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O Romance do Pavão Misterioso, de José

Camelo de Melo
Revista Época

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Eu vou contar uma história Residia na Turquia
De um pavão misterioso Um viúvo capitalista
Que levantou vôo na Grécia Pai de dois filhos solteiros
Com um rapaz corajoso O mais velho João Batista
Raptando uma condessa Então o filho mais novo
Filha de um conde orgulhoso. Se chamava Evangelista.

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O velho turco era dono Depois que o velho morreu
Duma fábrica de tecidos Fizeram combinação
Com largas propriedades Porque o tal João Batista
Dinheiro e bens possuídos Concordou com o seu irmão
Deu de herança a seus filhos E foram negociar
Porque eram bem unidos. Na mais perfeita união.

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Um dia João Batista – Olha que nossa riqueza
Pensou pela vaidade se acha muito aumentada
E disse a Evangelista: e dessa nossa fortuna
– Meu mano eu tenho vontade ainda não gozei nada
de visitar o estrangeiro portanto convém qu'eu passe
se não te deixar saudade. um ano em terra afastada.

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Respondeu Evangelista: – Quero te fazer um pedido:
– Vai que eu ficarei procure no estrangeiro
regendo os negócios um objeto bonito
como sempre eu trabalhei só para rapaz solteiro;
garanto que nossos bens traz para mim de presente
com cuidado zelarei. embora custe dinheiro.

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João Batista prometeu João Batista no Japão
Com muito boa intenção Esteve seis meses somente
De comprar um objeto Gozando daquele império
De gosto de seu irmão Percorreu o Oriente
Então tomou um paquete Depois voltou para a Grécia
E seguiu para o Japão. Outro país diferente.

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João Batista entrou na Grécia João Batista interrogou:
Divertiu-se em passear – Amigo fale a verdade
Comprou passagem de bordo por qual motivo o senhor
E quando ia embarcar manda eu ficar na cidade?
Ouviu um grego dizer Disse o grego: – Vai haver
Acho bom se demorar. Uma grande novidade.
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– Mora aqui nesta cidade – É a moça em que eu falo
um conde muito valente Filha do tal potentado
mais soberbo do que Nero O pai tem ela escondida
pai de uma filha somente Em um quarto de sobrado
é a moça mais bonita Chama-se Creuza e criou-se
que há no tempo presente Sem nunca ter passeado.

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– De ano em ano essa moça O conde não consentiu
bota a cabeça de fora Outro homem educá-la
para o povo adorá-la Só ele como pai dela
no espaço de uma hora Teve o poder de ensiná-la
para ser vista outra vez E será morto o criado
tem um ano de demora. Que dela ouvir a fala.

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Os estrangeiros têm vindo Então disse João Batista
Tomarem conhecimento – Agora vou me demorar
Amanhã quando ela aparece pra ver essa condessa
No grande ajuntamento estrela desse lugar
É proibido pedir-se quando eu chegar à Turquia
A mão dela em casamento. tenho muito o que contar.

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Logo no segundo dia João Batista viu depois
Creuza saiu na janela Um retratista vendendo
Os fotógrafos se vexaram Alguns retratos de Creuza
Tirando o retrato dela Vexou-se e foi dizendo:
Quando inteirou uma hora – Quanto quer pelo retrato
Desapareceu a donzela. porque comprá-lo pretendo.

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O fotógrafo respondeu: João Batista voltou
– Lhe custa um conto de réis Da Grécia para a Turquia
João Batista ainda disse: E quando chegou em Meca
– Eu compro até por dez Cidade em que residia
se o dinheiro não der Seu mano Evangelista
empenharei os anéis. Banqueteou o seu dia.

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Então disse Evangelista: Respondeu João Batista:
– Meu mano vá me contando – Para ti trouxe um retrato
se viste coisas bonitas de uma condessa da Grécia
onde andaste passeando moça que tem fino trato
o que me traz de presente custou-me um conto de réis
vá logo entregando. ainda achei muito barato.
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Respondeu Evangelista - Sei que tem muitos retratos
Depois duma gargalhada: mas como o que eu trouxe não
- Neste caso meu irmão vais agora examiná-lo
pra mim não trouxe nada entrego em tua mão
pois retrato de mulher quando vires a beleza
é coisa bastante usada. mudará de opinião.

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João Batista retirou Evangelista voltou
O retrato de uma mala Com o retrato na mão
Entregou ao rapaz Tremendo quase assustado
Que estava de pé na sala Perguntou ao seu irmão
Quando ele viu o retrato Se a moça do retrato
Quis falar tremeu a fala. Tinha aquela perfeição.

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Respondeu João Batista João Batista perguntou
- Creuza é muito mais formosa Fazendo ar de riso:
do que o retrato dela - Que é isso, meu irmão
em beleza é preciosa queres perder o juízo?
tem o corpo desenhado Já vi que este retrato
por uma mão milagrosa. Vai te causar prejuízo.

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Respondeu Evangelista João Batista falou sério:
- Pois meu irmão eu te digo - Precipício não convém
vou sair do país de que te serve ir embora
não posso ficar contigo por este mundo além
pois a moça do retrato em procura de uma moça
deixou-me a vida em perigo. que não casa com ninguém.

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- Teu conselho não me serve - Vamos partir a riqueza
estou impressionado que tenho a necessidade
rapaz sem moça bonita dá balanço no dinheiro
é um desaventurado porque eu quero a metade
se eu não me casar com Creuza o que não posso levar
findo meus dias enforcado. dou-te de boa vontade.

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Deram o balanço no dinheiro Despediu-se Evangelista
Só três milhões encontraram Abraçou o seu irmão
Tocou dois a Evangelista Chorando um pelo outro
Conforme se combinaram Em triste separação
Com relação ao negócio Seguindo um para a Grécia
Da firma se desligaram. Em uma embarcação.
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Logo que chegou na Grécia Ali passou oito meses
Hospedou-se Evangelista Sem se dar a conhecer
Em um hotel dos mais pobres Sempre andando disfarçado
Negando assim sua pista Só para ninguém saber
Só para ninguém saber Até que chegou o dia
Que era um capitalista. Da donzela aparecer.

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Os hotéis já se achavam As duas horas as tarde
Repletos de passageiros Creuza saiu à janela
Passeavam pelas praças Mostrando a sua beleza
Os grupos de cavalheiros Entre o conde e a mãe dela
Havia muito fidalgos Todos tiraram o chapéu
Chegado dos estrangeiros. Em continência à donzela.

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Quando Evangelista viu Evangelista voltou
O brilho da boniteza Aonde estava hospedado
Disse: - Vejo que meu mano Como não falou com a moça
Quis me falar com franqueza Estava contrariado
Pois esta gentil donzela Foi inventar uma idéia
É rainha de beleza. Que lhe desse resultado.

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No outro dia saiu Respondeu o jornalista:
Passeando Evangelista - Tem o doutor Edmundo
Encontrou-se na cidade na rua dos Operários
Com um moço jornalista é engenheiro profundo
Perguntou se não havia para inventar maquinismo
Naquela praça um artista. é ele o maior do mundo.

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Evangelista entrou Assim disse Evangelista:
Na casa do engenheiro - Meu engenheiro famoso
Falando em língua grega primeiro vá me dizendo
Negando ser estrangeiro se não é homem medroso
Lhe propôs um bom negócio porque eu quero custar
Lhe oferecendo dinheiro. um negócio vantajoso

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Respondeu-lhe Edmundo - Eu amo a filha do conde
- Na arte não tenho medo a mais formosa mulher
mas vejo que o amigo se o doutor inventar
quer um negócio em segredo um aparelho qualquer
como precisa de mim que eu possa falar com ela
conte-me lá o enredo. pago o que o senhor quiser.

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– Quer o dinheiro adiantado?
49 Eu pago neste momento
– Eu aceito o seu contrato – Não senhor, ainda é cedo
mas preciso lhe avisar quando terminar o invento
que eu vou trabalhar seis meses é que eu digo o preço
o senhor vai esperar quanto custa o pagamento.
é obra desconhecida
que agora vou inventar. 52
O grande artista Edmundo
51 Desenhou nova invenção
Enquanto Evangelista Fazendo um aeroplano
Impaciente esperava De pequena dimensão
O engenheiro Edmundo Fabricado de alumínio
Toda noite trabalhava Com importante armação.
Oculto em sua oficina
E ninguém adivinhava. 54
Tinha cauda como leque
53 As asas como pavão
Movido a motor elétrico Pescoço, cabeça e bico
Depósito de gasolina Lavanca, chave e botão
Com locomoção macia Voava igualmente ao vento
Que não fazia buzina Para qualquer direção.
A obra mais importante
Que fez em sua oficina. 56
– Eu fiz o aeroplano
55 da forma de um pavão
Quando Edmundo findou que arma e se desarma
Disse a Evangelista: comprimindo em um botão
– Sua obra está perfeita e carrega doze arroba
ficou com bonita vista três léguas acima do chão.
o senhor tem que saber
que Edmundo é artista. 58
O pavão de asas abertas
57 Partiu com velocidade
Foram experimentar Coroando todo o espaço
Se tinha jeito o pavão Muito acima da cidade
Abriram a lavanca e chave Como era meia noite
Encarcaram num botão Voaram mesmo à vontade.
O monstro girou suspenso
Maneiro como balão. 60
Perguntou Evangelista:
59 – Quanto custa o seu invento?
Então disse o engenheiro: – Dê me cem contos de réis
– Já provei minha invenção acha caro o pagamento
fizemos a experiência o rapaz lhe respondeu:
tome conta do pavão Acho pouco dou duzentos.
agora o senhor me paga
sem promover discussão.
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Edmundo ainda deu-lhe Então disse o jovem turco:
Mais uma serra azougada – Muito obrigado fiquei
Que serrava caibro e ripa do pavão e dos presentes
E não fazia zuada para lutar me armei
Tinha os dentes igual navalha amanhã a meia-noite
De lâmina bem afiada. com Creuza conversarei.

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À meia-noite o pavão Evangelista em silêncio
Do muro se levantou Cinco telhas arredou
Com as lâmpadas apagadas Um buraco de dois palmos
Como uma flecha voou Caibros e ripas serrou
Bem no sobrado do conde E pendurado numa corda
Na cumeeira pousou. Por ela escorregou.

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Chegou no quarto de Creuza A donzela estremeceu
Onde a donzela dormia Acordou no mesmo instante
Debaixo do cortinado E viu um rapaz estranho
Feito de seda amarela De rosto muito elegante
E ele para acordá-la Que sorria para ela
Pôs a mão na testa dela. Com um olhar fascinante.

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Então Creuza deu um grito: O rapaz lhe disse: – Moça
– Papai um desconhecido Entre nós não há perigo
entrou aqui no meu quarto Estou pronto a defendê-la
sujeito muito atrevido Como um verdadeiro amigo
venha depressa papai Venho é saber da senhora
pode ser algum bandido. Se quer casar-se comigo.

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De um lenço enigmático O jovem puxou o lenço
Que quando Creuza gritava Ao nariz da moça encostou
Chamando o pai dela Deu uma vertigem na moça
Então o moço passava De repente desmaiou
Ele no nariz da moça E ele subiu na corda
Com isso ela desmaiava. Chegando em cima tirou.

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Ajeitou os caibros e ripas O conde acordou aflito
E consertou o telhado Quando ouviu essa zuada
E montando em seu pavão Entrou no quarto da filha
Voou bastante vexado Desembainhou a espada
Foi esconder o aparelho Encontrou-a sem sentido
Aonde foi fabricado. Dez minutos desmaiada.

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Percorreu todos os cantos Creuza disse: – Meu pai
Com a espada na mão Pois eu vi neste momento
Berrando e soltando pragas Um jovem rico e elegante
Colérico como um leão Me falando em casamento
Dizendo: – Aonde encontrá-lo Não vi quando ele encantou-se
Eu mato esse ladrão. Porque me deu um passamento.

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Disse o conde: – Nesse caso Evangelista voltou
Tu já estás a sonhar Às duas da madrugada
Moça de dezoito anos Assentou seu pavão
Já pensando em se casar Sem que fizesse zuada
Se aparecer casamento Desceu pela mesma trilha
Eu saberei desmanchar. Na corda dependurada.

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E Creuza estava deitada O rapaz muito sutil
Dormindo o sono inocente Foi pegando na mão dela
Seus cabelos como um véu Então a moça assustou-se
Que enfeitava puramente Ele garantiu a ela
Como um anjo de terreal Que não eram malfazejos:
Que tem lábios sorridentes. – Não tenha medo donzela.

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A moça interrogou-o Mas Creuza achou impossível
Disse: – Quem é o senhor O moço entrar no sobrado
Diz ele: – Sou estrangeiro Então perguntou a ele
Lhe consagrei grande amor De que jeito tinha entrado
Se não fores minha esposa E disse: – Vai me dizendo
A vida não tem valor. Se és vivo ou encantado.

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Como eu lhe tenho amizade Ele passou-lhe o lenço
Me arrisco fora de hora Ela caiu sem sentido
Moça não me negue o sim Então subiu na corda
A quem tanto lhe adora! Por onde tinha descido
Creuza aí gritou: – Papai Chegou em cima e disse:
Venha ver o homem agora. – O conde será vencido.

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Ouviu-se tocar a corneta Até que a moça tornou
E o brado da sentinela Disse o conde: – É um caso sério
O conde se dirigiu Sou um fidalgo tão rico
Para o quarto da donzela Atentado em meu critério
Viu a filha desmaiada Mas nós vamos descobrir
Não pode falar com ela. O autor do mistério.
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– Minha filha, eu já pensei – Só sendo uma visão
em um plano bem sagaz que entra neste sobrado
passa essa banha amarela só chega à meia-noite
na cabeça desse audaz entra e sai sem ser notado
só assim descobriremos se é gente desse mundo
esse anjo ou satanás. usa feitiço encantado.

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Evangelista também Depois de sessenta dias
Desarmou seu pavão Alta noite em nevoeiro
A cauda, a capota, o bico Evangelista chegou
Diminuiu a armação No seu pavão bem maneiro
Escondeu o seu motor Desceu no quarto da moça
Em um pequeno caixão. A seu modo traiçoeiro.

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Já era a terceira vez Com um pouco a moça acordou
Que Evangelista entrava Foi logo dizendo assim:
No quarto que a condessa – Tu tens dito que me amas
À noite se agasalhava com um bem-querer sem fim
Pela força do amor se me amas com respeito
O rapaz se arriscava. te senta juntos de mim.

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Evangelista sentou-se Depois Creuza levantou-se
Pôs-se a conversar com ela Com vontade de gritar
Trocando o riso esperava O rapaz tocou-lhe o lenço
A resposta da donzela Sentiu ela desmaiar
Ela pôs-lhe a mão na testa Deixou-a com uma síncope
Passou a banha amarela. Tratou de se retirar.

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E logo Evangelista Creuza então passou o resto
Voando da cumeeira Da noite mal sossegada
Foi esconder seu pavão Acordou pela manhã
Nas folhas de uma palmeira Meditava e cismada
Disse: – Na quarta viagem Se o pai não perguntasse
Levo essa estrangeira. Ela não dizia nada.

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Disse o conde: – Minha filha E Creuza disse: – Papai
Parece que estás doente? Eu cumpri o seu mandado
Sofreste algum acesso O rapaz apareceu-me
Porque teu olhar não mente Mas achei-o delicado
O tal rapaz encantado Passei-lhe a banha amarela
Te apareceu certamente. E ele saiu marcado.
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O conde disse aos soldados Evangelista trajou-se
Que a cidade patrulhassem Com roupa de alugado
Tomassem os chapéus de Encontrou-se com a patrulha
Quem nas ruas encontrassem O seu chapéu foi tirado
Um de cabelo amarelo Viram o cabelo amarelo
Ou rico ou pobre pegassem. Gritaram: – Esteja intimado!

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Os soldados lhe disseram: – Você hoje vai provar
– Cidadão não estremeça por sua vida responde
está preso a ordem do conde como é que tem falado
e é bom que não se cresça com a filha do nosso conde
vai a presença do conde quando ela lhe procura
se é homem não esmoreça. onde é que se esconde.

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Evangelista respondeu: Disseram: – Pode mudar
– Também me faça um favor Sua roupa de nobreza
enquanto vou me vestir A moça bem que dizia
minha roupa superior Que o rapaz tinha riqueza
na classe de homem rico Vamos ganhar umas luvas
ninguém pisa meu valor. E o conde uma surpresa.

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Seguiu logo Evangelista E os soldados olharam
Conversando com o guarda Em cima tinha um caixão
Até que se aproximaram Mandaram ele subir
Duma palmeira copada E ficaram de prontidão
Então disse Evangelista: Pegaram a conversar
– Minha roupa está trepada. Prestando pouca atenção.

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Evangelista subiu E os soldados gritaram:
Pôs um dedo no botão – Amigo, o senhor se desça
Seu monstro de alumínio deixe de tanta demora
Ergueu logo a armação é bom que não aborreça
Dali foi se levantando senão com pouco uma bala
Seguiu voando o pavão. visita sua cabeça.

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Então mandaram subir Quando o soldado subiu
Um soldado de coragem Gritou: – Perdemos a ação
Disseram: – Pegue na perna Fugiu o moço voando
Arraste com a folhagem De longe vejo um pavão
Está passando na hora Zombou de nossa patrulha
De voltarmos da viagem. Aquele moço é o cão.
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Voltaram e disseram ao conde Creuza sabendo da história
Que o rapaz tinham encontrado Chorava de arrependida
Mas no olho de uma palmeira Por ter marcado o rapaz
O moço tinha voado Com banha desconhecida
Disso o conde: – Pois é o cão Disse: – Nunca mais terei
Que com Creuza tem falado. Sossego na minha vida.

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Disse Creuza: – Ora papai – Aqui não tenho direito
Me prive da liberdade de falar com um criado
Não consente que eu goze um rapaz para me ver
A distração da cidade precisa ser encantado
Vivo como criminosa mas talvez ainda eu fuja
Sem gozar a mocidade. deste maldito sobrado.

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– O rapaz que me amou – Eu sei que para ele
só queria vê-lo agora não mereço confiança
para cair nos seus pés quando ele vinha aqui
como uma infeliz que chora ainda eu tinha esperança
embora que eu depois de sair desta prisão
morresse na mesma hora. onde estou desde de criança.

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Às quatro da madrugada O jovem cumprimentou-a
Evangelista desceu Deu-lhe um aperto de mão
Creuza estava acordada A condessa ajoelhou-se
Nunca mais adormeceu Para pedir-lhe perdão
A moça estava chorando Dizendo: – Meu pai mandou
O rapaz lhe apareceu. Eu fazer-te uma traição.

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O rapaz disse: – Menina – Todo o seu sonho dourado
A mim não fizeste mal é fazer-te minha senhora
Toda a moça é inocente se quiseres casar comigo
Tem seu papel virginal te arrumas e vamos embora
Cerimônia de donzela senão o dia amanhece
É uma coisa natural. e se perde a nossa hora.

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– Se o senhor é homem sério – Que importa que ele mande
e comigo quer casar tropas e navios pelos mares
pois tome conta de mim minha viagem é aérea
aqui não quero ficar meu cavalo anda nos ares
se eu falar em casamento nós vamos sair daqui
meu pai manda me matar. casar em outros lugares.
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Creuza estava empacotando O conde rangendo os dentes
O vestido mais elegante Avançou com passo extenso
O conde entrou no quarto Deu um pontapé na filha
E dando um berro vibrante Dizendo: – Eu sou quem venço
Gritando: – Filha maldita Logo no nariz do conde
Vais morrer com o seu amante. O rapaz passou o lenço.

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Ouviu-se o baque do conde Creuza disse: – Eu estou pronta
Porque rolou desmaiado Já podemos ir embora
A última cena do lenço E subiram pela corda
Deixou-o magnetizado Até que sairam fora
Disse o moço: – Tem dez minutos Se aproximava a alvorada
Para sairmos do sobrado. Pela cortina da aurora.

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Com pouco o conde acordou E a gaita do pavão
Viu a corda pendurada Tocando uma rouca voz
Na coberta do sobrado O monstro de olho de fogo
Distinguiu uma zuada Projetando os seus faróis
E as lâmpadas do aparelho O conde mandando pragas
Mostrando luz variada. Disse a moça: – É contra nós.

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Os soldados da patrulha Então dizia um soldado
Estavam de prontidão – Orgulho é uma ilusão
Um disse: – Vem ver fulano um pai governa uma filha
Aí vai passando um pavão mas não manda no coração
O monstro fez uma curva pois agora a condessinha
Para tomar direção. vai fugindo no pavão.

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O conde olhou para a corda Logo que Evangelista
E o buraco do telhado Foi chegando na Turquia
Como tinha sido vencido Com a condessa da Grécia
Pelo rapaz atilado Fidalga da monarquia
Adoeceu só de raiva Em casa do seu irmão
Morreu por não ser vingado. Casaram no mesmo dia.

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Em casa de João Batista Enquanto Evangelista
Deu-se grande ajuntamento Gozava imensa alegria
Dando vivas ao noivado Chegava um telegrama
Parabéns ao casamento Da Grécia para Turquia
À noite teve retreta Chamando a condessa urgente
Com visita e cumprimento. Pelo motivo que havia.
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Dizia o telegrama: A condessa estava lendo
"Creuza vem com o teu marido Com o telegrama na mão
receber a tua herança Entregou a Evangielista
o conde é falecido Que mostrou ao seu irmão
tua mãe deseja ver Dizendo: – Vamos voltar
o genro desconhecido." Por uma justa razão.

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De manhã quando os noivos Diziam os convidados:
Acabaram de almoçar – A condessa é tão mocinha
E Creuza em traje de noiva e vestida de noiva
Pronta para viajar torna-se mais bonitinha
De palma, véu e capela está com um buquê de flor
Pois só vieram casar. séria como uma rainha.

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Os noivos tomaram assento Na cidade de Atenas
No pavão de alumínio Estava a população
E o monstro se levantou-se Esperando pela volta
Foi ficando pequenino Do aeroplano pavão
Continuou o seu vôo Ou o cavalo do espaço
Ao rumo do seu destino. Que imita um avião.

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Na tarde do mesmo dia E também a mãe de Creuza
Que o pavão foi chegado Já esperava vexada
Em casa de Edmundo A filha mais tarde entrou
Ficou o noivo hospedado Muito bem acompanhada
Seu amigo de confiança De braço com o seu noivo
Que foi bem recompensado. Disse: – Mamãe estou casada

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Disse a velha: – Minha filha
Saíste do cativeiro
Fizeste bem em fugir
E casar no estrangeiro
Tomem conta da herança
Meu genro é meu herdeiro.

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