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IRI-USP

Persistência e Mudança Social

Alexandre Abdal

Aula 11

2017
Estrutura da aula:

1.Seminário (comentários)

2.Algumas noções importantes em Granovetter

3.Introdução à perspectiva dos Sistemas Mundiais


 A influência Braudeliana

4.Seminário
Referências:

Bibliografia básica:
ARRIGHI, 1996. Introdução e Cap. 1 (pp. 1-85).
 
Bibliografia complementar:
ARRIGHI, 1996. Epílogo (337-372).
BRAUDEL, 2009a Cap. 2, seção “Situar o mercado” e cap. 3, seção “Capital,
capitalista e capitalismo” (pp. 192-216).
BRAUDEL, 2009b. Cap. 1, seções “Espaço e economias: as economias-
mundo” e “Economia-mundo: uma ordem em face de outras ordens” (pp.
12-58).
WALLERSTEIN, 1999. A análise dos sistemas mundiais (pp. 447-470).
Seminário Vespertino (comentários).

•Bom seminário. Gostei muito das figuras (esquema inicial + homem


sem cabeça).

•Dois cuidados:
 Buscar pontos de convergência entre os textos.
 Selecionar quais informações entram no seminário.

•Convergência: noção de que mercados são social e economicamente


produzidos e reproduzidos.

•Seleção: deixar discussão sobre coordenação por integração vertical


ou por mecanismos de mercado de fora. De alguma forma, é datada.
 Ambiente (contexto do mercado mundial) mais geral no qual empresas
atuam muda entre 1970 e 1990. Veremos isso hoje com Arrighi.
Seminário Noturno (comentários).

•Seminário adequado, mas apresentação pouco retilínea. Impressão de


que grupo sonegou informação (sobretudo quanto ao primeiro texto).
 Trabalhar melhor críticas de Granovetter às perspectivas super e
subsocializada, bem como a alternativa que oferece (perspectiva da
imersão).

•Manipulação bacana da lousa, mas cuidado para não se perder nessa


manipulação. Talvez, apresentação pudesse ser um pouca mais
estruturada.

•Discussão adequada do texto dos morangos.


Nova Sociologia Econômica – pontos a destacar.

•Granovetter e perspectiva que representa (análise das redes sociais)


como um dos principais expoentes e pai fundador.
 Garcia-Parpet não é granovetteriana, mas bourdiesiana. Pensa a
construção e o funcionamento do mercado de morangos como campo.

•Em Granovetter, destaque para:


 Noção de que ação econômica não é uma ação insulada.
 Noção de que Mercado não é ente metafísico, que paira sobre nós. Ao
contrário, mercados são socialmente situados.

•Interlocutor de Granovetter e da Nova Socio. Ec. em geral é a


economia ortodoxa / tradicional de origem neoclássica.
• Alfred Marshall é o grande operados da síntese neoclássica. Implica
interpretação específica de (alguns dos) clássicos da ec. política:
 Adam Smith: noção de mercado autorregulado.
 Ricard: lei das vantagens comparativas.
 Stuart Mill: utilitarismo.
 Walras: noção de mercado perfeito.

• Implicações (vis-à-vis Economia Política do XIX):


1. Abandono de orientação macro em prol de orientação microec. +
abandono de teoria da acumulação (Simth / Marx) em prol de
caracterização da dinâmica econômica como processo equilibrado.
2. Substituição da teoria do valor-trabalho (Smith, Ricardo e Marx) por
teoria do valor-utilidade (Mill).
3. Assunção de pressupostos ahistóricos acerca da natureza humana,
relacionados a egoísmo, racionalidade e maximização.
4. Radicalização da ideia da economia (Mercado) como autônoma.
5. Fortíssimo viés formalizador, em concepção que a aproxima das
Ciências Exatas e a afasta das Ciências Sociais.
•Síntese neoclássica, no início do XX, foi forte o suficiente para se
tornar paradigmática.
 Após baixa entre 1940 e 1970 recupera vigor no final do século XX e
início do XXI.

•Tal trajetória só pode ser concebida mediante combinação entre vigor


teórico-metodológico e trabalho institucional.

•De alguma forma, foi apresentada e percebida como única via


científica e profícua para o desenvolvimento da moderna ciência
econômica.

•Resultado: disseminação da síntese neoclássica como necessária.

•Contra-argumento:
Será que essa via de desenvolvimento não foi uma possível entre
outras? Será que outras leituras dos clássicos da economia
política não é possível / desejável?
•Nova Sociologia Econômica oferece formas alternativas, mais ou
menos divergentes / complementares para a questão da ação
econômica e dos mercados.

Granovetter ↔ noção de imersão

•Implica ideia forte de que a ação econômica e mercados são


socialmente situados. Ou seja, estão imersos em redes de relações
interpessoais as quais, inclusive, funcionam como mecanismo de
coordenação.

•Por um lado, indivíduos manejam as suas redes. Implica reflexividade,


ação estratégica e manutenção de certa noção de racionalidade dos
agentes.
 Nesse sentido, é bem diferente da noção de habitus, de Bourdieu.

•Por outro lado, traz resposta para a questão da confiança e


estabilização das relações de mercado. Coordenação pode ocorrer,
também, em estruturas de mercado que não foram internalizadas pelas
firmas.
Garcia-Parpet ↔ noção de construção socioec. dos mercados

•Implica ideia forte de que mercados não existem naturalmente. Ao


contrário, mesmo o mercado perfeito (atomizado, em que ninguém é
forte o suficiente para controlar preços e cuja informação é disponível)
depende de relações sociais para ser constituído e funcionar
conforme a teoria.

•Estudo do mercado de morangos é estudo de caso inspirado na


abordagem bourdiesiana.
 Mercado = campo de forças, cujos agentes (competidores-
colaboradores) são alocados pelas diferentes posições sociais. Questão
das fronteiras do mercado é importante.

•Notar que relações interpessoais, à la Granovetter, são formadas nos e


pelos ocupantes das várias posições sociais podendo, inclusive, ser
pensadas como mais um tipo de capital, o capital social.

•Mercado de morangos só existe e funciona devido a conjunto


interligado de ações ec. e não-ec. interessadas na sua criação.
Análise dos Sistemas Mundiais
Introdução: três noções braudelianas

1. Capitalismo como “lugar”:

[Digressão: o que é mesmo capitalismo para Marx?]


1. Capitalismo como “lugar”:

[Digressão: o que é mesmo capitalismo para Marx?]

•Tradicionalmente, associamos capitalismo a:


 Uma relação social entre proprietários e não-proprietários;
 Que se materializa na forma mercadoria; e
 Cuja gênese reside na revolução industrial.

•Capitalismo como lugar é modo contra-intuitivo de conceituar


capitalismo.

•Não necessariamente está em oposição ao senso comum marxiano,


mas chama a atenção para lugares estruturais de obtenção de lucro.

•Portanto, deixa de ser uma relação social e vinculação com


revolução industrial passa a ser contingente.
 Capital prefere sempre o ecletismo e a flexibilidade. Esfera da produção
é casa alheia.
2. Vida econômica em três camadas:

Capitalismo
Contramercado é o lugar dos grandes predadores: lugar de realização
de lucros extraordinários; encontro entre poder econômico e político
(formação de monopólios)
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Sistema de mercado
Mercado: lugar de relações horizontais e flutuação de preços, com
realização de lucros ordinários; funcionamento do mecanismo de
mercado, prevalência da lei da oferta e da procura
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Vida material
Andar térreo da não-economia: esfera da subsistência, produção para
autoconsumo
3. Economia-mundo

•Pedaço do planeta economicamente autônomo e integrado, detentor


de certa organicidade.
 É ≠ de economia mundial, que estende-se p/ todo o planeta.

•Ec.-mundo é limitada por outras. Limites: zonas em que não há


vantagem econômica em ultrapassar.
 Por que Europa entra em ciclo de expansionismo sem precedentes?

•No centro da ec.-mundo há uma supercidade cosmopolita.


– Convergência de capitais, pessoas, mercadorias, informações etc.

•Supercidades integram diferentes economias locais (de subsistência) e


regionais (sistemas de mercado) em sistema coerente.

•Ec.-mundo envolve DIT, hierarquia entre zonas (“centro, semiperiferia


e periferia”) e convivência entre diferentes modos de produção.
 Centro controla taxa de acumulação da periferia.
A perspectiva da economia mundo capitalista

•Arrighi, em O Longo séc. XX, é autor de forte inspiração braudeliana.

•Duplo ponto de partida:

Por um lado...
Períodos de crise, reestruturação e reorganização são uma
constante (regularidade) do capitalismo histórico.

Por outro lado...


Período 1970-90 (+2000-10?) como mais um desses momentos
decisivos de indefinição dos rumos do capitalismo histórico

•1970-90 (+2000-10):
 Tendência brutal de aumento da mobilidade do capital e integração
socioeconômica (“globalização”);
 Deslocamento do eixo da produção mundial para leste asiático (Japão,
Tigres + China);
 Escalada da violência (muitas guerras pontuais + guerra ao terror).
•Agenda de Arrighi: obs. trajetória do capitalismo histórico em sua longa
duração + possibilidades e limites para desdobramentos futuros do
capitalismo histórico.

[Citação, ARRIGHI, 1996: 25-26].

•Assim:
1.Unidade de análise: capitalismo histórico
2.Recorte: 2º andar da vida econômica (esfera do antimercado).
 Ênfase nos processos ligados ao alto comando da economia mundial.
3.Problema: capitalismo histórico é unidade de difícil observação.
4.Saída: quebra (subdivisão) do capitalismo histórico em unidades
operacionais menores, comparáveis e recorrentes.

Unidade de observação:
Ciclos Sistêmicos de Acumulação (CSAs)
Seminário.

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