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Fábula é um gênero do tipo narrativo muito popular e apreciado por pessoas de diferentes

idades. Nascida da tradição oral (estudos indicam que no Oriente, por volta do século V a.C.), o
próprio nome remete a histórias contadas e passadas de geração para geração
(fabulare significa história, jogo, narrativa).

Quem não se lembra de ter ouvido, em algum momento, histórias curtas com personagens
que são animais? A cigarra e a formiga, O leão e o ratinho e A raposa e as uvas são exemplos
de fábulas, narrativas que constroem um ensinamento, uma moral.
A Onça e o Bode

Uma onça queria fazer uma casa e achou um lugar onde tirou o mato para ali
fazer a sua casa.
O bode, que também andava com vontade de fazer uma casa, foi procurar um
lugar, e, chegando no que a onça tinha aberto espaço no mato, disse:
— Bravo! Que belo lugar para levantar a minha casa!
O bode cortou logo umas palhas e fixou naquele lugar. Depois se foi embora.
No dia seguinte, a onça lá chegando e vendo as palhas, disse:
— Oh! Quem me está ajudando?! Bravo, é Deus que está me ajudando!
Começou a armar todas as palhas, e foi-se.
O bode, quando veio de novo, admirou-se e disse:
— Oh! Quem está me ajudando?! É Deus que está me protegendo.
Botou logo a armação do telhado na casa, e foi-se.
Vindo a onça, ainda mais se espantou, e botou as ripas e os enchimentos e
retirou-se.
O bode veio, e levantou a casa e foi-se. A onça veio e cobriu. O bode veio e
tapou. Assim foram, cada um por sua vez, aprontando a casa. Finalizada, veio
a onça, fez a sua cama e meteu-se dentro. Logo depois chegou o bode, e,
vendo a outra, disse:
— Não, amiga, esta casa é minha, porque fui eu quem fixei as palhas, armei o
telhado, levantei, e tapei.
— Não, amigo, respondeu a onça, a casa é minha, porque fui eu que retirei o
mato do lugar, botei as travessas, as ripas, os enchimentos, e o cobri.
Depois de um tempo, a onça, que estava com vontade de comer o bode, disse:
— Mas não haja briga, amigo bode, nós dois podemos ficar morando na casa.
O bode aceitou, mas com muito medo. O bode armou a sua rede bem longe da
onça. No outro dia a onça disse:
— Amigo bode, quando você me vir franzir o couro da testa, eu estou com
raiva, tome sentido!
— Eu, amiga onça, quando você me vir balançar as minhas barbinhas ali nas
goteiras e dar um espirro, você fuja, que eu não estou de brincadeira.
Depois a onça saiu, dizendo que ia buscar de comer. Lá, por longe de casa,
pegou um grande bode e, para fazer medo ao seu companheiro, matou-o, e
entrou com ele pela casa adentro. Atirou-o no chão e disse:
— Está aqui, amigo bode, esfole e trate para nós comer.
O bode, quando viu aquilo, disse lá consigo: "Quando este, que era tão grande,
você matou, quanto mais a mim!"
No outro dia ele disse à onça:
— Agora, amiga onça, quem vai buscar de comer sou eu.
E largou-se. Chegando longe, avistou uma onça bem grande e gorda, disfarçou
e pôs-se a tirar cipós no mato. A onça veio chegando, e, vendo aquilo, disse:
— Amigo bode, para que tanto cipó?
— Para quê?! O negócio é sério, trate de si... O mundo está para acabar, e é
com dilúvio...
— O que está dizendo, amigo bode?
— É verdade. E você, se quiser escapar, venha se amarrar, que eu já me vou.
A onça foi, e escolheu um pau bem alto e grosso, pedindo ao bode para que a
amarrasse. O bode amarrou-a perfeitamente e, quando a viu bem segura,
meteu-lhe o cacete, até matá-la. Depois arrastou-a.
Chegou em casa, largou-a no chão, dizendo:
— Está aqui. Se quiser esfole e trate.
A onça ficou espantada e com medo. Ambos temiam um ao outro.
Certo dia, o bode estava tomando ar fresco e olhou para a onça, ela estava
com o couro da testa franzido. Ele teve receio, abalou as barbas e largou um
espirro. Logo correram cada um para seu lado.
E ainda hoje correm de medo um do outro...

O Doutor Sabetudo
Era uma vez um pobre camponês, chamado Crabb, que estava levando para
vender na cidade uma carga de lenha puxada por dois bois. Vendeu-a a um
doutor por quatro táleres.
Quando foi receber o dinheiro, o doutor estava comendo à mesa do jantar. Ao
ver como o homem comia e bebia com modos tão bonitos, sentiu um grande
desejo de se tornar doutor também. Ficou parado observando-o por algum
tempo e depois perguntou se não poderia se tornar doutor.
– É claro que pode, isso é muito fácil.
– Que é preciso fazer?
– Primeiro compre uma cartilha. Você pode comprar a que tem um galo na
primeira folha. Depois, venda sua carroça e seus bois. Com o dinheiro compre
roupas e outras coisas apropriadas a um doutor. Terceiro, mande pintar um
letreiro com os dizeres: “Sou o Doutor Sabetudo” e mande pregá-lo em sua
porta.
O camponês fez tudo como o doutor mandara.
Ora, quando ele já estava exercendo a profissão há algum tempo, mas não
muito, roubaram um dinheiro de um nobre ricaço. E alguém lhe falou que um
Doutor Sabetudo, que morava em tal aldeia, com certeza saberia onde fora
parar o dinheiro. Então o nobre mandou trazer sua carruagem e rumou para a
aldeia.
Parou à porta da casa indicada e perguntou a Crabb se ele era o Doutor
Sabetudo.
– Sou.
– Então o senhor precisa vir comigo para recuperar o meu dinheiro.
– Certamente, mas Margarida, minha mulher, precisa me acompanhar também.
O nobre concordou, ofereceu aos dois assento em sua carruagem e partiram
juntos. Quando chegaram ao castelo do nobre, o jantar estava pronto e Crabb
foi convidado a se sentar à mesa.
– Certamente, mas Margarida, minha mulher, precisa jantar também – e os
dois se sentaram.
Quando o primeiro criado trouxe uma travessa de fina comida, o camponês
cutucou a mulher e disse:
– Margarida, esse foi o primeiro – querendo dizer que o criado estava servindo
o primeiro prato. Mas o criado entendeu que ele queria dizer: “Esse foi o
primeiro ladrão.” E como ele realmente fora o ladrão, ficou muito assustado e
disse aos seus companheiros ao sair da sala:
– O doutor sabe tudo, não vamos nos livrar desse aperto, ele disse que eu fui o
primeiro.
O segundo criado nem queria entrar, mas era obrigado e, quando ofereceu a
travessa ao camponês, o homem cutucou a mulher e disse:
– Margarida, este é o segundo.
O criado também se assustou e saiu depressa da sala.
Com o terceiro não foi diferente. Mais uma vez o camponês disse:
– Margarida, esse é o terceiro.
O quarto trouxe uma travessa coberta. O dono do castelo disse ao doutor que
deveria mostrar seus poderes adivinhando o que havia na travessa. Ora, era
uma travessa de caranguejos, que em alemão se chamam Crabb.
O camponês olhou para o prato sem saber o que fazer, então disse:
– Coitado do Crabb.
Quando o dono do castelo ouviu isso, exclamou:
– Pronto, ele sabe! Então sabe onde está o dinheiro também.
Então, o criado ficou horrivelmente assustado e fez sinal ao doutor para sair um
instante da sala.
Quando ele saiu, os quatro confessaram que tinham roubado o dinheiro, e lhe
dariam uma bela soma do dinheiro se ele não os entregasse ao patrão ou
estariam arriscando a cabeça. Além disso, mostraram-lhe onde haviam
escondido o dinheiro. O doutor ficou satisfeito, voltou à mesa e disse:
– Agora, meu senhor, vou ver no meu livro onde está escondido o dinheiro.
O quinto criado, nesse meio tempo, se escondera no fogão para descobrir se o
doutor sabia mais alguma coisa. Mas o doutor estava folheando as páginas da
cartilha procurando o galo e, como não conseguiu encontrá-lo, disse
imediatamente:
– Sei que você está aí e tem de aparecer.
O homem no fogão achou que o doutor estava falando com ele e saltou do
fogão, assustado, exclamando:
– O homem sabe tudo.
Então, o Doutor Sabetudo mostrou ao nobre onde o dinheiro estava escondido,
mas não denunciou os criados. Recebeu muito dinheiro das duas partes como
recompensa e se tornou um homem famoso.

O Homem Pequeno
Uma vez um príncipe saiu a caçar com outros companheiros e entraram pela
mata
O príncipe, que se chamava D. João, adiantou-se dos companheiros e se
perdeu. Depois de muito andar, avistou um muro muito alto, que parecia uma
montanha, e para lá se dirigiu.
Quando lá chegou, notou que estava numa terra estranha, pertencente a uma
família de gigantes. O dono da casa era um gigante enorme, que quase dava
com a cabeça nas nuvens, tinha uma mulher também gigante e uma filha
gigante de nome Guimara.
Quando o dono da casa viu a D. João, gritou:
— Oh, homem pequeno, o que está fazendo aqui?
O príncipe contou-lhe a sua história, e então o gigante disse:
— Pois bem, ficará aqui como criado.
O príncipe lá ficou e, passados tempos, Guimara se apaixonou por ele. O
gigante, que desconfiou da situação, chamou um dia o príncipe e lhe disse:
— Oh, homem pequeno! Tu disseste que te atrevias a derrubar numa só noite
o muro das minhas terras e a levantar um palácio?
— Não, senhor meu amo. Mas, como manda, eu obedeço.
O moço saiu e foi ver Guimara, que lhe disse:
— Não é nada. Eu vou e faço tudo.
Assim foi: Guimara, que era encantada, deitou abaixo o muro.
No outro dia, o gigante foi ver bem cedo a obra e ficou admirado.
— Oh, homem pequeno?
— Sim?
— Foste tu que fizeste esta obra ou foi Guimara?
— Senhor, fui eu, não foi Guimara. Se meus olhos viram Guimara, e Guimara
viu a mim, mau fim tenha eu.
Passou-se.
Depois de alguns dias, o gigante, que andava com vontade de matar o homem
pequeno, lhe desafiou:
— Oh, homem pequeno! Tu disseste que te atrevias a fazer da ilha dos bichos
bravos um jardim cheio de flores de todas as qualidades e, com um cano a
deitar, despejando água, tudo numa noite?
— Senhor, eu não disse isto, mas, como vossemecê, ordena eu irei fazer.
Saiu dali mais morto do que vivo e foi falar com Guimara, que lhe disse:
— Não tem nada. Eu hoje faço tudo de noite.
Assim foi.
De noite, ela fugiu de seu quarto e, com o homem pequeno, trabalhou toda a
noite, de maneira que no outro dia lá estava o jardim cheio de flores e com um
cano despejando água.
O gigante, dono da casa, foi ver a obra e ficou muito espantado. Então, formou
o plano de ir à noite ao quarto de Guimara e ao do homem pequeno para os
matar.
A moça, que era adivinha, comunicou isto a D. João e convidou-o para fugir,
deixando nas camas, em seu lugar, duas bananeiras cobertas com os lençóis
para enganar o pai.
Tarde da noite fugiram montados no melhor cavalo da estrebaria, o qual
caminhava cem léguas de cada passada.
O pai, quando os foi matar, não os encontrou. Disse o caso à mulher, que lhe
aconselhou que partisse atrás montado no outro cavalo que caminhava cem
léguas de cada passada.
O gigante partiu e, quando ia chegando perto dos fugitivos, Guimara se virou
riacho e D. João um negro velho, o cavalo num pé de árvore, a sela numa leira
de cebolas e a espingarda, que levavam, num beija-flor.
O gigante, quando chegou ao riacho, se dirigiu ao negro velho, que estava
tomando banho:
— Oh, meu negro velho! Você viu passar aqui um moço com uma moça?
O negro não prestava atenção, mergulhava n’água e, quando levantava a
cabeça, dizia:
— Plantei estas cebolas, não sei se me darão boas!
Foi assim muitas vezes, até que o gigante se cansou e se dirigiu ao beija-flor,
que lhe voou em cima, querendo furar-lhe os olhos. O gigante desesperou-se e
voltou para casa.
Chegando lá contou a história à sua mulher, que lhe disse:
— Como você é tolo, marido! O riacho é Guimara, o negro velho é o homem
pequeno, a leira de cebola a sela, o pé de árvore o cavalo e o beija-flor a
espingarda. Corra para trás e vá pegá-los.
O gigante tornou a partir em velocidade até chegar perto deles, que se haviam
desencantado e seguido a toda a pressa.
Quando eles avistaram o gigante, a moça se transformou numa igreja, D. João
num padre, a sela num altar, a espingarda no missal e o cavalo num sino.
O gigante entrou pela igreja adentro, dizendo:
— Oh seu padre, o senhor viu passar por aqui um moço com uma moça?
O padre, que fingia estar dizendo missa, respondeu:
Sou um padre ermitão,
Devoto da Conceição,
Não ouço o que me diz
Dominus vobiscum.
Foi assim muitas vezes, até que o gigante se aborreceu e voltou para trás
frustrado. Chegando em casa, contou a história à mulher, que lhe disse:
— Oh, marido! Você é muito tolo! Corra já, volte, que a igreja é Guimara, o
padre é o homem pequeno, o missal a espingarda, o altar a sela, o sino o
cavalo.
O homem pequeno e Guimara se desencantaram e seguiram a toda a pressa.
O gigante partiu rapidamente, botando as serras abaixo pelo caminho. Quando
estava, de novo, quase a pegá-los, Guimara largou no ar um punhado de cinza
e gerou-se no mundo uma neblina tal que o gigante não pode seguir e voltou.
Depois disto, os fugitivos chegaram ao reino de D. João.
Guimara, então, lhe pediu que, quando entrasse em casa, para não se
esquecer dela por uma vez, que não beijasse a mão de sua tia.
O príncipe prometeu, mas, quando entrou no palácio, a primeira pessoa que
lhe apareceu foi sua tia, a quem ele beijou a mão, e se esqueceu, por uma vez,
de Guimara, que o tinha salvado da morte.
A moça lá ficou na terra estranha, perdendo o seu encanto. Então, ficou
pequena como as outras e sempre triste.

O Papagaio Real
Duas irmãs moravam juntas, uma muito boa e a outra malvada e preguiçosa.
Cada uma tinha seu quarto.
A mais velha e malvada começou a notar um barulho de asa e depois a fala de
homem no quarto da irmã. Ficou desconfiada e foi olhar pelo buraco da
fechadura. Viu uma bacia cheia d’água no meio do quarto.
Quando deu meia-noite chegou na janela um papagaio enorme, muito bonito e
voou para dentro, metendo-se na bacia, sacudindo-se todo, espalhando água
para todos os lados.
Cada gota d’água virava ouro e o papagaio, quando saiu do banho, virou um
lindo príncipe. Sentou-se ao lado da irmã e pegaram a conversar como noivos.
A irmã ficou roxa de inveja.
No outro dia, de tarde, encheu a janela de cacos de vidro, assim como a bacia.
Durante a noite, o papagaio chegou e, encostando-se na janela, cortou-se todo.
Voou para a bacia e cortou-se ainda mais. Arrastando-se, o papagaio não virou
príncipe, mas chegou até a janela e disse para a moça que estava assombrada
com o que acontecera:
— Ingrata! Dobraste-me os encantos! Se me quiseres ver, só no reino de
Acelóis agora.
E, batendo asas, desapareceu.
A moça passa a chorar e se lastimar sem fim. Brigou com a irmã e deixou a
casa, procurando o noivo pelo mundo. Ia andando, empregando-se como
criada nas casas só para perguntar onde ficava o reino de Acelóis. Ninguém
sabia ensinar e a moça ia ficando desanimada.
Uma noite, depois de muito viajar, já cansada, ficou com medo dos animais
ferozes e subiu em uma árvore, escondendo-se bem nas folhas. Estava cheia
de medo quando diversos bichos esquisitos chegaram para baixo do pé de pau
e pegaram a conversar.
— De onde chegou você?
— Do reino da Lua!
— E você?
— O reino do Sol!
— E você?
— Do reino dos Ventos!
A moça prestou atenção. No primeiro cantar dos galos sumiram-se todos, e ela
desceu e continuou a marcha. Andou, andou, até que chegou noutra mata e,
para não ser devorada, trepou numa árvore. Lá em cima, quando a noite ficou
bem fechada, chegaram umas vozes no pé do pau.
— De onde veio?
— Do reino da Estrela!
— De onde veio?
— Do reino de Acelóis!
— Que novidades me traz?
— O príncipe está doente e ninguém sabe como tratar dele…
Na madrugada seguinte, ela seguiu no mesmo rumo, pois as vozes já tratavam
do reino de Acelóis. Andou, andou, andou. Finalmente, quando anoiteceu,
estava dentro de uma floresta. Subiu em um pau e ficou quieta, lá em cima.
Mais tarde as vozes começaram na falaria:
— De onde vem você?
— Do reino de Acelóis!
— Como vai o príncipe?
— Vai mal, coitado, não tem remédio!
— Ora, não tem! Tem! O remédio é ele beber três gotas de sangue do dedo
mindinho de uma moça donzela morresse por ele!
Quando amanheceu o dia, a moça tocou-se na estrada. Ia o sol se sumindo
quando ela avistou o reinado de Acelóis. Entrou no reinado e pediu agasalho
numa casa. Na hora da ceia, perguntou o que havia e disseram que o assunto
da terra era a doença do príncipe. A moça, no outro dia, mudou os trajes, foi ao
palácio e pediu para falar com o rei.
— Rei Senhor! Atrevo-me a dizer que ponho o príncipe bonzinho se Rei Senhor
me der, de tinta e papel, a metade do reinado e de tudo quanto lhe pertencer.
O rei deu, de tinta e papel, a metade de tudo que possuía. A moça foi para o
quarto, colocou água num copo d’água, furou o dedo mindinho, botou três
gotas de sangue dentro, misturou e mandou ele beber. Assim que o príncipe
engoliu, foi abrindo os olhos, levantando-se da cama e abraçando a moça,
numa grande alegria.
O rei ficou muito satisfeito. Quando o príncipe disse que aquela era a sua
verdadeira noiva desde o tempo em que ele estava encantado em um papagaio
real, o rei não quis dar consentimento porque a moça não era princesa. A moça
então falou:
— Rei Senhor! Tenho por tinta e papel a metade de tudo quanto é do rei
senhor neste reinado. O príncipe é do rei senhor e eu tenho por minha a
metade dele. Se rei senhor não quiser que eu case com ele inteiro, levarei para
casa uma parte.
Ao ouvir falar em cortar o príncipe pelo meio, como a um porco, o rei chegou-se
às boas e deu o consentimento.
Foram três dias de festas e danças....

A Cumbuca de Ouro
Eram dois vizinhos, um rico e outro pobre, que viviam discutindo. O rico
gostava de pregar peças no pobre.
Um dia, o pobre foi à casa do rico propor um negócio. Queria que ele lhe
arrendasse um pedaço de terra que servisse para a plantação de uma roça de
milho. O rico imediatamente pensou num pedaço de terra que não valia coisa
nenhuma, por onde nem formigas passavam. O negócio foi fechado.
O pobre voltou para sua casinha e foi com sua mulher ver a tal terra. Lá
chegados, descobriram uma cumbuca (espécie de vaso).
— Chi, mulher, esta cumbuca está cheia de moedas, venha ver!
— E de ouro! — disse a mulher. — Estamos feitos!
— Não — disse o marido, que era homem de muita honestidade. — A cumbuca
não está na minha terra e portanto não me pertence. Meu dever é contar ao
dono da propriedade.
— Bem — disse o dono da propriedade — nesse caso desmancho o negócio
feito. Não posso arrendar terras que dão cumbucas de ouro.
O pobre voltou para sua casinha, e o rico foi correndo tomar posse da grande
riqueza. Mas, quando chegou lá, só viu uma coisa: uma cumbuca cheia de
vespas terríveis.
— Ahn! — exclamou. — Aquele malandro quis trapacear comigo, mas vou
pregar-lhe uma boa peça.
Botou a cumbuca de vespas num saco e encaminhou-se para a casinha do
pobre.
— Ó compadre, feche a porta e deixe só meia janela aberta. Tenho um lindo
presente para você.
O pobre fechou a porta, deixando só meia janela aberta. O rico, então, jogou lá
dentro a cumbuca de vespas.
— Aí tem compadre, a cumbuca de moedas que você achou em minhas terras.
Aproveite esse grande tesouro — e ficou rindo.
Mas assim que a cumbuca caiu no chão, as vespas se transformaram em
moedas de ouro, que rolaram.
Lá de fora o rico ouviu o barulhinho e desconfiou. E disse:
— Compadre, abra a porta, quero ver uma coisa.
Mas o pobre respondeu:
— Não caia nessa. Estou aqui que nem sei o que fazer com tantas vespas em
cima. Não quero que elas ferrem o meu bom vizinho. Fuja, compadre! E foi
assim que o pobre ficou rico e o rico ficou ridículo.

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