Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA 03
TEORIA GERAL DO CRIME:
NOÇÕES GERAIS E CONDUTA
Sumário
Sumário ...................................................................................................................................... 2
1 - Considerações Iniciais........................................................................................................... 4
2 – Conceito de Crime................................................................................................................. 5
2.1 – Conceito Analítico de Crime: teorias......................................................................................8
2.2 – Conceito Analítico de Crime e a teoria tripartida ................................................................... 11
3 – Sujeitos do Crime ............................................................................................................... 11
3.1 – Sujeito ativo .................................................................................................................... 12
3.2 – Pessoa jurídica como sujeito ativo ...................................................................................... 12
3.3 – Sujeito passivo................................................................................................................. 15
4 – Objeto do Crime.................................................................................................................. 17
5 – Fato Típico .......................................................................................................................... 18
6 – Conduta .............................................................................................................................. 19
6.1 – Teoria causalista, causal-naturalista, naturalística ou clássica................................................. 19
6.2 – Teoria neokantista ou causal-valorativa............................................................................... 20
6.3 – Teoria finalista ................................................................................................................. 21
6.4 – Teoria social da ação......................................................................................................... 22
6.5– Teoria constitucional do Direito Penal ................................................................................... 22
6.6 – Elementos da conduta ....................................................................................................... 22
6.7 – Causas de exclusão da conduta .......................................................................................... 23
6.8 – Formas da conduta: ação e omissão ................................................................................... 23
6.9 – Espécies da conduta quanto ao elemento subjetivo ............................................................... 25
7 – Tipo Doloso......................................................................................................................... 25
7.1 – Teorias do dolo................................................................................................................. 25
Aula 03
2 – Conceito de Crime
O crime, ideia que possui importância nuclear no Direito Penal, possui diversos
conceitos, a depender do aspecto que se tome como preponderante. O estudo
dessas concepções é interessante e possui grande importância, devendo ser o
ponto de partida para o estudo da teoria do crime.
Sob o ponto de vista legal, podemos extrair o conceito de crime do artigo 1º do
Decreto-Lei 3.914/41, denominado de “Lei de Introdução do Código Penal e da
Lei das Contravenções Penais”:
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou
de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente.”
Congresso Nacional decide ser crime, aprovando lei neste sentido, é o que se
pode ter como crime.
Entretanto, a forma de conceituar mais usual na doutrina do Direito Penal, por
sua importância científica e didática, é a analítica. É assim denominada porque
se analisa o crime por meio de seus substratos, os elementos que devem estar
presentes para a configuração do delito. Para se definir o conceito analítico do
crime, temos diferentes teorias, a serem estudadas no próximo item. Entretanto,
já adiantamos que, para a corrente dominante, crime é o fato típico,
antijurídico (ilícito) e culpável. Percebam que, para esta conceituação, há a
previsão dos substratos do crime, como o “fato típico”, a “ilicitude” (ou
“antijuridicidade”) e a culpabilidade.
Como dito, a teoria tripartida prevalece, razão pela qual cabe analisá-la no
próximo tópico.
Aula 03
Como já dito, cuida-se de teoria que se compatibiliza tanto com a teoria causal
da conduta quanto com a teoria finalista, que passou a prevalecer no Direito
Penal. Para ela, só é crime o fato típico, ilícito e culpável. A punibilidade é
pressuposto para aplicação da pena, não fazendo parte da conceituação
de infração penal.
Portanto, são elementos do crime: fato típico, ilicitude e culpabilidade.
É pressuposto de pena a culpabilidade.
3 – Sujeitos do Crime
O Direito visa a regular a vida em sociedade, sendo objeto do Direito Penal o
estudo das infrações penais e suas respectivas sanções, as quais visam a tutelar
os bens jurídicos mais importantes para o convívio social. Neste campo, interessa
a este ramo do Direito a conduta humana, que, como será visto adiante, possui
sempre uma finalidade. É, portanto, a conduta humana finalística e voluntária
que interessa para a configuração das infrações penais.
Excluem-se do âmbito de estudo da disciplina as ações praticadas pelos animais,
salvo, claramente, se forem utilizados como instrumentos da conduta humana,
como no caso do sujeito que solta seu cachorro e o comanda que ataque seu
desafeto. Também não interessam ao estudo do crime as forças da natureza ou
as tidas como de origem divina, como nas fases embrionárias do Direito Penal
moderno.
Portanto, é a conduta humana que deve merecer atenção do jurista na análise
criminalista. Por isso, sujeito do crime é o ser humano. Neste ponto, discute-se,
de forma mais recente, a possibilidade de a pessoa jurídica figurar também como
sujeito do crime, o que veremos neste item.
Ademais, o estudo dos sujeitos do crime abrange a questão de quem sofre a ação
ou omissão criminosa. Temos, em um primeiro plano, o Estado, a quem interessa
a observância de suas normas. Ademais, há a vítima, o indivíduo que sofre
diretamente com a conduta criminosa.
Aula 03
Portanto, tem prevalecido nas Cortes Superiores que não se exige a dupla
imputação para a responsabilização da pessoa jurídica.
Por fim, resta a seguinte dúvida: é possível que alguém figure como sujeito
ativo e passivo do delito ao mesmo tempo?
a) 1ª posição: é possível que o indivíduo seja, concomitantemente, sujeito
ativo e passivo do delito. O exemplo seria o crime de rixa, em que o rixento
é, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do delito, quando efetua
agressão e é agredido na mesma ocasião. É posição de Rogério Greco.
4 – Objeto do Crime
Objeto do crime é aquilo contra o que se volta a conduta do sujeito ativo da
infração penal. É qualquer coisa, pessoa ou bem jurídico sobre o qual recai a
atividade criminosa e que sofre seus efeitos. Pode ser material ou jurídico:
5 – Fato Típico
6 – Conduta
Para iniciarmos o tema com a conceituação, podemos apontar que conduta (ou
ação) é o comportamento humano voluntário, exteriorizado por uma ação ou
omissão, dirigido a um fim.
Entretanto, o tema é um dos que mais foram discutidos no âmbito do Direito
Penal, sendo espinhoso e controverso. A discussão sobre o que é a conduta deu
origem às chamadas teorias da conduta, também denominadas, por alguns, de
teorias da ação.
Vejamos, então, quais são as teorias da conduta.
deixando sua análise para a culpabilidade. Deste modo, não haveria como se
diferenciar a conduta culposa da conduta dolosa, já que o elemento subjetivo é
estudado apenas na culpabilidade. Também não haveria uma explicação aceitável
para os crimes omissivos próprios, já que há uma falta de comportamento do
agente (um não fazer, uma omissão), que, sem análise de dolo nem de culpa,
apresentaria difícil configuração. Seria tarefa bastante ingrata tentar separar uma
omissão criminosa e uma simples abstenção não criminosa, sem qualquer análise
do elemento subjetivo. O causalismo teria foco no desvalor da ação, o que levaria
a uma deficiência para a compreensão de certos delitos.
Franz Von Liszt, posteriormente, conceitua a ação como “conduta voluntária no
mundo exterior; causa voluntária ou não, impediente de uma modificação no
mundo exterior”. Deste modo, buscou englobar a conduta omissiva e a conduta
comissiva.
Foi defendida, dentre outros, pelos juristas Franz Von Liszt, Gustav Radbruch e
Ernst Von Beling
7 – Tipo Doloso
O tipo doloso é aquele em que o elemento subjetivo do tipo é o dolo. Cumpre,
então, iniciarmos por um conceito de dolo.
De forma geral, podemos definir dolo como a vontade livre e consciente de
praticar a conduta prevista no tipo penal.
O dolo possui como elementos a vontade e a consciência:
Elementos do dolo:
➢ Volitivo: é a vontade livre do agente em relação à conduta por ele
praticada.
➢ Intelectivo: é a consciência do agente quanto a sua ação ou omissão, o
conhecimento acerca da forma como ele próprio age.
É necessário que o agente, antes de tudo, possuía conhecimento sobre a
realidade, apresentando o elemento cognitivo. Isto porque só pode ele
exteriorizar sua vontade livre, se souber exatamente a realidade.
✓ Quanto à valoração:
Natural (neutro): é o dolo como elemento psicológico, desprovido de juízo de
valor, componente da conduta. Adotado pela teoria finalista.
Normativo (híbrido): o dolo possui os elementos: consciência, vontade e
consciência da ilicitude. É componente da culpabilidade, substrato do conceito
analítico do crime em que se faz o juízo de censura sobre a ação típica e ilícita
praticada pelo sujeito ativo. Adotado pelas teorias causal e neokantista.
✓ Quanto ao resultado:
De dano: vontade de produzir efetiva lesão ao bem jurídico. É o dolo presente
nos chamados crimes de dano, por exemplo, no caso do crime de lesões
corporais. A vontade do agente é de causar lesão em alguém, o que viola o bem
jurídico, no caso, a incolumidade física e mental do indivíduo.
De perigo: vontade de expor o bem jurídico a um risco de dano. É elemento
subjetivo que se constata nos crimes de perigo, como no caso do delito de
Aula 03
✓ Quanto à natureza:
Genérico: vontade de realizar a conduta sem um fim específico. É o caso do
constrangimento ilegal. Não é necessário que se demonstre um animus ou uma
vontade específica do agente para que se configure o crime. Ele pode ter
praticado o delito por vingança, por maldade ou por desprezo. Não é necessário
que se demonstre uma determinada finalidade do agente, basta ao tipo penal o
fim genérico da prática da conduta nele prevista. É o caso do homicídio, que se
configura com a vontade de matar, sem necessidade de uma finalidade específica
e determinada do agente.
Específico: vontade de realizar a conduta com um fim específico, que é
elementar do tipo penal. É o caso do delito previsto no artigo 134 do Código
Penal, de exposição ou abandono de recém-nascido. O tipo prevê ser crime
“expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria”. Logo, se
alguém abandonar recém-nascido por maldade, sem nenhuma ligação à desonra,
não será possível a configuração de referido crime (sem prejuízo da
responsabilização criminal por outro delito). Isto porque a expressão “para
ocultar desonra própria” constitui fim especial do tipo, o que exige dolo específico
para a configuração do crime.
✓ Quanto ao grau:
De primeiro grau: é a vontade de produzir o resultado inicialmente pretendido.
É a vontade voltada ao resultado que o agente deseja. No caso do furto, é a
subtração da coisa almejada pelo sujeito.
De segundo grau: é a vontade que abrange os efeitos colaterais, que se estende
aos meios utilizados para se alcançar o resultado inicialmente pretendido.
Aula 03
10 – Tipo Omissivo
O tipo omissivo é aquele cuja conduta consiste em um não fazer, ou um non
facere. A conduta do agente consiste em um comportamento negativo. Para
compreensão da omissão como uma conduta penalmente relevante, a doutrina
se debruçou sobre o tema:
✓ Teoria naturalística – entende que quem omite faz algo, diverso do que
deveria fazer. Portanto, a omissão penalmente relevante não deixa de ser
uma ação do agente, mas que destoa da conduta que se esperava dele e à
qual ele era juridicamente obrigado. Por ser uma ação diversa do que
deveria ser, a omissão pode provocar mudança no mundo exterior, ou seja,
pode causar um resultado naturalístico.
Aula 03
✓ Próprio ou puro
É o crime cometido em virtude do descumprimento de norma imperativa. O dever
jurídico de agir surge da própria previsão da conduta omissiva como crime, da
qual decorre a imposição de uma conduta virtuosa a todos que, se descumprida,
enseja a punição pelo crime. O dever jurídico de agir não existe, aqui, de forma
genérica, mas decorre da expressa previsão de um tipo penal, de natureza
mandamental, que determina a punição por omissão em determinados casos.
O exemplo mais lembrado é o da omissão de socorro:
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Notem que o dever jurídico, no caso, decorre do próprio artigo 135 do Código
Penal, de modo que, nas circunstâncias ali descritas, todos têm o dever de agir.
Aula 03
Caso contrário, se o sujeito não agir como deve e como a norma determina, a
sua omissão configura o crime omissivo.
Enfatizo, mais uma vez, que esta modalidade de crime omissivo não é
reconhecida por substancial parte da doutrina.
Percebam a estrutura do tipo penal: quem acha coisa alheia perdida e dela se
apropria, total ou parcialmente [AÇÃO], deixando de restituí-la ao dono ou
Aula 03
11 – Erro de tipo
Erro para o Direito Penal é a falsa percepção de algo, o engano acerca de alguma
coisa. Erro de tipo, por sua vez, é a falsa percepção, pelo agente, da realidade
que o cerca. Ocorre, portanto, quando o sujeito ativo se equivoca quanto ao
mundo exterior, interpretando-o de forma incorreta.
O erro de tipo recai sobre elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados
acessórios. Trata-se de erro sobre uma situação da realidade que está descrita
em um tipo penal.
O exemplo clássico de erro de tipo é o do sujeito que, ao chegar a uma festa,
deixa seu chapéu na entrada. Na saída, vê um chapéu similar ao seu e, supondo-
o ser aquele de sua propriedade, leva-o para casa. Do ponto de vista formal, o
sujeito subtraiu coisa alheia móvel. Entretanto, devemos relembrar que não se
admite a responsabilidade penal objetiva e o agente não possuía consciência da
elementar consistente em a coisa móvel ser “alheia”. Por sua falsa percepção da
realidade, ele levou o chapéu como se fosse seu, incidindo no erro de tipo.
Lembrem-se: o erro de tipo se refere à falsa percepção da realidade pelo agente.
11.1 – Espécies
O erro de tipo pode ser essencial ou acidental, a depender do elemento sobre o
qual recai.
➢ Erro de tipo acidental: recai sobre dados da figura típica que são
irrelevantes para a configuração ou não do delito.
Aula 03
Cumpre destacar, ainda, que o jurista Eugenio Raúl Zaffaroni defende a existência
do erro de tipo psiquicamente condicionado. Este erro ocorreria no caso de
um agente, embora imputável, sofrer uma alucinação ou uma ilusão, que o leva
a perceber mal a realidade e produzir um resultado. Seria o caso do sujeito que,
após trabalhar sob o sol por muitas horas, está destruindo uma casa em ruínas,
quando acaba atingindo a casa do lado, provocando dano. Há uma causa
psicopatológica que leva à falsa percepção da realidade, sem, no entendo, tornar
o agente inimputável.
A lei determina, portanto, que o agente deve responder pela vítima que
queria atingir, e não aquela que atingiu por erro na execução. Entretanto,
se o agente atingir tanto a vítima a que visava quanto outrem, deve-se
aplicar a regra do artigo 70 do Código Penal, ou seja, deve responder por
ambos os delitos em concurso formal.
Imaginem que o sujeito resolva se vingar do seu vizinho por uma briga
banal sobre a limpeza da calçada e, deste modo, resolve jogar uma pedra
em sua cabeça quando ele passar perto de sua casa. Entretanto, ao ver o
seu vizinho perto da cerca da sua propriedade, lança a pedra e atinge um
transeunte qualquer. Ele deverá responder pelo crime como se tivesse
atingido seu vizinho, o que fará com o que o motivo de sua conduta seja
considerado na fixação da pena.
Delito putativo por erro de tipo: o agente visava a cometer um crime, mas
por falsa percepção da realidade, pratica um fato atípico.
Erro de tipo essencial: o agente pratica uma conduta típica por falsa percepção
da realidade quanto a um elemento que é fundamental para configuração do
crime ou de sua forma qualificada.
Erro de subsunção: o agente sabe que comete uma conduta ilícita, mas pensa
que se adéqua a um tipo penal diverso. Por exemplo, ele ignora que duplicata é
equiparada a documento público, falsificando-a, pensando praticar crime de
falsidade de documento particular. Entretanto, pratica delito de falsificação de
documento público. É irrelevante, salvo para dosimetria da pena.
12 – Questões Objetivas
Q5.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2018
No Direito Penal brasileiro, o erro
a) sobre os elementos do tipo impede a punição do agente, pois exclui a
tipicidade subjetiva em todas as suas formas
b) determinado por terceiro faz com que este responda pelo crime.
Aula 03
Q7.FCC/TJ-SC/Juiz Substituto/2017
Um cidadão americano residente no Estado da Califórnia, onde o uso
medicinal de Cannabis é permitido, vem ao Brasil para um período de férias
em Santa Catarina e traz em sua bagagem uma certa quantidade da
substância, conforme sua receita médica. Ao ser revistado no aeroporto é
preso pelo delito de tráfico internacional de drogas. Neste caso,
considerando-se que seja possível a não imputação do crime, seria possível
alegar erro de
a) proibição indireto.
b) tipo permissivo.
c) proibição direto.
d) tipo.
e) subsunção.
Q27.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2015
Se o agente oferece propina a um empregado de uma sociedade de
economia mista, supondo ser funcionário de empresa privada com interesse
exclusivamente particular, incide em
a) erro sobre a pessoa.
b) descriminante putativa.
c) erro de tipo.
d) erro sobre a ilicitude do fato inevitável.
e) erro sobre a ilicitude do fato evitável.
Para o Código Penal (art. 20, § 1.º), quando a descriminante putativa disser
respeito aos pressupostos fáticos da excludente, estamos diante de:
a) Excludente de antijuridicidade.
b) Erro de tipo.
c) Erro de proibição.
d) Excludente de culpabilidade.
12.2 – Gabarito
Q1. E Q16. A Q31. B
Q2. A Q17. B Q32. B
Q3. C Q18. B Q33. CORRETA
Q4. C Q19. E Q34. A
Q5. B Q20. E Q35. D
Q6. D Q21. E Q36. C
Q7. A Q22. ERRADA Q37. B
Q8. E Q23. C Q38. D
Q9. D Q24. C Q39. E
Q10. D Q25. E Q40. B
Q11. C Q26. D Q41. A
Q12. E Q27. C Q42. D
Q13. A Q28. A Q43. CORRETA
Q14. D Q29. A Q44. B
Q15. D Q30. D Q45. C
Comentários
O item I está correto, pois, de acordo com a teoria bipartida surgida com o
finalismo, o crime consiste em fato típico e antijurídico, enquanto a culpabilidade
consiste em mero pressuposto da pena.
O item II está correto. Para a teoria clássica ou causalista, crime é o fato típico,
antijurídico (ou ilícito) e culpável. Ela adota a teoria tripartida para conceituação
do crime.
O item III está correto, haja vista que, para a teoria clássica, a culpa em sentido
amplo é parte da culpabilidade, que é analisada como sendo a possibilidade de
se atribuir a conduta praticada, bem como seu resultado, ao seu autor.
O item VI está correto. Na teoria finalista a culpa em sentido amplo é parte da
conduta, já que ela possui em si uma finalidade.
O item V está correto. Segundo dispõe a teoria finalista, no caso da adoção da
teoria bipartida, a culpabilidade se trata de mero pressuposto para a aplicação
da pena. Vale recordar que a teoria finalista é compatível tanto com o conceito
bipartido quanto com o tripartido de crime.
Portanto, a alternativa E é a opção correta.
Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O grande teórico da
Teoria Finalista foi Hans Welzel.
c) da causalidade normativa.
d) do domínio do fato.
e) da imputabilidade.
Comentários:
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Em comparação ao
causalismo e o neokantismo, no finalismo há a migração do dolo e culpa da
culpabilidade para o fato típico. Por isso, o dolo é analisado na conduta, e não
como elemento da culpabilidade, na qual há um juízo de valoração.
Q5.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2018
No Direito Penal brasileiro, o erro
Aula 03
Q7.FCC/TJ-SC/Juiz Substituto/2017
Um cidadão americano residente no Estado da Califórnia, onde o uso
medicinal de Cannabis é permitido, vem ao Brasil para um período de férias
em Santa Catarina e traz em sua bagagem uma certa quantidade da
substância, conforme sua receita médica. Ao ser revistado no aeroporto é
preso pelo delito de tráfico internacional de drogas. Neste caso,
considerando-se que seja possível a não imputação do crime, seria possível
alegar erro de
a) proibição indireto.
b) tipo permissivo.
c) proibição direto.
d) tipo.
e) subsunção.
Comentários:
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. No erro de proibição
direto o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva e no
erro de proibição indireto o agente sabe que a conduta é típica, mas supõe
presente uma norma permissiva.
Apesar de o erro de proibição ser matéria da próxima aula, a questão envolve
também o erro de tipo, sem contar que mencionamos o erro de proibição nesta
aula. O gabarito foi bastante questionado, mas o que a questão quer demonstrar
é que o estrangeiro poderia até saber que aqui o uso de maconha era vedado
(como no caso dos EUA), mas pensava que, no caso do medicamento, haveria
uma norma que permitiria, como no seu país.
Aula 03
Comentários:
A alternativa E está correta e se trata do gabarito da questão. O jogador será
indiciado por dolo direto de segundo grau apenas em relação ao motorista, haja
vista que, por consequência necessária do meio por ele escolhido para matar o
presidente, o agente sabe que o motorista será morto. Com relação aos
torcedores e o funcionário, não são consequências necessárias, mas possíveis,
que o agente prevê e assume o risco. Logo, há dolo eventual com relação a eles,
e não direto. Com relação ao alvo, o dolo é direto de primeiro grau.
Comentários:
A alternativa A é a correta e gabarito da questão. No caso em tela, o soldado
Pereira responderá pela prática de crime omissivo impróprio, tendo em vista ter
ele um dever específico de agir decorrente de uma das hipóteses da cláusula
geral, presente na norma transcrita abaixo:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
não teria ocorrido. (...)
Aula 03
Comentários:
A alternativa A está incorreta. A alternativa se apresenta correta, exceto pelo
fato de que as causas apontadas não são supralegais, pois estão previstas na lei.
A alternativa B está errada. O princípio da insignificância é causa supralegal de
exclusão do crime, pois afasta a tipicidade material, mas o erro sobre a ilicitude
do fato está previsto no art. 21 do Código Penal e apenas isenta de pena se
inevitável.
A alternativa C está incorreta. A coação moral irresistível está prevista no artigo
22 do Código Penal e afasta a culpabilidade, enquanto o princípio da adequação
social. O princípio da a adequação social afasta a tipicidade das condutas que são
aceitas pela sociedade, passando a ser excluídas da esfera penal.
A alternativa D está correta. O consentimento do ofendido, nos casos em que
não integrar a descrição típica, é considerado causa supralegal de exclusão da
ilicitude. Já a inexigibilidade de conduta diversa é uma causa supralegal para
excluir a culpabilidade do agente.
A alternativa E está incorreta. A coação física irresistível é causa de exclusão da
conduta enquanto as descriminantes putativas são causas excludentes de
ilicitude.
Caio, agente da polícia, durante suas férias, resolve manter a forma e treinar
tiros. Vai até um terreno baldio e ali alveja uma caçamba de lixo. O agente
imaginava-se sozinho e, sem querer, acerta um mendigo que ali dormia,
dentro da caçamba. Em tese, ocorreu:
a) Descriminante putativa.
b) Causa legal de exclusão da culpabilidade.
c) Caso fortuito, ou força maior criminógena.
d) Erro de tipo.
e) Erro na execução (aberratio ictus).
Comentários:
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. Como visto em aula, O
erro de tipo, que pode ser classificado em essencial ou acidental, ocorre quando
o agente possui uma incorreta percepção da realidade.
desmuniciada e ele pensou que estava municiada). Por isso, é um erro de tipo. É
permissivo porque o fez pensar estar acobertado por uma dirimente, a legítima
defesa. É invencível, pois ele não poderia saber que a arma não tinha munição,
mesmo que agisse com a maior diligência possível.
Comentários:
A alternativa E está correta e se trata do gabarito da questão. Para relembrar o
assunto, vejamos o quadro apresentado na aula:
A lei determina, portanto, que o agente deve responder pela vítima que queria
atingir, e não aquela que atingiu por erro na execução. Entretanto, se o agente
atingir tanto a vítima a que visava quanto outrem, deve-se aplicar a regra do
Aula 03
c) Ticius imputa um fato definido como crime a Manassés que imaginava ser
verdadeiro quando, na verdade, era falso, tendo o erro de Ticius decorrido
de sua negligência. Neste caso, Ticius deverá ser responsabilizado pelo crime
de calúnia na modalidade culposa.
d) Augustus, agride e provoca lesão corporal em Cassius, pois este segurava
o pescoço de Maximus. Imaginava Augustus estar protegendo Maximus mas,
por erro decorrente de sua imprudência, não percebeu que tudo se tratava
de uma brincadeira. Neste caso, na responsabilização penal pelo crime de
lesão corporal, Augustus deverá ter sua pena diminuída de um sexto a um
terço.
e) Magnus, policial, adultera, sem autorização legal, sinal identificador de
um veículo automotor a fim de que seja utilizado em investigação criminal,
pois imagina, por erro evitável, que nesta hipótese sua conduta seria lícita.
Na responsabilização penal pelo crime de “adulteração de sinal identificador
de veículo automotor", Magnus deverá ter sua pena diminuída de um sexto
a um terço.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. Tratando-se de descriminante putativa por erro
de proibição, se inevitável, o agente não reponde, se evitável, a pena é diminuída
de um sexto a um terço.
A alternativa B está incorreta, pois, tratando-se de erro de tipo essencial pune-
se a culpa. Ocorre que o delito de calúnia não admite a punição na modalidade
culposa, assim, não há que se falar em responsabilização criminal.
A alternativa C está incorreta, pois, o delito de calúnia não admite a punição na
modalidade culposa, assim, o fato é atípico.
A alternativa D está incorreta. Trata-se de erro de tipo permissivo, o que afasta
o dolo e permite a punição do delito a título de culpa.
A alternativa E está correta. Tratando-se de descriminante putativa por erro de
proibição, se evitável, a pena é diminuída de um sexto a um terço.
Portanto, o gabarito da questão é a alternativa E.
c) proibição direto.
d) proibição indireto.
e) tipo indireto.
Comentários
A alternativa D está correta e se trata do gabarito da questão. No erro de
proibição indireto, o agente conhece o caráter ilícito do fato, mas, no caso
acredita estar presente uma causa de exclusão da ilicitude, ou se equivoca quanto
aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude efetivamente presente. Isto
porque imagina que, em razão do uso medicinal, a punição pelo tráfico de drogas
não o atinge, por ficar afastada a ilicitude de sua conduta.
Q27.FCC/DPE-AM/Defensor Público/2015
Se o agente oferece propina a um empregado de uma sociedade de
economia mista, supondo ser funcionário de empresa privada com interesse
exclusivamente particular, incide em
a) erro sobre a pessoa.
b) descriminante putativa.
c) erro de tipo.
d) erro sobre a ilicitude do fato inevitável.
e) erro sobre a ilicitude do fato evitável.
Comentários:
A alternativa C está correta e se trata do gabarito da questão. O erro de tipo
recai sobre elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados acessórios,
por falsa percepção da realidade pelo agente (pensa que é funcionário de
empresa privada, mas é funcionário de sociedade de economia mista e, portanto,
funcionário público para fins penais, nos termos do artigo 327 do CP).
Neste caso, o agente visa a lesionar o sujeito passivo e, portanto, causa a lesão
corporal (fato antecedente) com intenção, de forma dolosa. Na sequência,
produz, por culpa, a morte da vítima (fato consequente).
Após uma violenta discussão, A resolve matar B afogado e joga seu desafeto
de cima de uma ponte. B acaba por morrer após bater a cabeça no pilar da
ponte e não por afogamento. Assinale a alternativa correta:
a) A deve responder dolosamente pela morte de B, já que o resultado
concreto (realização do perigo) corresponde à realização do plano do autor.
b) A deve responder culposamente, tratando-se o resultado de um desvio
causal regular e previsível, incompatível com o dolo do autor (representação
do resultado como ocorreu).
c) A deve responder dolosamente, já que o resultado é causa superveniente
relativamente independente da conduta do autor, tendo esta produzido o
resultado “por si só”. A doutrina chama a hipótese de “troca de dolo”,
constituindo a situação uma mudança do objeto do dolo.
d) A deve responder culposamente, já que sua conduta foi imprudente (culpa
consciente). Trata-se na hipótese do chamado aberratio causae ou “culpa
geral”.
Comentários:
A alternativa A está correta. Neste caso, por erro sucessivo ou aberratio causae,
o agente supõe ter alcançado o resultado pretendido e, então, pratica nova ação
que provoca tal resultado. Em razão desse erro sucessivo, a doutrina aponta que
o dolo do sujeito ativo é geral e, assim, mesmo que ele se equivoque quanto a
qual conduta sua deu causa ao resultado, sua vontade livre e consciente de
produzi-lo é suficiente para sua responsabilização por crime doloso.
Comentários:
A alternativa D está correta. Marcos e Rodrigo não responderão pelo crime,
tendo em vista que o crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio só se
caracteriza quando o suicídio se consuma ou quando a vítima sofre lesão corporal
de natureza grave.
c) Erro de proibição.
d) Excludente de culpabilidade.
Comentários:
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. O erro de tipo recai sobre
as elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados acessórios, por falsa
percepção da realidade pelo agente.
de sua casa. Assustado, pede para sua mulher, igualmente em pânico, que
não saia do quarto, e caminha para a entrada da casa onde grita
insistentemente para que o suposto ladrão vá embora, avisando-o de que,
caso contrário, irá atirar. A advertência é em vão, e a porta se abre aos olhos
de “X” que, após efetuar o primeiro disparo, percebe que acertou “Z”, seu
filho, que, embriagado, arrombou a porta. Na hipótese apresentada, vindo
“Z” a falecer em razão dos disparos, “X”.
a) será isento de pena, pois agiu em erro de tipo invencível.
b) praticou o crime de homicídio doloso consumado.
c) será isento de pena, pois agiu em erro de tipo causado por outrem.
d) praticou o crime de homicídio culposo consumado.
e) praticou o crime de homicídio culposo tentado
Comentários:
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. A imprevisibilidade ou
invencibilidade do erro sobre uma elementar impede a caracterização da infração
penal. A invencibilidade do erro decorre das circunstâncias, pois não poderia o
pai prever que o filho arrombaria a porta de casa, após seus avisos de que atiraria
para se defender.
a) responderá pelo crime de homicídio culposo com pena mais severa do que
a estabelecida no Código Penal, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro.
b) responderá pelo crime de homicídio culposo, entretanto, a ele poderá ser
aplicado o perdão judicial.
c) não responde por crime algum, uma vez que não agiu com dolo ou culpa.
d) responderá pelo crime de homicídio doloso por dolo eventual.
e) responderá pelo crime de homicídio culposo em razão de sua negligência.
Comentários:
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Não há dolo nem culpa,
tratando-se de conduta atípica. Não há previsibilidade alguma nesta conduta, o
que é necessário tanto para o dolo (claramente inexistente) quanto para a culpa
em sentido estrito.
13 – Questão Dissertativa
Q1. FCC/TJ-PE/Juiz de Direito/2015
Discorra sobre a tentativa nos crimes culposos e nos crimes omissivos.
(elabore sua resposta definitiva em até 30 linhas).
Comentários:
Conforme doutrina majoritária e jurisprudência, não é possível a tentativa
nos crimes culposos, tendo em vista que o agente não possui a vontade de
praticar o delito e, portanto, não há o que se falar em circunstâncias alheias
à vontade do agente.
Nos crimes praticados por culpa imprópria, prevista no art. 29, §1º do Código
Penal, admite-se a tentativa. Neste caso, o agente, pensando estar
acobertado por uma causa excludente da ilicitude, por erro de tipo
inescusável, provoca intencionalmente determinada conduta típica. Este tipo
tem estrutura dolosa, mas é punido como crime culposo.
Os crimes omissivos próprios, por sua vez, são aqueles que são realizados
pela omissão, por um comportamento negativo, um não fazer. Não se exige,
para sua consumação, o resultado naturalístico. Como o crime é
unissubsistente, no momento que o agente se omite o crime já se consuma,
não comportando, pois, a tentativa. Sem que haja a previsão de resultado
naturalístico, como no caso do crime de omissão de socorro, sequer se pode
pensar em tentativa.
Quanto aos crimes omissivos impróprios, é possível a tentativa, tendo em
vista que há a previsão de um resultado naturalístico neste caso. Assim, caso
o agente, que tinha o dever jurídico de impedir o resultado, se omite, mas o
resultado não sobrevém por circunstâncias alheias a sua vontade, responde
pelo crime na forma tentada.
Aula 03
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite
a punição por crime culposo, se previsto em lei.
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.
art. 73 do Código Penal: erro de tipo sobre a execução (aberratio ictus)
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés
de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse
praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código.
No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.
art. 74 do Código Penal: resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do
crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é
previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.
AgRg nos EDcl no RMS 43817/STJ: atual entendimento do STJ sobre a punição da pessoa
jurídica, no âmbito penal, por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da
pessoa física.
PENAL E PROCESSUAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO PENAL
POR CRIME AMBIENTAL. PEDIDO DE TRANCAMENTO. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. IMPUTAÇÃO
CONCOMITANTE DO DELITO A UMA PESSOA NATURAL. DESNECESSIDADE. 1. O mandado
de segurança, por não comportar dilação probatória, não é via processual adequada para
se conhecer de alegação de falta de justa causa, por atipicidade da conduta, fundada em
elemento probatório que ainda sem sequer foi submetido ao contraditório e ao juízo de valor
do magistrado na ação penal. 2. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, na
assentada de 06/08/2013, por ocasião do julgamento do RE 548.181/PR, de relatoria da
em. Ministra Rosa Weber, decidiu que a exigência relativa à imputação concomitante
do delito ambiental a pessoa natural para o fim de responsabilizar a pessoa
jurídica importa indevida restrição ao comando estampado no art. 225, § 3º, da
Carta Política, que, ao permitir a imputação desses delitos às empresas,
intencionou fazer frente às dificuldades de individualização dos agentes
internamente responsáveis pelas condutas nocivas cometidas pelas coorporações
societárias. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg nos EDcl no RMS 43817/SP,
Rel. Min. Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 18/09/2015).
RE 39.173/STJ: atual entendimento do STJ sobre a punição da pessoa jurídica, no âmbito
penal, por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa física.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL:
DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA
JURÍDICA.
1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não
condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181, Relatora Min. ROSA
WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico DJe-213, divulg.
29/10/2014, public. 30/10/2014).
2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos
ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia
em seu nome. Precedentes desta Corte.
Aula 03
3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a
prática de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua
condução.
4. Recurso ordinário a que se nega provimento.
(RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 06/08/2015, DJe 13/08/2015)
RE 548181/STF: atual entendimento do STF sobre a punição da pessoa jurídica, no âmbito
penal, por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa física.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL.
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À
IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO
ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição
Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais
à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa.
A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações
corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e distribuição
de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para
imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º,
da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida
restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas
de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes
ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis
internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A
identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato
ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se
esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições
internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício
da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito
à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa
jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não
raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou
parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal
individual. 5. Recurso Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.
(STF, RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, Julgamento em 06/08/2013).
EDcl no REsp 865.864/STJ: entendimento superado do STJ de que seria possível a
responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, desde que houvesse a
imputação simultânea do ente moral e da pessoa natural que atua em seu nome ou em seu
benefício.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME
AMBIENTAL. RESPONSABILIZAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA. IMPUTAÇÃO SIMULTÂNEA DA
PESSOA NATURAL. NECESSIDADE. PRECEDENTES. ARTIGOS 619 E 620 DO CPP. DECISÃO
EMBARGADA QUE NÃO SE MOSTRA AMBÍGUA, OBSCURA, CONTRADITÓRIA OU OMISSA.
EMBARGOS REJEITADOS.
1. A jurisprudência deste Sodalício é no sentido de ser possível a responsabilidade penal da
pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral
e da pessoa natural que atua em seu nome ou em seu benefício.
2. Os embargos de declaração constituem recurso de estritos limites processuais de
natureza integrativa, cujo cabimento requer estejam presentes os pressupostos legais
insertos na legislação processual, mais especificamente nos artigos 619 e 620 do Código de
Processo Penal.
Assim, somente, são cabíveis nos casos de eventuais ambiguidade, obscuridade,
contradição ou omissão, vícios inexistentes no julgado.
3. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no REsp 865.864/PR, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe 01/02/2012)
Aula 03
15 – Resumo
Para finalizar o estudo da matéria, trazemos um
resumo dos principais aspectos estudados ao longo
da aula. Sugerimos que esse resumo seja estudado
sempre previamente ao início da aula seguinte,
como forma de “refrescar” a memória. Além disso, segundo a organização de
estudos de vocês, a cada ciclo de estudos é fundamental retomar esses resumos.
Caso encontrem dificuldade em compreender alguma informação, não deixem de
retornar à aula.
Conceito de Crime:
O sistema adotado no Brasil foi o dualista ou binário, com previsão de duas espécies de infração
penal, o crime (ou delito) e a contravenção penal (delito liliputiano, crime vagabundo ou crime-
anão). A diferença entre ambas é de grau, ou seja, de escolha do legislador quanto à gravidade
da conduta, de juízo de valo (axiológica). Não há diferenciação de natureza entre ambas as
infrações penais, ou seja, não há diversificação de cunho ontológico.
Conceito formal: crime é toda conduta vedada pela lei, sob a ameaça de pena. Neste
critério, considera-se a opção do legislador. Aquilo que o Congresso Nacional decide ser
crime, aprovando lei neste sentido, é o que se pode ter como crime.
Conceito analítico: neste conceito analisa-se o crime por meio de seus substratos, os
elementos que devem estar presentes para a configuração do delito. Para se definir o
conceito analítico do crime, temos diferentes teorias.
Fato Típico: é a ação, ou conduta, que se amolda àquilo que a hipótese de incidência
prevê. Caso haja resultado naturalístico, é necessário que se constate um nexo causal
entre ele e a conduta praticada.
TEORIAS:
Teoria bipartida: crime é o fato típico e antijurídico (ou ilícito). Com o advento do
finalismo, a culpa em sentido amplo deixou de integrar a culpabilidade, passando a fazer
parte do fato típico. Com isso, a culpabilidade passou a ser tornar mero pressuposto da
pena.
Teoria tripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável. Cuida-se de
concepção do crime adotada pela teoria causalista da conduta, assim como grande parte
dos partidários da teoria finalista.
Teoria quadripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito), culpável e punível.
Para esta concepção de crime, todos os substratos devem estar presentes para
configuração do crime. Deste modo, só é crime da conduta típica, ilícita, com agente
culpável e que seja punível.
Sujeitos do Crime:
O estudo dos sujeitos do crime abrange o estudo de quem sofre a ação ou omissão criminosa.
SUJEITO ATIVO: Sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta prevista na norma penal.
Entretanto, cabe enfatizar que o sujeito pode atuar de forma isolada ou em concurso com outros
agentes.
Teoria da ficção: A pessoa jurídica é uma ficção jurídica, de modo que sua existência
é irreal. Por sua existência não ser real, não possui consciência, vontade nem finalidade.
Teve como precursor Friedrich Carl von Savigny.
Aula 03
Com relação ao STJ, o entendimento que foi adotado anteriormente era de que só era possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crime de forma conjunta com uma pessoa física.
Posteriormente, o STJ passou a entender possível a punição da pessoa jurídica, no âmbito penal,
por crimes ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa jurídica. Este é
também o entendimento do Supremo Tribunal Federal.
SUJEITO PASSIVO: é aquele que sofre as consequências do delito, aquele sobre o qual recai
a ação criminosa. A doutrina divide o sujeito passivo em duas categorias:
Caso não se exija qualidade específica do sujeito passivo material, a doutrina o classifica como
comum. Se for exigida qualidade específica do sujeito passivo material, diz-se que ele é próprio.
Quanto à possibilidade de alguém figurar como sujeito ativo e passivo do delito ao mesmo tempo,
existem duas posições:
2ª posição: não é possível que o indivíduo seja sujeito passivo e ativo o crime.
Objeto do crime:
É qualquer coisa, pessoa ou bem jurídico sobre o qual recai a atividade criminosa e que sofre
seus efeitos.
Fato típico:
É a ação ou omissão humana que se amolda à conduta prevista na norma como infração penal.
São elementos do fato típico:
Aula 03
Conduta:
Conduta (ou ação) é o comportamento humano voluntário, exteriorizado por uma ação ou
omissão, dirigido a um fim. A discussão sobre o que é a conduta deu origem às chamadas teorias
da conduta:
Caso fortuito ou força maior: são dois institutos que a doutrina não consegue
diferenciar de forma unânime, razão pela qual devem ser analisados em conjunto.
Representam tanto as forças da natureza quanto algum evento decorrente de conduta
humana e que seja imprevisível e inevitável.
Estado de inconsciência completa: caso o sujeito não esteja consciente, não há que
se falar em conduta, já que um de seus elementos é a vontade. Deste modo, excluída a
conduta, para o Direito Penal, do indivíduo sujeito à hipnose ou ao sonambulismo.
Dolosa: é considerada dolosa a conduta do sujeito que age com vontade livre e
consciente de praticar ou, prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo.
Culposa: é culposa a conduta do agente que quebra o dever objetivo de cuidado que
deve manter em sua vida em sociedade. Age assim o sujeito que é negligente, imprudente
ou imperito.
Aula 03
Tipo doloso:
É aquele em que o elemento subjetivo do tipo é o dolo. Podemos definir o dolo como a vontade
livre e consciente de praticar a conduta prevista no tipo penal. Elementos do dolo:
TEORIAS DO DOLO
Com relação ao dolo, a doutrina formulou algumas teorias sobre sua definição.
De todo modo, o Código Penal adota a teoria da vontade. Além disso, há previsão de que o crime
é doloso quando o agente assumiu o risco da produção do resultado, demonstrando que o Código
também encampa a teoria do assentimento, no que diz respeito ao dolo eventual. Esta espécie
de dolo será estudada a seguir.
ESPÉCIES DE DOLO
Quanto à valoração:
o Natural (neutro): é o dolo como elemento psicológico, componente da conduta.
o Normativo (híbrido): o dolo possui os elementos: consciência, vontade e
consciência da ilicitude. É componente da culpabilidade.
Quanto ao elemento volitivo do agente:
o Direto (determinado): é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.
o Indireto (indeterminado): é a vontade de realizar a conduta, sem que exista o
desejo de produzir um resultado certo ou determinado. Subdivide-se em:
- alternativo: é a vontade do agente de produzir qualquer dos resultados
previstos.
- eventual: é o elemento subjetivo presente no agente que, sem desejar o
resultado, assume o risco de sua ocorrência.
Quanto ao resultado:
o De dano: vontade de produzir efetiva lesão ao bem jurídico.
o De perigo: vontade de expor o bem jurídico a um risco de dano.
Aula 03
Quanto à natureza:
o Genérico: vontade de realizar a conduta sem um fim específico.
o Específico: vontade de realizar a conduta com um fim específico, que é elementar
do tipo penal.
Quanto a um resultado diverso:
o Geral, erro sucessivo ou aberratio causae: o agente supõe ter alcançado o resultado
pretendido e, então, pratica nova ação que provoca tal resultado.
o Cumulativo: é o dolo que abrange mais de um resultado, na chamada progressão
criminosa.
Quanto ao critério cronológico:
o Antecedente, inicial ou preordenado: é o dolo que existe antes da conduta. Não é
suficiente para a responsabilização penal.
o Concomitante: é o dolo que está presente no momento da conduta, sendo o
elemento subjetivo necessário para a configuração do crime doloso.
o Subsequente: é o dolo posterior à conduta.
Quanto ao grau:
o De primeiro grau: é a vontade de produzir o resultado inicialmente pretendido.
o De segundo grau: é a vontade que abrange os efeitos colaterais, aos meios
utilizados para se alcançar o resultado inicialmente pretendido.
E o dolo de terceiro grau? Existe?
o O dolo de terceiro grau seria a consequência necessária que seria decorrente de se
atingir outra consequência necessária.
Tipo culposo:
É aquele cujo elemento subjetivo é a culpa stricto sensu, ou seja, em sentido estrito. A culpa,
portanto, é a vontade de praticar uma conduta, a qual, por sua vez, causa um resultado não
querido nem aceito pelo agente, mas que lhe era previsível ou até mesmo previsto.
MODALIDADES DE CULPA:
Aula 03
ESPÉCIES DE CULPA:
Com relação à previsibilidade do resultado:
o Consciente, com previsão ou ex lascivia: o agente prevê o resultado, mas
não o aceita, espera que ele não ocorra.
o Inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia: o agente não prevê o
resultado, mas este era objetivamente previsível.
Com relação à vontade do agente:
o Própria ou propriamente dita: o agente pratica a conduta, mas, mesmo
sendo previsível o resultado, não o aceita, espera que ele não ocorra.
o Imprópria, por equiparação, por assimilação ou por extensão: o agente,
pensando estar acobertado por uma causa excludente da ilicitude, por erro de
tipo inescusável, prova intencionalmente determinada conduta típica.
Outra classificação:
o Culpa mediata ou indireta: ocorre quando um agente, após a produção de um
resultado, a partir dele produz um segundo resultado, por culpa.
É aquele que, além da descrição do delito, há a previsão de um resultado que, se ocorrer, torna
a sanção penal mais gravosa.
Tipo omissivo:
TEORIAS DA OMISSÃO:
Teoria naturalística – entende que quem omite faz algo, diverso do que deveria fazer.
Por ser uma ação diversa do que deveria ser, a omissão pode provocar mudança no mundo
exterior, ou seja, pode causar um resultado naturalístico.
Teoria normativa – a omissão é um nada e, por isso, nada causa. Não há como se
imputar um resultado naturalístico de forma direta a uma conduta omissiva, já que ela
não pode causá-lo, por não ser nada.
Portanto, a fórmula da teoria normativa da omissão é a seguinte: Non facere (comportamento)
+ quod debetur (dever jurídico de agir).
Omissivo por comissão: cuida-se de crime tipicamente omissivo, mas há uma ação,
um comportamento comissivo, que provoca a omissão.
REQUISITOS DA OMISSÃO:
Conhecimento da situação que causa perigo: é imprescindível, sob pena de se
admitir a responsabilidade objetiva, que o sujeito tenha consciência da situação de risco
ao bem jurídico.
CRIMES DE CONDUTA MISTA: consistente no tipo penal em que se prevê uma ação, seguida
de uma omissão, sendo que ambos os comportamentos são necessários para a sua configuração.
Erro de tipo:
É a falsa percepção, pelo agente, da realidade que o cerca. Ocorre, portanto, quando o sujeito
ativo se equivoca quanto ao mundo exterior, interpretando-o de forma incorreta. O erro de tipo
recai sobre elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados acessórios. Trata-se de erro
sobre uma situação da realidade que está descrita em um tipo penal.
ESPÉCIES:
Erro de tipo essencial: recai sobre os elementos principais do tipo penal (elementares
e circunstâncias). O erro impede o agente de saber que está cometendo um crime.
Erro de tipo acidental: recai sobre dados da figura típica que são irrelevantes para a
configuração ou não do delito.
DESCRIMINANTES PUTATIVAS: pode ser conceituada como uma imaginação do agente que
existe uma causa que exclui a ilicitude do seu comportamento.
A descriminante putativa por erro de tipo ocorre quando o agente imagina um fato que
lhe permitir agir sob uma excludente de ilicitude.
ERRO DE TIPO CAUSADO POR TERCEIRO: Neste caso, o agente percebe a realidade de
forma equivocada por causa de um agente provocador, que o induz a erro. O agente provocador
é considerado o autor mediato, figura que estudaremos adiante, mas que é aquele que se usa de
outrem para a prática do delito. O agente provocado só responderá se tiver agido com dolo ou
culpa.
16 - Considerações Finais
Finalizamos a nossa quarta aula! Continuamos o estudo do crime e, assim espero
que o interesse tenha aumentado, pois a matéria se tornou mais prática e os
exemplos pretendem ser uma forma de melhor compreensão.
Entretanto, é preciso também ressaltar a densidade desta aula, que possui um
conteúdo que será cobrado de forma mais frequente nos concursos. O estudo da
conduta e dos tipos penais dolosos, culposos, preterdolosos e omissivos é a base
para a compreensão do crime e seus conceitos são imprescindíveis para a análise
de cada um dos crimes.