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1.

Descrição e interpretação
da atividade cognoscitiva
1.1. Estrutura do ato de conhecer
1.1.1. Os problemas do conhecimento
GNOSIOLOGIA
TEORIA DO
CONHECIMENTO

Estudo do conhecimento – estudo das relações entre o sujeito e o objeto.

Origem, natureza, possibilidade, limites do conhecimento.


ALGUMAS QUESTÕES
GNOSIOLÓGICAS

O que é o conhecimento?
Que tipos de conhecimento existem?
Quais as fontes do conhecimento?
Qual a origem do conhecimento?
Será que o conhecimento é possível?
Qual o fundamento do conhecimento?
CONHECIMENTO
Um SUJEITO apreende um OBJETO

Aquele que Aquilo que é


conhece conhecido

CORRELAÇÃO

INTERAÇÃO

Representar o objeto é também, em certa medida, construí-lo.


ATO DE CONHECIMENTO
É inseparável de um contexto.

Existem diferentes tipos de Existe uma pluralidade


conhecimentos. de experiências.

EXPERIÊNCIA: Apreensão, por parte de um sujeito, de uma realidade, um modo de fazer,


uma maneira de viver, etc., constituindo, em muitos casos, um modo de conhecer algo
imediatamente antes de todo o juízo que se formula sobre aquilo que se apreende.
TIPOS DE CONHECIMENTO
SABER-FAZER SABER-QUE CONHECIMENTO
POR CONTACTO

Conhecimento Conhecimento de Conhecimento


prático ou proposições ou direto de alguma
conhecimento de pensamentos realidade.
atividades. verdadeiros.

Exemplo: saber Exemplo: saber Exemplo: conhecer


cozinhar. que 2 + 2 = 4. Paris.
O que é o O que é a
conhecimento? realidade?

Ser particular REALIDADE Seres em geral

• o que é ou existe (o ser, o existente);


• o que se opõe ao aparente ou ilusório;
• o que não é potencial ou apenas possível, mas sim atual;
• o que se opõe ao nada, ao não-ser;
• o que existe independentemente do sujeito que o pensa ou conhece;
• o que nos é dado na experiência em geral;
• o que é (ou pode ser) esclarecido pelo conhecimento científico.
CONHECIMENTO

REALIDADE LINGUAGEM

Linguagem verbal Diversos tipos de linguagem

Possibilidade de emitir sons articulados e de os exprimir por escrito.

Capacidade que nos permite organizar o pensamento.


LINGUAGEM PENSAMENTO

Elementos indissociáveis

Está diretamente implicada:

no conhecimento do mundo

na reflexão sobre o conhecimento

na construção
na comunicação dos resultados do conhecimento
de uma visão
do mundo e de
uma cultura
1.1.2. Definição tradicional de
conhecimento
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL
(SABER-QUE)

Proposições verdadeiras Proposições falsas

Relação adequada entre


o sujeito cognoscente e
a realidade.

SUJEIT CRENÇ OBJETO


O A

O verdadeiro e o
Atitude de adesão a uma falso de qualquer
determinada proposição, crença dependem
tomando-a como de algo exterior à
verdadeira. própria crença.

Saber é acreditar
naquilo que se sabe.
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

CONDIÇÕES DO CONHECIMENTO

CRENÇA VERDADE JUSTIFICAÇÃO

S dispõe de
S acredita que P. P é verdadeira. justificação ou
provas para
acreditar que P.

S sabe que P se, e só se:


CONHECIMENTO – DEFINIÇÃO TRIPARTIDA

CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA

PLATÃO – DIÁLOGO TEETETO

Todas as três
condições são Crença, verdade
necessárias e justificação:
para que haja condições
conhecimento. necessárias e
Consideradas suficientes para
isoladamente, que haja
nenhuma delas conhecimento.
é suficiente.
1.1.3. Críticas à definição tradicional de
conhecimento
EDMUND GETTIER

Contraexemplos à definição de conhecimento


como crença verdadeira justificada.

Pode haver crenças verdadeiras justificadas sem que


tais crenças equivalham a um efetivo conhecimento.
É possível que alguém não possua conhecimento,
ainda que sejam realizadas as três condições: crença,
verdade e justificação.

Pode haver crenças verdadeiras que são justificadas


apenas acidentalmente, em resultado da sorte, do
acaso ou da mera coincidência.
1.1.4. Fontes de conhecimento
FONTES DE CONHECIMENTO

JUSTIFICAÇÃO DO
CONHECIMENTO
PENSAMENTO SENTIDOS
OU RAZÃO (EXPERIÊNCIA SENSÍVEL)

Juízos a priori Juízos a posteriori


Exemplo: Exemplo:
«5 + 5 = 10» «O Sol brilha»

Juízos cuja verdade pode ser conhecida Juízos cuja verdade só pode ser conhecida
independentemente de qualquer experiência, através da experiência sensível.
tendo, portanto, origem no pensamento ou razão.

Não são estritamente universais (não são


verdadeiros sempre e em toda a parte) e são
São universais (são verdadeiros sempre e em toda a contingentes – são verdadeiros, mas poderiam
parte) e necessários (negá-los implicaria entrar em ser falsos, e negá-los não implica entrar em
contradição). contradição.
MODOS DE CONHECIMENTO

Conhecimento a priori Conhecimento a posteriori

Baseia-se em juízos a priori, tendo a sua fonte ou Baseia-se em juízos a posteriori, tendo a sua
origem apenas no pensamento ou na razão. É origem na experiência. É o conhecimento
justificado pela razão e não pela experiência. empírico, justificado pela experiência.

Todo o conhecimento começa com a experiência,


mas nem todo deriva da experiência , segundo Kant.
Utilizando como critério a inclusão (implícita) ou não
do predicado no conceito relativo ao sujeito, Kant
dividiu os juízos em:

Analíticos Sintéticos Sintéticos a priori

São aqueles cujo São aqueles cujo São juízos


predicado está predicado não está independentes da
implícito no implícito no experiência, tendo
conceito do conceito do uma origem racional
sujeito, sujeito. Não são (a priori), mas cujo
encontrando-se estritamente predicado não está
pela simples universais e são implícito ou incluído
análise e contingentes. no conceito do
explicação desse sujeito (sintéticos).
conceito. São São universais e
universais e necessários.
necessários.
JUÍZOS

Analíticos Sintéticos Sintéticos a priori

Exemplos: Exemplos: Exemplos:


- O todo é maior - A minha escola - 20 x 5 = 100.
do que cada uma tem muitos alunos. - Num triângulo
das suas partes. - As ovelhas retângulo, o
- O solteiro é não descansam à quadrado da
casado. sombra das hipotenusa é igual à
árvores. soma dos quadrados
dos catetos.

Não contribuem São extensivos, isto São extensivos, isto


para aumentar o é, ampliam o nosso é, ampliam o nosso
nosso conhecimento. conhecimento.
conhecimento.
1.2. Análise comparativa de duas teorias
explicativas do conhecimento
1.2.1. Origem do conhecimento
ORIGEM DO CONHECIMENTO

RACIONALISMO EMPIRISMO
(Racionalismo do século XVII) (Empirismo inglês do século XVIII)

Filósofos: Será que todo o nosso Filósofos:


René Descartes conhecimento provém da John Locke
(1596-1650) experiência? (1632-1704)
Ou será que provém
Gottfried Leibniz também da razão? George Berkeley
(1646-1716) Ou procederá de ambas (1685-1753)
Bento de Espinosa estas fontes, mas tem David Hume
(1632-1677) maior importância (1711-1776)
Nicolas Malebranche quando provém de uma
(1638-1715) do que de outra?
RACIONALISMO

A razão (entendimento) é a Desconfiança


Ideias inatas: fonte principal do dos sentidos:
As ideias Eles são fonte
conhecimento.
fundamentais já de crenças
nascem confusas e,
connosco. A razão é fonte de um muitas vezes,
conhecimento totalmente incertas.
independente da experiência
sensível – necessário e
Intuição e
universal. A matemática Otimismo
dedução:
As ideias
constitui o modelo do racionalista:
conhecimento. Há uma
fundamentais
correspondência
descobrem-se
entre
por intuição
pensamento e
intelectual. O
realidade. Toda a
conhecimento
realidade pode
constrói-se de
ser conhecida.
forma dedutiva. O sujeito impõe-se ao
objeto.
EMPIRISMO

Rejeição do
inatismo: A experiência é a fonte
Não existem principal do conhecimento. John Locke:
ideias inatas. O O conhecimento
entendimento encontra-se limitado
assemelha-se a pela experiência, ao
uma página em Todas as ideias têm uma base nível da sua: 
branco.
empírica, até as mais
complexas. O conhecimento
do mundo obtém-se através
de impressões sensoriais. Extensão: o Certeza: as
Significado da entendimento certezas de
experiência: é incapaz de que dispomos
É nela que o ultrapassar os referem-se
conhecimento limites apenas àquilo
tem o seu impostos pela que se
fundamento e experiência. encontra
dentro dos
os seus limites. limites da
O objeto impõe-se ao experiência.
sujeito.
FUNDACIONALISMO

O conhecimento deve ser concebido como uma estrutura que se ergue e se


desenvolve a partir de fundamentos certos, seguros e indubitáveis.

RAZÃO Combinação da EXPERIÊNCIA


RAZÃO e da
EXPERIÊNCIA
RACIONALISMO EMPIRISMO

Valorização do Valorização do
conhecimento a conhecimento a
priori (mas não se posteriori (mas não
nega a existência se nega a existência
do conhecimento a do conhecimento a
posteriori). priori).
FUNDACIONALISMO De acordo com a definição tradicional de
conhecimento, uma crença encontra-se justificada se
tivermos razões para pensar que ela é verdadeira.

Uma crença é justificada por outra, a qual por sua vez


é justificada por outra e assim sucessivamente.

A justificação é inferencial: a crença justificada infere-


se daquela que a justifica.

Corre-se o risco da regressão infinita da justificação.

permitem evitar a

crenças básicas ou fundacionais


FUNDACIONALISMO

Crenças básicas Crenças não básicas

infalíveis – não podem estar erradas

incorrigíveis – não podem ser refutadas

indubitáveis – não podem ser postas em dúvida

Suportam o sistema do saber.


Não necessitam de uma
justificação fornecida por
outras crenças, porque se São justificadas por outras
justificam a si mesmas. crenças.
1.2.2. Possibilidade do conhecimento
Possibilidade do conhecimento

Será que o sujeito apreende efetivamente o objeto?


Será que o conhecimento é possível?

SIM NÃO

DOGMATISMO CETICISMO
DOGMATISMO

QUATRO ACEÇÕES DO TERMO

Posição própria do Confiança de que a Submissão, sem Exercício da razão,


realismo ingénuo – razão pode atingir exame pessoal, a em domínios
ausência de exame a certeza e a certos princípios metafísicos, sem
crítico das verdade. ou à autoridade de uma crítica prévia
aparências. que provêm. da sua capacidade.

É o dogmatismo O conhecimento é Expressando uma Opõe-se ao


ingénuo. Não possível. Esta ausência de criticismo (Kant).
coloca o problema perspetiva opõe-se espírito crítico, o
do conhecimento. ao ceticismo. termo adquire
Não ocorre aqui um sentido
propriamente na pejorativo.
filosofia.
CETICISMO

Não é possível ao sujeito apreender, de um modo


efetivo ou então de um modo rigoroso, o objeto.

Pode haver apenas Ceticismo absoluto Ceticismo mitigado


um ceticismo ou radical ou moderado
localizado, que
incide sobre um
conhecimento
determinado: por
exemplo, o
conhecimento
metafísico –
ceticismo
metafísico.
Pirro de Élis Arcesilau
(c. 365-275 a. C.) (c. 315-241 a. C.)
Sexto Empírico Carnéades
(séculos II-III d. C) (c. 213- c. 128 a. C.)
CETICISMO RADICAL
Estado de
- É impossível ao sujeito apreender o objeto. neutralidade em
- O conhecimento não é possível. que nada se afirma
e nada se nega.
- Nega-se que haja justificações suficientes para as
nossas crenças.
Conduz à ataraxia
ou ausência de
Argumentos para a suspensão do juízo perturbação.

A existência, O facto de os A existência de O facto de nada se


relativamente ao objetos, pelas opiniões compreender por si
mesmo objeto, diversas formas divergentes a e o facto de nada
de sensações e como se nos respeito dos mais poder ser
perceções apresentam, variados assuntos verdadeiramente
diferentes, e até desencadearem compreendido com
incompatíveis. ilusões e base noutra coisa:
aparências (os regressão infinita
sentidos da justificação.
enganam-nos).

CONTRADIÇÃO: exprime o conhecimento de que o conhecimento não é possível.


CETICISMO
MITIGADO

Não estabelece a impossibilidade do conhecimento,


mas sim a impossibilidade de um saber rigoroso.

Não podemos afirmar se este ou aquele juízo é ou


não verdadeiro, se corresponde ou não à realidade,
apenas podemos dizer se é ou não provável ou
verosímil.

CONTRADIÇÃO: o conceito de «probabilidade»


pressupõe o de «verdade».
CETICISMO

Importante no nosso desenvolvimento intelectual.

Inconformismo perante as soluções apresentadas e


busca de novas soluções.

Ceticismo Ceticismo
metódico sistemático

É um meio para Adota a dúvida como


alcançar a verdade. um princípio definitivo
1.2.3. O racionalismo de René Descartes
RENÉ DESCARTES
(1596-1650)

Filósofo racionalista

A razão a fonte principal do conhecimento:


fonte do conhecimento universal e necessário.

Procurou na razão os fundamentos do conhecimento.

Tentativa de superação dos argumentos dos céticos radicais.


Proposições da matemática

Têm origem exclusivamente racional e a priori.

Método inspirado na matemática.

REGRAS DO MÉTODO

Evidência Análise Síntese Enumeração /


revisão

Não aceitar nada Dividir cada uma Começar pelo Fazer


como verdadeiro das dificuldades mais simples e enumerações tão
se não se em partes, para fácil de completas e
apresentar à melhor as compreender e revisões tão
consciência como resolver. subir gerais, que
claro e distinto, gradualmente tivesse a certeza
sem qualquer para o mais de nada omitir.
margem para complexo.
dúvidas.
REGRAS DO MÉTODO

Permitem guiar a razão (o bom senso),


orientando duas operações fundamentais:

Intuição Dedução

Ato de apreensão direta Encadeamento de


e imediata de noções intuições, envolvendo
simples, evidentes e um movimento do
indubitáveis. pensamento, desde os
princípios evidentes até
às consequências
necessárias.
SABEDORIA HUMANA

Permanece una e idêntica: a filosofia é comparada a uma árvore:

moral

mecânica medicina

física

metafísica
DÚVIDA

Recusar todas as crenças em que se note a


mínima suspeita de incerteza.

É um instrumento da luz natural ou razão, posto


ao serviço da verdade.

RAZÕES QUE JUSTIFICAM A DÚVIDA

Por causa dos Porque os Porque não Porque alguns Porque pode
preconceitos e sentidos são dispomos de um seres humanos se existir um deus
dos juízos muitas vezes critério que nos enganaram nas enganador, ou
precipitados que enganadores. permita discernir demonstrações um génio
formulámos na o sonho da vigília. matemáticas. maligno, que
infância. sempre nos
engana.
CARACTERÍSTICAS
DA DÚVIDA

Metódica e provisória Hiperbólica Universal e radical

É um meio para atingir Rejeita como se fosse Incide não só sobre o


a certeza e a verdade, falso tudo aquilo em conhecimento em
não constituindo um que se note a mínima geral, como também
fim em si mesma. suspeita de incerteza. sobre os seus
fundamentos e as suas
raízes.
DÚVIDA

EXERCÍCIO VOLUNTÁRIO SUSPENSÃO DO JUÍZO

FUNÇÃO DA DÚVIDA

Tem uma função catártica, já que liberta o espírito dos erros que o
podem perturbar ao longo do processo de indagação da verdade.

Abre caminho à possibilidade de reconstruir, com fundamentos sólidos,


o edifício do saber.
Dúvida – ato
livre

Ser que «Penso, logo


Cogito –
pensa e existo.»
verdade
duvida («Cogito,
incontestável
ergo sum.»)

Afirmação da
minha
existência
CARACTERÍSTICAS DO COGITO

É um princípio evidente e indubitável, uma certeza inabalável.

Obtém-se por intuição, de modo inteiramente racional e a priori.

Serve de modelo do conhecimento: fornece o critério de verdade.

É uma crença fundacional relativamente a todo o sistema do saber.

Apresenta a condição da dúvida e impõe uma exceção à sua universalidade.

Revela a natureza ou a essência do sujeito: o pensamento ou alma.

Refere-se a toda a atividade consciente, distinguindo-se do corpo.


CRITÉRIO DE VERDADE

CLAREZA DISTINÇÃO

Separação de uma
ideia relativamente a
Presença da ideia ao EVIDÊNCIA outras: não lhe estão
espírito. associados elementos
que não lhe
pertençam.

Ainda não afastámos a hipótese do deus enganador. Necessitamos de demonstrar a


existência de um deus que não nos engane.
SER IMPERFEITO: possuir o saber é uma
SUJEITO PENSANTE
perfeição maior do que duvidar.

Dispõe de ideias Tipos de ideias

Adventícias Factícias Inatas

Têm origem na São fabricadas pela São ideias


experiência sensível. imaginação. constitutivas da
própria razão.

Exemplos: ideias de Exemplos: ideias de Exemplos: ideias de


árvore, cebola, sereia, unicórnio, pensamento,
relógio. dragão. existência, triângulo,
ser perfeito.
IDEIA DE SER PERFEITO : noção de um ser
omnisciente, omnipotente e sumamente bom.

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

1.ª prova 2.ª prova 3.ª prova

Argumento Argumento da marca A causa da existência


ontológico: na ideia de impressa: a causa que do ser pensante e
ser perfeito estão faz com que a ideia de imperfeito não é ele
compreendidas todas ser perfeito, que próprio. De contrário,
as perfeições; a representa uma daria a si próprio as
existência é uma substância infinita, se perfeições de que tem
dessas perfeições; encontre em nós não ideia. Além disso,
logo, Deus existe pode ser outro ser como o sujeito finito
necessariamente. O senão Deus, que não possui o poder de
facto de existir é possui todas as se conservar no seu
inerente à essência de perfeições próprio ser, o seu
Deus. representadas nessa criador e conservador
ideia. é Deus (causa sui).
É um ser perfeito e não é É infinito, a fonte do bem e
enganador. da verdade.

É a garantia da verdade É omnipotente, eterno e


objetiva das ideias claras e omnisciente.
distintas.
Embora criador do
É o criador das verdades DEUS Universo, não é autor do
- a sua
eternas, a origem do ser e mal nem responsável pelos
importância
o fundamento da certeza. no sistema
nossos erros.
cartesiano
Garante a adequação entre É o princípio do ser e do
o pensamento evidente e a conhecimento.
realidade.
Permite superar os
Legitima o valor da ciência argumentos dos céticos
e confere objetividade ao radicais e provar a
conhecimento. existência do mundo
exterior.
TEORIA DO ERRO

No erro intervêm:

ENTENDIMENTO VONTADE

Dá ou não o
consentimento aos
Formula juízos. juízos que o
entendimento
formula.

Erramos quando se verifica uma precipitação da vontade - quando usamos mal a


liberdade e damos o consentimento a juízos que não são evidentes.
Três tipos de
substâncias e seus
atributos essenciais

Substância pensante Substância extensa Substância divina


(res cogitans) (res extensa) (res divina)

Pensamento Extensão Vários atributos, todos


eles numa perfeição
infinita.

Alma Corpo Qualidades objetivas

Qualidades subjetivas
Ser humano
Fundacionalismo de Descartes

Ideias inatas
– conhecimento claro e distinto

Principais verdades:
- a existência do pensamento (alma), traduzida no cogito;
- a existência de Deus, ser perfeito, com os atributos respetivos;
- a existência de corpos extensos em comprimento, largura e altura.

O fundamento do conhecimento é o cogito, enquanto crença básica ou


fundacional e primeira verdade, e outras ideias claras e distintas da razão.

Todavia, este fundamento do conhecimento depende daquele que é o


princípio de toda a realidade: Deus.

CÍRCULO CARTESIANO: o facto de a ideia que temos de Deus ser clara e


distinta garante-nos que Deus existe; mas é Deus quem garante a verdade e a
objetividade das ideias claras e distintas.
1.2.4. O empirismo de David Hume
DAVID HUME
(1711-1776)

Filósofo empirista

O conhecimento deriva fundamentalmente da


experiência.

Todas as crenças e ideias têm uma base empírica, até


as mais complexas.

É na experiência que deve ser procurado o fundamento do


conhecimento.
Elementos do conhecimento

Perceções

Grau de Ideias
Impressões maior força e menor
(pensamentos)
vivacidade

São as representações
das impressões, ou as
São as perceções mais suas imagens
vívidas e fortes, como enfraquecidas.
As ideias derivam das
as sensações, emoções Exemplo: a memória
impressões, são cópias
e paixões. da cor de uma flor.
delas.
Exemplo: a cor de uma (As ideias da memória
flor. são mais fortes e
vívidas que as da
imaginação.)
Não existem ideias
inatas.
Ideias
Impressões
(pensamentos)
Simples

Exemplo: Exemplo:
Não admitem qualquer
sensação visual de um memória de um tom
separação ou divisão.
tom de verde. de verde.

Podem ser divididas em


partes, resultando da Exemplo:
Exemplo:
combinação das pensar numa certa
ver uma certa maçã.
impressões ou das ideias maçã.
simples.

Complexas

Ideias simples derivam de impressões simples, mas muitas ideias complexas não resultam de impressões
complexas.
A ideia de Deus, por exemplo, referindo-se a um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, é uma ideia complexa
que tem por base ideias simples que a mente e a vontade compõem, elevando sem limite as qualidades de bondade
e sabedoria. Nenhum objeto da experiência sensível lhe corresponde.
Tipos ou modos de
conhecimento
Não estão
dependentes A sua
do confronto justificação
com a RELAÇÕES DE QUESTÕES DE encontra-se na
experiência. IDEIAS FACTO experiência
sensível.
Conhecimento a Conhecimento a
São sempre
priori. posteriori.
verdadeiras, em
quaisquer Poderiam ter
circunstâncias. Verdades Verdades
sido falsas.
Negá-las implica necessárias. contingentes.
Negá-las não
contradição. Exemplo: Exemplo: «As
implica
São os «2 + 4 = 6.» estrelas cintilam.»
contradição.
conhecimentos
da lógica e da Os conhecimentos a priori nada nos dizem de substancial
matemática. acerca do mundo.

A distinção entre relações de ideias e questões de facto é, de


certa maneira, equivalente à distinção entre juízos analíticos e
juízos sintéticos (a posteriori).
Princípios de
associação de ideias

Semelhança Contiguidade no Causalidade


tempo e no espaço (causa e efeito)

Exemplo: Exemplo: Exemplo:


uma ave desenhada a recordação de uma o vinho que se bebeu
num papel faz lembrar festa de aniversário em excesso (causa) faz
uma ave que vemos leva à recordação dos pensar nas
voar. amigos que estavam desagradáveis
presentes. consequências que daí
advirão (efeito).
CAUSALIDADE E INDUÇÃO

Factos que esperamos que se


verifiquem no futuro…

…têm por base uma inferência causal.

Inferências de carácter indutivo


(indução como previsão).

Exemplo:
Até hoje, sempre o calor dilatou os corpos. Logo, isso irá
igualmente verificar-se amanhã.
CONEXÃO NECESSÁRIA?

RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO

É geralmente entendida como uma conexão necessária.

Mas não dispomos de qualquer impressão


relativa à ideia de conexão necessária
entre fenómenos.

As certezas
A única coisa que percecionamos é que relativas aos
entre dois fenómenos se verifica uma factos futuros
conjunção constante. têm só um
fundamento
psicológico: o
Conhecimento O conhecimento acerca dos factos futuros
hábito ou
a posteriori e é apenas suposição ou probabilidade,
costume.
não a priori. assentando na expectativa.
Apenas se pode aceitar quando é
Inferência causal
estabelecida entre impressões

Algo de que nunca tenhamos tido


qualquer impressão.

EU MUNDO DEUS

A crença na Não temos experiência O que concebemos


identidade, na ou impressão de uma como existente
unidade e na realidade exterior e também o podemos
permanência do eu é independente das conceber como não
apenas um produto da nossas impressões. Só existente. Por outro
imaginação, não a coerência e a lado, Deus não é
sendo possível afirmar constância de certas objeto de qualquer
que existe o eu como perceções é que nos impressão. Os
substância distinta em levam a acreditar argumentos
relação às impressões nessa realidade tradicionais deixam de
e às ideias. externa. ter sentido.
Fundacionalismo de Hume

Empirismo
relativo às
teorias
metafísicas
Fenomenismo Ceticismo
mitigado ou
moderado

Só conhecemos as A capacidade cognitiva


perceções, pelo que a do entendimento
realidade acaba por se humano limita-se à
reduzir aos esfera dos fenómenos
fenómenos. e ao âmbito do
provável.

Crenças básicas para um empirista: crenças de que se Baseiam-se nas


estão a ter estas ou aquelas experiências. impressões dos sentidos.
1.2.5. Análise comparativa das teorias de
Descartes e Hume
ANÁLISE COMPARATIVA DAS TEORIAS DE DESCARTES E HUME

DESCARTES HUME
A experiência é a fonte principal do conhecimento e
A razão é a fonte principal do conhecimento – Origem do todas as ideias têm uma origem empírica –
racionalismo. conhecimento empirismo.

Há ideias factícias, adventícias e inatas. A partir das Não há ideias inatas. As ideias associam-se por
Operações da
ideias inatas, obtém-se o conhecimento (por semelhança, contiguidade no tempo e no espaço e
mente e ideias causalidade. Valoriza-se o raciocínio indutivo.
intuição e dedução).

A capacidade cognitiva do entendimento humano


Descartes adotou um ceticismo metódico. Mas,
Possibilidade do limita-se ao âmbito do provável (ceticismo mitigado).
porque depositava inteira confiança na razão, poderá
conhecimento Nada podemos conhecer para lá do âmbito da
ser enquadrado no âmbito do dogmatismo.
experiência (ceticismo metafísico).

Podemos ter ideias claras e distintas dos atributos Não encontramos qualquer princípio que confira
Perspetivas unidade e conexão às perceções. Não temos
essenciais de três tipos de substâncias: pensante,
extensa e divina.
metafísicas impressões do eu pensante, de uma realidade
exterior, de Deus.

O fundamento do conhecimento encontra-se na O fundamento do conhecimento encontra-se nas


razão: é o cogito e outras ideias claras e distintas. Fundamentação impressões dos sentidos. É a crença básica de que se
Mas tal fundamento depende do fundamento do do conhecimento está a ter determinada experiência que justifica as
real: Deus. crenças obtidas através dela.

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