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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Macroeconomia

Aula 05

Teoria Clássica de Comércio Internacional

21/03/24 Professor Luís Antonio Paulino 1


Tópicos de discussão
• O mercantilismo

• Teoria das Vantagens Absolutas de Adam Smith

• Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo

• Fronteira de Possibilidades de Produção e Preços Relativos

• Fronteira de Possibilidades de Produção e Ganhos de Comércio

• A Teoria dos Valores Internacionais de Stuart Mill

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Mercantilismo
• Doutrina econômica que caracteriza
o período histórico da Revolução
Comercial (séculos XVI-XVIII)
marcado pela desintegração do
feudalismo e formação dos Estados
Nacionais

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Mercantilismo
• Na visão mercantilista uma nação seria
tanto mais rica quanto maior fosse sua
população e seu estoque de metais
preciosos

– Poder militar para o Estado

– Acúmulo de riquezas (ouro e prata) para a


burguesia (em contraposição à posse de
terras pela Igreja e pela nobreza).

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Mercantilismo
• Princípios básicos da política mercantilista

– O Estado deve incrementar o bem-estar nacional, ainda que


em detrimento dos vizinhos e das colônias (o comércio é uma
atividade de “soma zero”).

– A riqueza da economia depende do aumento da população e


do aumento do volume de metais preciosos no país.

– O comércio exterior deve ser estimulado, pois é por meio de


uma balança comercial favorável que se aumenta o estoque
de metais preciosos.

– O comércio e a indústria são mais importantes para a


economia nacional que a agricultura.

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Mercantilismo
• O mercantilismo era mais um doutrina política do que uma
teoria econômica stritu senso, com objetivos não só
econômicos como também político-estrategicos.

• Em resumo advogava:

– Intenso protecionismo estatal


– Ampla intervenção do Estado na Economia

• Sua aplicação variava conforme a situação do país, seus


recursos e modelo de governo.

– Na Holanda, o poder do Estado era subordinado às


necessidades do comércio.
– Na Inglaterra e na França a iniciativa econômica estatal
constituía o outro braço das intenções militares do Estado.

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Mercantilismo
• Os mercantilistas aprofundaram o conhecimento
de questões com as da balança comercial, das
taxas de câmbio e dos movimentos de dinheiro.

• Principais representantes:

– Os ingleses Thomas Mun e Josiah Child

– Os franceses Barthélemy de Laffemas e Antoine de


Montcrestien (ambos seguidores de Colbert na época de
Henrique IV)

– O italiano Antonio Serra

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Teoria das Vantagens Absolutas
• David Hume, em Political Discurses (1752)
foi dos primeiros a atacar a lógica
mercantilista.

– O acúmulo de ouro, via superávits comerciais,


afetaria a oferta interna de moeda, elevando
os preços e salários internos, comprometendo
a competitividade das exportações.

– Mecanismo preço-fluxo-espécie

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Teoria das Vantagens Absolutas
• Adam Smith (1723-1790) em Riqueza das
Nações (1776) estabeleceu as bases do
moderno pensamento econômico a
respeito das vantagens do comércio.

• Para ele, “a riqueza não consiste em


dinheiro, ou ouro e prata, mas naquilo que
o dinheiro pode comprar” (teoria do
valor-trabalho).

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Teoria das Vantagens Absolutas
• Para Adam Smith , a falha dos mercantilistas foi
não perceber que uma troca deve beneficiar as
duas partes envolvidas no negócio, sem que se
registre necessariamente, um déficit para uma
das nações envolvidas.

• Sua teoria das vantagens absolutas atestava que


o comércio seria vantajoso sempre que houvesse
diferenças de custos de produção de bens entre
países.

• O comércio se justificaria apenas quando fosse


mais barato adquirir itens produzidos em outra
economia.

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Teoria das Vantagens Absolutas
• Diz-se que um país tem vantagem absoluta na
produção de um determinado bem ou serviço se
ele for capaz de produzi-lo e oferece-lo a um
preço de custo inferior aos dos concorrentes.

• Na visão de Adam Smith esta vantagem absoluta


decorreria da produtividade do trabalho, que está
relacionada com a especialização.

• No caso de produtos agrícolas, a condição


climática favorável é fundamental.

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Teoria das Vantagens Absolutas
• Hipóteses:

– 2 países no mundo
• B – Brasil
• W – Resto do Mundo

– 2 produtos
• M – Produtos industrializados
• X – Produtos agrícolas

– 1 fator de produção
• L – Trabalho M = f(L) e X = f(L)

– Valor das mercadorias


• Quantidade de trabalho (L)

– Coeficiente técnico de produção


• IM = L/M
• IX = L/X

21/03/24 – Os países B e W têm 1.200


Professor Luíshoras
Antoniode trabalho disponíveis
Paulino 12
Teoria das Vantagens Absolutas
-O país B tem vantagem
absoluta na produção de X
- O país W tem vantagem
absoluta na produção de M

Cada país se especializa na


produção do bem no qual
tem vantagem absoluta

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Teoria das Vantagens Absolutas

• O aumento nas quantidades


consumidas de bens caracteriza o
que se denomina benefícios ou
ganhos de comércio

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Teoria das Vantagens Absolutas
• Problemas não resolvidos por Smith:

– a proporção em que seriam feitas as trocas


entre os dois países, ou seja, quais seriam os
termos de troca ou relações de troca entre as
mercadorias X e M.

– O que aconteceria se um país não produzisse


nenhuma mercadoria a custos menores que
seus possíveis parceiros comerciais? Estaria
essa nação condenada a ficar excluída dos
benefícios da especialização e das trocas?

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Teoria das Vantagens Comparativas
• A partir da crítica à teoria de Smith, David
Ricardo (1772-1823), em Princípios de Economia
Política e Tributação (1817) formulou a teoria das
vantagens comparativas.

– Ricardo notou que a idéia de vantagens absolutas


determina o padrão de trocas internas em um país com
perfeita mobilidade de fatores de produção, levando, no
limite, à uniformização dos preços dos fatores.

– No mercado internacional, contudo, a lógica é distinta,


dada a baixa (ou inexistente) mobilidade de fatores
entre os países. Há a necessidade de considerar a
estrutura produtiva de cada país.

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Teoria das Vantagens Comparativas

• A cada nação estão associadas características


particulares que permitem explicar quais são
os bens produzidos e, logo, quais são os bens
exportados (os que são produzidos além da
demanda nacional) e quais são os bens
importados (os que são demandados pelos
consumidores mas cuja produção não existe,
foi abandonada ou é insuficiente).

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Teoria das Vantagens Comparativas

•Nesta condição o país W tem vantagens absolutas na produção


de ambas as mercadorias (X e M).
• Pelo raciocínio de Smith, não teria por que se especializar na
produção de nenhum dos dois bens, nem de comercializar com o
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Teoria das Vantagens Comparativas

• Pelo argumento de Ricardo, o país W tem


vantagem comparativa na produção do bem
M, pois seu custo é equivalente a 40% do
custo em B (2h em W/5h em B) , enquanto o
custo de produção de X é 75% daquele
apresentado em B (3h em W/4h em B).

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Teoria das Vantagens Comparativas

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Teoria das Vantagens Comparativas

Os países B e W têm 1.200 horas de


trabalho disponíveis

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Teoria das Vantagens Comparativas
Preços relativos dos bens X e M no país W e no país B

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Limites da abordagem tradicional
• O princípio das vantagens comparativas

– A contribuição fundamental de Ricardo à teoria do comércio


internacional é o princípio das vantagens comparativas: o
importante, no interior de uma mesma nação, são as
diferenças relativas entre as condições de produção dos bens
que podem ser definidas a partir do custo de oportunidade.

– Sacrificando-se uma unidade de um bem, as duas nações


aumentam em proporções diferentes a produção de outro
bem.

– Existe, então, a vantagem comparativa que leva cada nação a


especializar-se na produção do bem que ela pode produzir
relativamente de maneira mais eficaz que a outra.

– Se a especialização se faz segundo este princípio, e se as


nações entram na troca, elas podem então simultaneamente
ganhar nas trocas em um sentido preciso: obtêm uma maior
quantidade de bens do que a quantidade que seria disponível
em autarquia.
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Teoria das Vantagens Comparativas

• Os países B e W têm 1.200 horas de


trabalho disponíveis
• O país B troca 200 unidades de X por
230 unidades de M (200 x 1,15)

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Teoria das Vantagens Comparativas

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Fronteiras de possibilidades de produção

• A fronteira de possibilidades de produção nos


indica as quantidades máximas que um país
pode produzir de cada bem.

• Essas quantidades dependerão da


disponibilidade de fatores de produção e dos
coeficientes técnicos de produção

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Fronteiras de possibilidades de produção

Hipótese
 0s países B e W têm
1200 horas de trabalho
disponíveis

Hipóteses:
• Os coeficientes técnicos
de produção são
constantes e, como
temos apenas um fator
de produção, o trabalho
as funções de produção
têm retorno constante
de escala
• O trabalho é um fator
homogêneo

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Fronteiras de possibilidades de produção
• Custo social ou custo de oportunidade é quantidade de um bem que precisa ser sacrificada
para se produzir uma unidade adicional de outro bem.
– O custo em termos do bem X de uma unidade de M é
60/75 = 1,25. Cada unidade de M, “custa” 1,25 unidade de X.
– O custo em termos do bem M de uma unidade de X é
75/60 = 0,80. Cada unidade do bem X “custa” 0,80 unidade do bem M, ou seja, o custo
social de uma unidade a mais de X é 0,8 unidade do bem M

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Fronteiras de possibilidades de produção

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Fronteiras de possibilidades de consumo e
ganhos de comércio

Hipótese
 0s países B e W têm
1200 horas de trabalho
disponíveis

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Fronteiras de possibilidades de consumo e ganhos de comércio

• O país B, ao deixar de produzir uma unidade do bem X, consegue


produzir 0,8 unidades adicionais do bem M.

• O pais W, para produzir uma unidade do bem X, preciso deixar de


produzir 1,5 unidades do bem M.

• Se os dois países acertarem um termo de troca de 1,15 unidades de M,


por uma unidade de X será vantajosos para os dois paises.

• Para o país B a troca é vantajosa, pois ela obterá uma 1,15 unidade de
M por unidade de X, ao invés de apenas 0,8.

• Para o país W a troca também é vantajosa, pois para obter uma unidade
de X ele precisará de apenas 1,15 unidade de M quando antes precisa de
1,5.
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Fronteiras de possibilidades de consumo e
ganhos de comércio

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A Teoria dos Valores Internacionais de Stuart Mill

• Enquanto David Ricardo preocupou-se em


demonstrar os ganhos de comércio para
os países participantes do comércio
internacional, John Stuart Mill (1806-
1873), em sua obra Princípios de
Economia Política (1873), procurou discutir
a questão da divisão dos ganhos

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A Teoria dos Valores Internacionais de Stuart Mill

• Enquanto David Ricardo preocupou-se em


demonstrar os ganhos de comércio decorrentes
do comércio internacional, John Stuart Mill
(1806-1873), em sua obra Princípios de
Economia Política (1873), procurou discutir a
questão da divisão dos ganhos entre os países.

• Para J.S.Mill a questão da demanda internacional


do produtos é determinante.

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A Teoria dos Valores Internacionais de Stuart Mill

• Se um país oferece, no mercado


internacional, produtos pouco
demandados no mercado mundial, ele
obterá um preço pouco elevado e o país
se beneficiará pouco do ganho de
comércio mundial ou até mesmo terá um
ganho nulo.

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A Teoria dos Valores Internacionais de Stuart Mill

• Esse país deverá, então, diversificar sua


produção, mesmo que ela não tenha uma
vantagem comparativa máxima ou uma
desvantagem comparativa mínima na sua
produção.

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A Teoria dos Valores Internacionais de Stuart Mill

• No sentido oposto, se a demanda é alta,


os preços serão mais elevados, o que
permitirá ao país ofertante apropriar-se de
uma parte maior do comércio mundial.

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A Teoria dos Valores Internacionais de Stuart Mill

• Mill considera, portanto, que a lei da


oferta e da procura é determinante
para a divisão internacional dos
ganhos de comércio.

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Bibliografia

Carvalho, Maria Auxiliadora e Silva, César


Roberto Leite. Economia Internacional.
São Paulo: Editora Saraiva, 2004, capítulo 1
(p. 3-24)

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