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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

TAÍS MESSINGER RIBEIRO

CRÔNICA SOBRE PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA E SOFRIMENTO PSÍQUICO

Trabalho apresentado para a disciplina Saúde


Mental Coletiva, pelo Curso de Psicologia da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos –
UNISINOS, ministrada pela professora Maria de
Fatima Bueno Fischer.

São Leopoldo

2021
O “Jesus de Farroupilha”

Esta história se passa na cidade de Farroupilha, não se sabe dizer quando começou,
afinal, ninguém sabe dizer qual é o começo da história do “Jesus de Farroupilha” ou mais
conhecido como “Lambe lambe”.
Conheço essa história desde pequena, e inicialmente a figura deste morador de rua era
por vezes usada para causar medo nas crianças, “Se desobedecer, o lambe lambe vai te levar
embora”. Mas com o passar do tempo vi que ele não fazia mal a ninguém, muito pelo contrário,
ele por si só evita falar com algumas pessoas.
O apelido de “lambe lambe”, veio devido o movimento de repetição de lamber os dedos
que este senhor faz, já o de “Jesus de Farroupilha”, é devido sua aparência, com cabelos
compridos que tinha.
Pouco se sabe sobre aquele misteriosos senhor, a história mais contada sobre ele, é
que este era muito rico, e por ter sido muito ruim para suas filhas e esposa, este se puniu indo
morar nas ruas. Existem relatos que confirmam este comportamento com a família dele, mas a
família por sua vez nunca confirmou tais afirmações.
A família sempre disse ter vergonha da situação que ele se colocou, e dizem não saber
o que aconteceu para que este começasse a delirar, ou como costumam dizer “comportar-se
como um louco”.
Falando agora deste característico senhor, nunca se teve relato de ele fazer mal a
alguma pessoa, o que se sabe e se via era um senhor alto, com cabelos e barba grisalhos,
compridos e pedindo por um corte. Um senhor que a tempos não tomava um banho, estava
sempre de calça jeans, camisa de manga curta e sandálias.
Este virou motivo de piadas por ter sempre uma sacola plástica nas mãos, e moedas,
andava seguidamente de ônibus, ia para a cidade vizinha Caxias do Sul e voltava. Ninguém
sabe de onde vinha o dinheiro da passagem e muito menos o que ele fazia por Caxias.
Além de falar sozinho em um tom bem baixinho, lambe lambe tinha o costume de
espantar moscas que lhe perturbavam, mas estas nem mesmo existiam. O misterioso senhor,
não abordava ninguém na rua, nem perturbava os comerciantes.
O tempo passou, as pessoas tomaram conhecimento de quem eram as filhas deste
homem, e por certa pressão e conscientização social, estas foram novamente atrás do pai, e
finalmente conseguiram tirá-lo da rua.
Lambe lambe sumiu por um tempo, muitos achavam que este tinha morrido, outros por
sua vez pensavam que teria sido internado, mas quando todos menos esperam lá estava ele,
andando pelas ruas da cidade, com uma aparência muito melhor.
As filhas hoje cuidam do pai, cortaram seu cabelo, rasparam a barba, e agora este está
cada dia com uma roupa diferente, sempre limpo, mas ainda acompanhado de sua tradicional
sandália nos pés.
Ainda não descobri o nome deste senhor, mas agora ele já não é mais motivo de
chacota na cidade, não anda mais de ônibus para Caxias, mas sempre pega o ônibus urbano
para voltar para sua casa.
Não anda mais com sua sacolinha, mas ainda espanta suas moscas imaginárias. Agora
entra nas lojas para fazer compras, ou até mesmo conversar com quem ali estiver. Como
trabalho no CRAS II, ele seguidamente vem conversar conosco, dificilmente está de máscara,
mas tem sempre uma no bolso, e respeita piamente o distanciamento social.
Não vejo mais sentido de chama-lo de lambe lambe, prefiro dizer “aquele senhor
misterioso”, que mesmo falando sozinho, ou reclamando de quem demora para embarcar no
ônibus, melhorou muito, e ainda assim na sua loucura, pode nos ensinar a respeitar coisas
simples, como o distanciamento social.

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