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À sete dias e sete noites que Eduardo de sete anos se encontrava naquele

barquinho a remos no meio do oceano. Talvez agora, no final, a ideia de ter saído em
busca da menina que tinha visto em sonhos não fosse assim tão boa quanto parecera
ao início. Mas a menina de olhos azuis esverdeados disse que precisava de um amigo e
Eduardo era um amigo. Assim acordou a meio da noite, vestiu um robe, colocou um
cachecol, calçou umas galochas amarelas às pintas pretas, vestiu uma gabardina,
colocou um chapéu de piratas vermelho que tinha pendurado no armário e partiu em
busca da menina.
Agora ali, na imensidão do oceano, a única companhia que tinha era a
D.Aurora, a viajada estrela do mar que estava há já quinze anos “colada” naquele
barquinho a remos. D. Aurora era já uma estrela do mar com uma certa idade e,
devido às enumeras viagens que tinha realizado ao longo dos anos, era então um
equinodermo com uma reconhecida carga cultural. Era ela que tinha orientado Eduardo
durante aqueles sete dias, e era ela também que fazia companhia ao moço durante
aquele tempo. Como era muito curiosa sabia já de trás para a frente o porquê de um
rapaz tão novo como Eduardo se encontrar à deriva no mar. É claro que ao princípio
achara estranho e até dissera ao rapaz para ir para casa enquanto podia, mas
também notara que o jovem falava com uma estranha certeza acerca da tal rapariga
de olhos azuis esverdeados, e por isso deixara o moço partir no “seu” barco, em busca
da moça, sua futura amiga.
Agora lá se encontravam, no mar, sem saber que direcção tomar. Quando
Eduardo era questionado por D.Aurora sobre onde habitava então a jovem moça, o
rapaz apenas respondia que ela (a moça) o guiaria em sonhos e que mais cedo do que
Aurora espera-se lá chegariam.
Um dia, fazia um tempo agradável, uma gaivota poisou no pequeno mastro do
barco (que era nada mais nada menos que uma cana que Eduardo arranjara à pressa e
que sustentava dignamente uma bandeirinha onde um menino dava a mão a uma menina
com uns grande olhos) e espantada ficou quando viu tão jovem miúdo. Assim, Eduardo
lá explicou à gaivota, que mais tarde se veio a saber se chamar Amílcar, o porquê
daquela viagem. É então que Amílcar disse que conhecia a tal rapariga, e que a
pequena ilha onde ela habitava não ficava muito longe dali. Decidida a ajudar Eduardo,
a gaivota voou então até ao céu e indicou o caminho ao rapaz.
Haviam já passados onze dias, e no início do décimo segundo, Eduardo chegou à
ilha onde habitava a jovem moça, segundo Amílcar. De facto nem foi preciso procurar
muito, pois lá se encontrava a rapariga dos olhos azuis esverdeados, deitada sobre
uma rocha a enfeitar os longos cabelos ondulados com pérolas e pequenas estrelinhas
do mar, enquanto mirava o seu reflexo numa poça. Ao ver o seu amigo, a moça pôs-se
de pé instantaneamente e foi aí que o jovem Eduardo de sete anos pôde reparar o
quanto era bonita a rapariga dos bonitos olhos. Enrolado à sua volta de forma
despreocupada, ao mesmo tempo magistral, tinha um lindo tecido cor madrepérola,
onde as fitas que prendiam a espécie de vestido ao corpo esvoassavam com a leve
brisa. Pendente no pescoço, ostentava um lindo fio de onde, por sua vez, pendia um
esplendoroso búzio luzidio. Os seus magníficos cabelos, esses esvoassavam também
com a brisa, acariciando o seu rosto e fazendo as algas que o enfeitavam esvoaçar. E
os olhos… Oh, como eram enormes, espertos, bonitos, de um azul esverdeado, capazes
de enfeitiçar o feiticeiro.
Correu então para abraçar o seu amigo e, quando o final da tarde chegou,
assistiram os dois, sentados num rochedo, ao pôr-do-sol, de mãos dadas, como na
pequena bandeirinha do pequeno mastro inventado…

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