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Para uma psiquiatria metida ...

em
outras coisas além de medicar
A MONTAGEM DE UMA REDE LOCAL DE
SAÚDE MENTAL: DOS SISTEMAS
FRAGMENTADOS E DAS REDES, AOS
RIZOMAS; DO POSSÍVEL, DO IMPOSSÍVEL E
DO VIRTUAL AO ATUALIZÁVEL.

Lucas Paiva Gomes


outubro de 2009
CONCEITO DE REDES DE ATENÇÃO À
SAÚDE
AS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE SÃO
ORGANIZAÇÕES POLIÁRQUICAS DE CONJUNTOS
DE SERVIÇOS DE SAÚDE, VINCULADOS ENTRE SI
POR UMA MISSÃO ÚNICA, POR OBJETIVOS
COMUNS E POR UMA AÇÃO COOPERATIVA E
INTERDEPENDENTE, QUE PERMITEM OFERTAR UMA
ATENÇÃO CONTÍNUA E INTEGRAL A DETERMINADA
POPULAÇÃO, COORDENADA PELA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE - PRESTADA NO TEMPO
CERTO, NO LUGAR CERTO, COM O CUSTO CERTO,
COM A QUALIDADE CERTA E DE FORMA
HUMANIZADA -, E COM RESPONSABILIDADES
SANITÁRIA E ECONÔMICA POR ESTA POPULAÇÃO
DOS SISTEMAS FRAGMENTADOS
PARA AS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

ORGANIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO
HIERÁRQUICA POLIÁRQUICA EM REDE

ALTA
COMPLEXIDADE

MÉDIA
COMPLEXIDADE
APS

ATENÇÃO BÁSICA
OS MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE

• O MODELO DE ATENÇÃO ÀS
CONDIÇÕES AGUDAS

• O MODELO DE ATENÇÃO ÀS
CONDIÇÕES CRÔNICAS
AS DIFERENÇAS ENTRE AS CONDIÇÕES
AGUDAS E AS CONDIÇÕES CRÔNICAS DE
SAÚDE
CONDIÇÕES AGUDAS CONDIÇÕES CRÔNICAS
DURAÇÃO CURTA DURAÇÃO LONGA
MANIFESTAÇÃO ABRUPTA MANIFESTAÇÃO GRADUAL
AUTOLIMITADAS NÃO AUTOLIMITADAS
DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO
USUALMENTE INCERTOS
USUALMENTE PRECISOS
INTERVENÇÃO USUALMENTE COM
INTERVENÇÃO USUALMENTE ALGUMA INCERTEZA
EFETIVA
RESULTADO: A CURA RESULTADO: O CUIDADO
CENTRADAS NO CUIDADO CENTRADAS NO AUTOCUIDADO
PROFISSIONAL ORIENTADO
CUIDADO CENTRADO NO MÉDICO CUIDADO MULTIPROFISSIONAL
CONHECIMENTO E AÇÃO CLÍNICA CONHECIMENTO E AÇÃO CLÍNICA
CONCENTRADAS NO COMPARTILHADOS PELOS
PROFISSIONAL PROFISSIONAIS E USUÁRIOS
INSTITUIÇÃO
“São árvores de decisões lógicas que
regulam as atividades humanas,
indicando o que é proibido, o que é
permitido e o que é indiferente (...)
Toda instituição compreende:
Um movimento que a gera: o
instituínte;
Um resultado: o instituído, e
Um processo: da institucionalização...”
(BAREMBLITT, 2002, p.163) .
INSTITUIÇÃO

Para realizar concretamente sua


função regulamentadora, as
instituições materializam-se em
organizações e estabelecimentos
(BAREMBLITT, 2002).
INSTITUÍDO
Entretanto, Baremblitt (2002, p. 157) pontua
que,

“[...] Para que os instituídos sejam eficientes,


devem permanecer abertos às
transformações com que o instituínte
acompanha o devir social. Contudo, o
instituído tem uma tendência a permanecer
estático e imutável, conservando de juri
estados já transformados de facto e
tornando-se assim resistente e conservador.
INSTITUÍNTE

“É o processo mobilizado por


forças produtivo-desejante-
revolucionárias que tende a
fundar instituições ou transformá-
las, como parte do devir das
potências e materialidades
sociais.”
EQUIPAMENTOS
“Conglomerados complexos, montagens
de diversas materialidades (mais
especialmente de recursos técnicos),
prevalentemente a serviço da exploração,
dominação e mistificação.
Os equipamentos podem pertencer ao
Estado ou às entidades dominantes da
sociedade civil (empresas, corporações)”.
(BAREMBLITT, 2002, p.150) .
AGENCIAMENTO OU
DISPOSITIVO
“É uma montagem ou artifício
produtor de inovações que
gera acontecimentos e
devires, atualiza virtualidades
e inventa o novo radical. Em
um dispositivo , a meta a
alcançar e o processo que a
gera são imanentes entre si”
(BAREMBLITT, 2002, p. 135).
INTERVENÇÃO INSTITUCIONAL
“Ação transformadora praticada segundo
uma ética e uma política e formalizada em
uma teoria aplicada segundo certas regras
metodológicas e uma série de recursos
técnicos (...) Seu objetivo central é propiciar
nos coletivos intervindos a ação do
instituinte-organizante e, no seu limite, a
implantação de processos plenos e
continuados de auto-análise e autogestão”
(BAREMBLITT, 2002, p. 157).
MISTIFICAÇÃO
“Processo mais ou menos deliberado de
produção, difusão e assimilação de
representações, crenças, convicções e
valores que deformam, encobrem ou
falsificam a realidade natural ou social
com a finalidade de enganar as forças e
agentes instituintes e organizantes.
Perpetuam-se assim os instituídos-
organizados-estabelecidos, e com eles as
formas históricas que adotam a
exploração e a dominação...” (BAREMBLITT, 2002,
P. 159)
AUTO-ANÁLISE
Trata-se, em geral, de um saber apagado,
desqualificado e subordinado pelos
saberes científico-disciplinários do Estado,
Capital, Raça e etc. e que operam como
critérios de Verdade e Eficiência, que são
imanentes aos valores de tais entidades.
A auto-análise possibilita aos coletivos o
conhecimento e a enunciação das causas
de sua alienação (BAREMBLITT, 2002).
AUTO-ANÁLISE

“Processo de produção e re-


apropriação, por parte dos coletivos
autogestionários, de um saber acerca
de si mesmos, suas necessidades,
seus desejos, demandas, problemas,
soluções e limites...” (BAREMBLITT, 2002, p. 139).
AUTOGESTÃO
“É, ao mesmo tempo, o processo e o
resultado da organização independente
que os coletivos se dão para gerenciar
sua vida. As comunidades instituem-
se, organizam-se e se estabelecem de
maneiras livres e originais, dando-se
os dispositivos necessários para
gerenciar suas condições e modos de
existência...” (BAREMBLITT, 2002, p. 139).
AUTOGESTÃO
“(...)Todo processo instituínte-organizante
implica uma certa divisão técnica do
trabalho, assim como alguma
especialização nas operações de
planejamento, decisão e execução. Essas
diferenças podem implicar hierarquias,
mas as mesmas não envolvem escalas de
poder...” (BAREMBLITT, 2002, p. 139).
AUTOGESTÃO
Para Baremblitt (2002, p. 139), no processo
de autogestão “(...) os conhecimentos
essenciais são compartilhados e as decisões
importantes (são) tomadas coletivamente.
As hierarquias correspondem a diferenças
de potência, peculiaridades e capacidades
produtivas que visam sempre ser funcionais
para a vontade comunitária”.
MICROPOLÍTICA
As lutas sociais são, ao mesmo tempo, molares e moleculares
(Guattari; Rolnik, 2007, p. 149)

MOLAR MOLECULAR

Compõe o que se Corresponde


denomina (parcialmente) ao
instituídos – instituínte –
organizados – organizante.
estabelecidos.
“Mundo do macro” “Mundo do micro”.
MOLAR X MOLECULAR
MOLAR MOLECULAR
É o campo da É o espaço que
regularidade, da permite a eclosão do
estabilidade, da novo ou na
conservação e da metamorfose das
reprodução , onde entidades molares
operam os que se
equipamentos desestratificam e se
sedentários de desterritorializam por
captura e linhas de fuga.
recuperação
PRODUÇÃO
“Geração do novo – daquilo que a
Utopia Ativa persegue. É
equivalente ao funcionamento. É
aquilo que processa tudo que
existe – natural, técnica, subjetiva
e socialmente. É a permanente
geração de tudo que pode logo
tender-se a cristalizar-se. É o devir,
a metamorfose” (BAREMBLITT, 2002, p. 164).
REPRODUÇÃO
“Num sentido etimológico, significa cópia
ou imitação. (...) Para o Institucionalismo,
designa as tentativas de reiterar algo
idêntico, igual ou similar ao que já existe,
cumprindo sua função conservadora.
Dessa maneira, procura-se deter os
devires, acontecimentos, transformações
naturais, sociais, culturais e subjetivas”
(BAREMBLITT, 2002, p. 166) .
ANTIPRODUÇÃO

“As potências produtivas de todo tipo


– naturais, psíquicas e sociais (em
especial as instituíntes) – são
capturadas pelas grandes entidades de
controle e reprodução (por exemplo: o
Estado, o Capital, etc.) e suas forças
são voltadas contra si mesmas,
levando-as à repetição estéril e à
autodestruição” (BAREMBLITT, 2002, p. 138).
CAPTURA E RECUPERAÇÃO
“Quando o aparato de captura e
recuperação falha, as mencionadas
entidades (Estado, o grande Capital,
grupos dominantes e etc.) operam de
forma repressiva ou supressiva,
inibindo ou destruindo as forças
produtivas, em especial as
instituíntes” (BAREMBLITT, 2002, p. 140).
TERRITORIALIDADE

“Os seres existentes se organizam


segundo territórios que os
delimitam e os articulam aos
outros existentes e aos fluxos
cósmicos. O território pode ser
relativo tanto a um espaço vivido,
quanto a um sistema percebido no
seio do qual um sujeito se sente
‘em casa’” (Guattari; ROLNIK, 2007, p. 388).
DEVIR
“Assim um indivíduo etiquetado
antropologicamente como masculino,
pode ser atravessado por devires
múltiplos e, aparentemente,
contraditórios: devir-feminino que
coexiste com um devir-criança, devir-
animal, devir-invisível, etc” (GUATTARI;
ROLNIK, 2007, p. 382).
GRUPO SUJEITO / GRUPO
SUJEITADO
• Os grupos sujeitos • O grupo sujeitado, ao
opõem-se aos grupos contrário, tende a ser
sujeitados. Tal manipulado por todas
oposição implica uma as determinações
referência externas e a ser
micropolítica: o grupo dominado por sua
sujeito tem por vocação própria lei interna
gerir, na medida do (superego).
possível, sua relação
com as determinações
externas e com sua GUATTARI; ROLNIK (2007)
própria lei interna.
RATOS SÃO RIZOMAS...
Embora o termo rizoma tenha sido
tomado de empréstimo da botânica, até os
animais são rizomáticos: “(...) ratos são
rizomas (...) Há rizomas quando os ratos
deslizam uns sobre os outros. Há o
melhor e o pior no rizoma: a batata e a
grama, a erva daninha. Animal e planta, a
grama é o capim pé-de-galinha...” (DELEUZE;
GUATTARI, 2007, p. 15).
RIZOMA
“Os diagramas arborescentes
procedem por hierarquias
sucessivas, a partir de um ponto
central ao qual remete cada
elemento local. Os sistemas em
rizoma ou ‘em treliça’, ao contrário
podem derivar infinitamente,
estabelecer conexões transversais
sem que se possa centrá-los ou
cercá-los” (GUATTARI; ROLNIK, 2007, p. 387-388).
Nunca suscite um General em
você!

Sistemas centrados X a-centrados


(crescer pelo meio)

“Num sistema hierárquico, um indivíduo


admite somente um vizinho ativo, seu
superior hierárquico.”
Princípio da conexão
Intersetorialidade X Entre

“Qualquer ponto de um rizoma pode ser


conectado a outro e deve sê-lo”

“Entre as coisas não designa uma correlação


localizável que vai de uma para a outra e
reciprocamente, mas uma direção
perpendicular, um movimento transversal que
as carrega uma e outra.”
Princípio da heterogeneidade
“Quem deixou estes loucos à solta.”

“Não se criticarão os modelos linguísticos


por serem demasiado abstratos , mas, ao
contrário, por não sê-lo o bastante...”
o exercício da língua como uma
colonização, uma micropolítica social
Princípio da multiplicidade
As multiplicidades se definem pelo fora:
pela linha abstrata, linha de fuga ou de
desterritorialização segundo a qual elas
mudam de natureza ao se conectarem às
outras.”

Nem o UNO e nem o MÚLTIPLO.


Princípio de ruptura a-significante
“Contra os cortes demasiados significantes que
separam as estruturas, ou que atravessa uma
estrutura.”

“corre-se sempre o risco de


reencontrar...formações que dão novamente o
poder a um significante”.
“Os grupos e os indivíduos contêm
microfascismos sempre à espera de
cristalização.”
Princípio de cartografia e de
decalcomania
“Um rizoma não pode ser justificado por
nenhum modelo estrutural ou genético.”
Mapa tem múltiplas entradas, é aberto,
voltado para uma experimentação
ancorada no real. Decalque, apenas uma,
volta ao mesmo ponto. Reconhecemos
apenas agenciamentos.
REFERÊNCIAS
• BAREMBLITT, G. Compêndio de análise institucional
e outras correntes: teoria e prática. 5ed. Belo
Horizonte: Instituto Felix Guattari, 2002.
• DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e
esquizofrenia. V.1.1 ed (5 reimp) São Paulo: Editora 34,
2007 .
• GUATTARI, F. ; ROLNIK, S. Micropolíticas:
cartografias do desejo. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
• Agradecimentos ao Túlio, da turma caosmótica pelos
textos dos slides 6 ao 29.

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