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As classificações escolares: desigualdades de

percepção e de tratamento de estudantes


Textos Obrigatórios


Bourdieu, P. & Saint-Martin, M. “As categorias do juízo professoral”.

Becker, H. “Variações de classe social nas relações entre alunos e professores”
A interação entre dinâmicas de socialização familiar e
processos de escolarização

Escolarização
Classificações escolares reforçam essas atitudes
Socialização família e valores através das desigualdades de percepção
Incorporação de diferentes E de tratamento por parte dos profs frente a diferen
atitudes e valores perante a escola Perfis discentes de classe, raça e gênero.
a partir de diferentes perfis de classe,
raça e gênero

Reprodução de desigualdades de classe, raça e gêne


Incorporadas na socialização primária (familiar) e reforça
Socialização secundária (escolarização)
As categorias de classificação social


P/ Bourdieu, o habitus é a incorporação do lugar social do
agente sob a forma de disposições inconscientes.

Uma dessas disposições inconscientes refere-se às categorias de
classificação social q incorporamos a partir de nossa
socialização.

Todo agente aciona, conscientemente ou não, categorias de
classificação social ao se encontrar com outro agente ou grupo,
buscando interpretar:

A-) “quem é” essa pessoa ou esse grupo de pessoas?

B-) o q posso esperar e como devo agir em relação a eles?
Categorias de juízo professoral


Assim como os demais agentes sociais, professores/as também
acionam categorias de classificação, denominadas no texto de
“categorias do juízo professoral”.

Essas categorias não são definições “neutras”, “técnicas” ou
“escolares” do q/esperar ou de como lidar com diferentes
alunos.

Ao contrário, são categorias que tendem a dividir os estudantes
em diferentes perfis de classe e gênero (de “raça” nos EUA e no
Brasil, ou “étnicas” na França mais recentemente).

As categorias do juízo professoral


A cada perfil de classe, raça ou gênero profs ou equipe escolar
costumam atribuir (conscientemente ou não):

A-) expectativas sobre capacidades de aprendizagem
supostamente diferentes entre esses perfis.

B-) expectativas sobre diferentes padrões de comportamento
estudantil perante a escola.

C-) diferentes formas de “atender”, de “ensinar” ou de “se
relacionar” com esses diferentes perfis de estudantes.
P/ estudantes de diferentes classes sociais, diferentes
classificações escolares


No quadro da p. 190 no texto, sobre as avaliações de um prof. e
Filosofia sobre alunas do primeiro ano do ensino superior,
observamos que …

A coluna à esquerda traz a ocupação/residência do pai (indicador de
capit. cultural). Iniciando-se das posições com menos capit. cult. ali
presentes (“pequena burguesia”) até as com mais capit. cult. (“prof.
universitário).

A coluna à direita traz a média de notas (de 7 a 13) dessas estudantes

No meio temos os qualificativos usados pelo prof. nos comentários

[Hachurado, qualificativos com ressalvas; em negrito, qualificativos
sem ressalvas]
P/ estudantes de diferentes classes sociais, diferentes
classificações escolares


Esses qualificativos ao texto das alunas estão posicionados numa
escala.

À esquerda, estão os mais depreciativos (“simples, “bobo”,
“vulgar”). À direita, os mais elogiosos (“culto”, “original”,
“espírito filosófico”).

O que se vê, ao final?

Uma concentração de qualificativos depreciativos p/ as estudantes
de origem mais modesta em capit. cult. (origem “pequeno
burguesa”) em oposição aos qualificativos mais elogiosos estando
concentrados nas estudantes de maior capit. cultural, com fraca
correlação desses qualificativos com relação às notas.
A “eficácia simbólica” das classificações escolares


Os profs são descritos como “máquinas inconscientes” de converter
classificaçõe de classe social em classificações escolares.

Por terem autoridade escolar, os vereditos dos profs são dotados de
“eficácia simbólica”, isto é, eles tendem a ser incorporados como
“verdade” pelos estudantes.


Assim, tais classificações escolares tendem a funcionar como ‘profecias
autorrealizáveis’, isto é, os estudantes as incorporam como “verdades”.

Pois, passando a agir e a se orientar por esses julgamentos, eles tendem a
tornar esses julgamentos efetivamente reais.

Assim, quem recebe julgamentos positivos, tende a ‘ir bem’ na escola.

Da “eficácia” à “violência simbólica” dos juízos
professorais

Os estudantes desprivilegiados, recebendo juízos professorais


depreciativos, tendem a

1-) incorporar essas avaliações como “verdades”, ‘dedicando-se’ ou
‘gostando’ cada vez menos da escola

2-) passam a acreditar e a se orientar por esses juízos depreciativos, tendo
maior propensão à evasão escolar


Desse modo, a “eficácia simbólica” dos juízos professorais converte-se em
“violência simbólica” exercida pela escola, ou seja...


situação na qual esses juízos depreciativos são aceitos pelos sujeitos a que se
destinam, fazendo esses sujeitos contribuírem p/ sua própria dominação social
e cultural.
Howard Becker: distante na teoria, próximo nas
conclusões sobre as classificações escolares


Becker é representante da Escola de Chicago, associada ao
interacionismo simbólico, ou seja, à perspectiva teórica marcada
pela capacidade de significação da ação social pelos indivíduos.

Porém, ao abordar a educação, Becker e outros pesquisadores
de Chicago evidenciam que os profs e as equipes escolares
significam suas ações sociais a partir de diferentes percepções
sobre a origem de classe de seus estudantes.

Como ele descobre isso? Metodologia do estudo.


Entrevistas “semiestruturadas” e “em profundidade” com 60
profs da rede pública de Chicago (método “bola de neve”).

Ele apresenta a pesquisa aos profs como um estudo sobre as
principais dificuldades de seus cotidianos de trabalho nas
escolas.

Ao tratar dessas dificuldades, os próprios profs acionam as
classificações de classe social p/ explicar as diferenças entre
escolas e estudantes com os quais trabalham e as principais
dificuldades q encontram em cada classe social.
Quando os profs acionam classificações de classe
social?

Becker percebe que os profs sentem a necessidade de empregar,


durante as entrevistas, classificações de classe social ao falar
sobre 3 assuntos …
1-) as capacidades de aprendizagem dos estudantes
2-) a questão disciplinar
3-) o estranhamento ou a aceitação dos profs quanto aos
padrões de moralidade e de higiene dos estudantes
Como os profs entrevistados dividiam seus estudantes
em classes sociais?


Os profs entrevistados separam seus alunos em 3 classes sociais

1-) Classes baixas ou pobres

2-) Classe média-baixa

3-) Classe média-alta

[Ver tabela em arquivo anexo]
Preferências dos profs: ensinar alunos de origem
social coincidente com as deles


A maioria dos profs declaram origem de “classe média baixa”,
segundo as classificações usadas por eles nas entrevistas.

Assim, apesar de enaltecerem as referências culturais e o
treinamento cognitivo dos estudantes de “classe média alta”…

Eles afirmam q a indisciplina ou os desafios desses estudantes à
autoridade dos profs – bem como a vigilância ostensiva de suas
famílias sobre a escola e os profs – os fazem preferir trabalhar
com os ‘dóceis’ e ‘disciplinados’ alunos de “classe média baixa”

Tendência ao que Bourdieu chamaria de “afinidades ou
homologias de habitus”.

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