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Aula 03

AULA 03
TEORIA GERAL DO CRIME:
NOÇÕES GERAIS E CONDUTA

Sumário
Sumário ...................................................................................................................................... 2
1 - Considerações Iniciais........................................................................................................... 4
2 – Conceito de Crime................................................................................................................. 5
2.1 – Conceito Analítico de Crime: teorias......................................................................................8
2.2 – Conceito Analítico de Crime e a teoria tripartida ................................................................... 11
3 – Sujeitos do Crime ............................................................................................................... 11
3.1 – Sujeito ativo .................................................................................................................... 12
3.2 – Pessoa jurídica como sujeito ativo ...................................................................................... 12
3.3 – Sujeito passivo................................................................................................................. 15
4 – Objeto do Crime.................................................................................................................. 17
5 – Fato Típico .......................................................................................................................... 18
6 – Conduta .............................................................................................................................. 19
6.1 – Teoria causalista, causal-naturalista, naturalística ou clássica................................................. 19
6.2 – Teoria neokantista ou causal-valorativa............................................................................... 20
6.3 – Teoria finalista ................................................................................................................. 21
6.4 – Teoria social da ação......................................................................................................... 22
6.5– Teoria constitucional do Direito Penal ................................................................................... 22
6.6 – Elementos da conduta ....................................................................................................... 22
6.7 – Causas de exclusão da conduta .......................................................................................... 23
6.8 – Formas da conduta: ação e omissão ................................................................................... 23
6.9 – Espécies da conduta quanto ao elemento subjetivo ............................................................... 25
7 – Tipo Doloso......................................................................................................................... 25
7.1 – Teorias do dolo................................................................................................................. 25
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7.2 – Espécies de dolo............................................................................................................... 26


8 – Tipo Culposo ....................................................................................................................... 31
8.1 – Elementos do crime culposo............................................................................................... 31
8.2 – Modalidades de culpa ........................................................................................................ 33
8.3 – Espécies de culpa ............................................................................................................. 34
9 – Tipo Qualificado pelo Resultado.......................................................................................... 35
9.1 – Crimes qualificados pelo resultado e seus elementos............................................................. 35
9.2 –Crime Preterdoloso ............................................................................................................ 36
10 – Tipo Omissivo ................................................................................................................... 37
10.1 – Teorias da omissão ......................................................................................................... 37
10.2 – Espécies de Crime Omissivo ............................................................................................. 38
10.3 – Requisitos da omissão ..................................................................................................... 41
10.4 – Crimes de conduta mista ................................................................................................. 41
11 – Erro de tipo....................................................................................................................... 42
11.1 – Espécies ........................................................................................................................ 42
11.2 – Erro de tipo essencial ...................................................................................................... 43
11.3 – Erro de tipo acidental ...................................................................................................... 45
11.4 – Descriminantes putativas................................................................................................. 47
11.5 – Erro de tipo causado por terceiro ...................................................................................... 48
12 – Questões Objetivas ........................................................................................................... 49
12.1 – Lista de Questões sem Comentários .................................................................................. 49
12.2 – Gabarito ........................................................................................................................ 67
12.3 – Lista de Questões com Comentários .................................................................................. 67
13 – Questão Dissertativa ........................................................................................................ 97
14 – Destaques da Legislação e da Jurisprudência ................................................................... 98
15 – Resumo............................................................................................................................102
Conceito de Crime: ................................................................................................................. 102
Sujeitos do Crime: .................................................................................................................. 103
Objeto do crime: .................................................................................................................... 104
Fato típico: ............................................................................................................................ 104
Conduta: ............................................................................................................................... 105
Tipo doloso: ........................................................................................................................... 107
Tipo culposo:.......................................................................................................................... 108
Tipo qualificado pelo resultado: ................................................................................................ 109
Tipo omissivo: ........................................................................................................................ 109
Erro de tipo: .......................................................................................................................... 111
16 - Considerações Finais ........................................................................................................112
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2 – Conceito de Crime
O crime, ideia que possui importância nuclear no Direito Penal, possui diversos
conceitos, a depender do aspecto que se tome como preponderante. O estudo
dessas concepções é interessante e possui grande importância, devendo ser o
ponto de partida para o estudo da teoria do crime.
Sob o ponto de vista legal, podemos extrair o conceito de crime do artigo 1º do
Decreto-Lei 3.914/41, denominado de “Lei de Introdução do Código Penal e da
Lei das Contravenções Penais”:
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou
de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente.”

O conceito extraído da lei, portanto, leva em conta a natureza jurídica de infração


penal, da qual o crime é uma espécie, assim como a contravenção penal. Crime
seria, assim, a infração penal à qual se comina pena de reclusão ou de detenção,
podendo haver a cominação de pena de multa, seja de forma cumulativa, seja
de forma alternativa.
Este conceito passou a ser questionado com o advento da nova lei de drogas, a
Lei 11.343/2006, que trouxe modificação na criminalização do usuário. Seu artigo
28, caput, localizado no Capítulo III – Dos Crimes e das Penas, prevê o seguinte:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Com o advento desta lei, passou-se a questionar se o conceito do artigo 1º do


Decreto-Lei 3.914/41 restou superado, por ser lei anterior (critério cronológico),
ou se a figura do artigo 28 da Lei de Drogas não seria efetivamente crime, apesar
de constar do capítulo denominado “Dos Crimes e Das Penas”. Cuida-se de
questão controversa.
Demais disso, insta salientar que se discute a constitucionalidade do artigo 28 da
Lei 11.343/2006, no RE 635.659 ainda em julgamento no STF na conclusão
desta aula.
O direito brasileiro, portanto, reconhece dois tipos de infração penal: os crimes e
as contravenções penais. Estas últimas, por estarem previstas em diploma
normativo específico (Decreto-Lei 3.688/1941), são objeto de estudo da
Legislação Penal Especial ou Extravagante. Por isso, aqui não abordaremos de
forma minuciosa as infrações penais, que serão estudadas juntamente com as
demais leis penais especiais. Cumpre, entretanto, entendermos a diferença entre
os institutos.
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O sistema adotado no Brasil foi o dualista ou binário, com previsão de


duas espécies de infração penal, o crime (ou delito) e a contravenção
penal (delito liliputiano, crime vagabundo ou crime-anão). A diferença
entre ambos é de grau, ou seja, de escolha do legislador quanto à gravidade da
conduta, de juízo de valor (axiológica). Não há diferenciação de natureza entre
ambas as infrações penais, ou seja, não há diversificação de cunho ontológico.
➢ E qual a diferença entre ambas as espécies de infração penal?
As diferenças são de opção legislativa, como dito. A primeira delas já foi
destacada acima e se tornou questionável com o advento da Lei 11.343/2006. É
a previsão de que crime é a infração penal a que a lei comina pena de reclusão
ou detenção, com cominação cumulativa ou alternativa com pena de multa. Por
sua vez, a contravenção penal é a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, seja de forma
alternativa ou de forma cumulativa. Como já visto, com a previsão do porte de
drogas para consumo próprio, no artigo 28 da Lei de Drogas, essa diferenciação
restou questionada, sendo que, para alguns, passou a ser relativizada. Isto
porque referida infração penal está no capítulo denominado “Dos Crimes e das
Penas”, sendo que as penas cominadas são “advertência sobre os efeitos das
drogas; prestação de serviços à comunidade e medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo”. Ou seja, não há previsão de
pena de reclusão nem de detenção, nem de forma alternativa, apesar de o título
da norma denominar a figura de crime.
No caso dos crimes, é possível a punição da tentativa, conforme prevê o artigo
14, II, do Código Penal. A Lei das Contravenções Penais, por sua vez, em seu
artigo 4º, dispõe não ser punível a tentativa de referida espécie de infração penal.
No que se refere à extraterritorialidade, a lei penal brasileira pode ser aplicada a
crimes ocorridos fora do território nacional, como já visto na primeira aula. Por
sua vez, as contravenções penais só são puníveis se praticadas no território
brasileiro, por força do artigo 2º do Decreto-Lei 3.688/1941.
Quanto ao limite das penas, o artigo 30 do Código Penal prevê, para os crimes,
o máximo de 30 anos, enquanto a Lei das Contravenções Penais estipula, em seu
artigo 10, o limite de 5 anos de prisão simples.
No que se refere à ação penal, os crimes podem ser punidos por meio de ação
penal pública condicionada, ação penal pública incondicionada e ação penal
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privada. A persecução penal das contravenções, por sua vez, é instrumentalizada


por ação penal pública incondicionada, nos termos do artigo 17 da Lei das
Contravenções Penais. Frise-se, entretanto, que após a Constituição de 1988,
não é mais possível o início de referida ação penal de ofício.
Há, ainda, outras diferenças entre crimes e contravenções penais, como o período
de prova do sursis (crime: 2 a 4 anos ou 4 a 6 anos; contravenção: 1 a 3 anos);
possibilidade de confisco apenas para os crimes; julgamento das contravenções
penais sempre pela Justiça Estadual, ressalvado apenas o foro por prerrogativa
de função, sendo que os crimes que afetam os interesses e serviços da União são
federais; não cabimento de prisão preventiva (falta de previsão no artigo 313 do
CPP) e de prisão temporária (ausência no rol do artigo 1º, inciso III, da Lei
7.960/89) para as contravenções penais, prisões processuais que são cabíveis
para os crimes.
Vejamos um esquema apenas com as principais diferenças entre crimes e
contravenções penais:

Vejamos, agora, outras formas de se conceituar crime que, a despeito de


aplicáveis também às contravenções penais, serão vistas no tocante àquela
espécie de infração penal. Isto porque, como dito, as contravenções penais
devem ser estudadas com a Legislação Penal Especial (ou Extravagante).
Quanto ao seu conceito material, crime é a conduta humana contrária aos
interesses sociais, representando lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado, tornando necessária a imposição de sanção penal.
Analisando o seu conceito formal, crime é toda conduta vedada pela lei, sob a
ameaça de pena. Neste critério, considera-se a opção do legislador. Aquilo que o
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Congresso Nacional decide ser crime, aprovando lei neste sentido, é o que se
pode ter como crime.
Entretanto, a forma de conceituar mais usual na doutrina do Direito Penal, por
sua importância científica e didática, é a analítica. É assim denominada porque
se analisa o crime por meio de seus substratos, os elementos que devem estar
presentes para a configuração do delito. Para se definir o conceito analítico do
crime, temos diferentes teorias, a serem estudadas no próximo item. Entretanto,
já adiantamos que, para a corrente dominante, crime é o fato típico,
antijurídico (ilícito) e culpável. Percebam que, para esta conceituação, há a
previsão dos substratos do crime, como o “fato típico”, a “ilicitude” (ou
“antijuridicidade”) e a culpabilidade.

2.1 – Conceito Analítico de Crime: teorias


Como já dito, o conceito analítico de crime é definido de formas diversas pelos
doutrinadores, a depender da corrente que se adote. Os elementos que podem
ser utilizados, conforme a teoria que se adote, é o fato típico, a antijuridicidade
ou ilicitude, a culpabilidade e a punibilidade. Cabe uma análise introdutória sobre
esses elementos, com a ressalva de que serão estudados pormenorizadamente
no decorrer do curso:

➢ Fato Típico: é a ação, ou conduta, que se amolda àquilo que a hipótese


de incidência prevê. Isto é, é a ação ou omissão do agente que se encaixa
naquilo que dispõe a norma penal, aquela que estipula o que é o tipo penal.
Ademais, caso haja resultado naturalístico (modificação no mundo real), é
necessário que se constate um nexo ou um vínculo causal entre ele e a
conduta praticada.

➢ Ilicitude ou antijuridicidade: é a contrariedade da conduta em relação


ao ordenamento jurídico. Cuida-se da reprovação do ato. Não basta que o
agente tenha praticado a conduta que se amolda ao tipo penal. Para haver
crime, é imprescindível que tal conduta contrarie o que o Direito dispõe.
Como exemplo, não há ilicitude se o indivíduo assim agiu em legítima
defesa.

➢ Culpabilidade: é a possibilidade de se atribuir a conduta praticada, bem


como seu resultado, ao seu autor, com um juízo de censura. Cuida-se da
análise da conduta realizada sob o ponto de vista da reprovação. Não é
censurável, por exemplo, a conduta de quem age por estar embriagado,
embriaguez que seja completa e decorrente de caso fortuito ou força maior.
Ainda que a conduta seja típica e ilícita, a situação de embriaguez completa
involuntária afasta a censurabilidade da ação humana.
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➢ Punibilidade: este substrato diz respeito à possibilidade de o Estado


aplicar ao sujeito ativo a sanção penal prevista para a conduta típica
praticada. Há vários fatores que extinguem a punibilidade, como a morte
do agente ou a prescrição.

Neste ponto, tomando como possíveis substratos do crime o fato típico, a


ilicitude, a culpabilidade e a punibilidade, a divergência repousará em quais
desses elementos devem estar presentes para se compreender que há a
ocorrência de crime em determinado caso. Vejamos:

➢ Teoria bipartida: crime é o fato típico e antijurídico (ou ilícito). Cuida-se


de concepção que se aponta ter surgido com o finalismo, teoria da conduta
a ser estudada nesta mesma aula. Dentre os substratos com que a teoria
do crime trabalha (“fato típico”, “antijuridicidade”, “culpabilidade” e
“punibilidade”), o causalismo entendia que o dolo ou a culpa ocupavam o
substrato da culpabilidade, o que fazia com que esse elemento fosse
imprescindível para a formação do que se entende por crime. Com o
advento do finalismo, a culpa em sentido amplo (abrangendo o dolo e a
culpa em sentido estrito) deixou de integrar a culpabilidade, passando a
fazer parte do fato típico.
Com isso, parte da doutrina passou a entender que crime é o fato típico e
antijurídico. E a culpabilidade? Passou a ser mero pressuposto da pena, ou
seja, requisito indispensável para que se aplique a sanção penal, mas não
para que exista um crime.
Para tal entendimento, existindo um fato típico e ilícito, teremos um crime.
Consoante entendem os doutrinadores que defendem essa corrente, a
culpabilidade não tem nenhum elemento que interessa à definição do
crime, já que o finalismo retirou da culpabilidade a culpa em sentido amplo
(dolo ou culpa stricto sensu).
Analisa-se, apenas para fins de aplicação da sanção penal, se existe a
culpabilidade, exigível para imposição de pena, ou a periculosidade do
agente, que deve existir para aplicação da medida de segurança.
O maior expoente desta concepção é o Professor Damásio de Jesus.

➢ Teoria tripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável.


Cuida-se de concepção do crime adotada pela teoria causalista da conduta,
assim como por grande parte dos partidários da teoria finalista. É a corrente
que prevalece atualmente na doutrina brasileira.
Compreende-se como crime a ação ou omissão que consista em um fato
típico, que se apresente como ilícito e que enseje um juízo de
reprovabilidade. Com essa compreensão, a censurabilidade da conduta
pratica faz parte da definição do delito, sendo imprescindível para sua
configuração.
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É adotada na obra de Nelson Hungria, Heleno Fragoso, Guilherme Nucci e


Engênio Raúl Zaffaroni.

➢ Teoria quadripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito),


culpável e punível. Para esta concepção de crime, todos os substratos
devem estar presentes para configuração do crime. Deste modo, só é crime
a conduta típica, ilícita, com agente culpável e que seja punível.
Seus críticos apontam que a extinção da punibilidade, como por exemplo
pela ocorrência de prescrição, faria desaparecer o crime, o que seria
incongruente. A simples perda do direito de punir pelo Estado, por exemplo,
pelo decurso do prazo máximo previsto para sua persecução, faria com que
se não pudesse falar em crime.
Pouco difundida e aceita no nosso país, foi adotada por doutrinadores como
Hassemer e Battaglini, no exterior, bem como pelo brasileiro Basileu
Garcia.

O quadro seguinte resume essa diferenciação, demonstrando quais das


estruturas (fato típico, antijurídico, culpável e punível) são consideradas como
elementos do crime e pressupostos da pena, de acordo com a teoria. Por
exemplo, no caso da teoria bipartida (primeira linha), são elementos do crime o
fato típico e a antijuridicidade, enquanto culpabilidade e punibilidade são
pressupostos da pena:

Como dito, a teoria tripartida prevalece, razão pela qual cabe analisá-la no
próximo tópico.
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2.2 – Conceito Analítico de Crime e a teoria tripartida


Segundo a teoria tripartida, crime é o fato típico, antijurídico e culpável. É a
concepção que prevalece na doutrina e na jurisprudência pátria, razão pela qual
é interessante visualizar e memorizar a estrutura de seu conceito analítico:

Como já dito, cuida-se de teoria que se compatibiliza tanto com a teoria causal
da conduta quanto com a teoria finalista, que passou a prevalecer no Direito
Penal. Para ela, só é crime o fato típico, ilícito e culpável. A punibilidade é
pressuposto para aplicação da pena, não fazendo parte da conceituação
de infração penal.
Portanto, são elementos do crime: fato típico, ilicitude e culpabilidade.
É pressuposto de pena a culpabilidade.

3 – Sujeitos do Crime
O Direito visa a regular a vida em sociedade, sendo objeto do Direito Penal o
estudo das infrações penais e suas respectivas sanções, as quais visam a tutelar
os bens jurídicos mais importantes para o convívio social. Neste campo, interessa
a este ramo do Direito a conduta humana, que, como será visto adiante, possui
sempre uma finalidade. É, portanto, a conduta humana finalística e voluntária
que interessa para a configuração das infrações penais.
Excluem-se do âmbito de estudo da disciplina as ações praticadas pelos animais,
salvo, claramente, se forem utilizados como instrumentos da conduta humana,
como no caso do sujeito que solta seu cachorro e o comanda que ataque seu
desafeto. Também não interessam ao estudo do crime as forças da natureza ou
as tidas como de origem divina, como nas fases embrionárias do Direito Penal
moderno.
Portanto, é a conduta humana que deve merecer atenção do jurista na análise
criminalista. Por isso, sujeito do crime é o ser humano. Neste ponto, discute-se,
de forma mais recente, a possibilidade de a pessoa jurídica figurar também como
sujeito do crime, o que veremos neste item.
Ademais, o estudo dos sujeitos do crime abrange a questão de quem sofre a ação
ou omissão criminosa. Temos, em um primeiro plano, o Estado, a quem interessa
a observância de suas normas. Ademais, há a vítima, o indivíduo que sofre
diretamente com a conduta criminosa.
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Vejamos os sujeitos do crime de forma particularizada.

3.1 – Sujeito ativo


Sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta prevista na norma penal. Por
exemplo, no caso do crime de homicídio, o crime é “matar alguém”. Logo, sujeito
ativo é aquele que mata alguém. Cuida-se, portanto, da pessoa que pratica a
conduta típica prevista em lei.
Entretanto, cabe enfatizar que o sujeito pode atuar de forma isolada ou em
concurso com outros agentes. É sujeito ativo do delito tanto autor (que
pratica o núcleo do tipo) quanto o partícipe (que induz, instiga ou
auxilia). A diferenciação entre autor e partícipe é matéria a ser estudada quando
formos abordar o Concurso de Pessoas, mais à frente.
De todo modo, para a doutrina que prevalece, autor é aquele que pratica a
conduta prevista no tipo penal, que executa o núcleo do tipo (o verbo que reflete
a conduta punível pela norma). Partícipe, por sua vez, é o indivíduo que auxilia,
instiga ou induz outrem a praticar a conduta típica. Pode haver mais de um autor
no que se refere ao mesmo crime, caso denominado de coautoria.
Já sabemos que o sujeito ativo é o homem, no sentido de ser humano.
Mas, além de pessoa física ou natural, é possível que a pessoa jurídica seja sujeito
ativo de um crime? Vejamos a seguir.

3.2 – Pessoa jurídica como sujeito ativo


Importante assunto no estudo dos sujeitos do crime é a possibilidade de a pessoa
jurídica figurar como autora de delito. Essa discussão ganhou contornos mais
relevantes com a Constituição de 1988, que prevê, no seu artigo 225, § 3º, o
seguinte:
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Da redação deste dispositivo, surgiu a celeuma. Parte dos doutrinadores passou


a entender que a pessoa jurídica deve responder pelos crimes que praticar,
entendendo que a Constituição prevê, na norma acima transcrita, um mandado
de criminalização no que se refere às atividades lesivas ao Meio Ambiente.
Referida ordem constitucional, dirigida ao legislador, determinaria a punição, na
seara criminal, tanto das pessoas naturais quanto das jurídicas, por se prever a
sujeição a sanções penais em relação a umas e outras, indistintamente.
Por outro lado, outra parte da doutrina continuou entendendo inconciliável a
teoria do crime com a pessoa jurídica como sujeito ativo. Por se envolverem
conceitos como dolo ou culpa, culpabilidade e conduta voluntária, entende-se não
ser possível conciliar a responsabilização criminal com a cominação de sanção a
uma sociedade empresária, por exemplo. A leitura que essa corrente faz da
Constituição é que se determina sim a punição dos responsáveis por lesão ao
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Meio Ambiente, mas a previsão de sanções civis, penais e administrativas,


aplicáveis às pessoas físicas e jurídicas, deve ser interpretada de acordo com a
sua compatibilidade. Deste modo, para as pessoas jurídicas se reservariam tão
somente as sanções civis e administrativas, e não as penais.
A divergência não possui solução no âmbito doutrinário. Antes de analisarmos
como a jurisprudência tem tratado o tema, vamos analisar as teorias sobre a
pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes:
➢ Teoria da ficção: A pessoa jurídica é uma ficção jurídica, de modo que
sua existência é irreal. Por sua existência não ser real, a pessoa jurídica
não possui consciência, vontade nem finalidade. Não há como se configurar
a sua culpabilidade, já que não se pode imputar alguma conduta, nem se
falar na sua potencial consciência da ilicitude. As decisões da pessoa
jurídica na verdade são vontade livre e consciente de seus sócios ou
diretores, de modo que o crime seria cometido por estes, não pela pessoa
jurídica. Essa corrente possui base no aforismo romano societas delinquere
non potest, ou seja, pessoa jurídica não pode delinquir.
Ademais, argumenta-se que a pena imputada à pessoa jurídica violaria o
princípio da pessoalidade da pena, já que poderia afetar, inclusive, os
sócios minoritários, que podem não ter sido favoráveis à conduta que
ensejou a condenação da sociedade empresária. A própria pena falharia em
sua função preventiva especial ou retributiva, já que não se poderia falar
em se coibir a pessoa jurídica de praticar novos delitos (função preventiva
especial), já que os sócios e diretores podem se alterar com o passar do
tempo, por exemplo, além de a pessoa jurídica não possuir temor em
relação à prática delituosa, pelo próprio fato de não ter consciência ou
vontade próprias.
Teve como precursor o renomado autor Friedrich Carl von Savigny.

➢ Teoria da realidade: A pessoa jurídica possui vontade própria, além de


apresentar capacidade. Ela se torna, com sua criação, uma entidade
existente no mundo real e, por isso, possui capacidade de cometer delitos.
Argumenta-se que a vontade da pessoa jurídica se diferencia da dos seus
membros, individualmente considerados. Assim, em uma votação, um
sócio fica vencido e na outra, seu voto é o vencedor; o que demonstra a
diferença entre a vontade de ambos. A culpabilidade da pessoa jurídica se
basearia na exigibilidade de conduta diversa, sendo possível se pensar no
que se pode exigir, naquelas circunstâncias, como conduta de uma
sociedade empresária.
Por fim, a pena respeitaria o princípio da intranscendência, já que os efeitos
sobre os sócios são financeiros. Tais efeitos, indiretos, seriam os mesmos
que ocorrem com relação aos filhos menores de um indivíduo condenado à
pena privativa de liberdade. Apesar de a pena não se estender a outras
pessoas, ela possui consequências inevitáveis, que atingem terceiros
inocentes de forma indireta, como a esposa que se vê sem o auxílio do
marido, recolhido ao cárcere, para sustento da família.
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“EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL.


RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA
AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA
FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O
art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal
da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da
pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional
não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas
complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e distribuição de
atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades
para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do
art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física
implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do
constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas
também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas
dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às corporações,
além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação dos setores
e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem
relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se
esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas
atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no
interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante
para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde,
todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à
responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não
raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou
parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade
penal individual. 5. Recurso Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte
conhecida, provido.” (STF, RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma,
Julgamento em 06/08/2013).

Portanto, tem prevalecido nas Cortes Superiores que não se exige a dupla
imputação para a responsabilização da pessoa jurídica.

3.3 – Sujeito passivo


Sujeito passivo é aquele que sofre as consequências do delito, aquele sobre o
qual recai a ação criminosa. A doutrina divide o sujeito passivo em duas
categorias:

a) Formal, corrente, constante ou geral: o Estado. Como o ente que


estabelece as normas jurídicas e possui a titularidade do poder de punir,
todo delito representa uma afronta ao Estado. Portanto, ele é sujeito
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passivo formal de todas as infrações criminais, possuindo essa posição de


forma constante.

b) Material, eventual, acidental ou particular: é o titular do bem jurídico


lesado ou ameaçado de lesão. Além do sujeito passivo formal, o Estado, é
possível que haja um indivíduo ou uma pessoa jurídica que sofre as
consequências do delito. No estupro, é a pessoa natural que tem sua
dignidade sexual violada. No roubo, aquele que possui o patrimônio violado,
bem como aquele que sofre a violência ou grave ameaça, caso não seja a
mesma pessoa. Pode figurar como sujeito passivo material do delito pessoa
natural e, em alguns casos, pessoa jurídica. O morto não pode ser sujeito
passivo de infração penal, sendo que, no caso dos crimes contra o respeito
aos mortos, tutela-se a família do morto ou a coletividade.

Caso não se exija qualidade específica do sujeito passivo material, a doutrina o


classifica como comum. É o caso do furto, sendo que qualquer pessoa pode
figurar como sujeito passivo do crime.
Se for exigida qualidade específica do sujeito passivo material, diz-se que ele é
próprio. É o caso do crime de maus-tratos, que só pode ser praticado contra
“pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino,
tratamento ou custódia”.

Por fim, resta a seguinte dúvida: é possível que alguém figure como sujeito
ativo e passivo do delito ao mesmo tempo?
a) 1ª posição: é possível que o indivíduo seja, concomitantemente, sujeito
ativo e passivo do delito. O exemplo seria o crime de rixa, em que o rixento
é, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do delito, quando efetua
agressão e é agredido na mesma ocasião. É posição de Rogério Greco.

b) 2ª posição: não é possível que o indivíduo seja sujeito passivo e ativo o


crime. Devemos, aqui, relembrar o estudo do princípio da alteridade, que
preconiza que só se pode punir a conduta que ultrapassa a esfera jurídica
de disponibilidade da pessoa. Assim, não se pune a autolesão, salvo no
caso de fraude para recebimento de indenização ou valor do seguro,
previsto no artigo 171, § 2º, do Código Penal, caso em que há uma lesão
ao patrimônio de outrem. Entretanto, não se criminaliza, por si só, a lesão
praticada contra si próprio. No caso da rixa, o sujeito, que ao mesmo tempo
é agredido e agressor, pode ser sujeito ativo e passivo. Entretanto, é sujeito
ativo das agressões que praticar e sujeito passivo das lesões que sofrer de
terceiros, não de forma concomitante. Essa posição prevalece na doutrina,
sendo defendida, dentre outros, dentre outros, por Julio Fabbrini Mirabete,
Renato N. Fabbrini e Rogério Sanches Cunha.
Aula 03

4 – Objeto do Crime
Objeto do crime é aquilo contra o que se volta a conduta do sujeito ativo da
infração penal. É qualquer coisa, pessoa ou bem jurídico sobre o qual recai a
atividade criminosa e que sofre seus efeitos. Pode ser material ou jurídico:

a) Objeto material: é a pessoa ou coisa contra a qual é praticada a infração


penal.
Por exemplo, no caso do homicídio, o objeto material é a vítima, a pessoa que
é assassinada.

b) Objeto jurídico: é o bem jurídico tutelado pela norma penal.


Utilizando o exemplo do homicídio, o objeto jurídico é a vida, que é o bem
jurídico que se tutela e se visa a preservar pela criminalização da conduta.

Em virtude do objeto jurídico, os crimes classificam-se em mono-ofensivos e


pluriofensivos.
Crime mono-ofensivo é aquele que só possui um objeto jurídico. É o caso do
homicídio, já citado, cujo objeto é a vida. Também é o caso do furto, que busca
tutelar o bem jurídico patrimônio.
Crime pluriofensivo é o delito cuja previsão busca tutelar mais de um bem
jurídico. Exemplo é o crime de roubo, que tutela a liberdade individual (ou a
integridade física) e o patrimônio. Outro exemplo é o crime de latrocínio, cujos
objetos jurídicos são a vida e o patrimônio.
Não há crime sem objeto jurídico.
É impossível que haja crime sem objeto jurídico. Conforme já estudamos, na aula
sobre princípios, o princípio da ofensividade ou da lesividade preconiza que não
pode haver crime sem que haja conteúdo ofensivo a bens jurídicos. A
repressão penal, portanto, só se justifica se houver lesão ou ameaça de lesão a
um bem jurídico. Por isso, toda infração penal necessariamente possui um objeto
jurídico (mono-ofensivo) ou mais de um (pluriofensivo).
Com relação ao objeto material, é possível que haja crime sem ele:
Existem crimes sem objeto material.
Há crimes cuja conduta não recai diretamente sobre uma vítima nem sobre uma
coisa. Podemos pensar, como exemplos, o crime de ato obsceno e o de falso
testemunho, que, portanto, não possuem objeto material.
E se o crime apresentar objeto material, mas, no caso concreto, houver
sua impropriedade absoluta?
Aula 03

Neste caso, teremos a hipótese de crime impossível ou quase-crime, como


estudaremos adiante. Exemplo é o caso do sujeito que, buscando matar seu
desafeto, vai até sua casa e o encontra deitado. Desfere vários tiros contra ele e
parte em seguida. Ocorre que seu inimigo havia sofrido um ataque cardíaco e
não dormia, mas já estava morto. Crime de homicídio não haverá, pois o objeto
material (“alguém” – pessoa viva) não havia, por impropriedade absoluta.

5 – Fato Típico

Conforme analisamos, sob o viés do conceito analítico de crime, podemos


conceituá-lo, com a maioria da doutrina, como fato típico, ilícito e culpável. O
primeiro substrato do crime, portanto, é o fato típico.
Iniciemos o estudo deste substrato com seu conceito. Fato típico é a ação ou
omissão humana que se amolda à conduta prevista na norma como infração
penal.
Portanto, será típica a conduta que realize a hipótese de incidência da norma
penal, ou seja, a hipótese normativa, apresentando significativa lesão ou ameaça
de lesão ao bem jurídico tutelado. Basta pensar no furto, cujo tipo é “subtrair
coisa alheia móvel”. Para que tenhamos fato típico, é preciso que alguém atue de
forma a praticar o que prevê a norma penal, extraída do dispositivo previsto no
artigo 155 do Código Penal. Ou seja, pratica o fato típico do furto quem subtrai
coisa alheia móvel, desde que a conduta represente uma significativa lesão ao
patrimônio do sujeito passivo. Nota-se que o princípio da insignificância, já
estudado, influencia diretamente o estudo do fato típico.
São elementos do fato típico a conduta, o nexo causal, o resultado e a tipicidade.
Elementos do fato típico
Conduta: é a ação ou omissão humana, voluntária e consciente, dotada de
finalidade, cujo elemento subjetivo é o dolo ou a culpa.
Nexo Causal: é o vínculo etiológico, ou seja, de causa e efeito, entre a conduta
e o resultado praticado.
Resultado: subdivide-se em normativo e naturalístico. O resultado normativo é
a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado. Resultado naturalístico, por
sua vez, é a modificação realizada na realidade, no mundo exterior, sendo que
não está presente em todos os delitos.
Tipicidade: é a correspondência entre a conduta praticada pelo sujeito ativo e a
hipótese normativa da lei penal incriminadora, ou seja, o encaixe entre os fatos
e a previsão da infração penal pela lei.
Estudaremos, a seguir, cada um dos elementos de forma individualizada.
Aula 03

6 – Conduta
Para iniciarmos o tema com a conceituação, podemos apontar que conduta (ou
ação) é o comportamento humano voluntário, exteriorizado por uma ação ou
omissão, dirigido a um fim.
Entretanto, o tema é um dos que mais foram discutidos no âmbito do Direito
Penal, sendo espinhoso e controverso. A discussão sobre o que é a conduta deu
origem às chamadas teorias da conduta, também denominadas, por alguns, de
teorias da ação.
Vejamos, então, quais são as teorias da conduta.

6.1 – Teoria causalista, causal-naturalista, naturalística ou


clássica
A teoria causalista, também denominada causal-naturalista, naturalística ou
clássica, surgiu na época do positivismo e das ciências naturais. Possui, portanto,
base na lei da causa e efeito das ciências exatas.
Para o causalismo, a conduta não possui conteúdo de vontade ou
finalidade. A conduta é analisada por si só, sem elemento subjetivo. Deste
modo, se alguém atropela um pedestre e lhe causa lesões que o leva à morte,
praticou a conduta prevista no artigo 121 do Código Penal, ou seja, praticou o
fato típico do homicídio. A questão da intenção ou não de matar, por exemplo,
só seria analisada na culpabilidade.
Deste modo, a conduta não possui conteúdo de vontade, é desprovida de
finalidade e não abarca o dolo ou a culpa. O elemento subjetivo, a culpa em
sentido amplo, é parte da culpabilidade, devendo ser analisado neste
substrato do conceito de crime.
Como o elemento subjetivo é considerado parte da culpabilidade, o dolo
é considerado normativo. Isto porque, na conduta, há uma análise
naturalística, do que se causa com determinada ação ou omissão. Por outro lado,
a culpabilidade, como dito acima, é a possibilidade de se atribuir a conduta
praticada, bem como seu resultado, ao seu autor, com um juízo de censura. É a
análise da conduta praticada sob o ponto de vista da reprovação. Por isso, ao
considerar que o elemento subjetivo é parte da culpabilidade, tem-se o dolo
normativo. Isto porque, analisado no substrato que trata da censura que se pode
atribuir à conduta do agente, ele tem conteúdo normativo. Não possui conteúdo
meramente naturalístico, como o que se faz na análise de causa da conduta.
Franz Von Liszt, um dos seus defensores, defende a conduta (ou ação) como um
ato de vontade, que provoca uma mudança no mundo exterior, isto é, um
resultado.
Como deficiência da teoria, apontada pelos seus críticos, há dificuldades teóricas
envolvendo os crimes omissivos e culposos. Decorreriam do esvaziamento da
conduta, pois o causalismo não considera parte da conduta o elemento subjetivo,
Aula 03

deixando sua análise para a culpabilidade. Deste modo, não haveria como se
diferenciar a conduta culposa da conduta dolosa, já que o elemento subjetivo é
estudado apenas na culpabilidade. Também não haveria uma explicação aceitável
para os crimes omissivos próprios, já que há uma falta de comportamento do
agente (um não fazer, uma omissão), que, sem análise de dolo nem de culpa,
apresentaria difícil configuração. Seria tarefa bastante ingrata tentar separar uma
omissão criminosa e uma simples abstenção não criminosa, sem qualquer análise
do elemento subjetivo. O causalismo teria foco no desvalor da ação, o que levaria
a uma deficiência para a compreensão de certos delitos.
Franz Von Liszt, posteriormente, conceitua a ação como “conduta voluntária no
mundo exterior; causa voluntária ou não, impediente de uma modificação no
mundo exterior”. Deste modo, buscou englobar a conduta omissiva e a conduta
comissiva.
Foi defendida, dentre outros, pelos juristas Franz Von Liszt, Gustav Radbruch e
Ernst Von Beling

6.2 – Teoria neokantista ou causal-valorativa


A teoria neokantista ou causal-valorativa possui base causalista. Isto quer dizer
que, assim como no causalismo, o elemento subjetivo é analisado na
culpabilidade, de modo que o dolo é normativo. A conduta é estudada sem
conteúdo ou finalidade.
Entretanto, aqui já se nota a detecção de elementos subjetivos do tipo, o que
abre o caminho para se analisar algum conteúdo de vontade do agente já no
primeiro substrato do crime (fato típico), e não somente na culpabilidade. O tipo
é tido como norma de cultura, no sentido de comportamento social.
Como diferença em relação à teoria causal, deve-se destacar que a culpabilidade
passa a conter como elemento a inexigibilidade de conduta diversa. Deste modo,
temos, na culpabilidade, o dolo ou a culpa (elemento psicológico). Ademais,
com a inclusão, pelos neokantistas, da inexigibilidade de conduta diversa, a
culpabilidade passa a contar com um elemento normativo. Por isso, a
culpabilidade, para a teoria neokantista, é psicológico-normativa.
O dolo, que é normativo, possui como elemento a consciência atual da
ilicitude. Assim, ao se analisar a intenção do agente, já se inclui a consciência
atual da ilicitude. Ou seja, verifica-se se o agente atuou com dolo ou culpa, bem
como se possuía, à época, a consciência atual da sua ilicitude.
Conduta não é ação, mas comportamento, o que abrange tanto a conduta positiva
quanto a negativa, ou seja, tanto a ação quanto a omissão.
Há uma substituição do método científico, das ciências naturais, pelo axiológico,
ou seja, de juízo de valor.
Cuida-se de teoria defendida por Mezger.
Aula 03

6.3 – Teoria finalista


Para a teoria finalista, a “ação humana é o exercício de atividade final”. Isto
significa que toda conduta humana possui uma finalidade, é orientada por um
objetivo. Sob essa concepção, faz parte da conduta o próprio elemento subjetivo
do tipo, ou seja, o dolo ou a culpa. Note-se que a vontade e a finalidade se
fundam na conduta.
Em relação às teorias anteriores, há a migração do dolo e culpa da culpabilidade
para o fato típico. Ou seja, o dolo e a culpa deixam de fazer parte da
culpabilidade, para serem considerados na conduta, dentro da análise do fato
típico.
Recordando, o causalismo e o neokantismo entendem que a culpa em sentido
amplo (dolo ou culpa) deve ser estudada na culpabilidade, por serem parte dela.
Para o finalismo, a culpa em sentido amplo é parte da conduta, já que, como
visto, ela possui em si mesma uma finalidade.
Por isso, o dolo, para o finalismo, é natural, chamado, na expressão latina, de
dolus bonus. Isto porque o dolo é analisado na conduta, e não como elemento da
culpabilidade, na qual há juízo de reprovação. Sendo o dolo analisado como
elemento da conduta, sua análise é neutra, sem valoração.
Abre-se espaço, assim, para a elaboração de uma teoria pura da
culpabilidade, na qual se faz um juízo de valoração ou reprovação da conduta
ilícita do agente. Retira-se o chamado elemento psicológico da culpabilidade, com
a migração do dolo e da culpa para a conduta.
Uma crítica realizada à teoria finalista é o desvalor do resultado em relação aos
crimes culposos. Como a teoria finalista foca na conduta humana, dotada de
finalidade, e, portanto, no desvalor da ação, haveria uma deficiência em relação
aos crimes culposos, em que o agente atua com quebra do dever objetivo de
cuidado, mas sem a finalidade de atingir o resultado provocado.
Neste âmbito, foi formulada posteriormente, por Welzel, a teoria cibernética
(ou modelo de conduta biociberneticamente antecipada), a qual preconiza
que a conduta cibernética é aquela dominada pela vontade humana. O indivíduo
só pode ser responsabilizado pela conduta dominável ou dominada por ele, o que
exclui, por exemplo, o caso de um sujeito submetido a hipnose. No caso de crime
culposo, ainda que não haja finalidade na conduta do agente no que se refere ao
resultado, a conduta era passível de dominação pelo sujeito ativo, o que torna
possível a responsabilização criminal. Portanto, referida teoria engloba tanto os
crimes dolosos quanto aos culposos, ao focar na conduta sobre a qual o ser
humano possui o domínio.
Seu grande teórico, como se nota acima, foi Hans Welzel. É a teoria da conduta
adotada por grande parte da doutrina atualmente.
Aula 03

6.4 – Teoria social da ação


Para a teoria social da ação, a ação ou a conduta é o comportamento humano
socialmente relevante. A adequação social, portanto, integra o fato típico. No
conceito de crime, há a incorporação de um elemento sociológico de
interpretação. A conduta deixa de ser punida porque a sociedade não a reputa
mais injusta. Busca-se uma maior interação entre o ordenamento jurídico e a
realidade social, em razão da mudança ser mais rápida em relação a esta última.
Um exemplo seria uma luta esportiva, em que várias condutas praticadas
configurariam, em tese, o crime de lesão corporal. Entretanto, por incentivo social
ao esporte e aceitação geral de sua prática, a conduta, ainda que à primeira vista
seja típica, não é assim considerada devido à aceitação de sua prática pela
sociedade.
Uma crítica feita à presente teoria seria que as excludentes de ilicitude já
abrangem tais conceitos, tornando desnecessária a elaboração de uma teoria
apenas para modificar a sua análise para o substrato do fato típico, em vez de
sua tradicional análise no âmbito da ilicitude.
Aponta-se como seu formulador o jurista Eberhard Shmidt.

6.5– Teoria constitucional do Direito Penal


A teoria constitucional do Direito Penal não é propriamente uma teoria da
conduta. Entretanto, deve ser estudada em virtude de sua abordagem, por alguns
autores, ao lado das demais teorias estudadas acima.
Como resultado da supremacia da Constituição e de sua força normativa, a Teoria
Constitucional preconiza que deve haver controle do Poder Judiciário sobre as leis
penais, sob a ótica da Constituição. O Estado Democrático de Direito exige mais
que previsão legal, devendo haver compatibilidade das leis formais com seu
fundamento de validade, as normas constitucionais.
É necessário haver conteúdo de crime para que o indivíduo seja responsabilizado
criminalmente. Possui relevância, neste âmbito, o princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, que deve servir de norte para a interpretação de todas as
normas infraconstitucionais, notadamente as penais. Portanto, para que se
configure um delito, são necessários a subsunção formal da conduta ao tipo penal
e o conteúdo material de crime.

6.6 – Elementos da conduta


São elementos da conduta:
✓ Vontade: é o desejo do agente de realizar a ação ou de se omitir.
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✓ Exteriorização: é a transcendência de sua vontade, que deixa o seu


aspecto íntimo e atinge o mundo exterior, com seu comportamento ativo
ou negativo.
✓ Consciência: é a sua compreensão sobre sua vontade e sua
exteriorização.
✓ Finalidade: é o fim a que o agente visa com seu comportamento.

6.7 – Causas de exclusão da conduta


São causas de exclusão da conduta a coação física irresistível, o caso fortuito ou
a força maior, o estado de inconsciência completa e os movimentos reflexos.
✓ Coação física irresistível, também denominada vis absoluta, representa
o impedimento de o sujeito orientar sua conduta livremente. Imaginem que
um sujeito, muito mais forte, usa a mão de outro, débil, para empurrar um
grande vaso de um terraço que atinge um transeunte. O sujeito débil, que
teve seu corpo usado como instrumento, não pode ser responsabilizado,
pois sequer conduta teve.
✓ Caso fortuito ou força maior: são dois institutos que a doutrina não
consegue diferenciar de forma unânime, razão pela qual devem ser
analisados em conjunto. Representam tanto as forças da natureza quanto
algum evento decorrente de conduta humana e que seja imprevisível e
inevitável. Pode-se citar, por exemplo, uma guerra ou uma tempestade.
Caso algum desses eventos impeça da conduta livre e voluntária do
indivíduo, não há que se falar em conduta penalmente relevante. Imaginem
um sujeito que, tendo o dever de ser o guia de um grupo de turistas na
Floresta Amazônica, é surpreendido por um incêndio e não pode, assim,
conduzi-los de volta em segurança. Não se pode cogitar de
responsabilização penal do sujeito, na condição de garante, se, por
exemplo, for atingido pelo incêndio e, assim, tem excluída sua conduta no
âmbito penal.
✓ Estado de inconsciência completa: caso o sujeito não esteja consciente,
não há que se falar em conduta, já que um de seus elementos é a vontade.
Deste modo, excluída a conduta, para o Direito Penal, do indivíduo sujeito
à hipnose ou ao sonambulismo.
✓ Movimentos reflexos: os movimentos reflexos do corpo, involuntários,
são aqueles sobre os quais tomamos consciência após sua ocorrência.
Cuida-se de uma reação corpórea a um estímulo sensorial. Por serem
involuntários, não há, obviamente, voluntariedade e, assim, não se
considera a existência de conduta para o Direito Penal.

6.8 – Formas da conduta: ação e omissão


A conduta por se manifestar por meio de uma ação ou de uma omissão.
Aula 03

A ação representa um comportamento comissivo, positivo, um facere. Para ser


penalmente relevante, é necessário que haja a violação de um tipo proibitivo,
que preveja uma conduta desvaliosa a ser evitada.
Por sua vez, a omissão representa um comportamento negativo, omissivo, um
non facere. Enseja a responsabilização criminal quando representa a
desobediência a um tipo mandamental, ou seja, de um tipo que determina, de
forma imperativa, a realização de uma conduta valiosa.

Exemplo de crime naturalmente cometido por meio de ação é o homicídio. Há um


tipo proibitivo, que prevê o tipo de homicídio, cuja norma que se extrai dele
determina que não devemos matar, sob pena de nos submetermos a uma pena
de reclusão. Com o seu descumprimento, há a responsabilização penal por um
comportamento positivo.
Por outro lado, o crime de omissão de socorro é uma amostra de tipo
mandamental. A norma determina que, encontrando o sujeito alguém em uma
das situações previstas no artigo 135 do Código Penal, por exemplo, uma criança
abandonada, deve prestar assistência ou, se houver risco pessoal, pedir socorro
da autoridade pública. Caso essa norma mandamental, este comando, não seja
cumprido, permanecendo o agente inerte, omisso, deixa de apresentar a conduta
valiosa que a norma determina e, assim, se sujeita a uma pena de detenção ou
multa.
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6.9 – Espécies da conduta quanto ao elemento subjetivo


Quanto ao elemento subjetivo, a conduta pode ser dolosa, culposa ou
preterdolosa. A culpa em sentido amplo se subdivide em dolo e em culpa stricto
sensu.
✓ Dolosa: é considerada dolosa a conduta do sujeito que age com vontade
livre e consciente de praticar o resultado. Também é dolosa a conduta do
agente que, prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo.
✓ Culposa: é culposa a conduta do agente que quebra o dever objetivo de
cuidado, que deve manter em sua vida em sociedade. Age assim o sujeito
que é negligente, imprudente ou imperito.
✓ Preterdolosa: a conduta preterdolosa envolve o dolo e a culpa. Na
conduta inicial, chamada antecedente, o sujeito atua com dolo, mas, com
relação à conduta subsequente, age com culpa (em sentido estrito).
Vejamos cada uma dessas modalidades de conduta a seguir.

7 – Tipo Doloso
O tipo doloso é aquele em que o elemento subjetivo do tipo é o dolo. Cumpre,
então, iniciarmos por um conceito de dolo.
De forma geral, podemos definir dolo como a vontade livre e consciente de
praticar a conduta prevista no tipo penal.
O dolo possui como elementos a vontade e a consciência:
Elementos do dolo:
➢ Volitivo: é a vontade livre do agente em relação à conduta por ele
praticada.
➢ Intelectivo: é a consciência do agente quanto a sua ação ou omissão, o
conhecimento acerca da forma como ele próprio age.
É necessário que o agente, antes de tudo, possuía conhecimento sobre a
realidade, apresentando o elemento cognitivo. Isto porque só pode ele
exteriorizar sua vontade livre, se souber exatamente a realidade.

7.1 – Teorias do dolo


Com relação ao dolo, a doutrina formulou algumas teorias sobre sua definição.
Por isso, para melhor concepção do que é dolo para nosso Direito Penal, é
imprescindível analisar tais teorias:
✓ Teoria da vontade: dolo é a vontade consciente de realizar a conduta e
produzir o resultado.
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✓ Teoria da representação: dolo é a vontade de realizar a conduta,


prevendo o resultado, sem necessidade de que ele seja desejado.
✓ Teoria do assentimento ou do consentimento: dolo é a vontade de
praticar a conduta, com a previsão do resultado e a aceitação dos riscos de
produzi-lo.
Uma crítica realizada à teoria da representação, diz respeito à sua confusão com
a culpa, que representa a quebra de um dever objetivo de cuidado pelo agente,
que por sua vez produz um resultado não desejado, previsível ou não. Se adotada
a teoria da representação, seria de difícil diferenciação a conduta culposa e a
doloso.
De todo modo, o Código Penal, no seu artigo 18, dispõe expressamente sobre a
forma de se conceituar o crime doloso, demonstrando de forma inequívoca quais
teorias adota:

Como se nota da redação do dispositivo, ao mencionar que o crime é doloso


quando o agente quis o resultado, o Código Penal adota a teoria da vontade.
Além disso, há previsão de que o crime é doloso quando o agente assumiu o risco
da produção do resultado, demonstrando que o Código também encampa a teoria
do assentimento, no que diz respeito ao dolo eventual. Esta espécie de dolo será
estudada a seguir.

7.2 – Espécies de dolo


A doutrina classifica o dolo em diversas espécies, conforme o enfoque dado ao
elemento subjetivo do tipo. Vejamos as principais:
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✓ Quanto à valoração:
Natural (neutro): é o dolo como elemento psicológico, desprovido de juízo de
valor, componente da conduta. Adotado pela teoria finalista.
Normativo (híbrido): o dolo possui os elementos: consciência, vontade e
consciência da ilicitude. É componente da culpabilidade, substrato do conceito
analítico do crime em que se faz o juízo de censura sobre a ação típica e ilícita
praticada pelo sujeito ativo. Adotado pelas teorias causal e neokantista.

✓ Quanto ao elemento volitivo do agente:


Direto (determinado): é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.
É direto. pois o agente visa a determinado resultado, que é diretamente desejado
por ele. O sujeito determina sua conduta em função dessa finalidade.
É o caso do agente que, planejado matar seu chefe, vai até o local, desejando
sua morte, e dispara vários projeteis de arma de fogo, provocando o seu
falecimento.
Indireto (indeterminado): é a vontade de realizar a conduta, sem que exista
o desejo de produzir um resultado certo ou determinado. Subdivide-se em dolo
alternativo e dolo eventual.
_alternativo: é a vontade do agente de produzir qualquer dos resultados
previstos. Imaginem a ex-mulher que, buscando vingança do seu ex-marido,
corta os cabos do freio do seu veículo, desejando que algum mal lhe aconteça.
Para ela, seria desejável tanto sua morte quanto que ele se lesionasse. Deste
modo, sobrevindo sua morte, o crime deve ser considerado doloso, já que seu
dolo era alternativo (morte ou lesões corporais).
_eventual: é o elemento subjetivo presente no agente que, sem desejar o
resultado, assume o risco de sua ocorrência. É o caso do sujeito que resolve, para
impressionar os amigos, acelerar seu carro por uma movimentada avenida da
cidade, passando por vários sinais vermelhos nos semáforos e lhes dizendo que
não lhe importa se causará ou não um acidente. Assim agindo, mesmo sem
desejar causar lesões corporais nos demais motoristas que por ali circulam, ele
assume o risco do resultado que, se ocorrer, deve ensejar sua responsabilização
por crime doloso, na modalidade de dolo eventual.

✓ Quanto ao resultado:
De dano: vontade de produzir efetiva lesão ao bem jurídico. É o dolo presente
nos chamados crimes de dano, por exemplo, no caso do crime de lesões
corporais. A vontade do agente é de causar lesão em alguém, o que viola o bem
jurídico, no caso, a incolumidade física e mental do indivíduo.
De perigo: vontade de expor o bem jurídico a um risco de dano. É elemento
subjetivo que se constata nos crimes de perigo, como no caso do delito de
Aula 03

abandono de incapaz. Não é necessário que o indivíduo objetive lesionar o bem


jurídico, bastando sua conduta de expô-lo a um risco. Os crimes de perigo podem
ser classificados como de perigo abstrato ou de perigo concreto, o que será
analisado mais adiante, na aula de classificação jurídica dos crimes e no estudo
do resultado do crime.

✓ Quanto à natureza:
Genérico: vontade de realizar a conduta sem um fim específico. É o caso do
constrangimento ilegal. Não é necessário que se demonstre um animus ou uma
vontade específica do agente para que se configure o crime. Ele pode ter
praticado o delito por vingança, por maldade ou por desprezo. Não é necessário
que se demonstre uma determinada finalidade do agente, basta ao tipo penal o
fim genérico da prática da conduta nele prevista. É o caso do homicídio, que se
configura com a vontade de matar, sem necessidade de uma finalidade específica
e determinada do agente.
Específico: vontade de realizar a conduta com um fim específico, que é
elementar do tipo penal. É o caso do delito previsto no artigo 134 do Código
Penal, de exposição ou abandono de recém-nascido. O tipo prevê ser crime
“expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria”. Logo, se
alguém abandonar recém-nascido por maldade, sem nenhuma ligação à desonra,
não será possível a configuração de referido crime (sem prejuízo da
responsabilização criminal por outro delito). Isto porque a expressão “para
ocultar desonra própria” constitui fim especial do tipo, o que exige dolo específico
para a configuração do crime.

✓ Quanto a um resultado diverso:


Geral, erro sucessivo ou aberratio causae: o agente supõe ter alcançado o
resultado pretendido e, então, pratica nova ação que provoca tal resultado. Em
razão desse erro sucessivo, a doutrina aponta que o dolo do sujeito ativo é geral
e, assim, mesmo que ele se equivoque quanto a qual conduta sua deu causa ao
resultado, sua vontade livre e consciente de produzi-lo é suficiente para sua
responsabilização por crime doloso. Imaginem um sujeito que, após estrangular
seu sogro, pensa que ele já faleceu. Para simular um acidente, joga o corpo do
quinto andar, onde mora, sendo que o sogro só efetivamente morre com a queda.
Percebam que a conduta que ele praticou com o fim de matar o sogro, o
estrangulamento, não causou o resultado desejado. O resultado morte adveio de
outra conduta, o lançamento do corpo da janela do apartamento. Por isso, a
hipótese é denominada aberratio causae, pois há um equívoco quanto à conduta
que teria dado causa ao resultado. Entretanto, dado o chamado dolo geral, ele
deve ser responsabilizado pelo homicídio doloso do sogro, pois, não importa qual
conduta dele deu causa ao resultado, se a que ele imaginava ter surtido efeito,
ou se a posterior. Por ter agido com intenção, dotado de vontade livre e
consciente de praticar o resultado morte, e pelo fato de uma de suas ações ter
Aula 03

sido a causa do resultado pretendido, sua conduta é dolosa e penalmente


relevante.
Cumulativo: é o dolo que abrange mais de um resultado, na chamada
progressão criminosa. Como estudamos no conflito aparente de normas, a
progressão criminosa é uma das hipóteses em que se aplica o princípio da
consunção. O indivíduo responde por apenas um delito se, após causar
determinado grau de violação do bem jurídico, muda de ideia e resolve praticar
delito mais grave, contra o mesmo bem jurídico, o que representa um maior grau
de lesão. É o caso, por exemplo, do sujeito que vai pedir prestação de contas a
um sócio, que acredita ter desviado dinheiro da sociedade empresária de que
participam. Já sai de casa com a intenção de lhe causar lesões corporais,
imaginando que uma “boa surra” lhe daria a lição necessária. Lá chegando, passa
a agredi-lo, quando então ouve a confissão do sócio, que lhe diz não estar
arrependido. Por isso, muda sua intenção de lesionar para a de matar, causando-
lhe múltiplas lesões que o levam à morte. Este é o chamado dolo cumulativo,
sendo que o agente, no caso, responderá apenas pelo crime de homicídio, em
virtude da incidência do princípio da consunção.

✓ Quanto ao critério cronológico:


Antecedente, inicial ou preordenado: é o dolo que existe antes da conduta.
Não é suficiente para a responsabilização penal. Imaginem que uma mulher quis
furtar um casaco de peles de sua conhecida, por saber que é caríssimo. Depois
de já ter deixado para trás esse intento criminoso, vai a uma festa e confunde
seu casaco, falso, com o da outra mulher, verdadeiro e muito valioso. Incorre,
claramente, em erro de tipo, não havendo dolo em sua conduta. O dolo anterior,
existente antes de sua ação, não pode ser considerado para qualificá-la.
Concomitante: é o dolo que está presente no momento da conduta, sendo o
elemento subjetivo necessário para a configuração do crime doloso. É o
relevante para o Direito Penal.
Subsequente: é o dolo posterior à conduta. Imaginem que, sem nenhuma
intenção, o sujeito atropela um transeunte. Após identificá-lo como um colega
dos tempos da escola que contra ele praticava bullying, passa a desejar sua
morte. Essa vontade de ver o inimigo morto, surgida após a conduta, não é apta
a tornar sua ação dolosa.

✓ Quanto ao grau:
De primeiro grau: é a vontade de produzir o resultado inicialmente pretendido.
É a vontade voltada ao resultado que o agente deseja. No caso do furto, é a
subtração da coisa almejada pelo sujeito.
De segundo grau: é a vontade que abrange os efeitos colaterais, que se estende
aos meios utilizados para se alcançar o resultado inicialmente pretendido.
Aula 03

✓ Nexo Causal: é o vínculo de causa e efeito entre a conduta praticada e o


resultado causado.
✓ Tipicidade: é a adequação entre a conduta praticada e a lei penal
incriminadora.
✓ Violação de um dever objetivo de cuidado: necessária nos crimes
culposos, a violação de um dever objetivo de cuidado é o que caracteriza a
culpa em sentido estrito. Pode ocorrer por meio de atuação negligente,
imprudente ou imperita do sujeito ativo.

Aqui, cumpre mencionar a chamada teoria da imprudência. No causalismo, era


analisada como forma de culpabilidade. Em uma concepção mais moderna de
crime, passou-se a considerar que faz parte do tipo de injusto penal. Injusto
penal, por sua vez, seria o fato típico e ilícito.
Como já visto em aula anterior, os tipos dos crimes culposos são chamados
abertos, por dependerem de complementação valorativa. Isto porque a culpa
envolve conceitos de imprudência, negligência e imperícia, elementos que
requerem carga valorativa para serem decifrados.
A culpa requer, assim, uma análise da capacidade do agente em relação à
compreensão do dever jurídico de cuidado e à atuação conforme referido dever.
Apesar de se fundamentar em critérios objetivos, a culpa requer do intérprete
uma valoração da capacidade do agente. Para sua análise, surgem dois critérios:
• Critério da generalização: o tipo do injusto (fato típico e antijurídico) não
considera eventuais diferenças de capacidade individual. Elas devem ser
analisadas na culpabilidade, com observância do nível de escolaridade,
condição socioeconômica, capacidade cognitiva e experiências de vida do
autor. No tipo do injusto, deve-se considerar a capacidade média.
Neste âmbito, acaba-se por exigir menos de quem possui um nível superior
de capacidade individual, bem como se exige mais dos que possuem um
nível reduzido de incapacidade, em relação à média da capacidade. Isto
porque não se consideram as características de cada indivíduo.

• Critério da individualização: a análise deve respeitar as peculiaridades


de cada indivíduo quanto a sua capacidade individual, como escolaridade,
condição social, experiência de vida, habilidades etc. Essa análise deve ser
feita no injusto penal (fato típico e antijurídico).
Deste modo, exige-se mais de quem possui maior capacidade e exige-se
menos dos que possuem capacidade reduzida. Isto porque as condições
individuais são levadas em conta.
Para exemplificarmos um caso de capacidade superior e inferior, imaginemos o
caso de motoristas. Um motorista que possui deficiência motora possui
capacidade inferior de atuar com diligência para evitar o acidente, enquanto um
dublê de filmes, que dirige carros em manobras arriscadas, possui capacidade
superior em relação a evitar uma atuação imprudente.
Aula 03

Os dois critérios, de generalização e da individualização, devem ser combinados,


segundo Claus Roxin. Se o sujeito possuir capacidade mais elevada, deve-se
utilizar o critério da individualização, pois, se ele tem maior possibilidade de agir
com diligência, deve assim atuar. Caso contrário, o bem jurídico ficaria
desprotegido. Por outro lado, no caso de capacidade inferior do agente, deve-se
adotar o critério da generalização, exigindo-se a capacidade média. Se ele, no
caso concreto, não poderia ter agido com maior diligência, o caso deve ser
analisado na culpabilidade (juízo de reprovabilidade da conduta do sujeito).

8.2 – Modalidades de culpa


A culpa possui como modalidades a imprudência, a negligência e a imperícia.
Cabe analisar cada uma dessas modalidades:
Imprudência: é ação descuidada, que se manifesta por meio de um
comportamento positivo. Também denominada culpa in agendo. A culpa se
manifesta concomitantemente com a ação.
É o caso do sujeito que resolve passar pelos cruzamentos de uma avenida sem
obedecer aos sinais de pare nem às luzes vermelhas do semáforo, por estar com
pressa para chegar em casa, sem se atentar para o perigo de sua forma de
conduzir o veículo. Causado um acidente, com lesões corporais na vítima, há um
típico caso de comportamento culposo.
Negligência: é a ausência de precaução, caracterizada por um comportamento
negativo, uma omissão. Pode ser chamada culpa in omittendo.
É a modalidade de culpa que se verifica quando alguém resolve viajar, com sua
família no carro, sem fazer a necessária manutenção dos freios, causando um
acidente e o falecimento de um filho. Há um caso de homicídio culposo, com a
modalidade de culpa correspondente à negligência.
Imperícia: é a falta de aptidão técnica para o exercício da profissão ou atividade.
É a culpa que apresenta o sujeito que, devendo aplicar um conhecimento
específico da sua profissão, deixa de fazê-lo e, assim, provoca um resultado
criminoso.
Típico exemplo é o do cirurgião, que, sabendo que deveria fazer exames prévios
no seu paciente com problemas cardíacos, ignora a regra profissional e realiza o
procedimento cirúrgico sem as precauções. Se causado o óbito do paciente,
haverá sua responsabilização por culpa, na modalidade de imperícia.
Ademais, cabe o seguinte questionamento: e se o autor agir com culpa, assim
como a vítima? E se, em um acidente de trânsito com lesão corporal da vítima,
ambos ultrapassaram o sinal vermelho do semáforo, com clara imprudência?
✓ Cabe a compensação de culpas no Direito Penal?
Aula 03

Portanto, tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual, temos um resultado


previsto pelo agente. A diferença reside na atitude do sujeito em relação à
previsão do resultado: se lhe é indiferente, ou seja, se ele aceita o risco e realiza
a conduta, temos um caso de dolo eventual. Se, pelo contrário, o agente acredita
que poderá evitar o resultado, o caso é de culpa consciente.
Imaginem um sujeito que é jogador de basquete e acredita ser capaz de lançar
um tijolo de uma alta construção para outra, já que suas habilidades envolvem
fazer lançamentos difíceis. Ao fazer isso, acerta um transeunte que lá passava,
que sofre lesão corporal. Ora, sendo previsto o resultado, referente à
possibilidade de ele errar o lançamento e atingir alguém embaixo, sua conduta
apresenta como elemento subjetivo a culpa consciente.
Por outro lado, pensem em um pedreiro que, para se gabar de suas habilidades,
diz que vai jogar um tijolo para a construção do outro lado da rua. Ao ouvir isso,
o mestre de obras lhe adverte da possibilidade de atingir alguém. O sujeito,
entretanto, dá de ombros e, mostrando-se indiferente em relação ao risco, joga
o tijolo e atinge uma criança que brincava nas proximidades, lesionando-a. No
caso, temos uma conduta cujo elemento subjetivo é o dolo eventual.

9 – Tipo Qualificado pelo Resultado


O tipo qualificado pelo resultado é aquele que, além da descrição do delito, há a
previsão de um resultado que, se ocorrer, torna a sanção penal mais gravosa.

9.1 – Crimes qualificados pelo resultado e seus elementos


Podemos dividir o tipo qualificado pelo resultado em dois elementos:
• Fato antecedente: conduta que se amolda ao tipo penal do delito,
configurando-o e já tornando possível a imposição de sanção penal;
Aula 03

• Fato consequente: o agente produz um resultado que enseja a imposição


de uma sanção penal mais gravosa que aquela prevista para o fato
antecedente.
O exemplo mais nítido que pode ser dado é o do crime de latrocínio. Sua prática
envolve o fato antecedente referente ao roubo objetivado pelo agente. Seja de
forma tentada ou consumada, sua prática já enseja a responsabilização do agente
(fato antecedente). Entretanto, se o sujeito ativo causa a morte de alguém (fato
consequente), em decorrência da violência empregada, ele responderá pelo delito
qualificado, com sanção penal muito mais gravosa, nos termos da parte final do
§ 3º, do artigo 157, do Código Penal.

E quais são as espécies de crime qualificado


pelo resultado?

Há, portanto, quatro espécies de crimes qualificados pelo resultado, cuja


diferença reside no elemento subjetivo presente no fato antecedente e naquele
contido no fato consequente.
Percebem que o crime preterdoloso é uma dessas hipóteses e, devido à sua maior
cobrança e nomenclatura própria, estudaremos essa espécie separadamente a
seguir.

9.2 –Crime Preterdoloso


Crime preterdoloso é aquele composto de um fato antecedente, praticado a título
de dolo, com um resultado culposo, o qual possui o efeito de tornar a sanção
Aula 03

penal mais gravosa. De forma simplificada, preterdolosa é a conduta criminosa


que apresenta dolo no antecedente e culpa no consequente.
Portanto, o crime preterdoloso é apenas uma das espécies de crime qualificado
pelo resultado.
Em razão de o resultado não ser desejado pelo agente, já que é provocado a
título de culpa, não se admite tentativa de crime preterdoloso.
Questão tormentosa que surge a partir dessa afirmativa é o caso de aborto
qualificado pela morte ou lesão grave da gestante, em que há o resultado morte
da grávida (fato culposo subsequente), mas o feto sobrevive, sem se configurar
o aborto (fato doloso antecedente). Parte da doutrina considera uma exceção,
sendo um caso de delito preterdoloso tentado. Outra parte defende que, ainda
que o aborto não se consume, o delito qualificado é considerado consumado em
virtude da morte da gestante, a exemplo do que se entende acerca do latrocínio.
Por fim, é possível defender que o agente deve responder pelo aborto tentado e
pelo homicídio culposo consumado, em concurso. Cuida-se de questão bastante
controversa, mas cujo registro é importante.
Amostra de crime preterdoloso pode ser encontrado no artigo 129, caput, do
Código Penal, que cuida do delito de lesão corporal seguida de morte. O agente
visa a lesionar o sujeito passivo e, portanto, causa a lesão corporal (fato
antecedente) com intenção, de forma dolosa. Na sequência, produz, por culpa, a
morte da vítima (fato consequente).
O latrocínio pode ou não ser preterdoloso, a
depender de o resultado morte ser provocado a
título de culpa ou dolo, sendo que ambas as formas
configuram esse crime qualificado pelo resultado.

10 – Tipo Omissivo
O tipo omissivo é aquele cuja conduta consiste em um não fazer, ou um non
facere. A conduta do agente consiste em um comportamento negativo. Para
compreensão da omissão como uma conduta penalmente relevante, a doutrina
se debruçou sobre o tema:

10.1 – Teorias da omissão

✓ Teoria naturalística – entende que quem omite faz algo, diverso do que
deveria fazer. Portanto, a omissão penalmente relevante não deixa de ser
uma ação do agente, mas que destoa da conduta que se esperava dele e à
qual ele era juridicamente obrigado. Por ser uma ação diversa do que
deveria ser, a omissão pode provocar mudança no mundo exterior, ou seja,
pode causar um resultado naturalístico.
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✓ Teoria normativa – a omissão é um nada e, por isso, nada causa. Não há


como se imputar um resultado naturalístico de forma direta a uma conduta
omissiva, já que ela não pode causá-lo, por não ser nada. Essa teoria
apenas admite que se responsabilize penalmente alguém que apresentou
comportamento negativo a partir da ideia do dever jurídico de agir.
Portanto, para que a omissão seja relevante para o Direito Penal, deve
estar acompanhada do quod debetur, ou seja, aquilo que tinha o dever
jurídico de fazer. A omissão só interessa ao Direito Penal, portanto, a partir
de uma norma que imponha comportamento diverso, um tipo
mandamental, como já estudado.

Portanto, a fórmula da teoria normativa da omissão é a seguinte:


Non facere (comportamento omissivo) + quod debetur (dever jurídico
de agir).

Adotada a teoria normativa, a relação de causa e efeito decorre da norma,


sendo denominada, portanto, de normativa. Isto porque só se vincula o
resultado naturalístico à omissão do agente em decorrência do dever
jurídico de agir.

10.2 – Espécies de Crime Omissivo


A doutrina classifica os crimes omissivos em omissivos próprios e impróprios.
Parte da doutrina entende, ainda, existir uma terceira modalidade, denominada
crime omissivo por comissão. Vejamos cada um deles.

✓ Próprio ou puro
É o crime cometido em virtude do descumprimento de norma imperativa. O dever
jurídico de agir surge da própria previsão da conduta omissiva como crime, da
qual decorre a imposição de uma conduta virtuosa a todos que, se descumprida,
enseja a punição pelo crime. O dever jurídico de agir não existe, aqui, de forma
genérica, mas decorre da expressa previsão de um tipo penal, de natureza
mandamental, que determina a punição por omissão em determinados casos.
O exemplo mais lembrado é o da omissão de socorro:
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Notem que o dever jurídico, no caso, decorre do próprio artigo 135 do Código
Penal, de modo que, nas circunstâncias ali descritas, todos têm o dever de agir.
Aula 03

Caso contrário, se o sujeito não agir como deve e como a norma determina, a
sua omissão configura o crime omissivo.

✓ Impróprio, impuro ou comissivo por omissão


O crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão é aquele cujo dever jurídico
de agir decorre de uma cláusula geral, que, no Código Penal Brasileiro, está
previsto em seu artigo 13, parágrafo segundo. O dever jurídico abrange
determinadas situações jurídicas e se refere a qualquer crime comissivo. Por isso,
tais delitos são chamados comissivos por omissão. São crimes naturalmente
comissivos (praticados por um comportamento positivo, uma ação), como é o
caso do homicídio, mas que podem ser praticados por uma conduta omissiva, no
caso de o sujeito ter o dever jurídico de agir previsto na cláusula geral.
Vejamos o que diz o Código Penal:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.
(...)
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

Nestes casos, portanto, o agente possui um dever específico de agir,


decorrente de uma das hipóteses da cláusula geral, presente na norma acima
transcrita.
São as seguintes as hipóteses de dever específico de agir, cujas denominações
são extraídas da obra de Fernando Capez:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (dever


legal);
O dever aqui deve decorrer de lei, não podendo se responsabilizar alguém
com base em dever moral ou religioso. É o caso dos pais, que possuem a
responsabilidade sobre os filhos menores em virtude das normas do Direito
de Família. Também é o caso do diretor do presídio em relação aos
custodiados. Caso um deles deixe de alimentar aquele por quem é
responsável, levando-o à morte, pode responder por homicídio por seu
comportamento negativo (não fazer).
Aula 03

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado


(dever de garantidor);
Responsabiliza-se, assim, o sujeito que, não sendo obrigado por lei a
impedir o resultado, obrigou-se por vontade própria. É o caso do sujeito
que se vincula a um contrato, como o vigilante do banco. Imaginem que
ele veja um sujeito, desarmado, furtar uma quantia do caixa e sair
correndo, sendo que ele se abstém de qualquer conduta, mesmo podendo
impedir sua fuga. Também aqui se enquadra o salva-vidas, que, podendo
salvar uma criança que se afoga na piscina de um clube, assiste à cena
inerte.

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do


resultado (dever por ingerência na norma).
Esta última fórmula abrange aquele que criou o risco e, então, nada faz
para evitar o resultado. A lei obriga, deste modo, que o sujeito que deu
causa ao risco aja, dentro de suas possibilidades, para evitar o resultado.
Deste modo, se o sujeito causa incêndio em sua fazenda e não acorda seu
empregado, que dorme na edícula, mesmo podendo fazê-lo sem risco à sua
integridade física, pode responder por homicídio, se ele vier a morrer.
Obviamente, toda a sua conduta deve ser livre e consciente, com o dolo de
não agir, apesar de saber ter criado a situação de risco.

Apesar de a denominação acima fazer referência à


hipótese da alínea b do § 2º, do art. 13, do CP,
como figura do garante, a doutrina costuma se
referir a todas as espécies de crimes omissivos
impróprios como sendo os que apresentam a figura do garante (ou do
garantidor). Garantidor, assim, seria todo aquele que tem o dever específico de
cuidado decorrente da cláusula geral (artigo 13, § 2º, CP).

✓ Omissivo por comissão


Parte da doutrina, como dito, entende existir uma terceira modalidade de delito
omissivo, o omissivo por comissão. Cuida-se de crime tipicamente omissivo, mas
há uma ação, um comportamento comissivo, que provoca a omissão. Daí decorre
a sua denominação (omissivo por comissão), de modo que temos um delito
naturalmente omissivo, mas que é praticado em razão da conduta positiva de
outrem.
Imaginem que um sujeito encontre uma criança abandonada e, podendo prestar
socorro sem risco pessoal, vá fazê-lo, quando surge um individuo que, imbuído
de sentimento perverso, o impede de socorrer a criança. O crime que se poderia
cogitar, de início, seria a omissão de socorro, mas, no caso, o sujeito impediu,
por meio de um comportamento positivo, o socorro que seria dado. Haveria,
assim, um delito omissivo por comissão.
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Enfatizo, mais uma vez, que esta modalidade de crime omissivo não é
reconhecida por substancial parte da doutrina.

10.3 – Requisitos da omissão


São requisitos da omissão:

• Conhecimento da situação que causa perigo: é imprescindível, sob


pena de se admitir a responsabilidade objetiva, que o sujeito tenha
consciência da situação de risco ao bem jurídico.

• Consciência de sua posição de garante: também como decorrência do


próprio princípio da culpabilidade, é imprescindível que o sujeito tenha
consciência da sua situação, a qual leva a um dever jurídico de agir, seja
ele genérico ou específico.

• Possibilidade real, física, de impedir que o resultado aconteça, de


executar a ação exigida: por fim, a responsabilidade penal só pode
ocorrer caso se demonstre que o agente poderia evitar o resultado. Se ele
estava impossibilitado fisicamente de agir, não se pode falar em
responsabilização, mesmo porque, em último caso, seria inexigível conduta
diversa.

10.4 – Crimes de conduta mista


Por fim, a doutrina prevê o crime de conduta mista, consistente no tipo penal em
que se prevê uma ação, seguida de uma omissão, sendo que ambos os
comportamentos são necessários para a sua configuração.
O exemplo é o artigo 169, parágrafo único, inciso II, do Código Penal, que assim
prevê:
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito
ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
(...)
Apropriação de coisa achada
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente,
deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à
autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

Percebam a estrutura do tipo penal: quem acha coisa alheia perdida e dela se
apropria, total ou parcialmente [AÇÃO], deixando de restituí-la ao dono ou
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legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente [OMISSÃO],


dentro no prazo de quinze dias. Há a ação de se apropriar (conduta comissiva),
seguida da omissão de restituição ou de entrega à autoridade no prazo legal
(conduta omissiva), sendo que ambas são imprescindíveis para a configuração
do delito.

11 – Erro de tipo
Erro para o Direito Penal é a falsa percepção de algo, o engano acerca de alguma
coisa. Erro de tipo, por sua vez, é a falsa percepção, pelo agente, da realidade
que o cerca. Ocorre, portanto, quando o sujeito ativo se equivoca quanto ao
mundo exterior, interpretando-o de forma incorreta.
O erro de tipo recai sobre elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados
acessórios. Trata-se de erro sobre uma situação da realidade que está descrita
em um tipo penal.
O exemplo clássico de erro de tipo é o do sujeito que, ao chegar a uma festa,
deixa seu chapéu na entrada. Na saída, vê um chapéu similar ao seu e, supondo-
o ser aquele de sua propriedade, leva-o para casa. Do ponto de vista formal, o
sujeito subtraiu coisa alheia móvel. Entretanto, devemos relembrar que não se
admite a responsabilidade penal objetiva e o agente não possuía consciência da
elementar consistente em a coisa móvel ser “alheia”. Por sua falsa percepção da
realidade, ele levou o chapéu como se fosse seu, incidindo no erro de tipo.
Lembrem-se: o erro de tipo se refere à falsa percepção da realidade pelo agente.

11.1 – Espécies
O erro de tipo pode ser essencial ou acidental, a depender do elemento sobre o
qual recai.

➢ Erro de tipo essencial: recai sobre os elementos principais do tipo penal


(elementares e circunstâncias).
O erro impede o agente de saber que está cometendo um crime.
Para exemplificarmos, imaginem o sujeito que está caçando e, um amigo,
para lhe pregar uma peça, veste-se de urso, pensando que vai assustá-lo.
Ao se deparar com a figura vindo em sua direção, atira, pensando se tratar
de um animal. A falsa percepção da realidade não lhe fez perceber que
atirava em alguém, um ser humano, e não em um animal irracional.

➢ Erro de tipo acidental: recai sobre dados da figura típica que são
irrelevantes para a configuração ou não do delito.
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Pode incidir sobre o objeto material (error in persona e error in objecto);


sobre o seu modo de execução (aberratio ictus e aberratio criminis) ou
sobre o nexo causal (aberratio causae, dolo geral). Cada uma dessas
espécies de erro de tipo será estudada, mas, para termos uma ilustração,
basta pensar no sujeito que quer matar o centro-avante do seu time,
decepcionado com sua desclassificação no campeonato, e atira em um
sósia. O sujeito sabe que estava atirando em alguém, cometendo o crime
de homicídio, só se enganando quanto à vítima (error in persona).
Tanto o erro de tipo essencial quanto o acidental apresentam subclassificações,
vejamos:

Cumpre destacar, ainda, que o jurista Eugenio Raúl Zaffaroni defende a existência
do erro de tipo psiquicamente condicionado. Este erro ocorreria no caso de
um agente, embora imputável, sofrer uma alucinação ou uma ilusão, que o leva
a perceber mal a realidade e produzir um resultado. Seria o caso do sujeito que,
após trabalhar sob o sol por muitas horas, está destruindo uma casa em ruínas,
quando acaba atingindo a casa do lado, provocando dano. Há uma causa
psicopatológica que leva à falsa percepção da realidade, sem, no entendo, tornar
o agente inimputável.

11.2 – Erro de tipo essencial


O erro de tipo essencial, que recai sobre as elementares e circunstâncias do tipo
penal, impedindo o agente de saber que está cometendo uma infração penal,
possui as seguintes formas:
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➢ Erro de tipo essencial invencível, inevitável, desculpável ou


escusável: trata-se do erro imprevisível, aquele que não poderia ter sido
evitado pelo agente.
A imprevisibilidade ou invencibilidade do erro sobre uma elementar impede
a caracterização da infração penal.
Podemos pensar no sujeito que, no clássico exemplo da festa, leva um
chapéu de outra pessoa, mas de idênticos tamanho, marca e estado de
conservação. Neste caso, seria difícil que ele evitasse a confusão e sua falta
percepção da realidade, razão pela qual o erro é considerado escusável.

➢ Erro de tipo essencial vencível, evitável, indesculpável ou


inescusável: é o erro previsível, que poderia ter sido evitado pelo agente
com emprego de certa diligência. Neste caso, pune-se a culpa, caso haja
previsão da figura culposa.
Imaginem, neste caso, o sujeito que, ao sair da universidade com raiva de
sua reprovação nos exames, resolve quebrar o retrovisor do seu próprio
carro em um ataque de ira. Entretanto, para em frente ao carro de outra
pessoa e o depreda. Neste caso, bastaria olhar a placa do veículo ou mesmo
se lembrar de onde estacionou o veículo. Pode-se considerar, neste caso,
que o erro foi vencível, possibilitando a responsabilização penal a título de
culpa. Entretanto, como o crime de dano não admite a modalidade dolosa,
não haverá responsabilização penal, restando a solução para o Direito Civil.
E como se determina se o erro é evitável ou inevitável?
A doutrina fornece critérios para se determinar se o erro é evitável ou inevitável,
sendo que há duas correntes:
Tradicional: leva-se em conta o “homem médio”, a previsibilidade de uma forma
geral, sem levar em conta a pessoa do agente. Considera-se como uma pessoa
“comum” agiria naquela situação e qual o grau de diligência que normalmente se
esperaria dela.
Moderna: considera as circunstâncias do caso concreto, o próprio agente da
conduta.
E quais os efeitos do erro de tipo essencial?
São efeitos do erro de tipo essencial:
✓ O erro de tipo essencial sobre elementares sempre afasta o dolo.
✓ O erro de tipo essencial invencível sobre elementares afasta o dolo e a
culpa.
✓ O erro de tipo essencial vencível sobre elementares afasta o dolo, não a
culpa.
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✓ O erro de tipo essencial sobre uma circunstância, se invencível, afasta sua


incidência.

11.3 – Erro de tipo acidental


O erro de tipo acidental, que recai sobre elementos secundários do tipo penal e
não impede a configuração do crime, possui as seguintes formas:

➢ Erro de tipo sobre o objeto (error in objecto): é aquele em que o


agente confunde o objeto material, atingindo um que é diverso daquele
pretendido. Não há previsão legal, sendo tratado pela doutrina.
Há divergências se o agente responde pelo objeto que atingiu ou pelo que
pretendia atingir. A solução pode ser dada pela regra do in dubio pro reo,
aplicando-se ao agente a punição menos gravosa.
Pensem em uma mulher que quer danificar o carro de sua concorrente na
organização em que trabalham. Ao fim do expediente, lança uma pedra no
para-brisa do veículo na frente do prédio, acertando o carro de sua mãe,
que fora lhe fazer uma surpresa, em vez do carro da colega de trabalho.
Percebam que o crime seria o mesmo, mas, no caso do dano praticado
contra ascendente, a pena teria uma agravante, prevista no artigo 61, II,
e, do Código Penal. Adotando a regra do in dubio pro reo, ela deveria
responder como se houvesse danificado o caso de sua inimiga, sem a
agravante.

➢ Erro de tipo sobre a pessoa (error in persona): é aquele em que o


agente queria atingir determinada pessoa, denominada vítima virtual, mas
vem a atingir outra, chamada de vítima real. Há um erro na representação,
ou seja, o agente vê alguém e pensa se tratar de pessoa diversa.
O Código Penal cuida da hipótese em seu artigo 20, § 3º, que assim dispõe:
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de
pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Nota-se, portanto, que o Código determina que a responsabilização penal


se dê conforme a vítima virtual, e não a real.
Assim, se o sujeito, no âmbito de violência doméstica contra a mulher,
resolve matar sua esposa e, indo ao seu encontro na porta da casa da
sogra, dispara contra sua irmã, deve responder como se tivesse matado
sua esposa. Deste modo, responderá pelo feminicídio, e não pelo homicídio,
por ter efetivamente matado sua cunhada, com quem não tinha quase
nenhum contato.
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Erro de tipo sobre a execução (aberratio ictus): é aquele em que


o agente não erra na representação, sabendo exatamente quem quer
atingir com sua conduta delituosa. Entretanto, ele falha na execução do
crime, por acidente ou erro relacionado ao meio de execução.
O Código Penal cuida da hipótese em seu artigo 73, nos seguintes termos:
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente,
ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa,
responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao
disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a
pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

A lei determina, portanto, que o agente deve responder pela vítima que
queria atingir, e não aquela que atingiu por erro na execução. Entretanto,
se o agente atingir tanto a vítima a que visava quanto outrem, deve-se
aplicar a regra do artigo 70 do Código Penal, ou seja, deve responder por
ambos os delitos em concurso formal.
Imaginem que o sujeito resolva se vingar do seu vizinho por uma briga
banal sobre a limpeza da calçada e, deste modo, resolve jogar uma pedra
em sua cabeça quando ele passar perto de sua casa. Entretanto, ao ver o
seu vizinho perto da cerca da sua propriedade, lança a pedra e atinge um
transeunte qualquer. Ele deverá responder pelo crime como se tivesse
atingido seu vizinho, o que fará com o que o motivo de sua conduta seja
considerado na fixação da pena.

➢ Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis ou aberratio


delicti): é aquele em que o agente, por erro na execução, provoca lesão
em bem jurídico diverso do pretendido.
O Código Penal trata da hipótese em seu artigo 74:
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente
responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também
o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código

Conforme a lei, no caso de aberratio criminis, o agente deve responder por


culpa, ao produzir resultado diverso do pretendido. Obviamente, se não
houver punição a título de culpa, o fato não ensejará responsabilização
criminal. Caso o agente atinja, além do resultado pretendido, outro,
diverso, deverá responder por ambos em concurso formal. O Código Penal
ressalva os casos de erro na execução, estudado acima.
Como exemplo de resultado diverso do pretendido, podemos pensar no
sujeito que, em uma forma delituosa de indignação, resolve lançar um tijolo
na janela do prefeito do Município onde mora. Entretanto, o objeto quebra
a vidraça e atinge o rosto do político, que sofre lesão corporal. Neste caso,
deverá responder pelo crime de dano e pela lesão corporal, em concurso
formal.
Aula 03

➢ Erro sobre o nexo causal: é aquele em que o agente pratica o resultado


pretendido, mas com outro nexo de causalidade. O sujeito ativo pratica
uma conduta visando à produção do resultado, mas não o atinge como
imaginava. A doutrina aponta duas hipóteses:
a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: o agente só pratica
um ato, mas atinge o resultado por causa diversa da que pretendia. É o
caso do sujeito que lança a vítima do alto, para que caia no mar e morra
afogada, por não saber nadar. Entretanto, ela bate a cabeça numa rocha e
morre com o impacto.
b) Dolo geral ou aberratio causae: há uma pluralidade de atos. O
agente imagina que atingiu o resultado com sua conduta, sendo que, na
sequência, pratica outra conduta e somente assim atinge o resultado.
Responde pelo resultado da mesma forma, pois se entende que o dolo é
geral, isto é, abrange qualquer conduta praticada pelo sujeito que está
imbuído do animus da prática do delito, da intenção livre e consciente de
praticar o resultado. É o caso de quem atira no seu inimigo e, imaginando
que ele esteja morto, lança-o do penhasco. Se a vítima estava viva e só
morre ao ser lançada do penhasco, o autor deve responder por homicídio
doloso, pois tinha intenção de matar (mesmo que por outra forma).

11.4 – Descriminantes putativas


Para estudarmos o próximo tópico, precisamos entender dois conceitos. Primeiro,
o de descriminante, que é uma causa excludente de ilicitude. Estudaremos as
causas excludentes de ilicitude adiante, mas já vimos que ilicitude é um dos
substratos (ou elementos) do conceito analítico de crime (crime é todo fato típico,
ilícito e culpável). Estudamos que a ilicitude é a contrariedade da conduta do
agente ao ordenamento jurídico, sendo que a dirimente, portanto, torna o
comportamento, que seria contrário ao ordenamento em um primeiro momento,
conforme a lei. A descriminante, então, afasta a ilicitude.
O segundo conceito é o do termo putativa, que deriva do latim putare. O verbo
latino significa supor, imaginar. Putativo, portanto, é algo que se imagina, que se
supõe.
Visto isto, podemos conceituar a descriminante putativa como uma imaginação
do agente de que existe uma causa que exclui a ilicitude do seu comportamento.
Nós as estudaremos ao longo do curso, mas aqui já precisamos saber que é
possível que haja uma situação de descriminante putativa por erro de tipo.
Descriminante putativa por erro de tipo ocorre quando o agente imagina um
fato que lhe permitiria agir sob uma excludente de ilicitude. Nesta situação, diz-
se que agiu com culpa imprópria. Não se trata propriamente de culpa, pois ele
age de forma intencional, mas imaginando estar acobertado por uma causa que
justifica sua ação, que a tornaria conforme o ordenamento jurídico. É um erro
Aula 03

de tipo essencial sobre um tipo permissivo, possuindo o mesmo


tratamento, portanto.
Parte da doutrina denomina esse caso de erro de tipo permissivo.
É o caso do sujeito que encontra seu inimigo, que pensa querer lhe matar, em
uma rua escura. Quando esse inimigo vai retirar o celular do bolso, pensa se
tratar de uma arma de fogo e atira, imaginando-se acobertado pela legítima
defesa.
Por outro lado, há a descriminante putativa por erro de proibição, que ocorre
quando o agente interpreta a norma de forma errada, pensando que está
acobertado, sem efetivamente estar. Se inevitável, não responde criminalmente.
Se evitável, pena diminuída de um sexto a um terço.
Parte da doutrina denomina a situação de erro de permissão ou erro de
proibição indireto.
O erro de proibição direto, por sua vez, seria aquele em que o agente
interpreta a própria norma penal de forma incorreta, imaginando que sua conduta
não é alcançada pela lei penal incriminadora, como o caso da dona de casa que,
muito idosa e acostumada a um tempo patriarcal, usa o CPF do marido como se
dela fosse, por não ser costume, antigamente, que mulheres tivesse referido
documento.
Exemplo típico de descriminante putativa por erro de proibição é a chamada
legítima defesa da honra, que não existe, não sendo situação acobertada pela
excludente de ilicitude legítima defesa.
Voltaremos ao tema quando do estudo da culpabilidade, que possui relação com
o erro de tipo e o erro de proibição.

11.5 – Erro de tipo causado por terceiro


Neste caso, o agente percebe a realidade de forma equivocada por causa de um
agente provocador, que o induz a erro. O Código Penal trata da hipótese no artigo
20, § 2º:
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

O agente provocador é considerado o autor mediato, figura que estudaremos


adiante, mas que é aquele que se usa de outrem para a prática do delito. O
agente provocado só responderá se tiver agido com dolo ou culpa.

Atenção para as diferentes figuras estudadas


hoje:
Erro de tipo essencial: o agente pratica uma
conduta típica por falsa percepção da realidade.
Aula 03

Delito putativo por erro de tipo: o agente visava a cometer um crime, mas
por falsa percepção da realidade, pratica um fato atípico.
Erro de tipo essencial: o agente pratica uma conduta típica por falsa percepção
da realidade quanto a um elemento que é fundamental para configuração do
crime ou de sua forma qualificada.
Erro de subsunção: o agente sabe que comete uma conduta ilícita, mas pensa
que se adéqua a um tipo penal diverso. Por exemplo, ele ignora que duplicata é
equiparada a documento público, falsificando-a, pensando praticar crime de
falsidade de documento particular. Entretanto, pratica delito de falsificação de
documento público. É irrelevante, salvo para dosimetria da pena.

12 – Questões Objetivas

12.1 – Lista de Questões sem Comentários


Q1. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2015
Após a leitura dos enunciados abaixo, assinale a alternativa correta:
I- A teoria finalista, no conceito analítico de crime, o define como um fato
típico e antijurídico, sendo a culpabilidade pressuposto da pena.
II- A teoria clássica, no conceito analítico de crime, o define como um fato
típico, antijurídico e culpável.
III- A teoria clássica entende que a culpabilidade consiste em um vínculo
subjetivo que liga a ação ao resultado, ou seja, no dolo ou na culpa em
sentido estrito.
IV- A teoria finalista entende que, por ser o delito uma conduta humana e
voluntária que tem sempre uma finalidade, o dolo e a culpa são abrangidos
pela conduta.
V- A teoria finalista entende que pode existir crime sem que haja
culpabilidade, isto é, censurabilidade ou reprovabilidade da conduta,
inexistindo, portanto, a condição indispensável à imposição e pena.
a) Somente o II e o III são verdadeiros.
b) Somente o I e o IV são verdadeiros.
c) Somente o I, IV e V são verdadeiros.
d) Somente o I e II são verdadeiros.
e) Todos são verdadeiros.

Q2. VUNESP/DPE-RO/Defensor Público/2017


Aula 03

Doutrinadores nacionais admitem que a reforma de 1984 da Parte Geral do


Código Penal, especialmente no que concerne ao “conceito de crime”, aderiu
ao “finalismo”. Quem é considerado o criador de tal sistema jurídico-penal?
a) Hans Welzel.
b) Claus Roxim.
c) Von Liszt.
d) Günther Jakobs.
e) Cesare Beccaria.

Q3. FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015


A teoria finalista da ação, adotada pelo Código Penal em sua Parte Geral,
concebe o crime como um fato típico e antijurídico. A culpabilidade diz
respeito à reprovabilidade da conduta. O dolo, que integrava o juízo de
culpabilidade, para esta teoria é elemento estruturante do fato típico. Essa
adoção pretende corrigir contradições na teoria
a) da equivalência dos antecedentes causais.
b) da responsabilidade objetiva.
c) da causalidade normativa.
d) do domínio do fato.
e) da imputabilidade.

Q4. FCC/DPE-AP/Defensor Público/2018


Nos crimes comissivos por omissão,
a) pelo critério nomológico, violam-se normas mandamentais.
b) a tipicidade é a do tipo comissivo, mas pode também, excepcionalmente,
ser a do tipo omissivo.
c) a falta do poder de agir gera atipicidade da conduta.
d) são delitos de mera atividade, que se consumam com a simples
inatividade.
e) no caso de ingerência, a conduta anterior deve ser a produtora do dano
ou lesão.

Q5.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2018
No Direito Penal brasileiro, o erro
a) sobre os elementos do tipo impede a punição do agente, pois exclui a
tipicidade subjetiva em todas as suas formas
b) determinado por terceiro faz com que este responda pelo crime.
Aula 03

c) sobre a pessoa leva em consideração as condições e qualidades da vítima


para fins de aplicação da pena.
d) de proibição exclui o dolo, tornando a conduta atípica.
e) sobre a ilicitude do fato isenta o agente de pena quando evitável.
Q6. FCC/DPE-SC/Defensor Público/2017
Sobre o dolo, é correto afirmar:
a) O dolo requer o pleno conhecimento dos elementos do tipo subjetivo,
além da vontade de realizá-lo.
b) A teoria da imputação objetiva limita os casos em que o dolo é excessivo
e pode aumentar a pena do réu diante do risco criado.
c) O momento do dolo não precisa coincidir com o momento da execução da
ação, existindo validamente nas figuras do dolo antecedente e subsequente.
d) O aspecto cognitivo do dolo antepõe-se sempre ao volitivo.
e) Os tipos omissivos prescindem da verificação do dolo.

Q7.FCC/TJ-SC/Juiz Substituto/2017
Um cidadão americano residente no Estado da Califórnia, onde o uso
medicinal de Cannabis é permitido, vem ao Brasil para um período de férias
em Santa Catarina e traz em sua bagagem uma certa quantidade da
substância, conforme sua receita médica. Ao ser revistado no aeroporto é
preso pelo delito de tráfico internacional de drogas. Neste caso,
considerando-se que seja possível a não imputação do crime, seria possível
alegar erro de
a) proibição indireto.
b) tipo permissivo.
c) proibição direto.
d) tipo.
e) subsunção.

Q8. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


Sobre o tipo dos crimes dolosos de ação, assinale a alternativa incorreta:
a) Nos tipos dolosos de resultado, a atribuição do tipo objetivo ao autor
pressupõe a causação do resultado, explicada pela lógica da determinação
causal, e a imputação do resultado, fundada no critério da realização do
risco.
b) Na iminência de forte tempestade, B instiga C a caminhar sobre campo
aberto, na expectativa de que este seja atingido mortalmente por um raio:
o casual resultado de morte de C, efetivamente fulminado por um raio na
Aula 03

caminhada em campo aberto, não é definível como risco criado por B, e


assim não pode ser atribuível a B como obra dele.
c) Os crimes de roubo (CP, art. 157, caput), extorsão (CP, art. 158, caput),
falsidade ideológica (CP, art. 299, caput), corrupção ativa (CP, art. 333,
caput) e coação no curso do processo (CP, art. 344), constituem, cada qual,
exemplo de ilícito penal cujo tipo subjetivo é composto pelo dolo e por
elementos subjetivos especiais.
d) O erro de tipo inevitável sobre elementos objetivos do tipo de peculato
(CP, art. 312, caput) exclui qualquer responsabilidade penal, o erro de tipo
evitável sobre elementos objetivos do tipo de lesões corporais simples (CP,
art. 129, caput) permite punição pela modalidade culposa (CP, art. 129, §
6º) e o erro de tipo evitável sobre elementos objetivos do tipo de apropriação
indébita (CP, art. 168, caput) exclui qualquer responsabilidade penal.
e) B realiza disparo de arma de fogo, com a finalidade específica de atingir
pneu do veículo pilotado por C, levando a sério e se conformando com a
possibilidade de atingir C mortalmente: se o projétil efetivamente atinge C,
o resultado de morte é atribuível a B a título de dolo direto de 2º grau.

Q9. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


O Sobre o tipo dos crimes culposos, assinale a alternativa correta:
a) Os tipos culposos, por não estarem descritos especificamente em cada
tipo penal, constituem normas penais em branco, que dependem de um
complemento por outro ato normativo.
b) De acordo com o critério da generalização, as diferenças de capacidade
individual, como inteligência, escolaridade e habilidades, não são avaliadas
na culpabilidade, mas consideradas já no tipo de injusto.
c) Objetivando produzir danos em veículo de som, estacionado em via
pública, A atira bexiga de água de janela do 10º andar, ciente da
possibilidade de atingir o pedestre B, mas com plena confiança em sua
exímia habilidade para evitar este último resultado: se a bexiga atinge B,
produzindo-lhe lesões corporais, A não responde por culpa consciente, mas
por dolo eventual.
d) no tipo dos crimes culposos, o desvalor do resultado é definido pelo
resultado de lesão do bem jurídico, como produto específico da violação do
dever de cuidado ou do risco permitido.
e) a culpa inconsciente constitui a modalidade subjetiva de realização de
ação típica de menor intensidade psíquica, e sua influência na graduação da
pena deve ser aferida na terceira fase de aplicação.

Q10. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


Sobre o tipo dos crimes de omissão de ação, assinale a alternativa incorreta:
Aula 03

a) A realiza manobra imprudente na direção de veículo e atropela B, que


andava pelo acostamento da rodovia: se B morre justamente porque A,
ciente da real possibilidade de morte da vítima, deixa de lhe prestar socorro,
podendo fazê-lo concretamente sem risco pessoal, então A responde pelo
crime de homicídio doloso (CP, art. 121), praticado por omissão imprópria.
b) A percebe o afogamento de B em lago, e, ciente da real possibilidade de
morte da vítima, deixa de lhe prestar socorro, podendo fazê-lo
concretamente sem risco pessoal: se B morre afogado justamente em razão
da omissão, então A responde pelo crime de omissão de socorro, majorado
pelo resultado de morte (CP, art. 135, parágrafo único), praticado por
omissão própria.
c) Os tipos de omissão de ação podem aparecer sob a forma de omissão
imprópria, fundada no dever jurídico especial de agir, que admite ações
dolosas e culposas, e sob a forma de omissão própria, fundada no dever
jurídico geral de agir, que admite apenas ações dolosas.
d) A posição de garantidor do bem jurídico é elemento específico do tipo
objetivo dos crimes de omissão imprópria, mas a produção do resultado
típico de lesão do bem jurídico é elemento comum do tipo objetivo dos
crimes de omissão própria e imprópria.
e) O erro de tipo evitável sobre elementos objetivos do tipo de homicídio
cometido por omissão imprópria exclui o dolo, permitindo punição a título de
culpa.

Q.11. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


Sobre modalidades de erro, assinale a alternativa incorreta:
a) Segundo a teoria limitada da culpabilidade, o erro de proibição indireto
(ou erro de permissão), se evitável, não isenta de pena, mas pode reduzir a
culpabilidade do agente.
b) O erro de mandado pode recair sobre o dever jurídico especial de agir,
que fundamenta a omissão imprópria, e, se evitável, não isenta de pena,
mas pode reduzir a culpabilidade do agente.
c) Ao subtrair frutas de chácara alheia, a criança A sofre lesões corporais
graves por disparo certeiro de arma de fogo realizado por B, proprietário da
chácara, que supõe plenamente justificada a sua ação: trata-se de
modalidade de erro de proibição direto, incidente sobre a existência da lei
penal que, se evitável, reduz a culpabilidade do agente.
d) Segundo a teoria limitada da culpabilidade, o estado de necessidade
putativo constitui modalidade de erro de tipo permissivo, que incide sobre
os pressupostos fáticos da causa de justificação e recebe tratamento jurídico
equiparado ao erro de tipo: se inevitável, exclui o dolo e o próprio crime, e
se evitável, admite punição a título de culpa, se prevista em lei.
Aula 03

e) O excesso de legítima defesa real pode ser determinado por erro de


representação sobre a intensidade da agressão (excesso intensivo) ou sobre
a atualidade de agressão (excesso extensivo).

Q.12. FAPEMS/PC-MS/Delegado de Polícia/2017


Analise o caso a seguir.
Com a desclassificação no torneio nacional, o presidente do clube AZ demite
o jogador que perdeu o pênalti decisivo. Irresignado com a decisão, o
futebolista decide matar o mandatário. Para tanto, aproveitando o dia da
assinatura de sua rescisão, acopla bomba no carro do presidente que estava
estacionado na sede social do clube. O jogador sabe que o motorista
particular do dirigente será fatalmente atingido e tem a consciência que não
pode evitar que torcedores ou funcionários da agremiação, próximos ao
veículo, venham a falecer com a explosão. Como para ele nada mais importa,
a bomba explode e, lamentavelmente, além das mortes dos dois ocupantes
do veículo automotor, três torcedores e um funcionário morrem.
A partir da leitura desse caso, é correto afirmar que o indiciamento do
jogador pelos crimes de homicídio sucederá
a) por dolo direto de primeiro grau em relação ao presidente e ao motorista.
b) por dolo eventual em relação ao motorista; aos torcedores e ao
funcionário.
c) por dolo direto de segundo grau em relação ao presidente e ao motorista.
d) por dolo eventual apenas em relação aos torcedores.
e) por dolo direto de segundo grau apenas em relação ao motorista

Q13. FAPEMS/PC-MS/Delegado de Polícia/2017


A partir da narrativa a seguir e considerando as classes de crimes omissivos,
assinale a alternativa correta.
Artur, após subtrair aparelho celular no interior de um mercado, foi detido
por populares que o amarraram em um poste de iluminação. Acabou
agredido violentamente por Valdemar, vítima da subtração, que se valeu de
uma barra de ferro encontrada na rua. Alice tentou intervir, porém foi
ameaçada por Valdemar. Ato contínuo, Alice, verificando a grave situação,
correu até um posto da Polícia Militar e relatou o fato ao soldado Pereira,
que se recusou a ir até o local no qual estava o periclitante, alegando que a
situação deveria ser resolvida unicamente pelos envolvidos. Francisco,
segurança particular do mercado, gravou a agressão e postou as imagens
em rede social com a seguinte legenda: "Aí mano, em primeira mão: outro
pra vala". Artur morreu em decorrência de trauma craniano.
a) Pereira poderá ser indiciado pela prática de crime omissivo impróprio.
b) Pereira poderá ser indiciado pela prática de crime omissivo próprio.
Aula 03

c) Alice poderá ser indiciada pela prática de crime omissivo próprio.


d) Alice poderá ser indiciada pela prática de crime omissivo impróprio.
e) Francisco poderá ser indiciado pela prática de crime comissivo por
omissão.

Q14. FCC/TJ-MS/Juiz de Direito/2010


Podem ser consideradas causas supralegais de exclusão do crime:
a) o exercício regular de direito e a inimputabilidade, afastando a ilicitude e
a culpabilidade, respectivamente.
b) a insignificância e o erro sobre a ilicitude do fato, ambas afastando a
culpabilidade.
c) a adequação social e a coação moral irresistível, ambas afastando a
tipicidade.
d) o consentimento do ofendido, nos casos em que não integrar a descrição
típica, e a inexigibilidade de conduta diversa.
e) as descriminantes putativas e a coação física irresistível.

Q15. TRF 2ª Região/ TRF 2ª Região /Juiz Federal/2014


Caio, agente da polícia, durante suas férias, resolve manter a forma e treinar
tiros. Vai até um terreno baldio e ali alveja uma caçamba de lixo. O agente
imaginava-se sozinho e, sem querer, acerta um mendigo que ali dormia,
dentro da caçamba. Em tese, ocorreu:
a) Descriminante putativa.
b) Causa legal de exclusão da culpabilidade.
c) Caso fortuito, ou força maior criminógena.
d) Erro de tipo.
e) Erro na execução (aberratio ictus).

Q16. FAPEMS/PC-MS/Delegado de Polícia/2017


Não aceitando o término do casamento, Felinto manteve Isaura por uma
hora e meia sob a mira de um revólver. Durante esse tempo, o Delegado
Moraes negociou a rendição de Felinto. Aos prantos, repetia que liberaria a
ex-mulher, contudo efetuaria disparo contra a sua cabeça, pondo fim à
própria vida, pois não viveria sem sua amada. Passados mais alguns
minutos, decidiu liberar Isaura. Ainda transtornado e de arma em punho,
dirigiu-se à saída do local onde estava acuado pelos policiais e,
inesperadamente, ao invés de se entregar, apontou o revólver aos
integrantes do grupo tático, gritando que efetuaria um disparo. Nesse
momento, vendo uma ameaça em Felinto, pois estava prestes a atirar contra
os policiais, o Delegado Moraes efetuou disparo mortal. Em seguida, ao se
Aula 03

aproximar do corpo da vítima, verificou que a arma de Felinto não estava


municiada. Visando a evitar qualquer responsabilização penal, a defesa
técnica de Moraes deverá suscitar que ele atuou em contexto de
a) erro de tipo permissivo invencível.
b) erro determinado por terceiro.
c) erro de tipo incriminador invencível.
d) legítima defesa própria.
e) erro de proibição invencível.
Q17. MPR-RS/MPE-RS/Delegado de Polícia/2017
A respeito dos crimes omissivos impróprios, ou comissivos por omissão,
assinale a alternativa INCORRETA.
a) São de estrutura típica aberta e de adequação típica de subordinação
mediata. Só podem ser praticados por determinadas pessoas, embora
qualquer pessoa possa, eventualmente, estar no papel de garante. Neles,
descumpre-se tão somente a norma preceptiva e não a norma proibitiva do
tipo legal de crime ao qual corresponda o resultado não evitado.
b) Se o médico se obriga a realizar determinado procedimento em um
paciente, mas resolve viajar e deixa seu compromisso nas mãos de um
colega, que assume esse tratamento, ele responde penalmente pelas lesões
que resultem de erro de diagnóstico deste outro médico.
c) Quem, sabendo nadar, por brincadeira de mau gosto, empurra o amigo
para dentro da piscina, por sua ingerência, estará obrigado a salvá-lo, se
necessário, para que o fato não se transforme em crime de homicídio, no
caso de eventual morte por afogamento.
d) Na forma dolosa, os crimes omissivos impróprios não exigem que o
garante deseje o resultado típico.
e) Se o garante, apesar de não haver conseguido impedir o resultado,
seriamente esforçou-se para evitá-lo, não haverá fato típico, doloso e
culposo. Nos omissivos impróprios, a relação de causalidade é normativa.

Q18. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2016


O Mévio, lenhador, está trabalhando já há mais de 12 horas cortando árvores
com seu afiado machado. Quando passa para a árvore seguinte, sofrendo
uma ilusão de ótica pelo seu cansaço, confunde as pernas de seu amigo
Lupércio com o tronco de uma árvore, desferindo contra ele vigoroso golpe
de machado, lesionando-o. Neste caso, pode-se dizer que Mévio agiu:
a) Em estado de erro de proibição psiquicamente condicionado;
b) Em estado de erro de tipo psiquicamente condicionado;
c) Em estado de erro de proibição indireto;
Aula 03

d) Em estado de erro de tipo permissivo;


e) Com dolo eventual.

Q19. UFTM/DPE-MT/Defensor Público/2016


Existe algum ponto de semelhança entre as condutas praticadas com culpa
consciente e com dolo eventual?
a) Sim, pois, tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual, há aceitação
do resultado.
b) Não, pois não há ponto de semelhança nas condutas em questão.
c) Sim, pois em ambas o elemento subjetivo da conduta é o dolo.
d) Não, pois a aceitação do resultado na culpa consciente é elemento
normativo da conduta.
e) Sim, pois, tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual, o agente
prevê o resultado.

Q20. UFTM/DPE-MT/Defensor Público/2016


NÃO é elemento constitutivo do crime culposo:
a) a inobservância de um dever objetivo de cuidado.
b) o resultado naturalístico involuntário.
c) a conduta humana voluntária.
d) a tipicidade.
e) a imprevisibilidade.

Q21. VUNESP/TJM-SP/Juiz de Direito/2016


A respeito da omissão própria e da omissão imprópria (também denominada
crime comissivo por omissão), é correto afirmar que
a) um dos critérios apontados pela doutrina para diferenciar a omissão
própria da omissão imprópria é o tipológico, segundo o qual, havendo norma
expressa criminalizando a omissão, estar-se-ia diante de uma omissão
imprópria.
b) nos termos do Código Penal, possui posição de garantidor e, portanto, o
dever de impedir o resultado, apenas quem, por lei, tem a obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância.
c) a ingerência, denominação dada à posição de garantidor decorrente de
um comportamento anterior que gera risco de resultado, não está positivada
no ordenamento brasileiro, tratando-se de uma construção dogmática.
d) o crime praticado por omissão, segundo o Código Penal, é apenado de
forma atenuada ao crime praticado por ação.
Aula 03

e) segundo o Código Penal, a omissão imprópria somente terá relevância


penal se, além do dever de impedir o resultado, o omitente tiver
possibilidade de evitá-lo.
Q22. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2016
O erro sobre elementos constitutivos do tipo penal, essencial ou acidental,
em todas as suas formas, exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei.
o Certo
o Errado

Q23. CESPE/TJ-AM/Juiz Substituto/2016


Júlio foi denunciado em razão de haver disparado tiros de revólver, dentro
da própria casa, contra Laura, sua companheira, porque ela escondera a
arma, adquirida dois meses atrás. Ele não tinha licença expedida por
autoridade competente para possuir tal arma, e a mulher tratou de escondê-
la porque viu Júlio discutindo asperamente com um vizinho e temia que ele
pudesse usá-la contra esse desafeto. Raivoso, Júlio adentrou a casa,
procurou em vão o revólver e, não o achando, ameaçou Laura,
constrangendo-a a devolver-lhe a arma. Uma vez na sua posse, ele disparou
vários tiros contra Laura, ferindo-a gravemente e também atingindo o filho
comum, com nove anos de idade, por erro de pontaria, matando-o
instantaneamente. Laura só sobreviveu em razão de pronto e eficaz
atendimento médico de urgência.
Com referência à situação hipotética descrita no texto anterior, assinale a
opção correta de acordo com a jurisprudência do STJ.
a) Júlio cometeu homicídio doloso contra Laura e culposo contra o filho,
porque não teve intenção de matá-lo.
b) Júlio deverá responder por dois homicídios dolosos, sendo um consumado
e o outro tentado, e as penas serão aplicadas cumulativamente, por concurso
material de crimes, já que houve desígnios distintos nos dois resultados
danosos.
c) A hipótese configura aberractio ictus, devendo Júlio responder por duplo
homicídio doloso, um consumado e outro tentado, com as penas aplicadas
em concurso formal de crimes, sem se levar em conta as condições pessoais
da vítima atingida acidentalmente.
d) O fato configura duplo homicídio doloso, consumado contra o filho, e
tentado contra Laura, e, em razão de aquele ter menos de quatorze anos, a
pena deverá ser aumentada em um terço.
e) Houve, na situação considerada, homicídio privilegiado consumado,
considerando que Júlio agiu impelido sob o domínio de violenta emoção
depois de ter sido provocado por Laura.
Aula 03

Q24. TRF da 4ª Região/TRF da 4ª Região/Juiz Federal/2016


Relativamente à responsabilidade penal da pessoa jurídica, é possível
afirmar que:
a) É cabível quando praticados crimes ambientais e contrários à
administração pública;
b) É inconstitucional, haja vista o princípio da responsabilidade penal
objetiva;
c) Independe da responsabilização das pessoas físicas envolvidas, conforme
decidiu o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 548181/PR, de relatoria
da Ministra Rosa Weber;
d) Depende da responsabilização das pessoas físicas envolvidas, conforme
decidiu o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 548181/PR. De início,
ressalto que esta questão aborda temas de criminologia, assunto tratado em
outra disciplina. Mesmo assim, trouxe a questão para ilustrar nosso estudo,
mesmo porque os conceitos tratados não são difíceis e podemos inclusive
aprendê-los aqui, reforçando os estudos também de Criminologia, disciplina
que deve ser estudada pelo material próprio, caso seja cobrada em seu
concurso.

Q25. VUNESP/TJ-RJ/Juiz Substituto/2016


Assinale a alternativa que contém a assertiva correta no que diz respeito aos
dispositivos relativos ao erro previstos no Código Penal.
a) Magnus, policial, adultera, sem autorização legal, sinal identificador de
um veículo automotor a fim de que seja utilizado em investigação criminal,
pois imagina, por erro evitável, que nesta hipótese sua conduta seria lícita.
Na responsabilização penal pelo crime de “adulteração de sinal identificador
de veículo automotor", Magnus deverá ser punido na modalidade culposa do
delito.
b) Ticius imputa um fato definido como crime a Manassés que imaginava ser
verdadeiro quando, na verdade, era falso, tendo o erro de Ticius decorrido
de sua negligência. Neste caso, ao ser responsabilizado pelo crime de
calúnia, Ticius deverá ter sua pena diminuída de um sexto a um terço.
c) Ticius imputa um fato definido como crime a Manassés que imaginava ser
verdadeiro quando, na verdade, era falso, tendo o erro de Ticius decorrido
de sua negligência. Neste caso, Ticius deverá ser responsabilizado pelo crime
de calúnia na modalidade culposa.
d) Augustus, agride e provoca lesão corporal em Cassius, pois este segurava
o pescoço de Maximus. Imaginava Augustus estar protegendo Maximus mas,
por erro decorrente de sua imprudência, não percebeu que tudo se tratava
de uma brincadeira. Neste caso, na responsabilização penal pelo crime de
lesão corporal, Augustus deverá ter sua pena diminuída de um sexto a um
terço.
Aula 03

e) Magnus, policial, adultera, sem autorização legal, sinal identificador de


um veículo automotor a fim de que seja utilizado em investigação criminal,
pois imagina, por erro evitável, que nesta hipótese sua conduta seria lícita.
Na responsabilização penal pelo crime de “adulteração de sinal identificador
de veículo automotor", Magnus deverá ter sua pena diminuída de um sexto
a um terço.

Q26. FCC/TJ-SE/Juiz Substituto/2016


A, cidadão americano, vem para o Brasil em férias, trazendo alguns cigarros
de maconha. Está ciente que mesmo em seu país o consumo da substância
não é amplamente permitido, mas, como possui câncer em fase avançada,
possui receita médica emitida por especialista americano para utilizar
substâncias que possuam THC. Ao passar pelo controle policial do aeroporto,
é detido pelo crime de tráfico de drogas. Nesta situação, é possível alegar
que A encontrava-se em situação de erro de:
a) tipo.
b) tipo permissivo.
c) proibição direto.
d) proibição indireto.
e) tipo indireto.

Q27.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2015
Se o agente oferece propina a um empregado de uma sociedade de
economia mista, supondo ser funcionário de empresa privada com interesse
exclusivamente particular, incide em
a) erro sobre a pessoa.
b) descriminante putativa.
c) erro de tipo.
d) erro sobre a ilicitude do fato inevitável.
e) erro sobre a ilicitude do fato evitável.

Q28. FCC/TJ-AL/Juiz de Direito/2015


O erro inescusável sobre
a) a ilicitude do fato constitui causa de diminuição da pena.
b) elementos do tipo permite a punição a título de culpa, se acidental.
c) elementos do tipo isenta de pena.
d) elementos do tipo exclui o dolo e a culpa, se essencial.
e) a ilicitude do fato exclui a antijuridicidade da conduta.
Aula 03

Q29. FCC/TJ-SC/Juiz de Direito/2015


O elemento subjetivo derivado por extensão ou assimilação decorrente do
erro de tipo evitável nas descriminantes putativas ou do excesso nas causas
de justificação amolda-se ao conceito de
a) culpa imprópria.
b) dolo eventual.
c) culpa inconsciente.
d) culpa consciente.
e) dolo direto.

Q30. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2015


O erro de tipo:
a) exclui a culpabilidade do agente pela ausência e impossibilidade de
conhecimento da antijuridicidade do fato que pratica.
b) exclui a culpabilidade porque o agente, ao tempo do crime, era
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.
c) exclui o dolo, pois se trata de conduta típica justificada pela norma
permissiva.
d) exclui o dolo, tendo em vista que o autor da conduta desconhece ou se
engana em relação a um dos componentes da descrição legal do crime, seja
ele descritivo ou normativo.
e) exclui a punibilidade por se tratar de causa de isenção de pena prevista
para determinados crimes

Q31. FCC/TJ-PE/Juiz de Direito/2015


Em matéria de erro, correto afirmar que
a) o erro sobre a ilicitude do fato exclui a culpabilidade, por não exigibilidade
de conduta diversa
b) o erro sobre elemento constitutivo do tipo penal não exclui a possibilidade
de punição por crime culposo.
c) o erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, isenta de pena.
d) o erro sobre elemento constitutivo do tipo penal exclui a culpabilidade.
e) o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de
pena, considerando-se as condições ou qualidades da vítima, e não as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Q32. VUNESP/PC-CE/Delegado de Polícia/2015


Aula 03

Se da lesão corporal dolosa resulta morte e as circunstâncias evidenciam


que o agente não quis o resultado morte, nem assumiu o risco de produzi-
lo, configura(m)-se
a) lesão culposa e homicídio culposo, cujas penas serão aplicadas
cumulativamente.
b) lesão corporal seguida de morte.
c) homicídio culposo qualificado pela lesão.
d) homicídio doloso (dolo eventual).
e) homicídio doloso (dolo indireto).

Q33. CESPE/DPE-PE/Defensor Público/2015


A respeito do conflito aparente de normas penais, dos crimes tentados e
consumados, da tipicidade penal, dos tipos de imprudência e do
arrependimento posterior, julgue o item seguinte.
A coação física irresistível configura hipótese jurídico-penal de ausência de
conduta, engendrando, assim, a atipicidade do fato.
o Certo
o Errado

Q34. MPE-GO/MPE-GO/Promotor de Justiça/2014


Após uma violenta discussão, A resolve matar B afogado e joga seu desafeto
de cima de uma ponte. B acaba por morrer após bater a cabeça no pilar da
ponte e não por afogamento. Assinale a alternativa correta:
a) A deve responder dolosamente pela morte de B, já que o resultado
concreto (realização do perigo) corresponde à realização do plano do autor.
b) A deve responder culposamente, tratando-se o resultado de um desvio
causal regular e previsível, incompatível com o dolo do autor (representação
do resultado como ocorreu).
c) A deve responder dolosamente, já que o resultado é causa superveniente
relativamente independente da conduta do autor, tendo esta produzido o
resultado “por si só”. A doutrina chama a hipótese de “troca de dolo”,
constituindo a situação uma mudança do objeto do dolo.
d) A deve responder culposamente, já que sua conduta foi imprudente (culpa
consciente). Trata-se na hipótese do chamado aberratio causae ou “culpa
geral”.

Q35. FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014


Marcos e Rodrigo instigaram Juarez, que sofria de depressão, a cometer
suicídio, pois, na condição de herdeiros do último, pretendiam a morte do
mesmo por interesses econômicos. Ainda que Juarez tenha admitido
Aula 03

firmemente a possibilidade de eliminar a própria vida, não praticou qualquer


ato executório. Diante desse contexto, Marcos e Rodrigo
a) poderiam ter a pena reduzida de 1/3 a 1/2, se a pretensão tivesse caráter
humanitário, de piedade, e a morte tivesse se consumado.
b) deverão responder por tentativa de homicídio, visto que a ideia de ambos
era eliminar a vida de Juarez para posterior enriquecimento.
c) serão responsabilizados pelo crime previsto no art. 122 do Código Penal,
com redução da pena pelo fato de a vítima não ter atentado contra a própria
vida, já que para a consumação do delito basta a mera conduta de instigar.
d) não responderão pelo crime de instigação ao suicídio, pois não houve
morte ou lesão corporal de natureza grave na vítima.
e) responderiam por instigação ao suicídio, caso, no mínimo, Juarez
atentasse contra a própria vida e tivesse ocasionado lesões corporais leves
em seu corpo.

Q36. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2014


Analise as seguintes situações:
I. Quando, por erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de
atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela, levando-se em
consideração as qualidades da vítima que almejava. No caso de ser também
atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do
concurso formal.
II. Há representação equivocada da realidade, pois o agente acredita tratar-
se a vítima de outra pessoa. Trata-se de vício de elemento psicológico da
ação. Não isenta de pena e se consideram as condições ou qualidades da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
III. Trata-se de desvio do crime, ou seja, do objeto jurídico do delito. O
agente, objetivando um determinado resultado, termina atingindo resultado
diverso do pretendido. O agente responde pelo resultado diverso do
pretendido somente por culpa, se for previsto como delito culposo. Quando
o agente alcançar o resultado almejado e também resultado diverso do
pretendido, responderá pela regra do concurso formal.
Tais ocorrências configuram, respectivamente:
a) error in persona; aberratio ictus; aberratio criminis.
b) aberratio ictus; aberratio criminis; error in persona.
c) aberratio ictus; error in persona; aberratio criminis.
d) aberratio criminis; error in persona; aberratio ictus.

Q37. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2014


Aula 03

Para o Código Penal (art. 20, § 1.º), quando a descriminante putativa disser
respeito aos pressupostos fáticos da excludente, estamos diante de:
a) Excludente de antijuridicidade.
b) Erro de tipo.
c) Erro de proibição.
d) Excludente de culpabilidade.

Q38. VUNESP/DPE-MS/Defensor Público/2014


Assinale a alternativa correta.
a) A compensação de culpa deve ser aplicada para efeito de
responsabilização do resultado lesivo causado no direito penal pátrio.
b) A culpa inconsciente ocorre quando o agente prevê o resultado, mas
espera que ele não ocorra.
c) Para caracterização da conduta típica culposa basta a inobservância do
dever de cuidado do agente.
d) O dolo alternativo consiste na vontade e consentimento do agente a
produzir um ou outro resultado.

Q39. FCC/MPE-PE/Promotor de Justiça/2014


O erro inevitável sobre a ilicitude do fato e o erro sobre elementos do tipo
excluem
a) a punibilidade e a culpabilidade, respectivamente.
b) a culpabilidade em ambos os casos.
c) a culpabilidade e o dolo e a culpa, respectivamente.
d) o dolo e a culpa em ambos os casos.
e) a culpabilidade e o dolo, respectivamente.

Q40. TRF 4ª Região/TRF 4ª Região/Juiz Federal/2014


Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.
Os membros de uma organização criminosa, indignados com um delator,
que aceitou acordo de colaboração premiada, identificou membros e
descreveu as atividades do grupo, decidiram eliminá-lo. Para tanto,
encarregaram um dos seus integrantes de matá-lo na saída do edifício do
Ministério Público, local onde estaria prestando depoimento.
I. Se o atirador, imaginando tratar-se do delator a ser eliminado, atirar e
matar pessoa diversa, responderá por homicídio culposo, pois o agente não
tinha intenção de matar pessoa diversa, respondendo, assim, por sua
imperícia.
II. Se o atirador, imaginando tratar-se do delator a ser eliminado, atirar e
matar pessoa diversa, responderá por homicídio doloso. Nesse caso, não se
Aula 03

consideram as condições ou qualidades da própria vítima, senão as da


pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
III. Se o atirador, imaginando tratar-se do delator a ser eliminado, atirar e
matar pessoa diversa, responderá por homicídio doloso, em concurso com
homicídio tentado.
IV. Se o atirador, iludido pelo reflexo de uma pessoa que passava do outro
lado da rua, atirar e atingir apenas a porta de vidro, responderá por dano
culposo, porém qualificado por se tratar de patrimônio da União.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva II.
c) Está correta apenas a assertiva III.
d) Está correta apenas a assertiva IV.
e) Nenhuma assertiva está correta.

Q41. VUNESP/TJ-PA/Juiz Substituto/2014


O “X”, policial militar, reside com sua família em local extremamente
violento. De madrugada, é acordado por alguém tentando arrombar a porta
de sua casa. Assustado, pede para sua mulher, igualmente em pânico, que
não saia do quarto, e caminha para a entrada da casa onde grita
insistentemente para que o suposto ladrão vá embora, avisando-o de que,
caso contrário, irá atirar. A advertência é em vão, e a porta se abre aos olhos
de “X” que, após efetuar o primeiro disparo, percebe que acertou “Z”, seu
filho, que, embriagado, arrombou a porta. Na hipótese apresentada, vindo
“Z” a falecer em razão dos disparos, “X”.
a) será isento de pena, pois agiu em erro de tipo invencível.
b) praticou o crime de homicídio doloso consumado.
c) será isento de pena, pois agiu em erro de tipo causado por outrem.
d) praticou o crime de homicídio culposo consumado.
e) praticou o crime de homicídio culposo tentado

Q42. VUNESP/TJ-PA/Juiz Substituto/2014


A doutrina entende por aberratio delicti
a) o erro sobre a pessoa, no qual o agente, por engano de representação,
atinge outra pessoa no lugar da vítima desejada.
b) o desvio do golpe que ocorre quando o agente por inabilidade ou acidente
não acerta a vítima visada, mas outra pessoa.
c) o erro sobre a ilicitude do fato.
d) uma das hipóteses de resultado diverso do pretendido, no qual o agente
por inabilidade ou acidente atinge bem jurídico diverso do pretendido.
Aula 03

e) o resultado que agrava especialmente a pena.

Q43. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014


Analise o enunciado da questão abaixo e assinale se ele é Certo ou Errado.
Conforme doutrina majoritária, a tortura qualificada pelo resultado morte,
prevista no artigo 1º, § 3º, da Lei n. 9.455/97, é classificada como de
resultado preterdoloso. Entretanto, se o agressor, em sua ação, deseja ou
assume o risco de produzir o resultado morte, não responde pelo tipo acima,
mas por homicídio qualificado.
o Certo
o Errado

Q44. FCC/TJ-CE/Juiz Substituto/2014


Os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são aqueles
a) cuja consumação se protrai no tempo, enquanto perdurar a conduta.
b) em que a relação de causalidade é normativa.
c) praticados mediante o “não fazer” o que a lei manda, sem dependência
de qualquer resultado naturalístico.
d) que se consumam antecipadamente, sem dependência de ocorrer ou não
o resultado desejado pelo agente.
e) que o agente deixa de fazer o que estava obrigado, ainda que sem a
produção de qualquer resultado.

Q45. VUNESP/PC-SP/Delegado de Polícia/2014


“X” estaciona seu automóvel regularmente em uma via pública com o
objetivo de deixar seu filho, “Z”, na pré-escola, entretanto, ao descer do
veículo para abrir a porta para “Z”, não percebe que, durante esse instante,
a criança havia soltado o freio de mão, o suficiente para que o veículo se
deslocasse e derrubasse um idoso, que vem a falecer em razão do
traumatismo craniano causado pela queda. Em tese, “X”
a) responderá pelo crime de homicídio culposo com pena mais severa do que
a estabelecida no Código Penal, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro.
b) responderá pelo crime de homicídio culposo, entretanto, a ele poderá ser
aplicado o perdão judicial.
c) não responde por crime algum, uma vez que não agiu com dolo ou culpa.
d) responderá pelo crime de homicídio doloso por dolo eventual.
e) responderá pelo crime de homicídio culposo em razão de sua negligência.
Aula 03

12.2 – Gabarito
Q1. E Q16. A Q31. B
Q2. A Q17. B Q32. B
Q3. C Q18. B Q33. CORRETA
Q4. C Q19. E Q34. A
Q5. B Q20. E Q35. D
Q6. D Q21. E Q36. C
Q7. A Q22. ERRADA Q37. B
Q8. E Q23. C Q38. D
Q9. D Q24. C Q39. E
Q10. D Q25. E Q40. B
Q11. C Q26. D Q41. A
Q12. E Q27. C Q42. D
Q13. A Q28. A Q43. CORRETA
Q14. D Q29. A Q44. B
Q15. D Q30. D Q45. C

12.3 – Lista de Questões com Comentários


Q1. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2015
Após a leitura dos enunciados abaixo, assinale a alternativa correta:
I- A teoria finalista, no conceito analítico de crime, o define como um fato
típico e antijurídico, sendo a culpabilidade pressuposto da pena.
II- A teoria clássica, no conceito analítico de crime, o define como um fato
típico, antijurídico e culpável.
III- A teoria clássica entende que a culpabilidade consiste em um vínculo
subjetivo que liga a ação ao resultado, ou seja, no dolo ou na culpa em
sentido estrito.
IV- A teoria finalista entende que, por ser o delito uma conduta humana e
voluntária que tem sempre uma finalidade, o dolo e a culpa são abrangidos
pela conduta.
V- A teoria finalista entende que pode existir crime sem que haja
culpabilidade, isto é, censurabilidade ou reprovabilidade da conduta,
inexistindo, portanto, a condição indispensável à imposição e pena.
a) Somente o II e o III são verdadeiros.
b) Somente o I e o IV são verdadeiros.
c) Somente o I, IV e V são verdadeiros.
d) Somente o I e II são verdadeiros.
e) Todos são verdadeiros.
Aula 03

Comentários
O item I está correto, pois, de acordo com a teoria bipartida surgida com o
finalismo, o crime consiste em fato típico e antijurídico, enquanto a culpabilidade
consiste em mero pressuposto da pena.
O item II está correto. Para a teoria clássica ou causalista, crime é o fato típico,
antijurídico (ou ilícito) e culpável. Ela adota a teoria tripartida para conceituação
do crime.
O item III está correto, haja vista que, para a teoria clássica, a culpa em sentido
amplo é parte da culpabilidade, que é analisada como sendo a possibilidade de
se atribuir a conduta praticada, bem como seu resultado, ao seu autor.
O item VI está correto. Na teoria finalista a culpa em sentido amplo é parte da
conduta, já que ela possui em si uma finalidade.
O item V está correto. Segundo dispõe a teoria finalista, no caso da adoção da
teoria bipartida, a culpabilidade se trata de mero pressuposto para a aplicação
da pena. Vale recordar que a teoria finalista é compatível tanto com o conceito
bipartido quanto com o tripartido de crime.
Portanto, a alternativa E é a opção correta.

Q2. VUNESP/DPE-RO/Defensor Público/2017


Doutrinadores nacionais admitem que a reforma de 1984 da Parte Geral do
Código Penal, especialmente no que concerne ao “conceito de crime”, aderiu
ao “finalismo”. Quem é considerado o criador de tal sistema jurídico-penal?
a) Hans Welzel.
b) Claus Roxim.
c) Von Liszt.
d) Günther Jakobs.
e) Cesare Beccaria.

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O grande teórico da
Teoria Finalista foi Hans Welzel.

Q3. FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015


A teoria finalista da ação, adotada pelo Código Penal em sua Parte Geral,
concebe o crime como um fato típico e antijurídico. A culpabilidade diz
respeito à reprovabilidade da conduta. O dolo, que integrava o juízo de
culpabilidade, para esta teoria é elemento estruturante do fato típico. Essa
adoção pretende corrigir contradições na teoria
a) da equivalência dos antecedentes causais.
b) da responsabilidade objetiva.
Aula 03

c) da causalidade normativa.
d) do domínio do fato.
e) da imputabilidade.
Comentários:
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Em comparação ao
causalismo e o neokantismo, no finalismo há a migração do dolo e culpa da
culpabilidade para o fato típico. Por isso, o dolo é analisado na conduta, e não
como elemento da culpabilidade, na qual há um juízo de valoração.

Q4. FCC/DPE-AP/Defensor Público/2018


Nos crimes comissivos por omissão,
a) pelo critério nomológico, violam-se normas mandamentais.
b) a tipicidade é a do tipo comissivo, mas pode também, excepcionalmente,
ser a do tipo omissivo.
c) a falta do poder de agir gera atipicidade da conduta.
d) são delitos de mera atividade, que se consumam com a simples
inatividade.
e) no caso de ingerência, a conduta anterior deve ser a produtora do dano
ou lesão.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, haja vista que os crimes comissivos por omissão,
também denominados omissivos impróprios, são naturalmente comissivos, mas
podem ser praticados por omissão. Deste modo, a violação decorre de norma
proibitiva, com acréscimo do dever de agir, e não mandamental.
A alternativa B está incorreta. Nos casos dos crimes comissivos por omissão, a
tipicidade decorre da omissão em cumprir um dever jurídico referente a um crime
comissivo.
A alternativa C é a correta e gabarito da questão. Se o agente que tinha o dever
específico de agir, deixa de agir por algum motivo que o impossibilite, não há
crime.
A alternativa D está incorreta. Os crimes comissivos por omissão são uma
espécie de crime omissivo.
A alternativa E está incorreta, pois, se o agente cria o risco com o seu
comportamento ou assume a responsabilidade de impedir o resultado, a omissão
é que será a produtora do dano.

Q5.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2018
No Direito Penal brasileiro, o erro
Aula 03

a) sobre os elementos do tipo impede a punição do agente, pois exclui a


tipicidade subjetiva em todas as suas formas
b) determinado por terceiro faz com que este responda pelo crime.
c) sobre a pessoa leva em consideração as condições e qualidades da vítima
para fins de aplicação da pena.
d) de proibição exclui o dolo, tornando a conduta atípica.
e) sobre a ilicitude do fato isenta o agente de pena quando evitável.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, haja vista que, se o erro incide sobre elementares
do tipo, sempre exclui o dolo. Porém, se o erro é evitável, responde o agente por
crime culposo, se houver previsão em lei.
A alternativa B está correta. Se o crime for determinado por terceiro, o agente
causador será considerado o autor mediato do crime, enquanto o agente imediato
responderá pela prática criminosa apenas se tiver agido com dolo ou culpa.
A alternativa C está incorreta. Para fins de aplicação de pena, tratando-se de
erro sobre a pessoa, o Código Penal em seu art. 20 § 3º determina que a
responsabilização penal se dê conforme a vítima virtual, e não a real.
A alternativa D está incorreta. Quando ocorre o erro de proibição, sendo o erro
inevitável, o agente não responde criminalmente. Se evitável, a pena é diminuída
de um sexto a um terço.
A alternativa E está incorreta. Segundo o art. 21 do Código Penal, o erro sobre
a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena. Se for evitável, poderá diminuí-
la de um sexto a um terço.

Q6. FCC/DPE-SC/Defensor Público/2017


Sobre o dolo, é correto afirmar:
a) O dolo requer o pleno conhecimento dos elementos do tipo subjetivo,
além da vontade de realizá-lo.
b) A teoria da imputação objetiva limita os casos em que o dolo é excessivo
e pode aumentar a pena do réu diante do risco criado.
c) O momento do dolo não precisa coincidir com o momento da execução da
ação, existindo validamente nas figuras do dolo antecedente e subsequente.
d) O aspecto cognitivo do dolo antepõe-se sempre ao volitivo.
e) Os tipos omissivos prescindem da verificação do dolo.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois, o dolo consiste na consciência e vontade de
realizar os elementos do tipo objetivo. O dolo é o elemento subjetivo.
Aula 03

A alternativa B está incorreta. Para a teoria da imputação objetiva, o agente


deve ser responsabilizado quando sua conduta, que causou o resultado, ensejou
um risco proibido ao bem jurídico. Deste modo, esta teoria em nada interfere nos
casos em que há dolo excessivo, muito menos na sanção penal. Referida teoria
será estudada na próxima aula.
A alternativa C está incorreta. O dolo antecedente e o subsequente não são
suficientes para a responsabilização penal.
A alternativa D está correta. Inexistindo o elemento cognitivo antes do elemento
volitivo, o agente atuará em erro.
A alternativa E está incorreta. Os tipos omissivos não prescindem da verificação
do dolo, uma vez que, nos crimes omissivos próprios, por exemplo, o dolo é
essencial.

Q7.FCC/TJ-SC/Juiz Substituto/2017
Um cidadão americano residente no Estado da Califórnia, onde o uso
medicinal de Cannabis é permitido, vem ao Brasil para um período de férias
em Santa Catarina e traz em sua bagagem uma certa quantidade da
substância, conforme sua receita médica. Ao ser revistado no aeroporto é
preso pelo delito de tráfico internacional de drogas. Neste caso,
considerando-se que seja possível a não imputação do crime, seria possível
alegar erro de
a) proibição indireto.
b) tipo permissivo.
c) proibição direto.
d) tipo.
e) subsunção.
Comentários:
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. No erro de proibição
direto o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva e no
erro de proibição indireto o agente sabe que a conduta é típica, mas supõe
presente uma norma permissiva.
Apesar de o erro de proibição ser matéria da próxima aula, a questão envolve
também o erro de tipo, sem contar que mencionamos o erro de proibição nesta
aula. O gabarito foi bastante questionado, mas o que a questão quer demonstrar
é que o estrangeiro poderia até saber que aqui o uso de maconha era vedado
(como no caso dos EUA), mas pensava que, no caso do medicamento, haveria
uma norma que permitiria, como no seu país.
Aula 03

Q8. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


Sobre o tipo dos crimes dolosos de ação, assinale a alternativa incorreta:
a) Nos tipos dolosos de resultado, a atribuição do tipo objetivo ao autor
pressupõe a causação do resultado, explicada pela lógica da determinação
causal, e a imputação do resultado, fundada no critério da realização do
risco.
b) Na iminência de forte tempestade, B instiga C a caminhar sobre campo
aberto, na expectativa de que este seja atingido mortalmente por um raio:
o casual resultado de morte de C, efetivamente fulminado por um raio na
caminhada em campo aberto, não é definível como risco criado por B, e
assim não pode ser atribuível a B como obra dele.
c) Os crimes de roubo (CP, art. 157, caput), extorsão (CP, art. 158, caput),
falsidade ideológica (CP, art. 299, caput), corrupção ativa (CP, art. 333,
caput) e coação no curso do processo (CP, art. 344), constituem, cada qual,
exemplo de ilícito penal cujo tipo subjetivo é composto pelo dolo e por
elementos subjetivos especiais.
d) O erro de tipo inevitável sobre elementos objetivos do tipo de peculato
(CP, art. 312, caput) exclui qualquer responsabilidade penal, o erro de tipo
evitável sobre elementos objetivos do tipo de lesões corporais simples (CP,
art. 129, caput) permite punição pela modalidade culposa (CP, art. 129, §
6º) e o erro de tipo evitável sobre elementos objetivos do tipo de apropriação
indébita (CP, art. 168, caput) exclui qualquer responsabilidade penal.
e) B realiza disparo de arma de fogo, com a finalidade específica de atingir
pneu do veículo pilotado por C, levando a sério e se conformando com a
possibilidade de atingir C mortalmente: se o projétil efetivamente atinge C,
o resultado de morte é atribuível a B a título de dolo direto de 2º grau.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois, nos tipos dolosos de resultado pressupõe-se
que o agente causou o resultado e foi a ele imputado o resultado, em decorrência
do nexo causal. Estudaremos o nexo causal, já apresentado acima no conteúdo,
de forma mais detida na nossa próxima aula.
A alternativa B está correta. De acordo com a teoria da imputação objetiva de
Roxin, o fato de B instigar C a caminhar em campo aberto quando se aproxima
uma tempestade não pode ser considerada a criação de um risco. Ainda que não
tenhamos estudado a teoria, que será vista na próxima aula, a alternativa poderia
ser resolvida pelo princípio da responsabilização pessoal, já visto, segundo o qual
ninguém pode ser responsabilizado pela escolha livre e consciente de outrem,
dentro dos riscos aceitos pela sociedade.
A alternativa C está correta. Os crimes descritos na alternativa constituem
exemplo de ilícito penal cujo tipo subjetivo é composto pelo dolo específico e por
elementos subjetivos especiais.
Aula 03

A alternativa D está correta. Se o erro incide sobre elementares do tipo exclui


o dolo, porém, se o erro é evitável responde o agente por crime culposo, se
houver previsão em lei. No caso do tipo de apropriação indébita, o erro de tipo
evitável sobre elementos objetivos exclui qualquer responsabilidade penal, por
não haver previsão expressa de modalidade culposa.
A alternativa E está incorreta. No caso específico, vislumbra-se o dolo de
primeiro grau, haja vista que atingir C consistia na vontade do agente de produzir
o resultado inicialmente pretendido, tendo em vista ter ele assumido o risco por
ele criado.
Desse modo, a alternativa E é a incorreta e gabarito da questão.

Q9. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


O Sobre o tipo dos crimes culposos, assinale a alternativa correta:
a) Os tipos culposos, por não estarem descritos especificamente em cada
tipo penal, constituem normas penais em branco, que dependem de um
complemento por outro ato normativo.
b) De acordo com o critério da generalização, as diferenças de capacidade
individual, como inteligência, escolaridade e habilidades, não são avaliadas
na culpabilidade, mas consideradas já no tipo de injusto.
c) Objetivando produzir danos em veículo de som, estacionado em via
pública, A atira bexiga de água de janela do 10º andar, ciente da
possibilidade de atingir o pedestre B, mas com plena confiança em sua
exímia habilidade para evitar este último resultado: se a bexiga atinge B,
produzindo-lhe lesões corporais, A não responde por culpa consciente, mas
por dolo eventual.
d) no tipo dos crimes culposos, o desvalor do resultado é definido pelo
resultado de lesão do bem jurídico, como produto específico da violação do
dever de cuidado ou do risco permitido.
e) a culpa inconsciente constitui a modalidade subjetiva de realização de
ação típica de menor intensidade psíquica, e sua influência na graduação da
pena deve ser aferida na terceira fase de aplicação.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois, os crimes culposos devem ser
expressamente previstos pela norma. Caso não estejam descritos
especificamente no tipo penal, constituem normas penais abertas que dependem
de complementação valorativa. As normas penais em branco necessitam de
complementação normativa.
A alternativa B está incorreta. De acordo com o critério da generalização, as
diferenças de capacidade individual são analisadas na culpabilidade.
A alternativa C está incorreta. No caso, A responde por culpa consciente, pois
ele prevê o resultado, mas não o aceita, espera que ele não ocorra.
Aula 03

A alternativa D está correta. Nos crimes culposos a violação de um dever


objetivo de cuidado é o que caracteriza a culpa em sentido estrito. Deste modo,
o desvalor da conduta ocorre quando há a violação do referido dever e,
consequentemente, a produção do resultado por um risco proibido, e não
permitido.
A alternativa E está incorreta. A influência da culpa inconsciente na graduação
da pena deve ser aferida na primeira fase, pois se refere à culpabilidade.
Portanto, a alternativa D é a correta e gabarito da questão.

Q10. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


Sobre o tipo dos crimes de omissão de ação, assinale a alternativa incorreta:
a) A realiza manobra imprudente na direção de veículo e atropela B, que
andava pelo acostamento da rodovia: se B morre justamente porque A,
ciente da real possibilidade de morte da vítima, deixa de lhe prestar socorro,
podendo fazê-lo concretamente sem risco pessoal, então A responde pelo
crime de homicídio doloso (CP, art. 121), praticado por omissão imprópria.
b) A percebe o afogamento de B em lago, e, ciente da real possibilidade de
morte da vítima, deixa de lhe prestar socorro, podendo fazê-lo
concretamente sem risco pessoal: se B morre afogado justamente em razão
da omissão, então A responde pelo crime de omissão de socorro, majorado
pelo resultado de morte (CP, art. 135, parágrafo único), praticado por
omissão própria.
c) Os tipos de omissão de ação podem aparecer sob a forma de omissão
imprópria, fundada no dever jurídico especial de agir, que admite ações
dolosas e culposas, e sob a forma de omissão própria, fundada no dever
jurídico geral de agir, que admite apenas ações dolosas.
d) A posição de garantidor do bem jurídico é elemento específico do tipo
objetivo dos crimes de omissão imprópria, mas a produção do resultado
típico de lesão do bem jurídico é elemento comum do tipo objetivo dos
crimes de omissão própria e imprópria.
e) O erro de tipo evitável sobre elementos objetivos do tipo de homicídio
cometido por omissão imprópria exclui o dolo, permitindo punição a título de
culpa.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois o próprio agente gerou a situação de risco, ao
lesionar a vítima. Deste modo, A pode responder pelo crime comissivo por
omissão, pois possuía o dever jurídico de agir, conforme a cláusula geral do artigo
13 do CP. Portanto, ele responde por homicídio doloso.
A alternativa B está correta. No caso específico, A pratica crime de omissão de
socorro, majorado pelo resultado de morte, praticado por omissão própria, tendo
em vista que o crime foi cometido em virtude do descumprimento de norma
Aula 03

imperativa. A não possuía a posição de garante, não possuindo dever específico


de agir, e sim o dever genérico de obedecer à norma imperativa.
A alternativa C está correta. Os tipos de omissão são classificados em omissão
imprópria (comissivos por omissão), fundada no dever jurídico especial de agir,
que admite ações dolosas e culposas, e em omissão própria, fundada no dever
jurídico geral de agir, que admite apenas ações dolosas.
A alternativa D está incorreta. No caso da omissão imprópria, o agente
responderá se houver a produção de resultado. Na omissão própria,
independentemente da produção do resultado, o agente responde pela omissão.
O crime de omissão de socorro, por exemplo, sequer possui resultado
naturalístico, por ser crime de mera conduta.
A alternativa E está correta. O erro de tipo evitável sobre elementos objetivos
exclui o dolo, permitindo punição a título de culpa.
Desse modo, a alternativa D é a incorreta e gabarito da questão.

Q.11. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2017


Sobre modalidades de erro, assinale a alternativa incorreta:
a) Segundo a teoria limitada da culpabilidade, o erro de proibição indireto
(ou erro de permissão), se evitável, não isenta de pena, mas pode reduzir a
culpabilidade do agente.
b) O erro de mandado pode recair sobre o dever jurídico especial de agir,
que fundamenta a omissão imprópria, e, se evitável, não isenta de pena,
mas pode reduzir a culpabilidade do agente.
c) Ao subtrair frutas de chácara alheia, a criança A sofre lesões corporais
graves por disparo certeiro de arma de fogo realizado por B, proprietário da
chácara, que supõe plenamente justificada a sua ação: trata-se de
modalidade de erro de proibição direto, incidente sobre a existência da lei
penal que, se evitável, reduz a culpabilidade do agente.
d) Segundo a teoria limitada da culpabilidade, o estado de necessidade
putativo constitui modalidade de erro de tipo permissivo, que incide sobre
os pressupostos fáticos da causa de justificação e recebe tratamento jurídico
equiparado ao erro de tipo: se inevitável, exclui o dolo e o próprio crime, e
se evitável, admite punição a título de culpa, se prevista em lei.

e) O excesso de legítima defesa real pode ser determinado por erro de


representação sobre a intensidade da agressão (excesso intensivo) ou sobre
a atualidade de agressão (excesso extensivo).
Comentários:
A alternativa A está correta. No erro de proibição indireto, o agente se equivoca
quanto ao conteúdo de uma norma permissiva. Portanto, o agente não ficará
isento de pena, sendo punido pela culpa caso haja previsão da figura culposa, e
Aula 03

terá reduzida sua culpabilidade. Estudaremos o erro de proibição de forma mais


detida na sequência desta aula.
A alternativa B está correta. Como foi explicado na alternativa anterior, o erro
de proibição pode recair sobre o dever específico de agir decorrente de cláusula
geral, sendo assim, o agente acreditando que não lhe incumbe tal dever deixa de
agir e, consequentemente, não fica isento de pena, se evitável, mas reduz sua
culpabilidade.
A alternativa C está incorreta. No caso em tela, o erro consiste em erro de
proibição indireto, tendo em vista que o agente sabia que a conduta era típica,
mas supõe presente uma norma permissiva.
A alternativa D está correta. O estado de necessidade putativo constitui
modalidade de erro de tipo permissivo ou também denominado erro de proibição
indireto.
A alternativa E está correta. Embora não tenha sido estudado nesta aula, a
alternativa não apresenta dificuldades na sua interpretação. No excesso
extensivo, cessada a agressão, o agente ofendido continua agredindo o ofensor,
incorrendo em excesso. Refere-se ao aspecto temporal. No intensivo, o agente
intensifica a agressão justificada e ultrapassa os limites permitidos. Relaciona-se
à intensidade.
Desse modo, a alternativa C é a incorreta e gabarito da questão. Destaco que
a questão, mesmo envolvendo erro de proibição, foi usada nesta aula, pois já
abordamos superficialmente o tema e há alternativas sobre erro de tipo, matéria
desta aula. Quanto ao excesso punível, veremos na próxima aula.

Q.12. FAPEMS/PC-MS/Delegado de Polícia/2017


Analise o caso a seguir.
Com a desclassificação no torneio nacional, o presidente do clube AZ demite
o jogador que perdeu o pênalti decisivo. Irresignado com a decisão, o
futebolista decide matar o mandatário. Para tanto, aproveitando o dia da
assinatura de sua rescisão, acopla bomba no carro do presidente que estava
estacionado na sede social do clube. O jogador sabe que o motorista
particular do dirigente será fatalmente atingido e tem a consciência que não
pode evitar que torcedores ou funcionários da agremiação, próximos ao
veículo, venham a falecer com a explosão. Como para ele nada mais importa,
a bomba explode e, lamentavelmente, além das mortes dos dois ocupantes
do veículo automotor, três torcedores e um funcionário morrem.
A partir da leitura desse caso, é correto afirmar que o indiciamento do
jogador pelos crimes de homicídio sucederá
a) por dolo direto de primeiro grau em relação ao presidente e ao motorista.
b) por dolo eventual em relação ao motorista; aos torcedores e ao
funcionário.
Aula 03

c) por dolo direto de segundo grau em relação ao presidente e ao motorista.


d) por dolo eventual apenas em relação aos torcedores.
e) por dolo direto de segundo grau apenas em relação ao motorista

Comentários:
A alternativa E está correta e se trata do gabarito da questão. O jogador será
indiciado por dolo direto de segundo grau apenas em relação ao motorista, haja
vista que, por consequência necessária do meio por ele escolhido para matar o
presidente, o agente sabe que o motorista será morto. Com relação aos
torcedores e o funcionário, não são consequências necessárias, mas possíveis,
que o agente prevê e assume o risco. Logo, há dolo eventual com relação a eles,
e não direto. Com relação ao alvo, o dolo é direto de primeiro grau.

Q13. FAPEMS/PC-MS/Delegado de Polícia/2017


A partir da narrativa a seguir e considerando as classes de crimes omissivos,
assinale a alternativa correta.
Artur, após subtrair aparelho celular no interior de um mercado, foi detido
por populares que o amarraram em um poste de iluminação. Acabou
agredido violentamente por Valdemar, vítima da subtração, que se valeu de
uma barra de ferro encontrada na rua. Alice tentou intervir, porém foi
ameaçada por Valdemar. Ato contínuo, Alice, verificando a grave situação,
correu até um posto da Polícia Militar e relatou o fato ao soldado Pereira,
que se recusou a ir até o local no qual estava o periclitante, alegando que a
situação deveria ser resolvida unicamente pelos envolvidos. Francisco,
segurança particular do mercado, gravou a agressão e postou as imagens
em rede social com a seguinte legenda: "Aí mano, em primeira mão: outro
pra vala". Artur morreu em decorrência de trauma craniano.
a) Pereira poderá ser indiciado pela prática de crime omissivo impróprio.
b) Pereira poderá ser indiciado pela prática de crime omissivo próprio.
c) Alice poderá ser indiciada pela prática de crime omissivo próprio.
d) Alice poderá ser indiciada pela prática de crime omissivo impróprio.
e) Francisco poderá ser indiciado pela prática de crime comissivo por
omissão.

Comentários:
A alternativa A é a correta e gabarito da questão. No caso em tela, o soldado
Pereira responderá pela prática de crime omissivo impróprio, tendo em vista ter
ele um dever específico de agir decorrente de uma das hipóteses da cláusula
geral, presente na norma transcrita abaixo:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
não teria ocorrido. (...)
Aula 03

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para


evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

Q14. FCC/TJ-MS/Juiz de Direito/2010


Podem ser consideradas causas supralegais de exclusão do crime:
a) o exercício regular de direito e a inimputabilidade, afastando a ilicitude e
a culpabilidade, respectivamente.
b) a insignificância e o erro sobre a ilicitude do fato, ambas afastando a
culpabilidade.
c) a adequação social e a coação moral irresistível, ambas afastando a
tipicidade.
d) o consentimento do ofendido, nos casos em que não integrar a descrição
típica, e a inexigibilidade de conduta diversa.
e) as descriminantes putativas e a coação física irresistível.

Comentários:
A alternativa A está incorreta. A alternativa se apresenta correta, exceto pelo
fato de que as causas apontadas não são supralegais, pois estão previstas na lei.
A alternativa B está errada. O princípio da insignificância é causa supralegal de
exclusão do crime, pois afasta a tipicidade material, mas o erro sobre a ilicitude
do fato está previsto no art. 21 do Código Penal e apenas isenta de pena se
inevitável.
A alternativa C está incorreta. A coação moral irresistível está prevista no artigo
22 do Código Penal e afasta a culpabilidade, enquanto o princípio da adequação
social. O princípio da a adequação social afasta a tipicidade das condutas que são
aceitas pela sociedade, passando a ser excluídas da esfera penal.
A alternativa D está correta. O consentimento do ofendido, nos casos em que
não integrar a descrição típica, é considerado causa supralegal de exclusão da
ilicitude. Já a inexigibilidade de conduta diversa é uma causa supralegal para
excluir a culpabilidade do agente.
A alternativa E está incorreta. A coação física irresistível é causa de exclusão da
conduta enquanto as descriminantes putativas são causas excludentes de
ilicitude.

Desse modo, a alternativa D é a correta e gabarito da questão. Esta questão


também envolve matéria ainda não vista, mas a alternativa E representava
interessante oportunidade de se mostrar a cobrança de causa de exclusão de
conduta e de descriminante putativa.

Q15. TRF 2ª Região/ TRF 2ª Região /Juiz Federal/2014


Aula 03

Caio, agente da polícia, durante suas férias, resolve manter a forma e treinar
tiros. Vai até um terreno baldio e ali alveja uma caçamba de lixo. O agente
imaginava-se sozinho e, sem querer, acerta um mendigo que ali dormia,
dentro da caçamba. Em tese, ocorreu:
a) Descriminante putativa.
b) Causa legal de exclusão da culpabilidade.
c) Caso fortuito, ou força maior criminógena.
d) Erro de tipo.
e) Erro na execução (aberratio ictus).

Comentários:
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. Como visto em aula, O
erro de tipo, que pode ser classificado em essencial ou acidental, ocorre quando
o agente possui uma incorreta percepção da realidade.

Q16. FAPEMS/PC-MS/Delegado de Polícia/2017


Não aceitando o término do casamento, Felinto manteve Isaura por uma
hora e meia sob a mira de um revólver. Durante esse tempo, o Delegado
Moraes negociou a rendição de Felinto. Aos prantos, repetia que liberaria a
ex-mulher, contudo efetuaria disparo contra a sua cabeça, pondo fim à
própria vida, pois não viveria sem sua amada. Passados mais alguns
minutos, decidiu liberar Isaura. Ainda transtornado e de arma em punho,
dirigiu-se à saída do local onde estava acuado pelos policiais e,
inesperadamente, ao invés de se entregar, apontou o revólver aos
integrantes do grupo tático, gritando que efetuaria um disparo. Nesse
momento, vendo uma ameaça em Felinto, pois estava prestes a atirar contra
os policiais, o Delegado Moraes efetuou disparo mortal. Em seguida, ao se
aproximar do corpo da vítima, verificou que a arma de Felinto não estava
municiada. Visando a evitar qualquer responsabilização penal, a defesa
técnica de Moraes deverá suscitar que ele atuou em contexto de
a) erro de tipo permissivo invencível.
b) erro determinado por terceiro.
c) erro de tipo incriminador invencível.
d) legítima defesa própria.
e) erro de proibição invencível.
Comentários:
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O Delegado Moraes não
tinha como prever o fato de que a arma de Felinto não estava municiada, por
isso, acreditou estar agindo em legítima defesa, que se trata de norma
permissiva. Seu erro se referiu à falsa percepção da realidade (arma estava
Aula 03

desmuniciada e ele pensou que estava municiada). Por isso, é um erro de tipo. É
permissivo porque o fez pensar estar acobertado por uma dirimente, a legítima
defesa. É invencível, pois ele não poderia saber que a arma não tinha munição,
mesmo que agisse com a maior diligência possível.

Q17. MPR-RS/MPE-RS/Delegado de Polícia/2017


A respeito dos crimes omissivos impróprios, ou comissivos por omissão,
assinale a alternativa INCORRETA.
a) São de estrutura típica aberta e de adequação típica de subordinação
mediata. Só podem ser praticados por determinadas pessoas, embora
qualquer pessoa possa, eventualmente, estar no papel de garante. Neles,
descumpre-se tão somente a norma preceptiva e não a norma proibitiva do
tipo legal de crime ao qual corresponda o resultado não evitado.
b) Se o médico se obriga a realizar determinado procedimento em um
paciente, mas resolve viajar e deixa seu compromisso nas mãos de um
colega, que assume esse tratamento, ele responde penalmente pelas lesões
que resultem de erro de diagnóstico deste outro médico.
c) Quem, sabendo nadar, por brincadeira de mau gosto, empurra o amigo
para dentro da piscina, por sua ingerência, estará obrigado a salvá-lo, se
necessário, para que o fato não se transforme em crime de homicídio, no
caso de eventual morte por afogamento.
d) Na forma dolosa, os crimes omissivos impróprios não exigem que o
garante deseje o resultado típico.
e) Se o garante, apesar de não haver conseguido impedir o resultado,
seriamente esforçou-se para evitá-lo, não haverá fato típico, doloso e
culposo. Nos omissivos impróprios, a relação de causalidade é normativa.
Comentários:
A alternativa A está correta. Os tipos omissivos impróprios precisam de uma
regra de extensão para serem típicos, que é a que institui o dever jurídico
específico de agir (posição de garante).
A alternativa B está incorreta, pois, nesta ocasião o médico não pode ser
considerado o garante, tendo em vista que não cria um risco proibido ao alcance
da norma penal. Deste modo, não há que se falar em responsabilização criminal.
A alternativa C está correta, pois o agente, neste caso, com seu comportamento
criou o risco da ocorrência do resultado, assim, ele assume o papel de garante,
ou seja, ele tem o dever específico de cuidado decorrente da cláusula geral.
A alternativa D está correta. O dever do agente decorre da cláusula geral
prevista no art. 13, § 2, alíneas a, b e c, desta forma a intenção em produzir o
resultado é insignificante. O dolo está na conduta de se omitir, apesar do dever
jurídico de impedir o resultado.
Aula 03

A alternativa E está correta. Caso o garante não consiga impedir o resultado, o


fato será atípico. Nos omissivos impróprios, a relação de causalidade é normativa
tendo em vista que há uma norma mandamental imputando ao agente o dever
específico de agir.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa B.

Q18. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2016


O Mévio, lenhador, está trabalhando já há mais de 12 horas cortando árvores
com seu afiado machado. Quando passa para a árvore seguinte, sofrendo
uma ilusão de ótica pelo seu cansaço, confunde as pernas de seu amigo
Lupércio com o tronco de uma árvore, desferindo contra ele vigoroso golpe
de machado, lesionando-o. Neste caso, pode-se dizer que Mévio agiu:
a) Em estado de erro de proibição psiquicamente condicionado;
b) Em estado de erro de tipo psiquicamente condicionado;
c) Em estado de erro de proibição indireto;
d) Em estado de erro de tipo permissivo;
e) Com dolo eventual.
Comentários:
A alternativa B está correta e se trata do gabarito da questão. Embora o erro
de tipo psiquicamente condicionado se trate de uma teoria defendida por
Zafaroni, conhecer bem a definição de erro tipo seria suficiente para resolver a
questão. No entanto, vale destacar que a teoria preconiza que se sujeito sofre,
momentaneamente, de um distúrbio psíquico, o qual o faz agir sem nenhum dolo,
acontece apenas que o indivíduo está diante de uma incapacidade por causas
psicológicas produzidas diante de algum quadro específico, às quais não podem
ser confundidas com a inimputabilidade.

Q19. UFTM/DPE-MT/Defensor Público/2016


Existe algum ponto de semelhança entre as condutas praticadas com culpa
consciente e com dolo eventual?
a) Sim, pois, tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual, há aceitação
do resultado.
b) Não, pois não há ponto de semelhança nas condutas em questão.
c) Sim, pois em ambas o elemento subjetivo da conduta é o dolo.
d) Não, pois a aceitação do resultado na culpa consciente é elemento
normativo da conduta.
e) Sim, pois, tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual, o agente
prevê o resultado.
Aula 03

Comentários:
A alternativa E está correta e se trata do gabarito da questão. Para relembrar o
assunto, vejamos o quadro apresentado na aula:

Q20. UFTM/DPE-MT/Defensor Público/2016


NÃO é elemento constitutivo do crime culposo:
a) a inobservância de um dever objetivo de cuidado.
b) o resultado naturalístico involuntário.
c) a conduta humana voluntária.
d) a tipicidade.
e) a imprevisibilidade.
Comentários:
São elementos do crime culposo a conduta humana voluntária, o resultado
naturalístico involuntário e previsível, o nexo causal, a tipicidade e a violação de
um dever objetivo de cuidado. Portanto, o gabarito da questão é a alternativa
E.
O resultado deve ser previsível, podendo inclusive ser previsto (culpa consciente).

Q21. VUNESP/TJM-SP/Juiz de Direito/2016


A respeito da omissão própria e da omissão imprópria (também denominada
crime comissivo por omissão), é correto afirmar que
a) um dos critérios apontados pela doutrina para diferenciar a omissão
própria da omissão imprópria é o tipológico, segundo o qual, havendo norma
expressa criminalizando a omissão, estar-se-ia diante de uma omissão
imprópria.
Aula 03

b) nos termos do Código Penal, possui posição de garantidor e, portanto, o


dever de impedir o resultado, apenas quem, por lei, tem a obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância.
c) a ingerência, denominação dada à posição de garantidor decorrente de
um comportamento anterior que gera risco de resultado, não está positivada
no ordenamento brasileiro, tratando-se de uma construção dogmática.
d) o crime praticado por omissão, segundo o Código Penal, é apenado de
forma atenuada ao crime praticado por ação.
e) segundo o Código Penal, a omissão imprópria somente terá relevância
penal se, além do dever de impedir o resultado, o omitente tiver
possibilidade de evitá-lo.
Comentários:
A alternativa A está completamente errada, pois, havendo norma expressa
criminalizando a omissão, consistiria este em um crime omissivo próprio.
A alternativa B está incorreta, pois, possui a posição de garantidor o agente que
tenha um dever específico de agir, decorrente de uma das hipóteses da cláusula
geral presente nas alíneas do § 2º do art. 13 do Código Penal, que não se limita
ao dever legal (pode ser contratual, por exemplo).
A alternativa C está incorreta, haja vista que como foi explicado o dever
específico de agir da figura do garante, decorre de uma das hipóteses da cláusula
geral presente nas alíneas do § 2º do art. 13 do Código Penal.
A alternativa D está incorreta. Não existe tal previsão no Código Penal.
A alternativa E está correta. Caso ao garante não seja possível impedir o
resultado, o fato será atípico.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa E.

Q22. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2016


O erro sobre elementos constitutivos do tipo penal, essencial ou acidental,
em todas as suas formas, exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está errada. O erro de tipo essencial, sempre exclui o dolo,
permitindo-se, eventualmente, responsabilização penal a título de culpa se
vencível. Em contrapartida, o erro de tipo acidental jamais exclui o dolo, uma vez
que a falsa percepção da realidade (no error in persona, in objecto e sobre o nexo
causal) ou o erro na execução (na aberratio ictus e criminis) recai sobre dados
secundários do tipo.
Aula 03

Q23. CESPE/TJ-AM/Juiz Substituto/2016


Júlio foi denunciado em razão de haver disparado tiros de revólver, dentro
da própria casa, contra Laura, sua companheira, porque ela escondera a
arma, adquirida dois meses atrás. Ele não tinha licença expedida por
autoridade competente para possuir tal arma, e a mulher tratou de escondê-
la porque viu Júlio discutindo asperamente com um vizinho e temia que ele
pudesse usá-la contra esse desafeto. Raivoso, Júlio adentrou a casa,
procurou em vão o revólver e, não o achando, ameaçou Laura,
constrangendo-a a devolver-lhe a arma. Uma vez na sua posse, ele disparou
vários tiros contra Laura, ferindo-a gravemente e também atingindo o filho
comum, com nove anos de idade, por erro de pontaria, matando-o
instantaneamente. Laura só sobreviveu em razão de pronto e eficaz
atendimento médico de urgência.
Com referência à situação hipotética descrita no texto anterior, assinale a
opção correta de acordo com a jurisprudência do STJ.
a) Júlio cometeu homicídio doloso contra Laura e culposo contra o filho,
porque não teve intenção de matá-lo.
b) Júlio deverá responder por dois homicídios dolosos, sendo um consumado
e o outro tentado, e as penas serão aplicadas cumulativamente, por concurso
material de crimes, já que houve desígnios distintos nos dois resultados
danosos.
c) A hipótese configura aberractio ictus, devendo Júlio responder por duplo
homicídio doloso, um consumado e outro tentado, com as penas aplicadas
em concurso formal de crimes, sem se levar em conta as condições pessoais
da vítima atingida acidentalmente.
d) O fato configura duplo homicídio doloso, consumado contra o filho, e
tentado contra Laura, e, em razão de aquele ter menos de quatorze anos, a
pena deverá ser aumentada em um terço.
e) Houve, na situação considerada, homicídio privilegiado consumado,
considerando que Júlio agiu impelido sob o domínio de violenta emoção
depois de ter sido provocado por Laura.
Comentários:
A alternativa C está correta e se trata do gabarito da questão. O caso retrata
uma situação de erro sobre a execução (aberratio ictus). O Código Penal cuida
da hipótese em seu artigo 73, nos seguintes termos:
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés
de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse
praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código.
No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.

A lei determina, portanto, que o agente deve responder pela vítima que queria
atingir, e não aquela que atingiu por erro na execução. Entretanto, se o agente
atingir tanto a vítima a que visava quanto outrem, deve-se aplicar a regra do
Aula 03

artigo 70 do Código Penal, ou seja, deve responder por ambos os delitos em


concurso formal.

Q24. TRF da 4ª Região/TRF da 4ª Região/Juiz Federal/2016


Relativamente à responsabilidade penal da pessoa jurídica, é possível
afirmar que:
a) É cabível quando praticados crimes ambientais e contrários à
administração pública;
b) É inconstitucional, haja vista o princípio da responsabilidade penal
objetiva;
c) Independe da responsabilização das pessoas físicas envolvidas, conforme
decidiu o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 548181/PR, de relatoria
da Ministra Rosa Weber;
d) Depende da responsabilização das pessoas físicas envolvidas, conforme
decidiu o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 548181/PR. De início,
ressalto que esta questão aborda temas de criminologia, assunto tratado em
outra disciplina. Mesmo assim, trouxe a questão para ilustrar nosso estudo,
mesmo porque os conceitos tratados não são difíceis e podemos inclusive
aprendê-los aqui, reforçando os estudos também de Criminologia, disciplina
que deve ser estudada pelo material próprio, caso seja cobrada em seu
concurso.
Comentários:
A alternativa C está correta e se trata do gabarito da questão. Como estudado
em aula, decidiu o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 548181/PR, que é
possível a punição da pessoa jurídica, no âmbito penal, por crimes ambientais,
independentemente da responsabilização da pessoa física.

Q25. VUNESP/TJ-RJ/Juiz Substituto/2016


Assinale a alternativa que contém a assertiva correta no que diz respeito aos
dispositivos relativos ao erro previstos no Código Penal.
a) Magnus, policial, adultera, sem autorização legal, sinal identificador de
um veículo automotor a fim de que seja utilizado em investigação criminal,
pois imagina, por erro evitável, que nesta hipótese sua conduta seria lícita.
Na responsabilização penal pelo crime de “adulteração de sinal identificador
de veículo automotor", Magnus deverá ser punido na modalidade culposa do
delito.
b) Ticius imputa um fato definido como crime a Manassés que imaginava ser
verdadeiro quando, na verdade, era falso, tendo o erro de Ticius decorrido
de sua negligência. Neste caso, ao ser responsabilizado pelo crime de
calúnia, Ticius deverá ter sua pena diminuída de um sexto a um terço.
Aula 03

c) Ticius imputa um fato definido como crime a Manassés que imaginava ser
verdadeiro quando, na verdade, era falso, tendo o erro de Ticius decorrido
de sua negligência. Neste caso, Ticius deverá ser responsabilizado pelo crime
de calúnia na modalidade culposa.
d) Augustus, agride e provoca lesão corporal em Cassius, pois este segurava
o pescoço de Maximus. Imaginava Augustus estar protegendo Maximus mas,
por erro decorrente de sua imprudência, não percebeu que tudo se tratava
de uma brincadeira. Neste caso, na responsabilização penal pelo crime de
lesão corporal, Augustus deverá ter sua pena diminuída de um sexto a um
terço.
e) Magnus, policial, adultera, sem autorização legal, sinal identificador de
um veículo automotor a fim de que seja utilizado em investigação criminal,
pois imagina, por erro evitável, que nesta hipótese sua conduta seria lícita.
Na responsabilização penal pelo crime de “adulteração de sinal identificador
de veículo automotor", Magnus deverá ter sua pena diminuída de um sexto
a um terço.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. Tratando-se de descriminante putativa por erro
de proibição, se inevitável, o agente não reponde, se evitável, a pena é diminuída
de um sexto a um terço.
A alternativa B está incorreta, pois, tratando-se de erro de tipo essencial pune-
se a culpa. Ocorre que o delito de calúnia não admite a punição na modalidade
culposa, assim, não há que se falar em responsabilização criminal.
A alternativa C está incorreta, pois, o delito de calúnia não admite a punição na
modalidade culposa, assim, o fato é atípico.
A alternativa D está incorreta. Trata-se de erro de tipo permissivo, o que afasta
o dolo e permite a punição do delito a título de culpa.
A alternativa E está correta. Tratando-se de descriminante putativa por erro de
proibição, se evitável, a pena é diminuída de um sexto a um terço.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa E.

Q26. FCC/TJ-SE/Juiz Substituto/2016


A, cidadão americano, vem para o Brasil em férias, trazendo alguns cigarros
de maconha. Está ciente que mesmo em seu país o consumo da substância
não é amplamente permitido, mas, como possui câncer em fase avançada,
possui receita médica emitida por especialista americano para utilizar
substâncias que possuam THC. Ao passar pelo controle policial do aeroporto,
é detido pelo crime de tráfico de drogas. Nesta situação, é possível alegar
que A encontrava-se em situação de erro de:
a) tipo.
b) tipo permissivo.
Aula 03

c) proibição direto.
d) proibição indireto.
e) tipo indireto.

Comentários
A alternativa D está correta e se trata do gabarito da questão. No erro de
proibição indireto, o agente conhece o caráter ilícito do fato, mas, no caso
acredita estar presente uma causa de exclusão da ilicitude, ou se equivoca quanto
aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude efetivamente presente. Isto
porque imagina que, em razão do uso medicinal, a punição pelo tráfico de drogas
não o atinge, por ficar afastada a ilicitude de sua conduta.

Q27.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2015
Se o agente oferece propina a um empregado de uma sociedade de
economia mista, supondo ser funcionário de empresa privada com interesse
exclusivamente particular, incide em
a) erro sobre a pessoa.
b) descriminante putativa.
c) erro de tipo.
d) erro sobre a ilicitude do fato inevitável.
e) erro sobre a ilicitude do fato evitável.

Comentários:
A alternativa C está correta e se trata do gabarito da questão. O erro de tipo
recai sobre elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados acessórios,
por falsa percepção da realidade pelo agente (pensa que é funcionário de
empresa privada, mas é funcionário de sociedade de economia mista e, portanto,
funcionário público para fins penais, nos termos do artigo 327 do CP).

Q28. FCC/TJ-AL/Juiz de Direito/2015


O erro inescusável sobre
a) a ilicitude do fato constitui causa de diminuição da pena.
b) elementos do tipo permite a punição a título de culpa, se acidental.
c) elementos do tipo isenta de pena.
d) elementos do tipo exclui o dolo e a culpa, se essencial.
e) a ilicitude do fato exclui a antijuridicidade da conduta.
Comentários:
Aula 03

A alternativa A está correta. O erro vencível sobre a ilicitude do fato constitui


causa de diminuição da pena.
A alternativa B está incorreta. O erro vencível sobre elementos do tipo permite
a punição a título de culpa, se essencial e se previsto em lei.
A alternativa C está incorreta. O erro vencível sobre os elementos do tipo não
isenta a pena, exclui o dolo e permite a punição pela modalidade culposa se
houver previsão em lei.
A alternativa D está incorreta. O erro vencível sobre elementos do tipo exclui o
dolo, mas pune por crime culposo se houver previsão em lei.
A alternativa E está correta. O erro vencível sobre elementos a ilicitude do fato
não exclui a antijuridicidade da conduta, apenas causa um diminuição de pena,
de um sexto a um terço.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa A.

Q29. FCC/TJ-SC/Juiz de Direito/2015


O elemento subjetivo derivado por extensão ou assimilação decorrente do
erro de tipo evitável nas descriminantes putativas ou do excesso nas causas
de justificação amolda-se ao conceito de
a) culpa imprópria.
b) dolo eventual.
c) culpa inconsciente.
d) culpa consciente.
e) dolo direto.
Comentários:
A alternativa A está correta e se trata do gabarito da questão. Na culpa
imprópria, por equiparação, por assimilação ou por extensão, o agente, pensando
estar acobertado por uma causa excludente da ilicitude, por erro de tipo
inescusável, provoca intencionalmente determinada conduta típica. Desta forma,
o agente que incide em erro de tipo evitável nas descriminantes putativas ou que
age com excesso nas causas de justificação age com culpa imprópria.

Q30. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2015


O erro de tipo:
a) exclui a culpabilidade do agente pela ausência e impossibilidade de
conhecimento da antijuridicidade do fato que pratica.
b) exclui a culpabilidade porque o agente, ao tempo do crime, era
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.
Aula 03

c) exclui o dolo, pois se trata de conduta típica justificada pela norma


permissiva.
d) exclui o dolo, tendo em vista que o autor da conduta desconhece ou se
engana em relação a um dos componentes da descrição legal do crime, seja
ele descritivo ou normativo.
e) exclui a punibilidade por se tratar de causa de isenção de pena prevista
para determinados crimes
Comentários:
A alternativa D está correta e constitui o gabarito da questão. O erro de tipo
exclui o dolo, tendo em vista que o agente por falsa percepção da realidade
pratica a conduta. Falta o elemento intelectivo do dolo.

Q31. FCC/TJ-PE/Juiz de Direito/2015


Em matéria de erro, correto afirmar que
a) o erro sobre a ilicitude do fato exclui a culpabilidade, por não exigibilidade
de conduta diversa
b) o erro sobre elemento constitutivo do tipo penal não exclui a possibilidade
de punição por crime culposo.
c) o erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, isenta de pena.
d) o erro sobre elemento constitutivo do tipo penal exclui a culpabilidade.
e) o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de
pena, considerando-se as condições ou qualidades da vítima, e não as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. O erro sobre a ilicitude do fato isenta de pena se
inevitável ou se evitável diminui de um sexto a dois terços.
A alternativa B está correta. O erro de tipo vencível sobre elementos do tipo
permite a punição a título de culpa, se essencial e se previsto em lei.
A alternativa C está incorreta. O erro sobre a ilicitude do fato isenta de pena se
inevitável.
A alternativa D está incorreta. O erro sobre elemento constitutivo do tipo penal
exclui o dolo.
A alternativa E está incorreta. No erro quanto a pessoa e no erro de execução
considera-se a qualidade da vítima virtual para a aplicação da pena.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa B.

Q32. VUNESP/PC-CE/Delegado de Polícia/2015


Aula 03

Se da lesão corporal dolosa resulta morte e as circunstâncias evidenciam


que o agente não quis o resultado morte, nem assumiu o risco de produzi-
lo, configura(m)-se
a) lesão culposa e homicídio culposo, cujas penas serão aplicadas
cumulativamente.
b) lesão corporal seguida de morte.
c) homicídio culposo qualificado pela lesão.
d) homicídio doloso (dolo eventual).
e) homicídio doloso (dolo indireto).
Comentários:
A alternativa B está correta. Trata-se de um crime preterdoloso, que consiste
naquele crime composto de um fato antecedente, praticado a título de dolo, com
um resultado culposo, o qual possui o efeito de tornar a sanção penal mais
gravosa. A lesão corporal seguida de morte é um exemplo de crime preterdoloso.
Vejamos:
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
(...)
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado,
nem assumiu o risco de produzí-lo:
(...)

Neste caso, o agente visa a lesionar o sujeito passivo e, portanto, causa a lesão
corporal (fato antecedente) com intenção, de forma dolosa. Na sequência,
produz, por culpa, a morte da vítima (fato consequente).

Q33. CESPE/DPE-PE/Defensor Público/2015


A respeito do conflito aparente de normas penais, dos crimes tentados e
consumados, da tipicidade penal, dos tipos de imprudência e do
arrependimento posterior, julgue o item seguinte.
A coação física irresistível configura hipótese jurídico-penal de ausência de
conduta, engendrando, assim, a atipicidade do fato.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está correta. A coação física irresistível consiste em uma das causas
de exclusão da conduta.

Q34. MPE-GO/MPE-GO/Promotor de Justiça/2014


Aula 03

Após uma violenta discussão, A resolve matar B afogado e joga seu desafeto
de cima de uma ponte. B acaba por morrer após bater a cabeça no pilar da
ponte e não por afogamento. Assinale a alternativa correta:
a) A deve responder dolosamente pela morte de B, já que o resultado
concreto (realização do perigo) corresponde à realização do plano do autor.
b) A deve responder culposamente, tratando-se o resultado de um desvio
causal regular e previsível, incompatível com o dolo do autor (representação
do resultado como ocorreu).
c) A deve responder dolosamente, já que o resultado é causa superveniente
relativamente independente da conduta do autor, tendo esta produzido o
resultado “por si só”. A doutrina chama a hipótese de “troca de dolo”,
constituindo a situação uma mudança do objeto do dolo.
d) A deve responder culposamente, já que sua conduta foi imprudente (culpa
consciente). Trata-se na hipótese do chamado aberratio causae ou “culpa
geral”.
Comentários:
A alternativa A está correta. Neste caso, por erro sucessivo ou aberratio causae,
o agente supõe ter alcançado o resultado pretendido e, então, pratica nova ação
que provoca tal resultado. Em razão desse erro sucessivo, a doutrina aponta que
o dolo do sujeito ativo é geral e, assim, mesmo que ele se equivoque quanto a
qual conduta sua deu causa ao resultado, sua vontade livre e consciente de
produzi-lo é suficiente para sua responsabilização por crime doloso.

Q35. FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014


Marcos e Rodrigo instigaram Juarez, que sofria de depressão, a cometer
suicídio, pois, na condição de herdeiros do último, pretendiam a morte do
mesmo por interesses econômicos. Ainda que Juarez tenha admitido
firmemente a possibilidade de eliminar a própria vida, não praticou qualquer
ato executório. Diante desse contexto, Marcos e Rodrigo
a) poderiam ter a pena reduzida de 1/3 a 1/2, se a pretensão tivesse caráter
humanitário, de piedade, e a morte tivesse se consumado.
b) deverão responder por tentativa de homicídio, visto que a ideia de ambos
era eliminar a vida de Juarez para posterior enriquecimento.
c) serão responsabilizados pelo crime previsto no art. 122 do Código Penal,
com redução da pena pelo fato de a vítima não ter atentado contra a própria
vida, já que para a consumação do delito basta a mera conduta de instigar.
d) não responderão pelo crime de instigação ao suicídio, pois não houve
morte ou lesão corporal de natureza grave na vítima.
e) responderiam por instigação ao suicídio, caso, no mínimo, Juarez
atentasse contra a própria vida e tivesse ocasionado lesões corporais leves
em seu corpo.
Aula 03

Comentários:
A alternativa D está correta. Marcos e Rodrigo não responderão pelo crime,
tendo em vista que o crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio só se
caracteriza quando o suicídio se consuma ou quando a vítima sofre lesão corporal
de natureza grave.

Q36. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2014


Analise as seguintes situações:
I. Quando, por erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de
atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela, levando-se em
consideração as qualidades da vítima que almejava. No caso de ser também
atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do
concurso formal.
II. Há representação equivocada da realidade, pois o agente acredita tratar-
se a vítima de outra pessoa. Trata-se de vício de elemento psicológico da
ação. Não isenta de pena e se consideram as condições ou qualidades da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
III. Trata-se de desvio do crime, ou seja, do objeto jurídico do delito. O
agente, objetivando um determinado resultado, termina atingindo resultado
diverso do pretendido. O agente responde pelo resultado diverso do
pretendido somente por culpa, se for previsto como delito culposo. Quando
o agente alcançar o resultado almejado e também resultado diverso do
pretendido, responderá pela regra do concurso formal.
Tais ocorrências configuram, respectivamente:
a) error in persona; aberratio ictus; aberratio criminis.
b) aberratio ictus; aberratio criminis; error in persona.
c) aberratio ictus; error in persona; aberratio criminis.
d) aberratio criminis; error in persona; aberratio ictus.
Comentários:
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Nos itens,
respectivamente encontramos a definição de aberratio ictus; error in persona e
aberratio criminis.

Q37. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2014


Para o Código Penal (art. 20, § 1.º), quando a descriminante putativa disser
respeito aos pressupostos fáticos da excludente, estamos diante de:
a) Excludente de antijuridicidade.
b) Erro de tipo.
Aula 03

c) Erro de proibição.
d) Excludente de culpabilidade.
Comentários:
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. O erro de tipo recai sobre
as elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados acessórios, por falsa
percepção da realidade pelo agente.

Q38. VUNESP/DPE-MS/Defensor Público/2014


Assinale a alternativa correta.
a) A compensação de culpa deve ser aplicada para efeito de
responsabilização do resultado lesivo causado no direito penal pátrio.
b) A culpa inconsciente ocorre quando o agente prevê o resultado, mas
espera que ele não ocorra.
c) Para caracterização da conduta típica culposa basta a inobservância do
dever de cuidado do agente.
d) O dolo alternativo consiste na vontade e consentimento do agente a
produzir um ou outro resultado.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. A compensação de culpas é incabível em matéria
penal. No entanto, a culpa concorrente da vítima pode atenuar a responsabilidade
do acusado, nos termos do artigo 59 do Código Penal.
A alternativa B está incorreta. A culpa inconsciente ocorre quando o agente não
prevê o resultado, mas este era objetivamente previsível.
A alternativa C está incorreta. Para a caracterização da conduta típica culposa
deve haver a conduta humana voluntária, o resultado naturalístico involuntário e
previsível, nexo causal, tipicidade e violação de um dever jurídico.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. O dolo alternativo é a
vontade do agente de produzir qualquer dos resultados previstos.

Q39. FCC/MPE-PE/Promotor de Justiça/2014


O erro inevitável sobre a ilicitude do fato e o erro sobre elementos do tipo
excluem
a) a punibilidade e a culpabilidade, respectivamente.
b) a culpabilidade em ambos os casos.
c) a culpabilidade e o dolo e a culpa, respectivamente.
d) o dolo e a culpa em ambos os casos.
e) a culpabilidade e o dolo, respectivamente.
Comentários:
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. O erro inevitável sobre
a ilicitude do fato exclui a culpabilidade e o erro sobre os elementos do tipo
excluem o dolo.
Aula 03

Q40. TRF 4ª Região/TRF 4ª Região/Juiz Federal/2014


Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.
Os membros de uma organização criminosa, indignados com um delator,
que aceitou acordo de colaboração premiada, identificou membros e
descreveu as atividades do grupo, decidiram eliminá-lo. Para tanto,
encarregaram um dos seus integrantes de matá-lo na saída do edifício do
Ministério Público, local onde estaria prestando depoimento.
I. Se o atirador, imaginando tratar-se do delator a ser eliminado, atirar e
matar pessoa diversa, responderá por homicídio culposo, pois o agente não
tinha intenção de matar pessoa diversa, respondendo, assim, por sua
imperícia.
II. Se o atirador, imaginando tratar-se do delator a ser eliminado, atirar e
matar pessoa diversa, responderá por homicídio doloso. Nesse caso, não se
consideram as condições ou qualidades da própria vítima, senão as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
III. Se o atirador, imaginando tratar-se do delator a ser eliminado, atirar e
matar pessoa diversa, responderá por homicídio doloso, em concurso com
homicídio tentado.
IV. Se o atirador, iludido pelo reflexo de uma pessoa que passava do outro
lado da rua, atirar e atingir apenas a porta de vidro, responderá por dano
culposo, porém qualificado por se tratar de patrimônio da União.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva II.
c) Está correta apenas a assertiva III.
d) Está correta apenas a assertiva IV.
e) Nenhuma assertiva está correta.
Comentários:
Apenas o item II está correto. Se o atirador, imaginando tratar-se do delator a
ser eliminado, atirar e matar pessoa diversa, responderá por homicídio doloso,
por tratar-se de um caso de erro de tipo sobre a pessoa, devendo, ainda,
considerar as condições ou qualidades da vítima virtual. Vale destacar que a
incorreção presente no item IV refere-se à inexistência de modalidade culposa
para o crime de dano.
Portanto, alternativa B está correta e é o gabarito da questão.

Q41. VUNESP/TJ-PA/Juiz Substituto/2014


O “X”, policial militar, reside com sua família em local extremamente
violento. De madrugada, é acordado por alguém tentando arrombar a porta
Aula 03

de sua casa. Assustado, pede para sua mulher, igualmente em pânico, que
não saia do quarto, e caminha para a entrada da casa onde grita
insistentemente para que o suposto ladrão vá embora, avisando-o de que,
caso contrário, irá atirar. A advertência é em vão, e a porta se abre aos olhos
de “X” que, após efetuar o primeiro disparo, percebe que acertou “Z”, seu
filho, que, embriagado, arrombou a porta. Na hipótese apresentada, vindo
“Z” a falecer em razão dos disparos, “X”.
a) será isento de pena, pois agiu em erro de tipo invencível.
b) praticou o crime de homicídio doloso consumado.
c) será isento de pena, pois agiu em erro de tipo causado por outrem.
d) praticou o crime de homicídio culposo consumado.
e) praticou o crime de homicídio culposo tentado
Comentários:
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. A imprevisibilidade ou
invencibilidade do erro sobre uma elementar impede a caracterização da infração
penal. A invencibilidade do erro decorre das circunstâncias, pois não poderia o
pai prever que o filho arrombaria a porta de casa, após seus avisos de que atiraria
para se defender.

Q42. VUNESP/TJ-PA/Juiz Substituto/2014


A doutrina entende por aberratio delicti
a) o erro sobre a pessoa, no qual o agente, por engano de representação,
atinge outra pessoa no lugar da vítima desejada.
b) o desvio do golpe que ocorre quando o agente por inabilidade ou acidente
não acerta a vítima visada, mas outra pessoa.
c) o erro sobre a ilicitude do fato.
d) uma das hipóteses de resultado diverso do pretendido, no qual o agente
por inabilidade ou acidente atinge bem jurídico diverso do pretendido.
e) o resultado que agrava especialmente a pena.
Comentários:
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. O Código Penal trata da
hipótese em seu art. 74:
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução
do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se
o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Q43. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014


Analise o enunciado da questão abaixo e assinale se ele é Certo ou Errado.
Aula 03

Conforme doutrina majoritária, a tortura qualificada pelo resultado morte,


prevista no artigo 1º, § 3º, da Lei n. 9.455/97, é classificada como de
resultado preterdoloso. Entretanto, se o agressor, em sua ação, deseja ou
assume o risco de produzir o resultado morte, não responde pelo tipo acima,
mas por homicídio qualificado.
o Certo
o Errado
Comentários:
O enunciado está certo. Preterdolosa é a conduta criminosa que apresenta dolo
no antecedente e culpa no consequente. No entanto, se o agressor assume o
risco, responde por homicídio qualificado, na forma do art. 121, § 2°, inciso III
do Código Penal.

Q44. FCC/TJ-CE/Juiz Substituto/2014


Os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são aqueles
a) cuja consumação se protrai no tempo, enquanto perdurar a conduta.
b) em que a relação de causalidade é normativa.
c) praticados mediante o “não fazer” o que a lei manda, sem dependência
de qualquer resultado naturalístico.
d) que se consumam antecipadamente, sem dependência de ocorrer ou não
o resultado desejado pelo agente.
e) que o agente deixa de fazer o que estava obrigado, ainda que sem a
produção de qualquer resultado.
Comentários:
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. Nos crimes omissivos
impróprios ou comissivos por omissão não basta a simples abstenção de
comportamento, pois, o agente tem que possuir a obrigação de agir para impedir
a ocorrência do resultado (teoria normativa). A relação entre a omissão e o
resultado causado possui natureza normativa, pois passa pelo dever jurídico de
agir.

Q45. VUNESP/PC-SP/Delegado de Polícia/2014


“X” estaciona seu automóvel regularmente em uma via pública com o
objetivo de deixar seu filho, “Z”, na pré-escola, entretanto, ao descer do
veículo para abrir a porta para “Z”, não percebe que, durante esse instante,
a criança havia soltado o freio de mão, o suficiente para que o veículo se
deslocasse e derrubasse um idoso, que vem a falecer em razão do
traumatismo craniano causado pela queda. Em tese, “X”
Aula 03

a) responderá pelo crime de homicídio culposo com pena mais severa do que
a estabelecida no Código Penal, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro.
b) responderá pelo crime de homicídio culposo, entretanto, a ele poderá ser
aplicado o perdão judicial.
c) não responde por crime algum, uma vez que não agiu com dolo ou culpa.
d) responderá pelo crime de homicídio doloso por dolo eventual.
e) responderá pelo crime de homicídio culposo em razão de sua negligência.
Comentários:
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Não há dolo nem culpa,
tratando-se de conduta atípica. Não há previsibilidade alguma nesta conduta, o
que é necessário tanto para o dolo (claramente inexistente) quanto para a culpa
em sentido estrito.

13 – Questão Dissertativa
Q1. FCC/TJ-PE/Juiz de Direito/2015
Discorra sobre a tentativa nos crimes culposos e nos crimes omissivos.
(elabore sua resposta definitiva em até 30 linhas).
Comentários:
Conforme doutrina majoritária e jurisprudência, não é possível a tentativa
nos crimes culposos, tendo em vista que o agente não possui a vontade de
praticar o delito e, portanto, não há o que se falar em circunstâncias alheias
à vontade do agente.
Nos crimes praticados por culpa imprópria, prevista no art. 29, §1º do Código
Penal, admite-se a tentativa. Neste caso, o agente, pensando estar
acobertado por uma causa excludente da ilicitude, por erro de tipo
inescusável, provoca intencionalmente determinada conduta típica. Este tipo
tem estrutura dolosa, mas é punido como crime culposo.
Os crimes omissivos próprios, por sua vez, são aqueles que são realizados
pela omissão, por um comportamento negativo, um não fazer. Não se exige,
para sua consumação, o resultado naturalístico. Como o crime é
unissubsistente, no momento que o agente se omite o crime já se consuma,
não comportando, pois, a tentativa. Sem que haja a previsão de resultado
naturalístico, como no caso do crime de omissão de socorro, sequer se pode
pensar em tentativa.
Quanto aos crimes omissivos impróprios, é possível a tentativa, tendo em
vista que há a previsão de um resultado naturalístico neste caso. Assim, caso
o agente, que tinha o dever jurídico de impedir o resultado, se omite, mas o
resultado não sobrevém por circunstâncias alheias a sua vontade, responde
pelo crime na forma tentada.
Aula 03

14 – Destaques da Legislação e da Jurisprudência


Neste ponto da aula, citamos, para fins de revisão, os principais dispositivos de
lei e entendimentos jurisprudenciais que podem fazer a diferença na hora da
prova. Lembre-se de revisá-los!

 art. 1º do Decreto-Lei nº 3.914: conceito de crime


Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a
infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou
ambas, alternativa ou cumulativamente.
 art. 28 da Lei 11.343/2006: objeto de discussão de constitucionalidade no RE 635.659
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
 art. 225, § 3º da CF: responsabilidade penal da pessoa jurídica
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
 art. 135 do Código Penal: crime de omissão de socorro, exemplo de crime omissivo próprio
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte..
 art. 13, § 2º do Código Penal: figura do garante
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
 art. 20, § 3º: erro de tipo sobre a pessoa (erro in persona)
Aula 03

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite
a punição por crime culposo, se previsto em lei.
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.
 art. 73 do Código Penal: erro de tipo sobre a execução (aberratio ictus)
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés
de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse
praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código.
No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.
 art. 74 do Código Penal: resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do
crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é
previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.
 AgRg nos EDcl no RMS 43817/STJ: atual entendimento do STJ sobre a punição da pessoa
jurídica, no âmbito penal, por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da
pessoa física.
PENAL E PROCESSUAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO PENAL
POR CRIME AMBIENTAL. PEDIDO DE TRANCAMENTO. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. IMPUTAÇÃO
CONCOMITANTE DO DELITO A UMA PESSOA NATURAL. DESNECESSIDADE. 1. O mandado
de segurança, por não comportar dilação probatória, não é via processual adequada para
se conhecer de alegação de falta de justa causa, por atipicidade da conduta, fundada em
elemento probatório que ainda sem sequer foi submetido ao contraditório e ao juízo de valor
do magistrado na ação penal. 2. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, na
assentada de 06/08/2013, por ocasião do julgamento do RE 548.181/PR, de relatoria da
em. Ministra Rosa Weber, decidiu que a exigência relativa à imputação concomitante
do delito ambiental a pessoa natural para o fim de responsabilizar a pessoa
jurídica importa indevida restrição ao comando estampado no art. 225, § 3º, da
Carta Política, que, ao permitir a imputação desses delitos às empresas,
intencionou fazer frente às dificuldades de individualização dos agentes
internamente responsáveis pelas condutas nocivas cometidas pelas coorporações
societárias. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg nos EDcl no RMS 43817/SP,
Rel. Min. Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 18/09/2015).
 RE 39.173/STJ: atual entendimento do STJ sobre a punição da pessoa jurídica, no âmbito
penal, por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa física.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL:
DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA
JURÍDICA.
1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não
condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181, Relatora Min. ROSA
WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico DJe-213, divulg.
29/10/2014, public. 30/10/2014).
2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos
ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia
em seu nome. Precedentes desta Corte.
Aula 03

3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a
prática de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua
condução.
4. Recurso ordinário a que se nega provimento.
(RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 06/08/2015, DJe 13/08/2015)
 RE 548181/STF: atual entendimento do STF sobre a punição da pessoa jurídica, no âmbito
penal, por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa física.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL.
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À
IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO
ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição
Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais
à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa.
A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações
corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e distribuição
de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para
imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º,
da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida
restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas
de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes
ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis
internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A
identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato
ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se
esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições
internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício
da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito
à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa
jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não
raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou
parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal
individual. 5. Recurso Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.
(STF, RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, Julgamento em 06/08/2013).
 EDcl no REsp 865.864/STJ: entendimento superado do STJ de que seria possível a
responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, desde que houvesse a
imputação simultânea do ente moral e da pessoa natural que atua em seu nome ou em seu
benefício.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME
AMBIENTAL. RESPONSABILIZAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA. IMPUTAÇÃO SIMULTÂNEA DA
PESSOA NATURAL. NECESSIDADE. PRECEDENTES. ARTIGOS 619 E 620 DO CPP. DECISÃO
EMBARGADA QUE NÃO SE MOSTRA AMBÍGUA, OBSCURA, CONTRADITÓRIA OU OMISSA.
EMBARGOS REJEITADOS.
1. A jurisprudência deste Sodalício é no sentido de ser possível a responsabilidade penal da
pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral
e da pessoa natural que atua em seu nome ou em seu benefício.
2. Os embargos de declaração constituem recurso de estritos limites processuais de
natureza integrativa, cujo cabimento requer estejam presentes os pressupostos legais
insertos na legislação processual, mais especificamente nos artigos 619 e 620 do Código de
Processo Penal.
Assim, somente, são cabíveis nos casos de eventuais ambiguidade, obscuridade,
contradição ou omissão, vícios inexistentes no julgado.
3. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no REsp 865.864/PR, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe 01/02/2012)
Aula 03

 REsp 610.114/STJ: entendimento superado do STJ de que seria possível a responsabilidade


penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, desde que houvesse a imputação simultânea do
ente moral e da pessoa natural que atua em seu nome ou em seu benefício.
CRIMINAL. RESP. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA.
RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR.
FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO.
EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA
PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-
RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE COLETIVO.
ACUSAÇÃO ISOLADA DO ENTE COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE. ATUAÇÃO DOS
ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. DEMONSTRAÇÃO
NECESSÁRIA. DENÚNCIA INEPTA. RECURSO DESPROVIDO.
I. A Lei ambiental, regulamentando preceito constitucional, passou a prever, de forma
inequívoca, a possibilidade de penalização criminal das pessoas jurídicas por danos ao meio-
ambiente.
III. A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais advém
de uma escolha política, como forma não apenas de punição das condutas lesivas ao meio-
ambiente, mas como forma mesmo de prevenção geral e especial.
IV. A imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na suposta incapacidade de
praticarem uma ação de relevância penal, de serem culpáveis e de sofrerem penalidades.
V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico e pratica atos no
meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir a praticar condutas
típicas e, portanto, ser passível de responsabilização penal.
VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade social, e a culpabilidade da
pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do seu administrador ao agir em seu
nome e proveito.
VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma
pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.
VIII. "De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente
pela conduta praticada por decisão do seu representante legal ou contratual ou de seu órgão
colegiado.".
IX. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multas, de
prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e
desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza jurídica.
X. Não há ofensa ao princípio constitucional de que "nenhuma pena passará da pessoa do
condenado...", pois é incontroversa a existência de duas pessoas distintas: uma física - que
de qualquer forma contribui para a prática do delito - e uma jurídica, cada qual recebendo
a punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva.
XI. Há legitimidade da pessoa jurídica para figurar no pólo passivo da relação processual-
penal.
XII. Hipótese em que pessoa jurídica de direito privado foi denunciada isoladamente por
crime ambiental porque, em decorrência de lançamento de elementos residuais nos
mananciais dos Rios do Carmo e Mossoró, foram constatadas, em extensão aproximada de
5 quilômetros, a salinização de suas águas, bem como a degradação das respectivas faunas
e floras aquáticas e silvestres.
XIII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma
pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.
XIV. A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa jurídica é a própria vontade da
empresa.
XV. A ausência de identificação das pessoa físicas que, atuando em nome e proveito da
pessoa jurídica, participaram do evento delituoso, inviabiliza o recebimento da exordial
acusatória.
XVI. Recurso desprovido.
(REsp 610.114/RN, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2005,
DJ 19/12/2005, p. 463)
Aula 03

15 – Resumo
Para finalizar o estudo da matéria, trazemos um
resumo dos principais aspectos estudados ao longo
da aula. Sugerimos que esse resumo seja estudado
sempre previamente ao início da aula seguinte,
como forma de “refrescar” a memória. Além disso, segundo a organização de
estudos de vocês, a cada ciclo de estudos é fundamental retomar esses resumos.
Caso encontrem dificuldade em compreender alguma informação, não deixem de
retornar à aula.

Conceito de Crime:

O sistema adotado no Brasil foi o dualista ou binário, com previsão de duas espécies de infração
penal, o crime (ou delito) e a contravenção penal (delito liliputiano, crime vagabundo ou crime-
anão). A diferença entre ambas é de grau, ou seja, de escolha do legislador quanto à gravidade
da conduta, de juízo de valo (axiológica). Não há diferenciação de natureza entre ambas as
infrações penais, ou seja, não há diversificação de cunho ontológico.

Vejamos, agora, outras formas de se conceituar crime:

Conceito material: crime é a conduta humana contrária aos interesses sociais,


representando lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, tornando necessária a
imposição de sanção penal.

Conceito formal: crime é toda conduta vedada pela lei, sob a ameaça de pena. Neste
critério, considera-se a opção do legislador. Aquilo que o Congresso Nacional decide ser
crime, aprovando lei neste sentido, é o que se pode ter como crime.

Conceito analítico: neste conceito analisa-se o crime por meio de seus substratos, os
elementos que devem estar presentes para a configuração do delito. Para se definir o
conceito analítico do crime, temos diferentes teorias.

 CONCEITO ANALÍTICO DO CRIME: o conceito analítico de crime é definido de formas


diversas pelos doutrinadores, a depender da corrente que se adote. Os elementos que podem ser
utilizados, conforme a teoria que se adote, são:

Fato Típico: é a ação, ou conduta, que se amolda àquilo que a hipótese de incidência
prevê. Caso haja resultado naturalístico, é necessário que se constate um nexo causal
entre ele e a conduta praticada.

Ilicitude ou antijuridicidade: é a contrariedade da conduta em relação ao ordenamento


jurídico. Cuida-se da reprovação do ato.
Aula 03

Culpabilidade: é a possibilidade de se atribuir a conduta praticada, bem como seu


resultado, ao seu autor, com um juízo de censura.

Punibilidade: este substrato diz respeito à possibilidade de o Estado aplicar ao sujeito


ativo a sanção penal prevista para a conduta típica praticada.

 TEORIAS:

Teoria bipartida: crime é o fato típico e antijurídico (ou ilícito). Com o advento do
finalismo, a culpa em sentido amplo deixou de integrar a culpabilidade, passando a fazer
parte do fato típico. Com isso, a culpabilidade passou a ser tornar mero pressuposto da
pena.

 Teoria tripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável. Cuida-se de
concepção do crime adotada pela teoria causalista da conduta, assim como grande parte
dos partidários da teoria finalista.

 Teoria quadripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito), culpável e punível.
Para esta concepção de crime, todos os substratos devem estar presentes para
configuração do crime. Deste modo, só é crime da conduta típica, ilícita, com agente
culpável e que seja punível.

 CONCEITO ANALÍTICO DO CRIME E A TEORIA TRIPARTIDA: Segundo a teoria tripartida,


crime é o fato típico, antijurídico e culpável. É a concepção que prevalece na doutrina e na
jurisprudência pátria.

Sujeitos do Crime:

O estudo dos sujeitos do crime abrange o estudo de quem sofre a ação ou omissão criminosa.
 SUJEITO ATIVO: Sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta prevista na norma penal.
Entretanto, cabe enfatizar que o sujeito pode atuar de forma isolada ou em concurso com outros
agentes.

 PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO: Da redação do seu artigo 225, § 3º da


Constituição de 1988, parte dos doutrinadores passou a entender que a pessoa jurídica deve
responder pelos crimes que praticar, por outro lado, parte da doutrina continuou entendendo
inconciliável a teoria do crime com a pessoa jurídica como sujeito ativo. Vamos analisar as teorias
sobre a pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes:

 Teoria da ficção: A pessoa jurídica é uma ficção jurídica, de modo que sua existência
é irreal. Por sua existência não ser real, não possui consciência, vontade nem finalidade.
Teve como precursor Friedrich Carl von Savigny.
Aula 03

 Teoria da realidade: A pessoa jurídica possui vontade própria, além de apresentar


capacidade. Ela se torna, com sua criação, uma entidade existente no mundo real e, por
isso, possui capacidade de cometer delitos. Foi defendida pelo jurista Otto Gierke.

 Teoria eclética: busca conciliar as duas correntes anteriores. Defende-se que às


pessoas jurídicas devem ser aplicadas sanções administrativas, quase penais. Dentre seus
defensores, podemos citar Winfried Hassemer.

Com relação ao STJ, o entendimento que foi adotado anteriormente era de que só era possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crime de forma conjunta com uma pessoa física.
Posteriormente, o STJ passou a entender possível a punição da pessoa jurídica, no âmbito penal,
por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa jurídica. Este é
também o entendimento do Supremo Tribunal Federal.

 SUJEITO PASSIVO: é aquele que sofre as consequências do delito, aquele sobre o qual recai
a ação criminosa. A doutrina divide o sujeito passivo em duas categorias:

 Formal, corrente, constante ou geral: o Estado.

 Material, eventual, acidental ou particular: é o titular do bem jurídico lesado ou


ameaçado de lesão.

Caso não se exija qualidade específica do sujeito passivo material, a doutrina o classifica como
comum. Se for exigida qualidade específica do sujeito passivo material, diz-se que ele é próprio.
Quanto à possibilidade de alguém figurar como sujeito ativo e passivo do delito ao mesmo tempo,
existem duas posições:

 1ª posição: é possível que o indivíduo seja, concomitantemente, sujeito ativo e passivo


do delito. O exemplo seria o crime de rixa.

 2ª posição: não é possível que o indivíduo seja sujeito passivo e ativo o crime.

Objeto do crime:

É qualquer coisa, pessoa ou bem jurídico sobre o qual recai a atividade criminosa e que sofre
seus efeitos.

 Objeto material: é a pessoa ou coisa contra a qual é praticada a infração penal.


 Objeto jurídico: é o bem jurídico tutelado pela norma penal.
É impossível que haja crime sem objeto jurídico. Com relação ao objeto material, é possível que
haja crime sem ele. Se o crime apresentar objeto material e, no caso concreto, houver sua
impropriedade absoluta, teremos a hipótese de crime impossível ou quase-crime.

Fato típico:

É a ação ou omissão humana que se amolda à conduta prevista na norma como infração penal.
São elementos do fato típico:
Aula 03

 Conduta: é a ação ou omissão humana, voluntária e consciente, dotada de finalidade,


cujo elemento subjetivo é o dolo ou a culpa.

 Nexo Causal: é o vínculo etiológico, ou seja, de causa de efeito, entre a conduta e o


resultado praticado.

 Resultado: subdivide-se em normativo e naturalístico. O resultado normativo é a lesão


ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado. Resultado naturalístico, por sua vez, é a
modificação realizada na realidade, no mundo exterior, sendo que não está presente em
todos os delitos.

 Tipicidade: é a correspondência entre a conduta praticada pelo sujeito ativo e a hipótese


normativa da lei penal incriminadora, ou seja, o encaixe entre os fatos e a previsão da
infração penal pela lei.

Conduta:

Conduta (ou ação) é o comportamento humano voluntário, exteriorizado por uma ação ou
omissão, dirigido a um fim. A discussão sobre o que é a conduta deu origem às chamadas teorias
da conduta:

 TEORIA CAUSALISTA, CAUSAL-NATURALISTA, NATURALÍSTICA OU CLÁSSICA: Para o


causalismo, a conduta não possui conteúdo de vontade, é desprovida de finalidade e não
abarca o dolo ou a culpa. O elemento subjetivo, a culpa sem sentido amplo, é parte da
culpabilidade, devendo ser analisado neste substrato do conceito de crime. Como o
elemento subjetivo é considerado parte da culpabilidade, o dolo é considerado normativo.
Foi defendida, dentre outros, pelos juristas Franz Von Liszt, Gustav Radbruch e Ernst Von
Beling.

 TEORIA NEOKANTISTA OU CAUSAL-VALORATIVA: Esta teoria possui base causalista.


Isto quer dizer que, assim como no causalismo, o elemento subjetivo é analisado na
culpabilidade, de modo que o dolo é normativo. Como diferença em relação à teoria causal,
deve-se destacar que a culpabilidade passa a conter como elemento a inexigibilidade de
conduta diversa. Cuida-se de teoria defendida por Mezger.

 TEORIA FINALISTA: Para a teoria finalista, a “ação humana é o exercício de atividade


final”. Sob essa concepção, faz parte da conduta o próprio elemento subjetivo do tipo.
Note-se que a vontade e a finalidade se fundam na conduta. Por isso, o dolo, para o
finalismo, é natural, chamado, na expressão latina, de dolus bonus. Seu grande teórico,
como se nota acima, foi Hans Welzel.

 TEORIA SOCIAL DA AÇÃO: Para a teoria social da ação, a ação ou a conduta é o


comportamento humano socialmente relevante. A adequação social, portanto, integra o
Aula 03

fato típico. No conceito de crime, há a incorporação de um elemento sociológico de


interpretação. Aponta-se como seu formulador o jurista Eberhard Shmidt.

 TEORIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO PENAL: A teoria preconiza que deve haver


controle do Poder Judiciário sobre as leis penais, sob a ótica da Constituição. O Estado
Democrático de Direito exige mais que previsão legal, devendo haver compatibilidade das
leis formais com seu fundamento de validade, as normas constitucionais.

 ELEMENTOS DA CONDUTA: são elementos da conduta: a vontade, a exteriorização, a


consciência e a finalidade.

 CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CONDUTA:

 Coação física irresistível, também denominada vis absoluta, representa o


impedimento de o sujeito orientar sua conduta livremente.

 Caso fortuito ou força maior: são dois institutos que a doutrina não consegue
diferenciar de forma unânime, razão pela qual devem ser analisados em conjunto.
Representam tanto as forças da natureza quanto algum evento decorrente de conduta
humana e que seja imprevisível e inevitável.

 Estado de inconsciência completa: caso o sujeito não esteja consciente, não há que
se falar em conduta, já que um de seus elementos é a vontade. Deste modo, excluída a
conduta, para o Direito Penal, do indivíduo sujeito à hipnose ou ao sonambulismo.

 Movimentos reflexos: os movimentos reflexos do corpo, involuntários, dos quais


tomamos consciência após sua ocorrência.

 FORMAS DA CONDUTA: AÇÃO E OMISSÃO: A ação representa um comportamento


comissivo, positivo, um facere. Para ser penalmente relevante, é necessário que haja a violação
de um tipo proibitivo, que preveja uma conduta desvaliosa a ser evitada. Por sua vez, a omissão
representa um comportamento negativo, omissivo, um non facere. Enseja a responsabilização
criminal quando representa a desobediência a um tipo mandamental, ou seja, de um tipo que
determina, de forma imperativa, a realização de uma conduta valiosa.

 ESPÉCIES DA CONDUTA QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO: Quanto ao elemento


subjetivo, a conduta pode ser:

 Dolosa: é considerada dolosa a conduta do sujeito que age com vontade livre e
consciente de praticar ou, prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo.

 Culposa: é culposa a conduta do agente que quebra o dever objetivo de cuidado que
deve manter em sua vida em sociedade. Age assim o sujeito que é negligente, imprudente
ou imperito.
Aula 03

 Preterdolosa: a conduta preterdolosa envolve o dolo e a culpa. Na conduta inicial,


chamada antecedente, o sujeito atua com dolo, mas, com relação à conduta subsequente,
age com culpa (em sentido estrito).

Tipo doloso:

É aquele em que o elemento subjetivo do tipo é o dolo. Podemos definir o dolo como a vontade
livre e consciente de praticar a conduta prevista no tipo penal. Elementos do dolo:

Volitivo: é a vontade livre do agente em relação à conduta por ele praticada.


 Intelectivo: é a consciência do agente quanto a sua ação ou omissão.

 TEORIAS DO DOLO
Com relação ao dolo, a doutrina formulou algumas teorias sobre sua definição.

 Teoria da vontade: dolo é a vontade consciente de realizar a conduta e produzir o


resultado.
 Teoria da representação: dolo é a vontade de realizar a conduta, prevendo o
resultado, sem necessidade de que ele seja desejado.
 Teoria do assentimento ou do consentimento: dolo é a vontade de praticar a
conduta, com a previsão do resultado e a aceitação dos riscos de produzi-lo.

De todo modo, o Código Penal adota a teoria da vontade. Além disso, há previsão de que o crime
é doloso quando o agente assumiu o risco da produção do resultado, demonstrando que o Código
também encampa a teoria do assentimento, no que diz respeito ao dolo eventual. Esta espécie
de dolo será estudada a seguir.

 ESPÉCIES DE DOLO
 Quanto à valoração:
o Natural (neutro): é o dolo como elemento psicológico, componente da conduta.
o Normativo (híbrido): o dolo possui os elementos: consciência, vontade e
consciência da ilicitude. É componente da culpabilidade.
 Quanto ao elemento volitivo do agente:
o Direto (determinado): é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.
o Indireto (indeterminado): é a vontade de realizar a conduta, sem que exista o
desejo de produzir um resultado certo ou determinado. Subdivide-se em:
- alternativo: é a vontade do agente de produzir qualquer dos resultados
previstos.
- eventual: é o elemento subjetivo presente no agente que, sem desejar o
resultado, assume o risco de sua ocorrência.
Quanto ao resultado:
o De dano: vontade de produzir efetiva lesão ao bem jurídico.
o De perigo: vontade de expor o bem jurídico a um risco de dano.
Aula 03

 Quanto à natureza:
o Genérico: vontade de realizar a conduta sem um fim específico.
o Específico: vontade de realizar a conduta com um fim específico, que é elementar
do tipo penal.
 Quanto a um resultado diverso:
o Geral, erro sucessivo ou aberratio causae: o agente supõe ter alcançado o resultado
pretendido e, então, pratica nova ação que provoca tal resultado.
o Cumulativo: é o dolo que abrange mais de um resultado, na chamada progressão
criminosa.
 Quanto ao critério cronológico:
o Antecedente, inicial ou preordenado: é o dolo que existe antes da conduta. Não é
suficiente para a responsabilização penal.
o Concomitante: é o dolo que está presente no momento da conduta, sendo o
elemento subjetivo necessário para a configuração do crime doloso.
o Subsequente: é o dolo posterior à conduta.
 Quanto ao grau:
o De primeiro grau: é a vontade de produzir o resultado inicialmente pretendido.
o De segundo grau: é a vontade que abrange os efeitos colaterais, aos meios
utilizados para se alcançar o resultado inicialmente pretendido.
E o dolo de terceiro grau? Existe?
o O dolo de terceiro grau seria a consequência necessária que seria decorrente de se
atingir outra consequência necessária.

Tipo culposo:

É aquele cujo elemento subjetivo é a culpa stricto sensu, ou seja, em sentido estrito. A culpa,
portanto, é a vontade de praticar uma conduta, a qual, por sua vez, causa um resultado não
querido nem aceito pelo agente, mas que lhe era previsível ou até mesmo previsto.

 ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO:


 Conduta humana voluntária: só possui importância para o Direito Penal.

 Resultado naturalístico involuntário e previsível: é necessário que o resultado seja


ao menos previsível.
 Nexo Causal: é o vínculo de causa e efeito entre a conduta praticada e o resultado
causado.
 Tipicidade: é a adequação entre a conduta praticada e a lei penal incriminadora.
 Violação de um dever objetivo de cuidado: necessária nos crimes culposos, a
violação de um dever objetivo de cuidado é o que caracteriza a culpa em sentido estrito.

 MODALIDADES DE CULPA:
Aula 03

 Imprudência: é ação descuidada, que se manifesta por meio de um comportamento


positivo.

 Negligência: é a ausência de precaução, caracterizada por um comportamento


negativo, uma omissão.

 Imperícia: é a falta de aptidão técnica para o exercício da profissão ou atividade.

 ESPÉCIES DE CULPA:
 Com relação à previsibilidade do resultado:
o Consciente, com previsão ou ex lascivia: o agente prevê o resultado, mas
não o aceita, espera que ele não ocorra.
o Inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia: o agente não prevê o
resultado, mas este era objetivamente previsível.
 Com relação à vontade do agente:
o Própria ou propriamente dita: o agente pratica a conduta, mas, mesmo
sendo previsível o resultado, não o aceita, espera que ele não ocorra.
o Imprópria, por equiparação, por assimilação ou por extensão: o agente,
pensando estar acobertado por uma causa excludente da ilicitude, por erro de
tipo inescusável, prova intencionalmente determinada conduta típica.
 Outra classificação:
o Culpa mediata ou indireta: ocorre quando um agente, após a produção de um
resultado, a partir dele produz um segundo resultado, por culpa.

Tipo qualificado pelo resultado:

É aquele que, além da descrição do delito, há a previsão de um resultado que, se ocorrer, torna
a sanção penal mais gravosa.

 CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO E SEUS ELEMENTOS


 Fato antecedente: conduta que se amolda ao tipo penal do delito, configurando-o e
já tornando possível a imposição de sanção penal;
 Fato consequente: o agente produz um resultado que enseja a imposição de uma
sanção penal mais gravosa que aquela prevista para o fato antecedente.

 CRIME PRETERDOLOSO: é aquele composto de um fato antecedente, praticado a título de


dolo, com um resultado culposo, o qual possui o efeito de tornar a sanção penal mais gravosa.
Em razão de o resultado não ser desejado pelo agente, já que é provocado a título de culpa, não
se admite tentativa de crime preterdoloso.

Tipo omissivo:

É aquele cuja conduta consiste em um não fazer, ou um non facere.


Aula 03

 TEORIAS DA OMISSÃO:
 Teoria naturalística – entende que quem omite faz algo, diverso do que deveria fazer.
Por ser uma ação diversa do que deveria ser, a omissão pode provocar mudança no mundo
exterior, ou seja, pode causar um resultado naturalístico.
 Teoria normativa – a omissão é um nada e, por isso, nada causa. Não há como se
imputar um resultado naturalístico de forma direta a uma conduta omissiva, já que ela
não pode causá-lo, por não ser nada.
Portanto, a fórmula da teoria normativa da omissão é a seguinte: Non facere (comportamento)
+ quod debetur (dever jurídico de agir).

 ESPÉCIES DE CRIME OMISSIVO:


 Próprio ou puro: é o crime cometido em virtude do descumprimento de norma
imperativa. O dever jurídico de agir não existe, aqui, de forma genérica, mas decorre da
expressa previsão de um tipo penal, de natureza mandamental, que determina a punição
por omissão em determinados casos.
 Impróprio, impuro ou comissivo por omissão: é aquele cujo dever jurídico de agir
decorre de uma cláusula geral, que, no Código Penal Brasileiro, está previsto em seu artigo
13, parágrafo segundo. O dever jurídico abrange determinadas situações jurídicas e se
refere a qualquer crime comissivo. Nestes casos, portanto, o agente possui um dever
específico de agir, que se enquadram nas seguintes hipóteses:
o tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (dever legal);
o de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (dever de
garantidor);
o com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado (dever
por ingerência na norma).

 Omissivo por comissão: cuida-se de crime tipicamente omissivo, mas há uma ação,
um comportamento comissivo, que provoca a omissão.

 REQUISITOS DA OMISSÃO:
 Conhecimento da situação que causa perigo: é imprescindível, sob pena de se
admitir a responsabilidade objetiva, que o sujeito tenha consciência da situação de risco
ao bem jurídico.

 Consciência de sua posição de garante: também como decorrência do próprio


princípio da culpabilidade, é imprescindível que o sujeito tenha consciência da sua
situação, a qual leva a um dever jurídico de agir, seja ele genérico ou específico.

 Possibilidade real, física, de impedir que o resultado aconteça, de executar a


ação exigida: por fim, a responsabilidade penal só pode ocorrer caso se demonstre que
o agente poderia evitar o resultado.
Aula 03

 CRIMES DE CONDUTA MISTA: consistente no tipo penal em que se prevê uma ação, seguida
de uma omissão, sendo que ambos os comportamentos são necessários para a sua configuração.

Erro de tipo:

É a falsa percepção, pelo agente, da realidade que o cerca. Ocorre, portanto, quando o sujeito
ativo se equivoca quanto ao mundo exterior, interpretando-o de forma incorreta. O erro de tipo
recai sobre elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados acessórios. Trata-se de erro
sobre uma situação da realidade que está descrita em um tipo penal.

 ESPÉCIES:
 Erro de tipo essencial: recai sobre os elementos principais do tipo penal (elementares
e circunstâncias). O erro impede o agente de saber que está cometendo um crime.

o Erro de tipo essencial invencível, inevitável, desculpável ou escusável:


trata-se do erro imprevisível, aquele que não poderia ter sido evitado pelo
agente.
o Erro de tipo essencial vencível, evitável, indesculpável ou inescusável:
é o erro previsível, que poderia ter sido evitado pelo agente com emprego de
certa diligência. Neste caso, pune-se a culpa, caso haja previsão da figura
culposa.

 Erro de tipo acidental: recai sobre dados da figura típica que são irrelevantes para a
configuração ou não do delito.

o Erro de tipo sobre o objeto (error in objecto): é aquele em que o agente


confunde o objeto material, atingindo um que é diverso daquele pretendido. Não
há previsão legal, sendo tratado pela doutrina.
o Erro de tipo sobre a pessoa (error in persona): é aquele em que o agente
queria atingir determinada pessoa, denominada vítima virtual, mas vem a atingir
outra, chamada de vítima real. Há um erro na representação, ou seja, o agente
vê alguém e pensa se tratar de pessoa diversa.
o Erro de tipo sobre a execução (aberratio ictus): é aquele em que o agente
não erra na representação, sabendo exatamente quem quer atingir com sua
conduta delituosa. Entretanto, ele falha na execução do crime, por acidente ou
erro relacionado ao meio de execução.
o Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis ou aberratio
delicti): é aquele em que o agente, por erro na execução, provoca lesão em
bem jurídico diverso do pretendido.
o Erro sobre o nexo causal: é aquele em que o agente pratica o resultado
pretendido, mas com outro nexo de causalidade. O sujeito ativo pratica uma
Aula 03

conduta visando à produção do resultado, mas não o atinge como imaginava. A


doutrina aponta duas hipóteses:
- Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: o agente só pratica
um ato, mas atinge o resultado por causa diversa da que pretendia.
- Dolo geral ou aberratio causae: há uma pluralidade de atos. O
agente imagina que atingiu o resultado com sua conduta, sendo que,
após, pratica outra conduta e somente assim atinge o resultado.
Responde pelo resultado da mesma forma, pois se entende que o
dolo é geral, isto é, abrange qualquer conduta praticada pelo sujeito
que está imbuído do animus da prática do delito, da intenção livre e
consciente de praticar o resultado.

 DESCRIMINANTES PUTATIVAS: pode ser conceituada como uma imaginação do agente que
existe uma causa que exclui a ilicitude do seu comportamento.
 A descriminante putativa por erro de tipo ocorre quando o agente imagina um fato que
lhe permitir agir sob uma excludente de ilicitude.

 A descriminante putativa por erro de proibição, que ocorre quando o agente


interpreta a norma de forma errada, pensando que está acobertado, sem efetivamente
estar. Se inevitável, não responde, se evitável, pena diminuída de um sexto a um terço.

 ERRO DE TIPO CAUSADO POR TERCEIRO: Neste caso, o agente percebe a realidade de
forma equivocada por causa de um agente provocador, que o induz a erro. O agente provocador
é considerado o autor mediato, figura que estudaremos adiante, mas que é aquele que se usa de
outrem para a prática do delito. O agente provocado só responderá se tiver agido com dolo ou
culpa.

16 - Considerações Finais
Finalizamos a nossa quarta aula! Continuamos o estudo do crime e, assim espero
que o interesse tenha aumentado, pois a matéria se tornou mais prática e os
exemplos pretendem ser uma forma de melhor compreensão.
Entretanto, é preciso também ressaltar a densidade desta aula, que possui um
conteúdo que será cobrado de forma mais frequente nos concursos. O estudo da
conduta e dos tipos penais dolosos, culposos, preterdolosos e omissivos é a base
para a compreensão do crime e seus conceitos são imprescindíveis para a análise
de cada um dos crimes.

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