. 
O diagnóstico de TOD pode ser difícil, já que a maioria das Em alguns casos, o diagnóstico de TOD pode se agravar até desenvolver
crianças exibe alguns dos sintomas ocasionalmente um transtorno de conduta, que é um quadro mais grave de transtorno de
(especialmente quando estão cansadas, com fome ou comportamento. As pessoas com transtorno de conduta tendem a
chateadas). apresentar comportamento de violação da lei; destruição de propriedade e
No entanto, uma criança com Transtorno Opositivo até crueldade com animais e pessoas.
Desafiador irá exibir esses sintomas com mais frequência É claro que uma criança com diagnóstico de TOD não irá fatalmente
do que outras crianças, demonstrar problemas desenvolver o transtorno de conduta. No entanto, é importante
comportamentais por um período de pelo menos seis acompanhar de perto o comportamento das crianças e buscar um
meses, ter problemas na escola e para fazer amizades tratamento adequado e eficaz.
como resultado direto do comportamento, além de ter seu Referências:
funcionamento geral comprometido por seus GREVET, Eugenio Horacio; SALGADO, Carlos Alberto Iglesias; ZENI,
comportamentos desafiadores. Gregory  and  BELMONTE-DE-ABREU, Paulo. Transtorno de oposição e
desafio e transtorno de conduta: os desfechos no TDAH em adultos. J.
bras. psiquiatr. [online]. 2007, vol.56, suppl.1 [cited  2020-10-23], pp.34-
38.

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