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PAREYSON 1993 - Teoria da Formatividade.

II - FORMAÇÃO DA OBRA DE ARTE


TENTATIVA E ÊXITO
Texto dividido em onze tópicos.
■ 01. O formar como "fazer" inventando o "modo de fazer"
■ 02. A forma como sucesso e o formar como tentar
■ 03. O critério do resultado fora da arte: lei e regra
■ 04. "Artisticidade" de toda operosidade humana
■ 05. Na arte, o resultado é critério em si mesmo
■ 06. A regra individual da obra é a única lei da arte
■ 07.
■ 08. O tentar artístico não é destituído de guia
■ 09. Simultaneidade de invenção e execução
■ 10. As tentativas são guiadas pelo presságio da descoberta
■ 11. Forma formante e forma formada
■ 12. Do insight à obra
01. O formar como "fazer" inventando o "modo de fazer“

02. A forma como sucesso e o formar como tentar

Nos supracitados tópicos Pareyson dissertará sobre a estrutura e


funcionamento de sua teoria estética.
O formar como "fazer" inventando o "modo de fazer”

“Fazer é verdadeiramente um formar somente quando não se


limita a executar algo já idealizado [...] mas no próprio curso da
operação inventa o modus operandi, e define a regra da obra
enquanto realiza, e concebe executando, e projeta no próprio ato
que a realiza.” PAREYSON (p. 59)
O formar como "fazer" inventando o "modo de
fazer"

“Formar é um fazer tal que, ao fazer, inventa o modo de fazer”


PAREYSON (p. 59)

“Somente quando a invenção do modo de fazer é simultânea ao


fazer é que se dão as condições para uma formação qualquer,
formação onde o inventar a própria regra no ato que, realizando
e fazendo, já se aplica.” PAREYSON (p. 60)
O formar como "fazer" inventando o "modo de
fazer"

“... o modo de fazer em que se procura inventar é, ao mesmo


tempo o único modo em o que se deve fazer pode ser feito e o
modo como se deve fazer.” PAREYSON (p. 60)
O formar como "fazer" inventando o "modo de
fazer"

Ao longo dessa primeira parte do texto o autor explica a


operação formativa, a qual se alicerça em quatro preceitos
fundamentais:
. Fazer
. Invenção
. Simultaneidade
. Regra
O formar como "fazer" inventando o "modo de
fazer"

Quando Pareyson pensa a obra de arte como um artefato


material e simbólico que se elabora no ato de sua feitura, em um
processo simultâneo de composição de ideias, modo de fazer e
as regras de execução ele parece querer se afastar de uma
tradição cujo plano ideal se sobrepõe a concretude do fenômeno
da existência em si. Nesse sentido, o autor, valoriza o fenômeno
em si e não a idealização anterior ao fenômeno e/ou julgamento
prévio do mesmo.
A forma como sucesso e o formar como tentar

“... Não se pode penetrar a natureza da forma e do formar se


não se capta o inseparável vínculo que os une respectivamente
com o sucesso e com o tentar.” PAREYSON (p. 60)

“êxito é tal que somente quando completamente realizado


mostra claramente a própria lei, enquanto antes, enquanto antes,
quando ainda em curso o processo não há norma evidente e é
preciso descobri-la no mesmo ato em que a opera.” PAREYSON
(p. 60)
A forma como sucesso e o formar como tentar

“Uma vez atingido, o êxito é indissolúvel e se mantém por uma


sólida e férrea lei de coerência, e mostra com evidência a própria
regra.” PAREYSON (p. 60)
A forma como sucesso e o formar como tentar

“... o sucesso pressupõe um fazer que deve ser ao mesmo tempo


invenção do modo de fazer” PAREYSON (p. 61)

“E para descobrir e encontrar como fazer a obra é necessário


proceder por tentativa, isto é figurando e inventando várias
possibilidades que se devem testar através da previsão do seu
resultado e selecionar conforme sejam ou não capazes de resistir de
tal sorte que de tentativa em tentativa e de verificação em
verificação se chegue a inventar a possibilidade que se deseja”
PAREYSON (p. 61)
A forma como sucesso e o formar como tentar

“O Formar, portanto, é essencialmente um tentar, porque consiste


em uma inventividade capaz de figurar múltiplas possibilidades
e ao mesmo tempo encontrar entre elas a melhor, a que é exigida
pela própria operação para o bom sucesso.” PAREYSON (p. 61)
A forma como sucesso e o formar como tentar

Pareyson sugere que o processo de criação dá-se por intermédio


de tentativas. A ação de tentar, nesse sentido, transfigura-se na
invenção. Tentar é formar porque em meio a múltiplas
possibilidades encontra-se, no momento de sua feitura, o
caminho do sucesso que garantirá a forma. A regra para a
execução da obra constrói-se no fenômeno e reconhece-se no
seu termo. Não há de antemão regra que anuncie o caminho a
ser percorrido, há apenas um horizonte cuja expectativa é o
êxito.
Conclusão
A estética de Pareyson anuncia uma legalidade interna da forma artística, em
que a consubstanciação dessa legalidade se demonstra na dialética entre forma
formante e forma formada. Ou seja, através desses dois conceitos e da relação
entre os mesmos, o autor concilia os papeis do sujeito artista e da obra em sua
lei interna. Porque ao afirmar que a obra inventa a si mesma no processo de sua
feitura, ou em sua operosidade, demonstrando ao artista os caminhos que ele
deve seguir para alcançar o êxito, ou seja, a forma, através das tentativas
anunciadas pela obra e interpretadas como ação pelo artista, Pareyson,
demonstra a relação dialógica estabelecida entre as partes. As leis internas da
obra não são pensadas a priori, mas ditadas no curso da obra. Elas nascem e
atuam com o desenvolvimento da obra. Então a obra de arte alcança o lugar de
fenômeno individual em sua formação, em que o processo de experimentação
posto em curso é único. O artista ao vislumbrar o alcance do sucesso empreende
em tentativas, e somente o encontro ou o entendimento do único caminho
possível para o alcance do mesmo, o levara ao êxito. Somente o êxito incorrerá
na forma. E o êxito só é possível quando no curso da formação da obra se
descobriu as próprias regras e não aplicou regras pré-estabelecidas.
3. Critério do resultado fora da arte: lei e regra

■ Todas as operações implicam o tentar e visam o resultado.

■ Nas atividades não-artísticas, a tentativa culmina em sucesso apenas


quando segue as leis específicas e fins estabelecidos.
3. Critério do resultado fora da arte: lei e regra

■ Curso Formativo inventivo:


Quem precisa resolver um problema não dispõe previamente da
solução, mas deve procurá-la; segue tentando (inventando soluções);
a tentativa sai da esfera da busca para a da descoberta.

■ Critério do sucesso:
O modo de fazer é preciso que se encontre fazendo; o procedimento
é sempre tentativo; o resultado só é bom quando atinge sua
finalidade.
4. Artististicidade de toda operosidade humana

■ Em todo o campo da atuação humana tudo o que se faz de certo


modo se faz inventando o como fazer; precisa-se de arte para fazer
qualquer coisa; toda ocupação humana exige a capacidade de
inventar o modo de fazer fazendo.

■ O fazer, além de executivo e realizador, deve ser inventivo,


produtivo, tentativo e figurativo.

■ Qualquer projeto é posto à prova pela própria realização e execução;


a aprendizagem e aplicação de uma técnica são operativas
(formativas).
4. Artististicidade de toda operosidade humana

■ Inventiva formatividade:
O modo de fazer é inventado no decorrer de operações tentativas e
posteriormente transmitidos em códigos normativos;

■ Recuperação do mundo das “artes e ofícios” para a esfera da


formatividade;

■ Toda produção, quando não for padronizada, permite uma certa


margem de formatividade; O executor pode interpretar
inventivamente, colocando o seu estilo; onde pode se falar de estilo,
deve-se também falar de arte.
5. Formação da obra de arte

• A formação da obra de arte possui uma liberdade tão ampla que a precipita
no nada e lhe torna impossível o exercício; mas é justamente essa liberdade
que funda a possibilidade de um formar puro, ou seja da (própria) arte.

• O resultado é um critério em si mesmo, de sorte que não só a regra, mas


também a própria obra deve ser inventada no decurso da execução, e esta,
por isso mesmo, não deve ter outra lei a não ser o resultado

• Na arte o critério do resultado é o próprio resultado, e a obra se torna o que


é graças ao resultado obtido, e o bom êxito se deve à adequação de todos
esses dados
6. A regra individual da obra é a única lei da arte

• Tanto nas operações artísticas como nas outras é permitido


experimentar várias possibilidades, pondo-as a prova, para se
levar a cabo a operação, mas nas outras operações a
possibilidade é exigida e sancionada pelos fins ou atividades
específicas, na arte a possibilidade boa é a que permite sucesso

• A operação artística é uma aventura, e com razão já se disse que


o artista é um jogador tentando a sorte: sua execução é ao
mesmo tempo procurar e encontrar, tentar e realizar,
experimentar e efetuar
• A produção somente se dará acabada após o fim do processo,
concluída a obra, terminada a formação, é que ele saberá o que
deveria fazer e como deveria fazê-lo.
10 - As tentativas são guiadas pelo presságio da descoberta.

■ “O próprio conceito de um tentar que tem como único


critério o resultado contém a garantia de que o processo de
formação não se acha abandonado a si mesmo. Mas
embora tenha algo de aventura, dispõe de orientação e de
guia.”
■ “Pois o resultado desse processo é ligado a exigência do
sucesso é uma adequação de si consigo mesma pois é um
compromisso.”
■ “Ao longo do processo há uma liberdade infinita, em
muitas possibilidades, todas sedutoras.”
■ Precisa procurar, tentar, experimentar, essa busca vai levar o
artista a descoberta. Quando a tentativa der certo ele vai saber.
■ “E a série dos fracassos não é nunca tão desastrosa que não se
converta em alguma sugestão do resultado feliz.”
■ “O pressentimento do resultado, o presságio do sucesso, a
antecipação da realização, o adivinhar da forma são critérios de
conhecimento da obra e do processo artístico.”
A3 - 2017
Galpão - 2018
11. Forma formante e forma formada.

■ “O processo artístico traz portanto em si mesmo a sua


própria direção. Pois o tentar, não sendo nem previamente
regido nem abandonado ao acaso, é de per si orientado pelo
presságio da obra que deseja efetivar.”
■ “E só quando acaba a obra, olhando para trás,
compreenderá que essas operações eram como que dirigidas
pela forma agora finalmente descoberta e consumada.”
■ “Se essa é a natureza do processo artístico, urge dizer que a
forma, além de existir como formada ao termo da produção,
já age como formante no decurso da mesma.”
■ “A forma já é ativa antes mesmo de existir; dinâmica e propulsora antes
mesmo de conclusiva e satisfatória; toda em movimento antes de apoiar-
se em si mesma, recolhida em torno de seu próprio centro.”

■ “Durante o processo de produção a forma, portanto, existe e não existe:


não existe, porque como formada só existirá quando se concluir o
processo; e existe, porque como formante já age desde que começa o
processo.”
■ “Que há de mais paradoxal que um processo em que o
único farol é seu próprio resultado futuro, cuja única norma
é algo que não existe ainda? Como se poderia pensar que
uma obra seja ao mesmo tempo resultado e lei de um
processo de formação?”
PAREYSON 1993 - Teoria da Formatividade.

DO INSIGHT À OBRA
12. Organicidade do processo artístico: unívoco e
improsseguível.

■ Surge uma dificuldade ao se afirmar que a obra de arte é ao


mesmo tempo lei e resultado de um processo de formação. Algo
que tem que ser abordado com coragem.
■ "Dizer que no processo artístico a forma é ao mesmo tempo
formada e formante não significa interpretá-lo como
desenvolvimento orgânico? Também num processo orgânico e
produto é, ao mesmo tempo, produtor." (p. 76)
■ A própria forma futura regula a escolha e a seleção das diversas
possibilidades.
12. Organicidade do processo artístico: unívoco e
improsseguível.

■ "[...] e a expansão, subtraída ao risco de uma multiplicação


incontrolada, é aplicada em uma concentração que permite ao todo
condensar-se e apoiar-se em si mesmo, retomar-se e consolidar-se em
torno do próprio centro, confirmar-se e garantir-se no próprio
equilíbrio; e todos os movimentos, como que reclamados pela forma
que estão produzindo, tendem para ela com vigorosa e harmoniosa
conspiração." (p. 76)
■ Evolução orgânica: "o movimento unívoco [uniforme, homogêneo]
que, através de um crescimento e amadurecimento, conduz da
semente à forma completa [...]”
■ Ao invés de ser um aumento que soma e compõe, se dá de dentro
para fora com espontaneidade, onde "[...]a própria forma se vai
fazendo a si mesma no seu crescer e amadurecer."
12. Organicidade do processo artístico: unívoco e
improsseguível.

■ "[...] ela só existe quando feita no único modo em que poderia ser feita; é
fim para si mesma só enquanto é o fim da própria formação, [...] e só se
revela realizando-se, não tem valor fora da própria existência, sua
independência é sua própria espontânea organização." (p. 77)
■ "[...] o processo de sua formação [obra de arte] consiste em transformar
em forma formada a forma formante.”
■ Há um único modo de se proceder.
13. A obra se faz por si e no entanto é o artista quem a faz.

■ Pareyson afirma que é neste ponto que reside a dificuldade, porque ele
indaga que se a verdade for esta, o homem não é protagonista da arte, mas
sim a própria obra, restando ao "[...] artista somente uma forma de
obediência?"
■ O papel do artista é descobrir a forma, não inventá-la. Sua atividade
acompanha, favorece e promove seu desenvolvimento.
■ "[...] a poesia nasce, cresce e amadurece como uma planta." (p. 77)
13. A obra se faz por si e no entanto é o artista quem a faz.

■ Pareyson descreve que mesmo pensando dessa maneira, nenhuma


dessas pessoas ignoravam que o processo é uma "penosa e torturada
série de tentativas".
■ "[...] mistério da arte: a obra se faz por si mesma, e no entanto é o
artista quem a faz."
■ Obra se faz por si → processo unívoco
■ Obra feita pelo artista → série de tentativas com múltiplas
possibilidades e direções
13. A obra se faz por si e no entanto é o artista quem a faz.

■ Os dois se combinam, o processo artístico "do artista que faz a obra e da


obra feita e acabada“

 Artista → "multiplicidade de possíveis  Obra acabada → a multiplicidade se


desenvolvimentos", "seleção e escolha", desfaz "e o processo se mostra linear",
fechamento progressivo através de "expansão e crescimento, em que a
interrogações aos fragmentos própria formação determinou e impôs
as rejeições e opções" (p. 78)

 Insight  Semente
 Projeto  Embrião
 Tentativa  Organização
 Acabamento  Amadurecimento
13. A obra se faz por si e no entanto é o artista quem a faz.

■ Insight → Semente
■ Esboço → Embrião
■ Tentativas → Lei de organização
■ Resultado → Fruto de um amadurecimento

■ "[...] e só se ele consegue colocar-se nesse ponto de vista [o da obra] é


que a obra vai bem e termina com sucesso." (p. 79)

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