Você está na página 1de 24

Clínica da Atividade

YVES CLOT

Profª Eliana de Castro


@elianamccastro
• ERGONOMIA DA ATIVIDADE
• Preocupação central: A adaptação do trabalho ao homem.
• Ergonomia:
– Objetivo: adequar o trabalho ao homem, possibilitando-
lhe condições de bem-estar com o trabalho e com o meio.
– Definição: processo construtivo e participativo que exige
conhecimento das tarefas/atividades desenvolvidas e das
dificuldades enfrentadas para se atingir o desempenho.
•  Ergonomia da Atividade – vertente da Ergonomia
• Discute o ensino como trabalho. Yves Clot
• gênero profissional ou gênero da atividade = modo de
agir de um determinado coletivo profissional, que
estabelece usos e costumes e um fazer linguageiro
entre os pares.
• Metodologia de investigação que busca entender a
atividade de trabalho no momento em que o mesmo se
realiza, procurando observar a distância que há entre o
trabalho prescrito pela empresa (tarefa dada, ou seja, a
ser cumprida) e o trabalho realizado (o resultado da
adaptação da tarefa prescrita), com o objetivo de
conhecer o trabalho para poder transformá-lo.
•  Ergonomia da Atividade – vertente da Ergonomia
• Discute o ensino como trabalho. Yves Clot
• gênero profissional ou gênero da atividade = modo de
agir de um determinado coletivo profissional, que
estabelece usos e costumes e um fazer linguageiro
entre os pares.
• Metodologia de investigação que busca entender a
atividade de trabalho no momento em que o mesmo se
realiza, procurando observar a distância que há entre o
trabalho prescrito pela empresa (tarefa dada, ou seja, a
ser cumprida) e o trabalho realizado (o resultado da
adaptação da tarefa prescrita), com o objetivo de
conhecer o trabalho para poder transformá-lo.
YVES CLOT

O homem não se manifesta somente


pelo que faz, mas, às vezes e em certas
circunstâncias, sobretudo pelo que
deixa de fazer
Real da Atividade

• Envolve o que o indivíduo não pode fazer

• O que ele gostaria de fazer

• O que poderia ser feito

• O que faz para não fazer o que deveria ter feito

• O que precisa reprimir.


Possibilidades da Atividade

• A atividade (o sujeito) é plena de possibilidades não


realizadas.

• Trabalhar – escolher entre essas possibilidades

• O comportamento assumido é a escolha que venceu.

• O não realizado é invisível e continua agindo sobre o sujeito


Situações de Impedimentos

• Sabe que não vai dar certo / ser possível

• Não pode agir como acha que seria o mais certo

• O caminho impedido, continua agindo.


•  a atividade torna-se impedida quando há uma perda de
significado, geralmente motivada pela impossibilidade de
discutir os critérios de qualidade do trabalho. Isso ocorre
quando apenas realizamos atividades prescritas pela
organização, sem discussão, por obrigação, tornando-as assim
atividades vazias. Não nos reconhecemos nelas.
• também quando a organização não oferece recursos para
realizarmos a atividade conforme nosso desejo ou, pior,
atrapalha a realização da atividade. Isso ocorre quando, por
exemplo, a empresa estabelece critérios inconciliáveis de
desempenho com a nossa expectativa ou ainda quando
desfragmenta os coletivos, isolando e impedindo o diálogo
entre profissionais do mesmo gênero.
Comparação entre Atividade e Real da Atividade

• Real da atividade:
– Abrange a dimensão clínica, subjetiva, naquilo que não é
evidente durante a observação do trabalho.
– O que se passa dentro do sujeito enquanto realiza seu
trabalho
• Ergonomia:
– Observa, busca entender a escolha feita, mas não os
impedimentos, não as possibilidades não realizadas.
Função Psicológica do Trabalho

• Inscrever o sujeito num gênero.


• Inserir-se no trabalho é inserir-se numa condição de gênero
– Ser social nasce com o trabalho
– Ser social produz sua existência e se transforma
• Clínica da atividade visa restaurar o poder de agir do sujeito
(afetado pelos impedimentos do trabalho) - Consiste em
interpretar como se dá a adaptação do trabalhador ao que lhe é
prescrito, às condições de trabalho, à sua condição intelectual, bem
como à condição social e intelectual daqueles que trabalham com
ele. Compreender os efeitos de sentido que circulam em uma
atividade de trabalho. É POR MEIO DO DISCURSO QUE O
TRABALHADOR EVIDENCIA AS REALIDADES DO TRABALHO, A
RELAÇÃO ENTRE AS PRESCRIÇÕES E AS REALIZAÇÕES.
• Somente o trabalho permite inserção numa troca em que
lugar e função são definidos independentemente dos
indivíduos que os ocupam num dado momento.
• Trabalho é espaço genérico (que dilui o indivíduo)
• No capitalismo – trabalho é trabalho assalariado, inserido no
mercado.
• Estar fora do espaço em que se dá a sociabilidade é estar
alijado (excluído)
YVES CLOT

qualquer trabalho
é uma atividade dirigida,
ao mesmo tempo,
pelo sujeito,
pela tarefa
e para os outros
Gênero do Trabalho

• São as normas, as regras, condutas dentro de um grupo


específico de trabalho
• Regras internas do grupo. Regras não ditas, que se
desenvolvem na ação.
• Formas de fazer, regras do que dá certo.

• Início:
– Apego à prescrição, às regras
– Construído pelo grupo para que o trabalho possa ser
feito e dê certo. Recurso que se dá entre pares
Clinica da Atividade e Psicopatologia do Trabalho (p 99 a
116)

• Na origem dos distúrbios há sempre atividade


“dramatizada” do sujeito (não é linear).Exs:
– Dialética da ofensa e da humilhação das domésticas
• Humilhação seguida de afirmação de dignidade que se
revela irrisória
• Submissão (da humilhação) é forma invertida de
incapacidade de agir
• O sofrimento é mediado por um ato psíquico
defensivo e não produto direto da imposição externa
• O trabalho é elemento central de análise e intervenção, já
que é o ponto de conexão social, histórico, material e objetivo
entre os indivíduos, sendo a atividade, prática e psíquica,
sede de investimentos vitais do sujeito, em um movimento de
apropriação de um meio de vida e transformação dos objetos
do mundo.
• o psicólogo sob essa orientação tem um papel preciso: “criar
as condições necessárias para o processo de análise da
atividade pelos trabalhadores, recusando o lugar de expert na
análise do trabalho” . Ou seja, sua disciplina pretende, acima
de tudo, ser um instrumento de transformação dos contextos
de trabalho, através da análise conjunta da atividade.
Trabalho de Condutores de trens

• Ênfase não é no que eles fazem, e sim, no sentimento de


solidão ou isolamento (ausências).
• Em depoimento o condutor declara manter os olhos
abertos, mas pensar em “um monte de coisas”
– “Na verdade, não estou lá. Não estou no trabalho. Os
reflexos e o hábito estão em ação, mas estou em outro
lugar”
• A atividade realizada não leva em conta o real da atividade.
• O mais difícil não é o que o condutor deve fazer, nem sequer
o que ele faz, mas o fato de estar lá, sem estar lá.
Vagabundagens (“derivas”) da Mente

• Sujeito da atividade não é um sistema de tratamento de


informações, mas o núcleo de contradições vitais a que ele
procurar dar significado.
• Essas ausências são confundidas com, mas não decorrem da,
hipovigilância nem do entorpecimento provocado pelo sono
• As derivas ou distrações estão vinculadas às particularidades
da atividade (ex: da condução de trens)
– Atividade comporta as condições das derivas agravadas
pela falta de sono
Exemplo Condutores de Trens
• Atrasos de trens tornaram-se regra
• Condutor vive a perder o tempo e a buscar recuperá-lo em
contexto de saturação do tráfego, na solidão e no anonimato
• Ausências podem estar relacionadas a essa atividade de
recuperação temporal contrariada
– “No subúrbio a gente morde o freio”
– Gerencia múltiplos conflitos entre segurança e
cumprimento de horários
• Sinais fechados são impedimentos ao seu trabalho (horário a
cumprir)
• Para recuperar situação temporal degradada os esforços do
condutor são exigidos e anulados
Atividade, seus Conflitos e seu Sentido

• Existem as ausências e nem sempre é possível vencê-las


– “Cada saída do torpor é uma angústia. [...]
– Quanto tempo esteve ausente?
– Descumpriu alguma regra?
– Qual o estado do sistema no momento?
– É difícil de suportar”
• Quem deseja analisar a atividade deve confrontar-se com
esses conflitos.
Síntese
• Ergonomia:
– Enfatiza distância entre trabalho prescrito e trabalho real
• Psicologia do Trabalho:
– Não há convergência entre atividade real e real da
atividade
• Vigotsky: “O homem está pleno, em cada minuto, de
possibilidades não realizadas”
• O comportamento é sempre o “sistema de reações
vencedoras”.
• As outras, as recalcadas, formam resíduos incontrolados
(contra os quais não há defesa) e capazes de interferir na
atividade
O real da Atividade também é
• O que não se faz, o que se tenta fazer sem ser bem sucedido
– o drama dos fracassos
• O que se desejaria ou poderia ter feito e o que se pensa ser
capaz de fazer noutro lugar
• O que se faz para evitar fazer o que deve ser feito, o que
deve ser refeito; o que é feito a contragosto
• Assim, a atividade possui conteúdo cuja abordagem
demasiado cognitiva da consciência como representação da
ação, priva de seus conflitos vitais
• O realizado não tem o monopólio do real
Referências

• BENDASSOLLI, Pedro F. Mal-estar no trabalho: do sofrimento


ao poder de agir inRevista Mal-estar e Subjetividade –
Fortaleza – Vol. X – No 1 – p.63 – 98 – mar/2011.
• CLOT, Yves. A função psicológica do trabalho (2ª ed.).
Petrópolis: Vozes, 2007.
• CLOT, Yves. Trabalho e poder de agir. Belo Horizonte:
FabreFactum, 2010
• Entrevista: Yves Clot in Cadernos de Psicologia Social do
Trabalho, vol. 9, n. 2, pp. 99-107, 2006

Você também pode gostar