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Unidade I - Introdução ao Direito Administrativo

Aula passada: procedemos aos estudos prévios do Direito Administrativo. Conceito. Breve histórico. Fontes. Sistemas
administrativos.

“O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que disciplina o exercício da função administrativa, bem como pessoas e
órgãos que a desempenham.” (Celso Antônio Bandeira de Mello)

Aula de hoje: prosseguiremos com o estudo do Direito Administrativo: Estado, Governo e Administração Pública. Funções. Regime
Jurídico Administrativo.
II - Estado, Governo e Administração Pública
1) Estado: Segundo Alexandre Mazza (2019 pg.56): “Estado é um povo situado em determinado território e sujeito a um governo.”
- O estado é uma pessoa jurídica direito público e por ser uma PJ possui aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações. (o estado
organiza a sociedade e detém o poder em nome do povo que o delega através de seus representantes).

Elementos:
Território - sem território não temos Estado, teremos nação (conceito sociológico, ligação cultural entre indivíduos)
Povo - é o titular do poder, possui nacionalidade, ex.: Brasil - nacionalidade brasileira. Povo é ≠ de população (conceito
demográfico - todos os que estiverem dentro do país)
Governo - cúpula diretiva do Estado.*
- Indispensável, também, lembrar que o Estado organiza-se sob uma ordem jurídica que consiste no complexo de regras de direito
cujo fundamento maior de validade é a Constituição. A soberania refere-se ao atributo estatal de não conhecer entidade superior
na ordem externa, nem igual na ordem interna (Jean Bodin). (Soberania: independência na ordem internacional e supremacia na ordem interna.
Assim, a União não é soberana. Soberana é a República Federativa do Brasil)
Mazza, Alexandre 2019*
2) Governo*
Governo é um conceito que sofreu importante alteração de conteúdo. A concepção clássica considerava que
governo era sinônimo de Estado, isto é, a somatória dos três Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
(Obs.: o Poder é uno e irrenunciável)
Atualmente, porém, governo, em sentido subjetivo, é a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução
dos altos interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição pode ser modificada mediante eleições.
Nesse sentido, pode-se falar em “governo FHC”, “governo Lula”. Na acepção objetiva ou material, governo é
a atividade diretiva do Estado. (obs.: é atividade política de índole discricionária desenvolvida nos limites da lei)
3) Administração Pública*
Administração Pública (com iniciais maiúsculas) é um conceito que não coincide com Poder Executivo.
Atualmente, o termo Administração Pública designa o conjunto de órgãos e agentes estatais no exercício da
função administrativa, independentemente do Poder a que pertençam. (sentido formal/subjetivo/orgânico)
Assim, por exemplo, um órgão do Tribunal de Justiça quando realiza uma licitação é a Administração Pública,
embora pertença ao Poder Judiciário.

A administração pública (com iniciais minúsculas) ou poder executivo (com minúscula) são expressões que
designam a atividade consistente na defesa concreta do interesse público. (sentido
material/objetivo/funcional)
Fonte: Mazza, Alexandre (2019).*
DICA*: escrita com iniciais maiúsculas, “Administração Pública” é um conjunto de agentes e órgãos estatais;
grafada com minúsculas, a expressão “administração pública” designa a atividade consistente na defesa concreta do
interesse público.
Por isso, lembre: concessionários e permissionários de serviço público exercem administração pública, mas não
fazem parte da Administração Pública.

Poder Executivo* é o complexo de órgãos estatais verticalmente estruturados sob direção superior do “Chefe
do Executivo” (Presidente da República, Governador ou Prefeito); junto com o Legislativo e o Judiciário, o
Executivo compõe a tripartição dos Poderes do Estado. (Obs.: administrar e gerir é função típica do Poder Executivo).

4) Função Administrativa*
Conforme estudado, o Direito Administrativo pode ser conceituado como o “ramo do Direito Público que
estuda princípios e normas reguladores do exercício da função administrativa.”
O Direito Administrativo tem como objeto de estudo a chamada função administrativa.
No Direito, o termo “função” é utilizado para designar atividades exercidas na defesa de interesse alheio. Fala-
se em função uma pessoa age, não para proteção de seus próprios interesses, mas para defender interesse de
terceiros.
E a função administrativa é uma atividade exercida pelos agentes públicos na defesa de interesses, não do
próprio agente, mas da coletividade, ou seja, a função administrativa é exercida pelos agentes governamentais
NA DEFESA DO INTERESSE PÚBLICO. (Obs.: interesse público = somatório dos interesses individuais, caracterizando o
interesse da maioria.)
Fonte: Mazza, Alexandre (2020).*
OBS*: A expressão “interesse público” pode ser compreendida em dois sentidos diferentes:
a) interesse público primário;
b) interesse público secundário.
Interesse público primário é o verdadeiro interesse da coletividade, enquanto interesse público secundário é o
interesse patrimonial do Estado como pessoa jurídica.
A distinção é relevante porque os interesses do Estado podem não coincidir com os da sociedade.
Exemplos de interesse público secundário: a interposição de recurso com finalidade estritamente protelatória, o
aumento excessivo de tributos e a demora para pagamento de precatório.
- Esses dois interesses (primário e secundário) devem estar em harmonia - devem ser coincidentes. Se houver
discordância entre eles, deve prevalecer o interesse público primário (bem estar coletivo).
- Somente o interesse público primário tem supremacia sobre o interesse particular. Interesse público secundário não
tem supremacia.
► Função Administrativa e Tripartição de Poderes* - Funções do Estado
Funções do Estado - considerações → as funções podem ser típicas e atípicas.
TÍPICA: função principal; função para a qual cada Poder foi criado.
ATÍPICA: função secundária.
A função administrativa, juntamente com a legislativa e a jurisdicional, compõe as três atividades fundamentais do
Estado.
Do mesmo modo que a função típica do Legislativo é criar leis, e a do Judiciário é solucionar conflitos de interesse, a
função típica do Poder Executivo é a função administrativa, que consiste justamente na atividade de aplicar de
ofício a lei.
Fonte: Mazza, Alexandre (2019).*
Obs.:* nesse ponto, as atividades fundamentais do Poder Executivo e do Poder Judiciário possuem uma grande
diferença, pois o Judiciário aplica a lei mediante provocação das partes, enquanto o Executivo aplica a lei de ofício,
quer dizer, sem necessidade de provocação dos interessados.

Pois bem, cada Poder, além de sua função típica, exerce também, de modo atípico, atividades próprias dos outros
Poderes.
Fonte: Mazza, Alexandre (2019).*

Funções:

Poder legislativo
Típicas: legislar, fiscalizar
Atípicas: administrar → concurso público; licitação
julgar → “impeachment”

Poder Executivo
Típicas: administrar
Atípicas: legislar → medida provisória
julgar → PAD

Poder Judiciário
Típicas: julgar
Atípicas: legislar → RI
administrar → concurso público; licitação
III - Regime Jurídico Administrativo
Conforme Destaca Matheus Carvalho (2018, pg. 50), o denominado “regime jurídico-administrativo” “trata-se
de um conjunto de princípios, de direito público, aplicável aos órgãos e entidades que compõem a
Administração Pública e à atuação dos agentes administrativos em geral. Baseia-se nos princípios da
supremacia do interesse público e da indisponibilidade do interesse público que definem
prerrogativas a serem estipuladas ao Estado e de limitações impostas ao ente estatal, sempre com a
intenção de se perseguir e alcançar o interesse da coletividade.”

- Assim, a “lógica” do Dir. Administrativo está fundamentada em 02 pilares: Supremacia do interesse


público sobre o privado (prerrogativas - poder; ex. desapropriação) x Indisponibilidade do interesse
público (restrições – dever; ex. concurso público) } Regime Jurídico Administrativo.
- Dois princípios basilares do Direito Administrativo - denominados “supraprincípios do Direito
Administrativo”, também definidos como fundamentos teóricos de todos os demais princípios
administrativos; “Pedras de Toque” (Bandeira de Mello).
Di Pietro (2019, pág. 254), preleciona:
“(...) tais poderes são inerentes à Administração Pública pois, sem eles, ela não conseguiria fazer sobrepor-se a vontade
da lei à vontade individual, o interesse público ao interesse privado.
Embora o vocábulo poder dê a impressão de que se trata de faculdade da Administração, na realidade trata-se de poder-
dever, já que reconhecido ao poder público para que o exerça em benefício da coletividade; os poderes são, pois,
irrenunciáveis.
Todos eles encerram prerrogativas de autoridade, as quais, por isso mesmo, só podem ser exercidas nos limites da
lei.

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