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METAIS PESADOS

Os metais são provavelmente as mais velhas toxinas


conhecidas para os humanos.
Uso de chumbo pode ter começado 2000 a.C., quando suprimentos abundantes
eram obtidos a partir de minérios como um subproduto da fundição de prata. É
creditado a Hipócrates, em 370 a.C., a primeira descrição de cólica abdominal em um
homem que extraia metais. Arsênico e mercúrio são citados por Theophrastus de
Erebus (370-287 a.C.) e Plínio, o Velho (23-79 d.C). Arsénio era obtido durante o
derretimento de cobre e estanho, e um dos primeiros usos foi para a decoração em
túmulos egípcios. Em contraste, muitos dos metais de preocupação toxicológica hoje
são apenas recentemente conhecida para seres humanos. O cádmio foi reconhecido
pela primeira vez em minérios contendo carbonato de zinco em 1817. Cerca de 80
dos 105 elementos da tabela periódica são considerados metais, mas menos do que
30 são relatados por produzir toxicidade em seres humanos.
METAIS PESADOS
Têm densidade superior a 6 g/cm3 e ocorrem naturalmente em rochas, mas se
estiverem em uma concentração alta no solo, resulta em contaminação. Os
metais pesados pertencem ao grupo dos elementos geoquimicamente descritos
como “ elementos traços” que juntos compõem menos de 1% das rochas da
crosta.

Vamos falar sobre 4 metais pesados: Hg, Pb, Cd e As


Estes quatro metais representam os mais problemáticos poluentes para o meio
ambiente por causa de suas utilizações importantes, suas toxicidades e suas
distribuições amplas.

Metais são diferentes dos compostos orgânicos tóxicos porque eles são
totalmente não biodegradáveis → eles são “indestrutíveis” e podem se acumular
no meio ambiente.

Metais pesados são poluentes da água e do solo → contaminantes da nossa


alimentação (vegetais, peixe, etc...)

A maior parte da contaminação acontece via deposição atmosférica.


DEFINIÇÃO
A definição de metais pesados é baseada na densidade da forma elementar do metal, e
classifica os “metais pesados” como aqueles metais com densidades elementares acima de 7
g/cm3 (Bjerrum, 1936 apud Duffus, 2002). Como passar dos anos esta definição foi sendo
modificada por vários autores. Em 1964, os editores da Enciclopédia Internacional de Ciência
Química, Van Nostrand’s e em 1987, os editores do Dicionário Químico, Grant e Hackh’s
incluíram os metais com a densidade maior que 4 g/cm3. Mais tarde, em 1989, 1991 e 1992,
Parker, Lozet e Mathieu, e Morris escolheram uma densidade definindo-a como maior que 5
g/cm3. Porém, Streit usou a densidade de 4,5 g/cm3 como seu ponto de referência, e
Thornton escolheu 6 g/cm3. Portanto, não existe um consenso sobre a definição de metais
pesados com base na densidade (Duffus, 2002).
Algumas definições têm sido formuladas com base no número atômico ou massa molar,
o que nos leva a tabela periódica, tradicionalmente a classificação química mais correta e
cientificamente informativa dos elementos. Porém, estes critérios ainda não são claros e
apresentam algumas inconsistências (Duffus, 2002).
Segundo Duffus, (2002) uma classificação dos metais e seus compostos baseada em
suas propriedades químicas é necessária. Tal classificação poderia permitir uma
interpretação das bases bioquímicas para toxicidade. Portanto, conhecer a biodisponibilidade
passa a ser a chave para a avaliação do potencial de toxicidade dos elementos metálicos e
seus compostos. A biodisponibilidade depende de parâmetros biológicos e das propriedades
físico-químicas dos elementos metálicos, seus íons e compostos.
Due to our experience of reviewing scientific papers for a number of
environmental journals, we strongly suggest removal of “heavy metals”
from all future key-words lists, and replacement in the title, abstract,
and full text of every newly submitted paper with words like “potentially toxic
metal(s)/element(s)” or “trace metal(s)/element(s)”, according to the context.
TOXICIDADE DOS METAIS PESADOS
Os metais pesados como elemento neutro não são particularmente tóxicos.
Exceto o mercúrio: vapor de mercúrio é altamente tóxico.

Metais ligados a pequenas cadeias orgânicas são muito tóxicos.

Metais pesados na forma catiônica são tóxicos → POR QUE?

→ Os cátions metálicos tem uma grande afinidade pela função


tiol (SH). Enzimas que contem cisteína vão rapidamente se
complexar com o cátion metálico. A ligação metal-enzima vai
afetar a enzima inteira e vai prejudicar a saúde humana, e pode
causar, em alguns casos, a morte. O

H2N CH C OH
M2+ + enz-SH → enz-S-M-S-enz + 2H+
CH2 cisteina
Sistema estável

SH
Intoxicação com metais pesados: O QUE FAZER?

Administração de uma substância que vai ter mais afinidade pelo o metal do
que a enzima. Complexo (substância-metal) vai se solubilizar e ser eliminado
do corpo.

 BAL (British Anti-Lewisite)


BAL (2,3-dimercaptopropanol) foi o primeiro agente quelante usado em clínica. Foi
desenvolvido durante a segunda guerra mundial contra gases contendo arsênio.
→ BAL é tóxico

H H
H2C C CH2 M2+ H2C C CH2
+ 2 H+
OH SH SH OH S S

BAL M
 EDTA
 OUTRAS SUBSTÂNCIAS
MERCÚRIO
•Nome: Mercúrio
•Símbolo: Hg
•Número atômico: 80
•Massa atômica: 200.59
•Nox: +2
•Densidade: 13,5 g/cm3
•Ponto fusão: -39°C
•Ponto ebulição: 357°C

1) Elemento livre

Hg vem do latim HYDRARGYRUM = prata líquida


O mercúrio é o único metal líquido a temperatura ambiente

Hg é o metal pesado mais preocupante porque ele é o mais


tóxico
MUITAS APLICAÇÕES:

- termômetro: por causa de sua expansão


uniforme com a temperatura

- Ampolas fluorescentes

- Lâmpadas de mercúrio

- Pesticidas, como fungicida

- Pilha, bateria

- Interruptores elétricos

- Eletrodo para a formação de cloro

- Amalgama → - dentista
- extração de ouro
O mercúrio é o mais volátil de todos os metais e seu
vapor é muito tóxico.

PORQUÊ: vapor de Hg passa dos pulmões para o sangue, depois passa


a barreira hematoencefálica (sangue/cérebro) e provoca danos no sistema
nervoso central. → perda do toque, coordenação, etc...

Mercúrio líquido não é muito tóxico, uma vez ingerido, ele vai ser
excretado, mas mesmo assim não devemos manipular as gotas de Hg por
causa dos vapores de Hg. Ambiente fechado com contaminação de Hg
são perigosos.
FONTES PRINCIPAIS

A) Antrópicas

1- Combustão do carvão mineral ou do óleo diesel (pode atingir


algumas centenas de ppm em alguns carvões). Os EUA possuem 440
usinas termoelétricas acionadas por carvão que liberam 48
toneladas de Hg por ano.

→ VAPOR de Hg

2- Incineração de lixo municipal contendo


produto com Hg, baterias, por exemplo

→ VAPOR de Hg
B- Natural

Vulcões: principal fonte de Hg.

A maior fonte de mercúrio é a desgaseificação natural da


crosta terrestre, incluindo áreas de terra, vulcões, rios e
oceanos. O vulcão Kilauea (Avaí) produz 270 toneladas de Hg
por ano.

Quantidade produzida pelos vulcões (A) = quantidade


produzida por fontes antrópicas (B)
Somando todas as fontes (A+B) → 10.000 toneladas por ano

No ar, a maioria do Hg é VAPOR de Hg


.

OUTRAS FONTES:

Extração de ouro do minério,


cianetação:
Alemanha, República Checa, Hungria, Costa
Rica, os estados de Montana e Wisconsin dos
Estados Unidos e muitas regiões da
Argentina baniram a mineração do ouro com
essa técnica. Ainda assim, quase 90% de todo
o ouro extraído em todo o mundo é feito pela
cianetação.
RISCOS POSSÍVEIS

Um estudo sobre as regiões alagadiças


tornou o quadro ainda mais sombrio.
Pântanos no Alaska e no norte do
Canadá servem como depósitos naturais
de Hg, já que o metal adere naturalmente
à turfa úmida e se converte em metil
mercúrio. Isso não é problema desde que
o Hg não se desloque. Mas as secas
cada vez mais frequentes (provável
consequência do aquecimento global)
levam a incêndios, o que faz com que as
regiões alagadas liberem o Hg
acumulado durante séculos. “Há
mercúrio em acumulação desde o
começo da revolução industrial”, diz
Merritt Turetsky, da Universidade do
Michigan.

Fonte: ISTOÉ , 27 de setembro 2006, n.1927


2) Amálgama de mercúrio

O mercúrio forma rapidamente amálgamas: soluções ou ligas com


qualquer outro metal ou combinação de metais.

 Amálgama dentária: 50% Hg + 50% mistura Ag+Sn

O vapor de mercúrio emitido das amálgamas de obturação dentária é a


maior fonte de vapor de mercúrio que afeta o público em geral. A
mastigação aumenta a taxa de liberação. Contudo, a quantidade inalada é
baixa comparativamente aos níveis tóxicos conhecidos. Em alguns
indivíduos com história de mastigação excessiva pode-se atingir níveis que
colocam a saúde em risco. Alguns países, como a Alemanha, baniram o
uso do mercúrio na amálgama dentária, trocando-as por resinas sintéticas.

 Espelho =Amálgama Hg + Sn (passado)


hoje se usa alumínio.
 Garimpo do Ouro ou Prata

Pequena quantidade de ouro ou prata pode ser extraída de grande


quantidade de lama ou sedimentos adicionando mercúrio metálico
elementar à mistura. Isso extrai o ouro ou a prata formando um amálgama.
O aquecimento faz destilar o mercúrio e o metal precioso é recuperado
como mostrado na figura.

A contaminação ocorre nesses dois momentos, quando


o mercúrio escapa para a água e para a atmosfera.

Entre 1570 e 1900, esse processo foi usado para extrair prata nas Américas
Central e do Sul
→ 1 grama de mercúrio foi perdido no meio ambiente para cada grama de
prata produzida
→ liberação de 200.000 toneladas de mercúrio.

Hoje, esse método é ainda usado de maneira ilegal em grande escala no


Brasil, sobretudo, para extrair o ouro a partir dos sedimentos dos rios da
Amazônia.
→ destilação do amálgama provoca poluição do ar e do rio
→ intoxicação dos trabalhadores → enfraquece o sistema imune
→ sujeito a outra doença
37 t de mercúrio contaminam comunidades
                                       

Um estudo realizado pelo Cetem (Centro de Tecnologia Mineral), instituto ligado ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, indica que os níveis de contaminação por mercúrio nos solos, nas
plantas, nas águas, nos peixes e até nos moradores da Reserva Garimpeira da Bacia do
Tapajós, no Pará, estão acima das concentrações máximas aceitas pela OMS (Organização
Mundial da Saúde). O garimpo do Tapajós é a origem de metade de todo o ouro extraído no
Brasil.
Um grupo de 23 pesquisadores do Cetem coletou em 2003 mais de mil amostras ambientais e
biológicas nas pequenas comunidades de São Chico e Creporizinho, que pertencem ao
município de Itaituba, no sudoeste paraense. Eles constataram que, no caso dos peixes, 60%
tinham teores altíssimos de mercúrio no organismo. E estimaram em 37 toneladas o total
desse metal liberado nos rios e na atmosfera nos últimos 15 anos somente nas duas
comunidades.
Os limites da Organização Mundial da Saúde foram ultrapassados também nas plantas. Na
comunidade de São Chico, por exemplo, 18 amostras de vegetais chegaram a ter 2.400% do
metal acima do valor aceitável. A concentração máxima de mercúrio, 1.280 partes por milhão
(ppm), foi observada numa teia de aranha coletada numa loja de ouro na vila.
Complica a situação a grande mobilidade do mercúrio. "Por ser um metal pesado, sofre
poucas transformações. O mercúrio que vai para o rio, por exemplo, alcança grandes
distâncias, até 20 quilômetros", diz Saulo.
Depois de coletado, o ouro é posto em contato com o mercúrio, que o separa de outros
materiais. Em seguida, é feita a queima do amálgama (mercúrio misturado com ouro) para
purificar o ouro. A contaminação ocorre nesses dois momentos, quando o mercúrio escapa
para a água e para a atmosfera.
Saúde - No caso da saúde da população ribeirinha daquelas comunidades, a pesquisa analisou as duas
principais vias de exposição ao mercúrio: pelo vapor liberado durante a queima do amálgama e pelo
consumo do peixe dos rios. Isso foi feito por meio da análise de amostras de sangue, urina e cabelo.
Os sintomas nas comunidades ainda não são agudos. Mas, como o efeito da contaminação é
cumulativo, deverão aparecer a longo prazo. Muitos moradores da região já reclamam: 50% relataram
gosto metálico na boca, tremor e palpitação e 40% tinham sensações de formigamento, adormecimento ou
ardência nas mãos e nos pés.
A doença decorrente da intoxicação de mercúrio ficou conhecida como mal de Minamata. Na década
de 1950, milhares de pessoas que se alimentavam de peixes e de frutos do mar na baía de Minamata, no
Japão, desenvolveram sintomas no sistema nervoso e cérebro. O mercúrio era jogado por uma indústria
química num rio que desaguava no mar.
"Até hoje não há uma conclusão epidemiológica de quantas pessoas de fato foram afetadas porque os
estudos realizados na época eram precários", explica o toxicologista Sergio Graff. "Mas o resultado da
catástrofe foi no mínimo de 1.400 mortes."
Esse projeto de conscientização ganhou uma concorrência
mundial preparada pela ONU (Organização das Nações Unidas) e
se tornou o braço brasileiro do Projeto Mercúrio Global, cujo
objetivo é diminuir a poluição por mercúrio em águas
internacionais. Há iniciativas semelhantes em países como Laos,
Sudão e Tanzânia.
A verba da ONU para o Projeto Mercúrio Global é de US$ 3
milhões para 6 países. No Brasil, foram gastos US$ 130 mil.
Cerca de US$ 34 mil serão para a campanha de esclarecimento.
O Cetem ainda não sabe qual é o custo da fase final, mas crê
que os equipamentos novo estarão listados até o fim do ano.  O
Cetem
coordena o projeto junto com o Instituto Evandro Chagas e a
Fundação Nacional de Saúde.
3) O Mercúrio e o Processo Cloro-Soda

Em algumas plantas industriais de álcalis clorados, é usado um amálgama de sódio e


mercúrio no processo que converte cloreto de sódio aquoso nos produtos comercias cloro e
hidróxido de sódio (e hidrogênio) por eletrólise. Com o objetivo de formar uma solução pura e
concentrada de NaOH, é usado mercúrio líquido como eletrodo negativo (cátodo) da célula
eletroquímica. O sódio metálico produzido na eletrólise por redução combina-se com
mercúrio, sendo removido da solução de cloreto de sódio sem reagir com o meio aquoso.
Na+(aq)+ e- → Na (em amálgama Na/Hg)
Hg

Quando metais como o sódio são dissolvidos em amálgamas, suas reatividades são
grandemente diminuídas, se comparadas àquelas do estado livre, de forma que o sódio
elementar, que de outra maneira seria altamente reativo, não reage com a água da solução
original quando na forma de amálgama Na-Hg. Uma vez formado, o amálgama é removido e
posteriormente levado a reagir com água, mediante a aplicação de uma pequena corrente
elétrica, em uma câmara separada, produzindo assim hidróxido de sódio livre de sal. O
mercúrio é então recuperado e reciclado para a célula original. (Figura 2)
Contudo, nem todo o mercúrio é reciclado, uma pequena parte é lançada no ar e vertida
no rio do qual é obtida a água de refrigeração da planta e para o qual retoma. Embora o
mercúrio líquido não seja nem solúvel em água nem em ácido diluído, evidentemente ele
pode ser oxidado até formas solúveis mediante a intervenção de bactérias presentes nas
águas naturais. Por esse mecanismo, o mercúrio torna-se acessível aos peixes.
Processo Cloro-Soda

figura 2
A massa de mercúrio procedente dessas plantas de cloro perdida para o
ambiente tem diminuído enormemente desde que o problema foi identificado na
década de 60. Não obstante, as instalações na América do Norte que usam
eletrodos de mercúrio estão sendo eliminadas gradativamente e substituídas por
plantas que utilizam membranas à base de fluorocarbonetos para separar a
solução de cloreto de sódio da solução livre de cloretos no eletrodo negativo; a
membrana é projetada de maneira a permitir a passagem unicamente do Na+,
mas impede a permeação dos ânions (figura 3). Em ambos tipos de células, a
reação global é:

2 NaCl(aq) + 2 H2O → 2 NaOH(aq) + Cl2(g) + H2(g)

As plantas de cloro-soda contribuíram com cerca de 7 das 158 toneladas de


mercúrio emitidos no ambiente nos Estados Unidos no período entre 1994 e
1995. Na Europa, os processos nos quais se utiliza o mercúrio ainda originam-se
aproximadamente dos dois terços da produção de cloro, embora as emissões do
metal por estas instalações sejam aparentemente muito pequenas.
figura 3
4) Mercúrio Iônico: Hg2+

Minério = Hg2+S2- : muito insolúvel em água

HgS(s) + O2(g) → Hg(g) + SO2(g)

Nas minas romanas, o tempo de vida dos escravos era em media de 6 meses !

Hg(NO3)2 é solúvel em água e era usado antigamente para tratar o couro usado para a
fabricação dos chapéus. (deixa o couro mais maleável)
→ trabalhador do ramo de chapéus sofriam com frequência de desordens nervosas:
tremores musculares,depressão, perda de memória, paralisia e demência
→ Chapeleiro Maluco de Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll
O Hg2+ como o vapor de mercúrio ataca o sistema nervosa central mas os principais
órgãos-alvo do Hg2+ são os rins e o fígado, onde pode causar graves danos
Baterias=“pilhas de mercúrio”
bateria de botão contêm Hg2+O2-

Ânodo: Zn(s) + 2OH-(aq) → ZnO(s) + H2O(l) + 2e-


Cátodo: HgO(s) + H2O(l) + 2e- → Hg(l) + 2OH-(aq)

→ 1,35 V
→ formação de Hgo
→ incineração das baterias emite vapor de Hgo na atmosfera.
bateria de pilha botão
5) Formação do Metil-mercúrio (HgCH3+ )

Hg2+ vai formar ligações covalente com ânions como Cl- ou CH3-
→ HgCl 2 ou Hg(CH3)2

O processo de formação de dimetilmercúrio Hg(CH 3)2 ocorre nos sedimentos de rios e


lagos, especialmente sob condições anaeróbias, quando bactérias e microrganismos
anaeróbios convertem Hg2+ em Hg(CH3)2.
O agente ativo do processo de metilação é um constituinte comum dos
microrganismos: derivado da vitamina B12 com um ânion CH3- ligado a um cobalto =
METILCOBALAMINA

O dimetilmercúrio Hg(CH3)2 evapora da água com facilidade (figura 4).

O metil-mercúrio, HgCH3+ (sob as formas HgCH3Cl ou HgCH3OH) é formado da


mesma maneira que o Hg(CH3)2 mas de maneira mais rápida (sobretudo em condições
neutras ou ácidas).

O metilmercúrio, HgCH3+ é a forma mais tóxica do mercúrio

Ordem de toxicidade : 1- HgCH3+


2- vapor de Hg
X = CH3- METILCOBALAMINA
X = 5'-deoxyadenosine adenosylcobalamin ( "coenzyme B12")
X = SO3- sulphitocobalamin
X = CN- cyanocobalamin ("vitamina B12")
oxidação

(peixe)

figura 4
Excreção do HgMe+ pela membrana plasmática dos microrganismos anaeróbios

Espaço extracelular

água do mar ( ou rio) +


H3C Hg

cabeças hidrof ílicas

bicamada fosf olipídica caudas hidrof óbicas

cabeças hidrof ílicas

Interior metilcobalamina
+
Hg2+ H3C Hg
citoplasma
O Metil-mercúrio HgCH3+ é mais perigoso porque é solúvel nos tecidos
gordurosos dos peixes e animais em geral
→ BIOACUMULAÇÃO e BIOMAGNIFICAÇÃO
HgCH3+X-
ingerido , complexação com proteínas contendo cisteína

HgCH3-S-Prot (solúvel em qualquer tecido biológico)

atravessa a barreira atravessa a barreira da


hematoencefálica placenta
sangue/cérebro

CONTAMINAÇÃO DO FETO
CÉREBRO= Alvo do HgCH3+
→ problemas neurológicos
→ MORTE
A maior parte do mercúrio presente em seres humanos encontra-se na
forma de HgCH3+ → vem do consumo de PEIXES
80% do Hg contido no peixe está na forma de HgCH3+

HgCH3+
ALIMENTAÇÃO ATRAVÉS DAS BRÂNQUIAS: HgCH3+ DISSOLVIDO NA ÁGUA
CONTAMINADA VAI SE DIFUNDIR NO PEIXE E DISSOLVER NA PARTE
GORDUROSA

BIOMAGNIFICAÇÃO DO
METILMERCÚRIO HgCH3+
PEIXE

HgCH3+ HS-Prot
na parte gordurosa HgCH3-S-Prot = solúvel em
do peixe qualquer tecido biológico

DISTRIBUIÇÃO NO PEIXE INTEIRO ≠ ORGANOCLORADO QUE


FICAM SOMENTE NA GORDURA
BIOMAGNIFICAÇÃO DO METILMERCÚRIO HgCH3+

A RAZÃO [HgCH3+]músculo do peixe = 1,0-10 milhões


[HgCH3+]água

Maior a idade do peixe, maior será a concentração


de metil-mercúrio.
Concentração superior a 1ppm são encontrada em
peixes predadores de vida longa

→ atum (30-40 anos), tubarão, peixe-espada =


peixes do mar
→ perca, truta, lúcio = peixes de rio
TOXICIDADE DO METILMERCÚRIO HgCH3+

A meia-vida dos compostos de metil-mercúrio em seres humanos,


de cerca de 70 dias, é muito maior que a dos sais de Hg2+ , devido à
sua afinidade pelos átomos de enxofre dos grupos sulfidrila e a sua
grande solubilidade em ambientes lipídicos. Em consequência, o
metil-mercúrio pode se acumular no organismo em concentrações
muito maiores que aquelas observadas no estado estacionário,
mesmo que uma pessoa consuma diariamente quantidades que,
consideradas individualmente, não seriam prejudiciais. A maioria dos
problemas ambientais envolvendo o mercúrio, que são objeto de
grande divulgação, reside no fato de que a forma metilada é um
veneno cumulativo.
Em 1977, a pesquisadora americana em oncologia Karen Wetterhahn, do
Dartmouth College, morreu de envenenamento por mercúrio 10 meses
depois que uma ou duas gotas de dimetilmercúrio puro penetraram através
das luvas de látex que estava usando enquanto manipulava o composto em
experimentos.

Testes revelaram, mais tarde, que o


dimetilmercúrio pode, de fato, permear
rapidamente diferentes tipos de luvas de
látex e ser absorvido pela pele em,
aproximadamente, 15 segundos.

https://www.youtube.com/watch?v=h049Hgfk-BI
Acidente de Minamata (Japão, 1956)
Na cidade de pescadores de Minamata, Japão, uma planta química da
indústria química Chisso, que utilizava Hg2+ como catalisador no
processo de produção de cloreto de polivinila, descarregou resíduos que
continham mercúrio em um rio que desaguava no mar da Baía de
Minamata; o metilmercúrio formado acumulou-se, então, em níveis que
atingiram 100 ppm nos peixes, que eram o componente principal da dieta
de muitos residentes locais. Para fins comparativos, é útil mencionar que
o limite de mercúrio atualmente recomendável na América do Norte para
peixes destinados ao consumo humano é de 0,5 ppm.
Milhares de pessoas foram afetadas, por envenenamento, em Minamata devido ao mercúrio
procedente desta fonte nos anos 50, o que ocasionou a morte de centenas delas. Em razão dos
sintomas iniciais nos seres humanos serem retardados, os primeiros sinais da "doença de
Minamata" foram observados em gatos que tinham comido peixe descartado: eles começavam a
pular e a se contorcer, corriam em círculos e, finalmente, lançavam-se na água e afogavam-se. Os
sintomas nas pessoas começaram por disfunções do sistema nervoso central, visto que o órgão-
alvo do metilmercúrio é o cérebro; os sintomas incluem dormência em braços e pernas, visão
nebulosa e mesmo perda da visão, perda de audição e da coordenação muscular, letargia e
irritabilidade. Dado que o cloreto de metilmercúrio pode passar para o feto, as crianças nascidas
de mães envenenadas por mercúrio, mesmo levemente, apresentaram danos cerebrais profundos
(figura 5) , algumas em grau fatal. Elas manifestaram sintomas similares aos da paralisia cerebral:
retardamento mental e distúrbios motores e mesmo paralisia. O envenenamento de Minamata
deve seguramente ocupar um dos primeiros lugares na classificação dos principais
desastres ambientais dos tempos modernos.
A Organização Mundial da Saúde concluiu que a ocorrência de níveis de 10-20 ppm de
metilmercúrio no cabelo indicam que uma mulher grávida possui metilmercúrio suficiente em seu
sangue para afetar o desenvolvimento do feto. Isso coloca em risco o desenvolvimento dos fetos
em mais de 30% das mulheres de algumas comunidades nativas do norte do Canadá, em que o
peixe constitui parte importante de sua dieta.
Acidente de Minamata (Japão, 1956)

É importante notar que, embora descoberta em 1956, a Chisso Corporation poluía a água com
mercúrio desde 1932 e continuou a fazê-lo até 1968, ano em que o governo finalmente reconheceu
oficialmente a doença de Minamata como uma doença decorrente da poluição industrial. Foi então que
a Chisso interrompeu a produção de acetaldeído usando mercúrio como catalisador. O desastre de
Minamata durou 36 anos.
https://www.slideshare.net/iyaselex/minamata-mercury-pollution
Pescador japonês na Baia de Minamata. Depoimento: "É somente o mar, e eu posso
confiar. Quando alguém diz para mim que o mar está sujo, eu quero agredi-lo. Como
ousam dizer que o mar está sujo? Não é o mar que está sujo, não é o mar que está
errado. O mar é a minha vida, o mar é a minha religião."

Face angustiante de paciente da Doença de


Minamata, sob observação de um grupo de
médicos, do Governo Japonês e da Chisso
Co.

figura 5
ATENÇÃO ao CAÇÃO !!!
Guia de Consumo de Mercúrio em Peixes

A lista abaixo mostra a quantidade de vários tipos de peixe que uma


mulher que está grávida ou planear engravidar podem comer com
segurança, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.

Sobre as categorias de nível de mercúrio: As categorias constantes da


lista são determinadas de acordo com os seguintes níveis de mercúrio
na carne de peixes testados.

Menos teor de mercúrio (LEAST MERCURY ): menos de 0,09 partes por


milhão

Teor moderado de mercúrio (MODERATE MERCURY) : de 0,09 a 0,29


partes por milhão

Teor alto de mercúrio (HIGH MERCURY ): de 0,3 a 0,49 partes por milhão

Maior teor de mercúrio (HIGHEST MERCURY ): mais de 0,5 partes por


milhão
MENOS MERCÚRIO MERCÚRIO MODERADO MERCÚRIO ALTO
Aproveite estes peixes: Coma seis porções ou menos por mês: Coma três porções ou menos por mês:
Anchovas Robalo (listrado, preto) Garoupa
Butterfish Carpa Cavala
Bagre Bacalhau Robalo (Chileno)
Amêijoa Corvina Atum (Albacora em conserva)
Siri Alabote-do-Pacífico Atum (Albacora)
Lagostins Lagosta
Linguado Cabeçudo MERCÚRIO MAIS ALTO
Arinca Tamboril Evite comer:
Pescada Peixe-carvão-do-pacífico Cavala (Rei)
Arenque Rajidae Marlim
Sarda Vermelho peixe-relógio
Tainha Atum (Pedaço em lata) Tubarão
Ostra Atum-bonito Peixe-espada
Perca Fraco (Truta do mar) Pira
Solha Atum (Bigeye, Ahi)
Escamudo
Salmão *
Sardinha
Vieira
Sável
Camarão
Linguado
Lula
Tilápia
Truta
Badejo

* O salmão cultivado pode conter PCBs, produtos químicos com graves


efeitos para a saúde a longo prazo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
PORTARIA Nº- 2.914, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2011
Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle
e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade, e dá outras providências.
Art.14. A água potável deve estar em conformidade com o padrão de
substâncias químicas que
representam risco para a saúde expresso na Tabela 3, a seguir:

Mercúrio Valor Máximo Permitido= 0,001mg/L

RESOLUÇÃO CONAMA No 357, DE 17 DE MARÇO DE 2005


Art. 14. As águas doces de classe 1 observarão as seguintes
condições e padrões:

Mercurio total 0,0002 mg/L Hg

Art. 16. As águas doces de classe 3 observarão as seguintes


condições e padrões:

Mercurio total 0,002 mg/L Hg

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