Luciana B. Jacob Integração organismo-meio • Para Wallon, o desenvolvimento da pessoa se faz a partir da interação do potencial genético, típico da espécie, e uma grande variedade de fatores ambientais. O foco de sua teoria é a interação da criança com o meio, uma relação complementar entre os fatores orgânicos e socioculturais.
• A realização do potencial herdado geneticamente por um
indivíduo vai depender das condições do meio, que podem modificar as manifestações das determinações genotípicas. “A constituição biológica da criança, ao nascer, não será a única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias de sua existência, da qual não se exclui sua possibilidade de escolha pessoal... Os meios em que vive a criança e aqueles com que ela sonha constituem a “forma” que amolda sua pessoa. Não se trata de uma marca aceita passivamente”.
dividirão o estudo das etapas que a criança percorre serão (...) os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa”.
(Wallon, 1995, p. 135)
Domínios Funcionais • O conjunto AFETIVO oferece as funções responsáveis pelas emoções, pelos sentimentos e pela paixão
• O conjunto ATO MOTOR oferece a possibilidade de
deslocamento do corpo no tempo e no espaço, as reações posturais que garantem o equilíbrio corporal, bem como o apoio tônico para as emoções e os sentimentos se expressarem
• O conjunto COGNITIVO oferece funções que permitem a
aquisição e a manutenção do conhecimento por meio de imagens, noções, ideias e representações. É ele que permite registrar, fixar e analisar o presente e projetar futuros possível e imagináveis PESSOA:
CONJUNTO FUNCIONAL QUE EXPRESSA A
INTEGRAÇÃO EM TODAS AS SUAS INÚMERAS POSSIBILIDADES ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO Wallon admite, a existência de três leis que regulam o processo de desenvolvimento da criança em direção ao adulto:
a lei da alternância funcional, a lei da
preponderância funcional e a lei da integração funcional Lei da alternância funcional
• Indica duas direções opostas que se alternam ao
longo do desenvolvimento: uma centrípeta, voltada para a construção do eu; e a outra centrífuga, voltada para a elaboração da realidade externa e do universo que a rodeia.
• Essas duas direções se manifestam
alternadamente, constituindo o ciclo da atividade funcional. Lei da sucessão da preponderância funcional • As três dimensões ou subconjuntos preponderam, alternadamente, ao longo do desenvolvimento do homem: motora, afetiva e cognitiva.
• A função motora predomina nos primeiros meses de vida
da criança, enquanto as funções afetivas e cognitivas se alternam ao longo de todo o desenvolvimento, ora visando a formação do eu (predominância afetiva), ora visando o conhecimento do mundo exterior (predominância cognitiva). Lei da diferenciação e integração funcional
• Diz respeito às novas possibilidades que não se
suprimem ou se sobrepõem às conquistas dos
estágios anteriores, mas, pelo contrário, integram-se a elas no estágio subsequente. Desenvolvimento da pessoa completa
SINCRETISMO DIFERENCIAÇÃO
Movimentos, sentimentos e ideias são a princípio vividos
de uma maneira global, até mesmo confusa, quando a pessoa não tem clareza da situação. Aos poucos, tornam- se mais claros e adequados às necessidades que a situação apresenta.
Desenvolver-se é ser capaz de responder com reações
cada vez mais específicas a situações cada vez mais variadas (Mahoney, 2000 p.14). “O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa”. (Mahoney, 2000) ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO PRIMEIRA ETAPA: Estágio Impulsivo-emocional (nascimento até o primeiro ano de vida)
•Predominantemente motora e voltada ao meio: os atos da
criança têm o objetivo de chamar a atenção do adulto por meio de gestos, gritos e expressões, para que ele satisfaça as suas necessidades e garanta assim a sua sobrevivência. •Nesse estágio a criança não possui coordenação motora muito bem desenvolvida, os movimentos são bem desorientados. Entretanto, logo o ambiente facilita para que a mesma desenvolva suas habilidades funcionais, passando da desordem gestual às emoções diferenciadas. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO SEGUNDA ETAPA: Estágio sensório-motor e projetivo (um ano até aproximadamente três anos)
•É uma fase onde a inteligência e o mundo externo
prevalecem nos fenômenos cognitivos. A inteligência, nesse período, é tradicionalmente particionada entre inteligência prática, obtida pela interação de objetos com o próprio corpo, e inteligência discursiva, adquirida pela imitação e apropriação da linguagem. Os pensamentos, nesse estágio, muito comumente se projetam em atos motores. •A criança aprende a conhecer os outros como pessoas em oposição à sua própria existência. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO TERCEIRA ETAPA: Estágio do Personalismo (três aos seis anos de idade, aproximadamente) •Predominância do conjunto afetivo •O estágio do personalismo é marcado pela formação dos aspectos pessoais da criança, ou seja, da sua personalidade e da autoconsciência. A criança tende a apresentar a “crise negativista”: a criança acaba por se opor sistematicamente ao adulto. •Nessa idade, a criança costuma ingressar na escola maternal, inserindo-se numa comunidade de crianças semelhantes a ela, onde as relações serão diferentes das relações familiares. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO QUARTA ETAPA: Estágio Categorial (seis aos doze anos)
•Há exaltação da inteligência sobre as emoções. Segundo
Wallon, a criança desenvolve suas capacidades de memória e atenção voluntária e "seletiva“. A criança começa a abstrair conceitos concretos e começa o processo de categorização mental onde a criança tem um salto em seu desenvolvimento humano. •Vivenciar a necessidade de se perceber como indivíduo, e, ao mesmo tempo, de medir sua força em relação ao grupo social a que pertence, faz desta fase um período crítico do processo de socialização. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO QUINTA ETAPA: Estágio da Adolescência (inicia-se por volta dos onze ou doze anos) •A criança passa por transformações físicas e psicológicas por conta da superexcitarão de seu sistema endócrino - que agora passa por uma nova fase. Se no Estágio Impulsivo-Emocional a criança era regida por emoções desorientadas, aqui o adolescente passa a desenvolver sua afetividade de forma mais ampla da qual a busca da autoafirmação e desenvolvimento sexual marcam esse estágio. •Na adolescência torna-se bastante visível a forma como o meio social condiciona a existência da pessoa, configurando-se a personalidade de maneiras diversas. A afetividade
• Refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de
ser afetado pelo mundo externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis
• Ser afetado é reagir com atividades internas/externas que
a situação desperta A afetividade • A afetividade evolui conforme as condições maturacionais de cada pessoa e com formas de expressões diferenciadas, que se configuram como um conjunto de significados que o indivíduo adquire nas relações com o meio, com a cultura, ao longo da vida.
• Os significados representam para cada pessoa as
diferentes situações e experiências vivenciadas num determinado momento e ambiente social. Por este motivo afetividade não permanece imutável ao longo da trajetória da pessoa. A emoção • A emoção, antes da linguagem, é o meio utilizado pelo recém-nascido para estabelecer uma relação com o mundo humano. Gradativamente, os movimentos de expressão, primeiramente fisiológica, evoluem até se tornarem comportamentos afetivos mais complexos, nos quais a emoção, aos poucos, cede terreno aos sentimentos e depois às atividades intelectuais.
• As emoções são instantâneas e diretas e podem
expressar–se como verdadeiras descargas de energia. Quando isto ocorre, elas têm o poder de se sobrepor ao raciocínio e ao conhecimento. O sentimento • Corresponde à expressão representacional da afetividade. Não implica reações instantâneas e diretas como na emoção. Opõe-se ao arrebatamento
• Os sentimentos podem ser expressos pela mímica e pela
linguagem, que multiplicam as tonalidades, as cumplicidades tácitas ou subentendidas
• O adulto tem maiores recursos de expressão
representacional: reflete antes de agir; sabe onde, quando e como se expressar; traduz intelectualmente seus motivos e circinstâncias A paixão • Revela o aparecimento do autocontrole para dominar uma situação: tenta, para isso, silenciar a emoção
• Não aparece antes do estágio do personalismo
• Caracteriza por ciúmes, exigências, exclusividade
Como atua afetivamente em cada estágio de desenvolvimento? • Estágio impulsivo-emocional: o processo ensino- aprendizagem exige respostas corporais, contatos epidérmicos (segurar, embalar, massagear)
• Estágio sensório-motor e projetivo: disposição do
professor em oferecer diversidade de situações, espaço, para que todos possam participar igualmente. Disposição em responder às constantes indagações e facilitar a diferenciação do aluno em relação aos objetos Como atua afetivamente em cada estágio de desenvolvimento? • Estágio de personalismo: o processo ensino- aprendizagem precisa oferecer atividades diferentes e possibilidade de escolhe de acordo com as preferências da criança. O adulto precisa reconhecer e respeitar as diferenças que despontam. A criança se percebe diferente do outro: aceitação da negação por parte do adulto • Estágio categorial: ocorre a exploração mental do mundo externo mediante atividades cognitivas de agrupamento, classificação e categorização abstrata. Descoberta de diferenças e semelhanças entre objetos, imagens e ideias. Processo de construção de ideias e princípios Como atua afetivamente em cada estágio de desenvolvimento? • Estágio da puberdade e adolescência: ocorre a exploração de si mesmo, na busca da identidade autônoma, mediante atividades de confronto, autoafirmação, questionamentos. Para isso, o jovem se submete e se apoia nos pares, contrapondo os valores dos adultos. O domínio de categorias cognitivas de maior nível de abstração possibilita a discriminação de limites de sua autonomia e independência.
Quem sou eu? Quais meus valores? Quem serei no
futuro? • Estágio da puberdade e adolescência: o processo de ensino-aprendizagem facilitador, do ponto de vista afetivo, é aquele que permite a expressão e discussão dessas diferenças e que elas sejam levadas em consideração, tendo em vista os limites que garantem relações solidárias. E o adulto? • Nessa fase, a pessoa se reconhece como um ser único: eu sei quem eu sou • Ou seja, conhece suas potencialidades, limitações, pontos fortes, motivações, valores e sentimentos, o que cria a possibilidade de escolhas mais adequadas nas diferentes situações da vida • Ser adulto significa desenvolver consciência moral: reconhecer a assumir seus valores e agir de acordo com eles • Com maior clareza de si, o adulto está livre e com mais energia para voltar-se ao outro, para fora de si • Indicativo de maturidade: equilíbrio entre “estar centrado em si” e “estar centrado no outro”