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PAN NO VEM!

A reunio est para comear e todos esto presentes. Com exceo de Pan, claro... Pan, sempre atrasado. Sempre festejando em alguma caverna ou beira de alguma lagoa ao som de uivos, sibilos e cnticos estranhos. Sempre animando o grupo, como um anfitrio invasor. Quando no est com seus comparsas que, por uma conjuntura absurda de fatos, poderamos ser eu e voc e mais alguns mortais, est de ressaca, com um clice vazio na mo, brindando sozinho rente ao precipcio. Quanta inocncia... Pensar que a existncia possa ser sempre festejada com rodas de mos dadas em volta de fogueiras acesas em qualquer lugar. Resolvem adiar o incio das consideraes. Sem Pan, no h como deliberar... Pan, sempre presente. Nos lugares mais inusitados, mas sempre presente. O volume da msica um pouco mais alto, os sentidos um pouco mais aguados pelo vinho, aquela vontade coletiva de ser um pouco mais e de compartilhar a alegria... E l est ele. Acendendo mais um incenso e pronto para, mais uma vez, reunir o infinito do universo com a certeza da mortalidade. Nessa mistura inslita, todos tendem a esquecer quem comanda o espetculo da noite. Mas Pan no esquece. E distribui olhares pela turba. Dois dias, trs dias... "Pan no vem!", sentenciam alguns. A reunio est cancelada. Pan assim. No se sente, de maneira alguma, responsvel pelas responsabilidades alheias. Sabe do que capaz e sabe porque foi criado. Por que se preocupar, ento? Alis, a bem da verdade, so seus os poderes de impulsionar a irresponsabilidade. Tem plena conscincia disso. Brinca de marionetes cada vez que sente o perfume daqueles que esto dispostos a jogar para longe a fria solido. Pan assim. Seus atos e o seu destino se encontram e se encerram na celebrao da vida. (Inspirado nas viagens conscientes ao subconsciente de Roy Bowers (vulgo Robert Cochrane) - "Os bosques so sombrios e terrveis e entra-se neles atravessando um rio. Ali, o covarde se intimida, o pusilnime foge, pois ali que o iluminado toca o corneta de chifre retorcido e encara a face do inimigo que nenhum homem pode derrotar. Dos outros planos, eu no tenho conhecimento. Exceto no meu subconsciente, como todos ns temos. Tanto conhecimento j foi perdido e h to pouco tempo para encontr-lo novamente...")

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