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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

COCCIDIOIDES

NICOLE FERNANDES SILVA


UBERLÂNDIA-MG
2018
Domínio Eucarya

Reino Fungi

Filo Ascomycota

Classe Euascomycetes

Ordem Onygenales

Família Onygenaceae

Gênero Coccicioides

Espécies immitis, posadasii


HISTÓRIA
o 1891: Detecção do primeiro caso de coccidioidomicose na Argentina,
por Alejandro Posadas e Robert Wernick, em um soldado oriundo do
Chaco, que apresentava um quadro crônico de lesões cutâneas
tumorais recorrentes
o 1894: Detecção dos dois primeiros casos nos Estados Unidos em
imigrantes recém-chegados a Califórnia que trabalhavam como
agricultores no Vale de São Joaquim
Figura 1 Lesões cutâneas de Domingo Ezcurra (1852-1898).

o 1896: Identificação de um parasita similar ao de Posadas em lesões e descrição do agente


como um protozoário da ordem Coccidia, classe Sporozoa, e espécie C. immitis.
o 1900: Descoberta da real natureza do agente por Ophüls e Moffitt, que descreveram o
terceiro caso norte-americano de um imigrante português. Ao observarem a regularidade do
aparecimento de “mofo” em cultivos, descreveram o agente como um fungo.

Figura 2 Joas Furtado-Silveira


Brasil
◦ 1978 e 1979: Primeiros casos

◦ 1998: Inclusão do Brasil no mapa da distribuição geográfica da coccidiodomicose, após o relato dos
primeiros surtos da forma pulmonar aguda que ocorreram no Piauí e no Ceará.

Figura 3 https://escola.britannica.com.br/levels/fundamental/ Figura 4 http://www.sitecao.com/novembro-azul-o-cancer-de-prostata-em-


article/tatu/480661 caes-tem-prevencao/
Coccidioides
◦ Até a década de 1990, acreditava-se que o gênero Coccidioides tivesse apenas uma espécie. 
◦ C. immitis e C. posadasii
◦ Fungos dimórficos
◦ Se desenvolvem em solos com elevada salinidade e pH alcalino, sendo habitualmente encontrados a uma
profundidade entre 10 e 50 centímetros abaixo da superfície .
◦ São associados a regiões semiáridas, onde há áreas de elevadas temperaturas, secas recorrentes, e vegetação
xerofítica pobre e esparsa.
◦ Não possuem forma sexual em nenhuma das espécies.
◦ São considerados uns dos mais virulentos e infectantes do grupo,
◦ Podem ser utilizados como uma potente arma biológica
◦ Regiões desérticas da América do Norte, México e áreas dispersas na América do Sul,
particularmente Argentina. A presença de areia fina e sedimentos no solo é a única característica
comum em todas as áreas em que o organismo é encontrado.

Figura https://www.frontiersin.org/files/Articles/266920/fimmu-08-00735-HTML/image_m/fimmu-08-00735-g001.jpg
◦ C. immitis (tipicamente na Califórnia) e C. posadasii (tipicamente fora da Califórnia);

◦ São distintos pela caracterização molecular através de PCR e sequenciamento;

◦ Aspecto morfológico e manifestações clínicas da doença são idênticas;

◦ C. posadasii apresenta ritmo de crescimento mais lento em meio com alta concentração de salinidade
quando comparadas com cepas de C. immitis;

◦ C. posadasii crescem significativamente mais rápido, a 37°C, in vitro, quando comparadas com cepas
de C. immitis;

◦ São responsáveis ​por quase todos os casos de Febre do Vale nos Estados Unidos, e C. immitis foi
colocado na lista de patógenos emergentes e reemergentes prioritários do grupo NIAID (Instituto
Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas) 2003.
◦ Na natureza e em cultura apresentam-se sob a forma filamentosa ,com micélio formado por
hifas finas e septadas, que originam artroconídios, alternados por células estéreis,
denominadas disjuntores .

◦ Na maturação, os artroconídios são liberados e os restos das células disjuntoras são vistos
nas extremidades dos artroconídios individuais .

◦ Quando parasitam um hospedeiro encontram-se sob a forma leveduriforme, conhecida por


esférulas, estas produzem um grande número de pequenos endósporos em seu interior.

◦ As esférulas quando maduras possuem paredes grossas e podem atingir até 100µm de
diâmetro
Figura 6 https://www.researchgate.net/figure/Life-cycle-of-Coccidioides-spp-Both-C-immitis-and-C-posadasii-share-the-same-asexual_fig1_245028462
Figura 7 https://figshare.com/articles/_Life_cycle_of_Coccidioides_/1415693
Figura 9 https://botit.botany.wisc.edu/toms_fungi/jan2002.html

Figura 8 https://botit.botany.wisc.edu/toms_fungi/jan2002.html

Figura 10 http://www.mycology.adelaide.edu.au/virtual/2008/ID2-Feb08.html
Coccidioidomicose
◦ Adquirida através da inalação de artroconídios

◦ A resposta inicial do hospedeiro tem como alvo o artroconídio e se caracteriza por influxo de leucócitos
polimorfonucleares, que respondem a substâncias quimiotáxicas geradas em resposta a ativação do sistema
complemento.

◦ Dentro das primeiras 72 horas, os artroconídios são convertidos para esférulas e a resposta inflamatória
muda para uma infiltração de células mononucleares, que persiste em toda infecção acarretando a formação
de granulomas.

◦ A liberação dos endósporos do interior das esférulas produz uma resposta transitória dos leucócitos
polimorfonucleares, provocada por substâncias liberadas a partir da ruptura das esférulas.

◦ As esférulas maduras podem não ser fagocitadas porque são grandes demais para serem ingeridas por
neutrófilos, macrófagos e células dendríticas.
◦ O desenvolvimento da doença depende diretamente da interação patógeno-hospedeiro. A participação das
células T do hospedeiro é essencial para sua defesa frente à coccidioidomicose.

◦ Um dos fatores de virulência é a produção de glicoproteína SOWgp, localizada na parede exterior da


esférula, que pode provocar resposta imune mediada tanto por células quanto por anticorpos.

◦ Metaloproteinase (Mep1) secretada durante a diferenciação dos endósporos digere a superfície celular da
esférula levando a uma perda de elementos fundamentais do antígeno imunodominante (SOWgp), impedindo
o reconhecimento de endósporos livres pelo sistema imune do hospedeiro durante a sua fase de
desenvolvimento, quando estas células fúngicas são mais vulneráveis às células fagocíticas.

◦ Outros fatores de virulência incluem a indução da produção de níveis elevados de arginase I pelo hospedeiro
e urease pelo microrganismo que contribuem causando dano nos tecidos do local de infecção.
◦ Grave e as vezes fatal em pessoas saudáveis de todas as idades e etnias (mais comumente entre 30 e 75
anos de idade)

◦ 100.000 pessoas são infectadas por ano apenas nos Estados Unidos.

◦ Aproximadamente 35% são sintomáticos e a doença pode durar meses até ser resolvida.

◦ Aproximadamente 5% das infecções requerem tratamento médico e algumas dessas infecções são fatais.

◦ Infecções em pessoas idosas exijem hospitalização e podem ser fatais

◦ Existe uma alta taxa de infecção grave em indivíduos imunocomprometidos

◦ Quando Coccidioides espalha além dos pulmões, frequentemente vai para os ossos, articulações, pele e
cérebro. A infecção cerebral (meningite) é letal se não tratada, enquanto a infecção óssea e cutânea pode
persistir por toda a vida.
Epidemiologia
◦ O aumento do risco de infecção está associado à atividade ao ar livre.

◦  A incidência pode depender da:

◦ precipitação sazonal intercalada

◦ gravidade das tempestades de vento e poeira

◦ influxo regional contínuo de hospedeiros suscetíveis

◦ perturbação e aerossolização da superfície do deserto por construções, incêndios florestais e terremotos.

◦ Fatores que regem os recentes aumentos na coccidioidomicose são ambientais e não genéticos;

◦ Associada a caça de tatus e cães;

◦ No Brasil, a infecção está associada a locais situados na zona semi-árida da região Nordeste, considerada uma das áreas
endêmicas da doença na América do Sul.
Aspectos Clínicos
◦ Pode permanecer como uma infecção respiratória aguda e autolimitada ou progredir em uma doença
crônica e se disseminar para outros órgãos e sistemas.

◦ A coccidioidomicose se manifesta sob três formas clínicas principais:


◦ Pulmonar primária

◦ Pulmonar progressiva

◦ Disseminada
Pulmonar primária
• Assintomática em 60% dos casos
• 40%, apresentam manifestações de doença respiratória aguda;
• A intensidade dos sintomas depende da carga infectante, variando desde um estado
gripal até um quadro de uma grave infecção respiratória inespecífica.

SINTOMAS
 Febre
 Tosse
 Dispnéia (dificuldade de respirar)
 Dor torácica
 Quadros inespecíficos de gripe

****geralmente regride espontaneamente para a


cura em 30-60 dias, mesmo sem tratamento
antifúngico Figura 11 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132009000300013
Pulmonar progressiva

◦ Em pacientes diabéticos ou imunocomprometidos, a forma pulmonar aguda não regride e evolui para
uma pneumonia crônica.
◦ É geralmente crônica e evolui a partir de infecções cujos sintomas não regrediram após dois meses.

SINTOMAS

 Lesões nodulares ou cavitárias;


 Doença pulmonar fibrocavitária;
 Disseminação miliar pulmonar, com
manifestações clínicas e radiológicas
inespecíficas
Disseminada
o Atinge vários órgãos ou sistemas, evoluindo de forma fatal quando não diagnosticada e tratada a tempo;
o Apenas aproximadamente 1-5% dos pacientes com a forma pulmonar primária evoluem com
disseminação.

SINTOMAS
 Lesões cutâneas
 Lesões de disseminação
observadas em ossos,
articulações, sistema nervoso
central, e no aparelho gênito-
urinário
Diagnóstico
◦ Exame direto ou histopatológico: formas arredondadas de parede grossa e endósporos.
◦ Cultura: colônia filamentosa branca e reverso castanho.
◦ Microscopia: hifas septadas hialinas e artroconídios
◦ PCR

Figura 16 https://www.cdc.gov/fungal/diseases/coccidioidomycosis/spanish/health-professionals.html Figura 17 https://en.wikipedia.org/wiki/Coccidioides_immitis


Tratamento
◦ Reconhecer o nível de infecção primeiro

◦ Terapia com drogas antifúngicas, intervenção cirúrgica ou a combinação de ambas

◦ Em casos crônicos ou disseminados, o tratamento dura muito tempo

ANTIFÚNGICOS
◦ Azólicos cetoconazol

◦ Fluconazol

◦ Itraconazol

◦ Anfotericina B

****Em pacientes com formas mais severas da doença, são utilizados na terapia complementar após
o tratamento inicial com anfotericina B,
Áreas de pesquisa futura
◦ Determinação do regime de tratamento ideal para coccidioidomicose pulmonar primária

◦ Identificação de fatores do hospedeiro que estão associados a um aumento do risco de disseminação em


certos grupos raciais ou étnicos, a fim de concentrar os esforços de prevenção nesses grupos

◦ Compreender os fatores associados à crescente incidência em áreas endêmicas

◦ Determinação da influência das mudanças climáticas na distribuição geográfica dos Coccidioides

◦ Criação de melhores métodos de detecção de coccidioides em amostras ambientais

◦ Desenvolvimento de uma vacina eficaz


Referências Bibliográficas
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