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Exemplo de homiliastas na

Antiguidade: Santo Ambrósio e


Santo Agostinho
De Doctrina Christiana e
Confissões de Santo Agostinho
Retórica e Verdade

• A retórica como arte da ilusão 


• Com essa disciplina, Santo Agostinho "procurava
simplesmente agradar aos homens, não para instruí-
los, mas só para lhe ser agradável" unindo a
"ostentação com a mentira" 
• (Confissões, IV 6,9-10) 
Retórica e Verdade

• "Antes que alguém veja a verdade daquelas coisas


sobre as que fala ou escreve, e possa definir o que
é cada coisa em si mesma, e, tendo-a definido, seja
capaz de dividi-la em suas espécies até o indivisível,
e por esse método, se tenha conhecido a natureza
da alma (...) não será possível que se chegue a usar
com destreza o gênero dos discursos (...) nem para
os ensinar nem para persuadir. (Platão, 1992, 409,
tradução nossa).
A força da retórica 
• Argumentação retórica desperta no homem um
sentimento de crença no que aparenta ser a
verdade. Tal sentimento leva-o agir de acordo com
o que foi persuadido.
A força da retórica 
• "Do mesmo modo, seja qual for o profissional com
quem entre em competição, o orador conseguirá
que o prefiram a qualquer outro, porque não há
matéria sobre a qual um orador não fale, diante da
multidão, de maneira mais persuasiva do que
qualquer profissional. Tal é a qualidade e a força
desta arte que a retórica." (Platão 1968, p 456) 
A força da retórica 
• "A culpa cabe exclusivamente, creio eu, aqueles
que fazem mau uso do que aprenderam. (...) A
retórica, como qualquer outra arte competitiva,
deve ser usada com justiça. Portanto, entendo que,
se um homem adquire uma preparação retórica e
depois se serve deste poder e desta arte para
praticar o mal, não há o direito de odiar e desterrar
da cidade aquele que o ensinou." (Platão 1968, p.
123) 
A força da retórica 
• "A retórica tem por base o crer, não o saber." 
A força da retórica 
• "Não tenho o mínimo interesse em procurar o que
seja o melhor, mas, sempre atrair por intermédio
do prazer, persegue e ludibria os insensatos, que
convence do seu altíssimo valor." 
A força da retórica
• Fredo: a respeito disso, caro Sócrates, ouvi dizer o
seguinte: que não é necessário, a quem se quer
tornar orador, conhecer o que realmente é justo,
mas o que aparente sê-lo a multidão que deve
julgar; Não o quê, na realidade é bom e belo, mas
quanto dá essa aparência, já que daí deriva a
persuasão, e não da verdade." (Platão, 1973, p.
339)
A força da retórica
• "A retórica trata de temas controversos, como a
paz ou a guerra, a condenação ou absolvição, a
moralidade e imoralidade, etc, e, nesses temas, há
a possibilidade de mais de um ponto de vista. As
controvérsias estão presentes em diversos âmbitos,
como política, religião, ética, direito, perpassadas
por diferenças de opiniões." (Retórica, semiótica e
hermenêutica em Santo Agostinho, p. 34) 
Retórica e verdade
segundo santo agostinho 

"Aqueles, por argumentos falaciosos, atacariam a


verdade que sustentariam o erro, e estes seriam
incapazes de defender a verdade e refutar mentira?"
(Agostinho, 2011, IV, p. 208) 
Retórica e verdade
segundo santo agostinho 

• "A retórica é útil porque por natureza a verdade e a


justiça são mais fortes que seus contrários, de
modo que se os juízos não são estabelecidos como
se deve ser a força que sejam vencidos pelos seus
contrários". (Aristóteles, Retórica, 1355) 
Retórica e verdade
segundo santo agostinho 

• A palavra ‘ornamentum’ denota tanto que serve


para embelezar como o que é utilizado como arma.
Santo Ambrósio e Santo  Agostinho
• Ligação entre
Ambrósio e
Agostinho

Ambrósio e Agostinho são duas das mais


importantes figuras da história da Igreja
cristã, cujas vidas estão intrinsecamente
ligadas de modo que não é possível tratar
adequadamente da vida de Ambrósio sem
se referir a Agostinho e, principalmente,
não podemos falar de Agostinho sem se
referir a Ambrósio, que foi seu grande
discipulador. 
Santo Ambrósio  • Aurélio Ambrósio nasceu na
cidade de Trèves, por volta do
ano 339.

• Familia Católica

• Seu pai era um nobre e exercia a


função de governador

• Em Roma da Inicio a carreira


juridica, tornando-se conselheiro
do imperador e governador.
Ambrósio é
aclamado Bispo 
• Com a morte do Bispo de
Milão, Auxêncio, que era
ariano, deu início a uma
disputa pela vaga entre
arianos e católicos
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romanos, para evitar
confusão e assegurar a
ordem na eleição,
Ambrósio na qualidade de
governador, controlou os
ânimos dos grupos e teve
tal domínio da situação,
que ambos os grupos o
elegeram bispo. 
Como bispo, mergulhou
assiduamente no estudo e
leitura das sagradas
escrituras, em pouco
tempo capacitou-se para
a pregação. 
No confronto com
arianos, Ambrósio
buscou refutar
teologicamente suas
proposições, que eram
contrarias ao credo de
Nicéia (onde se afirmava
a consubstancialidade de
cristo). 
“considerava o próprio Ambrósio homem realizado
segundo o espirito do mundo, homenageado pelos
poderosos; somente seu celibato parecia-me duro de
suportar... o pouco tempo que não estava ocupado,
Ambrósio alimentava a alma com leituras. Muitas
vezes, ao entrarmos (pois a ninguém era proibido o
ingresso, nem precisa anunciar-se), o víamos lendo,
sempre em silencio (...) e depois nos afastávamos,
pensando que durante o pouco tempo que lhe restava
para restabelecer a mente, livre dos problemas alheios,
não quisesse ser distraído por outras coisas”
(Confissões VI, 3). 
“Assim que cheguei, a Milão, encontrei o bispo
Ambrósio, conhecido no mundo inteiro como um dos
melhores, e teu fiel servidor. Suas palavras
ministravam constantemente ao povo a substancia
de teu trigo, a alegria de teu óleo e a embriagues
sóbria do teu vinho (...). Comecei a estima-lo, a
princípio, não como mestre da verdade (...), mas
como homem bondoso para comigo. Acompanhava
assiduamente suas conversas com o povo, não com
a intenção que deveria ter, mas para averiguar se
sua eloquência merecia a fama que gozava, se era
superior ou inferior à sua reputação. Suas palavras
me prendiam a atenção (...). Eu me encontrava com
a suavidade de seu modo de discursar (...). ” 
A maior parte das obras de
Ambrósio é constituída de sermões.
Mais que preocupações teológicas,
elas revelam o esforço Pastoral. Os
estudiosos de Ambrósio dizem que
sua doutrina está em inteira
dependência da dos padres gregos
e que, consequentemente, não é
pensador original nem escritor de
primeira grandeza. Contudo, é
pensador sempre nutrido do fervor
religioso. Seu estilo é vivás, pleno
de metaforas e alegorias.
Santo Agostinho 

• Nasceu em Tagaste, norte da


Africa no ano 354
• Pai era pagão, sua mãe uma
cristã fervorosa
Santo Agostinho iniciou seus
estudos em Tagaste, em seguida,
foi para Madaura, onde iniciou
os estudos de retórica. Lia e
decorava trechos de poetas e
prosadores latinos, entre eles
Virgílio e Terêncio.
Em 371, transferiu-se para
Cartago, onde se deixou cativar
pelo esplendor das cerimônias
em honra dos milenares desuses
protetores do império.
De volta a sua cidade natal, abre
uma escola particular onde
ensina gramática e retórica. Em
374 foi para Cartago e mais uma
vez dedica-se ao ensino da
retórica. Em 383 seguiu para
Roma e no ano seguinte é
nomeado mestre de eloquência
em Milão. 
Durante doze anos foi seguidor
de Mani, profeta persa que
pregava uma doutrina na qual se
misturavam Evangelho,
ocultismo e astrologia. Segundo
Mani, o bem e o mal constituíam
princípios opostos 
Modelo de
homiliasta
Santo Ambrósio de Milão
De doctrina
christiana
“A doutrina cristã”
De doctrina christiana

• Santo Agostinho começou a escrever a “De doctrina


christiana” no início do seu episcopado, em 397 e só
terminou de escrevê-la em 426 ou 427.
De doctrina christiana
• “Tendo encontrado inacabados os livros de De
doctrina christiana, eu preferi findá-los a deixá-
los assim e continuar a rever as outras obras.
Completei, pois, o terceiro livro que havia escrito
até a passagem onde é lembrado o que diz o
evangelho a respeito da mulher que mistura o
fermento em três medidas de farinha até que
tudo fermente (III,25,35). Anexei também um
último livro e terminei esta obra em quatro
livros. Os três primeiros ajudam a compreender
as Escrituras e o quarto indica como é preciso
exprimir o que foi entendido” (Retract. II,4,1)
De doctrina christiana

• a cita em “Contra Faustum”,


escrito em 400, fazendo alusão à
passagem II, 40,60 que fala dos
egípcios despojados pelos hebreus
por ordem de Deus.
De doctrina christiana

• Prólogo
• Livro I
• Livro II
• Livro III
• Livro IV
De doctrina christiana

• Prólogo

Santo Agostinho refuta com antecedência


as objeções dos supostos exegetas que
sistematicamente mostram-se
insubmissos às regras que ele pretende
propor.
De doctrina christiana

• Livro I

O livro I é uma introdução de ordem


dogmática e moral para servir de base a
todo o desenvolvimento posterior, de
ordem técnica.
De doctrina christiana

• Livro II

O segundo livro aborda sobre os sinais escritos


nas Sagradas Escrituras, isto é as palavras, que
foram escritas por humanos de diversas
línguas. Além da gramática, se acrescentam
outras ciências: história, geografia, história
natural, astronomia; artes mecânicas,
matemáticas, música, a dialética e a retórica.
De doctrina christiana

• Livro III

O livro III nos traz as regras de


interpretação, visa ensinar resolver as
ambiguidades da Escritura, tanto as
encontradas em sentido próprio como
as que devem ser tomadas em sentido
figurado.
De doctrina christiana

• Livro IV

A oratória e a retórica: o orador poderá


se valer de regras da retórica profana; a
finalidade da pregação deve ser ensinar,
deleitar e convencer, servindo-se de três
estilos: simples, moderado e sublime.
De doctrina christiana

• Livro IV

Santo Agostinho reafirma que, antes de


tudo, o pregador deve ser uma pessoa
que dê testemunho de vida coerente,
ser uma pessoa de oração.
A forma de expressar o
discurso
"Ser orante, antes de ser orador“ (Santo Agostinho)

• O orador deve descobrir o que é para ser


entendido e a maneira de expor o que foi
entendido.
• A arte da palavra possui o duplo efeito de
persuadir para o bem ou para o mal.
• Agostinho não ensina preceitos de retórica
aprendido de escolas profanas, mas admite que
possam ser úteis para defesa do cristianismo.
A forma de expressar o
discurso

Agostinho recebe Influências da retórica Cícero desenvolveu um tema caro a


greco-romana através das obras de Cícero e Agostinho, a saber, a descrição de como
seu conteúdo recheado de doutrinas deveria ser o orador ideal:
aristotélicas.
Orador deve conhecer as artes liberais e
principalmente a filosofia
No De oratore, Cícero defende pela boca e Cícero se filiava a toda uma tradição iniciada
Crasso que o bom orador precisa ter uma por Platão no Fedro e continuava na Retórica
formação ampla para poder falar com de Aristóteles segundo a qual o orador não
eloquência. deve ter em vista apenas persuadir, senão
persuadir sobre coisas verdadeiras e nobres.
O bom orador precisa ter uma formação
ampla: Conhecer direito civil, história,
filosofia, política, matemática
A forma de expressar o
discurso

Para que o orador consiga comover o


auditório, ele precisa conhecer o
temperamento dos homens, tal como Agostinho partilha da opinião que um bom
também já o afirmara Aristóteles em sua orador precisa ter uma formação vasta e
Retórica. um discurso eloquente, porém, não basta
apenas conhecer as artes liberais senão
Cícero afirma que qualquer que seja a Arte, também ter lido e interpretado de forma
qualquer que seja o assunto sobre o qual correta as Sagradas Escrituras.
disserte, se o orador estudar com afinco, Também vale mais falar com sabedoria do
falará melhor que um especialista no que com eloquência.
assunto.

Enfim, o bom orador é aquele que prende a


atenção do auditório, que sabe conduzir o
discurso, arranjando as palavras para
atingir a emoção do público.
A forma de expressar
o discurso
O livro IV no Da doctrina Christiana está dedicado à
elocução (lexis = escolha das palavras e do estilo).
• Seu tema é a forma como o orador sacro deve expressar seu
discurso, seja oral ou escrito.
• Para Agostino o orador sacro deve expor as escrituras em primeiro
lugar acreditando na verdade cristã;
• Observar que ela é transmitida por meio de signos verbais, e que
esses signos obtém no discurso sentidos diversos segundo o
contexto;
• Interpretá-los corretamente
• E por fim, saber como se deve repassar a verdade religiosa por meio
da eloquência

A eloquência, além de permitir que a verdade da fé


seja bem compreendida promove adesão de fiéis.

A retórica e todas as suas técnicas precisam estar


subordinadas à fé.
A forma de expressar o
discurso segundo
Agostinho

• A verdade religiosa deve ser transmitida por


meio da eloquência, arte que, além de permitir
que a verdade da fé seja bem compreendida
promove adesão de fiéis.

• A retórica e todas as suas técnicas precisam


estar subordinadas à fé.
• O estilo da retórica deve estar em função do
assunto e do auditório.
Qualidades que devem estar presentes no discurso
do orador segundo a perspectiva greco-romana
1 Latinitas - O discurso deve se adequar às regras da
gramática
Ou seja, as conjunções, as flexões nominais e verbais,
os gêneros e os números devem estar corretamente
utilizados.
2 - O discurso deve possuir clareza
Para que o discurso seja claro, devem ser usados
nomes de uso comum, evitar os arcaísmos, os neologismos
e os nomes compostos. Também o uso de termos
homônimos porque são eles os que dão origem aos
sofismas.
O discurso não deve ser rasteiro, nem acima
de seu valor, mas sim adequado. (Aristóteles
– livro III da sua Retórica)
Qualidades que devem estar
presentes no discurso do orador
segundo a perspectiva greco-romana
3 – Qualidade da adequação
Aristóteles expõe a necessidade de se adequar o estilo ao assunto,
bom como ao público porque torna o assunto convincente, pois, o espírito
do ouvinte é levado a pensar que aquele que está a falar diz a verdade.
Também é preciso adequar o estilo ao auditório, porque o rústico e o
instruído não falam do mesmo modo. Ainda é necessário adequar ”
4 – Uso adequado das figuras (ornamenta = meterial militar/Enfeite)
• Falar de maneira pura e correta
• Falar de modo claro e límpido
• Ornadamente
• Falar de maneira adequada à dignidade do tema
• Conhecer os preceitos do tema
Estilos na retórica latina
1 – Estilo elevado (gravism vehemens)
Para cada ideia são encontradas palavras muito belas para
expressá-las. Usado figuras de palavras ou de pensamento que
têm grandeza, apelo à piedade, pensamentos nobres e até
estrangeiras.
2 – Estilo médio (mediocris)
Usado uma comunicação mais baixa, sem chegar no
entanto, ao inferior.
3 – Estilo simples (leve, attenuata, suavis)
É aquele que se identifica com a linguagem mais simples e
comum.
Tarefas do orador sacro
Assuntos sacros sempre são importantíssimos, pois está em jogo a salvação ou
condenação enterna (Agostinho).

Agostinho encontrou dificuldade em adequar os três estilos grave, médio e simples ao


discurso sacro, porque não era um assunto muito tratado pelos autores clássicos como
Cícero. Indica que o discurso não deve ser todo no estilo sublime, porque isso
cansaria os ouvintes, e considera importante misturar os três gêneros de estilo.

Os princípios e preceitos da eloquência unidos ao empregos engenhoso da linguagem


com riqueza do vocabulário e do estilo, constituem o talento da eloquência.
Para o orador sacro é mais importante exercitar as ideias conforme a fé ensina e a
piedade do que ater-se aos preceitos da retórica. Ou seja, o orador deve ter inclinação
para a leitura de obras eclesiásticas.
O orador sacro deve ensinar o bem; refutar o mal; tratar de conquistar o hostil; motivar
o indiferente; e informar o ignorante sobre o que deve ser feito ou esperado, sempre
que possível, tocando-lhes o coração, são tarefas imprescindíveis da uma boa oratório
religiosa.
Os três estilos e a oratória sacra
Agostinho relaciona os três objetivos oratórios
Instruir (docere)
Agradar (delectere)
Comover/converter (flectere)
Com os três estilos do discurso existentes.
O primeiro deles vincula-se ao estilo simples;
O segundo, ao estilo temperado ou médio;
O terceiro, ao estilo sublime.

Falar para ensinar em estilo simples as pequenas questões;


Falar para Agradar, tratando questões médias, em estilo temperado.
Falar para comover, expondo grandes questões, em estilo sublime

Mesmo que o orador sacro tenha sempre questões importantes a tratar, ele não deve fazê-lo constantemente em
estilo sublime, mas em estilo simples, se estiver a ensinar; e em estilo temperado, se estiver a censurar o louvar. Mas
quando for preciso determinar a ação os ouvintes que deveriam agir, mas que resistem, ele empregará, então, para
expor as grandes verdades, o estilo sublime os acentos próprios a comover os corações. E algumas vezes, a respeito
de uma mesma questão importante, empregará o estilo simples para ensinar, o estilo temperado para enaltecer, e o
sublime para fazer voltar a verdade um espírito desviado.

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