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COLÉGIO POLICIAL MILITAR FELICIANO NUNES

PIRES UNIDADE BLUMENAU


COMPONENTE CURRICULAR: TÉCNICA DE
REDAÇÃO
PROFESSORA: ROSEMERI BUSARELLO ZIPF
TURMA: 7º ANO

O Gênero Textual “Causo”


CAUSO
 Causo é uma narrativa de curta extensão, própria das tradições

orais populares, contada detalhadamente. Os temas variam em


torno da descrição de ações e hábitos cotidianos, com desfechos
inesperados e, em grande parte, um tanto questionáveis. Desse
modo, seu teor pode ser cômico ou sombrio, dependendo da
intenção do autor.
CAUSO
 O gênero é circulante em regiões interioranas, retratando a

variedade de tipos brasileiros e, por isso, carrega marcas próprias da


oralidade específica de cada contexto ou região. Esse tipo de texto é
composto de espaço, tempo, personagens, apresentação e solução
de conflito.
RESUMINDO:
 Os causos são histórias de tradição oral, contadas, geralmente, em

uma linguagem espontânea, que registra o jeito de falar típico de


determinada região ou localidade. Envolvem fatos pitorescos
(inusitados, curiosos, surpreendentes), reais, fictícios ou ambos; e
podem ou não envolver o narrador.
NEGOCIAÇÃO À MODA ANTIGA
Bento era um homem de posses. Fazendeiro rico e empresário de sucesso; se a cidade em
que morava fosse populosa, nem saberiam como a conta bancária era recheada. Os trajes nada
mudaram desde os tempos em que ele contava as moedinhas. Para ele, bom mesmo continuava a ser
comer uma galinha caipira gorda, pescar, visitar Aparecida do Norte uma vez por ano. Terno e
gravata só nas festas de formatura e casamentos dos filhos.

Bem, até o dia em que ele teve que ir até Belo Horizonte negociar um carro para a filha
caçula e algumas máquinas para a fazenda. Aquela era a quinta viagem, se bobeasse, à Capital
Mineira. Pedro, braço direito nos negócios, insistiu que caprichasse mais na beca para mostrar
firmeza na negociação. A contra gosto ele trocou a botina pelo sapato social, deixou o chapéu de
palha em casa e colocou uma camisa social.
Chegaram ao primeiro local. Bento escolheu as máquinas que precisava e negociou as
condições de pagamento. Conseguiu um bom desconto, fácil, fácil. A primeira empreitada o
enganou. Quando foi negociar o carro, as habilidades pareciam poucas. O vendedor se recusava
a baixar o valor. Mas Bento falou tanto na cabeça dele que o convenceu depois de falar que se o
valor fosse melhor pagava com um cheque para três dias.

— Negócio fechado. Assina aí o cheque. Tem fundo, né?

— Claro que tem!

— Mas não custa confirmar, né? — alertou Pedro.

O braço direito de Bento fez uma conferência rápida e falou:


— Oh, baixa mais um pouco aí porque só mais um pouquinho e dá pra pagar a vista em
três dias, senão só daqui a uma semana ou vamos ter que dividir — falou Pedro.

— Com uma semana tem jeito não, e, se for dividir, voltamos a negociar, com juros —
disse o vendedor.

— Nada de juros, uma semana ou dividir com juros. Abaixa um tiquinho, não chega a R$
100, compenso com umas galinhas — sugeriu Bento.

— O quê? — bradou o vendedor.

— O valor do carro, o quanto acho que vale, mais três galinhas, um super negócio. —
Galinha não é dinheiro! Nunca negociei com bicho!
— Dinheiro né não, mas é bão demais, caipira então, mió que tem. Eu sempre negociei colocando
bicho na jogada, todo mundo ficou satisfeito.

— Bora então, cheque para três dias mais a galinhada domingo.

Apertaram as mãos. Bento assinou o cheque. O vendedor apareceu lá na fazenda domingo e comeu
até lamber os beiços. Disse que realmente era bom demais. Criado na capital, nem lembrava o gosto de
galinha caipira.

— Num falei com cê que né dinheiro, mas é bão demais? Aposto que tá mais satisfeito do que se
tivéssemos fechado com o valor inicial.

— Menos, bem menos.


Na verdade, o vendedor estava satisfeito demais mesmo, mas não podia dar o braço a
torcer. Depois daquele dia, ano após ano ele ligava para Bento para oferecer carros mais
modernos, renovar a frota. Quando Bento queria, na negociação sempre entrava uma galinhada
de lamber os beiços, os dois ficavam satisfeitos. O vendedor voltava cheio de causo pra cidade.

Talita Camargos. “Causo: negociação à moda antiga”. Texto do dia, 19 dez. 2015. Disponível em:
Causo: Negociação à moda antiga » Texto do Dia por Talita Camargos . Acesso em: 27 de março. 2023.
DOIS CABOCLOS NA
ENFERMARIA
Lá na minha terra tinha um caboclo que vivia reclamando de uma dor na perna. E,
coincidentemente, um compadre dele tinha também a mesma dor na perna, e também estava
sempre reclamando da danada. Só que nenhum deles tinha coragem de ir ao médico. Ficavam
mancando, reclamando da dor, mas não iam ao hospital de jeito nenhum. Até que um deles teve
uma ideia:

Caboclo 1 – Ê, cumpadi, nóis véve sofrendo muito com a danada dessa dor na perna...
Por que é que nóis num vamu junto no dotô? Vamos lá. A gente faz a consulta, e tal, se interna
no mesmo quarto... Daí fazemo o tratamento e vemo o que acontece. Se curar, tá bom demais!
O compadre gostou da ideia, tomou coragem e lá se foram os dois.

Quando chegaram ao hospital, o médico pediu para o primeiro deitar na cama e


começou a examinar. Fez algumas perguntas e foi apertando a perna do caboclo:

Doutor – Dói aqui?

Caboclo 1 – Aiiii!

Doutor – E aqui, como é que está?

Caboclo 1 – Aii, aii, aii! ... Dói demais!


E o outro só olhando. Quando chegou a vez dele, o médico foi cutucando, apertando,
mas nada de ele gemer. Ficou quieto o tempo todo. Aí o médico foi embora e o compadre
estranhou:

Caboclo 1 – Mas cumpadi, a minha perna doeu demais da conta com os aperto do
hómi... Como é que a sua não doeu nadica de nada?!

Caboclo 2 _ E ocê acha que eu vou dá a perna que dói pro hómi apertá?!?!?!

BOLDRIN, Rolando. Dois caboclos na enfermaria. In. ANDREATO, Elifas. Brasil: Almanaque Brasil de
Cultura Popular. São Paulo: Andreato, 2017.
Os fogos misteriosos
Gaudêncio era o maior fogueteiro de Mato Grosso: não havia quem fabricasse fogos de
artifício tão bonitos! Todo mundo adorava seu trabalho, a não ser o coronel Eusébio, que era
muito invejoso e orgulhoso, e nunca convidava Gaudêncio para suas festas juninas, que eram as
mais animadas da região.
Um belo dia, um empregado do coronel veio convidar Gaudêncio para uma festa na
fazenda. O fogueteiro aceitou e os fogos ficaram lindos. Mas Gaudêncio ficou sabendo que o
convite tinha sido uma brincadeira do empregado, e se sentiu humilhado.
Como vingança, ele prometeu soltar fogos todos fins de semana, até o coronel se
desculpar. Acontece que nenhum deles deu o braço a torcer e diz a lenda que, mesmo depois da
morte dos dois, ainda se ouve os fogos de Gaudêncio e o coronel berrando:” CHEGA!” por aí.
Será?

CORRADINI, Ana Paula. Causos da nossa terra. Correio Braziliense, 18 ago. 2012. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/
eu-estudante/ensino_educacaobasica/2012/08/18/ensino_educacaobasica_interna,317943/causos-da-nossa-terra.shtml.
Acesso em: 13 dez. 2022

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