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DA VIDA E DA SAÚDE
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Para que a vida e a saúde do corpo que a contém sejam protegidas eficazmente,
como determina a Constituição Federal no caput do art. 5º, o Código Penal entendeu de
sancionar as condutas causadoras de lesões efetivas – homicídios, infanticídios,
participações em suicídios, abortos e lesões corporais – a esses bens jurídicos.
Se, entretanto, a lei penal se limitasse a definir crimes apenas quando houvesse a
efetiva lesão, o bem jurídico não estaria protegido adequadamente, por isso que também é
punível a tentativa de realização desses crimes, nas suas modalidades dolosas, salvo a
participação em suicídio. Nas tentativas, como se sabe, não há lesão, mas perigo de lesão
do bem jurídico.
Não basta, entretanto, essa proteção. O Direito deve procurar, quando possível,
antecipar-se aos ataques lesivos sancionando também outras condutas, além daquelas
tentativas de crimes materiais, que possam, também, expor o bem jurídico a situações de
perigo de lesão.
Diz a doutrina que o perigo pode ser abstrato ou presumido, ou concreto ou real.
O perigo abstrato é aquele que a lei faz presumir na própria construção de um tipo.
A descrição típica não exige a probabilidade concreta da ocorrência do dano ao bem
jurídico, mas, por medida de proteção, presume a norma que a conduta descrita seja, por si
só, capaz de expor o bem à situação de perigo.
Ainda quando não criar um perigo real, a conduta será incriminada, daí que não é
1FRAGOSO, Hélio Cláudio. Direção perigosa. Revista de Direito Penal. Rio de Janeiro, 13-14:145. jan./jun.
1974.
2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles
necessário prová-lo. Basta a realização da conduta, pois o perigo é presumido pela norma.
Esse perigo pode ser demonstrado através de perícia realizada após sua ocorrência.
A doutrina mais moderna faz críticas aos crimes de perigo, abstrato e concreto.
Conquanto nos crimes de perigo abstrato o sujeito realiza a conduta, mas não expõe
o bem a perigo real, e a lei presume a existência deste, o agente estará sendo punido por
um resultado inexistente.
As críticas são justas, mas cabe aqui examinar os tipos legais definidos no Capítulo
III do Título I, do Código Penal: os crimes de perigo para a vida e para a saúde do ser
humano.