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Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus Santo

Ângelo
Departamento de Engenharia e Ciências da Computação
Curso de Engenharia Mecânica
Engenharia Ambiental Aplicada

Prof. Dr. Emitério da Rosa Neto

Processos de Tratamento de Esgoto

Santo Ângelo, 2020


Rotas de usos da água

Água bruta Água retirada do rio, lago ou lençol freático, possuindo uma determinada qualidade.

Água tratada Após a captação, a água sofre transformações durante o seu tratamento para se adequar aos usos
previstos.

Água usada (esgoto Com a utilização da água, esta sofre novas transformações na sua qualidade, vindo a constituir-se
bruto) em despejo líquido.

Esgoto tratado Visando remover poluentes, os despejos sofrem tratamento antes da emissão no corpo d’água
receptor. Mesmo tratado, altera a qualidade da água do receptor.

Água pluvial Escoa no solo, incorpora novos constituintes e, no meio urbano, é coletado em sistemas de
drenagem antes de chegar ao corpo d’água receptor.

Corpo receptor A água pluvial e o efluente da estação de tratamento de esgotos atingem o corpo receptor, onde,
face à diluição e mecanismos de autodepuração, a qualidade da água volta s sofrer alterações.

Reúso Os esgotos tratados podem ser usados, sob certas condições, na agricultura, indústria e no meio
urbano.
Tratamento de esgoto
Tratamento: remover as impurezas físicas, químicas , biológicas e organismos patogênicos do
efluentes.

Objetivos: adequação a uma qualidade desejada ou ao padrão de qualidade vigente.

Consiste em separar a parte líquida da parte sólida do esgoto, e tratar cada uma delas
separadamente, reduzindo ao máximo a carga poluidora, de forma que elas possam ser dispostas
adequadamente, sem prejuízo ao meio ambiente.

Imitando a natureza
Em relação à matéria orgânica, a ETE reproduz a capacidade que os cursos d’água têm
naturalmente de decompor a matéria orgânica, porém em menor espaço e tempo.
Estudos populacionais

Índice de atendimento

A população contribuinte à estação é aquela situada dentro da área do projeto, servida pela rede
coletora, e ligada à mesma. Portanto, a população de projeto é uma fração da população total da
cidade ou da bacia contribuinte à ETE

Aspectos:
a) Condicionantes físicas, geográficas ou topográficas da localidade: sem sempre é possível
atender todas as residências com rede coletora. Deve ser adotadas outras alternativas;

b) Índice de adesão: relação entre a população conectada a rede coletora e a população


potencialmente servida pela tubulação coletora;

c) Etapas de implantação: Varia de acordo com o funcionamento da ETE, afetando a vazão inicial;

d) Implantação de interceptores: Nem toda vazão de esgotos coletada nas residências chega na
ETE. Pode haver necessidade de implantação de interceptação.
Partes do sistema

Rede coletora:

Conjunto de canalizações destinadas a receber e conduzir os esgotos dos edifícios;

Sistema de esgoto predial liga diretamente na rede coletora por uma tubulação (coletor
predial);

Composta de coletores secundários (recebem diretamente as ligações prediais) e coletores


tronco (principal da bacia de drenagem).

Interceptor: Canalização que recebe coletores ao longo de seu comprimento, não recebendo
ligações prediais diretas;

Emissário: Canalização destinada a conduzir os esgotos a um destino conveniente (ETE e/ou


lançamento) sem receber contribuições de marcha;
Corpo de água receptor: corpo de água onde serão lançados os esgotos;

Estação elevatória: Conjunto de instalações destinadas a transferir os esgotos de uma cota mais baixa para uma
cota mais alta;

Estação de tratamento: Conjunto de instalações destinadas à depuração dos esgotos, antes do lançamento.

Normas para projetos de SES

NBR 9648 – Estudo de concepção de sistemas de esgoto sanitário, 1986;


NBR 9649 – Projeto de redes coletoras de esgoto sanitário, 1986;
NBR 12207 – Projeto de interceptores de esgoto sanitário, 1989;
NBR 12208 – Projeto de estações elevatórias de esgoto sanitário, 1989;
NBR 12209 – Elaboração de projetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários,
2011.
Estudo de concepção de SES

Dados e características da comunidade;


Análise do sistema de esgoto sanitário existente;
Estudos demográficos e de uso e ocupação do solo;
Critérios e parâmetros de projeto;
Cálculo das contribuições (doméstica, industrial e de infiltração);
Formação criteriosa das alternativas de concepção.
Estudo dos corpos receptores;
Pré-dimensionamento das unidades dos sistemas desenvolvidos para a escolha da alternativa;
Estimativa de custo das alternativas estudadas;
Comparação técnico-econômica e ambiental das alternativas;
Alternativa escolhida;
Peças gráficas do estudo de concepção;
Memorial de cálculo.
REDES COLETORAS DE ESGOTO

Órgãos acessórios

Esgoto – presença de grande quantidade de sólidos orgânicos e minerais;


Rede coletora – conduto livre;
Necessidade de dispositivos de controle – evitar ou minimizar entupimentos nos pontos
singulares das tubulações (curvas, pontos de afluência) e pontos de acesso a pessoas ou
equipamentos;
Poço de visita (PV): Dispositivo visitável que pode ser substituído por qualquer um dos
dispositivos seguintes;
Terminal de limpeza (TL): Tubo que permite a introdução de equipamentos de limpeza e
substitui o PV no início dos coletores (pontos de montante da rede);
Caixa de passagem (CP): Câmara sem acesso, utilizada em mudanças de material,
direção ou declividade; Tubo de inspeção e limpeza (TIL): Dispositivo não visitável,
permite a introdução de equipamentos de limpeza.
Concepção do sistema de esgotamento sanitário

Concepção do sistema: fase inicial do projeto;

Objetivos:
Identificação e quantificação de todos os fatores intervenientes com o sistema de esgotos;
Diagnóstico do sistema existente, considerando a situação atual e futura;
Estabelecimento de todos os parâmetros básicos de projeto;
Pré dimensionamento das unidades dos sistemas, para as alternativas selecionadas.
Escolha da alternativa mais adequada mediante a comparação técnica, econômica e ambiental, entre as alternativas;
Estabelecimento das diretrizes gerais de projeto e estimativa das quantidades de serviços que devem ser executados na fase
de projeto.

Indicadores de custos
Tipos de esgotamento sanitário

Há basicamente duas variantes:

Sistema individual ou sistema estático (solução local, individual ou para poucas residências);

Sistema coletivo ou sistema dinâmico (solução com afastamento dos esgotos da área servida)
Sistema coletivo – indicado em locais com elevada densidade populacional.
Sistema que destina o esgoto até o destino final, apresentando duas variantes:

Sistema de esgotamento unitário (ou combinado)


Único sistema: águas residuárias (domésticas e industriais), águas de infiltração
(águas do subsolo quem penetram no sistema de tubulações e acessórios) e águas
pluviais, dentro da mesma canalização.

- Custos elevados;
- Grandes dimensões na canalização;
- Riscos com refluxo do esgoto unitário em ocasiões de cheias;
- ETEs mal dimensionadas, não levando em conta a vazão gerada no período de
chuvas;
- Tubulações ociosas em períodos de seca.
Sistema separador: os esgotos sanitários e as águas de chuva são conduzidos ao seu destino final, em
canalizações separadas.

Vantagens:
- Afastamento das águas pluviais;
- menores dimensões das canalizações de coleta;
- possibilidade do emprego de diversos materiais para tubulações de esgoto (tubos cerâmicos, PVC);
- redução de custos e prazos de construção;
- melhoria das condições de tratamento dos esgotos sanitários;
- não ocorrência de extravasão dos esgotos nos períodos de chuva intensa.

Este tipo de sistema se divide em dois.

Sistema convencional – maior parte das cidades;

Sistema simplificado – condominal, empregado como solução econômica de coleta de esgotos em vários
projetos.
Vazão média de esgotos
Variações de vazão

O consumo de água e a geração de esgotos em uma localidade variam ao longo do dia (variações
horárias),ao longo da semana (variações diárias) e ao longo do ano (variações sazonais).

O hidrograma abaixo típico da vazão afluente a uma ETE, ao longo do dia. Pode-se observar os dois
picos principais: o pico do inicio da manhã (mais pronunciado) e o pico do inicio da noite (mais
distribuído). A vazão média diária é aquela na qual as áreas acima e abaixo do valor médio se igualam.
Tem sido prática correspondente a adoção dos seguintes
coeficientes de variação da vazão média de água (CETESB,
1978; Azevedo Neto e Alvarez O, 1977).
K1 = 1,2 (coeficiente do dia de maior consumo)
K2 = 1,5 (coeficiente da hora de maior consumo)
K3 = 0,5 (coeficiente da hora de menor consumo).

Assim, as vazões máxima e mínima de água podem ser dadas


pelas fórmulas:
Qdmáx= Qdméd. K1. K2= 1,8 Qdméd
Q dmín = Q dméd . K3 = 0,5 Q dméd
Efluentes Líquidos Domésticos

Águas residuárias provenientes da utilização de água potável em zonas residenciais e


comerciais;
Caracterizam-se pela grande quantidade de matéria orgânica, nutrientes (nitrogênio e
fósforo) e microorganismos;
Podem conter microorganismos patogênicos provenientes de indivíduos doentes
(propagação de doenças de veiculação hídrica);
Efluentes Líquidos Domésticos
– Composição: Água:99,9% e Sólidos:0,1%
– Sólidos: Substâncias orgânicas:70% e
inorgânicas:30%
– Substâncias Orgânicas: proteínas, carboidratos,
gorduras;
– Substâncias Inorgânicas: Areia, sais e metais;
Características principais:

• altos teores de sólidos totais,


• altos teores de nutrientes e matéria orgânica
• altos números de bactérias do grupo coliformes
• elevada DBO.
Remoção de
matéria
orgânica

Remoção de Por que


tratar os Remoção de
sólidos em
esgotos? nutrientes
suspensão

Remoção de
organismos
patogênicos
Níveis de tratamento

Os estudos de concepção para seleção do processo de tratamento de esgotos a ser empregado, deve definir
com clareza os seguintes aspectos:

- Impacto ambiental do lançamento no corpo receptor;


- Objetivos do tratamento (principais constituintes a serem removidos);
- Nível de tratamento;
- Eficiências de remoção desejadas.

Os processos de tratamento se resumem em:

- Método físico
- Método biológico
- Método químico
MÉTODO FÍSICO
- utiliza forças físicas:
- decantação (usa a força gravitacional)
- floculação (agrupamento das partículas por colisão)
- flotação (usa o arraste dos partículados por pequenas partículas de ar formadas no volume do reator
Tratamento preliminar
Mecanismo básico – remoção física.

As principais finalidades da remoção dos sólidos grosseiros são:


- Proteção dos dispositivos de transporte dos esgotos (bombas e tubulações);
- Proteção das unidades de tratamento subsequentes;
- Proteção dos corpos receptores.

A retirada do excesso de sólidos grosseiros pode ser realizada de forma manual ou mecanizada.

Finalidade da remoção de areia


- Evitar abrasão nos equipamentos e tubulações;
- Eliminar ou reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações, tanques, orifícios, sifões, etc.;
- Facilitar o transporte do líquido, principalmente a transferência de lodo, em suas diversas fases.

A remoção da areia ocorre quando este atinge o fundo do tanque, pois sedimenta mais rápido que a matéria
orgânica que fica suspensa e vai a jusante.
Tratamento Primário
Objetivo: remoção de sólidos em suspensão sedimentáveis, materiais
flutuantes (óleos e graxas) e parte da matéria orgânica em suspensão

lodo primário
Os processos de tratamento são:
- Decantação primária ou simples;
- Precipitação química com baixa eficiência;
- Flotação;
- Neutralização.

Os sólidos suspensos - M. O. em suspensão – sedimenta – reduz a DBO ao


nível seguinte.

Eficiência de remoção:
- Sólidos suspensos = 60 – 70%
- DBO = 25 – 30%

A eficiência pode ser aumentada – adição de agentes coagulantes (tratamento


primário avançado)

Coagulantes – sulfato de alumínio – cloreto férrico.

Como consequência ocorre maior geração de lodo


Decantação (Remoção de Sólidos Sedimentáveis)

Finalidade: reter parte dos sólidos sedimentáveis, bem como o material que tende a flotar.
Reduz a carga orgânica, minimizando os custos de implantação e operação no tratamento biológico.

Classificação:
– Quanto a geometria;
–Dispositivo remoção de lodo;
–Fundo;
–Sentido do Fluxo.
Flotador

Finalidade: remoção de óleos e graxas e sólidos em suspensão. •Dispositivo: separação dos sólidos com
aplicação de ar.

Eficiência:
– DBO: 40 a 50%;
– SS: 50 a 70%
Filtração

Finalidade: remoção de sólidos em suspensão, cor e até mesmo DBO.

Dispositivo: passagem do efluente por camada de meio filtrante, que pode ser simples ou dupla (gravidade).
Filtros de Areia – partículas>20µm

Pressurizado com elemento filtrante pré-fabricado–partículas <5µm

Necessidade de retrolavagem

Coagulação
Coagulantes:
–Sulfato de alumínio (sólido ou líquido)
–Cloreto férrico (líquido)
–Sulfato férrico (líquido)
–Cloreto de polialumínio (sólido ou líquido)
–Sulfato ferroso (sólido ou líquido)
–Coagulantes orgânicos catiônicos (sólido ou líquido).
Floculação

As partículas coloidais são colocadas em contato umas com as outras de modo a permitir o aumento do seu
tamanho físico, alterando, desta forma, a sua distribuição.

•Gradiente de velocidade: 20 a 1000 s-1


•Tempo de detenção: 10 a 30 min
•Dosagem dos coagulantes: Tanques com misturadores ou com chicanas
Precipitação Química

Finalidade: É o processo de adição de reagentes no efluente visando, acelerar a


sedimentação (coagulação e floculação) e a transformação de substâncias solúveis em
compostos insolúveis de fácil decantação.

Depende da concentração do metal e do pH da água.

Cada metal possui faixa de pH ótimo para precipitação


– Ferro e Cobre: 7,00 < pH < 9,00
– Níquel e Cadmio: 10,00 < pH < 11,00
– Zinco: 9,00 < pH < 9,50
Adsorção

Finalidade:

Remoção de compostos orgânicos naturais ou sintéticos dissolvidos, incluindo COV’s, pesticidas, PCB’s e
metais pesados.

Dispositivo:

Filtro de Carvão Ativado Granular ou Adição de Carvão Ativado em pó, onde os contaminantes são adsorvidos,
isto é, o contaminante é transferido para micro-poros da superfície das partículas de carvão ativado.

Outros materiais: Argila Organofílica Granular, Zeólitas Naturais e Sintéticas, Resinas de Troca Iônica

Eficiência:
– DBO – entre 2 e 7 mg/L
– DQO –10 e 20 mg/L
Caso haja mais de uma etapa ou unidade em série ao longo do tratamento, as eficiências não são aditivas. O
cálculo da eficiência global de remoção é feito de forma multiplicativa, com base nas frações remanescentes,
sendo dado por:
Ex.: remoção de coliformes ao longo de
lagoas em séries.

Duas lagoas com eficiência de remoção


de 80 % e 90 %, respectivamente.

E = 1 – [(1-0,80) x (1 -0,90)] =
1 – 0,2 x 0,1 = 1 – 0,02 = 0,98 = 98 %
Exercício – revisão

Considerando uma situação hipotética na qual a população atendida é de 5220


habitantes, o consumo per capita de água é de 200 l/hab.dia, o coeficiente de variação
diária da vazão é 1,20, o coeficiente de variação horária da vazão é 1,50 e a taxa de
retorno esgoto/água é 0,80, a vazão máxima horária (l/dia) de contribuição de esgoto
para o cálculo de um coletor de esgoto é de:
A figura a seguir, representa uma estação de tratamento de efluente (ETE), onde estão apresentados métodos de
tratamento. Conforme exposto:

Admita que na entrada, o efluente apresente as seguintes características:


I – 3. 233 mg/L de sólidos suspensos;
II – 5.128 mg/L de DBO;
III – 7.891 mg/L de DQO.
 
Na passagem do efluente primário para efluente secundário, há uma eficiência universal de 75% e considere a lagoa de
estabilização como sendo do tipo facultativa com sua possível taxa de remoção de 80 %. Sendo assim, apresente:
a) valores de lançamento do efluente.

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