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A Imprensa,

O Projecto de Regulamento da Produeáo,


Fisccilisaqão e Comercio dos Vinhos
d a fladeira
- --

O H U I I ?';ANr).\L):\ PUBLICRIZ POR L t l l GIZLIPO DE i\GRICLEL'rORES

FUNCHAL
Tip. Bazar do Povo
I FJ i i-j
UIDR ECONOVICR DR YRDEIRR

A Imprensa,
as colectividades do Distrito
E

O projecto de regulamento da Produção,


Fiscalisação e Comercio dos Vinhos
da madeira

OBRA MANDADA PUBLICAR PO# U M GRUPO DE AGRICULTORES

FUNCHAL
Tip. Bazar do Povo
\o publico
Sempre a vinha mereceu aos rnadeirenses a honra da sua cultura
preferida.
Por diversas fazes tem ela passado, succedendo-se a periodos de
grande abundancia epocas de grave escacês, mas nunca isto retraíu o
gosto pelo plantio das videiras.
Por 1852 apareceu entre nós o oidium tltkeri com os enormes es-
tragos de todos conhecidos.
O combate desta molestia, embora tardio, produziu os seus bons
efeitos e novamente se tornou prospera a viticultura em todas a s regiões
do distrito.
A má sorte, porém, não nos perdera de vista.
Por 1872 apareciam os primeiros sintomas do filoxera, avultando
já nos anos de 1876 e 1877 os seus terriveis destroços.
Igualmente tivemos a visita do mifdio com a s suas consequencias
tambem desoladoras.
Comtudo, não caíu exanime o nosso viticultor.
Dava combate a esses males, e, por meio de castas novas e de
algumas das já existentes, procurou sempre manter a continuação da
cultura que a todos os recantos do mundo havia levado, nos aromas do
seu precioso vinho, o nome da nossa amada Madeira.
Passou o tempo na sua voragem intensa, passaram a s gerações
no seu esquecimento trivial, mas o nome-Vinho Madeira ficou inde-
level e conhecido de todos os paises.
Iam assim os fados desta ilha.
De repente, inesperadamente. muito na sombra, surgem microbios
de uma doença nova.
Era a narasitiiria d o projecto de um novo regulaniento para fisca-
lisação e comercio dos vinhos desta regino.
Peor d o que o oidium, mais doloroso do que o fi/oxc'rc7, iriais
aterrador d o que o mifdio, o projecto fez tremer o distrito inteiro.
O deleterio veneno d o imposto, o dardo da fiscalis~jqdo,os espi
nhos dos eniolui~ientos\ ? i h ~ V3 ~ I ~ Tccrtçi!-ar~ieii
I te ~i r i i i n ~tios
~ dgr.ici!ltor~s.
Pois isso, foi profundo e estremecedor o <]balo cri] todas a s c l ~ ~ s s e s
vivas d o arquipelago.
Não tiodve revoltas acesas, não houve disturbios, diiiceis seriil>r.e
de acalmar ern casos faes; mas houve o protesto 01-deirode todos ri~1rnc7
só voz, num só brado, contra a nionstruosidade do projecto.
C1 grito de alarme solto pela Comissão de Viticii1iiir.a i-dpido ecoou
por toda a irilprensa e por rodas a s carnadzs sociaes, cor11 n luz da ver*-
dade c justigd a csrndgdi- iiegrur~le i.~iindadcd o p r ~ j e c t ~ r ddiplorntj o
Desde a Junta Geral á mais pobre carnara cdmpesin~i: desde CI
Associação Comercial á mais peqiiena colecfividade opcrcíria; desde o
grande viticultor ao mais niodesto contribuinte ; desde os mdis liberaes
aos mais conservadores, todos, con-i egualdade de vistas c. se~itirneiitos,
fizeram chegar ao governo, trei~i claro e firme, o seu r~iovimentode re-
provação 'as zlausulas do nefando projecto.
E o rnonstro caíli para a vala, levando por despedida apenas urnas
lagrinias dos seus auctores!
Passava-se isto em meados de 1915.
Tempos depois, porém, em Fevereiro de 1916, resuscitava ele sur-
rateiro numa alinea do projecto para autonomia da junta Agricola.
Não s e fez esperar a indignação, que em onda, de novo, movirrien-
tou todo o Funchal.
Vae isso contado no livro A ~mbrensae os T r f s Projectos.
Siiperfiuo seria, portanto, repeti-lo aqui.
: :k

Este volume é, pois, o complemento do citado livro.


Compila a opinião dispersa da imprensa e das colectividades d o
distrito, propõe-se facilitar a consulta dessas opiniões e deixa dos viti-
douros este exemplo de solidariedade.
Funchal, Outubro de 1916.
Un7 grupo dc agricultores.
Comissão de Viticultura

Junta Geral

Associação Comercial
Comissão de Yitieultura da Regiao da Nadeira

Sessão extraurdinaria de 23 de Agosto de 1915

Reuniu honteni a Comissão de Viticujtura d'este distrito a fim de


ouvir o parecer da comissão encarregada de estudar o projecto de Regu-
lamento da Produção, Fiscalisaçáo e Comercio dos Vinhos da Madeira.
O parecer da cornissáo, que foi lido pelo respectivo relator, Sr. rir.
João Alexandrino Fernandes dos Santos e que adeante publicamos, é
um trabalho consciencioso e brilhante, em que aquele projecto de Regu-
lamento é apreciado com aceíituada independencia e bom criterio.
A nossa viticultura é dignamente defendida no parecer da comis-
são, em absoluto contraste conl o que sucede no projecto, em que se
cuidou de tudo menos em proteger e garantir os nossos interesses
vifjcolas.
Fokgarnos sinceramente com a atitude patriotica da Comissáo de
Viticultura, que tão acertadamente lavrou líontem o seu protesto contra
um projecto de regulamento que, a ser aprovado, traria comsigo horas
bem amargas para a população desta terra.
A falta de espaço inibe-nos hoje de nos ocuparmos com niais lar-
guesa do referido projecto, o que profundamente lamentâmos. Dentro em
pouco, esperamos todavia aprecial-o, principalmente no seu art." 31,
onde se consigna uma disposição tributaria que, a nosso vér, representa
a maioi-, a mais grave e a inais sinistra alcavala c o m qiip se poderia.
nesta hora, dificultar a nossa ecoriomia.
Por hoje, liniitamo-110s a asegurar o nosso apoio áqueia Corii issdn
em tudo quanto faca qile represente um esforço ein prol da nossci viti-
cultura,--uma d a s grandes fontes de riq~iêsadesfii i-eqiáo agricola.
A sessáo

E' aberta poiico dep&s d a s 11 horas da niaiihá. tomaiido a pre-


sideiicia o sr. dr. Antonio Silvino de Macedo, tendo sec!-etai-icldo o s r .
dr. João Alexandrino d o s Santos.
Estão presentes os vogais srs. dr. Manuel dos P ~ ~ S S OF'reiras,
S
Pedro Augusto de Gouveia, Nuno Cardoso de Castro e Abi eii, Luiz
Pedro de Sousa Pereira, dr. Antonio do Monte Varela, Quintino Adelino
de S o m a Pereira, jiilirr Ferreira Cabra1 e Antonio Alexandre da S,çil\l~~
Junioi..
P~ocedeu-secm seguida 6 leitura da acta da sessão aniei,ior, que
foi aprovada s e m disciissáo.

O parecer da comissão sobre o novo


vroiecto de reauiiamento de vinhos
Cb s r . dr. Alexandrino dos Santos, que havia sido norneado r1~2ses-
são transactcl relator da comissão escolhida para d â r o seu pdrecer sobre
o novo projecto do regulamento da produçáo, fiscalisação e comercio
dos vinhos da reyiáo da Madeira, lê o reiatorio da referida comissáo
que e ds teor seguinte :
Ex."OS Presidente e Vogais da Cr~~nissão
dc ViticlrlfLlrc7 da' Regiao da Madeira.

(luizestes que uma comissdo estudasse, sri melhor, désso pai'?-


cer sobre o projecto do no\lo regulamento para o comercio d o vinho da
Madeira. E essa comissão, no desempenho do encargo que aceitou, vem
apresentar-vos hoje, a traços largos, 6 certo, m a s com a clareza e
consciencir? que o caso requer, as impressões colhidas na ligeira ieiiura
ctesse projecto.
Ei-13s:
Art. 4.1~---h sede da Çomiçsao de Vitictlltura haverá:
I ."-- IJrn livro de registo, (modelo n." 2), onde serão escriturados todos
os tipo3 de viriho creados na região, seus nomes comerciais, castas de irvas
que os produtem, loc~iliclade2;protitttl>ritr;, pcr~.znriig~~jn írlcc>oli<:i ts i ~ o i i ~ c {J,,

comerciante a que pertericem.


2." LJm livro dc r q i u t o . rnoiielt~ 0 . " ,i. oncle herrto irisci-itct.; iocias a,
castas de uvas esis tci~ tes i l i t ~ ~ * g i í 11"
j ~ , t i l ~ i i < ~ i ; ~(Iít5
t ~ t ~ i l l i ~ i i tp~rl cosd -~ ~
~ í tl ~
toras, se são de produção dii-CLta, t1po.s clc i t ~ h ocj~icpi~oijiizt.in,oii .;e .;;ic,
para mêsa, siia origelil e epoca prova\.d cI;i G I I ; ~ inirodti~áolia A\atkir;i.
3." u n i ~nostrriariode todos os tipos d r v i i ~ h c i~~sisIr.ritei; iiri rtbxi;io,
garrafas rotu1:icl:is corli O niiincro de or~leriiqiic Ihcs pei-tciicet-, i;cgitiiJo O 1-C
gisto rnoclelo 2 c. suas ~ c ) t ; i q ò ~r~ro\
n.li i ;i\<i?. L ~ I I L *< ~ rira \ dd tipo-patii-ao.
.4rt. .i.0" s ele~iieiitoscit: i i ~ i o r ~ ~ ~;I~ Li~~L ~; Ct *o I ~ C ~ L ~I S) C11." 2 ,Ai.{.
4.O, serào fornecidos pelo l)c~legitdo X~r~colíi í'ii ncli;i!, que, 1x1r;i [:li ii~l;,
procederi aos necessiirios esti~dos11c in\estigíic;ito, t a n t o rio que r-cspeitli ;i.;
castas dc itvas jíí c~istcriirs.c o m o ~ísqiit., de i~itiiro,iorc!n iti~port:tcl;is p:tr;i
producão.

Falam O S arfigos 4 . ' ' ç em ixos:ruririos, t.cgii;:us cle iipos,


castas de U V ~ S , localidades protiutoras, origem histcli-ica da ~ I V C época ~ ,
da sua introdr~c.ão nn Madeira, ;;c?rrafíts, rotirlos. C O ~ ~ C ~ Gp aL dSr ,õ e s ,
castas exisfentes e até cc?std~que t ~ i r m t tridc;. ~ 2:;ii.lciil.
P O ~ I I ~ Opalavroric,
SO se111 i * ~ ' ~ i ~ ! t ~ l! dI tV: h~ I ~ I ~ prílticoct
~DS ;?em titeis.
E' tão peyilcrlíf it cidade e ião r-edttzicios crs iipoi, ern q ~ i eanda di-
vidido o riosso pi.ecioso uirrho ,Vacicir.a, qvc' ec;i,c f!ii>sir*~~<lri;-) c (1s h i s -
forias sobre castm c 6 p o ~ i lda nua introtiu~áo,sisr\;ii-iam cipenils yai-a
fazer a s delicids do tinr ai.i-cinc.doC!? \ ; ) ~ c L T o , j ~ i í ~d ùf ~Con1i:5~470de Viti-
cultura, assim, rimei tlsyr?cie dr f("i-!x->irelho, ~ , i fr*cgrrc?ses. r
E' do conhecimento gc-r.a1 qiie o rngrcado do v i n h a M d d c i i ' ~ ~está ,
n o extrangeiro, onde r7 sua \rericl~t tt.in srdo feita iz ha-de c~niirouai.c,
fazer-se exclusívarnenfe por ir~tvi~rnedic: dos agti::tc-s que a s casas e x p o r
tadoras ali rnaijteern.
E aqui, na çibacle, o pds~ugctii'oque pcx-venrura qiizira cornprdi-
um ou dois galões de.vinke, para beber rias horas vagas ou oferecer a
um ainigc). em dias ~*oi&nes, nuricd S? IernBi-ar6 de ycrgur:iai- pelo fdn-
tasioso rnosfruario (ta f:o~ríissão Zc Vi tict!ifiiis~.Nada d'isso : vae di-
reito aos armazens, onde escoltie d sua vontade, sem que Ihc dtori~~eri-
tem os ouvidos com a cantiga de yi;e tírl i r i ~ h oe de unia casta que
acabou e tal outro das c:debres castas yijo dinda estão p~?rtfvil:' e pois
este modo não perde tempo, qite, n o dizer exacto dos ingiezes, 6 di-
nheiro, nem faz caminhadas em protaircl dc urna Comissão ytrc nern ele
pócie mesmo saber qlie existe!
Os citados artigos, yorianto, só cortlpiicani serviqos, arranja111
trabalhos inuteis, criam perturbacões e preparam as coiws para fazer-ss,
junto da Comissão de Viticriltrira, um miizeu cfe emliregados.
Irnpoe-se, conseguinteinente, a siid clfminaçc?s.
Art. 6.0--Apenas é permitida a entrada na Regiào dos vitihos da Ma-
deira, aos vinhos generosos do Porto, de Carczivrlos e Moscatel de Setuhal,
e aos demais vinhos generosos nacionais, quando engarrafados e clestinados
ao consumo local.
A este artigo deve ser adicionada 1' clausula de ser permitida a
entrada do vinho de pasto continental na Mdcieira, rias condições eni
que presentemente se faz.
O contrario será inadmissivel, visto que, por ernquaiito, não pos-
suimos esse tipo de vinho nas condições que o mercado exige.

Art. 7.0-Haverá uma Comissão coinposta de viticultures, que se detio-


minará Coinissáo de Viticultiirri da Regiao da Madeira com as atribuiçòes se-
guintes :
1 .'+--Fazer o registo das oficiiiíis de viilificação. c0111 a iiidicação do riii-
mero de ordem, local oiidt. se eiicontrain t. iiomes dos seus proprietarios,
administradores ou seus representarites I modelo 1 1 . ~ '4 e conceder-lhes as res-
pectivas licenças de laboraçiío ' modelo n." 5 .
Mais adeantc trataiSeinoseste ponto por ocasiáo do artigo 25.".
3.0--Orga~~isar,sttgui~doos ii~anifestosde ~-iroducàodos viticultures, LI
inscriçc'io dos produtores de vinhos por concelhos íinodelo 7') onde serao
n.lJ

escrituradas as quantidades de vinho yrodtizidas, dando baixa das que forem


exportadas nos livros de registo dos anos u qtie estas quantidades se referirem
com a designaçáo de tipos e localidades de destino dos coinpradores, devetido
indicar-se coin a possivel exactidAo a'; ccttaç0es dos inostos e viilhos nas diie-
rentes localidades da região.
4.O---Abrir um livro de coiitas correntes, t~tiodelon." 8 onde serào ins-
t

critos todos os exportadores e deii-iais comerciantes de vinhos da Madeira,


com a movimentação dos vinhos adquiridos, exportados e consumidos ria re-
gião, do alcool a que tiverem direito e do que houverem obtido para tratamento
&s mesnios vinhos, passando aos interessados as respectivas certidfies, quando
exigidas.
5 . O -Fazer, de harmonia com os 1 1 . ~ ) ~3 e 4 do Art. 7.0 uin registo es-
tatistico da movimentaçilo dos vinhos da região i modelo ii." C) ) por onde se
reconheça, anualmente, as quantidades de vinho produzidas e consirn-iidas,ex-
portadas, e eni sêr, em 31 de Ilezembro de cada ano.

Os 3.0, 4 . O e 5.0 devern ser redigidos de modo que se limitem


n . O S

sómente á organisação da estatistica e quantidade de alcool a que teem


direito os manifestantes.
Tudo o mais que neles se encontra tende para a confusão, diluicão
de serviços e visa a uma mera fantasia de trabalhos. São uma poeira
para deixar encoberto o inuzeii cfe empregados, tão habilmente pi'econi-
sado pelo projecto ern questão.
8." -Criar na séde d a Zornissao d e \'iticultura, coin o mostruario a
que se refere o i-i." .3 do ari. 4." e demais produtos inerentes, um rnuzeu re-
gional viticola onde os interessados possam praticamente orientar-se n o s
assuntos d a especialidade.

Este numero ocupa-se ainda d o rnosti-~~ario e abertamente impõe


o muzeu viticola!
Faz rir a s proprias pedras, estci de nr11 iniiííeu viticoia que ninguem
sabe para que serve, nem s e vê em que com ele possa lucrar a viti-
cultura, E' o caso: far-se-hia um miizeu de gente viva, como por essas
terras fóra os fazem de aves raras.
Deve ser eliminado tambeni.
O.o- Admitir, dentro d a s verbas orçamentais, o pessoal extraordinario
considerado indispensavel para a completa execiiçlio d'esta lei e ao abrigo
d'ela, por em pratica todas as medidas repiltiidas necessarias fi rrepressào da
frartde e a o desenvolvimento d a viticriltiira da região.

Este numero é uni explicação a tanto artigo desnecessai'io, inntil e


prejudicial que anda semeado por todo o projecto.
E' o polvo a espreguiçar o s tentaculos.
A Comissão é que cozinha o orçamento, a comissão é que chama
pessoal sem conta nem medida, a Comissão e que estipula ordenados, a
Comissão, quem sabe até! é que ha de inveniar serviços, sempre que
haja gente a querer ser servida!

Não, Senhores! A Comissão de Viticultura não necessiia de pes-


soal, alem do que já tem, para bem desempenhar-se das funções que
Ihe são cometidas. Energicamente protesta ela contra o desperdicio que
este artigo representa, como energicamente repudia a s largas faculdades
nêle contidas e que a tornariam mais uma agremiação politica do que
uma sentinela da viticultura.
Sim; que fique consignado de uma maneira iniludivel o nosso yro-
testo veémente contra semelhante disposição.
Imagine-se o que não deveria ser uma Comissão com amplas re-
galias de chamar o pessoal extraordinario que lhe apetecesse, (n." 9 do
artigo 7.0), com o s vencimentos que lhe ayrouvesse, com carta branca
ernfim, para a distribuição de grossas fatias que a Junta Geral forçada-
s
.mente era obrigada a pagar, (artigo 22.0 e seu unico).
E', pois, a vossa comissão de parecer que'este n.O 9 seja completa-
mente eliminado, de modo que nem a s virgulas lhe apareçam.
10." --Elaborar, e enviar u IIirec.80 Geral da Xgriculti~ra.depois de
respectivamente votado pela Cotnissào de \'i~içulturo. um relatorio anual dos
seus trabalhos, em que se apreciei11 os restiltados da estlcric.ílo da preseritt: lei,
e onde se consigne o registo estatistico a qtie se reiere o n." 3 d'estc Art. coin
indicação da diierenca qttaiitit~itiv:ipura mais o i i para iiienos do ~ 1 1 1 0niit~rior.
receita e despesa da Cornissào t' oi~tro.;ett.r:ientos r l t i ~i ti~ tc'ressein lios st.ri.icos
vi ticolas.

A parte final deste numero deverá desaparecer, como corisequeri-


ciã do que fica dito corn respeito a outros numeros e artigos.
1 1 .O- O registo estatistict), modelo ri." 9 a que se refere o r1uinei.o ari-
i

técedente, deverá tambeni sei' enviado á Direcção Geral da Estatistica, a


quem deverá0 sêr cotnunicadas, até o dia 15 de cada mês, as yuantiitades de
vinho exportadas e consumidas iia regiao.
E' inexequivel a preterisão i'elativa á estatistica do vinho consu-
mido por mês na região. Exigiria isso uma infinidade de empregados,
sem beneficio nenhuni para a viticultura. E' mais um desperdicio que
deve desaparecer.

1 b."-Organisar, iia icírmti estubelekida para os corpos admiriistríttivos,


os orgamentos ordinarios e suplementares que iorem necessarios, os quais
entrarho em execuçao depois de aprovados pela Comissào de Vitict~ltura.

Hoje, todas a s desyèsas estão a cargo da Junta Geral e é esta


quem a s orça e paga, fiscalisaiido, por este modo, a sua execução. Que
necessidade ha, portanto, de acabar com essa fiscalisação?
Que vantagens podem resultar para a viticultilra do facto de ter a
Comissão orçamento proprio?
Nenhumas, absolutamente nenhumas.
O numero 1 6 . O , pois. não deseja a fiscalisação da Junta Geral, quer
que nada passe do segredo da Comissão, e vae mais longe, estabele-
cendo nas entrelinhas. a necessidade d'um tesoureiro pagador, de que
por ora se não fala, para não afugentar a caça, mas cuja nomeaçáo s e
não faria esperar, pois iá está o n." 9 d o mesmo artigo 7. que é pana-
ceia para todas a s molestias.
Eis para que se quer que a Comissão de Viticiilt~ira passe a ser
uma fabrica de aqamentos.
Imp6e-se, pois, a eliminação do n.O 16." e assim o vota a vossa
comissão, conscia de que pratica um bom serviço.

I f .O Conceder premios precuniarios aos produtores das irieltiores


castas de uvas antigas c de mesa e. bem assini, aos produtores dos melhores
tipos de vi~ihoaespumosos, de pasto, generosos, mostos esterilisados, e outros
produtos vinico.: fabricados coin iirras da regiao.

Isto de yreniios pecuniaric~sé rnais uma historia, mais uma nuvem


a ofuscar a luz dos artigos esbanjadores, de nenhuma utilidade, por-
ventura até prejudicial, pelos escandalos e favores a que podem dar
logar .
Depois, ninguem ignora que é o proprio vinho que o s hade pagar
e no final, para o viticultor, tudo isto redunda em decrescimento do preço
do mosto.
Nada d'isso, e elimine-se !g~ialrnznteeste numero,
Art. S.('
9 3."-- A tlleic;ãu dos vogdis s~tbstit~~tos
só poderá recair ein viticul-
teres y iie residam dentro cio respectivo concelho, onde será obrigatoria a re-
sidencia dos efectivos que estejam em serviço na área que Ihes disser respeito.

Nr?o concorda a vossa comissão com a parte do 3 2." que torna


obrigatoria a residencia, no respectivo concelho, aos procuradores efe-
ctivos e subsíitutos da Comissão de Viticultura.
A prevalecer esta atrabiliaria disposição ficaria a Comissão inteira-
mente na mão d o s concelhos do sul da ilha da Madeira, com exclusão
dos do norte e da Ilha do Porto Santo, o s quais, pela distancia e difi-
culdades de transporte, nunca tomariam assento nas reuniões da mesma
Coniissão, o que, além de injusto e inuti1, póde vir a ser muito prejudi-
cial.
Man~en hd-se, por conseguinte, a parte relativa a o s vogais substi-
tutos, tnas elimine-se a respeitante aos efectivos, que poderão ter a sua
residencia em qualquer parte do distrito.
E' bom acrescentar ainda que essa restriçáo não existe, nem para
a junta Geral, nem para a Junta Agricola, nem para nenhuma outra enti-
dade que represente interesses de todo o distrito.
3 3 . 0 - -Nu iittpedimeiitu ou vaga dos vogais efectivos e substitutos a
Loinissno de \riticultura chtiniará ao serviço o candidato mais votado pelo
concelho.
Entende a vossa comissão que a chamada de vogais á Comissão
de Viticultiira será regulada pelo qlie se acha legislado para o s corpos
administrativos e não pela ietra d'este paragrafo, que é laconico e defi-
ciente.
4 . - Qiiundo ein qiialyuer- coiicelho nCto teiiliam sido votados mais
iien hiins caiididatos, além dos efectivos e substitiitos, a ComissBo de Viticul-
tura nornearzi viticliltores idoneos que os rubstitiiir8o ate a elei~ãotrienal:
Segundo este paragrafo a Comissão de Viticultura nomeará o s
vogais, tanto efectivos como substitiitos, precisos para a s vagas que
SP: derem nos concelhos em que outros não hajam sido votados.
Ate isto vem, com arte, aproveitadinho.
Imagine-se agora que por quaisquer atritos, por morte, dusencia,
o u outros motivos, iam abandonando c.t C=ornissi5~>,
a P O ~ I C Oe P O ~ I C O , OS
respectivos vogais. Bela pechincfia! Erd a Loinissdo que nomeava e,
como tal, já se sabia que a escolha teria de recair em individuo de
genio facil ou quiçá em quem o s empregados indicassem.
Optimo, tres vezes optimo, não ha duvida.
Mas imagine-se agora a hipótese de se darem essas vagas si-
multaneamente em diversos concelhos e que Acava a Comissão com
numero inferior ao necessario para reunir. Como saír d'esta contingen-
cia 3
D'estas ninha~*ias não trata o projecto, que outro fim mais alto se
aievan ta.
Pois, senhores, nada d'isso pode servir. O s vogais da Comissão
s6o de eleição, e, portanto, s ó por eleição podem ser substituidos, ou na
falta d'esta pelas Camaras, representantes dos povos, como já s e acha
estabelecido pelo Decreto nS0251, de 18 de Dezembro de 1913.
O contrario seria caminhar contra todas a s praxes e tirar o cunho
popular que a eleição da a todos os viticultores na escolha dos seus re-
presen tan tes.
Pelo projecto todas essas regalias, a tanto custo obtidas, lá se vão
por agua abaixo e a Comissão, de queijo na mão, ficava com o direito
de escolher a faca que o devia partir!
impossivel !
Eliminado deve ser, portanto, este paragrafo, mantendo-se só-
mente a nota a sua margem feita a tinta vermelha.

Art. 9 . O - 0 s vogais da Comissào de Viticultura seráo eleitos pelos qua-


renta maiores viticultores de cada concelho, inscritos no registo dos produ-
tores de vinho da região, a que se refere o Art. 28,

A vossa comissão é de parecer que os vogais á Comissão de Vi-


ticultura devem ser eleitos por todos o s viticultores e não pelos quarenta
maiores, de maneira que todos possam convenientemente interferir nos
interesses viticolgs e vinicolas que Ihes dizem respeito.
E' coisa mais aceada, mais liberal e mesmo mais harmonica com
m regimens democraticos.

Art. 1 I.*-Será Presidente da ComissBo de Viticultura o vogal que para


esse fim fôr eleito pela mesma comissão.
Deverd ser iri~xiificadoo artigo 1 1 para que fique obrigdtoria, oti
pelo menos facultativa, a eleição do presidente e secrefario na prirneircl
sessão de cadd i l r i o .

Art. 1 S." -t'crJerrio o sctl 111ili1Jiii0lia C ~ I I I ~ S Jt:


S ~ \.'itici~lt~~t'í~
IU c)'; VO-
gais que, posteriorniimte á sua eleiçao, se turiirtrem c.oi~~er~.iaiitt.s
tle v i n h o
ou de alcool, seus comissarios, agentes ou empregados dc qriiilquer c-ateao-
ria, ou passarem íi fazer parte dos corpos gerentes de iomparihias viriicolns
ou adegas sociais.
5 unicc) ['ara u efeito d'cstc* ,tr-iigs, L cirr 2 1." d o iir-t. 0." c deriiitib
casos aplicaveis, cctnsiderarn-.;c coiner-ciriiiics de vii~tios,os viticiiltort's que
tendo-os armazenado, os veíidaiti, em estabelecimetitos S C L I ~011 , qiie, depois
de convetiientemetite t ratlidos, os cGdatt1 :i outras e11tid~ic1t.s.

E' esta coniissão de opinião que, tanto este artigo c scti pdragrafo
como a nota que lhe fica a margem, a tinta encarnada, precisani ser
modificados, de modo a não ser considerado comerciante de viriho o
viticultor que, armazenando o sei1 vinho, o cêcin, por yrosso, a outras
entidades.
Exemplifiquenios ;
Um viticultor qualquer, e o cdso é frequente, não elrcontrii coiiiprd-
dor aos seus mostos e d'ahi a necessidade. c rniiitas vezcs o sacrificio,
de os encascar, á espera de colocaçáo.
Logico e forqaso é que os trate, poryiie sc cissitn o não fizcri. nerri
chegam a produzir vinagre que preste.
Deve este cidadão perder a qualidade de ser eleitor e o direito de
ser elegivel para vogal a Comissão de Viticultura, s e ele não comerciou,
se ele não efectivou compra de vinhos, mas apenas cuidoti dos que Itie
produziram a s suas propriedades?
Não, certamer-ite.
- E quando assim o não seja, o viticultor, que vende o seu vinho
em mos., tem de ser excluido d'essas funcções, visto que tambem
cometeu o pecado de vender cr seu mosto.
Estas considerações levam a Comissão a opinar que comerciante
de vinhos é s ó aquele que compra e vende esse produto para comer-
ciar em negocio aberto.
Art. 1 S."
9 ~inico--A (;omisscio Executiva fuiicio11ar;í pelo nlesino tempo qtie a
ComissiIo de Viticultura.

Precisa tambem ser modificado este paragrafo, para que á Co-


missão Executiva se não ri~antenhamestabilidades, ás vezes perigosas.
A sua redacção devera ser. a seguinte:-«A Comissão será eleita na pri-
meira sessão de cada ano, podendo ser substituida sempre que a Co-
missão de Viticultura assim o entenda, em qualquer das s u a s sessões,
sendo presidida e secretariada pelo presidente e secretario da Coniissão
de Viticultura».
A ~ F 16.()--A
. Gornissào de \'iticiiltlrra reunira, wssao ordinaria, tlma
vez em cada ano, independentemente do convociigrio, n o clia .3 de J;ineiro, e,
extraordinariamente, qtiando for convoc;idii pelo Presiclentr.

Igiialmente deve ser reformado o artigo 16.' para que fiquem obri-
gatorias duas sessões da Comissão em cada ano, inclependenternente de
convoca~ão,nos dias 3 de Janeiro e 3 de Novembro, e havendo mais a s
extraordinarias que o presidente julgar necessarias ou que lhe sejam re-
quisitadas por qualq~iervogal, em requerimento fiindamentado.

Ar{. 18.0- O serviço de fiscalisaçZio jirntc-1 das fahricas i~irttricu\adast:


setis depnsitos, na parte respeitante ao fabrico e venda de alcool, ficará a
cargo,da fiscalisação dos impostos, ao servi(;o da Jurlta .?igricol;t da Madeira,
sem onus para as referidas fabricas.
8 I -Os servivos de fiscalisaçáo dos vinhos e d o uIcooi qtie circulareni
.Ib

na região, do n~anifestodos produtores, registo de lagares e demais serviços


inerenies que estavam a cargo da DelegaçRo Agricola do Fiinclial, passarão a
ser desempenhados pela fiscalisaçâo da Junta Agricola da iMadeira.
9 2."- --O alcool a transportar para os depositos concelhios, serd acom-
panhado por praças da gtiarda fiscal, mediante requisiçiío da fiscalisação d a
Junta Agricola da Madeira, feita ao Comandante da Secçáo respectiva, conti-
nuando aste serviço a ser pago pelas fabricas rn:itriculadas.

Guardaremos a discussão do art." 18." e'seus 53 para o fiin da


presente exposição.

Art. I 9."---Para execi~çàodos serviqos da Zomissao de C'lticu ltilra,


haverá um chefe da secretaria, um escriturario de 1." classe a que será pro-
tnovido o que, de harmonia c a ~ na lei n." 26 de 9 de julho de 19 13, Ilouver
completado seis anos de serviço, putro de 3." classe e um servente.
5 unico -Ao chefe da secretaria incumbe dirigir todo o expedicnte da
Cornissao e inspecionar em toda a região os serviços inerentes B moviiilenta-
ção vinicola dos trabalhos que lhe dizem respeito.

Estamos chegados a um dos grandes estomagos do projecto.


Na Comissão haverá um chefe de secretaria, um escriturario de
1 ." classe, outro de 3." e um servente. Logo abaixo:-Ao chefe de secre-
taria compete, além do serviço de secretaria, inspeccionar em toda a re-
giáo, os serviços inerentes a movirrielitação vinicnla. (r) rrnico d o citado
arto).
Mais abaixo fiinda, rii-tigo 23.": --os venciinentos do pessoal serão
equiparados: os d o chefe da secrcitar'ia a o s d o s chefes de serviços,
os dos dois escrii~ira~=ios e d o seri,erite dos dos funcionarios da mesina
categoria dos quadros da Direcção Geral da Agricultura.
D'onde vem, pois, este chefe de secretaria com o segredo dd mo-
vimentação mais exacto seria dizer-se com a arte de contar yiiiloinetros
para traz e para deante em todo cssc ciistí.ito,---que todos saberh ser
desnecessario e que iodos reconheceiri ,.it r L ~ I I ~1~>~perdicio?
I
Este logar, senhores, ficari tendo o s \reiicimentos segiiintes: Ca-
tegoria, 900~00-Exercicio, 180x00 Ajiadas de custo. 2sOO por dia--
Subsidias de marcha, s15 por quilornetro.
Quer dizer, o bolo é superior a 2.000 escudos por- ano, pois lá
está a movimentação para duplicar o movimento fixo.
Convein notar que estes vencimentos, regulados pela lei n." 26,
apenas competem aos engenheiros-agronomos de 1." classe, iogat-es
que s ó existem nas sédes d a s 3 grandes circunscriçóes dgi.icolas em
que está dividido o paiz e a que stí sc podc chegar depois de iriiiito tra-
balho e quasi no fim da vida, depois de ter percorrido d s escalas infe-
riores e com o curso completo do Instituto Superior de Agronomia.
Para aqui nada d'isso e preciso: um qualquer rapasito era posto
no altar e a Madeira que o adorasse.
Devemos referir tambem que na citada lei 11." 26, o distrito d o Fun-
chal foi classificado em secção e sujeito á circunscrição de Evora, a
qual abrange 8 secções, e curioso havia de sêr que n'uma estação infe-
rior s e fosse encontrar empregados, não sá com gradiiaçóes iguais, mas
com vencimentos superiores, visto que o quilometro no continente s ó
vence $03(5) e por consequencia convida pouco aos taes passeios da mo-
vimentação,
E que movimentação, s e até é praxe ser feita dentro da propria
repartição !
A idêa desse logar choriido na secretaria da Comissáo de Viti-
cultura, com ordenados fabulosos, é uma mania velha.
Em 1913, já houve quem levasse 9 Ministerio do Fomento a apre-
sentar á comissáo encarregada de organisar o regulamento de 8 de
Novembro desse ano, a genial proposta do logar de secretario da
Comissão de Viticultura, com o s pingues vencimentos de agora.
Essa comissáo, honra Ine seja, não caíu no embrulho e desancou
a manigancia nos seguintes termos:
« E X . ~S*n r . Ministro d o Fomento. Havendo Sua Ex." o Snr. Mi-
nistro do Fomento em sei1 despacho de 13 d o corrente determinado que
esta sub-comissáo fosse ouvida sob a s alterações que s e propõem a o
regulamento da produção e comercio do vinho da Madeira, de 13 de
Novernbro de 1913, a sub-comissão, tendo-as estiidacfo, e riao achan-
do razões que as justifiquem, contra elas se pro~iurici~t.l'etlrri errr vista
estas alterações:
Criar urn logar de secretario da Comissão de Vitictil~iir.cidn Ke-
gião da Madeira.
Achou bem a sub-comissão que houvesse a s c cargo, que aquele
decreto, talvez por lapso, não estabeleci~i.$Ias cièsdc logo discordou
corn que esse logar fosse desenipenhado por qucrri rido fizesse parte da
proprla Coiii issão.
E' principio estabelecido, em qualquer cc>ryo adr iiin istrativo ou
comissão constituida por representantes de uin dei eriiiinado greniio
ou classe, que o respectivo secretario seja um vogal oii rriembro desse
corpo ou comissão. O codigo administrativo, receiifernente, fixou este
principio, pois dispõe que os secretarios dos corpos adriiinistrativos,
outrora de nomeação, sejam de futi~ro,eleitos dos seus nienit)ros.
Assim, sendo a Comissi3o de Viticultura, constituidd por viticuf-
tores, representantes dos produtores de vinho da Região da Madeira,
de rnodo algum deve exercer esse cargo da Comissdo, quem dela
não faça parte.
Propõe-se agora que uma das funçóes do secretario &a a de
fiscíilisar o s trabalhos da Comissão. Como assim? As func;óes de
secr;tario não podem ser outras do que a s de dirigir o expedienfe d o s
assr~ntosda competencia da Comissão, conforrne dispõe o regula-
mento e nunca a de fiscalisar o s trabalhos a cargo dc7 mesma. Nem
quando o secrerario seja iim vogal da Comissão tal airibuição 6 dd-
missivel; ela s ó póde e deve competir ao Presidente; quanto ri~aisdal-a,
como s e pretende, a quem, evidenten~ente,ficaria sob a alçada da mes-
ma Comissão.
O decreto de 11 de Março de 1909 dispunlia que para a execuqão
dos serviços que competem á Comissão Executiva Iiouvesse uni chefe
de secretaria e um escriturario, inciimbindo especialmente ao prin~eiro
o serviço da estatistica vinicola.
A sub-con?issão, ao elaborar o regulamznto de 13 de Novembro
de f 913, entendeu que uma vez estabelecido o cargo de secretario da
Comissão. se torndva dispens;il~~elo logai. de chefe da secretaría, cri-
arido em S U ~~ubstiiuição,mais um logar de escriturario. E realmente
dois escriturarios deveni hastar para o bom desempenho do serviço da
secretaria da Comissão.
Ha a considerar, por ~iltimo,a remuneracão que se propõe do logai-
de secretario.
Tem a Junta Geral do Distrito do Funchal, a sobrepezar-lhe já: a)
a quantia de 1.OCW)$00 para ocorrer ás despêsas que os membros da
Coiiiissáo de Viticult~irafizerem no exercicio dos seus loyares; h) o s
vencimentos dos escriturarios e do servente da secretaria da Cornis-
são e que g ã o poderão ser inferiores a o s dos funcicsnai-ios da rritzsind
categoria d3s quac1t-0~da Direcção Cieral da Agricultura; c) a s despe-
zas do exp-.diente t f i l (:ctririssáo e iocifis a s demais qtic forem necessa-
rias para a çornpict(r ci\cx r i : : r i o c i o !-trit~!~íinei~to.
Pois a l é ~ d'estes
i encar-
gos, que domasiiido ci bot~re~dr-i-rgd111, quer-se ainda que clta arq!ie corri
a despeza de 1.080~00anuais, vencimentcj cio referido sccretai-io, cor-
respondente a o dos Chefes de Serviço da E)irecção Cizrctl da Aqricill-
tura.
Lisboa, 16 tfe f2evci-~irode 191.2

(aa) C;risfó irão l\forrix A r i i í c i ~ ~ d/-I


u r f ~ l i(J17
- Sei~hrcj- ;I rfr~l.I//*-
bano de Cctsfro.

Este parecer veiu depois a Cornissão de Vitic~iltiirayuc', cm S C S -


s ã o de 18 de Março de 1914, apoiando-o, protestou ccm:i-n a cridção
desse logar-, que classificou de escandaloso, inutil, sut~vcrsi\loe sern
vantagens de espccie alguma para o s interesses da viticiiltrira.
Mas o que se não faz dia de Santa I.i~zia far-se-ha 11outro dia diz
o rifão-e fiado nisto apareceu de riovo r) rnesmo escandalo <i dcitciv
as unhas de fóra neste projecto de regulamento.
Espreitava-se a ocasião, tal con-io o gato espreita o r d o .
Senhores: A Comissão de Viticultrira tem, a exemplo cio yiie está
estatuido para o s corpos administrativos, uni vogal secretario que supe-
rintende nos serviços de secretaria, e corno ajudantes uin escri turaricr
de 1 classe e outro de 3.".
E chega beni este pessoal para o desempenho de todo o serviço.
S6 não tem movimentação, vá lá o termo que é simbolico, mas feliz-
mente não ha queixas de muito trabalho nem de que o serviço não es-
teja em dia.
Não, senhores! Não ha necessidade de criar mais logares, não
ha vantagens em arranjar desperdicios, neni gloria pode Iiaver em esta-
belecer sinecuras.
Esse Iogar é desnecessario, e inutil e é prejudicial. E sempre, como
até aqui, é preciso dizel-o a o Ex.InoMinistro, a Comissão de Viticul-
tura, já pelo seu presidente, já pelo seu vogal secretario, saberá manter
em boa ordem e em dia todos o s serviços da secretaria.
Evite-se, portanto, o escandalo que, para ser mais completo, ate
dava ao tal suposto chefe de secretaria poderes de fiscalisação sobre
a propria Comissão Viticultura !
Contra esse desbarato fica consignado o nosso protesto e vota-se
a eliminação d o s artigos que lhe dizem respeito.
Art." 20.".
5."---Propor6 Comissão de Viticultiira a nomeação de um delegado
idoneo para cada uma das freguesias do seri co~~celho, nas corilli~oi.~du tj
unico do art." O.", que será um auxili~ii-Jos servi<os viticola.; (ia respectiva
localidade.

Outra ideia não menus genial tarnberri, e d da riorneùcydo, pela


Comissão de Viticultura, de um delegado idoneo este idoneo ha de
ser naturalmente algum bern mandado--ydrcj, c'in c ~ ~ cfreguesia
l~i c i o dis-
trito, auxiliar o s serviços viticolas t1a locctlidadt..
Sabe alguem dizer-nos para que serve este delegado?
Será para desenvolver a viticultura?
Que se pretende com esses cinquenta e dois cdvdiheir.os espditlddos
pelo arquipelago ao lado dos vogais concelhios?
Para nada---di-lo toda a gente; para ganhar tiinheii-o scírnente -
di-la o 5 2.' do artigo 21 e o n." 9." do artigo 7.", deter~ninaridoque d
esses deiegados idoneos estabelecerá a Corri iss<?ode Vitic~~lfurdOS
vencimentos que entender.
Conseguinteniente deve ser eliminado.

Xrt." 22." 0 s veiicinientas de todo o pessoal da Zoiiiissao JG Vitic~il-


ttira, assim cot~ioa s despesas de expediente da mesrna Cornissrio c. todas as
demais que forern necessarias para tt coinpleta exec~icáodeste rcgulatnmto,
serao pagas pela Junta Geral d o Distrito, sempre-que as verbas q ~ i econs-
tituem o fundo de receita da Comissão de Viticiilt~irit, sejari1 iiis~iiicicsntes
para o custeio de tais despêsas.
tinico. L k conformidade cuiil este itrt." 21 J u i i t u Geral d o Ilistrito
fará incluir nos seiis orc;ariientos as vet-bas LI"': a CornissSr~ ele \'itic.~itt~ira
considerar necessarias para tal fim.

Não se contenta este artigo com a pretensa receita do Faníigerado


imposto sobre o vinho; acha pouco e quer que a junta Geral, além das
verbas destinadas á Comissáo, expediente e empregados acruais, seja
obrigada a pagar todas aquelas que forem necessarias para a execução
do projectado regulamento, incluindo para esse fim, erii orcarnento, to-
das a s quantias que lhe forem indicadas pela Comissáo de '\liticultura.
Melhor fora, de unia só vez, passar toda a receiia da Junta Geral
para a Comissão de Viticultura.
Senhores: é assustador esre artigo, pela voracidade que representa.
Muito claramente, com efeito, deixa êle vèr a quanto se prop6e o yes-
soa1 que na Coniiss2io de Viticultura querem introduzir. Isto é: não
chegain os dez ou doze niil escudos, ininimo que lhe pode dar o inipos-
to; querem a quantia de 3:000s00 já de pagamento obrigaforio para a
Junta Geral; querem tabella de emolumentos; e querem ainda que o jun-
ta Geral esteja de cofre aberto para os saques que lhe haja111 de dirigir.
Espantoso ! ! !
E tanto mais espantoso, quanto é certo qiic d fiscdlisdr;áo dos la-
gares, dos manifestos, das saídas e entrt~dctsde vinhos na çidd~je,d o
alcool e outros serviços aindC3, ficcirri <i cargo <]ri jiinta ,Apricola da Ma-
deira (artigo 43).
Inacreditavel e intolerdiite, ~ i ~ i i p l e s ~ e! r i t
Mas a junta Geral e autonoma e pela h i k ~ ido sei1 yr-esideritc, de-
clarou, ha mêses atraz, e a proposito desse mestiio p r c ~ j ~ c de t o regula-
mento, que não podia concorrer corri qiiiintia superior ci que estj pd-
gando.
Elirniriado deve ser-, coriscgiiiriteiiic~~t~~. t'stt' drtigo 22 " C se11 Q
un ico.
Art. 23." Os venciineritos d o pessoal J c q ~ i cti-iita O :ir[.' iiiitt'c'eJt'ritc
seráu equiparados: os d o chefe da secretaria, ao dor chefes de s.;tlr.\.ic.o,t. O
dos escritiirarios e servente aos dernais iuncion~iriosdas ~~~~~~~~I.; c-;itcgoriiis
dos quadros d a I )irttc~ito(j'ieral da Agricirltura.

E' preciso que deste artigo desap~lrec,.cl(1 parte t-cspeitdiit~a o


chefe de secretaria.
Art. 23." A s Camaras .C\ tiiiicipiiis ioriieceriio timzi da> siias depeli-
deiicicis para os vogais concelhios t: os encarregados cla fi~c~ilisic.~tc~
da Jiinta
Agricola instal;trcin ai os respectivos serviios vitiçoi:is.

Era pequena a brecha aberta pelo artigo 22." na receita da junta


Geral. Cá vem o artigo 24." e exige das Camaras Municipais o forne-
cimento ile casa para o s vogais concelhios e fiscais da Junta Agricola
instalarem o s seus serviços.
Pobres Camaras! Nem estas ficavam esquecidas e, quer possam,
quer não, ponham para ali a s casas, porqiie assim o determii-ia o ar-
tigo 24.'.
E para que? Só para arranjar um simuldcro de mais repartiçdes
por todo o arquipeiago.
Até hoje o s vogais concelhios ieem feito esse serviço ern suas ha-
bitações e certamente o s que de futuro forem eleitos não terão pa1acio.s
de tal ordem que possam ser maculados com a simples presenca dos
viticultores.
Faça-se o serviço como ate agora e elimine-se este artigo.

Artigo 25."--NU séde da Comissào de Viticulti~rasera aberto u i i i i-e-


gisto de todas as oficinas vinicolas da regiao (lagares) conforme o modelo N." 4.
unico.-Para o efeito deste artigo todos os proprietarios de oficinas
vinicolas ou seus representantes deverão enviar até o dia 30 de Julho de ca-
da ano, por intermedio dos delegados dos vogais concelhio';. u m a declara-
çao das oficinas de vinificacào que pt,ssuireiii (Modelo n . l .i) iiiit11 de Ihei;
serem passadas as competentes licenças.
Art. 26." Nenhuma oficina vinicola podereá iunccionar se111que esteja
iiiunida da respectiva licenca que gratuitamente íhe será passada pela (;o-
m i s s a ~de Viticiiltura (modelo S." 5).
8 2."-0s pruprietarios de oficinas \~iiliioIrisq ~ i rfizerem estas funcio-
nar sem se acharem munidos Ja cornpetcntc licenca, serim, alem d o respec-
tivo procedimelito criminal e conioi-me os casos. iiiii1t;idoi de Esc. 10,$00 a
:500:500.
Art. 28.".
8 1." Os manifestos, que ficarào arquivados na side Ja Loinissào de
Viticultura, dever80 ser assinados pelos viticultores e proprietarios dos lagares
onde o vinho for feito e srráo entregues pelos interessados aos respectivos
delegados locais dos vogais concelhios que passarao com o numero de ordem,
por fregcièsias, os certificados de produq8o (modelo n.O ti), do mosto ou vinho
por eles manifestado, dos qunis en.viarào, acto continuo, registado, por via
dos respectivos vogais, o scgiiiido talao ri Lon~issao Eseciitiva e o terceiro
á fiscalisação da Junta Agricola da Madeira, a quem conipete vcrificnr n esac-
tidiio dos manifestos, sempre que assim o julgue necessario.
3 2." Quando sc verificar que alguin viticultor deixou de inaniíestar o
-vinho produzido, a fiscalisaçiio da Junta Agricola da Madeira aplicará aos
transgressores a multa de Esc. 20-$00 e levantará o coinpetente auto.
# 3 . O Quando se averiguar que a declaraçlio da quantidade de vinho
está errada, por excesso, ein inais de 10 ser8 levantado o auto pela fisca-
lisação da junta Agricola da Madeira, para se provar a contravenção, sendo
o proprietario declarante e o proprietario do lagar que subscreveu o manifes-
to, punidos cada um, com iima multa de Esc. 0.(50 por cada litro que ex-
ceder os t O ')/o.

já a n . O 1 d o artigo 7 . O fala do registo de oficinas vinico/as. Vol-


ta á carga o artigo 25.' e pretende que seja obrigatorio o registo dos
lagares que ficam impossibilitados de funcionar sem licença previa de
laboração, (artigo 26.*), com responsabilidade, em caso contrario, para
os respectivos proprietarios de uma multa até 500S00 e procedimento
criminal, (3 2.O do citado artigo 26.O), com obrigação de assinar os ma-
nifestos alheios, (§ I ." do artigo %.'), sujeitos á multa d e 50 centavos-
(cinco tostoes)-em cada litro que no manifesto haja de engano ou erro
arriba de 1OU/(b e mais o auto que a fiscalisação da Junta Agricola se
encarrega de apimentar.
E anda tanto artigo, tanto paragrafo, em volta de uma coisa, que
nada vak !
Na Madeira, ninguem o desconhece, não se falsifica vinho no lagar,
ande o comprador, em regra, quer por si, quer por intermedio de repre-
sentantes, assiste ao fabrico do vinho.
A fiscalisagão d o s lagares é inutil, desnecessaria e inconveniente,
além de irnpraticavel e vexatoria.
O que e o lagar na Madeira?
Uma coisa primitiva, original talvez, na g-èneralidade corriposta de
um caixote onde s ã o a s uvas esmagadas a pés de homens, sobre o qual
passa uma trave com um pêso na extremidade livre, para espremer ou
empezar o bagaço.
São estes aparelhos encravados na sua qÚasi maioria em lojas
abertas, que no projecto foram haptisados çorn o pornposo nome de
oficinas.
Pobres oficinas, para que te querem fadar!
O certo é que estes lagares, espalhados em abundancia por todo o
distrito, cêrca de 1000, não são propriedade, ainda assim, de todos o s
viticultores.
N ã o o permite a grande divisibilidade da propriedade e de aí a
necessidade de, na época da colheita, andarem o s desgraçados lagares
emprestados a uma infinidade de viticultores.
Pergunta-se agora. Ha algum proprietario de lagar que o ernpres-
te, a quem quer que seja, desde que lhe advenha responsabilidade em
manifestos de vinho com que ele nada tem?
Nenhum-é a resposta concisa e clara que ouvimos de todos o s
lados.
Nem outra coisa era licito esperar.
Havia de ser bonito estar um proprietario de lagar, na cidade do
Funchal, ou mesmo fóra da terra, a tomar a responsabilidade do vinho
feito n'um lagar, a leguas de distancia, e pertencente a gente que, na
maioria dos casos, nem conhece.
E que residisse na localidade? Pagar-lhe-ia alguem o tempo du-
rante o qual teria de abandonar a sua vida para estar de olho fito no
mosto d o s seus visinhos?
q a d a ! Não mais haveria lagares emprestados e o s pobres que
deitassem a s uvas á s galinhas !
E que nuvem de empregados será precisa para a fiscalisação dos
lagares ?
Basta saber-se que todos êles funcionam a o mesmo tempo, para
ver-se que seria necessario, iião um regimento, mas uma divisão de fis-
cais para esse serviço.
Comtudo, suponhamos que s e espalhava essa divisão de empre-
gados por todo a distrito.
Que s e lucra nisso?
Nada, a não ser uma simples base de estatistica e talvez até de-
sordens diversas.
Evitou-se a falsifica~ão?
Não, porque nada ha que evitar nos lagares; essa, s e existe, só
pode ter sido operada lias lojas. muito em socego. muito pdcatainente,
para a venda na taberna.
Evitou-se o desdobramento do alcool ?
Tambem não, porque o alcool tem muita maneira de fugir para
aguardente, e não é o manifesto de vinho, mais ou menos certo, que lhe
perturba o desdobramento. Este s6 pode deixar de dar-se quando hou-
ver rigorosa Rscalisaqão no fabrico, venda e aplicação do alcool aos
vinhos.
De que serve andar com suspeitas sobre o vinlio. se o nial. se a
molestia, esfá no alcool ? !
Então porque se não vae direito ao fini e s e não ha de cortar o
mal pela raiz ?
Mas exemplifiquemos:
Um cidadão A. manifestou 10.000 litros de vinho quando apeilas
produziu 5.000; outro cidadão B. manifestou 5.000 litros, quantidade
igual á produzida nas suas propriedades.
Não havia fiscalisação nos lagares, mas havia-a, e rigorosa, na
venda e aplicação do alcooi.
Os nossos figurões A. e B. requisitaram á s fabricas o alcool que
Ihes foi fornecido na proporção dos manifestos, ou sejam 1.100 litros
para o primeiro, 550 para o segundo.
Por ora tudo corria á s mil maravilhas; mas foi-se á aplicação do
alcool que havia saído da fabrica, devidamente selado, e verificou o em-
pregado fiscal, no cumprimento do seu dever. que A . não possuia vinho
para o alcool requisitado, ao passo que B. O havia feito dentro dos
limites legais.
-Em vista disto, s ó metade do alcool levantado por A. foi aplica-
do a o vinho, sendo a parte restante novamente selada e autuado o
transgressor. Que lucrou este industrioso cavalheiro?
Um auto, uma multa e um empate de capital representativo do
alcool detido, que ficou á espera da nova colheita.
Imagine-se agora que havia a fiscalisàçáo dos lagares, mas que
erd deficiente ou nula a da venda e aplicação do alcool.
O s dois manifestantes deram conta exacta do vinho, 5.000 litros
para cada um, e adquiriram o alcool que a lei permite.
Tudo isso foi para a s lojas, mas, como não havia fiscalisação com
geito,-6 o que aí s e da todos o s dias,-e o vinho não exigia grande
aleoolisação, pelo fim a que era destinado, dois terços do alcool trans-
formaram-se em cêrca de 300 galões de aguardente, que o s freguêses
acharam deliciosa, velha, e sem sabor a passas ou coisa que o valha.
Que beneficio nos prestou a fiscalisaçáo dos lagares?
Nenhum, positivamente.
E como este. variem o s exeinplos, que ha nuances para muito
mais.
Não é serio, portanto, argumentar-se com a fiscalisagijo dos laga-
res para evitar desdobramentos de alcool, como náo e serio tarn'bem c?l
hipótese de que ela favorecera a viticultura.
E' mais um estomago d o pisojeçto que não p d c deixar de ciesd-
parecer.
E assim vota a vossa comissdo d eliminação dos artigos 23.".
26.",27," e seus $5, bem como todas a s demais disposiçdes que ii eles
digam respeito, por sercrn iniiteis, desnecessarios, irnpraticaveis e per-
turbadores da socredatfe e da viticiiltiira.
Art. 30."---Os ~.iti~.llltort's
;i ~ L I C I I tI i \ CI.CI;I sido pussiidos 05 t b e r l ~ f l c ; t ~ I o ~
de produ~ãoiridiciidos n o 3 1 cio iirt. 28.()dcveráo, qiiando vendertm ;I to-
.(O

talidade o u parte do rnosto o u ~inliode qire srio possiiidort.~.reyiiisititr ;i05


delegados locais o i l tios vogais coilcelhios J n Loiiiissáo d c \'iticiilt~ir;i q u C
Ihes sejam pass:iclos certiíicndos de transito (niodelo 11." I 4) para ;i cliiai~ticlii-
.de de mosto oii de uinl-io que tivt.rcm de expedir. Estes certificados .;fio docu-
inento indisperisii\ei para que csscs vinhos possam ser recebidos nos liririli-
zens dos exportadoi-es ele L'inlro da M;itft-ira, nli cidade do Ytinch;il. e credita-
dos nas respectivas contas corrt.nte~,p;ir-;i t . i i j t t efeito se deiver4 espec.ifiz:tr
no certificado a coll~eita;i qlitt pcrtc.il~.co \.intio [;ele referido.
A esta cornissdo pdrece que deve ser fdcuitado a o exportador
ter os=seus armazens onde muito bem q~iizer,sujeitando-se, e claro, ti
devida fiscalisaçáu. Não se compreende qiie na<>possa haver arrnazens
de exportadores fdra da cidade; nem faz sentido que concelt~osconio o
de Camara de Lobos. unr cfos mais abudantes em vinho cr o inais rico
em melhot*es castits, não possam armazenar os seris v i n h ~ ssenão na
cidade.
Isto que á primeira vista se afigura de nenhum valor, prejudica a
propria cultura, pois obriga a despesas maiores no transporte, aluguer
de lojas, etc., etc.
Art. 3 1 ."-Aiím cle. constituir c t Iíri~dode receita destiriado a ~ièserívol-
ver o fomento viticola da região, consigiindo no arta 7 . O e cristear as demais
despesas da Comissão de Viticultitra da Regifio da Madeira, tornar-se-lia
extensivo n esta Regiao, a partir de 30 de Junho tle 191 5, o pagamento dc
Esc. 0$00(2) por litro de vinho 4 1 1 ~entrar na cidade do i'unchal e do que tcii-
do sido produzido dentro da nrea da referidri cidade seja vendido pelos res-
pectivos vitictiltores em estabelecimentos seus oti a outras entidades.
unico.-C) pagamento destas receitas será feito pelos possiiidores d o
vinho dentro de 10 dias, a contar da sua entrada na cidade do Funchal, ou
da cedencia, no caso de ter sido produzido dentro d'aqtiela area, na Caixa
Economica Portugueza, B ordem da Comissão de Viticultura da Região da
Madeira por meio das guias respectivas, e escrituradas no livro (modelo
n." 15).
E' agora a sangria.
Até faz lembrar o expediente de cornercidntr rncio ctr.i.iiinada que,
para vaIorisai- o vintio existente ern armazem, p e d i s x t i-i hiltos nas CO-
lheitas futuras.
Modernissima e ingloria indneira do proteger. 'i cuit~irdd o vinfio,
tão rica outr'ora, e hoje tão pobre, a debater-se tias vc-scas de uma
agonia que vem de anos, pari1 C ~ I n- ~ j~norte iminenlc. f d t ~ l l e :certa
que lhe prepara o projecto em questão.
Senhores ! em toda a parte, quando tia necessidadt. de defender
uma cultura, conjugam-se todas a s forcas vivas que sc I Q I I I I ~ I I I por ca-
pazes de jugular o mal. E' assim que o Estado alivia a s coiitribuiçóes,
procura, por meio de tratados, colocar no estrangeiro os pi-«duros d o
seu paiz e não raras vezes suprime direitos alfandegarios. isenta de ini-
postos municipais, etc. E' assii~i,tambein, que os graridcs proprietarios
empatam capitaes enormes na fornentação de secs ferrenos, ria conser-
vação dos seus produtos, cí espera de rnelliores dias y a r ~ ld siia c~iltu-
ra, de melhores dias para a sua colocaçáo.
Pois aqui, na Madeira, sucede tudo do contrario.
Hontem, ainda, tributava-se a cana de assiicai- ccjili iiili pesado
iniposto, para favorecei-. dizia-se, a cultura da vinhc? c oiiii-ns r r o arqui-
pelago,
Hoje, c2 a secular culturd da vinha que é trit~iitada,coni 11111 iitipos-
to de 6'/0 sobre o seu valor, náo certamente cont o pretexto cle dai- vida
á da cana sacarina, que esta andd niorta n'uma grande parte d o dis-
trito, mas sim,. sabe-o toda a gente. para susteritar cm s~iil\ ' ~ f t i i
exercito de empregados.
Para isto, e nada mais.
A dificuldade da venda do vinho Madeira no estrdngeiro, devidd (í
concorrencia que lhe é feita por outros paizes; a s doenças que atacam
o s vinhedos; a carestia dos agentes cornbativos dessas mslestias; a
falta de aguas; o encarecimento dos trabalhos e mil outras confingen-
çias de pratica constante, tudo é de rnolàe a chamar d atençáo dos po-
deres publicos para que seja minorada d sorte da melhor cult~ira d e s t a
terra. Isso, porem, jámais poderá ser obtido coin o Lançartiento rfe ím-
postos que só a agravam, arruinam e matam.
Ora, esta comissão não duvida da boa vontade do Cioverrio em
auxiliar a agricultura, base de toda a riqueza nacional. E por tal princi-
pio espera dos altos poderes publicos que nunca vingará a idéa desse
imposto vexatorio, injusto, ingrato, iniquo, repelente e odiado, que,
senhores, fax chorar os filhos desta terra, tantas vezes rriadrasta na des-
graçada maneira por que andam a s culturas da cana doce e da vinha.
Actualmente esta pagando o vinho imposto de produção que re-
cai nos terrenos onde é produzido; paga imposto de consumo o u ria1
de agua, quando lançado no mercado; paga imposto municipal quando
exposto á venda, alem dos encargos de licença e c ~ i ~ t r i b i ~ i ç õindus-
es
triais a que teem de satisfazer o s comerciantes desra het~ida.E tudo
sai d o vinho.
Para que classe vai o trib~rtoy u c 54 pretende?
Em qualquer que o incluam e sernpre uni duplo i i ~ ~ p o s i conii.cirio
o,
á s proprias leis, que claramente dispõem não poder nern cfe\rer o rties-
m o facto ser tributado com duas taxas diferentes.
Onde tais disparatadas e obnoxias concepções :l
Está tributado por tai niatieira o vinho d o contiiiente'?
Será a França que, pard beiieficiar os seus extensos viilhedos. po-
nha em pratica essa alcavala cio imposto?
Não! isto s ó pode inventar-se na Madeira.
De longos anos mesmo que o irriposto do ria1 de agita vern sen-
do condenado pelos proprios govcrnantes, que o achani duro e injiis-
to, opinando todos pela sua extinc;áo. Não o toiii pcri~iitido,por cni-
quanto, a situação financeira d o paiz, mas loi~genão vii.ci o riia erri qiie
ha de ser obtido esse desideratum.
Mas, para aqui, para esta pobre terra, pede-se m d i s f
Senhores, na Madeira, ning~ieiii, absolu tamenre n iiig~ieni, poífc.
competir com semelhante imposto, que e o enterro da viticirltiira.
Quanto rende este tributo?
Pelos melhores calculas, a importancia proveniente do viriho indi-
gena deve orçar por dez ou doze contos anuais, que são dez o ~ ido^
contos extorquidos á niiseria desta rniseravel popt~laçáorn~~(ieirt3nse.
Quanto a o vinho de pasto importado, e mais irm segredo d o arti-
go 31." que, convem não esquecer, deve andar por 380~00em cada
mo.
Nem o vinho de pasto continental escapoii a furia de tiido tributar,
guarida e certo que não possuimos, por ora, este tipo de vinho, e que
ele já bem sobrecarregado está com o s impostos municipais !
E para onde vai tanto dinheiro?
E' uma pequena rnaquia do alqueire, destinado á s novas despesas
com o pessoal ! Assim o esclarece o artigo 22.0 e seu § unico, determi-
nando que a Junta Geral pagará todas a s quantias que lhe forem indi-
cadas pela Comissão de Viticultura.
Passemos agora á maneira de tornar efectiva e pratica a cobrrln-
$a deste imposto.
Para o vinho entrado na AIfandega bem iam a s coisas. Mas para
o que tivesse de entrar pelo lado de terra?
E' mais um estomago d o projecto.
Necessariamente ter-se-hia que organisar barreiras a cidade e colo-
car em cada rua, em cada. bêco, e em cada viela, um posto fiscal para
verificar se este traria vinho em borrachos, aquêle em garrafas nas ai-
gibiras, outro em caçarolas, etc., etc. E não faltariam a s apalpadeiras,
porque para estes contrabandos n ã o hn ningiieiii coiii <i Iiribiliddde das
mulheres.
3 6 esta fiscalisaçáo, assidua, permaneiite, quer de iioitr. quer de
dia, não poderá custar menos de vinte contos por. ano.
A sanção de tal artigo, senhores, faria rir s61iie1ltc'or> què veern
sonhando com as postas d o projecto d c i c . g i i l d n i t . n t o , rilg-uiis cios quais
iá aí sáo apontados a dêdo; porque O S ouIros, o s Vagilntes, esses só
feem um caminho a seguir procurar n o estrarigcir-o en'c~igai-,na lavou-
ra de terrenos incultos, a s lagrimas com que Ihes ensoyardrri o cordção.
Mas não! A Republica não poderá consentir que seici coris~irnado
um escandalo desta ordem.
Portanto este artigo deve sei. elii~~iriado e coni ele rodiis ds tlisyo-
sições que lhe digani respeito.

Artigo 59.".
3 S.(' Quando iis eiitid;iilc> q u e tivci-eiii icitci itc; d c t ~ l a i - í ~ ~ osec s niiu
cotiiorr~lcireiii com :i classificaçào dos \.iiihos frita pelos a~cr1tt.sd a iisc~ilisti-
ç à o , poderuo reclaníar perante esta. A reclainayào s e r i dtlciclidii p o r trss pe-
ritos, setido uni nornezido pela Associaqrio Curiiercinl J u I'iii~ciial,olitro pela
Cornissfio de Viticlilrura cln Regiùo da .\ladeira e o terceit-o pelii íisc.;ilisnçAti
da .Jiinta Agricolri da Madeira. Sa \.erificaçito o prirneiro eiein .rito it ziprttciar
será a força alcoolicn, a que se segiiirzi ;i ~ipreci;ic.rioorqiiiioleptic;~ ;i J e
cluaisquttr (>LI! 1.0s eleriien~osiiecessiirios.

Parece a esta Comissão que tia noineaqao de peritos pdl-cl dei-


tos de reclamações deve sempre a parte reclamada ter u m representante,
sendo por conseguinte, o s tres peritos nomeados, um pela parte recla-
mada, outro pela Coniissão de Viticiiltura e o terceiro pela Associa-
cão Comercial.

Art. (1 1 ."-As iubricas iiiuiriculades soiiiente puderao \-e11der cstc nlcool


para a herieficiaeiio dos vinhos, escttpto yuariclu, por meio dc ctiariiucla ieita
pela fiscalisaçúo da Juiita Agricola da .Lirideira. se reco~iheçirque n i l o existe
ii veilidii aguarderite de cana para o consiimo.

A este artigo acrescentar-se-ha que o alcool desdobrado nas ta--


bricds o u depositas pagará o imposto de Os15 centavos por litro de li-
quido em 26." Cartier.

r 6 . A's i~ibriçasinatric~ilarlasserii periiiitida i1 veiid~ide nlcool


piirii tempero de vinhos fóru do coiicrlho do Fiinchul. pelos ageiites n qiie se
refere o n." 2 do art.!' 1 1 d o decreto com força de Lei de I I de hlarso de
I 9 I . podendo acrescer ao respectivo preto o L-i~stode t rnnsporte.
Torna-se indispensavei adicionar a este artigo a clausula de que
não poderão ser agentes da venda de alcool comerciantes de vinho o u
aguardente. fabricantes de aguardente. seus empregados. e funciona-
rios publicas.

Ari. 06." As requisições de alctwl ao.; cicpositos de vdndu iio.; corice-


lhos pelas entidades que o pretendam adquirir para henefiçiacao Je mostos
ou vinfios, scí poderão ser satisfeitas mediante a apresentaoào das guias (mo-
delo N." 3 1 ) passadas pelas Seçrrtiirias d c F i n a n ~ a srespectivas, nrio poderido
estas ser passadits senao ;i vista dos ccrtiiicacfos '12 procliiqito apre*;ent;tdos
pelos mesmos viticiiltores.

' E' necessario que fique bem assente que o s secretarios de finan-
ças s ó são obrigados a passar guias para requisição de alcool nos con-
celhos rurais. N o do Funchal serão passadas na secretaria da Co-
missão de Viticultiira, serviço para que havia a Coniissão requisitado
e lhe foi fornecido, ainda ha pouco, um agente agricola.
As primeiras justificam-se, pois não traz isso trabaiho quasi ne-
nhum aos secretarios de finanças, visto d exiguidade d o alcool requisi-
fado nesses concelhos.
No Funchal, cmde o vinho i quasi todo tratado. injusto é sobre-
carregar o pessoal de finanças com tais serviços, de mais a mais na
época em que essa repartição tem maior acuinulação de ti-abalhos,
quando tudo isso pode e deve ser feito na Cornissão de Viticultura,
que dispõe de pessoal para esse firii.
Outro ponto que esta comissão desejaria fosse fixado no regula-
.mento é o da permissão de ferver borras de vinlio scm pagamento de
imposto algum sobre a respectiva aguardente.
Representa este facto Lima justa satisfação aos viticultores e não é
mais do q i ~ eO aproveitamento dos residuos do vinho, que, sem esta fa-
culdade, sei-ão deitados fóra.
Vota-se, por conseguinte, unia proposta neste sentido.

Art. 07.0-t)s agentcsddas iabricus rnat ricuiadas só poderuo eiectuar as


vei~clasdo ~ilcoolnicdinnte a apresentacào da guia passlidii pelo secretario de
finririqas e na preseliqu 110s encari-egadus da íiscalisaqrio, sendo obri*2toria a
jrinçao íio alcool, no acta da venda, de viritic, d o comprador-, riu i-aziiu de 3 0 " ' 1 )
do u~cooladquirido.

A percentagem de vinho a niistui-ar com alcoot precisa sei- elevada


a fi0 0/0 .
de 50 '','O
Xri. 82."-As taxa.; do traiego ~icfuaneiru que se ~ ~ a g a t - epor
t ~ ~rieiio
das disposisòes deste i-egularneilto terá0 Lim ahatimenttl de 50')
Não contorcia a Comissão toni este artigo que a pratica ha de-
moastrado ser pernicioso, e por isso propóe que seja isento de trafego
aduaneiro e de emolurnentos pessoais o serviço rnoti\.ado por este re-
gulamento.
1 . A Cuniissào de \'iticul?~lriiorgai~i.;arií ~ l l ~ ~t;ihtiit
í t tio'; c'1110lt1-
mentos e salarias qw pertenceiri aos iiincionarioi d n .soa sc.;-r;~:;iria 17c1;i<
cttrtidiies e outro..; servicos de rèri~uneracãocspeCi:rl.

S ã o um restinho que não fazia mal á secr.etai-ia coin tt-tovi~nen-


tação e sem ela.
E' a respigadeira da viticultura.
A'rnanhã todos os serviços passariam de gratriitos a r.cnder*'gor-.
dos emolumentos, não escapando sequer o s proprios manifestos.
E para quê, tudo isto?
Para atormentar o viticultor e favorecer a rnovimc17f~(~~Sc,ir~fernrrr
da secretaria.
Nada disso e preciso.
Acabem-se essas engrenagens e elimine-se mais este sibilino pdrd-
grafo .
Art. 84." As licenças do pessoal da (;omissào de V iticiiltilra serrio
concedidas: ate 30 dias pelo Presidente da Comissao, para prasos .;iiperio-
res pelo Ministcrio do Fomento.
Não se vê que vantagens possa haver na proposta maneira de
conceder licenças aos empregados.
Está isso regulado para todo o pessoal do Ministerio do Fomento,
e, dependendo a *Comissãodeste Ministerio, justo 6 que sejam obser-
vadas a s mesmas disposições.

Recuemos agora um pouco e ocupemo-nos d o artigo lS.'l.


Refere-se ele ao fabrico e venda de alcool, passando por cima
disso como gato por sobre brazas, s e m ao menos tratar da sua apli-
cação.
Aqui, senhores, aqui é que está o fulcro, em volta do qual gira
todo este. negocio.
O alcool 4 a base 4 sem alcool não ha desobrameritos, não exis-
tem falsificaçóes.
Neste sentido é que devem convergir todos o s nossos e s f o r p s ,
todas as nossas atenções, para que seja exercida uma rigorosa fiscali-
sação n o fabrico, na venda e na aplicdçáo do alcool. No fabrico, pdrd
que nenhum possa ser desviado d o fim a que a lei o destina, sem que
não seja facil de dar-se com o logro, pelo simples exame da escritura-
são; na venda, para que ninguem, sem requisito legal e serri a respoii-
sabilidade d a seu nome, o possa adquirir; e na aplicaçio para que se
não requisite alcool para tempero de vinhos e se vá c o m ele temperar
a-gua, apenas.
E feito isto, com rigoi., o ~ L I Cc f d ~ i l ,deixeiiio-110s dessd enorme
aluvião de ernpregíidos qiie o projecto de regiildnierito a r r a n j ~ ~ deixe-
,
mo-nos tiessas iiiira bolantes coinplicdçóes de escrita, dei ~eriio-nos
da vexatoria cr i n i i t i l fiscalisaçáo dos lagares.
Evitemos qiic o s grandes possanl incctiei. crn alcool frira da pre-
sença cie u m a boa fisçalisação; aos l>eqireilo+lcorte-se C ) ~ ~ I L I Sde O pedir
alcool para vinhos que ntio são alcoolisados, ~~oi1do-111e~ tig~~cfl
fiscalisa-
qão para qiic náo sejcl cornetido o desdo!)raiiieiiío (ICI parte excedente.
E terenios ùssii!i iirii serviço de liscalisa~ãof~icil.quasi todo feito
só no concelho d o F'unchcll. unico de efeitos pi-citicos e segiiros.
E' riecessario qiie o alcool, qliei. nos depositas, í1~1cre m podei' d o s
requisitdi~tes,qllanclo longe da tiscalisacão, ande seii1pt.e envolvido em
sêlos. lacre c sinetes.
Não se reciie, pois, pei-~ii~tc isto. l'oine o I:std(lo conid d o alcool,
venda-c) eni estação oficial ç fciy~i-oc3l>lictrr- tlic'didlitr fi~calisaçao,que
jacrará todd a P O I ' Ç ~ O~ L I Crlão ho~~\.ei-sido jilillddd d o vi~iho.
Desriatul-e-se iguaimerite, pelos i~ieioslegais, o cilcool para iisos iti-
dustriais, lorne-se efectiva a responsabilidade tio y iie tòr requisitado
para usos farnidcêuticos, vigie-se, com olhos de iei., a itiiyorf~iqciode
sacarina e suas aplicações, e ter se-ha, IIAO s(j í1dd0 ~ ~ r pdsso i i largo a
favor da viticultura, rrias tambeni acab~idc)colri cl ahiiildclricia da aguar-
dente a qiie (3 imposto do deci-eto de 1 1 íie Marco de 191 1 , longe de lhe
pôr cobro, ate desenvolveu o apetite.
E já que falanios da fiscalis~~ção d o alcool, rstci cornibsio alvitra
as seguintes rnedidas que bem deseiaria ver decretati~~s:

Art. I ." íi.;c~ilisaç:io d o iiihrico, vriidii e ;tpliciil;iio i10 i i l ~ 0 0 1 passa


a ser feita pelo pessoril gt-tid~inclodas ;i\lí~iiidcgnsou dos Iiiit)o~tos.
3 ~iiiico-O pessoal necessario para este sei-\rico ~ e r i ir-t.qliisit;idoc pago
pela Jiinl;i Agriioiíi dít ,Ma:lcir:i.
Art. 2.''--.A tiscnlisac8o da proc1iic;ào t. vri~cl~i Je alcool serti !)erma-
nente e ieita por ei~.ipreg;tclosyiie se alternarfio. cie inodo qiie nenhum deles,
RO periodo de LIIII i \ n O , POSSLI fazer sei-viso stlper-iot- íi lrinta dias, lia 111i3stnii
fabrica.
Art. 3."- -Todos o aparellios serlio co1oc;idos de ~ria~ieir~i qiie a
pec~líoe fi.;calis;ição se trserc:i coin rigor e sem dificiilcliides.
uiiiço Todo ,o ;ilcool destilttdo será cciiicl~tzidodirectuliie~itt'por lileio
de ttibos cle vidro, do alambiqiie para os deposiios, ;iiiondeg:iclos oii iiscali-
sados, exteriormente graduados.
Art. 4."-Nas fabricas havercí ri111 livro para a escrit~ii-ucàoJiaria t:
completa do alcool produzido, escritiiraiao que sci'a feita pclu zmpregíido da
fisealisaçáo. i>qual diariamente enrinrd nota da produç3o i i Jiinta .+igric»la.
Comissão de Viticutturrt tb chefe da fiscalisaç3o.
Art. 5."-A Dirrçrio da Alfandega, a Contissiit) d r \'iticult:irn { i .Itiiita
Agncolii ficam coni a icicuidade dc c\;thrcera slia iiispt~,-Rosohrc L ~ S ~ L - . ;.;L-r-
viqos, quando r i jiilgarem cotivenientt~.
Art. 6 . O .a venda tio itlcool sCra ittitli dii-ec~ii!?ien+t. pelit iisc:iiis:iyao otr
pek) 'mel~os sempre na prcsciiFii desta. qu;ilqiici- ~ L I C(cjit LI 5i1;i nplicav.io,
devendo a mesma fiscalisa~30ialer- a escrita de todo ( i alcool vcndido, corr~
designaçào dos noines dos rcquisitantes, quantidades rqiiisitadas, locais d c
aplicaçfio e seus fins (vinho s:inlo, tempero de vinlios, IicOrci. uso.; iiiJiistriais
e farmacêuticos).
Art. 7 . O A venda Úo irlcool para trritari~entode vinhos scí podtlr:i sei
feita mediante ;i aprcsentaçdo de p i a passada coni base ciii rnaiiiiesia de
vinho feito perante ri Cotni'isfio ife Viticulti~raou seus vogais.
unico-O r i l ~ o o ipara vinhos iibaiiidos (siircios) será reqriisitado cru
separado, sein base no manifesto, inas com n indicaqào da qiinntidítdc ,{c.
vinho a que 6 destinado.
Art. S." Toclo o alcool vendido para triitainerito de v l n l t o s e \.iriiioi;
abqfados niio puder8 s i i r das fabrica..; e depositas de veiidn, sem screiii a s
respectivas vasilhas devidariieritti lacradas e seladas pela iiscalisaçào, as qiiai..;
S Q serão desseladas, peja tllt'sn-ia iiscalisaçào, n o neto da siia aylicnçr'to.
3 i~nico Exceptua-se iipcnas o rifcc~c>Ia q ~ ttcrihii ' sicio íldicioníi~ic~ 50 ,>
de viiiho.
r . . Ao req~íi,c;it;~~~te de ;tIcool para vinhos serri fornecida, n o acto
da Wmpru, pela iiscalisricAo, iImn caderneta enl que se ache consigtlada LI
quantidade de aicool adqitirido.
Ar?. 10."--Nenhiirn alcooi será aplicado aos vinhos c triostos. iiicliiiticic>
O destinado ao vinho ;ib:ifado, sem a assistencia da fiscalisaqiio, a qtial, i i i i
caderneta a que se refere c) artigo anterior, fará assento da quar~tid:ick c i t .
alcool aplicado e da quantid:td~ de vinho tratado.
r 1 1.'' Siio sendo i) alcool aplicado na tcitaiidade 1-eyriiui;;ida s e r i a
parte rzsliinte de novo lacrada t. selada pi-Ia iiscalisação, ficando erti tiido s u -
jeito ao artigo 1 O.".
Art. 12.1. O nlcool piir-lt iisos itidustriais nào poderá sair das fabrica,;
sem previariente ser drsnat~~rado na conforrnidnde da 1egislai;ão eni vigor. 0
destinado a usos f;irniacG~iticuse licores serê fornecido sob requisiçiio d o pro-
prietario ou gerente da farrnacia qiie iica responsavel pela sua legal aplicric3o.
r . I . Sempre qiie se julgue conveniente, a fiscalisaçái~procederri
lis diligenciss precisas par2 se verificar dos usos e aplicaçbes do aIcool n a s
farrnricilis, tt licores.
r . I . Tornar-se-ho rigoi,)s;i a obser\~anc;adas disposici>ei i l u r
regulam a entrada e aplicqão da sacarina, quer \*inda c o n ~ oamostras. qiirr
como encomendas postais, quer pela Alfandep. de modo que o seti i i ç ~seja.
exclusivo a fins ternpêaticor. cons.t.nierite e devidamtii~teiomprovadns.

Eis os artigos que, no entender da vossa comissão, devein sAbst ituir


o celebre artigo 18." d o projecto.
Uma confusão e mistura de serviços entre d Julita Agricold, CO-
missão de Viticultiira e f7iscalisc7ção da J L I I I ~Agricola,
~ sc nota, corrir,
que de proposito, em todo o projecto tlc r-~giilnrriçnto.
Não vê esta cornissão vantagem alguma nessd conr~isdo;pelo coti-
trario, entende que cada corporação deve ter vida independenfo.
A Junta Agricola quer a fiLxalisaçáodo alcool. Ela que a faça coiii
o rigor qiie enfender, tornando conta do alcool no alambique e <.icornp~j-
nhando-o atcl a sua cornpieta aplicação, o que lhe será facil cni Cace dCis
requisiçbes competentes.
Para isso é que o drt. S." do Decreto de 31 de Maio de 1915 Iiie
deu largos poderes.
Quaisquer duvidas, quaisqtier esc~~recir:ie~itos, serao depois ift-riti-
tados oficialmente entre as duas entidades.
A intervenção constante da Junta Agricota o u dd sua fiscalisaçiio
nos serviços da Comissão de Viticultura só poderá trazer conflitos de
jurisdição, prejudiciais á viticultura e a o viticulf cris.
Nada inais.
Conseguintemente, ~ Comissão tle Viticultura deve ser dada toda a
liberdade de acção 120 que fôr serviço de n-ianifestos, rtzgistos, esfatis-
ticas, guias de transito, requisições para alcool, êtc. etc.. A' entidiide fis-
caiisadora, Alfandega o u Junta Agricola, totia '1 acção no cjtie diz res-
peito a o alcool, parte em que lhe será garantida completa indepeii-
dencia.
Assim, trabalham separadamente, sem se crearein e m bai-aços
mutuos, cada qual assumindo a responsabilidade dos seus actos, unica
maneira de ser proficua a acção d a s diversas enfidades que, por vias
diferentes caminham para um fim coniuln.
Nem outra coisa é compreensivel, sob pena de tudo isto ficar nucri~j
torre de Babe!.
Nesta ordem de ideias vota esta Cornissáo as necessarias inodifi-
cações ao regulamento.
Não menos curiosas são as. alterdçóes no modo d e compôr a Co-
missão Inspectora de Exportação d o Vinho da Madeira e nos serviços
que estavam a cargo da Alfandega.
Se por intermedio desta é que teni de sair o vinho generoso desti-
nado á exportação (Art." 51 § 3.01,que motivo haverá para que lhe seia
retirada a conta corrente com o s exporradores?
Para que 32 ha-de corifundir todos esiib szi-viqos, para yuc s e ha
de pretender disposições diferentes d a s cliw existeir1 ild5 outi'a~loc~~licla-
des exportadoras?
Tambe~ii riiudoii a organisação da Coriiissdo Iiispcctoi-~ie , yoi.
sinal até que nela aparece ein movimentacáo o celel)ru chefe da secre-
figria d a coillissdo de Vitic~llurd,~ 1 1 1 1 8CS~)I;C~C C ~ Csecreidrio i!?p:~/*tjb!i,$,
unta esyecie de vendilhão c r i r i i , ~ i I ~ i i i r clu ilo Icido, c01110 SAO
~ , Iitd 111~li'ica
Miguel de balança na mão.
Uin peza almas, oiitro riiede ttilonietros.
E para quê, tiido isto?
!>ara tiido escangaltiar , para arniar. poeirados, c. pai-~ihei. tiierios
noiado o exercito de empregados que o projecto 110spreparei.
Doloi'osa e beni triste sitlia$áo a d~ vilicultiirci dd Miltjeir-d, he I I ? ~ O
potente não lhe dccode!
Mas vamos adec?nie.
O projecio rio r l o v o ~*crguIariientocricl (75 iiiodelos (14 i:n yi.essos
parcl os respectivos serviços, ou sejarn mais L1 d o qtie os d o acti~ali-e-
y'uldniento. Depois disto digaiii-nos se ha c~rlturclcliic scja capaz citz re-
sistir ii sernelhanle conf~isáo.de sobreviver a t;ll p~tpelaclci'?
Não, segriranlenic, niesiilo porque esse i.nibroglio n 3 o loi feito
ptiril berirzficiar a vitic~iltiri-cr,mas sim pard anichar criipregaclos.
A lrossd comic>são, ~t.i~hoi.i.s, deu-se ainch do trab~ilho de C'OII-
fltontctr o projecto que nos serve de esludo coin o Regiilarnoi~to,ciii vi-
gor-. cie 8 de Noveinbro de 1915.
Pois be111. Afílstern d o projccto os pontos referidos n'esta exposi-
qrTto o. outros que Ihes s d o inerciites c fereis o regiilatnt3nto de 8 cle No-
\*eriibro citado, ein todos os seiis dizeres, corri os mesmos yon tos, coiii
íi:, mesmas viiyulas.
E tiido o que c! novo se resiririe, como vedes, a duc7.i coisas:
1 ."---crea~ào de impostos oxecrandos e tabelds i r ~ a c ~ i t ~ v e i s ;
2." creaçáo de Lim exercito de empregados, tão dispendioso, que
~11)sorvetoda a r e c e i t ~do ~ i i i ~ p o ~ i iiina
o , grande quantia da jlintd Agri-
í.oiii c outra tal\%?~itão inferior. da junta Gei-dl.
Isto e: a fiscdlisac~od o s lagares não pode custar inenos cle 30 a
40 contos: a fisca1isat;ao da entrada do vinho não pode SEI- feita cont
ineiios de 3) contos, e111cdda ano: a fiscalisaqáo d o alcool, os delegados
id«neos e o demais pcssoiil. eiii que P prodiyo o projecto, 1120 custiirá
inenos de (30 c o n t ~ s .
Beni alto falam estes algarismos.
Escusa cornen tãrios !
O projecto e o nídne, t/7éce/, phdlBs da viticultura da Mddeira.
E' a rriorte certa s i m , inas inorte feroz, cruenta e tornientosa.
Contrd esse sacrificio, contra essa niorte tortui-ante, bein alio fica
coiisiynado o nosso mais veemente protesto, e bom é que s e saiba, lá
fóra; que a alma madeirense sangra de dor perante o cutelo desse im-
posto abominavel, imposto que é um crime de horrorosa memoria. pra-
ticado contra uma terra honesta, para gaudio de ociosa empregadagem.
Aqui lendes, senhores, sumariamente, o que é esse anónimo pro-
jecto de regulamento de tão famosa iirdidura, que nem unia assinatura
achou que o abonasse. E a vossa coinissão propondo a s emendas e mo-
diffcações que deixa exaradas inclue nelas todas a s demais disposições
que andam atreladas aos respectivos artigos nuniwos e 9 9, iiao pou-
pando o s 35 fantasticos modelos de impressos capazes de, por si sós,
transformarem tudo isto num manicomio.
E para rematar, á vossa apreciação niais submete esta Comissão
.as seguintes propostas:

1 :' Oiie se agradeça ao Ex.l)lt8,Ministro d o I : o n ~ t t i i i o e ~oi11is~iLli)


CII-
carregada de elaborar o novo regulamento de virlhos o ter-nos ouvido sohrr o
respectivo projecto;
2." Que igual agradeciineiito se inça iio E X . Sr.~ Viss~iide
~ ~ d a Yiheir;i
Brava pelos bons oficios qiie ernpeiihoii neslr sciitidv, cotiíorine o seu tele-
grama de 1 d o corrente;
S.& o u e a Cornissào de Viticiiltiira se dirija iiqs E X . ~:Ministro
~ " das
Financas e Fomento, Director íjeral da Agriclilturri, IJept~tí~dos e Senadores r:
comissao encarregada do estudo d o projectado regulamento, pedindo-lhes qiie,
a bem da viticultura da h\arleirir, sejain ;itt.ndirfas as rttclainaçíies qiie ficam
contidas nas emendas que anteceden~.,sem o qric o projecte) citado i ~ ã opossa
ter vigor.
4."-Que seja nomeada unia coiiiissao para pedir a S. h.;' o Sr. tio-
vernador Civil que nesse sentido interceda junto d o Ooverno Central.

Funchctl, 21 de Agosto de 1915.

A Comissão

Antonio Silrhro de Macecio-Presiden te.


Luiz Pedro de Souza Pereira Vogal
Alexandrino dos Sanfos -Relatar .-
Posto pelo sr. presidente á votação o parecer q u e dcabal-d de ser
lido, foi este aprovado por unanimidade. sern d i ~ c u ~ ã o .

Uma representação-protesto dos vi-


ticultores do Seixal

O secretario sr. dr. Aiexdndrino dos Santos, yr.ocedu pouco


depois á leitura da seguinte representação-protesto dc n i i m e r o s o s viticul-
tores da freguesia d o Seixai, urna das mais fertcis regi6es viticolas deste
distrito:

Proyrietarios, lavradores, rodo:, t i t icul torus


scixaleiises, reunidos
piatestam indigiiadaiiieiit~contra ~ L I ~ ~ ~ Lilovoregulamento
I P I .projecto
viticola que ventia agrav~irmais a sua já desesperada situação eco~iomica.
Esta freguesia protesta bem alto contra essa yreteiididú fiscaliscição
de lagares e outras aicavalas absiirdas, vexatoriiis c iiiipi.opi.i~sdc iiiii
povo livre, honesto e tt.abalhador.
E para que conste, yzdein cliirz fiquc exaioado na cfcta o presente pro-
te5to.
Seixal, 22 de Agosto de 1915.
(StZguen7-SÇrl,s c ~ ~ ~ M 7 < l r. t ~ ~ í l ~ )

A Coniissao resolveu por unaniinidade qtie ficasse d ( >~


~ z ~ r ~ i , dild cfa
dc se,ssão este protesto.

Varias propostas apresentadas

O si-. dr. Alexartdrino dos Santos apresentou as seg~~iiites


propos-
t ~ j s ,que foram aprovaclcis por unai~irnidade:

I . ' Qite se iclt.grainssc ;io sr ilr. ,Joào Lataiiho de ,l\t.iii.~i.s,ilttstre


I\ ~iisiroila ,ltistis,a, conio iiiho clestti tcri-ii t3 11111 110s mais irripoi-tant~%s viticul-
{ores d o distritu. so hei11 que C'S~C';isslil~toliíru esteja soh n j~irisJi~i~c> da stiri
pasu'. pediiido-llit., todavia. a iiitt.ricssr'iotlt. S. EX:', iio seiitido de Jnr o seti
~aliosoapoio para qire seja ~nodiiicacloo projec~iidoregtil;iineiito, iltendeildo-
hii as jttslas propostas da Co~iii'sào ~ l e l'itizulti,ra tla Yegiào clii .\\níittii-;i:
~.'"LIc èiicoiltroiirlo-çc.-seattlalmentc iia capitai t i i i i dos mcrnhi-os desta
L ~ l i i i s s á ~o, SI-.dr. .losti ,\gosiiniio I{odrigiles, it clueiii os intt.1-esse; viticolas
d a .Madeiro trem i~iereçidoseinprc um ctiiJaJoso esttidri e Iimii particlilar
iite~~r;Hi), se 17edisse ao sr. &\iiiistrocio Foinento yiie ~ U S S C iiquttlc \ c>gi~iagre-
gado á coriiissrio ytie ihra encarregada de e1;ihoriir o reierido reg~il;iii;c.ilto,lia
qtiulidade dt: representante desta (;oinissiio de \'iticul t i i ra:
3.;' Que dando-se culiipriiiittiito ti umii il:is proposta3 que se ;icliaiii
cotisígnaclas n o relatorio jlí apro\.itdo. sc coiistitiiisst. iii11a coinissi~t)inc~irn-
hida de avistar-se coin o ';r. go\.erii;icior civil c10 distrito pcclindu-llie qiie i i i -
terceda juiito d o governo central, para qtic ~cjiiinateiiditlas as rcclairirtg-i'~c.s
contidas no refericlo reltitorio.

Essa cornissáo ficou coinyosta cios srs. presidente e secretario, cfi-s.


Antoitio Silvino de Macedo e Alexandriilo dos Sa~itos.
E, como não houvesse mais nadcl a tr+atai.,foi encerrada CI S ~ S S ~ O .
Junta Geral do Distrito do Funehal

Sessáo de 3 de Novembro de 1915

Sob a presidencia do sr. João Augusto Pina, reuniu hontem, pelas 11


horas, a Junta Geral do Distrito, tendo comparecido 24 procuradores.
O projecto do r e g u l a m e n t o d o s
viri hos
O procurador sr. Antonio Luiz Nunes Vieira manda para a rneza a
seguinte:
PROPOSTA
«Considerando que o projecto apresentado para s u bsti tuii- o
actual regulamento de vinhos, de 8 de Novembro de 1913, contêm dispo-
siçiies contrarias a todos o s interesses viticolas e vinicolas do distrito;
Considerando que a fiscalisação nêle estabelecida nenhuma vanta-
gem pode trazer para a viticultura, antes pelo contrario, a vexa com exi-
gencias impraticaveis, improficuas e de caracter odioso;
Considerando que essa fiscalisação e outras disposiçóes inerentes
farao com que a s uvas s e percam nas parreiras, visto que nenhum pos-
suidor de lagares os emprestará para fabrico de vinhos doutros vificul-
fores, pois que nínguem s e sujeitará a s multas e despropositos exigidos
pelos artigos 25.", 26." e 28.";
Considerando que essa fiscalisaqáo, além de improficua, inutil e
desnecessaria, será a causa do arrancaniento de uma grdnde parte dos
vinhêdos da Madeira;
Considei*ando qiie o iinposto pretendido pelo dito projecto esriiaga
e arruina, por completo, a viticultura deste distrito, que presenteinente
vem lutando coni iniimeras dificuldades, e nc?o pode arcar com clespêsas
nem encargos superiores aos que já tciii;
Considerando que a viiicultiira j6 paga o s tributos da contribuic;ão
predial e injusto será, por consequencia, sobrecarregal-a com novos iin-
postos, o que eqi~ivaluriaa uin tributo duplo, expressamente inadmissivel
pelas Leis do Paiz;
Considerando que este tributo acabaria com o resto dos vinhêdos
que a liscdlisação p~idessedeixar de pé;
Considerando que este trit)uto nenhunia aplicacão nioral nem ma-
terial teni para beneficio cla ayriculturcl, erii geral, e da viticultura e vini-
cultura em especial;
Considerando que esse trí0uto vem apenas servir para ajuda de
despesas com um ~>cssoalenorme, desiiecessario, sem utilidade e até
muito prejudicial á rnesnia viticultura;
Considerando que esse projecto não se contentando com a extor-
s ã o do imposto, vae até a criação de tabelas de eriioluiiieiitos para os
serviços que correrzm pela Coniissáo de Viticultura, serviços que pre-
sentemente s ã o gratuitos e estão sendo feitos a contento de todos;
Considerando que nenhuma reciamação oficial ou oficiosa lem sido
apresentada coiítra o actual regulamento de 8 de novembro de 1913, quer
por parte dos viticultores, quer por parte dos vinicultores e exportadores,
o que prova que o regulamento actual satisfaz a todos o s interesses a
que o mesmo s e destina;
Considerando ainda que o dito projecto é um sorvedoiro de dinl-iei-
ros pois que, além da receita proveniente do imposto, (art. 31 .") além da
quantia com que a Junta Agricola será obrigada a contribuir (art. 18." e
seus §§), além da verba com que a Junta Geral presentemente concorre
(art.Os 19." e 20." do regtilamento de 8 de novembro de 1913) quer e
exige o aludido projecto que esta Junta Geral não s ó concorra com todas
as verbas precisas para a s despêsas que forem feitas com esses serviços
e para que não cheguem a s receitas enumeradas, mas que a s inclua ime-
diatamente em orçamento, mediante uma simples ordem da Comissão de
Viticultura, (art. 22." e 5 unico), o que representa para esta Junta Geral
uma tutela desairosa e contraria á sua autonomia, que esta Junta não
pode nem deve aceitar, mesmo porque nenhuma despêsa poderá ser au-
forisada sem que lhe seja criada a receita eqiiivaiente (5 8.' cio art. 87 ."
do Cod. Adm. vigente);
Considerando que o dito projecto veni estabelecer ~naferidtrihujai-ia
e outros encargos, em contrario das leis que regularn estcs ilssi~niptos
(decreto de 10 de niaio de 1907 e 18 dc setenibro de 1908);
Considerando que o citado projecto do i-egiilamento se atasta da
legislação que existe sobre estes assrin tos, não titiido até cabimento
olgum, visto que a ultima lei a este ivespeiropiil>licada foi a 11."26. de 9
de jultio de 1913, a qual já s e acha regulamentada pelo diplon~ade S de
povembro citado e irrisorio seria que para a mesnia lei l ~ o ~ i v e s sdois
e
regularnenros com materias e disposições diferentes;
Considerando que esse projecto de regulamento representa uma
excepção odiosa para este arquipelago, visto que a nenhuma parte do
continente da Republica, tais disposições se tornar11 aplicaveis, sendo
terto que todos estes serviços iio Paiz se acham regiilados pelas r-i~esnias
leis;
Considerando,. em resumo, que o aludido projecto ri riiinoso, cheio
'de encargos, vexatorio, impraticavel e inuito przjudicial para o distrito
e, portanto, para este corpo administrativo, não s ó pela verba que lhe
%levaria(ar!. 22.9, cêrca de 6C):000s00,mas, tambem pelo cercearnentn
que acarretaria nas siias receitas;
Proponho:

l.f'-Qut. se peça, por telegrama, aos I",s.tllO-Presidente d o Lonsell~o,


Ministros do Foineiito, Finanças e da Justica qiie seja rnaiitido sem :ilterucào
o actual reglilamento de 8 de noveinbro de :!I1 9,visto qrie ele satisfa~a todos
os interesses do distrito e por serem ultarnente prejudiciais tod;is as inodific.a-
çòes contidas iio citado projecto de regrrlamento;
2." --Que aos mestnos Ministros se pondere que este c.orpo ad-
ininistrativo não pcíde arcar c0111 desyêsas, além daquelas a yiie j:í e obri-
gado~.

- O sr. dr. Vasco Gonsalves Marques diz que apoia aquela pro-
posta, e que a Comissão Executiva já havia representado a o Governo
naquele sentido, como consta do relatorio apresentado.
---Osr. dr. Pedro Lo~tíelinofelicita a Comissão Executiva e o sr.
Nunes Vieira, pela sua proposta, que traduz o sentir de todos o s madei-
renses sobre esse anonimo projecto de regulamento que, a ser aprovado,
traria a ruina completa a uma das mais ricas culturas desta terra.
Declara que vota plenamente a proposta apresentada e nenhum ma-
deirense, a não ser um madeirensc degenerado, poderá apoiar o regu-
lamento em questão.
A Junta Geral do Distrito, já tão sobrecarregada com pesados en-
cargos obrigatorios, não pode arcar com os enormes dispendios com
que o projectado regulamerito a onera, sem beneficio alg~iinpara os in-
téresses do distrito e da viticultura desta regiao.
A primeira corporacão administrativa do distrito, confirmando r)
procedimei-ito da sua Comissão f-7xeciitiva, e colocando-se ao lado das
outrás corpurações que sobre o dssunto já s e pronunciai-am, iião faz
mais que traduzir os justos clamores unanii-nes de todos os rnadeirenses.
Posta em seguida á votação a proposta d o s r . Niines Vieira foi
aprovada por unanimidade.
Assoeia~aoComereial do Funehal
Sessão de 12 de Novembro de 1915

Aos pi*otestos d d s difci-e~~ies


c o t - p o r a ~ õadiiiinistra
~s tivas, C;atiiaras
Muriicipais, Junta Geral e associiiqões de classe do Funchal, contra o
projectado reg~ilanientode fiscalisa)ão dos vinhos da Madeira, juntou
hontem, com eyual \1eeii2encia,o seu protesto, a Associacão Comercial
desta cidade
Quer pelo qrie acaba de yassaie-se n d reunião da asscrnbleia geral
desta iinportante Colectividade, quer pelo valor dos eleriientos c interesses
que ela representa e advoga, o brado de defêsa que honlern foi erguido
pelo comercio do Funchal em p1.01 da viticultura madeirense ha-de ecoar
altisoijante e altivo nas estações siiyeriores como u m brado eloquentis-
simo de revolta diima das mais poderosas forcas vivas do distrito con-
tra a iniquidade suprema com qrie se pretende sufocai. a populaçáo desta
terra.
A onda de indignação que o tão discutido plaiio de repulan-iento
dos virilios tem provocado na Madeira, conseguindo unir no mesmo mo-
viriiento de protesto os homens de todas a s cores yoliticas e a s classes
mais diversas, é tão expontanea, tão uniforme e é de ia1 modo eloquente
e irnpr-essionante que fala mais alto do que todas a s campanhas que se
prornovessern contra tão ruinoso projecto de niedida governativa.
A atitude que acaba de tomar a Associaqão Comercial c i o Funcliat
é uma atitude que a nobilita. Regosijaino-nos sinceramente com ela,
conscios de que o seu protesto é dos rnais valiosos que surgem contra c?
malfadada ideia que se preteride fdzei. vingar, eiii detririiento da ngriciil-
tura duma região essencialmente agricola e que á riquesa da siia feri-a
tem ído buscar o motivo mais forte do fortdlecir-nento e do pi-ogresso das
suas condiçóes economícas.
A sessão

Quatro horas e meia da tarde na sala das sessaes da Associaqdo


Comercial do Funchal. Vae reunir a Assernbleia Geral.
Assume a presidencia o sr. fohn Ernesf Blandy.
Declarada aberta a sessão, é lida e aprovada a acta da sessão iin-
terior .
Pala o sr. John Ernest Blandy
O Sr. presidente usando da palavra diz:
Meus senhores:
O fim da Assembleia Geral desta Associaqão e, como V. Ex."'
sabem, para tomar conhecimento e deliberar ácêrca duma proposta da
Direcção, no sentido de continuar em vigor, seni alteracáo, o actual Re-
gulamento de produção e coniercio do vinho da Madeira.
A grave ameaça que o novo projecto coristitue náo tern passado
desapercebida a esta Direcção, que, zelando os interesses, tanto dos vi-
hicultores como d o s viticriltores, já por duas vezes telegrafou ao Cio-
verno Central pedindo que seja mantido integralmente o actual Regula-
mento.
O assunto, fio entanto, é de tal iiiagnitiide que esta Direcção en-
tendeu que sobre ele fosse consultada a Assembleia Geral, einbora esteja
certa que O seu procedimento seja aprovado, por unariimidade, no que res-
peita a o s telegramas que já foram enviados e que tambem, por unanimi-
dade, será votada a proposta que o s r . secretario vae Iêr.
A proposta da Direcção
--
O Sr. .secretario lê a proposia da Direcção que é do teor seguinte:
c<Um assunto de grande importdncia para esta ilha-o da nova
regulamenta$ão d o s vinhos-tem ultimamente ocupado a s atenções de
todos o s madeirenses e já a Direcção da Associação Comercial, em tele-
grama, SP dirigiu a o Governo, pedindo que seja mantido o actual Regu-
lamento d e 8 de Novembro de 1913, o qual satisfaz todos o s interesses.
tanto da vitícultura como da vinicultura.
M a s esse projecto do novo regulainento dificulta tanto a cultura da
vinha e a iiidustria que lhe anda ligada, que conveniente será que a As-
sociação, em assembleia geral, se riianifeste sobre ele, a exemplo do
qiie estão fazenda outras colectividades do f'iincl~al.
Nesse projecto saltam logo a vista coisas coirio estas: - U r n ti-ibuto
de L? reis por litro de vinho entrado no f'unch~jl; ilr11a complicatlii fiscali-
saçáo de lagares em toda a ilha; uiiia tabela de rriiolurnentos para os
serviços viticolas e vinícolas; uma exigencia de iiiipiessos. seiii neriliiifria
utilidade. com que os viticultores e vinicultores ter.áo de perder um
tempo imenso junto das riiiiltiplas repartiçóes iiêle indicadas; e de mis-
tura corn estas andain outras disposições que tiido complicam, tudo es-
torvani e nada de util produzerii.

O imposto traz inevitaveli~iented ruina da viticultura, pois ninguem


ignora que já e dificil a sua vida, sujeita aos duros encargos da contri-
buição, dos amanhos, cio tratameiito e tamberri á s contingencias coin que
o vinho Madeira tem de lutar para a sua venda nos mercados extran-
geiros, hoje abarrotados coin vinho de todas a s pi-ocedencias.
E o imposto teria para o vinho Madeira a agravante de ficar este
em condiç6es inferiores ás do vinho de Port~igal,onde não ha imposto
algurií, o que, além de ser altamente nocivo para a viticultura e vini-
cultura madeirense, repi'esenta uma excepção odiosa para este arquipe-
lago, que ficaria com unia desvalorisaçáo nunca inferior a 5 ou 6"io nos
seus vinhêdos.
A fiscalisação dos lagares, complicada e impraticavel, s ó por si
forçaria o arrancarnento duma bôa porção de vinha, sem que utilidade
alguma pudesse da mesma resultar, visto que pretend? reprimir fraudes
que não existem e serviria apenas para aiiichar gente, não devendo per-
doi.-se, de vista que, havendo um numero reduzido de lagares para o s
8 mil viticultores do distrito, muitas uvas teriam que secar nas parreiras,
por falta de lagares onde espremê-las, sabendo-se que com a s multas
pretendidas pelo citado projecto mais ninguem o s obteria poi. emprestirno.
Outro ponto, digno tan~bern da nossa atenção, é o respeitarite á
tabela dos emolumentos que a Coniissão de Viticultura se propõe orga-
nisãr, sem sabermos até que latitude a poderao levar. Presentemente
todos esses serviços da Comissão s ã o gratuitos e nenhuma razáo ha
para que sejam pagos, visto ser esse o trabalho dos atuais empregados
e riunca, por principio algum, se poderá admitir que numa cultura, tão
exausta com a da vinha, se carreguem novos encargos.
E para o vinicultor não deve tambeni perder-se de vista que o pro-
jecto aludido cria embaraços na exigencia de inurnerilb foi-rildlidades e
na passagem dos respectivos serviqos de exportação, dti Alf'c~iidegapara
a junta Agi.icolct e Coniissão de Viticult~ira,o que t~idoIlie le\,a ttzinpo e
trabalho, t l ' ~ de ser p~igopelii rii~itct-idpriinii o vinho.
Porque dêie e que hd-de saír- tiido e até hoje ninguerii i ~ onde i es-
teja a utilidade dêsse projecto que se leriibroii tfe drranidr tima receita
com prej~iizosgraves da agricultura e de toda iir-na p o l x ~ l a ~ ã opdra
, ser-
vir apenas e exciusivamente uma nova classe de enipi-egatfos.

Atendendo, pois, c~ que o referido ~>i-ojt'cto


tle i-eguldri~eriio2 ii~coi~i-
patjvel com a viticultura e viniculttrra rnddeirenses;
Atendendo a que as niodificaçóes propostas por esse prhjecto ao
actual reguldmehto são a destruiqão, senáo a rnortc da viticulturd da
Madeira;
Atendendo a qiie todas essas riiodificações rido poduni nem devem
subsistir, como claramente o tee~ndemonstrado todas a s classes \ i vas
deste distrito, uiianiines na condenação desse pi-ojecto;
Atendendo a que o actual reguiamenfo para produção e coi~iczrcio
de vinho de C) de novembro de 1913 satisfaz á s necessidades cta cultura
e do comercio e está servindo a contento de rodos;
Atendendo a que para a Madeira iiunca deverá ser criado Lim re-
gimen que lhe coloque os seus afamados vinhos em condicões inferiores
á s dos vinhos de Portugal;
Atendendo a que qualquer encargo novo na viticultura trará a sua
destruição e com esta a infelicidade de toda a Madeira e do seu comer-
cio, como s e via na epoca calamitosa do filoxera;
Atendendo a que á Associação Comercial corre d obrigacáo de
velar pelos interesses capitais do distrito;
Propomos:
Que aos Excelentissirnos Presidente da Republica, Presidente do
Conselho, Minigtros do Fomento, Financas e Justiga se dirija o seguinte
telegrama:

Associaçdo Comercia/ Funda/ reunida assem Meia geral salva-


pede V. Ex-
guardando interesse s distrito e viticultura, r~naninlerncrn;~e
celencia seja mmtjdo regulan~cr~fo vinhos 8 No vembro 1913 e yrotes f a
contra projecto apresentado novo regula~nenfopor causar ruina vi-
ticultura.

Mais proponíos que unia comissão delegada da assembleia procure


Sua Excelencia o S r . Governador Civil, afim de solicitar o s seus bons
oficio3 junto d o Governo no mesmo sentido.
A Direcção
O sr. presideiíte -Está em discussão a proposta que acaba de
ser lida.
Fala o sr. Pinto Correia

O sr. Manuel Jorqe Pjr~to(,70rrei<i,iisando da palavra diz: Eni-


bora faça parte da Direcção, siibscrevendo a proposta apresentada, não
usarei da palavra para justifical-a, nias sini para lhe fasei. iim aditamen-
to. Vou rememorar apenas o passado, referir-me á epoca anterior ao 5
de outubro, data da implantação do novo regimen. Era então voz cor-
rente q u e representaqão parlamentar da Madeira não ~iiereciarncuidado
especial, &comoera do seu dever, o s interesses vitais da terra que a hd-
vla eleito, para que não fossenios votados a o abandono dos poderes
publicas. Essa epoca, que era de absoluto desleixo, qiiasi que nos deixa
hoje saudades!
S e é. certo que os nossos representantes em c6rfes lançavairi á
margem o s capitais interesses do distrito, não e menos certo, porém,
que nunca o prejudicaram, armando-se de cutelo contra a siia existencia
economica. Nunca nos prepararam um projecto tão ruinoso como esse
que, com uma insistencia singular, pretendem converter em lei. Todas a s
corporações do distrito, todas a s associações de classe, todas a s s u a s
forças vivas, emfim, quasi que passam o tempo a gritar contra esse ne-
fasto projecto, que 6 a desgraça duma populaçáo inteira.
Creio bem que os srs. deputados pela Madeira desconhecem a es-
sencia desse-projecto e até junto deles não teem chegado o s justos cla-
mores do povo que representam, porque se assim fosse, êles, certamente,
intefpretando o sentir unanime-dos madeirenses teriam feito sentir junto
do. fioverno Central, que essa medida que se prefende para a Madeira
representa um atentado, um crime para a sua economia.
Naturalmente, entretidos em questões de alta finança, para o inte-
resse geral do paiz, esquecem-se de' zelar o s interesses especiais desta
ilha.
O aditamento que proponho consiste, pois, que se oficie aos repre-
sentantes da Madeira, pedindo-se-lhes que notifiquem ao ministro do fo-
mento que o projecto que se pretende aprovar e altamente prejudicial para
esta ilha, envolvendo uma afronta aos direitos e ds proprias leis e que
s6 teve em vista anichar e apadrinhar uma legião de empregados.

Fala o sr. dr. Paiva Lereno

O sr. dr. Paiva Lereno, ap6s o discurso do Sr. Pinto Correia,


pede a palavra, dizendo: Não devia falar nesta ocasião, em que o silen-
cio desta assembleia era eIoquentemente significativo, equivalendo a um
formal protesto ao projecto ein questão e uma solene aprovação ci pro-
posta dos riiern1)ros da direção, que acaba de ser lida.
Visio que falou o sr. llinto Correia, vou tanif~erndizzr d u d s pala-
vras sobre esse projecto.
Tratando-se aqui de pedir ao Governo Central d riidnutcnqdo do
regularnerito de 8 de novembro de 1913, actualniente em vigoi-, é ndtural
que me reíirù ao novo proiecto, que uma insistencia inesplicavel c bas-
tante susyeitd, pi~etendefazer aprovar, sem vantagens pdrd e s ~ ailha.
Pela leitura rapida do projecto chegiiei <i concliisão que rienhurna
garantia pdlyavel e ria1 adviria para a viticiilt~ira c vinicultura d o dis-
trito; antes, pelo contrario, tudo nele e iiocivo, ii~il,ratica\~ele externpo-
raneo.
Assirri, o vinho, que já paga imposto pela contribiiiçda predial,
pelo consumo publico, pelo riai dagua, pela conti-it~uiqdioindustrial exi-
gida nas licenças para a si:a venda a retalho e a grosso para a exporta-
@o, ha de pagar aindd, assim exige o. auctor d o projecto, riiais dois
reis por litro, o que só por este ultiino representa unia ciesvalorisaçáo
de cêrca de 6 "/O. E tudo isto tem de sair da lavoura, pois sotxe o pobre
viticuitor e que hão de recaíi. todos o s encargos. Coiiipare-se dgoi-n isto
com a s enormes dificufdades, continyencias e concorrencias, estabeleci-
das no estrai~geiro,á venda dos nossos vinhos, com a s desyêsas eleva-
das do amdnho dos terrenos, das ayuas de irrigaqão, do enxofre e dos
operarios, e certaiiiente ninguem aparecerá a dizer que a situação tia vi-
ticultura da Madeira, não atravessa uma crise dever-as angustiosa, crise
que todos conhecem, e para a qual sernpre do Governo se tia esperado
qualquer protecção.
Mas, supremo engano! Ein vez dessa protecção, aparece-nos o
projecto em questão, com a espada do iníposto, com o torniquete da fis-
calisagão dos lagares e com a avalanche de tropeços em volta, tanto da
viticultura, como da vinicultura.
S e , a o menos, o dinheiro d o imposto, extorquido ao agricultor,
tivesse uma aplicação util, quer á viticultura quer a qualquer ramo da eco-
nomia agricola deste distrito, ainda s e poderia tentar justificar um sacri-
ficio. Mas não; vae todo ele, e ainda é pouco, para o bolso duma imensa
legião de empregados, já de chefes de secretaria, já de fiscaiisaçáo, todo?
eles inuteis e desnecessarios, com vencimentos de categoria fantasticos,
com vencimentos guilornefricos incomensuraveis.
Para isto é que, meus senhores, se inventou o pomposo nome de
oficina vinicola a o maltrapilho lagar de madeira, que não passa duma
miseravel caixa sem mecanica nem aparelhos de especie alguma. Po-
bres, é certo, esses lagares, ainda assim, não passam de mil em toda a
ilha e neles, presentemente, se servem os 8.000 viticultores do distrito.
Amanhã, portanto, onde iriam os 7.000 viticultores restantes fabri-
car o seu vinho, quando o s yroprietarios dos lagares, e m virtude d a s
multas e licenças a que os sujeita o proiecto, não permitirem o crrnlzres-
timo dessas ofici~~as?
Em parte alguma.
E, como consequencia, começaria o arrancamento da vinha por
toda essa ilhii, á qual traria um aspecto desolador. Que ha, vais, de u t i l
no projecto? Apenas a parte que vem copiada do regiilamento de S de
novembro de 1913. Tudo o mais traduz, sómentc, a preocupação firme e
inabalavel de arranjar logares e servir amigos, não com ordenados i-e-
gulares m a s com vencimentos enormes, a que se justapõem os abonos
gui/ometricos duma elasticidade nunca vista.
Mas não pára aqui. Até o armazem do vinicultor e exportador é
substituido por um museu, como se fosse crive1 que algiiem deixasse de
escolher vinho naquele para o ir provar no celebre balcão da Coinissãa
de VZt icul tura,
O capitulo 5." do projecto algumas considerações me sugerem
tanibem; mas nestg ponto absenho-me de falar, pois tratando da fiscali-
saçâr, d a s fabricas d'alcool, em que estou interessado, desejo dêle afastar
toda a suspeição. Vim aqui para defender os interesses da Madeira e não
OS meus.
Em resumo: o prejecto que se pretende impingir a viticiiltura do
distrito, é, ria sua parte nova, um amontoado de dislates, de incongr~ien-
cias e de ruinas. E' o deshumano e o cruento irnposto a derrancar o vi-
ticultor; é a fiscalisação dos lagares a fechar estes e a deixar a s uvas a
estonicar nas parras; s â o o s e~nolumentosde serviços, hoje gratuitos, a
absorver quanto vintern pudesse ainda restar nas algibeiras do cultor da
vinha; e a complicaç2io dos serviços, por vezes em conflito, divididos,
sem necessidade nenhuma, por entre a Comissão de Viticultura, a Junta.
Gera& a fiscalisaçáo da Junta Agricola e a Alfandega; é a piramide da
papelada dos impressos e modelos a sugar, emfim, todo o nectar que a
nossa preciosa uva da Madeira pudesse produzir.
Mais além podiam ir a s minhas considerações; o assumpto, porém,
é tão de sobra conhecido que, o demorar-me nele, seria como que um
propnsito de tomar teinpo á assembleia.
Serenamente, devemos, pois, protestar perante o Governo, contra
o projecto de que se trata; se isso, porém, não bastar, se continuar a cri-
mjrrwa insistencia com que-andam na sua qprovação, o nosso protesto,
por força d a s circumstancias, deverá então passar além da serenidade,
entrar no campo da viokncia, porque semelhante atentado é uma ex-
rorsilo injusta, um assalto tumultuario á propriedade particular, e essa
viotencia é uma legitima defesa concedida, felizmente, pelo Codigo Civil
e peta propria Constituição da Republica.

As palavras dos srs. Manuel Jorge Pinto Correia e dr. Paiva Le-
reno produziram boa impressão na assenibleia, que com elas i~iosti-oi~
estar de completo acordo.

Nova proposta da Direcção

Nesta altura o Sr. José Quirino de Castro, e111nome da direcção


manda para a meza a seguinte proposta:

Que :í Associa~;io Cori~crci~il cle I,i?;boii sc iiiiiiidt. copiíi de todas a s


moções apresentadas nesta rctiniào e rt.specti\,;ts resoliiç.fies e se lhe pesa qiie
interceda jiinto do Cioverno Central, coadJiivando esta Associaqiio 110s pedidos
que dirige ao tilesmo (ioverno para yur seja nioriticio o atusl &g~iiamen~od e
8 de Novembro de 19 1.3 e y ~ i eseja cornplet;iiiiei~te posto cle parte o projecto
de novo Regiilziinerito, por ser iniquo e funesto.
E que aos Ex.ltl''-Presidente da Yttpublicii, Presideiitc cio Cc,nseiho, .\\.i-
nistros das F'inan~as,Pornento e .Justiça, e 1)irectol- Crera1 da ;4griciiltirra, s e
enviem, egualrnente, copizis de todas as inociws ;ipresci~tud:is nesta reiiriiáo e
respectivas resoitrçóes.
Funchal, 1 2 de Noveinbro de 1 0 1 5.

Todas a s m o ~ ó e 2s propostas foram, por unanimidade, aprovadas,


&ando a presidencia encarregada de Ihes dar o devido expediente.
Como nada mais houvesse a tratar foi encerrada a sessão.
"REPU BLICA"
Projeeto de regulamento dos vinhos da Madeira

l*e~nosyi-esente urii projecto de reguidiiienio pd1.d O C O ~ I I ~ I - Cde~O


vinho Madeira e com êle o relatorio das ernendas t, siltei.açc>espropostas
pela Comissão de Viticultura ciaquela regido.
Limos e na verdade custa a crer que houvesse yuerii, de niiimo tão
leve, s e lembrasse de tributar- unia ciiltura que, de Iid anos já, veiii lutaiido
com inumeras dificuldades.
Nêsse relatorio expõe-se suniáriarrrente d situdção e111que tal pro-
jecto iria colocar a viticultura. Seria a ruina por toda a parte, seria o con-
vite á emigração, tal corno i10 tempo em que o filoxera invadiu a Ma-
deira, originando grossas correntes eniigratorias, que deixaram desolada
e sem braços aquela formosa ilha, poeticamente canta& como a perola
do Oceano.
Seria o filoxera da emprego-mania a devastar a Madeira. O cla-
mor, porém, foi geral em todo o arquipelago; de toda a parte surgiram
gritos de revolta contra o projecto destruidor; e todas a s camãras muni-
cipaes, obedecendo aos queixumes dos seus administrados, fizeram che-
gar ao Governo o seu protesto e secundaram a Comissão de Viticultura
nas modificações por ela propostas ao referido regulamento.
E, com efeito, no projecto apenas se teve em vista arranjar uma in-
finidade de empregados. Nada mais, porque ao passo que se criani luga-
res, como o de chefe de secretaria com mais de dois contos de venci-
mento anual, em coisa alguma forani precdvidos o s vinhedos.
Tributaram-nos cor11 2 reis por I j t ro, com a n ~ e s i ~iric~nsciencid
~il
com que o s poderiam ter colectado com 4, 5 ou 6 .
Ninguem ignora qpe o vinlio atravessa uli-ia crise 1116 srn indo o
país; sabe toda a gente que no estrangeiro, onde se tem dc cfectlidr a sua
colocação, é preciso lutar a toda a hora, a todo o iiioineiíto, com uma
concorrencia crescente e assustadora para os nossos vinhos: por toda a
parte se pede, se exige do Governo que decrete medidas tendentes a mi-
norar a crise. E;, quando isto salta de todos os lados, e , quando isto se
impõe a toda a gente, surge um projecto de reg~ilãmento,que ci- L ~ I Iver-I~
gonha, que é a rniseria da Madeira !
Estupendo !
O povo não pode, não deve pagar mais impostos, e ii c-arítigd de
rodos o s dias; mas o povo C todos o s dias castigado corti rriais impos-
tos, ferido com novos tributos, sangrado nos seus pequenos haveres.
E que lucra o Estado com a nova contribuição, pretendida no
citado projecto?
Nada, como nada tucram os corpos admiiiistrarivos, que s6 s ã o
citados no projecto para forneceret~idinheiros e casas á novd emprega-
dagem, criada seni necessidade, com vexame para o s viticiiltores, de
resultados maus para a viticultura e provocadora de perturbaçóiis da
própria ordem publica.
Para o caso chamamos a aterição dos nossos govei'imrites, de
modo a evitar-se o crime que alguem pretende praticar contra a Madeira
e contra os seus preciosos vinhos, que a tornaram conhecida de todo o
niurido.
A Madeira merece que se olhe por ela e prometemos voltar a o
assunto.
Projeeto vinieola da Madeira
Vala profunda

((c d~ 2 7
Pc~pi//~/ic-,t
J/ 9 .- 1915)

A pobre ma de ir^^ n d o bdsrava o,circulo di: ferro eni ctze os goL7er


nos e Hintori ai envolver;rrn com a celzbracla cluesião sdcarinli.
Náo bastava qiie a Madeira, produzindo açtrcar em ahundancia. o
comesse por preços elevadissimos, milito superiores aos das oiitras par-
tes d o mundo, e riíesmo aos dos prcíprios rnercados de irr~portaqão,
Ainda era pouco.
E por isso lá apareceram mais uns bciirinéritos nci organisaçáo d o
projecto para um regiiiarnento de prodirqão e fiscalisação d o s vinhos,
que é a vala profunda onde querem enterrar a cultura do viilho, dêsse
vinho que todos os recantos d o mundo conhecem e que tão afamada
tornou aquela ilha no estrangeiro.
Temos em nossa frente esse inconcehivel projecto e com ele uni
parecer ou relriiório, enl qtie ã Comissão de Viticultura respectiva lança
confia éte o grito de alarme. mas que é ao mesmo tempo um grito de
dôr ante a perspectiva dos grandes infortunios que se preparam nesse
projectado diploma.
Não s e lhe conhece o auctsr, pois não usa assinatura, rnas ali nada
foi esquecido.
E' o imposto sobre o vinho da região (Art. 31); e o int~postosobre
o que do continente de Portiigdl for írnporiado para o i'ui~ciial (Art. 31):
6 a fiscalisação desnecessária, inútil e conipiicada dos mil e tantos l i i -
gares da ilha (Art. 25, 26 e 28); é urna tabela de emolumentos para os
diversos serviços que correrem pela Cornissão de Viticultura j§ 1 d o Art.
28); o registo de Ictgarzs coni i.esponsabilidades pesadas r)cil*rf os VI-O
yrietarios (Art. 7, 25 e 26); é i~ crici~~jo tlc Ioyai*~\s corir ~ e r i c i r i i i ' i ~ ihot i~
periores a dois niil escudos ~irirj<iis(,li.t 19 t ~ 1 23); E 'i disfritt~liq;loílt' ~ ' i i l
pregados de toda ebpecic i?elci i l t ~ c l i t ~ i r c i r(Ari
~ ~ . 7 n . " L) c Art. 20 i ? . " (5);
6 a rioined~áode vogais pdrd CI Cc)~~iissão de Viticrilttirtt feitci por cld
própria (Art. 8 3 4); é Juntt~Geral e a j i r n t ~ iAgricolcj (1 for~icr~ci-e~ri di
nheiro para tlespesa:, inirabolantcs (Art. 18, 32 3 43); e C I ; ~C I ~Ch-
maras MuniciyclEs a p c i g c 1 1 * ~ 1 1C1 ~ S p~ S ~ ~fiscdtiscj~do
C?l (Ar'!. 24); C I T I ~ I
outras coisas inílis.
Não ha eviderite~rienicrcil1tiii.a yire resista ri seinelh~iiiteciss\rcfio, i1cvrl.r
viticulltores que sobrevivdr~i1' itlis extorsões.
O desanimo lavra por isso enl todo o dryuipélago e iitirriiarii-nos
de ali que a c)rclerri púf,lic;i, q ~ i crio f'ioncf~al é duma pdcattz~ociciviiina,
teri que sofrer coin à yráticíl d a projectado Regulanierito, inventado, por
ccipricho, para fins que não s á o dc iriteresse geral.
tia de estar uma terra inteira sujeita a estas alcdvdfds, tl estd.5
prepotencias, sem noine, sem geito, nern senso?
Não! Não póde ser!
Projeeto vinieola da ladeira

Urna mina

Vamos ver hoje a maneira ardilosa por que determinados rnagnatcs


haviam pensado em extorquir a o Governo o novo projecto de regu!a-
mento para produção c comercio de viiihos da Madeira.
Em tempos, a todos o s serviços viticolas e vinicoias do país ft3-
ram dadas bases sólidas pelos decretos de 10 de maio de 1907 e 1 de
outubro de 1908 e sobre a letra dêles foram publicados o s regulamentos
respectivos com a s disposições convenientes a cada região agricola,
tendo o diplonia, qtie diz respeito á Madeira, a data de 11 de marco de
1909.
Por este regulamento se governou a viticultura e vinicultura rnadei-
rmses, até que a lei n." 26 da Republica, criando novos métodos para
os serviços agricolas de todo o país, autorisou a reguiainentação das
novas e antigas disposigóes. dentro, e claro, exclusivamente d o s yre-
ceitos estatuidos.
Foi o que fez o Governo p a h a Madeira, publicando o Decreto re-
gulamentar de 8 de novembro de 1913, em que se acha coinpendiada
toda a materia legislada a este respeito e atendidas algumas reclarnaçóes
dos viticultores e vinicultores, apresentddds eiri tcniyu cclritjlerc!-tte, por-
intermédio da respectiva Comissiio de Viticultui-ci, ao Fliriisttli-r-iod o 120-
mento.
Desde então não giais voltou o Parlamento a ocupdi-se (lesse as-
sunto e contra o regulamento de 8 de novembro cit«do nào teri1 havido
a mais pequcna reclaniação, quer de viticuitorcrs, quer de coii~i.rciar;i~s.
Não é preciso melhor provd de cjiic o c'itcidtr diplorna estcivcf ser-
vindo a eccinornia viticola dd I-egiáo.
Como se explica, por consequencicl, o tip~~i.rcirric,.riio
d u ~ i iprojkcfo
para novo regililamento, projecto que vern hnc;ar a barítfwridci rio iiieio
de serviços que winliarn bem ~egularisadose que vueiri f'urii- de iriorte d
viticultura d o distrito?
Muito simplesmente.
Para certos rriandões da Madeira não tia lei, iletri direitos; t)cl ( ~ p e -
nas a s suas conveniencias pessoais.
Esses cavalheiros viram no imposto sobre o vinho iiind i ~ i i i wpor
explorar; acharam que os cmoltinientos a que deviam satisfdzer o s sete
ou oito mil viticultores podiam render uns bons centos de esciidos; iíitei-
raram-se de que a Junta Geral e a Junta Agrícola, de cofres ainda re-
cheiados, podiam largar u n s bons contos; sonharam que uma multicláo
de empregados'escolhidos a dedo lhes eiatregaria de vez a Madeira;
V . . . não foi preciso ntais.
Mãos 6 obra que a ocasiao é propícia, a postd bem choruda e a
Madeira urna terra Nnica que tudo aceita.
Eis o motivo de ter sido dado á luz o escuro projécto que, não
contente com as alcavalas feitas aos povos da Madeira, creava novas
complicações corn a s fabricas de alcool e assucar, impondo-lhes fiscali-
sação de impostos, quando a lei expressamente determina que ela seja
do corpo da guarda fiscal, e arranjava conflitos com 'as alfandegas rio
que diz respeito a armazenamentos e exportação, pretendendo estabele-
cer disposições, não só diferentes das que teern iguais serviços no con-
tinente, mas até em briga aberta com a s leis do paiz.
Calcava-se aos pés todo o direito, esmagava-se toda a economia
duma regiao, esbandalhavam-se todas a s leis, mas saía-se premiada
nos propósitos habilmente concebidos.
E haveria aqui, em Lisboa, comissáo que aparasse esse jogo, mi-
nistro que referendasse tanta trapalhada?
Nem a ignorancia desculparia uma fatta dessas, hoje que o pro-
jécto se tornou tão público, tendo-o reprovado a imprensa, a Associação
Comercial do Punchal e todos os viticultores rnadeirenses.
Iv

P~ojeetouinieola da Madeira

'Tudo peoraria

lriforrnarn-rios de que, t?pe:,ar- dtis gt:r~iis i,ecrlalildc;fiesd o s nmtidri-


renses, fia gente a ii?ter*essar-sej u n t o d o Crovccrno pela aprovai;cto, sela
emendas, do projécto qtie, erii 1116l i o ~ ~ c foi
i , coricchido para rogtildrnentd-'
ção do vintr(-, Madeira.
Mais lios dizem que nesiii preterisio s e rido r~~cobi.e iliesrTio que O
projecto é inacsiiavet, mas que se faz disso qtiestáo pdl'a 1110strdr ao
povo ri~adeir=?nse que não terli r) direito de recldmar, que não p6cie levan-
tar a sua vclz e que teni clc sofrer, de hôca calada, tudo y i i d ~ ~ fIlie o
queiram mandar, tudo quanto lhe yileirani i'dzer.
Dura é esta liçáo, que pretendeni inipõr, para o futuro de urnd
ppuiac*do.
já s e disse dqui fld dias, e repeti~itashoje-;ião dcreditarnos que o
Miiiist6rio sc deixe ir- nestd rêcle, tanto mais que nele estão tilhos da
Madeira.
Seria isso a confirmacão de boatos que nos repugna acreditar
Seria isso o desabar de esperanças que rodos fiam da República.
Contra esse projécto bem assente fica, portanto, o riosso protesto
e a nossa pena não se calará, quando seja preciso defender a dòr
daquêles que, injustamente, venhani sofrendo.
Para que se há de impor á Madeira o imposto sobre o vinho, sc:
êle anda tão de rastos que não encontra compradores, se êle é quasi já
um tormento para os agricultores, que nem vasilhame teem em que (1
guardem !
Essa cultura já payd 'i con~ribriic;cioprcdi~il,q ~ i c1130 e yeqiicnci.
paga a o Estado o ria1 de agua, paga o iinposto miiriicij><ile paga ainda
diversas contribuiç6es de licença e industriais. Niio ycíclr iiiais; inas eii-
tendem o s autores do projecto que é preciso ar-i-cinjdi. dinheiro e lá lhe
caem coin o tributo de 5 oir 6 por cento sobre o seu víllor.
Ficaria be~leficiadad viticultura? Ficaria nielhor servicio o Estado?
Aumentariani de receita os corpos adiiiinistrativos? Governar-se-hiain
melhor os vitic~iltorese viniciiltoresí?
Não ! Tudo peorou: o Esiado, porque ri riiiird de tiiria c~ii1rui.d
como a da vinha é sempre uma causa de decadencia yard a s sucis recei-
tas; o s corpos administrativos, porque sáo obrigados a despêsas. cria-
das ate com detriinento do $ 5 do art. 87 da lei de 7 de agosto de 1913,
sem lhe arranjarem receita correspondente; os vinicultores, porque todos
os tropêços feitos ao sou legitimo negocio redundariam em prejuizn
certo; o s viticultores, porque teriam de pedir dinheiro para pagar o tri-
buto, visto que o vinho OLI r160 daria para isso nu, se desse, ncío acha-
ria compradores.
E cultura que nao remunera, diz o agricultor iiiadeirense, e pOr-!he
a raiz a o sol.
Tal o caso que s e daria na Madeira, onde o viticulfor não faz se-
gredo dos seus propósitos de acabar com a vinha, s e Ih'a fributai*etn,
acabando-se assim cotn uma das melhores fontes de receita daquela
terra, sem outra cultura nova ou velha que a possa substituir.
Ontem ainda tributou-se-lhe a cana, que já desapareceu no norke
da ilha, tendo no sul apenas a vida efernera que Hinton lhe apraz con-
ceder; os trigos estão reduzidos no seu qiiantitativo produtivo a urna
insignificancia; a batata, cheia de doença por toda a yclrte, e Irrgares há-
onde nem produz a semente; as friitas caenr bichentas das arvores a
menos de meia maturaçáo. Restava a vinha, consei*vada ainda com difi-
culdades, á espera que trafados comerciais lhe trouxessem melhores
dias e que o Governo, fomentando a instala@o de adegas agrícolas ou
outros esfabelecirnentos congéneres, fornecesse a o ví!icultor facilidade
na colocação dos seus mostos.
Pois essa adega aparece agora ern todo o seu tamanho no art. 51
do projecto, riao para recolher vinhos, rrias sim para recoltier dinheiros
do pobre viticultor, destinados pura e sirnplesincnfe a engordar uma le-
gião de empregados.
Felizmente para o prestigio da República tal projecio não partiu
-das estações oficiais. Sabêiiio-lo saído de iniciativas yarticulci~.crs.Ivfds
isso não basta, porque, riomeando o Governo unia coniissZo para ela-
borar urn novo regularnetito, qiie niiiq~ieriiquer e que a viticiilttira náo
só não exige como até i-epclt., e trccitdrido essa comissão o projecto de
que se tratíi, tonrarn aiiibos, intiii-cct~iiiirntcenibora, o scii yuiritiao cfe
responsabiliclade, que nc?o S peqiieno.
Torna-se, portanto, necessario, toriia-se urgen!t. c preciso Y L I ~ o
governo o u o iiiinistro competente repila clararnenfr esse projecto e o
declare iniiavel, para socêgo de rodos, pois iin~iginír-seo que iiao seria
o dia de ámaniid para o s riossos vinhos c10 1I)oiiro e outi*osd o pàís, com
a porta aberra de se laiicar-eni i~iiyostoszin meros reg.ulanientos!
Projeeto uinieola da vadeba

"0 projecto da regulamentação dos vinhos


é uma calamidade para aquela ilha9'-diz um
ilustre madeirense

A questão vinicola está despertando um exfraordinario interesse na


Madeira. Alela já nos temos aqui referido detalhadamente, julgai~cioin-
terpretar o sentir da grande maioria dos madeirenses e o s artigos da Re-
publica sobre o assunto-dizem-nos daquela ilha-teem sido transci-itos,
com palavras de louvor, pelos i~iaisimportantes diarlos do Funchal.
E como o caso nos fez hontem encontrar um madeirense ilustre,
advogado e jornalista no Funchal, que é uma autoridade neste assunto,
que interessa uma grande e importante região, desfechamos-lhe Iog) O ao
avistá-lo;
-Sabe que ia receber uma visita?
-Cafciilo. Ia procurar-me para saber coisas da minha ferra.
-Acertou. Teem aqui chegado os ecos dos clamores dos madei-
renses, contra um projecto de regulamentação dos vinhos que, ao que
parece, é uma guiihofina.
---Urna perfeita guifhuiina. Se quer conto-lhe eni duas palavras.
Mas deixe-me dizer-lhe, antes de mais liada que os artigos da Repu-
blica sobre a questão vinicola da Madeira teeni agradado imenso em
toda a ilha. Traduzem bem o sentir dos meus conterraneos. Felicito-o.
E enfrando propriamenfe n o cissiinto. o nosso arnavcl entrevistac!~
continuou assim:
-I,i esse projecto, li as emendas qiie lhe propbz d Con~issãode Vi-
ticultura regional e trafei de saber. ri opiniáo tlns viticu1toi.e~.Posso afir-
mar-lhe yue o projecto. como esrd, 6 rcplicici por toda ;i gente, que ele
dificulta imenso a vida da \~lticult~ira, (1i que traria Lima riiina certa, que

ele é, como V. bem difiniir, a g i ~ i / / ~ o f idrols~rri~tdeirtnses.


-Mas, interrornpeinos, pódo V. Ex." falar-lios do i~iotioporque foi
recebido o projecto?
-Pois não. O distrito, por todos os seus pontos cardidis, por-
todas a s suas forças vivas, protestou contra ele, declarcindo-o escanda-
bso e iniquo e em muitas localidades receiani-se motins e desordens
várias, talvez infelizmente inevitaveis, no dia eni que o pretenderem por.
em execução.
--Equais as disposições qzic síio mais preiudicidis á viticiiliui'ci?
---São muitas, para não dizer todàs, mas as principais indicou-as
e combateu-as a Coinissão de Viticultura no seri relatorio oficial. Sobre-
sahem, comtudo, o imposto, a tiscalisiicão dr:s 1dgd1.e~e 11s ía!~*ila:; ife
emolumentos, que tudo há-de ser pago pelo desgraçado viticultor.
«Algumas casas corsierciais z exp:,r:í:.doras s~sys.cndci.aillos seus
negocios, visto a exporfacão ser qumi nula; OS I T I ~ I ' C ~ ~eOsSt r a i ~ g e i i ; ' ~ ~ ,
unicos para que s e destinavam os vinhos da Mildeira, csf5o fechados,
em virtude da conílagraçao eirropeia; r ~ á oha cur;il>i.~~dores, nctn meio dz
~rranjá-10spara todos o s nlostos; e os pregos qiic eni tzrnpos idos erdm
de-5 e 6 escudos baixaram, nalgumas iccalidades, até i csclido por
barril de cêrca de 50 litros, estabelecendo-se assim o rfesaniíno nos dgri-
cultores que já não extrahem da vinha inieresses cornpensindores, Irna-
gine-se o que não seivia quando sobre o vinho incidisse Um triburo re-
presentai-ho de 5 ",/i) d a seu valor'?
<<Erao rnotiin por toda a parte, em a einigr;lgc?o, era o abandono
completo da cultura da vinha, q u e já f o i rica e que, com tim pouco de
cuidado, ainda poderh rer dias felizes.
-E a fiscalisajão?
-Essa seria a transfctrrnar;ács da Madeira nnrria biirccracid,
~Ninguema torna a sério? pois sério ngo 6 iis.calisar fraudes que
náo existem. Cumpria-se o ojcc~ivode ensainear o distrito de fiscais.
gastavam-se rios de dinheiro i i e s ~ e sserviços, e no fim nada de util se
havia feito, porque siirrpIesrricntc, nada havia a fazer.
«E pagava tudo isso a agricultura, como havia de pagar o s emolu-
mentos pretendidos no projecto d o no\.o I-ey~ilaii~t'!ito.os C ~ L I ~hoje
~ S não
existem e de justiça é que nunca aparqarn.
E acha yire esse projecto possa vingar'?
-Não o acreditanios. Contra ele levan t ~1i.dlii-sc toclds ns f(;r(;ds
vivas do distrito, rido só rt.yi.eseiitddas pela Coiii issdo tiv Vificiif jura,
pelas Camaras Miinicipais, e yclds ijssociaqõcs clc cl~il'ic,coiiio ta~ii-
bern directamente, pois c111 ?ocios os ~oricelhosd o disti'i~ocorre, entre
os viticultores, uma i-czpreseiitaqiío dirigi& ao Parl~jiiientoi$ 40 Ministro
do Fomento e que jcí conta Um elevaclo tiúriiero cle ~ s s i r i ~ t t ~ i rdlém
as;
disso em logar nenhurri é ignorada a perniciosidadc do proi6cio de re-
giilamen to .em quest do.
E sobre a dissoliiçáo cla coniissão de viticiilt~ii.~~ sdbc qualquer
coisa importante?
-Eu lhe digo. Alguns dias clepois da chegaia CI Lishoci do rela-
torio da Comissão de Viticultura, conieçou a circular no Funchal, e
dizia a imprensa qiie por. inforrnaçóes do conliiiente, a noticict de que
.seria dissolvida essa curparação, Esta iiova alvorclço~ios viticultores,
pois era como qiie o presagío de sei. aprovado o regrilaniento em
projecto .
A comissão ouvimos dizer a alguiis dos seus vogdis riunca es-
perou sair t b bem; os vitic~iltorese que não ocultavam a ideia de que
isso fosse um truc para arranjdr a nonieação de n o v o s v o g d i s , escolhi-
dos a dedo.
Com isso collocdr-se-hia rriuito mal o governo e sempre o iiilgd-
m o s incapaz de sertielharite precipitacão.
O projecto e iiicoiiipativei coni a situação da Madeira e mal irá a
quem não tenha olhos de ver essa tenipestade a tempo de cvital-a.
Despedimo-nos e de caminho para o jornal vienios pensando que
o mesmo vento de insania qiie remexia Lisboa havia chegado tanibem
ao Funchal. Pobre paiz, onde a competencia dos seus governantes ape-
nas se demonstra. iia criaçho de nichos e no alargairiento d o s quadros
bu~ocráticos,como fornentação única á nossa economia agrícola.»
Projecto uinieola da Madeira

A fiscalisagão dos lagares

\'Iejclln~sO qtie é i1 iisccol!iùa$ito do* 1dgat.e~a L ~ L : Pse rcfei-ç O ~i'oii)c-


to para rrn1 ncsv(? regiilc~rt-rentcrdos iiilltos tla Mdcicir~i.
O art. 25.0 t)l~tt>r?deq11e na se& da Cíirniss,ie, de i'iticiiiti~rahiija
o registo de todos os litpù;.t.s. n Z o poctend~i;zi-lilrim d o i ~ sfuncio!-iar
sem prévia liccnçrr, soh pen;] cfc? jrrocecli~i~iltocriniirral c rriiilki
500%000 rç'iu, arr. L@." c Q .I:
'.

Vem (tepois o clrí. 28." iios sz~1.r,) 9 1 ." (t 3." c iorna oi>rig(~ioria
para o doiio do lagCji-CI a>>il1ai~i.r7do mnnii'zsto & iodo o iiiosio iGie
fabricado, com r t ~ r t l f . ~ ;de
. ?%:.O reis por iiiro de vinho que l'or ri-lar~ifcsstado
com e r r o a mais cfe Ifi'l i!, alérri cfo ~~.oct?c!irne;i~~~ jtldicial que n J~rrita
Agrícola entenda dever proseguir.
A' yriineira vista, quem oi~vii-dizer qíl~>O viticiiltor i-iiit? quci. a iis--
calisação ha-de siipQr que ele á reccid. Pois tal 1130 silcxie, O \~ifici~!tcir
da Madeira não falsifica I~irihos;li~iiifa-sec? vender. o rrtostcr, yricincií: Itie
aparece cor:ipradoi- o guarda a ayua-pé para bebida pelo ano ddeaiite.
Nada mais, e qrrern assim procede ii4tr tei-rt diivida cíè oliiares ex-
manhas, náo se arreceiit d o fihco, iiiipnr.tciritlo->e poiicc) tainbèi~i que
rndo o mundo saiba a qiiantidade de vinlio qiie j)~.oduzi~i.
O caso é outro,
Na Madeira fia cêi-ca de aito niil vitictiltores e nprrl~r:~
íir1.s i ~ i i lIctga-
res para fabricar 3s 16.000 pipas tlc \.ilill« ~ C Ir9eci;lo.Nci MC~dciran3o
existe o grande vitic:il!oi-, a pi.oi)ri~~(!~iile ~1si.i di\-iílitic~c111 ~>ùi*ci.!ds
muifo pequenm e a s vii~iici:,~ ) l ~ i r l i ~ i d .ic/~ii , i i . c. ~ i i i i i i , coiii ~~~~~<I:, iiiItiiidS
intercaladas, 4 vo!itadi. tle colonos i. c,enhoriob. c;iit' dcscj~rrriposs~iir{ir,
viirias culturas do arclrii pélago.
Nos niil laçiires estabelecidos, ein i-eçra, n o s poiitos oiidc a pro-
diiçao r iiiiiioi. é yilc se tern cle servir os oito inil viiicii1lo1.e~cio disrrito.
13 o yiit,. sã[) c ' ~ s ~ .Isc ~ g í i i . ~ ~ ?
I'ror via de re;;rii. L ~ I I I ~ SQ ~ L ~ ~ Icfiixcls I C I S oncie se C I U P T C I I I C I ~ Ie e11:-
pczar11 <15 U V ~ S ,tlltia O U cluns vt.ze:, por {lia. siiuddas erii lojiis coiiliins
*> 6s t'czes cite num recit1110(Li C'<?SCI 011 hdl>lfci(;iiodo proprio vificuitot'.
1:' iiêstes i i p a r ç . I h ~ soi+igii!dis que o s \,i,tinhos d o sirio váo, üIis
após oiitros, por ernprestiii,o c por f<iv»r, fabi-icùntlc) 0 \*ir1110 da regiào.
coin unttl deniord excessiva niotivadcl nr) apri-)vcitri;rit-níc,dít agua-pé,
ntas corri urna alegria cc?.rcictcrístictrde toda a farniIic7 ciile dcsc'l~lassis-
{ir ao fazer do seii vinht).
f3 j70i' toda d fi-egiiezid, poi todo,i as sitii>s,I I C S S ~ epuccr se não
fald noutra cc>usrt qiir i160 seia jjri p~i:-i-iiodt' .iir1110 pt'~i!li~id<t p ~ í cddíl
'
viticu1fc)r.
Ora o ~ ~ l t l r f i dprctjicfo,
o sprri iiiiltdadc alry~~ind, t ~ r t f oisto verii trdns-
fornaii-, por-y~rea:ntini-rd r?Zo I i r ~ dono dc Ic'lgdiyqiie se s~lrcifet~ ei11prf-S-
tal-o, correndo o risco cic atltfar. cir?!,i-iill iirifo e111 m ~ i i t d se pr-ocesse~s,
pois que desde qtio ~ C ) ~ I V P S S rt'spo!1:~a!iilidri~1i>.
S não faltaria quem so-
n!iassc vingailçah, y iic.111 f iirfo crtvcrnenassz, 4 d~3isto se aprovei1asse
lilivez ate paríi fins paliiicos.
E qtreni quereria que intrtrsos lhe andassem nietdiidt> u r1ur.i~fios
cantos da casa, nos r-cconditos cio seu lar don~esrico'?
Ningueiil.
Era o trexarne'30 vificulfor com o arruiicarnento da vinha, seri1 vdrr-
tagem, rieni utilidade de especie alguma.
Umri ~ifopiaé pcnsdr-se ianibern em que essa iiscalisagao, custando
rins de dit~heil'o,strvii-ia para evitar falsificações.
rito preço dciiiai de IIIOS~CISnr?O ss vi? que iiicro possa haver em tal
frdude, riias se a ieceidm, tome rl fiscalisaí;50 conta d o alcool, que é a
rnatcria prima, no logilt cja sua produgão e acompanhe-o aré 6 sua apli-
cação ioiai, rinica inancira de evitar que êle salte do vinho e se trans-
lorme em agi~arclente. porque hoje que111 tiver alcool não vae arranjar
vinho falsificado que nade reride; vae sim fazer aguardente que, fugindo
ao imposto d o s 540 reis por galão, produz um belo negocio.
E o tnariit'csro do vinho, rigoroso o u não, de riada serve.
Sómente '3 fiscalist~çáo110 fabrico, venda e a p l i c ~ i ~ adoo c j l c o o i ,
como miiito bern diz O pdrecer da Comissáo de Viticliitllra, I ~ O ~cicab~~i- C
com a praga do destiobramento d o alcool.
Entre a s razões j>orqlie C! viticiilt~rrde iricoiiiydiivel coiri CI f i s c L ~ i i ~ d -
ção, que, á parte o dar. crnprego r i rnuita geilíe, só vern criar ernhara\;oit
á economia do distrito, atormentar o viticirlfor, ~ji-r<lncar<-7 v i r ~ h ~V : d r -
ranjar pertiirbações da ordeni publica.
E para que s e levantam estes aboi-recirneiitos C ~ O Sl r i ti c ~ ~ l t o tiiia-
.~s
deirenses; pondo-os r ~ s s i r neni Ilagrrjntc' disparidacio corii os d o resto d o
paiz?
Porque é preciso aisranjar iiichos como i-efei-eo pdrecei- iá ctludido:
«a fiscalisação d o s lagares não pode custar inenos tlc 30 a 10 contos;
a fiscalisaçáo da entrada do vinho 11áo pode ser feita com inenos de 20
contos; a fiscalisação do alcool, os delegados idoneos e o demais
pessoal em que é prodigo o projecto não ciistará menos de 60 contos».
Querem melhòr em cada ano?
Faça-se justiça

As ultimas noticias do Funchal falam-no's do movitnento que vai


entre os viticultores de toga a regiao, unisonos no protesto contra o pro-
jecto para regulamento de vinhos, a que já nos temos referido aqui, por
mais duma vez.
Esse projecto, que e hoje conhecido em toda a ilha da Madeira, con-
citou o obio de toda a população contra si, não enconirando defêsa em
ningraem e nem sequer tem ao seu lado aqueles que, em hora mal acon-
selhada, o organisaram a luz coada das suas conveniencias pessoais.
E' o fim das coisas escuras, quando teem de defrontar-se com a luz
da razão.
Todas as Camaras Muiiicipais do distritco se so1idarisai.arn com a
Comissáo de Viticultura nas alterações que esta apresentou confra esse
projecto, e os viticultores, elogiando-as, não escondem o mal estar que o
mesmo Ihes produziu e reprovam-no em absoluto.
Por isso nalgumas freguesias se hão reunido os viticultores para
estarem álerta confra a nova provação a que os querem sujeitar, e entre
eles corre um abaixo assinado, pedindo ao governo que seia inantido o
actual regulamento de 8 de Novembro de 1913, ou que, n ter de rtlexer-
se-lhe, sejam atendidas as alterações indicadas pela Corriissão de Vi ti -
cultura.
Simpaiico nioviniento este drtti~a cldsse que náo ahdic~idos seus
deveres, fazendo sentir ao governo que a s leis ou s e faze111pdra agueritdr.
e proteger a agi*ici~ltura,base da riquesa do iiosso pais, ou entdo se Ihes
dá o destino dos pnpeis velhos, que outro não pode iii.111 deve tri- o pro-
jecto em.questão.
Pense bem o governo neste ~isbiinto.
Não queira desgl-açai. rriais dq~lcldp r e c i ~ s çierrd.
~
Oiqa portanto os viticultorcs, que só lhe podei11 justiqd; dtt'tldd o
seu clamor, que é a expi.essão da verdade, e nau deixe que ersd liridcr
Madeira se afunde.
Faça-se jilstiçd, que riingue111pede favorcs.
Projeeto vinieola da Madeira

Nenhuriia tiklvirda l-esid c/c qire (I pivoj2c:o c i p r ~ b t n i c i t l o Ekir"c1 iiili


novt, s e ~ i i f ~ r n e ndc
t o virzhris da ?t!,i~It)il.d 11:i0 5(5 é ~ i e s ~ ; ~ ~ e ç t s sCCI~IIO
çl~~io.
é imei-m~iur:ti!iic;>rc;rtdiciaiiB(! pi'Oi1O:d:~~ii' (fe C ~ ~ S ( I I ' I J ~ I I S
A5sir11 o derir~~~cltrori i~C~)iill%:i30 cte L'i;i::uitllr.tr rio i-eldtorio c>yi-u-
sen;<jcio ao goxJet.i.ro: dssim o corriii~tjarirc)5 t3kgrdi1ias c recldlndqões
dirigiuas no ~nesrvosçlntjcta petas Camaras Miínicipais-, Associaqáo Co-
mercial', vil icul~cri-es,efç.
Por toda ii iilta c. gei.c;i i ' t ' [ > ! i i ~ i icotlfra
~ CSSY r n ~ n s t r i ~ o~ s o~ j i c t o
que riinguem póde cti'eitclr o C I L ~ Cn ~ ; ~ h l governo ~it~ siincionará.
Contra 414 4 QFTI ~rni~orto fclfardni toda:, as paries inte1'cs:iddas 1 1 0
assu!~to.
Quiz dindd, poretri, i n i i ~ i n c i ,que pdi1-d sobre d i?+4aí1~irci,vêr se
afogava á nascença a onda dc revolta prcrvoccitfa veia leitnril tfo aludido
projecto. E por isso a C O ~ I ~ ~CfzS Vificult~rci~ S~O íf~lt) foi q ~ w i nprimeiro
deu o grifo de c r l a r ~ ~ foi,~ e , segiindri i-eE'.i~-eu irr~prensdlocal c outras in-
Forrnaç6cs canfirmarn, ai~meaçada de di:iscluqáo, seguida íltz processo
disciplinar para todos os vogais qlru fossem czmp1,egítdos pubiicos.
O Estadcj não pOde servi;. caprictios de ning!.iien~.Oii errt;io iudn
esta perdido nêste paiz.
Porque não é sY disLsulver. E' necessario Ilavei- tundar-riento, é pre-
ciso haver razão, decoro e inoralidade.
Ora, no caso presente, nada disso existe e , aqui coino lá, licar-
se-ia sabendo apenas que o governo, abusando da SLICItorqd, ia hgrieli-
ciar amigos, com prejuízos manifestos da agricuttiira c. dirrnd pttp~ilacáo
honesta e trabalhadora.
A Coniissão cIe Vitic~~lt~lsd
i ~ 1 - he;'il~hora,
~ certdnieilte, d i-ir, irias
deixava a siia passagem fundariicnte gravíid~~ 110s anais dd vitici~1tili-a
madeírense, e o governo deixaria apenas nas Í'i-ias linhas dtirri c!ecr-elo a
nota frizanfe clo seu quero, posso e malído, pois o ~ i t i , dr'oisci i1c10 IT-
presentapia essc íicto, faltio de morrilidade c sciii lei c?lg~iiii<~ cliie o ti?-
fendesse o u ~tpoiíjsse.
C ) i-egularnentc~eiii v i g o r , de S cle li<,\c l i i i l ) r - o r.ic 1913, c' pi-otl~iiocfd
lei n." 26, qrie rnocIificou os serviços (ig~.ícolasCIO !)diz, e it2lc' cbt30
compreeiididas u estati;iclas todas iis disposicõcrs Ivgciis t*clc~-t'i~ir'c, do
assiinto.
Posteriorinente não ~ o l i o uO ydslctiriento C I ociiydr-hr t k s s e s > ~ ~ i - \ ' i -
ÇOS; os viiicuitor.es e vinicriltores s ã o iinaninies ríd diirlli~lçd~ de qiie
esse regulamento satisfaz as necessidades da regido e nas rstqqOe3 ofi-
ciais nenhuma. r~hsol~~tari~erite nenhun~ii recfamaçcio existe contrci :.>se
diploma, que ritila vez p~iblic;ictoter-noii C ~ C ~ L I CtlC IdllfOl'~hrt~d<)
concedida
na lei n." 26.
Em que se ~z<ídebasrai, l z o i i ù n t o , o Mii1isí6i.i~)rfo Fonietiio i)f~!"d
ordeiiar a uma cornissáo qtie organisasse Liin novo regulamento?
Quais os ciados oficic~is fo!.necidos parc-i r) confecção d t s s ~di- ~
ploma 7
Não existem.
Ficam de pé dpenas a s conveiiiencid,.i de dcterri~ii:ddosii3di~:iiluos
Para oufra coisa não foi concebido a projScto, organisado sem
cunho oficiai. sem interesse algum para a vitic~iltura e presente 'i tima
comissão que, ju!gai*arn os seus aiatoiWes, o assinaria de cruz.
E a Comissão de Viticultura ficará, porque a lei e a nioraiiclade
exigem que fique; e O proiecfado regulamento terá a niorte d o s tíi-mos,
incinerado em horto escuro, de mistura coin o s papeis \-e!hm
Projesto uinieo h da Ladeira

Absurda insistençia

O telégrafo levou para a Madeira a noticia de que de novo hdvia


insistencias para que fosse feito um novo Regulamento destinado a pro-
duçso e comercio de vinhos daquela região, o que eq~iivalecl dizer que
se nmvern eliipenhos iio sentidct dc- ser aprovado o celebrado projécto,
em tempos apresentado no ministério e que tanta e tão jristificada celeu-
ma levantou no Funchal.
, Esse projécto, já o temos visto ern diversos artigos, é CI morte da
viticultum e vinicultrira rnadeirenses. é a desgraça daquela honrada e
laboriosa pop~~fcl@ío, beni digna de melhor sorte.
Noticias recebidas do Funchal asseguram-iios que é geral e com-
pleta a indisposição provocada por esse projécto de diploi-ria e que em
os concelhos, a par da tristeza por ele produzida, e evidente e fri-
a revolta que sc vai fomentando.
Mas que se pretende agora coni essas novas ii?sistenciasí?
Fazer vingar esse projécto, sem dtcndei* 6s alterações que ds cids-
ses interessadas lhe propuzerani?
Ou, postas de parte algumas das suds disposiçbes, introtlirzir-lhe
coisas novas, s e não peores oii iguais áquelas?
Em qualquer dos casos, mal anda o governo se deixar de respeita
os interesses da agricultura, que são, no findl, O S expostos pcsl~i Cornis-
são de Viticultura e pelos viticulfores.
Sabemos que da Madeira teeni vindo relegrarnas yotfindo cio go-
verno a maniitenção do actual Regulamento, eni vigoi., de 8 de novern-
bro de 1913, organisado para sribstitiiir o cfc 1 1 dc niarço cic 1909, por
força da lei n." 26, piiblicada no Dicfri'ocio Goiycn~or i s o 167, de 1913.
E esses telegramas, assinados pelas cdriiiiras, pelos \~iticultores,
pelos vinicultores, pela Associaçãs Cornercial, pclcl Comissão de Viti-
cultura, representam a vontade plena da agricultura e da indiistria d o
-vinho, em jogo com a s demais culturas d o distriro.
E para que todas a s classes dissessem da suii justiçci chegou taili-
bem ao ministério urna representação da junta íieral, pediiido a rnanu-
tenção do alucfido Regulamento de 8 de noveinbro, e o s agricultores,
em outra representação, Iargarnente assinada, solicita~nc10 governo
igual providencia, indicando, pdra o cdso dei ir por diante a ideia da
publicação d o novo Regulan~ento,diversas alt eraçóes que dc'veiri ser
feitas a o projécto a que nos temos referido, serri o que 6 ê1c inaccitavcf
e será causa de conflitos graves e serios na ordem pública.
Todas a s classes da Madeira, portanto, s e unificaram i10 niesrno
pedido, todas reconheceram a necessidade de afasíai. o decjp:.opositado
projecto de regulamento e todas se dirigira;^^ nesse sentido ao Governo,
quer por telegramas, quer por meio rle representações.
Se o Governo a s desate~lder,será o rnesrt-io que d2~ldl'dl' inorle
dá viticultura no Furichai e, sem drivitia, a demonstracão cabal do seu
desprezo pelas coisas agricolas e do seu dnior enorme pela desorde~nc
pelo alargamento da esfera da emprego-mania que vai devasfando e afun-
dando este nosso velho e pobre país.
Mas para que há de mexer-se rio actual Regu!amenfo?!
Ninguern o pede e todas as classes são unâniiwes ridi aiirrii~tiivade
que Ele satisfaz e acautela o s interesses da viticultura e vinicultura.
Por oiitro lado nenhuma lei autorisa nem determina esse passo,
visto que a s leis priblicadas sobre estes assuntos forain todas reyulamen-
fadas, fendo gara a Madeira sido até isso feito e m diploma exclusivo e
separado.
Onde está pois autorisação para um Regulaniento noaro'?
E como s e compreende que, com base na mesma lei, s e arranjem
regulanientos com doutrinas diferentes?
Ilegalmente andou o Governo quando nomeou por portarias de 19
e 24 de Julho, Diarios d o Governo n.OS 169 e 174, respectivamente de 27
e 30, uma comissão para estudar uni regulamento para o comercio de
vinho da Madeira, visto a isso n(so estar aiitorisado por nenhum c'+
E' tempo ainda de se obstar a que esse escandalo seia converricln
em diploma legal.
Atenda o Governo os clamores dos seus ddniinistrados t. oLiqa a
voz justa dos qbe trabalham.
A Republica náo se fez para estes desbaratos e loucui.as, iiiiis sim
para o bem de todos, do povo e de aqueles que tinham sêde de iustiça
Projeeto uinieoia da Madeira

Em face da lei

Dizem-nos que mais algumas rn~difica'~óes ao rey~ilameiiiode 8 de


novembro de 1913 para o comercio de vinhos da Mddeira andam presen-
temente na forja.
Eram poucas a s já contidas no projecto de que nos temos ocupado,
e sobre a s quais não s ó nós, como outros jornais, os viticultores e a
Comissão de Viticultura da Madeira levantaram desde o principio o grito
de alarme.
Justificado era êsse alarme, pois era nada menos do que ferir a
Madeira e, em especial, a sua importante fonte de receita a vinha.
A' Comissão de Viticultura resporideu-se pedindo o nome dos seus
vogais, naturalmente para a dissoluçáo de que falou a imprensa, pelo
simples motivo de ter tido o arrojo de manifestar a sua opinião clara
sobre o ilefasto projecto.
A's outras entidades, que saibainos, resposta alguma foi dada aos
seus pedidos.
Encerra este silencio uni propósito firme de levar de vencidos todos
os claniores da laboriosa população da Madeira?
Viza-se a deixar correr o tempo, a ver se tudo esquece?
Corre o boato da dissolução da Comissão, e informam-nos que no
Ministério se movem empenhos para a aprovação do projecto.
O Governo tem em seu poder todos o s dados precisos para co-
nhecer que ninguem na Madeira, com justa razão, quer mudanças no
actual Regulamento. Sabe tambem o governo que o projecto em questão,
aparte os artigos que veem do Regulamento de 8 de novcrnbro, s6 con-
tém dislates, despropósitos, tributos odiosos e coisas nocivas.
Que se espera, pois, para pôr de parte e de vez semelhante rrdpa-
Ihada, que traz inquieta uma população inteira?
E' tempo de acabar-se com isso.
Diz-se que um dos grandes argumentos apresentados pelos defen-
sores do projecto é o da fiscalisação á produção do alcool.
Cabia agora perguntar que tem a produção do alcool coin a yuasi
totalidade das invenções arrumadas nesse projecto.
Mas cai pela base êsse argumento infeliz.
Pelo decreto de 24 de Dezembro de 1903, iunto de cada fdbrica ma-
triculada foi posta uma estação fiscal, composta de Lim cabo e duas pra-
ças da guarda fiscal, encarregada da fiscalisação do açucar e do alcool,
na mesma produzidos.
Veio depois o decreto de 11 de março de 1911, que criou o regime
actual e não falou da qualidade nem quantidade da fiscalisaçáo a empre-
gar em cada fabrica matriculada.
Claro está que ficava sujeita a fiscaiisaçáo aos preceitos das leis
anteriores, em virtude do que continuou a mesma a ser feita por pessoal
da guarda fiscal com o onus para o requisitante, nos termos do Decreto
de 13 de abril de 1893, e outras disposições aplicaveis.
Mais recentemente até, veiu o Decreto de 27 de Maio de 1911, e no
seu paragrafo 4.0 do artigo 33, n.O 2 impoz á 5." secção das Alfandegas
os serviços de flscalisação das fabricas de alcool e açucar da Madeira.
Eis a fiscaiisaçáo a que são obrigadas as fabricas de alcool e açu-
car. Querem armar nova questão Hinton, sem desculpa alguma para o
G~verno?
Os decretos de 8 de novembro e 31 de maio de 1913, respectiva-
mente no seu art. 60 e art. 8, consignaram á Junta Agricola o direito de
Ianqar mão dos meios ao seu alcance para vigiar a legal aplicação do
alcoot .
O mau foi começar e não contentes com isto, que já é muito para
quem queira trabalhar, lançaram as suas vistas mais adeante e quizeram
fiscalisar pelo pessoal dos impostos, fambem, a produção, que por lei
pertence á guarda fiscal e á s alfandegas, afastando assim estas desse
serviço.
Não se lembraram de que para isso era necessaria uma lei e que um
simples regrilamento não pode alterar a s leis devidamente estabelecidas.
Por isso, com uma ignoraricia pasmosa, apareceu o celebrado pro-
jecto de um regtilamento, verdadeiro aborto de legislação, cavando a
ruina certa á viticultura do distrito do Funchal e preparando urii novo
conflito coin Hinton, visto conter disposições tais, corno a s d o seu art
18, entre outros, em briga aberta com o Decreto de 11 de março de 191 1 .
E tudo isto s e pretende fazer por um simples regulamento, seni au-
torisação absolutamente alguma legal, sem consciencid neni d 6 pela Ma-
deira e até por este pobre pais.
Mas para que niodificar o iict~1c71regi~ldrnento,se êle está vigorando
há já dois anos, sem que contra êie haja sido feita uma uiiica reclama-
ção oficial ou oficiosa, quer de vificultores, quer de viiiicultoresct
Para que tocar-lhe, se todos são unanimes na sua integritl riianu-
tençáo ?
Lucra alguma coisa o Estado ou as corporações adiiiinistrativas
locais com essas modificações?
Não. Antes, pelo contrario, todos perderão, quer direcra quer indi-
rectamente.
Sempre foi mau brincar com coisas serias e o teiiipo não vai pdrd
yustentar caprichos, sejam êles de quem fdr.
" O MUNDO"
UMA QUESTÃO MOMENTOSA

Os vinhos da ladeira
e as condições d o projecto d o r e g u l a m e n t o
para a produção, fiscalisação e comercio
dessses vinhos

Consulta do dr. Juvenal de Araujo

O nosso distincto amigo, dr. Juvenal, ciesdobra-se c o m o polemista


como causidico e como homem de sciencia.
Filho de importante viticultor duma das iriais afamadas regiões vi-
nícolas da Madeira: o <<Estreitode Camara de l,obos», e escrupulosa-
mente a par da9 questões economicas que mais de perto interessam a
sua terra, no estudo das quais se absorve, éle nos deu uma consulta
muitissimo interessante sobre o recente projecto do Regrrlamenfo de
Producão, Fiscalisaç80 c. Comércio dos V i ~ ~ htia o s Madeira.
Isto a proposito do protesto qlie lemos ern o seu Dia* da Ma-
deira e dos telegramas dirigidos ao Governo, quando nos encontrava-
mos no Funchal, pela Comissão de Viticultura da Madeira, varias Ca-
maras Municipais e Comissões de Viticulfores.
--Desde 1870 a 1880 que o phyloxera, invadindo o s vintiedos nia-
deirenses, devastando as ricas castas que possuiarnos, deu uin profundo
golpe numa das nielhores cul~urasda Madeird, qiie desde então tem
vindo arrastando umd vida cheia de embaraços e de crises sucessivas.
Estes males, aliados ci co~icorrenciadeshoi~estde desleal que se
pratíca lá fora, sobretudo etn Hespanha, onde se imita corn niais ou
menos perfeição o precioso viritio da Madeira, que gi-cing.cou atravez
dos seculos uma faina honrosissiriia ern todos os mercados do iriundo,
chamou a atençáo dos poderes públicos que coinecai*airi a adoptar me-
didas tendentes a iugular o mal.
Assim o ministério João Franco, eri-i 1907, yiihlicava a lei do fo-
inento vinícola; creando a s Comissões de Viticulturd ~'egioniiis,u n s pe-
quenos parlamentos vitícolas corn representação de iodos os coricelhos
da região, e onde o s assunios da especialidade se,.idi~icstiidados com
particular interesse, sendo propostas a o Govcrno a s riieciiclas q u e a
prática aconselhasse t. tendentes CI aperfciçriar o q ~ i e<c c~cl-iitvtlleais-
lado.
Com a criaçáo da Junta Agrícola da Madeir<?,i ~ ~ r n b e i i(ii cultura
da vinha náo foi esquecida. Corno se sabe, iirna d a i att.it)uiçõzs obri-
gatórias daquela corpot*ação é fazer a propaganda I I O esti'arigeiro do
vinho da Madeira. Aténi disso, d irnpoi'taqão de castas cluc dquela cor-
poração fez e que distribuiii grd ttiitamente aos ag'ricul íoi+cs, igiii-llr?ier-ite
veiu coiicorrer para se fazes a ~eiecçãod a s castas.
Nas negociações de tratados de comércio com o estrangeiro tam-
hetn não tem sido esquecido o vinho da Madeira. O traiado de tgmércio
com a Alemanha dá-lhe certos privilegios e garailtids, não deixando
despachar nas Alfandegas do Iinperio, vinho com o norne de «Madeira»
que não seja aquele produzido nestd ilha, cuja procedencia e pureza
sejam gararifidas pelos certificados oficiais das Alfandegacs porViugliezas
e dos laboratcjrios químico-agrícolas, que são obrigados a iinalisar u m a
amostra do produto que se pretende exyo~.t-a~. para auuelc yaiz, que [ião
pode s e g ~ i sem
r o competente certificado de anaiiscl.
Recentemente o ti-atado de comii-cio luso-britân ico tarn bem tia sua
cíausula 6." concedeu certos privilegios ao vinho da Madeira.
O decreio de 11 de marco cte 1909, que regulamentou a lei vini-
cola, confinha certas disposições que não satisfaziani, ínlpondo-se algu-
mas inodificaçóes qiie a prática havia aconselhado e d'ahi o Governo
ter substituido, por proposta da Comissão de Vificialtura, aqiiele diplo-V
,ma, publicando o ~*egulamentode 8 de novembro de 1915, que se acha
afualinente ern vigor e que SE não tem surtido, iiiais rapidamente, o efeito
que seria para desejar é isto devido, em grande parte, á corrflagraçáo
europeia que, fechando o s principais mercados d è vinho ~Madeiioit,vem
dificultar a exportação.
Sem ninguetn esperar, sein havei- a menor i-eclamaqáo das partes
interessadas, sem a Comissão de Viticultura (única entidade que tem
tais atribuições) propor alterações algumas ao regulamento, stlrge o
novo projécto que baixou á apreciação daqiiela Coniissáo.
E' contra esse projécto que vejo a s Camíiriis Miinicipdis E OS
viticultores se pronunciarem ? interrompenios.
Precisarriente.
E +parece-lhe, meu caro, que n'esse projecto d o regulaiiiento de
produção, e fiscalisaçáo dos vinhos da Madeira são salvagiiardados os
interesses da Madeira?
-De modo nenhum, antes pelo coiitrario. O novo reguldntento só
traz: ci:eação de impostos que na actual conjunctura ainda verii agravar
o mal; creaqão 'de um exercito enorme de enipregados que absorve to-
da a receita do imposto~creadoe ainda unia grande parte dcis roceitiis
da Junta Geral e junta Agricola ; Lima complicação eriorine e embaraces
sem conta nos serviços, que s ó acarretdm inconiodos e dificuldades '30s
proprietarios, viticultores c vinicultores.
E o sr. dr. Juvenal d'Araiijo, muito senhor -do dssuntc), coritiilira
a discorrer.
-Pelo artigo 31 ." d'esse projecto, o vinho que entrar na cidade
do Funchal é tributado com u m irriposto de 2 reis por litro, oii seja 6 I '
sobre o seu valor, além dos impostos, já de si pesados, que recahern
sobre aquelle producto, como sejam o imposto de produção que incíde
nos terrenos onde o vinho é produzido; o imposto de consuriio ou real
de agua, quando lançado no mercado; imposto municipal, quarido cx-
posto á venda; e ainda os encargos de licença e contribiiição industrial
que os comerciantes teem de satisfazer. Coiiio vê, é iim producto que já
está bastante onerado e que 1150 pode arcar com mais encargos.
Depois, a maneira de tornar efectiva e pratica a cobrança de tal
imposto? Como sabe, o Funchal é uma cidade aberta; para 0 vinho en-
trado pela Alfandega e destinado aos armazens dos exportatlores, essa
cobrança seria facil. Nenhuma quantidade de vinho pode dar entrada
nos armazens dos exportadores, nem ser creditado nas respectivas con-
tas correntes, ;em vir acompanhado de uma guia de transito, passada
pelos vogaes concelhios da Comissão de Viticultura. Mas para o vinho
que tosse destinado ao consumo interno, seria preciso crear postos fis-
cais em todas a s estradas que dão acesso á s freguezias rurais, que s ã o
bastante
"
numerosas, e manter uma fiscalisação permanente e rigorosa!
Ora, está calculado que este imposto não poderá render mais de
12 coritos. E o pessoal s ó para a sua cobrança não poderá custar menos
de' 20 contos. Assim, tanga-se um imposto sobre uma cultura para pro-
vêr aos encargos resultantes do pessoal e outros serviços inherentes e
chega-se á conclusão que esse imposto nem sequer chega para a s des-
pezas coni a sua cobrança. Assim, ainda, a Junta Geral e junia Agrico-
ia teem que arcar com o s restantes encargos que s ã o importantes, e qtie
vem afectar a vida destas corporações, já bastante sobrecarregadas.
E, mesmo, esta deterrninação do reguiainento eni projecto é ine-
xequivel. Conio sabe, o Codigo Administrativo recentenienie proiiiulga-
do mui claramenre deterrnina, que o Cio~.ei-norido pode crear á s corpo-
rações administrativas novas despezas ohi-igatoriiis scni a correspon-
dente creaçáo de novas receitas; e d'aq~iia necessiciade de ci*crqão de
novos impostos e d o auniento dos actuais.
Está calculado que o s encargos com pessoal, que traz o novo re-
gulamento, não poderão ser inferiores a 1%) contos. Rendendo o impos-
to 12, faltam 108 contos que rl Junta Geral e junta Agricola teem d e pa-
gar.
Outro ponto é a fiscalisação d o s lagares. Para qiiêr?se na Pladei-
ra não se falsifica vinho no iaiar'?
E que serie de complicações!
Imagine que nenhurn lagar pode funccionar sem t i i l i ~ llicença, com
responsabilidade, em caso contrario, de uma multa ate 500~000réis e
procedimento criminal; o s seus donos são resportsaveis pela exaclidáo
dos manifestos d o s viticr~iitoresque ali fabricaram o vinho c que elles
eniprestarani por favor.
Apesar de haver cerca de 1 :O00 lagares na Ilha, e sendo aproxi-
mado a 6:000 o s viticultores, sucede que 5:000 viticultores, o s pequenos
proprietarios, não teem lagar para fazer o seu vinho. Como remedeiam
isto? Fazendo o vinho nos lagares dos outros que por favor o s empres-
tam. Ha algum proprietario de lagar que o empreste desde que lhe adve-
nha a responsabilidade no pagamento da multa de 500 reis por cada li-
tro de vinho a mais que o s viticultores manifestarem?
Evidentemente que não.
Corno pode um dono de lagar assumir a responsabilidade da exa-
cfidao dos manifestos dos viticultores que fazem vinho no seu lagar,
que Ele Ihes emprestou por favor?
Teria, durante a colheita, de não abandonar o seu lagar a fim de
fiscalisar todo o vinho ali feito. E o que lucrava com isso?
Fazer um favor a um amigo ou a um conhecido. O que sucederá
pois? Os donos de lagares apenas fabricariam o seu vinho não o s em-
prestando a mais ninguem. Ficariam assim o s pequenos proprietarios,
que não possuem lagar e que são aproximadamente em numero de
5:OQO, impossibilitados de fazer vinho.
Além disso, funcionando todos o s lagares a o mesmo tempo du-
rante a colheita, seriam precisos inumeros agentes para o s fiscalisarem,
e esta fiscalisação nunca poderia custar menos de 30 a 40 contos. E o
que se lucraria com isso? Absolutamente nada, porque não é n o lagar
que se fazem falsificações de vinho, como não se evitaria tão polico o
desdobramento do alcool. A fiscalisação dos lagares e pois uma medida
inutil.
Além de todas estas ~*uiiiosasdisposições, o projecto do regula-
mento cria tambem um muserr viticola, urn rnostruario dos tipos de vi-
nhos que não conduz a resultados nenhuns yraticos, a não ser urna
complicação de serviços inuteis yire só provocani incornodos c criam
em baraços aos vinicultores dando pretexto para ariic har pessoal.
De maneira que, na sua opinião, qiicil deverá ser a soluqâc) a to-
mar ?
E m minha opinião, é introduzir-se nesse projecio de regularnen-
to as modificações propostas pela Coniissão de Viticultura, unica entida-
de competente para s e pronunciar sobre o assunto, ou então. o que se-
rá muito melhor, manter-se o regulamento de 1913 actualmente em vigor
contra o qual. ninguem protestou: nein viniciiltores, nern viticultores,
nem proprietarios, nern consuníidores.
O que não pode admitir-se 6 esse projecto de regulainento que ahi
apareceu e que, a vingar, traria para a nossa viticultura a hora ultima da
sua ruina.
"DIARIO DA MADEIRA"
O nouo regulamento dos vinhos

A Camara Municipal do Funchal apoiando


as reclamações da Comissão de Viticultura

Na sessão de hontem da Caniara Municipal d'este concelho foi


resolvido telegrafar aos deputados e senadores inadeirenses pedindo-
Ihes que se esforcem no sentido do regulamento dos vinhos da Madeira
só ser aprovado depois de lhe serem introduzidas as modificações in-
dicadas pela Comissão de Viticultura d'esta Região, visto que o mesmo
regulamento tal como foi elaborado, será a ruína o u mesmo a morte da
viticultura mahirense.
Ficou constituida uma comissão composta de tres vereadores para
tratar do mesmo assumpto com o Sr. governador civil.
O projecto de regulamento dos vinhos

Protestos e reclamações que surgem

Começam ds surgir por toda a ilha os mais justificados protestos


e reclamações contra o projecto de regulamento d o s vinhos da Madeira,
so'bre o qual a Comissão de Viticultura manifestou criteriosamente, na
sua ultima sessão extraordinaria, o seu parecer.
Está a dar-se o que nós previamos-a indignação geral contra um
projecto que traz a ruina d'uma das grandes fontes de receita agricola
da população madeirense.
Ante-hontem foi a Camara Municipal do Funchal que se manifes-
tou decitaradamente contra esse projecto, que constitue uma afronta, pa-
ra não chamarmos um golpe de morte nos interesses viticolas da Ma-
deira.
Hontem, foi a Camara Municipal de Sant'Anna, a pedir á Junta
Geral, a sua interferencia junto do Governo antes que esse golpe seja
vibrado.
Aquela corporação manifestava-se nos termos seguintes, num tele-
grama dirigido á junta Geral do Distrito:
Camara Municip a! Sant'Ana interpretc?17do o geral sentir .dos
povos rogd d V . Ex.6' se digne telegr~farC I Ogoverno centrCl/szcu/?-
dando justas reclamações da Comissão de VitjcillTuri~cicer-cí'c7h rc-
gularnento da fisccllisação de vit~hosprestando LI prilneird col.yom~;ir,
do distrifo uin importantissi/no c? v~~Iioso
S V I ' V ~ Ç C ~70s
) v i f j c l ~ l t o ror-
r~~
turados pelil crise vinicoltr ,

A cornissão executiva da Junta Cieral d o Districto reiiriicicl lioiircrii


em sessão ordinaria, tamhern tornou conheciriiento d'um oficio dd C;o-
missão de Viticultura acotnpanhando urn exemplar do proiecto do regu-
lamento para a produção, fiscalisação e cornercio dos vinhos da Madei-
ra, e beni assim outro do parecer sobre ele ~~presentado pela cornissc'rc)
encarregada de o estudar.
N'esse oficio a Coniissão de Viticultura consignava o deseio de
que a junta Geral comunicasse a o Governo a s iinpressoes coltiidas na
sua leitura, visto tratar-se da viticultura da Madeira e no projecso erri
questão haver artigos que directamerite visarn a s receitas da Junta Geral.
A comissão da Junta resolveu inteirar-se da exposição que fez CI
Comissão d e Viticultura para depois se pi.onuncia~.sobre o assiinto, a
que está ligado o pedido da Carnaiva Municipal de Sant'Ana.
A projectada regulamentação dos vinhos
da Madeira

(cí Diario da Madeira » de 28- 7-191.5)

Ta~nbemcausou uma forte indignação n'esta freguezia o novo pro-


jecto de regulamento de vinhos, com que se pretendia, sob o manto aus-
pecioso da proteção á viticultura madeirense, crear uma nova legião de
empregados, a qual não só absorveria toda a receita dos novos impos-
tos, mas iria, ainda por cima, sobrecarregar o s orçamentos da Junta
Geral, da junh Agricola e até das pobres Camaras Municipais!
Todos quantos, desprendidos de facciosismos, tiveram conhecimen-
to d o nefasto projecto soltaram palavras de vehemente protesto contra
ele. E-com razão, porque o projectado regulamento, colectando o mosto,
tornando dificil a sua fabricqão, oprimindo o s donos dos lagares, etc.
etc. só conduziria o viticultor á miseria e tornaria irnpossivel a ci~ltura
da vinha na Madeira.
O viticultor, que já tira do vinho muito pequenos interesses, não
teria outro recurso senão abandonar o s terrenos aos fiscais das oficii
nas de vinificação(!) e . . . emigrar para a s republicas do Brasil ou da
Arnerica do Norte.
Ainda bem que a ilustre Comissão de Viticultiira deu o golpe de
morte no infame projecto, tentativa infernal de aniquilação para a viti-
cultura da Madeira!
Honra, pois, a o s nossos patricios, dignissimos meinbros d'aquela
comissão, que tão briosa e unanimemente cuniprirani o seu dever pa-
triotico, lançando para a vala d a s podrid~eso pernicioso projecto que
acabaria de arruinar a agricultura d'esta Ilha.
LIm bravo d o s machiquenses !
OS GRANDES INTERESSES MADEIRENSES

H questão dos uinhos da Nadeira

A direcção d a Associação Comercial


reune para apreciar o projécto de regulamento

Um redactor do "Diario da Madeira"


entrevista o considerado exportador de vinhòs
sr. Antonio Jusiino Henriques de Freitas

Debate-se presentemente na Madeira a importante questão d o s vi-


nhos, surgindo de vários pontos da ilha, os mais enérgicos protestos
contra o novo regulamento, cujo projécto baixou ha dias iiComissão de
Viticultura, dêste distrito, e onde conscienciosamente foi apreciado.
Já diversas corporações administrativas teem emitido o s e u pare-
cer sobre esse regulamento e agora coube a vez á digna direcção da
Associaç40 Comercial do Ftinchal que ante-hontern reuniu para oficiar
ao sr. ministro do fomento, no sentido de que seia mantido o regula-
mento em vigor.
Não nos bastou a informação que horitem nos deram ácêrca déssa
importante reunião, em que o assunto dos vinhos e o seu projécto de
regulamentação forani largamente discutidos e apreciados. Qiiizemos
ouvir uma das entidades que fazem parte da gerencia dessa valiosa
agremiação, o Sr. Antonio justino Henriques de Freitas, que não só
naquela qualidade, como ainda e principalniente na de gerente da Ma-
deira Wine Association, nos fala claramente da questão que surge, de-
ploravel nos seus resiiltados eni detrimento dos interesses vinícolas, vi-
tlcolas e economicos désta ilha.
-A opinião de V. Ex.", ácêrca do projécto de regularnento dos
vinhos, de que lhe falei?
A minha opinião, naturalmente é a iiiesrna que a de todos os
que se interessam pelo bom futuro da Madeira.
Esse projécto é inoportuno e desnecessario. O regulamento dos
vinhos, tal qual existe em vigor, salvaguarda todos os interesses, e
desde que a fiscalisaçáo que êle determina seja rigorosamente cumprida
estão impedidas a s falsificações que porventura se possam fazer.
Falou-me V. Ex.*da inoportunidade do projécto . . .
-Sim, inoportuno, como é facil demonstrar. Como V. sabe, a
Madeira atravessa crises de aspéctos varios que tem a sua origem na
medonha convulsáo da guerra. Os principais riiercados consu~nidores,
com relação ao vinho, encontram-se fechados, como são os da Russia,
Alemanha e França, e é justamente nesta ocasião que se pretende avo-
lumar despezas e criar dificuldades.
Todo esse projecto, a ser posto em vigor, constitue um descalabro
para esta terra, e se formos a apreciar 3e per si, cada um dos artigos
do regulamento, necessariamente as classes interessadas teem de recla-
mar contra o artigo 31, qrre consigna uma disposição tributaria, bastante
grave, a servir de obstáculo ao desenvolvimento da viticultura da região
madeirense.
Nêsse artigo exige-se do comprador o pagameiito do imposto de
dois reis por cada litro de vinho. Ora, como lhe disse, atendendo ás
grandes dificuldades originadas pelo estado actual, o comprador envol-
vido em despezas de maior, e com prejuizos provenientes da paralisa-
ção do movimento marítimo para os portos consumidores, vae fazer
incidir inevitavelmente esse imposto sobre o viticultor descontando os
dois reis por litro no pagamento do mosto.
Tudo isto se evitaria, mantendo em vigor o atual regulamento, que
satisfaz os interesses conjuntamente dos viticultores, vinicultores e ex-
portadores. Na manutericão do sfafu quo, encontra V. o justo equilibrio
de todos os interesses. Demais, prosegue o nosso entrevistado, a pro-
mulgação do iiovo regulamento em projecto, vindo íifecr~rsensivelmen-
te, mbb ponto de vista econornico, aquélas classes interessadas, sem a
menor parcéla de beneficio para a s mesmas, não é d consequencia de
qualquer petição das partes a quem diga respeito esta importante y ues-
tão. Pelo contrário, repito, vem a todos perturbar na sua arrastada e
precária vida economica.
Eis, em resumo, o que nos diz o s r . Antonio Justino Henriques,
representante duma d a s rnais importantes firmas exportadoras de vinho
Madeira. A sua opinião autorisada merece, neste ~nornento,ser regista-
da néstas colunas, atentos os conhecimentos profundos de que dispõe
sobre a vida vitícola e vinícola madeirense, o nosso interlocutor, que ha
tantos anos dedica a sua rnell~oractividade iqiiele valiosissimo ramo de
comercio.
Projeeto de Regulamento dos vinhos

Protesto dos Viticultores do concelho de


Camara de Lobos

Reuniram-se na q~iarta-feiratlltima c ê r c ~dc~ duzentos proprietarios


viticultores do concelho de Camara de Lobos para protestarem contra o
projecto do novo Regulamento dos Vinhos que, tal qual foi elaborado,
traria a completa ruina da viticiiltura iiiadeirense e principalmente d'a-
quele concelho, que é o primeiro da Ilha, taiito em produção, como em
qualidade e que, sem a vinha, ficaria na mais desoiadora iniseria.
N'essa reunião foi nomeada 11111a c ~ n ~ i s s ã que
o , ficoli constituida
pelos srs: José Fernandes d'Azevedn, Francisco Theodoro da Silva,
Joaquim Figueira Cesar, Francisco Nitnes Pereira de Bdrros, João Fer-
nandes de Sousa e Gregorio Pestana Pinto, para pedirem a S. e ~ . o" sr.
governador civil a valiosa intervenção perante o governo, no sentido
d o i-iovo regulamento conter a s alterações que forani feitas a o projecto
pela Comissão de Viticultura; para agradecer a esta Comissão o inte-
teresse que tomou na defesa da viti~ultui-cirnadrirense, repelindo com
energia e inteligencia todas a s disposiç6es d o projecto qiie oneravam e
dificultavam a tal ponto a viticult~ira que trariani a siia ruina, unica o
; e ainda
simplesmente em provei to dos empregados dd I ~ I ( irii/;c-ilfc~$'JO
]
teiegrafar aos Ex.""' Ministros d o Forneiito, i'iriiinçds e Justiça (este
ultimo por ser madeirense r aqui yroyrietai-io) e 'to Dii.t.cfo~.C'ieral d'A-
gricultura, tambem no mesrno sen I ido.

F'oi d o seguiiite thecrr- o tc'leg.r.diiia expxiiclt, pt-lcl corrlissio a que


acima 110sr*eferimos:

Viticu/tot*tisCanidrcl de Lobos /~ri1;171cir*oC O ~ ~ C ~ / /v;fjC'l~/for


IO q11an-
tidade quafidrade reurtidos y rotcst~rn7L ' O I I ~ ~dCi ~s p o ~ i ~ yrojccfo
õe~ noJ
vo Regularnenfo Vinhos MacJoim; pedem Vosstis E , Y C B / B ~ IPCe~p~- ~ S
lamertfo só sejcl dpro vadc) com ir7dispenscl vcis c~/Tr/íiçõe,s y ropas fds
ao projecto pela Corllissão Vitic-~r/~i~r<~ J--urlchrll, sc.111 clrrcw.s rí1N7d
nossa vitr'cnltura será c0177plefc7.
Presidente Coníissáo Viticultores
(a) /OS& ~ c ? r l l d f 7 1 /~~~
d'J%e7v~dO.

A Camara Municipal de Cari~arade 1,obos já tclrnhern telegrafou


para Lisboa aos E x .Ministros
~ ~ ~ d o Fornento e Finanças e Dii.ecfor Ge-
ral da Agricultura, para que a s aiteisaqões que foi-ani feitas a o projecto
pela Comissão de Viticultura sejam introduzidas no iiovo Regtilarnento.
A questão dos vinhos e o projeeto do regulamento

Protestos e reclamações

Mais um documento nos cliega á s mãos com rc.lac;áo ao projecf~


do regulamento dos vinhos da Madeira.
A camara municipal do Porto Santo enviou aos s1.s. ministros dds'
Financas, Fomento e Justiqa, e ao si..Director Geral da Agricultura, o se-
guinte telegrama, que iraduz expressamente a repulsáo que está a cau-
sar em todo o distrito esse projecto de regulamento:
Fotnonf o,
Exce1~ntissit17osMi17istros f=:nc~n~as,
justiça, e Director Geral A,grícu/tr~rci
Lisboa.
Ca~narc-7Municipaf Porto S'anto, corrcordando C ~ / t c ~ 7 çapw-
õe~
sentadas 'Comissão Viticrrftura sobre prt~jccfonovo regula~neniocco-
rnercio vinho Madeira roga V. E.xa i~~terceda 170 sentido de serem
aprovadas essas alterações sern as quaes projecto 6 muito pmiudi-
cial traz ruina con~pietavific-uft~~rõl
e CIcsgri7çd esta popn/aç~70.
O Presidente da Cnmarc7
(a) /ustinidn« /o vino de Vdsconcelos
O "Diario da Fadeira" no Porto Santo
(a Diario da Madeira » de 9- 1915
Tambem cá chegou a nova de que andava em preparação um ceie-
bre regulamento para comercio e produção de vinho Madeira, com o s
descarados apendices do tributo de ONO(2) em litro de vinho, da fiscaii-
saçáo dos lagares e da decantada empregadagem com chefes de secre-
taria ricamente abonados e com chefes de fiscalisaçáo ahi para 15 ou
20 escudos por dia.
Foi um raio que caiu no meio desta gente aflita com a n~iseria
das culturas, que devido ás estiagens continuas nada rendem, atormen-
tada com o vinho que não acha comprador e esmagada com a dura
contribuição predial que recahe sobre os terrenos empobrecidos.
O grito de alarme sahe de todas asbocas e a Camara Municipal,
em sua sessão de 28 do mez ultimo, resolveu transmiti-lo ao governo,
deputados e senadores, secundando as deliberações tomadas pela Co-
missão de Viticultura e pedindo que só com essas emendas possa o dito
projecto ser transformado em regulamento.
Não sabemos o que vae pelos outros concelhos, mas s r . Redactor,
o escandalo é de tal ordem, e de tal tamanho a odiosa alcavala, que
nfnguem ha, em todo o districto, que se não sinta indignado com serne-
lhante extorsão.
E ainda bem. O mal é geral e, portanto, geral tem de ser o combate.
Está o vapor a partir.
Não ha tempo para mais e vamos vêr o embarque, o poetico em-
barque de passageiros no Porto Santo.
Um profbfa
A Rssoeia$ão Gomereial e o novo regulamento
dos vinhos

Uma representação ao sr. Ministro


do Fomento

Continuani a surgir de todas a s forças vivas do distrito, represen-


tadas pelas s u a s corporações administrativas e associações de classe
direciamente interessadas no assunto, o s mais justificados protestos
contra o Regulamento dos Vinhos da Madeira, em projecto, a que nos
ternos referido em sucessivas locaes.
Acerca da reuníão da Associação Comercial do Funchal, que ha
dias se efectuou, e a que tainbem já nos i-eferinios, vamos publicar o
feor da representação que aquela prestimosa colectividade acaba de di-
rigir ao sr. ministro do Fomento, e que constitue mais um documento a
juntar-se a tantos outros que, na sua essencia, são a inteira e absoluta
defeza dos interesses da nossa terra.
X Associação Comercial, a mais completa e a mais solida organi-
sação social da Madeira, levantando a sua voz e o seu protesto contra
a iniqtidade d o regulamenta dos vinhos ent questão, mais un-ia vez afir-
mou a sua dedicação em defeza d'uma causa legitima, tendo o amparal-a
n'esse movimento todos os que corn imparcialidade e independencia pu-
gnam pela salvação de viticultura e vinicultura madeirenses qile se en-
contram na perspectiva de ruina.
Diz a representação:

Esta Associdçáo, que tem primado sernpr~por u/nn cc~lorosd


defeza do comercio, industria e agricultura locais, n d o pode nem de-
ve ficar sifenciosa perante o «Projecto de Regulamento dd ProduçcTo ,
Fiscalisação e Comel*cio do Vinho da Madeira», sobrnctido recente-
mente á apreciação da Comissão de Viticultura d'esti. rlistrifo, c, por
isso, muito respeifosamente pondera a V. Ex.":
1.O Que o regulamento actualmente em vigor, sem prejuizo d'u-
ma boa e eficaz fiscalisaçáo está satisfazendo plenamente a viticulto-
fes , vinicultores e exportddores , d'onde se iilfkrc y ue d rnanutengáo
do statu quo é urna necessidade imprescindivel CIO jristo eyuilib~+io de
todos os iríteresses em jogo;
2." Que a promulgação do novo Regulan~cntocm projecro vi~*is
afectar sensivelmente, sob o ponto de vista economico, a viticnltrrra, a
vinicultura e a exportaqão, sem que de tal medidd go~vrnnfivaadvi-
esse a mais insignificante parcela de beneficio para qualquer dos tres
aludidos &RIOS 8RCtividade madeirense;
3 . O Que o novo Regulamento em projecto não tendo sido a
coiíseguencia d'rrrna pefiçdo formulgda por qualquer das partes inte-
ressadas, enferma do defeito de a nenhuma satisfazer e a todas yer-
turba ríc7 sua arrastada e precaria vida economica;
4.O Que V. Ex.", a quem o paiz tanto deve pelo atilado criterio
com que superiormente dirige os negocios dc7 sua pasta, se diqne to-
mar em consideração as observações que antecedem e mantenha o
actual mguiamento da fiscalisação de vinhos da Madeira, cor17o uni-
co meio de obviar uma crise, que se me antolha proxima e ii~falive!.
Assim procedendo, V. E x . prestará
~ um assignâ/ado beneficio
ão povo &éste distrito, pe/o qual, d'ante-máo, esta coletividade se
confessa imensainente grata.

Associacão Comercial do Funchal, aos 4 de Setembro de 1915.

( a ) John Ernesf Biandy


O p~ojeetodo regulamento dos vinhos

As camaras municipais de Ponta do Sol,


Calheta, Porto do Moniz, São Vicente e Machico
apoiam as reclamacões da Comissão de
Viticultura

O regulamento dos vinhos em projecto, de que nos temos larga-


mente ocupado, continua a absorver a a t e n ~ ã odos viticultores e vini-
cultores do distrito, cujas reclarnaçoes feitas por interinedio das corpo-
rações administrativas s ã o a prava suficiente da repulsão com que vem
de ser encarado esse docurnento que yodenros chaniar a sentença de
morte d'urn dos mais importantes sustentaculos da economia madeiren-
se.
Além das corporações administrativas que já formularani os seus
protestos, e cujos nomes o ieitor conhece pela sua publicação inserta
n'este jornal, sabemos que as camaras municipais dos concelhos de
Ponta do Sol, Calheta, São Vicente, Machico e Porto do Moniz telegra-
faram ha dias ao governo apoiando a s reclamações da Comissão de
Viticultura pedindo que o ~ i o v oprojecto d o reguidrnento n d o seja aprova-
do sem serem introduzidas primeiramente a s emendds propostas por
aquela corporação.
Mas, como temos dito, não s á o apenas a s corporações tri~inici-
pais que reclamam a conservação d o regulamento viticola eni vigor.
Toda a gente interessada no assunto, e até inesrno o s que não
teem interesses a ele directamente ligados, oitiani coni sotwesalto pdrd a
amargurada situaçdo ern que o tão falado regiilamento, a ser aprovado,
colocará esta ilha.
Não ha, pelo que se ouve, sobre esta questão opinióes diversas.
A luz do boni raciocinio a questão dos vinhos solucionada ao sa-
bor dos que elaboraram o regulamento eni projecto, e Lima questão de
morte para toda a viticultura iiiadeirense.
Ainda ha poiico, quando em missão especial ouviarnos diversos
proprietarios do concelho da Calheta, e cujas opiniões o «Diario da
Madeira», publicará opoi.tunamente, tiverlios a iinpressão de que é im-
possivel pOr em execução o rtgulainento que se pretende, sern que de
toda a ilha surjain os rnais energicos protestos a se desenrolarem yor-
~ ~ e r i t i e~mr aaconteciriieiitos de caracter grave.
Vorqiie, se e certo que esse regulamento coloca rriais proprianientq
os compradores de vinhos ern serios embaraços, a verdade e que todo
o mal fatalmente. caírá sobre o viticultor, para querri, diga-se de passa-
gem, varias disposições do regulaniento em pi-ojecto são vexatorias-e
hurnilhant~s.
O «Diario da Madeira», no criniyriitietito d a sua inissão, irá publi-
cando sucessivaniente, tudo o que respeita ao assiinto, ouvindo opi-
niões autorisadas, á laia de inquerito.

A hora em que escrevemos estas ligeiras linhas traz-iios a mala pos-


tal de São Vicente uma carta, informando-nos da m á impressão que vem
de causar o regulaniento em projécto, n'aquela localidade, havendo o
maior descontentamento, eni especial contrd as disposições que se refe-
rem ao imposto de 2 reis que incidirá sobre cada litro de vinho adqui-
rido pelo comprador, e á fiscalisação dos lagares com o fim de evitar a
falsificação dos vinhos.
Quanto á primeira, acrescenta o autor da niissiva, esse imposto
que se pretente criar sobre o comprador de vinhos, vae fatalmente cahir
sobre o pobre do viticultor.
«Com relação á fiscalisação dos lagares e das obrigaçííes dos
respectivos donos, é uma medida a que ningueni se sujeita, pelas res-
ponsabilidades e trabalhos que elas oferecem.
ccDemais a iiscalisação tem por fim, dizem, evitar a s fraudes dos
vinhos, quando é certo que a falsificação não é feita nos 1agai.t-S.
Dissotu~ãoda Comissão de Yitieultura?!
O projecto do regulamento dos vinhos

A noticia que hontetri dernos c i i i l f j i n c ~I T C I ~ C -C, ~ C G I - Cdd~ ~dissoluqáo


da Comissão de Viticultura, e que c011ti11~id d cii*ci~lc~r pela cidade, me-
recendo os mais asyeros coii~enfar-ios,n.20 é mais, LI ser baseada em
fundamento, do que o yi-imeiro eco d*~irnarcpr-esalia e d'urncj exfersáo,
porventura sem precedentes, na Iiistoria dcs acontecimentos que veem
de surgir a dentro do nosso pdiz.
O assunto d'essa tocal, que n'estds colurias foi inserta. como a
derradeira colheita da reporiagen~da iloite, não poude, por circunstan-
cias de espaço, e pelo adeantado da tiora ter honras & u m a apreciacáo,
que muilo convinha fazer, servindo-nos de pretexto para entrarmos
abertamente na questão, para a encararmos e a clebatermos com toda a
energia de pugnadores.
O facto da dissolução da Cornissáo de Viticult~~rd, 6 , 1130 yóde
deixar de ser, a resultante da atitude que aq~ielacorpoi-ação pati-iotica-
merite tornou na defesa dos interesses madeirenses, que mãos inimigas
teeni pretendido sufocar, ipnor-ando taivez que no seio d'esta terra vive
e trabalha, n ' u m labutar constante, uma populc~çdogenerosa e boa.
A Cornissáo de Viticultura, eleita pelo sufragio popitliti., é ril-iia coiT-
poração que tern, por lei, os mesinos direitos, a s rnesrnas prei-ogativas
e regalias que gosani a s corporacões admiriistr,ativas do yaiz.
Ela nasceii d'im acto eleitoral. elahorddo corn a nic-iitin~d(z ahsolu-
ta legalidade, como s e provou pelos doutos a c o r d d o ~d o b i i p r c i i i o Tri-
bunal Administrativo, publicados na folha oficial, nos qudis c(,nfirrnd-
vam a s sentenças da Auditoria Adrniri istrativa d'estc disli.iclll. jiilgaiido
os recursos que entõo surgiram c que iiiro tinham fiii~darri~rito cilgiirn,
como ficou exuberantemente demonstrado.
Erri face d'uma grave questão que, d ser s t ~ I ~ ~ ~ i ocorIlo r ~ ~ ~hcd < i
pretende, viria afectar o s iriais caros in teressos íjd V i t i ~ l l i t ~ l rpz iofldl
que ela legitimamente represeiitd, a Co~iiissãod e Vit icillt~lr~~, cht~~~ladd
e m especial, para emitir- o sei1 parecer sobre o noL1oi-eg~il~iriiirnit.i rfos
vinhos, colocou-se na situaçdo de defem d'esscs ilit.snioh inl t7rcssi>s, e
.condenou eni termos eriergicos e violentos, como era dc. j ~ i s t i q ~ci dc di-
reito fazel-o, a s varias disposições d'essc regulalrierito, q i i c n a 0 s b o
mais do que pesadas gíli-galheiras a cipert~ircina existt>iici<i,ici tfc si cic
pauperada, da cultura viticola d'esta região.
N'esse seu movimento de protesto--1toni.a Itie \ej~i - t ~ ; ~ i 'ri Co-
missão de Viticultura a apoia-la todas a s forcas vivas d o disti-ito.
Tornou-se solidaria com ela a Carnara Municipal do I'iinclidi, (ipoi-
ando a s siias reclamações e telegrafando a o Governo e (70 i~arlrirrierito
pedindo que a s protegesse e atendesse.
A exemplo do prinieiro tnunicipio do distrito, os rliuriicipios i.~it.ais,
na sua quasi totalidade, procederam de egual forma, t i a o por urna rriera
questão de camaradagem, irias simplesmente em virtude cia gravidade
do assunto, pela melindrosa situação de embaraço e de prcjiiizos incat-
culaveis em que a população d'esta ilha se veria, n d liora ern que esse
regulamento entrasse em vigor.
Ocupou-se do assunto, com toda a inteireza e imparcialidade, a
mais importante e a mais valiosa agremiaçáo functtalense, a Associação
Comercial, em cujo seio existem membros de todas a s classes interes-
sadas, incluindo a dos exportadcres, numerosa, que ela e, n'esta terra
de comercio de vinhos.
Emfim, o distrito 'inteiro que, s e não se tem nianifestado espetacu-
losarnente, como é vulgar fazer-se até mesmo em questões de pouca
monta, não deixa, no emtanto, de espreitar o mornento em que lhe ,caia
sobre o s hombros o pesado fardo do novo regulamento, para o sacudir,
de si, talvez com gestos de revolta intima mal contida.
D'esta maneira, a dissolução da Comissão d e Viticultura implica
com a atitude das corporações administrativas d o distrito, que s e pro-
nunciaram d'um modo explicito e significativo contra a s alcavalas do
regulamento em questão.
Afinal, a noticia da dissoluçáo da Comissão de Viticultura a esta
hora ainda corre pela cidade, e quando na sua ligeireza de relampago
transportar os montes e vales para chegar a todos o s pontos da ilha, é
bem provavel que alguma razão mais forte exija um desmentido á noti-
cia d o facto por este ser injustificavel . . .
O piojeeto do regulamento dos vinhos

(a Diario da Madeira » 17- 9- 1915)

Curiosos são os boatos que ultimamente vêiti circulando com res-


peito 6 Comissão de Viticultura da Madeira.
Boatos Ihes chamamos nós, pois não ha ahi quem nos convença
de que a serio se haja pensado nisso.
E com que fundamento?
Porque a Comissão causticou o projectado regulamento?
Pois a nosso vêr disse ela pouco.
A viticultura madeirense lucta com imensas dificuldades e entre
todos os víticultorea lavra o desanimo profundo.
Os mostos andam a preços baixissimos e os compradores, se al-
guwf adquirem, fazem-no quasi por favor.
O agricultor não tem maneira nem posses de encasear os seus vi-
nhos.
M 6 s que se ha feito para minorar este estado de coisas?
Em tempos, constituiu-se uma companhia vinicoia, mas não teve
driraçáo. Morreu mesmo á nascença.
Depois, pensou-se em adegas sociais pelo Estado, isenção de di-
reitos na aduefa, etc.
Nada, porém, foi por deante, e a cultura via-se, de dia para dia,
eni negras aflições.
E quando todos esperavam medidas salvadoras, aparece um pro-
jecto de regulamento a tudo comprometer, ii tudo arrazar.
Porque outra coisa não é o tributo que pretendem lançar sobre o
vinho, com a inutil e vexatoria fiscaiisaçáo dos lagares de mãos dadas
com uma legião de empregados!
Teinos ouvido diversas entidades da cidade e do campo sobre o
assunro e todos, sein exceçáo, condenam esses-artigos do regulamento,
que reputam de r~iinosospara a viticultura e de pessimos para a popu-
lacão d o distrito.
A Comissão de Viticultura, portanto, não faz mais do que traduzir
o sentir cios rnadeirenses e para isso é que, por uma eleição, havia sido
escolhida para os representar. E cumprindo o seu mandato honrou-se e*
honrot! aqueles que a elegeram.
E dissolvida a Comissão?
Pois bem; deve ela sahir satisfeita, porque cahe perante o dever
cumprido; deve berndizer até essa solução que lhe marca um logar de
destaque n'este nieio em que tudo anda morto.
Mas que inal fez essa Comissão para tanto barulho?
Nen hiini.
Siniplesirientc disse á coniissáo encarregada de elaborar um pro-
jecto para reguldniento de vinhos, que o que lhe haviam apresentado era
iniiisto, irnproficuo, mau e ruinoso, e isso que disse deixou demonstra-
do de uma maneira clara e precisa.
Ao governo pediti que olhasse pela Madeira e evitasse a ruina da
vificultrira.
Aos deputados c senadores, que estamos certos nunca tinham fei-
to a leitura d'esse projecto, rogou que puzessem a sua valiosa infhencia
a favor da viticultura, fazendo que ele só vingasse com as alterações
que lhe foram propostas.
E a isto que se segue uma dissotução?
Não o crêmos, porque isso seria a abjuraçáo completa de fodos o s
princípios de administração e de independençia das corporações a que a
lei deu regalias que não podem ser retiradas.
S ã o boatos, nada mais, o que não admira porque a epocha é cheia
d'eies.
O projeeto de regulamento dos vinhos

Um redactor do "Diario da Madeira"


avista-se com um importante proprietario e
viticultor d'este concelho, de quem
colhe impressões

(« Bjdrio da Madeira » de 18- 9-191 5 )

Avistamo-nos I-aontern com um importante proprietario e viticulfor


d'este concelho, a quem pedimos o obsequio de nos transmitir a s suas
opiniões ácêrca da actual questão vinicola.
Cavalheiro pouco dado a vêr o seu nome registado na imprensa,
o nosso entrevistado n'urna longa e interessante exposição em torno
d'este tác palpitante assirnto, declára-nos que podiarnos fazer uzo da
sua opinião no nosso jornal, pouparido-o do desgosto de a vêr authen-
ticada com o seu nome.
Rospeirando o pedido, ahi fica n'esfas ligeiras notas a opinião do
nosso entrevistado:
--Tarnberi: nos chegou o prurido da celeuma que se ha levantado
eni oitcl cfd C O Y ~ : S Sde~ OViticulturii e do parecer apresentado sobre o
novo prcijccto para regillítmento de vinhos da Madeira.
«Ari-ipiou-nos a idêa de que hdviarnos de pagar imposto sobre o
\linho, ccirrimos pelo vexame da fiscalisação dos nossos lagares e ficá-
mos rnridos e tristes 40 saber que essa dura prova por que nos queriam
fazer passar \.isùvii apenas a d/~~111,ii7r p f ~ sofresse
. lá a viticultura
quanto sofresse*.
«i1 Cornissho cle Viticultura tinha falado e com ela unificaram-se
negociantes, viticiiltores e diversas cole(.tividildes adininistrativas d o dis-
trito.
« N d o I;dvic~duas oy iniões: o projecto era mau, iniquo e cavava a
rriina da P'Iadeirct. Por isso todos, a uma voz, o condenavam, sem dis-
tinção de partidos, sei11 distinção de categorias.
«Mas logo vieram o s jornaes com a nova de que a Comissão de
Viticulfiir'i ia SEI. ciissolvida C por C S : cidade
~ não se falava n'outra coisa.
«OS consentarios eram favoraveis á Comissão que tinha dito sim-
plesn~entc vci-dade; rnas aqui e além, dizia-se que ela apenas havia
sahido iirii ~~oiicc, da praxe risada y ~ i r aconi as estações superiores.»
Q u i s e i n í ~ sindagar este yorito, e com a nossa curiosidade de jor-
nalistas coi~sc)giiiinosque o nosso entrevistado nos dissesse:
Ora c1rtc.r que lhe repitit r, clrie naturalmente é do dominio de to-
dos? C ) clue sc dizia c o que ainda se diz é o seguinte:
« I ." Q u e o governo n i ~ d ütinlirr tido com a audição da Comissão
de Viticiiiltura sobre o dito prqojecto de regulamento;
<Q." Que foi a connissão encarregada de elaborar um regulamento
para ít proc1irC;io e comwcio de \!inl-io Madeira, que enviou á Comissão
de Vitie~ilirirao citado projecio;
«3." Que essa mesma comissdo não tomára a responsabilidade do
alridido proiects. pois ao erivia-10, declarou que ele lhe havia sido pre-
sente, sem, conitudu, dizer por qriem.
4."Que essa comissão nomeada por urna portaria, embora cons-
tituida por eiripregados do Estado, em nada 6 superior á Con~fssãode
Vitic~rlf~ra, creada por zilnci lei, com vida independente e com regalias
proprias.
«5." Que n'eçsa Comissão figuram empregados do Estado, como
poderiani estar quaesquer outros individuos, is-iclusivamente até vogaes
da propria Comissão de Viticultura;
«6." Que esse projecto de r.eguiamento táo bom e, que dnda en-
geitado por toda a gente não tendo encontrado quem o subscrewsse;
«7." Que, finalnlente, nascendo de iniciativas particulares náo en-
contra defeza yossivel nas entidades oficiaes e, estarnos certos, será
combaticfo por todos os nossos representantes em côri-es.
«Eis a histeria.
«Portanto, eni concltlsáo, e segundo li no seu jornal, é tambem
voz corrente que a Coniissáo de Viticultura nao exorbitou, pois na defe-
sa da tése que se propunha, muito mais poderia dizer; riao clesresyei-
tou, tão pouco, ninguem, porquanto, n'aquela cbnversa corri ri comissáo
encarregada, em Lisboa, de organisar um projecto paro regulan~ento
dos vinhos, salientou apeiias as grandes desvantagens d o projecto que
lhe havia sido presente.
«Desviei-me d o dsstinto, pelo y ~ i evejo; V. pedicj-nie <I rninha opi-
nião sobre o regulaniento dos vint-10s erri projecto e eii onfrei e ~ c i LIi de-
fender a Loinissáo de Viticultura; nias, bein vê, são diiíis coisas que
estão intimamente ligadas.
«Pois, tome nota d o que lhe vou exp6r claramente:
«O novo regulamento que pretendem fazer vaiei. corrio lei, e unia.
calamidade pdrd OS interesses d'esta terra, e stj poderão defendei-o
aqueles que acima d o bein estar da Madeira, colocain os setis interesses
pessoais. . . »
Estas uttiinas pd1avi.a~ disse-nos o nosso ínrtlrlocutor á porta de
sua casa quando ia a entrar, depois de obsequiosaniente 110ster convi-
dado a jantar i sortibra das gigantescas arvores qiio toi-i~airisoberbd-
mente pitoresca a sua inagriifica vivenda.
E despedinio-nos agradecidos, pela gentileza perihor(inte do con-
vite e pela arnabilidacie das informações.
O projeeto do regulamento dos vinhos

Cartas que nos chegam ás mãos a proposito


d'esta importante questiio

(« Diario dçt Madeira » de 20 9-19í5 j

De toda a parte nos chega o grito dos viticultores contra o novo


projecto de regulamento dos vinhos da Madeira.
Não tenhamos duvida sobre o movimento de repulsão que esse
projecto veiii causar no seio da popiilação madeirense.
Varias cartas conservamos em nosso poder, cujo conteúdo nos
servirá de base para proseguirmos, sem desfalecimentos, na campanha
que encetíímos em volta do magno assunto dos vinhos.
Niima dessas cartas Iêmos: «ainguem ha .que se possa conformar
com o imposto que se pretende lançar sobre esta cultura.»
De facto, temos falado coin viticultores, com vinicultores e com os
grandes exportadores e todos, porém, sáo unanirnes neste modo de vêr.
O viticultor diz-nos que presentemente pouca conta faz tratar da
vinha, atingida frequentemente pela doença do mildio e pela rnangra, o
que lhe leva muito trabalho, muito tempo e muito dinheiro, visto os
preços altos a que se encontram os remedios combatentes dêstes males
e a carestia dos operarios, além da sobrecarga das contribuiçdes que
subiram muito, sendo algumas exageradas.
Por outro lado o preço d o iriosro anda de rc?stos, não C O I I I ~ ~ ~ I S L :
tanto trabalho e nalgumas partes n d o ha cornpradorcs iieiri incsnio n
1%O00réis por barril.
O exportador diz-nos que a procura de vinho no ustrangeii o teiii
diminuido, que estão cheios os armazens e qiie n ã o pcíde conipefir cor11
sfoclrs superiores aos ~lcttiais,e que, quanto do iniposto, 6 o iriticulfor-
que o ka-de pagar, nada tendo o negociante que ivêr com ele.
E, assim, oii venda o viticultor o viriho claro o i ~ern riiosto teii~cti:
contar com o abatiriiento de 5 o r i 6 C' O para o pretenso iniyosto.
De resto, náo 'nos traz isto riovidade, pois serripre q ~ i cse t i - ~ i t dde
impostos 6 a rriatéria prima que OS paga.
Chaniem-lhe de consuiiio, de real de agua, d e eiiiradd na cidade,
como n a caso de que se irata, o11 qlialqiitar outro, irias quem par>'a S
sernpre a matéria prima.
Por isso a rnaioria das cartas que teinos sobre a nossa banca de
trabalho, expedidds dc divcrsas localidacfcs da itlia, condèna o pretei-i-
dido irnposto, ciassificdncfo-o dt. i-uinoso c mau e causa irnediatd pdrci o
arrancamento da virilia. E' de iiotar que em quasi todas elas se fala da
extranheza produzida pelo facto de, sendo Portugal uril paiz essencial-
mente vitícola, apenas ser ci'eacio' imposto para os vinhos da Madeirct,
pondo-os por esta rrianeira ein condiçóes inferiores cios vinhos do DOLI-
ro, do sul de Portugal, etc.
Desde muito que os viticultores dêste distrito veeni solicitando dos
poderes públicos medidas que rnelhorassern a sua situacão.
infelizmente tiadd se ha conseguido. Duro seria, não ha duvida,
que agora se respondesse a esses claii~orescom o imposto em pei'spe-
ctiva,
Não. Estamos convencidos que essa trovoada será afastada e
que o governo saberá fazer justiça a esta terra que lhe é prodiga ern
abundantes rendimentos.
O projeeto de regulamento dos vinhos

O "Diario da Madeira" regista a opinião dos


viticultores Troca de impressões com o Sr. João
Carlos d''4guiar O protesto da Camara
de Machico

I>roseguindo na i~ossarnissão de ouvir opinióes ácêrca do projecto


de r*egularnentod o s vinhos da Macieira, estavanios i-no proposito de nos
dirigirinos á vila de Machico, onde nos fosse facil colher iinpressóes
s o b r e o assunto junto dos principais viticultores d'aquela localidade. .
Felizn~erite a recente chegada a o F~inchal do sr. João Carlos
d'Ag-iiiai-, digno pi*esidtrrite dd coiiiissão executiva da Caniara de Ma-
chico, ~ ~ ~ . o p o r c i o i ~ o ~ensejo
i - n o s d'ui11 ligeiro cavaco em volta d'essa i r ~ i -
portanto qiiestdo, a que"aquele srir.. q u e é considerado um dos maiores
viticultores da ilha, teni ligado o sei1 ri~aiorinteresse e cuidado.
Nirigueri~,por certo, poderá descrer do valor das suas afirrndtivas,
rarito rriais que elas saern não só expontaneamente d a boca d'um verda-
deiro iriteressado, coino tarnbein cl'iirn cavallieiro, que se impõe á consi-
deração geral pela honestidade d o sei1 proceder e pela i,ectidiio e inteirz-
za do seu caracter.
Não pondo de parte a projectada ida aos coi~colliosi.ilraes onde
muitos viticultores saber30 dizer de sua justiça sobre o assiinto, nos
quizemos desde já consultar o Sr. João Carlos d'Aguiar, qlic nos diz:
Esse regularriento em projecto de que tanto se fala, é, coni toda
a imparcialidade o digo, inuito prejudicial á vida econori~icatla Madei-
ra. Creia que a minha opinião é de que se o reguldriiento é posto erri vi-
gor, teremos inevitavelmente a extinçáo dos vinhedos n'esta ilha. i? '.qe
calamidade !»
Sabemos que o sr. João Carlos dlAguiar é yroprierario de varias
plantações de vinhedos nos concelhos do Funchal, Machico e Carnara
de Lobos. Teni por esse facto uma legião enorme di. colonos, com
quem quasi todas as senianas está em relação directa. Qoizeinos per-
guntar-lhe o que pensavam o s seus cazeiros depos d o n o v o regulamento
ser objecto de apreciações varias.
Nem me fale d'isso, interrompe-nos o sr. João Carlos. Apenas a
noticia do novo regulamento, coni impostos e tudo, correii pelos cam-
pos, vieram o s meus caseiros imediatamente saber em que situação fi-
cariam. Como s e sabe, iriiportantes sáo as despezas que essa gente tem
com o tratamento das parreiras, com o ataque das doenças que estão a
definhar lentamente os vinhedos* e mais propriamente por comiseraqão
para com eles, estou a contribuir, sem exigir í! menor parcela, para
essas despezas, como são o enxofre e a agua.
Ora veja o meir arnigo se ánianhá fazem incidir mais impostos
sobre o viticultor, além das dificuldades que oferece o novo regulamen-
to, teremos fatalmente a verdadeira indiferença do agriciiltor no que res-
peita a o cultivo da vinha.
O imposto de dois reis sobre cada litro de vinho, devia ser elimi-
nado, beneficiando-se o agricultor.
De resto repito-lhe o que já disse: O projecto de regulamento dos
vintios da Madeira considero-o um mal, de consequencias desastrosas.
Trocadas estas ligeiras impressões interrogámos ainda o s r . João
Carlos d'Aguiar ácêrca da atitude da Carnara Municipal de Machico.
A comissão executiva da camara, estudando detidamente o as-
sunto, diz-nos o Sr. Aguiar, resolveit dirigir uma representação a o si..
ministro do Fomento, no sentido de não permitir qiie esse regulametjto
seja posto em vigor.
O assunto foi explanado na ultima sessao com o maior criterio,
tendo-se tambem pronunciado o sr. dr. Fernando Moraes, presidente d o
Senado e Julio Cabral, administrador do concelho, que apresentaram
importantes considerações, tendentes a demonstrar quanto esse regula-
mento é prejudicial aos interesses da ilha.
A questão uinieola da Madeira
Carta

. . S r . Director do Dicrl*io d<-~


,V~~dt?i/ii.

Algumas pessoas, felizniente poucas, lernbrarain-se de espdihdi


pelos cafés que eil havia decliiiado toda a responsabilidade que poi'ven-
fura me pudesse tocar no parecer que apresentei na Comissão de Viti-
ticiirltura sobre o proiécto d e regulamento para comercio de vinho Ma-
deira.
E bordaram então, com artes mágicas, que a desculpa consistia
e m ter eu declarado a o s ex."'"- srs. Visconde da Ribeira Brava e Diogo
Cunha que todo esse tríibalho era obra d o meu presado amigo dr. José
Agostinho Rodrigues, residente ha já niezes em Lisboa, figurando ali o
meu nome a p e n a s por emprestimo, ou coisa que o parecesse.
Creancice estúpida, pois semelhantes declarações nunca pocleriarn
ter existido !
Nêsse parecer, sr. Redactor, não ha responsabilidades que aliiar,
Lá está a o lado d o meu nonie, escrita por mim proprio, a nota «relatar»
e isso basta para quebrar o s dentes a o s ingenuot; maldizentes.
N ã o se imagine a g o r a que eii tenho inedo á companhia d o snr.
dr. Rodrigues.
Não, seguranicilte, porque ia com um hon~enictc hern, pi.cdic;ido
que não acerta eni toda a gente; mas o seu a seu dono.
E s s e parecer, bom ou mau, niio me compete aprecicil-o, 6 tr~it)<ilho
excliisivainente meu, foi peiisado e escrito por inir-n, sti por- mim,--e
sugerido nii leitura dos artigos do projécto, sern pi-eoc'upclq~csIndivi-
diiais de especi? alg~irna.
N ã o hcl ali coisa algunra íi enjeitar, coino não ~ I C i-t.ier-2i1ci~i~
I ties-
prittiorosas pdra nii~gueni e rnuito menos cls poderici ~ I ~ \ ~ L " yciiva
I- OS
ex.""+s r s . Visconde da Ribeira Bravd e Diogo Curtf~aque, tiecclz prirci-
pio, bem sciente estoii, não nicterani prego nem estopa !ia confcu2o cio
respectivo projécto d e regularnei~to,qiie já agora 116 de f i c ~ ~cri1
i - ;;ci(1rií~:
de gloria i~norredoirapara os seiis autores.
E isto hasta para que o pilblico forrne o sei] jui~o.
Por* felicidade, entre nós e os tais boateii-os não ha conifiisi)~~.
O parecer é meu, inteiramente meu, e honra-~iien ~ i ~ i ioo lei- ~ilere-
cido a aprovação d o s ilustres colegas da Comissão de Viticultt:i-a.
Qrianto ao projécto, que o leve á s aguas do haytisriio qiierii de
portas a dentro nilío teve duvidas em ser-lhe pae.
Agradecendo a puhlicaçáo destas linhas, s~ibscr.i:~~~~-rntl
De V . . . etc
21 cfc S ~ t e m t ~ de
F~ir~chal, r o 1915.
Alexatdrrno dos SC2n:os
O "Diaaio da Madeira" em São Yieente

A crise vinicola e o projecto do regulamedo


dos vinhos

Andamos de volta com a s vindiinas, que o mesmo é dizer anda-


m o s todos atormeniados corn a colocação dos nossos mostos.
De ha aiios para c6 que a crise de compradores é manifesta e a
diahctlica guerra eriropeia mais agiida a tornou, dificultando e impossi-
bilitando até a colocação dos vinhos r.os mercados estrangeiros.
Pard niaior desgraça náo esfãc> os agricultores preveniclos para
estas hip6teses e agora, quando ouve111 os trovões, é que é um gritar
doido por Santa Barbara eril procura de cascadura por fodas essas ca-
sas, não escapando ate ps rnofpnfosponches de cozer garapa, arrui-
nados por esses engenhos fora.
Mas, como urna desgraça nunca vem só, estarnos ameaçados ago-
ra com impostos tiobre o vinho, Gscalisação de lagares, emolumentos
para aqui e patranhas para acolá.
Uma miseria ern toda a linha, mas rima rniseria de conseqi~encias
fi~ncstaspara o distrito.
O vinho não rende yuasi nada, não ha compradores e CIOS preços
atemais pode dizer-se que é uma cultura prestes a extinguir-se.
Pois os auctores d o celeki,d projecto de uiii r-egulaiirento, que taii1-
bem aqui chegoii, entendem qiie ainda deveinos pagar- riidis, qiic. LI
exemplo dd cana. havernos de vender a camisa para susteiitai. iiiiia i i i i i
4 e odiosa fiscalisaçcTo coiri iiiiia hiii-ocracia de dlio lá coni eles.
Não teni havido ano yiie por esta epocha se não haja pedido n o
governo iirii po~ico de atencáo pc1i.a o cstado da viticultura e ~iilig~~t;'ril
ignora tamberii qiic os íuriipo\ pass~irii c tido verri como dTaiites,o11
yeor ainda.
Agravar-din-se a s contribiiiqot-s, (ioh f i l h o , irripoz-se trarisniissão
peld hcrraiip~dos p~ies,hri1)iraiii os ba lrii.ic,b, t.ric.ni-(rct.i~~~
111 os artigos de
vestuario, estão pela tiora d c ~irioi'te o s gerier70sda diiniciitciqão; riias o
pobre lavrcldor- deve pagar 11idi.s iri~yostosporque olc tc'iri cJc ~ i i ~ t o n t a r
vadiagem qiie não qiier trilI)~lilh~~i..
«Não pagarrios e o grito que se oilke de todos OS I<ido\, d~'l"fil
ca-se a vinlia e vamos por esses rnares albni.»
Desolador, iriuito desoladoi., tudo isto.
E assiin vão iiriias cttraz dds outras ds C ' U ~ ~ U d'chle
I ~ ~ S drqiiipelngo
coino árnantiz irão os seus fillios n ' i i n i terri~.elcrescendo cie t.rriigr.a<iio
O projeeto do regulamento dos vinhos

Cançados d'estes calores da cidade lembrámo-nos de uma excur-


são aos campos da Madeira. E lá fomos caminho em fóra parando
aqui na doce conteinplaçao de urn bosque, descendo alem á agua doce
dos regatos, para no outro lado, siibindo a encosta, admírar o matiz
das verduras ondulantes á superficie dos terrenos.
--Bom dia é a voz que nos desperta do eiilevo em que a Nature-
za rios havia colocado. Meia volta e á nossa direita estava a figura de
Lim operario dos seus 60 anos, ~*ofii~sto ainda e sadio nas suas ccires
avermel hadas.
-O senhor gosta d'estes nossos pobres campos, não é verdade?
Pois s e s ã o tão lindos! e se a nossa cidade é tão diferente d'isto!
-1,á isso 6 verdade, mas se vossa senhoria soubesse o trabalho
que isto nos dá, e o que é a vida do pobre camponez, todo o dia e toda
a noite na labuta d'estas terrinhas.
S i m , mas em compensação, iorndmos-lhe, teem v6ces boa sau-
de e não fazern LISO de comeres falsificados.
I,á d e comeres, graças a Deus, sempre a gente vive, mas o pão
desde que é feito com farinhas, valha-me Nossa Senhora ha ocasiões
que se não pode comer. Mas não fica nada: a s terras dão pouco, as
decimas estão caras e a doença nas verduras tudo destroe.
E alongando a vista para o s terrenos fronteiros, continuou:
Vê, vossa senhoria, aquela terra! Plantaram-na com 10 cestos
de semilhas e tiraram apenas Lim. Aquela vinha ao lado que devia dar 8
pipas de vinho s ó deu 8 barris. E agora até querem que se pague dez
tostões de imposto por pipa de vinho e que se meta dentro de casa
esses senhores fiscais, como se nós fossernos. um ledrão.
já sabem d'isuo por aqui, perguntámos?
S e sabemos! N'esta fregliezia tudo diz que não paga e os donos
dos lagares declarani que não o s emprestam. E tambem! Ha de a gente
pagar tudo, que quizerern e nem ha quem compre o vinho. Eu tenho umas
parnirinhas e já preveni o s rapazes, lá e m casa, que se arrancam todas.
Não, que lá pagar iiiais inipostos, sein s e poder, é que não. E como eu.
estão todos por dqui; arranca-se a vinlia e vamos depois para o Brazil.
onde quasi lodos Ia ieem faniilia e eles que fiquem ai a fiscalisar a s ter-
ras. E passe vossa senhoria iiiuito bem que eu vou-me á minha vida.
Adeus, foi a nossa resposta; e seguinios caminho.
Aléni vindirnaifd-se n'uriia algazarra ensurdecedora.
Aproximarno-nos e a queima rouba:
--.Vendem uvas? perguntamos.
-Não senhor, tornou a voz alegre do proprieiai-io. Aqui, no dia
da vindirna não L I V ~ ~para
S vender; quern chega corne o não pagd
na&.
E logo nos cercardrn de uvas porvtodos o s lados:
Coma senhor, corria sem cerinionia, C I U ~estas parreiras se 110s
meterei11 em casa os cavalheiros que vigiarn a aguardente e yuizererri
dinheiro pelo vinho que se fizer, ,nunca mais dão nada. Arrancam-se s
d s mulheres que façarii Iurne com elas.
Era firme d VOZ que assim dizia no meio do,dplauso dos circuns-
tantes, de olhos fitos no mar, como que á procura d o s parentes que
estão na America.
Reconhecido, agraduccri~iosesta espontaneidade da alma popular e
proseguirnos a nossa viagem.
A noite chegára e fomos direitos a casa de um amigo que de dritcr-
mão estava condemnado a dar-nos hospedagem.
No meio da conversa veiu a proposito referir a s palestras que fi-
cain mencionadas.
-E admiras-te'?
Não, rnas julgava rnenos funda a aversão d'esta gente a o tal
projecto.
--Enganaste-te. Esse projecto é a ruina da vinha e a desgraça de
toda essa gente yiie tem hoje vida angustiada.
4s culturas têm diminuido muito na sua produção, a s molestias
tornam-nas custosas, a s dyuas são caras e escassas e ninguem se sen-
te beni no meio de tantas crises e com encargos cadayez mais pezados.
A maior parte d'esta gente deve dinheiro e muitos senhorios até se sus-
tentam com o crédito.
E, ou é afastada a tormenta que esse projecto promete, ou, com
franquesa, não sei onde tudo isto vae parar.
E por hoje basta, que o sono já cá anda n'um constante pes-
tanejar.
O p~ojeetodo regulamento dos vinhos

Uma representação dos viticultores


ao sr. Ministro do Fomento
(«Díctrio da Madeira » de 29 9-1 915)

Conforme noticiámos ha dias, corre, entre o s viticultores, em todas


as freguesias d o distrito, uma represenfação dirigida a o sr, Miiiistro do
Fomento, contra as disposições d o projecto do regulamento dos vinhos,
que, a serem postas em pratica, viriam arrazar a viticultura rnadeirense, ,
tão carecida da protecção dos poderes publicas.
Contra esse pernicioso regulamento já se manifestou a Comissão
de Viticultura, corporação que representa directamente a viticultura do
distrito; já sobre ele emitiram o seu parecer a s camaras rnunicipaes, que
interpretando o sentir dos seus municípes apoiaram a s reclamações
d'aquela Comissão.
Vão agora falar os viticultores; e, segundo nos informam, a repre-
sentação conta já alguns milhares de assinaturas. Em todos o s conte-
lhos, desde o s grandes proprietarios a o s pequenos viticultores, todos á
unia teem assinado a representação, s6 deixando de o fazer, aqueles
que não sabem escrever.
O clamor é geral, e bem eloquente e significativo, dispensando
qiiaesquer comentarios.
Reproduzimos a seguir a aludida representação. que é concebida
nos seguintes termos :
Ex."' Sr. Ministro d o For~iento

A cultura da vinha, a mais antiga e urnd d d s mais preciosas d o ar-


quipélago da Madeira, desde loiiga data que vern reclamaiido dos po-
deres centres medidas que minorem a sua triste situacão, a braços com
uma crise tremenda que a arruina, já pela dificuldade na colocação dos
vinhos, já pelos enormes encargos de amanhos e contribuic;óes que sobre
ela pesam, já pela doença e falta de compradores dos mostos, qualquer
que seja o preço a que se Ih'os ofereça.
E quando todos esperavam provideiicias neste sentido, siii-ge,
como por uma fantasia, um projecto para regularnerlto da produção e
fiscalisaçáo do vinho da Madeira, que é, EX."'~' Snr., a inorie de todas
as esperanças, a ruina absoli~tada viticultura e a desgraça inevitavel de
uma população.
Outro fim não podein ter, com efeito, a s peregrinas clisposições no
mesmo contidas, como passamos a expor:
Uiria dessas medidas (artigos 25, 26 e 28) diz respeito á fiscdlisa-
çao dou lagares, com registo e licença previa de laboraçdo, sob pena de
multas e procedimento criminat para o s proprietarios qiie fica111respon-
saveis pelos erros dos nsanifestantes de todos os vinhos nesses lagares
fabricados
Nos lagares da Madeira não se fazem falsificações de vinho, ao
contrario do que n~alevolamentese pretende fazer crér, e, portanto, nin-
guetit poderia recear a fiscalisaçáo nem temel-a, visto cada qiiai s ó de-
sejar apresentar a nianifesto o vinho que produz. O mosto é vendido
puro e a chamada agua-pé é guardada pelos viticultores para gastos no
amanho dos terrenos. Nada mais.
Mas essa fiscaIisação, sendo de dificil execução, é sobretudo inutil,
dispendiosa, vexatoria e perturbadora da economia viticola, sem que
disso possa resultar o mais pequeno beneficio publico.
Só esta medida traz o arrancarnento de uma enorme porção de vi-
nha. Apezar de haver uma grande quantidade de lagares, sem duvida
mais de mil, náo são propriedade dos sete mil viticultores que, na sua
maioria, se servem deles por emprestirno. E no dia em que esse ernpres-
timo se deixasse de efectuar, e efectuar-se-hia, pois nenhum proprietario
estã para arcar com responsabilidades que lhe não pertencem, ficaria
m a enorme quantidade de uvas a secar nas parreiras, visto a impossi-
bilidade de cada viticultor ter lagar proprio.
Vexatoria e de nenhuma vantagem e, portanto, esta disposição.
que gira sobre fantasias e se for posta em pratica arrasa uma grande
parte da viticultura.
14 fdlsificacão do vinho só poderá ser feita por quem possua o alcool
pcir~iesse efeito indispensavel.
Vigie-se, portdnto, o alcool, que tudo o mais nada vaie, nada va-
lendo tani beiri os erros d o riiani testo, desde que aquele seja fiscalisado
na siia aylicaç.ão.
Outro golpc. cr o rlii criação do iniposto, (drt." 31), incompativel
coni o estcjdo da \~iticultiri.airiadeirense, que até produz receita muito exi-
guc~para a despesa que apresenta.
Este imposto que, á pri~rieir~~ vistn, pdrece pequeno, traz um en-
ccii-go de cerca dz 6 " sobre o valoi. cios rnostos,~eabsorve por com-
li

plcfo quaesquer Icicros cliie esta ciiltiira, porveiitura, ainda produzisse.


Escusado, talvez, será domorarmo-nos sobre a carestia da Ia-
v0Lti.a na Madeira, onde a agua custa proximamente 300~00por hóra,
o operario Os60 a Os70 diarios, onde a calda boi-daleza, o enxofre e todos
esses apetrecl~osprecisos para o tratamento das culturas se vendem a
prccos exagerados e onde, com despezas tão grandes, anda o mosto, em
localidades, CI IsOO por barril de 50 litros!
~~ilyiirnc-ls
Por outro lado, sabe-se qiie pdra o continente da Replhlica e para
os A ~ o r e snão existe o imposto qitc se pretende para a Madeira, consti-
tilindo, portarito, urna excepção vergorihosa para este distrito, que envia
cerca de rnil coritos aniiaes para a rrietropole. L

O ~rinhoda Madeira presenteniente vive á sombra d a s niesmas leis


qile O CIO resto do paiz e justo e que aos filhos da rnesrna patria, sejam
dados eguaes direit~s,eguaes regalias.
O imposto, Ex."l0Mii-iistro, ficaria sendo para esta terra uma medida
de odio e lima tante dc infortunio para todos o s viticultores niadeiren-
ses. Seria a causa do arrancarnento da vinha, cujo alastramento tanto
con\,éin fomentar, seria a origem de uma emigração assustadoi.a, como
já o foi, cliiando da invasão do tilosera.
Por çonseyuencia. o imposto, além de iniquo, odioso e destruidor,
é incoinpativel com a viticultura do distrito, tão carecida da protecção
do Estado, para que seja aliviada dos pesados encargos que já a sobre-
carregam .
Ha dinda o pagainonto de enioluryentos (art." 82 9 1 ."j sujeitos a
uina tabel~ique ii Comissão de Viticultura organisará. E por este modo,
o s serviços que agorii são graiciitos passavam a ter a sobrecarga que a
Cornissáo en teildesse, dlem de outras exigencias varias que represeli tam
dinheiro, perda cíc tempo e aborrecimentos de toda a ordem.
E para quê tudo isto?
E:' o projecto que o diz para ar-ranjar empregados em toda a ilha,
cercando a viticultura d'iiina engrenageiii burocratica, de q ~ i eela não
podei,ia idriiais sair co111 vida.
Pelo projecto não lucra o Estado, não lucrain o s corpos adrninis-
traticos. que fite teem quinhão ilas despesas (artigos 22, 24, 43 e 73), não
lucram o s madeírenses, nem lucram a s outras culturas, que pelo contra-
rio siio muito prejudicadas. 1,ucrani apenas os empregados a que a nova
organisaçáo daria jogar e dava-se Lima morte ingloria (i viticultura do
distrito.
E assim, verifica-se que o preteiidido imposto, a o tempo que des-
truia a viticultura nem chega para as despesas com a sua cobrança,
tendo a Junta Agricola e a Junta Geral de concorrer coni verbas enor-
mes para satisfazer o s pesados dispendios projectados.
ExVn1" Ministro! Muitas outras disposições contem o citado pro-
jecto dignas de reparo. Dêsse trabalho, porém, ocupou-se já a Comissão
de Viticultura no desernpenho da missão que lhe está confiada.
E os abaixos assinados, pedindo a V. Ex." que sejam atendidas
todas a s alteraçóes propostas pela aludida Comissão de Viticultura, de-
sejam, com todo o respeito, e e m especial, chamar a douta atenção de
V. Ex." para o s pontos que deixam mencionados, como sendo o s mais
prejudiciaes e o s de maior importancia para a viticultura.
Por isso, e eiil resunio, esperam o s sinatarios que V. Ex."rovi-
denciará para que, o u seja mantido o actual regulamento, em vigor, de 8
de Novembro de 1913, que esta servindo a contento de todos, viticulto-
res, vinicultores e exportadores, ou que a ter cfe ser feito outro nêle não
fiwirern a s disposições i-elarivas á creagão de impostos, registo de 1ag.a-
res, tabela de emoli~mentos,creagão de novos empregos e outras exi-
gencias iniustas que contem o rriencionado projecto para um novo regu-
lamento e que de\rciin ser eliminadas por serem contra a jusfica, contra a
viticultura e contra os inieresses agricolas, viticotas o vinicolas do ar-
qiiipéiago da Madeira.
Nêstes lermos,
P. a V . Ex."
se digne deferir-lhes
E. J.
Madeira, Setembro de 1915.
XIX

O "Diario da Nadeira" no Porto da Graz q, - :--;--,,. zU?Yu 5i,r


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Dias de vindima Em volta d'uma importante


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questão -0 novo regulamento dos vinhos-0


que nos diz um viticultor -Varias notas

Diario da Madeira » de I- 10-19f5)

Depois duma jornada de duas horas, atravtz de estradas imensas,


chegimos, como já nos referimos, ao cair da tarde d e hontem, á pita-
resca freguesia do Porto da Cruz. Os homens que n o s transportam nas
incomodas rêdes são o s primeiros a nos informar que o Porto dá Cruz
é uma das freguesia mais populosas e mais ricas do norte da ilha. Apea-
mo-nos no vistoso sitio do Lombo d o s tiais para descer os ingremes
caminhos que nos conduzem ao coração da localidade. O sol declina
lentamente, deixando rubros clarões no horisonte, emquanto na faina d o
campo, o s lavradores adubam o s terrenos e o s cavam e regam com o
sei1 suor.
Mais adeanfe ouve-se o gemer dum lagar. E' tempo de vindimas.
Cá fóra, á margem do caminho, magotes de raparigas, alimentam a
curiosidade de nos vêr passar, e dum a outro lado da estrada transitam
homens tintos de mosto, enegrecidos d o sol e das poeiras, sob o peso
das cargas de uvas que a s mulheres colhem das latadas arquejdntes. Ao
nosso encontro surge o dono da propriedade, um d o s mais importantes
viticultores desta freguesia, que nos convida para a sua casa confortante,
lisongeando o nosso estomago com um bom copo de vinho licoroso da
sua lavrd. Conversou-se animadamente ácerca de assumptos varios não
esquecendo de se falar irm pouco de política.. . que 6 hoje pdrte inte-
grante de todas a s conversações.
Conio viticultor e vinicultor fala-nos com acentuada niagiia na triste
d e c e p ~ á oque lavra nesta localidade, pelas i~oticiasque aqui chegam de
que novos e pesados tributos irão incidir sobre o viticultor, coni a regu-
lamentação dos viiihos ein projecto que pretendem fazer valer corn
caracter de lei.
-Não s e compreende, diz-nos o nosso interlocutor, qiie estando
todos os paizes empenhados em valorisarem o seu comercio e desenvol-
verem a sua agriculh.mi e industi-ias qiie lhe são peculiares, Portugal, paiz
inteiramente pobre, não cui.de de enriquecer os seus teri*enos iiherrirnos.
A melhoria da nossa situaçáo é tão deprimente que ninguem ha que nos
não encare com piedade, quando não o seja com desdem.
«Sobre este facto junte-se a vontade coin que se pretende dniquitar
uma das mais florescentes riquesas agricoias, qual é a do vintio. A Ma-
deira não poderá suportar, sem um queixume, sem um brado d e doi., a
precaria situação em que a coloca o famigerado regulamento em questão.
Tiveram. o mau gosto de me enviar iim exemplar desse projecto, antes
eu o ignorasse e esta gente, que anda sobresaltada caril essa noticia tão
inquietadora.
«O Porto dd Cruz e unia localidade vinicola de grande iinportancia.
Pode considerar-se uma terra essencielmente agricola e a vinha e a cana
constituem duas ,das suas principais culturas. Quanto a mim devo dizer
que não tomarei responsabilidades perante o Estado, da quantidade pro-
dutiva de vinho que se verificar no meu lagar, corno s e pretende fazer.
Abandonal-o-hei, e até s e preciso for encerral-o-hei depois de proceder
aos t r a b a l b s da minha colheita. Os que não tiverem lagares, busquem
meio de fazer yin'ho, onde e como melhor Ihes convier. O que eu posso
garantir ao meu amigo e que todas estas extensas plantações de viiihêdos
que aqui vê, por esse motivo, teem necessariamente, que desaparecer.
Em São Roque do Faia1
Impressões varias- As ciilturas e a crise actual
Vindimas -.4 produção e o preço do vinho

Ao amanhecer d'hoje deixârnos a aprazivel estancia do Porto d a


Cruz e vamos a caminho de S ã o Roque do Fayal, un-ias vezes por ata-
lhos e escarpas, outras por estradas longas e chãs, havendo sempre tre-
chos de maravilhosu imprevisto. Não tarda muito que não se distinga o
ponto para onde nas destinamos.
O sol abrazi-nos, dominando o s pobres homens das redes, que
parece estuam de cançados, quando gaigam a s ladeiras ásperas.
Mais uns ~ninutosapenas e eis, a sorrir, vestida de verde matisado,
a bela estancia de S. Roqiie d o E'ayal, que se ergue, como uma quilha
d'uina embarcação sobre o leito de duas ribeiras. Corre a esta hora um
tenue fio d'agua, caritando por entre blocos arredondados de pedra, no
fundo vale, prolongamento do Ribeiro Frio.
N o leito d'esta ribeira divisava-se a pequena egreja paroquial, er-
yuida e m 1848, de aspecto humilde, sobre terreno d o actual Ministro da
Justiça, sr. dr. Catanho de Menezes. E, em toda a ilha, com exceçáo da
egreja do Colcgio, o unico templo que possue trex portas no seu fron-
tispicio, rodas elas a comunicar com o corpo principal da egreja. N ã o
ha uma viv'alma com quem se troque a s primeiras irnpressóes.
Subimos até o povoddo, p o r iirna ladeii-a escaryadci, td~igantr,
coni curvas mal delineadas até o Serradinho, onde sornos surpre'endi-
dos com a presença do nosso querido amigo paclre Jodo A u ~ i i s t ode
Souza, o correspondetite do «Diario da Madeira>>,coni cuia colla!>osa-
çáo rnuitc) lios temos honrado. A sua franqueza e arriabilidcicit. peciiliai-es
devernos o aydscilho confortante cjiic. tiverrios, rodeando-lios de todas a s
conlodidíicles. E favor- que. n'esta altlira e depois d'iirnn l o n g ~jor-na&,
~
não dispensârnos. Llniit vez ria sua casa, fala-nos coin a ~ e i i r ~ i a dcalor,
o
proprio da sua ~ziriia de novo, no quanto a Madeira podia valer, corn
relaqáo a o seu desenvolviii~entocoliiercial, inclustrial e dgriic)lrl.
-Tenho acompanhado, diz-nos o rev. padre João Augristo, corn o
rnaioi. interesse, pela leitura tios jornaes, a iriarcl~ados aconteciirientos
que se desenrolaiii nii Europa, e qiie deviairl ser esp~irgado:.d'esfe se-
culo de tantas luzes e de tanto progresso.
«A guerra, esse monstro t~orrivcl, valendo-mc da expressão do-
padre Antonio Vieira. rari11)cni tem assolado esta pobre gente, cliit exye-
rimenta agora, mais que nunca, unia crise serii precedei~les.
- Eii tentio, yrosegiie o nosso interlocutor, na inii-lha parocluia
apenas 975 alnias.
Todas ellas, até rnesnio CISde tenra edade, se dedicam ar, arrianho
dos liortcjos, que, como vê. ostentam uma vegetação luxuriante.
-A priiícipal cult~il-aé . . .
O milho, feijão, vinha e cana de dssucar-, que são a incltior gd-
ran tia econoriiica d'este povo.
E, este ano, são abundantes a s culturas?
Abunddntissimas. A colheita do vinho e extraordinaria. COIIIdi-
ficuldade esta gente consegue vende-lo a lsOO o barril, não havendo
compradores nem vazilharne onde ele possa ser guardado.
Nos anos transactos a colheita regulava a media de 40 pipas. Creio
bem a colheita presente ascenderá a 100 pipas».
O rev. padre João Augusto, n'esta altura, refere-se á situação em
que ficará colocado o viticultor d'esta região, com o falado regulamento
dos vinhos, em projecto. Encara-o como urn mal de desastrosas conse-
quencias para a vida vinicola e viticola ~nadeirenses.Fala-nos da m á
impressão que n'esta freguezia, e ainda em todas a s localidades viriha-
teiras da ilha está cauzando a s diversas disposições d'esse regulamento,
que considera nefasto para a Madeira.
Faz-nos sentir que os viticultores com a crise que atravessam não
poderá0 sujeitar-se á situação humilhante motivada pelo novo regula-
mento, chegando por vezes a intervir directamente no sentido de evitar
os ruinores que sergern, d'um a outro lado da sua paroquia, onde s e
opera presentemente a colheita da uva, porque, cantinua o nosso entre-
vistado, o regulamente de que lhe falo, vem concorrer para o aniquila-
mente dos vinhedos, a produção de maior valia.
XXI

O novo regulamento dos vinhos


Novos protestos e reclamações

Ha dias quando o nosso serviço telegrafico s e referiu a o novo re-


gulainento dos vinhos da Madeira informando que s e insistia junto d a s
estações superiores para que ele fosse convertido em lei, uni justo so-
bresalto se apoderou dos viticultores que viam n'essa medida a com-
pleta negação á s justissimas reclamaçóes que haviam formulads: E
assim todas a s forças vivas do distrito que se conservavam na espectati-
va de verem solucionada a questão a seu contento, como era de justiça,
novamente s e agitaram levantando o s seus clamores até junto d o go-
verno, reiterando o pedido anteriormente feito no sentido de não ser
posto em vigor o referido Regulamento.
N'esse recente movimento de protesto ha que destacar a ação da
Lornissão de Viticultura, da Associação Comercial do Funchal, do
Cer-trro Republicano Manr~eld'Arriaga e de varios grupos de viticulto-
res, entre eles o s principais proprietarios, constando-nos tamfrem que as
caniaras tnunicipais soliddrisando-se com este sirnpãtico movimento,
ria defeza legitima dos interesses dos seris municipes vão telegrafar no
mesnio sentido ao governo, pedindo que seja evitada a enorme derro-
cada que esse regulamento ameaça trazer sobre a rica cultura da vinha.
Hoje coino hontem, secundamos esse movimento de protesto e em
inonie de todos o s interessados reclaiiiamos a manutenção do regula-
rriento atualmente em vigor, contra o qual ainda ninyuem protestou.
O projeeto de regulamento dos vinhos

Uma importante reunião do "Club Republicano


da Madeira"

S o b a presidencía do sr. Azevedo Ramos reuniu ante-honieni a


assembleia geral do ~ C l u bRepublicano da Madeira» na sua séde h
Praça Marqiiez do Pombal, afim de pronunciar-se sobre o regulamento
dos virthos de que tanto se tem falado, e que parece não ter sicio ainda
posto de parte.
O sr- Azevedo Ramos teu e justificou a seguinte moção:
«Considerando que o actual Regulamento para o comercio d o s
vinhos, do 8 de Novembro de 1913, tem satisfeito inteiramente o fini
para que foi criado, posto que nem o s viticultores nem os comerciantes
exportadores de \vinhos contra ele reclamaram oficial ou oficiosamenle
para qualquer instancia ;
«Proponho clue se telegrafe ao Presidente da Republica, ao presi-
dente d o conselho de ministros e aos ministros do Fomento, Finanças e
Justiça (este ultimo por ser um rnadeirense com 'interesses ligados a o
assunto), pedindo a rnanubenqáo do Regulamento actual e protestando
contrd o projecto do novo Regulamento pot- vexatorio e contrario aos
intei.csses do comercio e da agricultura.»

E m seguida disse o orador que, o s muitos afazeres o aiheiaram do


estudo do projectado regulamento dos vinhos, que lhe parecia que esse
assiin to tinha sido definitivamente liquidado com o parecer emitido pela
entidade oficial que n'esta ilha niethor auctoridade terri para isso, a Co'
niissáo de Viticultura.
Recebera, poréni, iioticias de 1,isboa. de pessoas que lhe merecem
absoluta confiança, em que se afirmava que o monstro não tinha sido
derrubado, e que, pelo contrario, apresentava signaes de vida,
Que por isso foi coinpelido a Iêr o proiecto do regulamento dos
viiihos, E que essa leitura lhe deixára uma penosa impressão, por isso
~ L I P I se pretendia vexar o viticultor, arrancando-lhe um imposto que ion-
ge d e cobrir as despezas da sua fiscalisaçáo, ia ainda buscar aos co-
fres da Junta Geral uma avultada quahtia, que representava o sacrificio
de todos os niadeirenses que para ali contribueni com uma verba avul-
tada, resui tante especialmente *da contribui~ãopredial.
Qiie a ~inicavantagem que descobrira n'esse documento era a de
crear Lim exercito de fiscaes, ern numero ilimitado, mas que a Republica
fera proclaniada não para estes fins indecorosos, mas para zelar os in-
teresses dos qiie produzem, acaiitelando, tanto qçiarito possivel, a honra
e a dignidade dos que mandar11 e zelando os direitos dos que honrada-
mente trabalham.
Que n'estas c o n d i ~ õ e so s madeirenses n8o podiam prestar o seu
acoltiimento a diploma rao deprimente, vexatorio e mesmo inexequtvef.
Pedia, por isso, que a assembleia s e pronunciasse sobre a s u a mo-
cão, que representava o sentir e o desejo de todos o~ que, directa ou i ~ -
directamente, teem interesses ligados á questão dos vinhos d'esta regitio.
Falou em seguida o socio Sr. Serrão para salientar que o projecta-
do regulamento, impondo certas responsabilidàdes aos donos de i--
res, ia prejudicar muitos milhares de viticiiltores, visto que em taes con-
dições só o s mil donos de lagares fabricavam o seu vinho ficando
restantes sete mil á merc6 da unica coisa viavel que n'este caso seria a
perda total da sua colheita.
O Sr. Eduardo Rodrigues, em breves considerações, fez a analise
de algumas passagens do regulamento projectado, pondo em relevo as
desvantagens que ele trazia, não s ó a nossa viticultura, mas ainda á
proyria exportação por isso que, sendo esta diminuida devido á concor-
rencia de falsificações no extrangeiro, ainda mais diminuiria com os no-
vos encargos resultantes do projecto, e d'ahi mais um motivo, para a
completa ruina da ainda hoje muito valorisada fonte de receita d este ar-
quipelago.
Por .ultimo falou o socio s r . Gouvêa Junior para associar o seu
voto ao d o s que apoiavam a moção da presidencia, e para s e congratu-
lar com a assembleia pela unanimidade de vistas ern assunto que tanto
interessa á nossa terra.
Salientou o facto de o novo regulamento representar u n i imposto
violento sem lhe corresponderem consequencias vantajosas, estando
em desacordo corn a s ideias dos precussores da Repiiblica. qlie tão ve-
xatoria imposição ao povo da Madeira s ó encontraria iustificação para
ocorrer a uma calamidade nacional, mas nunca para o fim a que se des-
tina, que s e limita á creaçáo ou chamada de uni exercito do empregados
para vexarem o povo trabalhador e para lhe arrancareni a s simpatias
pela novo regimen.
Que o Sr. Azevedo Ramos na sua moçáo leinbrou que s e teleyr-a-
fdme entre outros a o sr. ministro da justiça, que desejava acentuar era
uma merecida homenagem de consideração que se prestava aq~ielenos-
s o distincto patricio, porque ele não s ó era um madeirerise amante da
sua terra mas tambem um dos maiores viticultores; que no facto de ter
fracassado a primeira tentativa de aprovação do projecto iria talvez re-
flectir-se o seu inuito amor pela sua ferra, nras que a sua açáo podia
ainda assim ser mais fecunda quando apoiada pelas forças vivas da
Madeira.
Que ti Comissáo de Viticultura, a junta Geral, a Associação Com-
mercial, a s Camaras Mrinicipaes e o Centro « Manuel d' Arriaga » tiri harn
já feito sentir perante o Governo a s consequenrias nefastas da nova re-
de lançada aos magros haveres do viticultor, e que o Club Republic-ano
da Madeira honraria tambem o seu nome contribuindo para que o odioso
diploma que se discutia não lograsse as honras da sanção ministerial.
Finalmente foi, por unanimidade, aprovada a moção, e da mesma
forma o seguinte telegrama aos senhores Presidentes da Republica e do
conselho' de ministros, e ministros do fomenio, da justiça e das finanças:
«Club Republicano da Madeira reunido assembleia geral pede ma-
nwtençáo actual reguiamento vinhos 8 novembro 1913, e reclama contra
novo projecto que seria ruina comercio viticu1nira.- Presidente, Azeve-
do Ramos».
Em seguida foi encerrada a sessão.
FI união dos uitieultores

O pessimo costume, que em Portiigal tanto se enraizou, de tudo


esperarmos da iniciativa e da ação dos poderes publicos, partindo-se
d o pernicioso principio de que a iniciativa e a ação dos individuos oii
das classes só devem surgir quando a s dos governos tiverem frutifica-
do, leva-nos por vezes a situações penosas que, apesar de se repetirem,
não constituiram ainda [irna licão para tão condenavel e tão nocivo mo-
do de pensar.
Ora, vejamos, pdr exemplo, o que, n'uma regiao essencialmente
vinhateira como a nossa, se passa com os viticultores, que, constituindo,
sein duvida, ia pela siia irnportancia, irma das mais poderosas forças
vivas da ilha, se acham disseminados por toda a Madeira, sem terem
uma associaçáo, sem possuirem uma cooperativa, em'que se unam e
reiinarn para se defenderem quando seja necessario.
Existe, efetivamente, ùma corporação, no seio da quai eles teem
representação e podem pugnar pelos seus interesses. Mas essa mesma-.
quc é a Comissão de Viticultura-foi iniciativa e obra dos governos. S e
os poderes publicos não a creassern, ainda hoje não existiria Comissão
de Viticultura numa terra de milhares de viticultores como a nossa.
A falta dum centro, duma cooperativa ou dum sindicato de viticul-
tores na Madeira torna-se, neste momento, talvez mais que em nenhum
oiitro, bastante sensivel. A situaçáo presente é bem definida: dum lado
estão OS viticultores; doutro estão os que pretendem aniquilar a viticul-
fura madeirense com a aprovação dum regulameiito infeliz. Os viticulto-
res estão unidos no mesino pensamento, que e geral o undnime: o da
necessidade da derrota desse regulamento que. a ser aprovado, consti-
tuirá a ruina duma das duas maiores riquesas que a terrd rnadeirense
produz, coin a agravante de prejudicar os proprios interesses do Te-
souro. Pois o s viticultores que teem todos o rnesino pensdriiento, corrio
não o realisariam m a i s eficcizmente se tivessem uni centro donde saísse,
não a VOZ isolada deste ou daquele, não a opinião individual de A. ou
B., mas a voz retumbante, a opinião desassombrada e forte da viticul-
tura inadeirense, certa da justiça da sua causa patrioticd e conscid da
autoridade da SLM vontade intransigentemente manifestada?!
Tem, com efeito, recebido o governa rnagnificos protestos de quasi
todos o s pontos da ilha contra esse projecto de reyulainento. Tdis pro-
testos são denunciadores de tal estado de animo, que todas a s razões
nos levam felizmente a crêr que o projects, não passará denti-o em pouco
duma tentativa que s e extinguiu sem saudade. Infelizmente, porem, esta
crenqa em que esfamos, !ião se converteu ainda numa c e r k z n . E em
certeza poderia ela já estar convertida, se vissemos o s nossos vificul-
fores, defendendo sob o inesmo tecto o pensamento que é o de todos,,
batendo-se reunidos pela sua terra e pela sua agricultura, e impondo-se,
corn imperturbavel serenidade mas com a força heroica que dão a uniáo
e a justiça, para que fosse ouvida e acatada a voz clamorosa e rogante
duma ilha inteira qire pugna pela sua vida e que mãos inimigas preten-
dem sufocar nas malhas crueis das suas ambiqões inextinguiveis.
A dispersão de forças é sempre iim mal para o fim que s e deseja
atingir coin a acção dessas forças.
Haja em vista o yue s e tem passado em Portugal com os conheci-
dos vinhos do Dão, que, produzidos n ' u m região onde o s vitícultores
teern sabido reunir-se em cooperativas, centros, sindicatos e outras so-
ciedades de defesa agricola, formando nucleos importantissimos, teern
tida toda a protecção e teem triumfado de verdadeiras alcavalas coin
que teem sido ameaçados pela concorrencia desleal e, á s vezes, por pre-
cipitadas inedidas governativas.
Ganhem na uniáo o s nossos viticuitores a s armas com que salva-
guardem e defendam o s seus interesses, e habituem-se a esperar de si
proprios, do seu esforço e da sua iniciativa particular aquilo que uma
preiudicial comodidade o s aconselha a esperar da iniciativa publica do
Estado.
O s vinhos da Madeira requerem ~rna~defeza constante e persistente.
Essa defesa tem de partir dos viticultores.'
XXIV

O projeeto vinieola F-:pt;-:


- - -. ,
e

. c$;.\
"<> /, - -.,
L . L ?'k
2 - , % - '
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.
f

* .

O operariado manifesta-se abertamente


contra as suas ruinosas disposições

(4< Diario da Madeira » de 9-1 1- 19f5)

Sob a presidenciã do sr. Sergio de Ornelas, secreta~iadopelo8


srs. Feliciano Correia e Antonio Jardim, reuniram hontem eonjuncta-
mente, conforme fora anunciado, as direcçóes das Associações de
Classe dos Cary inteiros, Tanoeiros, Pedreiros e Fabricantes de Calçado
do Funchai, para tratarem d o recente proieçto de regulamento de produ-
ção e comercio dos vinhos ?a Madeira.
O representante da Assocíação dos (;arpinteiros fez uso da pala-
vra, salientando os rnultipios inconvenientes que da aprovacá0 do pro-
jecto referido adviriam, inconvenientes que não so se verificariam directa-
mente sobre a classe d o s Tanoeiros inas farnbtrrn sobre todas as outras,
porisso que, sendo gravemente atingida a economia desta ilha, a todos
os seus comporrentes chegariam a s desvantagens consequenfes.
O presidente da Associação de Classe dos Tanoeiros protesta ener-
gicamente contra semelhante projecto pois que dêle resultaria a ruina da
sua classe que \'em de ha tempos lucfando com a misería.
Os restantes membros rrrnstraram-se do rnesnio pai-ecer sendo
todos concordes em optar peld conservação da legislação vinicola eiE
vigor, que de ha arios vem servitido a contento geral.
Foi ainda resolvido tratar-se novamente do assunto depois de con-
vidadas a s restantes classes operarias.
Finalmente foi lida e aprovada a seg~iintoi r i o y d o , onde esta ex-
presso o sentir das colectividades mencionadas e creiiio-lo twrn de toda
a população madeírense:

«O projecto do rmvo regulamento para prod~iqaoe cotnercio do


vinho da Madeira, contendo disposições altarriente prejudiciaes e contra-
rias aos interesses da Madeira, não pode de rrianeira algurria deixar de
contender cotii a s classes operarias, de urii rnodo geral, porque tudo o
que desvalorisar a economia agricola e o corriercio a s fere sempre, erri-
bora indirectamente, e de um ~iiodo particiilar poryue a classe dos
tanoeiros ern especial tern a suò vida ligada estrictarneiite d vinicultui-ci e
exportação dos vinhos madeirenses.
Ora, a execução dêsse projecto importa no rirrdncamento da maior
parte dos vinhêdos de toda esta região e, conio consequencia disto, nii
desgrasa de uma grancle maioria dos habitantes clo districto.
A fiscalisacão creada sem fim util e moral de especie alguma, mas
tão sómente para vexdr e arranjar empregos, fazendo corri que o s donos
dos lagares deixem de einprestal-os aos viticiiltores pobres; o turbulent~i
ir~iyostode 2 reis por litro de vintio, que extorquirá ii pobre viticultura
uns 12 contos anuaes c desvalorisarii c) vínho em 5 oii 6 " O , a o tempo
que onera esta cultura coin uma dupld contribuição, visto que ela já paga
um pesado encargo pela matriz predial; o s eriiolumentos pelos serviços
respeitantes, tanto á viticulturd como á vinicultura; a complicada burocra-
cia das repartições, tudo isso trará a inevitavei destruição da melhor
cultura sem a qual este districto não pode viver jamais.
E as classes operarias mais do que ninguem sofrerão com a po-
breza agricola dêsta terra, pois que ela paralisará todos os trabalhos,
todas a s obras e todas a s forças vivas, numa palavra.
E por que isto é assim, seria iirn crime que as associa~õt3sde classe
se mantivessem silenciosas perante a catastrofe com que esse projecto
ameaça a Madeira.
E fazendo isto, a s associaçoes apenas defendem interesses geraes
e seguem a s pisadas de todas a s colectividades locais, unanimes no pro-
testo contra esse nefando projecto, em tão má hora concebido.
E' preciso, portanto, qiie se diga ao governo que esse projecto é
injusto. impraticavel e deslt~irt-iano,e que ao mesmo governo se peça a
s u d formal reprovação como medida de justiça, de boa econoniia agri-
coia.
Por outro lado taiiibem, está absolutamente deitionstracio q ~ i eo
cictiial I-cgiilaniento de 8 de Novembro de 1913 satisfaz a todos o s inte-
resses c riecessidades da viticultura, vinicultura e exportação, verdade
esta que está tioie reconhecida por todas a s entidades deste arquipélago
seni discordctncia de nenhum aspecto.
E' tarnhem necessario qiie este asserto seja ponderado íio governo,
de i i i r : ) t i ~cl solicitar a rnanuten~ãodêsse diploma.
Nestes teri~ios,a s ~issociaçõesde classe reunidas resolven~:
1 ." (JLIG se pc'i;a dos E X . ~S r~s ." Presidente
~ da Republica, Presi-
clerite d o Conselho, Ministros do I'otnento, Fiiianças e justiça que seja
mdi~fidoo regulainento de 8 de Novembro de 1913, visto estarem nêle
accrutclados todos os in I eresses viticolas e vinicolas.
2." Qiie fique consignado na acta o nosso profesfo contra o mal-
f~ldacioprojecto para uni novo regulamento de vinhos, por ser iniquo,
tlesireçêssdrio, irnyraticavel e muito prejudicial.
3." Que seja tirada copia dêsta moqáo para envidr aos E x . ~ ' ' ~
I\/finistr.os dcinld iildicddos.
xxv

R questão uinieola

O Ateneu Comercial protesta tambem contra


o pretendido ibegularnento
(c< Diario da Madeira » de 12- 11-1915)

Em assembleia geral, largamente concorrida, reuniu hontern o


Aieneu Comercial do Funchal, sob a presidencia do sr. José Maria Ne-
ves, secretariado pelos srs. José Gregorio Ferreira e Aquino Batista
Santos.
O sr. José Maria Neves, ao abrir a sessão, diz que por motivo
justificado, contra sua vontade, não poude comparecer á sessão, o Sr.
Nunes de Carvalho, presidente da Assembleia Geral, esperando que a
assistencia lhe releve aquela faIta. A seguir, o sr. presidente, expondo
os fins d'esta reunião declarou que tinha por fim tratar d'um dos assuntos
mais vitaes d'esta terra, qual era o da antiga e insubstituivel cultura da
vinha.
O projecto que aqui apareceu, com efeito, trazendo a completa rui-
na da vinha não pode de maneira nenhuma deixar de afectar o s interes-
ses legitimas do comercio e por isso o Ateneu Comercial do Funchal
tratando d'este assunto cumpre o duplo dever de advogar o s interesses
da classe que representa e os de todo o districto, bem digno de melhor
sorte.
O s r . dquino Batista, usando da palavra, abundou nas mesmas
ideias do sr. Presidente, condenando e verberando, ein especial, as dis-
posições reiativds ao imposto sobre o vinho, á fiscalisação dos lagares,
e á coniplicada engrenagem em que se pretende envolver, tanto os viti-
cultores, como os vinicultores.
Extr~nhavaimenso que sobre a viticultura se lançasse semelhante
alcavala, principalmente quando ela anda precisada de proteção d o s po-
derei, suyerioi'es, de modo a poder manter-se, tanto na produção como
na siia colocacão 110smercados extrangeiros.
O pi-cjccto é, pois, uma negaçáo completa a tudo quanto se ha fei-
to para os vitihos d o yaiz, sem atenção a uma terra como esta, que
r-n-smo IIRS precarias circunstancias ern que se encontra, manda annuat-
rnei~tepara a s cofres d o Estado uma quantia de cêrca de 1:OOQ contos.
i>or isso, entende d e seu dever mandar para ã meza 21 seguinte
I I ~ O Ç ~:C )

c:Deiide tcsirlpos in~emoriaesque a viticult~ratem sido a principal


bnse dd:i.iqlieza agricola da Madeira, sendo conhecidos e justaniente
d ; d i i l i l d ~ os ~ seus vinhos em todo o mundo, cujo tipo, sabor e aroma
causam ii inveia dos vinhos de quaesquer outras regiões.
T~ido,poricjnto, que possa dificultar esta cultura far-se-ha sentir
c ! ' i i i ! ~ í i maneira ~ i t r or190
~ s6 nc;s demais culturas da ilha conio na viti-
c u l i ~ i r í ic ito cotnci.cio ern geral qiic necessariamente vive e tem de viver
A sombra da agricultura.
A r-riini: dos vinhedos será i: morte da principal fonte de receita
ctgrlcoia d'esfa ilha e a causa da despovoaçáo d o archipelago como
está presente na memoria de todos, quando da invasão do filoxera, em
que í~er~~igiação se fazia aos milhares de homens e em que a falta de
braços por um tado e faita de dinheiro por outro desvalorisarírm os ter-
renos rtrn mais de 60 c',,.
Dor isso, sempre rodos os esforços se combinaram para pedir a o
Governo i-riedidas berieficladoras e mantenedoras da viticultura, quer
estabelecendo tratíldos de comercio corn os paizes estrangeiros, onde fi-
casse assegirada a colocação dos nossos vinhos, quer estabelecendo
ddegds sociaes, u"tc., ek:.
Pois, pr-esentemente, e na eyocha calamitosa ein que tudo está ca-
ro, cin q u e poucos são os honrados trabalhadores que ganhar11 para o
suilsieirto de iorlos os dias, em que o s terrenos absorvem quasi toda a
receita d o s iimai-iiios resp'eclivos, aparece um projecto para um novo re-
gulanieilio de ~ i n i i o sda Madeira, o qual tudo destroe, tudo arrasa, com
disposições engendradas, para estabelecer. uma rede de empregados eni
todo o districto, a custa da completa ruina da agricultura e da desgraça
de tnc7 P O ~ lLa ~ ~ á ointeira.
Quer esse projecto urna deprimente fiscalisação dos lagares a yre-
texto de reprimir fraudes que só existem no papel do mesmo; quer mais
dois reis de imposto por litro de vinho ; quer emolumentos por sei-viços
que hoje s ã o gratuitos e que de justiça e continuar a sel-o; quer tima
complicada engrenagem de reparti çóes para justificar despezas cr ex haurir
o viticulfor; quer, em uma palavra, dinheiro e mais dintieiro pard distri-
buir á larga pelos fiscaes, pelos chefes, sub-chefes, delegados e fantas
outras coisas mais.
E é o vinho, que mal rende para a despem que já iern, qtiein ha
de pagar todas estas fantasias!
S ã o de 10 de maio de 1907, de 18 de setembro de 1308 c tlc (3 de
julho de 1913 as leis que regulam o s serviços viticolas e vinicolas em to-
do o paiz e ahi nada ha que fáça sequer supor a s alcavalas que o pro-
jecto em questão pretende.
Para a Madeira foram essas leis reguladas pelo Decrt'to de 9 de
M a r ~ ode 1911 e depois pelo de 8 de novembro de 1913 que substituiu
aquele, não tendo havido contra este diploma a mais pequena reclama-
ção oficial ou oficiosa dando-se até o facto, hoje largamente coniprova-
do, de todas as Camaras, Junta Geral, Associação Comercial, Associa-
ções Operarias, viticultores e vinicultores serem unanimes e m declarar
que esse regillamento de 8 de novembro citado satisfaz todos o s interes-
ses da viticultura pelo que deve ser mantido sem alterações. Por. conse-
quencia:
Atendendo a que o imposto pretendido é uma extorsáo violenta fei-
ta á economia agricola do districto;
Atendendo a que esse imposto, alem de iniquo, fere de morte a vi-
ticultura ;
Atendendo a que o mesmo imposto representa na fegislaçáo d o
paiz um facto isolado e seria uma medida de odio para a Madeira;
Atendendo a que o s novos emolurnentos tambem s ã o um encargo
com que a viticultura não pode arcar.
Atendendo a que a creação dos varios empregos de que vem re-
cheiado o projecto, é inutil, anti-nioral e não deve, portants, subsistir;
Atendendo a que o regulamento actual vem satisfazendo todo o s
interesses viticolas e vinicolas não tendo contra ele aparwido nenhuma
reclamação ;
Atendendo a que o projecto para o novo regulamento, inventado a
capricho, sem nenhuma lei que o auctorise, traz o arrancamento da vi-
nha, Visto ser ela incompativel com mais encargos e com a fiscalisação
que, pelas suas inconvenientes formalidades, fechando-lhe- o s lagares,
deixaria a s uvas a secar nas parreiras;
Atendendo a que esse projecto custará á Madeira uma quantia não
inferior a 100 contos anuaes, sem nenhuma utilidade para o districto;
Atendendo a que o citado projecto traz o desiquilibrio da economia
agricola da Madeira e consegliintemente d o comercio que, sem essa
fonte de receita, não poderá ter a vida que hoje tem;
O «Ateneu Coniercial do Funchal», no desempenho dum dever
imperioso, e m obediencia ao principio da defesa da classe que repre-
smta e rio interesse justo e legitimo da Madeira, resolve:
1 ."----Pedirpor telegrama aos Ex."Ios Presidente da Republica, Pre-
sidenie do Conselho de Ministros, Ministros do Fomento, das Finanças
e da Jirstiga e Director Geral da Agricultura que seja mantido sem alte-
rações o regulamento de 8 de noveinbro de 1913, para produção e co-
rnercío do vinho da Madeira;
. O Protestar contra o projecto para o novo regulaniento por ser
)t

nocivo, injusto e ruinoso;


3." Enviar ao Ex.*'OS Ministro d o Foiriento, d a s Finanças e da
j~istiçao Director Geral da Agricultura, copia dêsta parte da acta.
Salas das sessões do «Ateneu Comercial do Funchal», aos 1 1 de
novembro de 1915».
Todos o s cidadãos presentes se manifestaram abertamènte a favor
da moçáo, que foi aprovada por aclamação.
Em seguida foi encerrada a sessão.
xxvi

ii reuiiião d'hoje

Ha ilias, num judicioso artigo publicado neste iorml, dizia-se, e


com carradas de razão, que o Contercio do Functial tinha por habito
aihear-se das questões que directarricnlr: oii indirccí-amente o irjteressa-
vam, deixando a uma meia duzia dos seu:; membros a tarefa ingrata de
velar pelos interesses c garantias de lodos. E, acrescerifava mais o
mesmo artigo, que, rrri gerd!, d recoiiipensa, s e porvei~tiirae!es espe-
rassem algunid, dada aqueles que frabali-iavam pelo beni con.rum, era a
maledicencia dos qiir nada fazendo iam crivando os seus consocios de
difos picantes e de agreciaçóes ii-ijtistas.
Com efeito, negar a n~ai:iflagraníál verdade ar> arfigcb a que vinios
fazendo roferericia, seria não tlilerers ver o qíie infsfizrnente s e passa
dentro e fhra dGsso7 agremiiiçao denorníndda «Associac;ão Comercial do
Funrhal», c que representa pari3 s comercio dêsta cidade o seu parla-
mento, onde ele poderi, se quizer, rnanter honradamente os seiis direitos
e defender nobremente os seus interesses.
Bois realmente o que se vê 6 que são raras a s reuniaeç dêssa As-
sociação ern que não seja necessario mendigar a cornparerrcia de s o c i o ~
afim de que essas reuniões não deixem de efectuar-se por falta de nu-
mero, emquanto, depois, cá por fóra, se vae ralhando á bocca pequena
com ares de zombaria sobre o que lá se disse ou discutiu!
Para hoje está convocada uma nova reunião dêssa colectividade
para o fim de, segundo uma proposta da Direcção, continuar em vigor
o regulamento de produção e comercio do vinho da Madeira.
Ninguem, por certo, desconhece, qual a razão porque o Comercio
do Funchal vae pedir hoje a conservação do actual regulamento do3
vinhos.
A razáo que é das mais justas e aceitaveis anda aí no animo de
todos de mistura com u m a grande revolta nos espiritos pelo facto dêsse
projecto, com o qual se pretende substituir o regulamento em vigor, ser
uma dessas coisas que se não classificam, que mesmo não se compreen-
dem, tamanhos são os dislates com que o seu auctor anonimo o redigiu t
Queni aquilo escreveu esteve certamente a divertir-se com os vinicultores
dêsta ilha, esquecendo-se que, com o brinco, poderia comprometer gra-
vemente os destinos dum comercio que tem na Madeira a valiosa e aitis-
sirna importancia de ser grande e secular.
A digna direcção da «Associacão Comercial do Funchal» enten-
dendo que da sua acção, sempre proveitosa, poderá resultar o mais ra-
pido e decisivo aniquilamento dêsse projecto bruIesco, faz, pois, reunir
hoje, pelas quatro horas da tarde, o s seus membros para resolverem a
melhor maneira de assegurar a vigencia d o actual regulamento dos vi-
nhos da Madeira.
Como é principio assente que é da união que nasce a força, bom
seria que dêsta vez os comerciantes do Funchal acorressem todos ao
seu gremio, para ali lavrarem firmemente o seu protesto contra a ameaça
feita ao futuro economico da Madeira, dando assim a impressão de que
esse protesto, pela sua grandeza, era tão solemne como digno do maior
apreço.
O projeeto de regulamento dos vinhos
e o sr. Presidente da tjepubliea
Um telegama As Associa~õesOperarias do Funchal

Como referiu o Diafio da Madeird, reunirãni ha dias eni sessão


coniuncta, a s Associa~óesde Classe Operarias do Funchal, tomando
entre outras deliberaçiks a resolução de enviar ao sr. Presidente da Re-
pública um telegrama pedindo a intervenção de sua ex." junto das esla-
ções superiores, no sentido de ser posto de parte, como ruinoso para a
agricultura e para a vida econoinica,geral do districto, o recente projecto
de regulamento da produção e fiscalisacão dos vinhos da Madeira.
Em resposta a este telegrama, foi hontern recebido por aquelas
associações de classe o seguinte despacho telegra fico, expedido da Se-
cretaria Geral da Presidencia da República:
Presidente Associcjrcdo Clc~sses Oyer*arias

Encar~*ega-meS . Ex." o sr. Presiáenfe da l2epÚblic.d de infor-


nidr dV. ExSd~ I J CC O M U ~ I ~ C Oao
U Ministro das Flndn~asC ~ S S ~ I 'se11
I ~ ~ O
teiegrnrna a h de ser f o ~ n i i hna devida considerdp30.
(a) Secretario GQI;Y/Interi~to.
A copia deste telegrama foi-nos facultado pelo s r . Sergio d'Or-
nelas, presidente da Associação d o s Carpinteiros e Artes Correlativas
d o F'unchal. o que muito agradecemos.

Teiegran~a á Associação
Comercial do Funchal

1)eyois de composta estd noticia chegou-nos d o cont~eciment~=que


cg lia1ri-icnte o s r . presidente da Associação Comercial do Funchal rece-
Ile~i h o n t c ~ iiim
~ telegrdiria d o inesmo teor, da secretaria geral da Presi-
ciencid da República, ern rVespostaao telegrama de ante-hontem expedido
ao Chefe do Estado por aquela importante colectividade. pedindo a ma-
n~ilençaodo actual regularnento dos vinhas da Madeira.
A o si.. J o s é Quirino de Castco, que dmavelmenle nos facultou a
iol>ici d o telegr~irnarecebido, os' nossos agradecimentos.

Comercial d o Funchal

Á direcção do «Ateneu Comercial do Funchal», tambem enviou Q


s r . Secretario Geral da Presidencia da Repllblica um telegrama exacta-
mente do teor do que acima publicamos, e que egualmente nos foi facul-
fado pelo s r . Aquino Bátista, inteligente secretario da direcção daquela
colectividade, o que agradecernos.
XXVI I I

O p~ojeelovinieola

Uma carta d'um viticultor

(«Diario da Madeira » de 15 11-- 1915)

. . .Sr. Redactor
A questão dos vinhos da Madeira vae tendo o seu quê de conta-
gioso e talvez por isso é que V . . . sr. Redactor, cá tem hoje este pobre
escrevinhador a dizer duas palavras sobre êsse assunto de magna im-
portancia para todos nós.
Pedi um exemplar do projecto que foi apresentado para um novo
regulamento, li o parecer da Comissão de Viticultura e desde então tenho
seguido com cuidado tudo o que a imprensa tem referido a este respeito.
E ainda bem que vejo os madeirenses, excepção feita para o s de-
generados de que faloii o nieu amigo dr. Pedro Lomelino, tratarem a serio
e unanimemente dêsta questão, pondo de parte a s ninharias da poiitica
e d a s qircstões pessoaes.
Eu, sr. Redactor li o projecto e a minha alma choroii lagrimas de
dor esmagada sob o peso do imposto, sob o vexame lançado contra o s
lagares, sob o s mil torniquetes em que querem espremer o viticuttor e,
em suma, sob a iminencia da d e s g r a ~ aque esse projecto vinha deitar á
porta de todos nós.
I,i depois o relatorio da Comissão de Viticultura e satisfez-me vêr
que ainda hdvia quem defendesse os interesses dêsta desgraçada ilha,
afogadn r i l ~ i ~ i011cia
d cle infortunios p o r todos o s seus montes e vales.
E vi, depois. que, hontern uinii, hoje outra, todas a s colectivida-
d e s c i o districto, nunia solidariedade c expontdrieiddde que a s honra, s e
ient dirigido ao governo expondo a necessidade de semelhante projecto
ser coinpleiainentc posto de parle, por mau, ruim, cornplicante e ina-
ceitavel.
Foi assi111 que fdla~-dt~l a s L c l i i l l l I ' d ~ Municiyaes, a junta Geral, a
Associ;iqiio C:oriicrcidi, o Centro Arridgd, o C,entro Republicano, a Co-
inisscio de Viticultura, a s A:isociaçõe;i de Clíisse, o A teneu Comercial,
os viticultores de todos o s conct.ltios, a irliprensa e, numa palavra, todos
ayueles qiir c-ii~daprezam esta 1[)01*(2/a c17gdsf~~cía 170 oceano, mas que
dgord quererii engastada ilas aigi1)eiras d o projecto, porque, não ha
cliivid~l,cj~icz lá nlgibeiras Itic riáo faltatii.
Sirnpatico rrio~ii!iiento ~ L I Cderrola de umri maneira indubitavei a
pci'riiciosidade desse projecto e o qu~lntoele alvorotou o espirito da po-
yiilagclo do arqliipelago, ernbor.d já af=?iia,é verdade, a aceitar sem pro-
testo todas a s alc~jvalascom que a ti3.o sobrecarregado.
Isto bastaria para que esse riegi-egado projecto fosse afirado para
a fossa. A S L ~ L II-eprovaçiíoc! forrnal, é unanime, e é completa ern todas
d s clabses e ate crn todas iis polificas.
M a s o bicho, di~cni-riie,cindíi rneciie o rabo e O S rdbistc7s que se
Itie agdrraiii á cauda protestani qtie cle ha de vingar. Triste sintoma!
Não vi, ijern tia ~iinneirade vêr, que do irnposto, da fiszalisação,
dos eniolii~iieritos,tiaja lucros para a L-iticulturaou para a agricultura em
geral.
Náo, senhor. Tudo, pelo contrario, são prejuizos. Mas lendo-o, o
tal hichnroco de paes incognitos, chega-se a outra corrclusáo. Primeiro
pensou-se e m que era preciso arranjar dinheiro para umas sinecuras, que
4 como querri diz arranjar gente que não quer trabalhar; e depois, tra-
çado o plano, foi-se batendo á porta da agricultura. A cana já tinha carga
bastante; a batata, podia ser dôce, m a s era uma coisa de pouca monta;
.o trigo, que diabo! um fiscal ao pc! de cada debulhadora era tambem
uma miseria; o nabo, ora o nabo, oiiira miseria; ah! ah! Eureka! o vi-
nho, esse está na conta, ha por todo o arquipelago, é uma mina. E zaz,
mãos á obra, e depressa que o tempo não era de graças.
Esta a historia crua da incribaqao por que passoti o referido pro-
jecto, para deshonra e desgraça da Msdeiraa.
Dizer agora o que é o imposto, o que é a fiscaiiciaçao, o que são
a s mii picuinlias coni que se pretendia niimosear este districto, parecerá
superfluo, pois que dito e redil0 anda o assurnto por quem, com melhor
cornpetencia, se tem encarregado de fazê-lo. No entretanto não quero
deixar de consignar que tudo isso, qiie é a alma darnnada do projecto,
representa para a viticultura e vinictr l tura madeirense a sua comy leta
ruina, uma morte rapida e afrontosa. não produzida pelos gazes das
granadas alembs que estáo bem longe, mas sim pelas bombas do im-
posto e da fiecalisaçáo, que não s ã o menos deleterias.
O projecto é mau, está condemnado em todos os tribiinaes da
opini8o publica e, com verdade, nunca coisa alguma conseguiu no nosso
paiz uma ,wmelhante unanimidade de opiniões. Mas exactamente por ser
mau é que os viticultores precisam de estar álerfa, s e é que depois não
queiram chorar no abandono da patria a s agruras de lima emigração
forçada.
Congratulando-me com os madeirenses, pelo nobre movimento de
todas' as classes e colectividades dêsta terra na justa reprovação d o de-
cantado projecto, acompanha-os com entusiasmo.
XXIX

O ptojeeto uinieola
Uma representação dos viticultores
(« Diario da Madeira » de I 6 11-1915)

Seguiu ha dias para Lisboa a representação em que os viticuli-ores


dêste districto reclamam c o n t r a o projecto de um novo regulamento para
produção e comercio de v i n h o Madeira.
Subscrita por cêrca de tres mil viticiiltores, essa peticão ao go-
verno traduz, a o claro, a vitalidade de uma classe inteira perante a ruina
com que a ameaça o aludido projecto, e estamos certos de que o Minfs-
terio o s atenderá, e não r e c u s a r á , ouvindo o seu grito de dôr, fazer-I&s
a justiça que o caso requer.
E muito pouco pedem eles: apenas que seja mantido o actual re-
gulamento de 8 de novembro de 1913 e afastado de vez o endiabrado
projecto contra o qual t o d a s as classes e entidades se hão levaatado em
protesto unisono.
De facto, esse projecto nascido em noites negras de inverno, no
meio de uns fumos de mysterios, não tem a justifica-lo uma lei que o
exigisse, nem interesses da viticultura, nem sequer a vontade das estâ-
ções superiores.
Nada, pela verdade, nada disso. Nasceu como foi concebido para
dar logar a uma larga burocracia em toda a ilha e crear mil embaraços
tanto á cultura como ao comercio.
O plano era grandioso, sem duvida, e tão grandioso que darido o
imposto cerca de seis contos por ano, por conta dele, nêsse mesmo pro-
jecto, s e creava uma despeza nunca inferior a cem confos, diferenqa que
a Junta Agricola e a junta Geral, ambas a queixarem-se corri faltas de
dinheiro, seriam fòrçadas a pagar, como bem o dize111 OS artigos 18 (j
1 .", 22.11e 23.0.
E assim ter-se-hia creado um imposto com a cobrança d o qual,
reconhece o proprio projecto, se teriam de dispender qiiantias rniiito s u -
periores ás arrecadadas!
Nada dêsse imposto serviria para beneficio da agriculturd, d o Es-
rado ou de outras colectividades administrativas; ia rodo para despezas
com a fiscalisação d a sua cobrança e teria a Junta Geral que pagar ainda
a diferença, o que segiindo os melhores caculos não orçaria por rncnos
de 60 contos!
Era caso virgem este de arranjar um imposto qtle não produzia
u m decimo da quantia precisa para a sua arrecadação.
As fantasias, p q é m , enchem todo o projecto.
E a par do irnposto C' da fiscalisação lá vem a niulta a o proprie-
tario das lagares pelo manifesto pouco rigoroso que houver sido feito
por qualquer visinho corn i.el~çi3oaos vinhos nos mesrnos, por empres-
timo, fabricados.
Não pouco revoltante é vgua!rner~tc-a licença a que tem d e sujeita-
s e o dono de lagar, art." 26.0, para poder espremer nêle á s vezes apenas
uma meia duzia de cestos de uvas, como tormentosa 6 a rêde de impres-
sos e o continuo vae-vem do viticultor entre a s repartições porque fica-
riam divididos o s serviços.
Medidas destas, sem necessidade, nem vantagem alguma, não po-
diam deixar de levantar reação entre os interessados que n'este caso
particular, .pode dizer-se, são todos o s filhos da Madeira.
Por isso o grito de alarme, solto na sessão da Comissão de Viti-
cukura, rapido ecoou por toda a Madeira, fazendo-a vibrar de indigna-
$60 perante a leitura do famigerado projecto; por isso o exemplar mo-
vimento de protesto repercutido em todos o s seus pontos cardeaes e
transmitido aos poderes centraes; por isso o isolamento que em volta
do mesmo se faz.
E com semelhante onda de reprovação que espera esse esfarra-
pado projecto para descer á vala d o lixo?
A maldição já a tem de toda a gente, que é quanta se lhe pode dar.
"DIARIO DE NOTICIAS"
INTERESSES GERAIS DO DtSTRltTO
--_I

O projeeto uinisola da Nadeira

(« Diario de Noticias u de 4-10-1916)

Não será demais dizermos de nossa justjçd sobre o novo pro-


jecto do regularnento para produçáo e comercio de vinhos da Madsi~ãe
sobre outros assuntos de interesse geral, que serão tratados em suces-
sivos artigos.
Mas vamos f a z & - osem quaisquer preocupações de ordem potitica
o u de natureza pessoal; seni paixão, sem idéas preconcebidas: com a
mais absoluta serenidade e iainbern com a mais inquebrantavel firmeza,
orientando-nos oxclimsivarnente pelos principias puros da razão, da justi-
ça, do, direito e da verdade.
E nestas condições que devem ser apreciadds e discutidas todas
a s questóes na intprensii, sejam elas quais forem, de ordeni. social, de
ordein,economica, de ordem politicd, de ordem literaria o u scientifica,
E assim qite deve ser a verdadeira imprensa, colocando-se acima
de todas a s paixões, de todos os odios, de toda a mesquinhez de -que Ê
susceptivel o espirito humano.
Nestes uitiinos tempos teern surgido para aí varias questões, ques-
tões da m a i s capital importancia para os legitirnos interesses da Ma-
deira.
Entre elas apareceii o novo projecto do regulamento do vinho' da
Madeira, que 4 de ia1 ordem, táo eriçado de fiscalisaçóes vexatorias, tão
complexo de alcavalas do contencioso, tão perturbador de serviços pu-
blico~,agravddo rlido isso com o imposto, que parece ter sido s ó con-
cebido para dai o golpe de misericordia nos restos da nossa preciosa,
da nossa rica, da nossa tradicional cirltura da vinha.
Ha 39 anos I,itava ela com um ter-rivel e implacavel inimigo, que a
devasrou eiii grdnde parte como um voraz incendio o floxera.
r-
i:xtensos viiihêdos. desapareceram rapidamente devorados por
aquele parasita ~ i i i i i ~ez irisaciavel, causando a ruina de muitos agricul-
tores e proprietarios.
Tentou-se energicamente combater a marcha devastadora do mal-
dito bicho, que veiu aumentar o numero das historicas pragas do Egito.
Sempre alguma cousa s e conseguiu de prático para defender o s
restos dos nossos vinhos das investidas da féra, sob a fórma do minús-
culo pulgão, recorrendo-se á enxertia da cêpa americana.
Pior, poréin, que o floxêia, pior que todos o s males que atacaram ,
as preciosas videii-as desta ilha, em 1876, pior que tudo isso é o decan- '

tado projecto do regulamento de vinhos que veiu hoje cair debaixo dos
bicos da nossa pena indignada contra o niais terrivel inimigo da cultura,
po;* excelencia, da Madeira, a que a tori~ouconhecida no mundo inteiro.'
O lavrador, ante a desgraçada situação que lhe reservaria o futuro,
criado pelo projecfo que está agora afecto a uma mui esclarecida comis-
são d'estudo, só pensaria numa cousa--arrancar a vinha que ainda lhe
resta, maldizendo aqueles que, em vez de combinarem todos o s s e u s .
esforços para animar e proteger o vinho Madeira, que foi em tempos'
idos a nossa principal riquêsa agricola, s ó obedecem á preocupação d e
engendrar uma nova fonte de receita, proveniente do imposto, para en-
grossar o numero dos burocratas, a maré invasora dos que comem&
meza dos orçamentos do Estado e de corporaçóes várias.
Então sucederia essa cousa temerosa, que deve evitar-se, até ,h
custa de sacrificios, o viticultor despojaria da sua natural e apropriada
cultura náo pequenas extensões de terrenos para a substituir pela da
cana de açucar, que todos sabem tanto ter contribuido para a escravidão
do lavrador madeirense.
Nada mais ficaria do que Yuba, e só Yuba, Yuba em toda a
parte !
Compenetrados dos interesses legitimos, confessaveis, da Madeira,
não podenios deixar de associar o nosso mais veemente protesfo a o s
que já se teem lavrado contra o projecto vinicola da Madeira, por que o
reputamos essencialmente, profundamente prejudicial, nocivo e fatal para
os dois ramos da iiossa vida economica, que s e prendem intimamente
um a o outro-a producão e o comercio dos vinhos desta ilha, desta t8o
linda lrjanda Porfugrrêsa, linda para o s que contemplam as suas mon-
rantias. ravinas e jardins, cie incomparavel eiicdnto, [nas linda, princí-
p~:!rncr;:te, para OS que nela descobriram verdadeiros filóes d'onro!
Não legislerii riiais sobre o vinho da Madeira, rrieiis senhores!
Deixem-no Icni paz!
Bdstcl de I I O V ~ S leis c' de novos regiilarnentos, quanfo a o cultivo
c k , i IIOSSCIS L I V ~ SC qlianto ao coiriercio do seu sumo, e ri~esmoquanto
ao resto.
Polipern estri pobrsc illid a iiiais dific~ildcldes,n mais complicações
4 <I mais sacrificios, no cxvrcicio dunia cultura e dum co-mercio, que
deve s e r fa\-oi-ecido e animado, para que, do rnenos, n á o tenhamos que
Ic?!i~eniara sua total ruina, o seu completo desaparecimento do sólo da
Milcleira.
O projectado regulamento dos vinhos, que tem tido a reprovação
geral, neste distrito, náo caíu ainda na vala do esquecimento.
Como que o s iniciadores de táo exquisito documento procuram
sustentá-lo e tornar viável a sua aplicação, não obstante estare111paten-
teados o s sens malefícios pela imprensa, pelas corporações administra-
tivas que mais s e impressionaram com a sua contextura, pela comissão
dos viticultores que falou como corporação essencialmente destinada a
velar pelos interesses da cultura das vinhas, emfim pelas opiniões iso-
ladas de cada proprietario, nãofaltando os que maior produção de mós-
tos alcançam nas suas colheitas anuais.
Em Lisboa ainda haverá quem esteja estudando o projecto, a ver
se descobre ponta por onde se lhe pegue? Ainda haverá quem anime
aquela vida perigosa, que, minada de grandes males, exige o emprego.
de grandes remédios?
E encontrarão, porventura, ésses grandes remédios? E acharão
porventura, quem s e resolva a aplica-Ios?
É que para doença nova os grandes remédios fazem sempre falta.
Começa-se por paliativos e por uma terapêutica de ensaios. Assim, o s
primeiros casos ficam quase sempre liquidados pela morte.
E é que tambem nos supremos transes o médico ou cirurgieo, ou,
nêsfe caso talvez, o agronomo, por se tratar duma fitopatia sobre-aguda,
tem de juntar a o saber a perr'cia e de acrecentar á perícia a coragem.
i1 condciiinação do projecto astá feit& por quem é capaz de dar'
opii~iac,sotrre o assunto.
S d o tais OS erros que contém, e tais o s encargos e regponsabili-
dades qup cria, que os seus autores, não os negando, precisariam de
contrapôr-llie ririiil ~ ~ a n t a g ecompensadora,
m condição sine gua non de
obter a c e i t a ~ á onas esferas em que o regulamento teh de ser observado.
C> caso que s e cstù passando é. sem duvida, nos anais da vida eco-
nóniica destd bela região vinhateira que sempre niereceu o favor dos con-
sumidores de vinho de cjualquer dos hemisférios da terra, um caso novo.
Existe uin regulamento já feito ha anos e que está em uso, ácerca
do qual não se apresentou una reclamaçiáo, não se ouviu um minimo
rurnor demonstrdtivo de que não satisfazia os seus fins, o principal d o s
quais é o afastamento das falsificações, ou do fabrico dum vinho que
esteja fóra dos tipos qrie dão a caracteristica da sua origem.
E ainda assim o regulamento iiltimamente proposto visa Csse
niesino fim c diz-se destinado a impedir a falsificaçáo, isto é, a impedir
uma coiisa que já está irnp~dtda,e far-se-hia a substituição dum modo
excessivamente pomposo, repleto de enipregadagern, abarrotado de des-
pesas, e, por miiitas I-azoes, considerado inexequivel, o que é dizer muito
mais do que se diss6sscrnos, meramente, dispensavel.
Estci provado que não há necessidade de tal ordem, quer s e consi-
dere a questão em sua natiireza, quer a considerem sob o ponto de vista
da oportunidade. *
Não queremos arrastar o assunto para o ccimpo escabroso, e
muitas vezes, desairoso, dos puros interesses de determinadas pessoas.
Há linguas que s e ocupam dêsses misteres, que não ficam bem a pena.
Para ouvir, s ó está quem quer; mas para ler basta dirigir os olhos para
uma folha muda que inocula a s suas ideias como s e passassem pela ca-
nula sub-cutânea duma seringa, que lança o medicamento no tecido
celular ou musculoso, onde a absorpção é imediata.
Evidentemente,-ainda que o não expliquem bem-a pena retrai-se
onde a língua usa a gimnástica do mal-dizer. A pena é mais honesta?
81- a imprensa é mais escravizada que o soalheiro?
Seja como fõr temos um argi~niento,que é muito moral e, sobre tão
delicada e apreciavel qualidade, é de peso.
Não vale a pena quebrar lanças em criar-se uni o u mais lugares
rendosos, com o fito dêle ser para o inventor e para o s amigos dêste.
Lá está o vetso fatal: Sic VOS non vobis... Assim vós, ó abe-
lhas, fazeis o mel para orttros se alambazarem. Assini vós, ó abelhas
fulvas, co~istruiso favo, para rim dia se fundir a cêra que há'de alumiar
algum ruim defunto.
Ele. . . tem-se visto.
E terminamos, sein saber a explicagao do facto de não ter ainda
baixado a vala do esquecimento tão malfadado projecto.
'TRABALHO E UNIAO''
Regulamento uiníeola madeirense

E geralniente conhecida a história daquela velhota asizada que am-


bicionava longos anos de vida para o seu despótico soberano-um ria1
veliiaco com o receio de que, morto este, fosse ainda peor o seu su-
cessor. e pouco mais ou menos o nosso caso. Vivemos num país tão
necessitddo de reformas como o s seus governantes de juizo, mas quasi
se chega a desejar a perpetuidade desta situação pelo justificadissimo
tcrnor de que fiquemos peor com a s modificaç8es a introduzir nela.
Veja-se o que ora s~icedecom a legislação respeitante á viticultura
d a nossa ilha. De longa data se vinham reclamando certas medidas que
~nelhorassema s condições da cultura da vinha, tão próspera outrora e
lã0 decadente Iioje, mercê do superior criterio com que a s g o v e r n a ~ õ e s
a tcem dpreciado. Sobrecarregada de contribuições, onerada com o s en-
cargos progressivos dos amanhos, abarbada cotn dificuldades para a
colocação dos mostos, em constante luta coni a s inolestias que a esprei-
Iam e a vitirnani se não for adoptado o fratamento conveniente, sempre
disperidioso, a cultura da vinha, representando na economia niadeirense
un3 papel de yredomiriância, tinha jús á satisfação d o s seus desejos, e
esperavd que i ~ e s f acorifornriidaJe alguma coisa lhe fosse concedido.
Sim. C) Es1ad0 não é, ou não deve ser, «urii bando que só s e lem-
bra de nós quando lhe falta grão 110 papo», no dizer dum deputado por-
tugues. Ele tem tambern ou devia ter, como parte mais importante da
sua ~nissáo,o dever de estudar e procurar acudir á s necessidades d o s
contribuintes, o que aplicado ao caso de que tratamos, consistiria em
facilitar e proteger a colocaçáo, nos mercados do exterior aos belissimos
tipos do nosso vinho, tantas vezes preferido por falsificações grosseiras
e desacreditadoras de várias procedencias; em anular tributações, tanto
quanto o permitisse o estado financeiro do país; em fomentar a prospe-
ridade duma cultura que a si prende o bem estar duma grandissiina parte
da população madeirense.
Esperava-se, pois quando-triste desabar duma ilusão-siirie essa
monstruosidade em que recaem a s atenções hostis de toda a ilha: o pro-
jecto de regulamento para o comercio de vinhos da Madeira. A s suas
consequencias só podem ser, como diz a representação a que aludimos
na semana passada, a ruina absoluta da viticultura. Pensa-se, em pre-
sença de tão infeliz documento, como pensava a velhota acima referida:
que mais valera desejar para sempre o abandono a que nos votaram a s
ínsfancias oficiais que esperar reformas do gencro desta.
O projecto do novo regulamento do comercio dos vinhos niadei-
renses não e bem um aglomerado de disparates mais ou menos nocivos;
é o disparate, simplesmente, em toda a sua integral plenitude. A comis-
são encarregada de dar parecer sobre esta intolerável mixordia aponta
aqui um dispauterio, acolá uma dificiencia, depois uma superfluidade,
mais para o fim uma iniquidade e assim por diante. Pois se formos a
eliminar todos estes defeitos deixamos o mirifico projecto tão integral-
mente disparatado como estava antes da eliminação. Nada dele se pode
aproveitar e imptie-se a sua desapariçáo, como foi reclamado pelas ca-
maras municipais do distrito e não só por estas rnas por todos quantos
se deram á tarefa, de examinar a deploravel aplicaçáo dada ao papel em
que foi escrito esse aleijão que seria hilariante, se não fosse, primeiro
que: tudo, insuportavelmente ruinoso.
As suas disposições! Estatue-se uma fiscalização de lagares que
alem de meio inexequivel e inutil, enreda -o fabrico do vinho numa teia
de formalidades superfliras que parece terem por único fim impedir o.
aproveitamento da uva aos viticultores que não possuirern lagar proprio.
Explicando: sabe-se que o numero de lagares existentes na Madeira, se
bem que elevado, fica muito áquem do número de viticultores. A grande
maioria destes espreme as uvas em lagar emprestado. Ora acontece que
estes emprestimos, outrora livres de formalidades, são atualmente difi-
cultados com declarações, licenças, penalidades recaindo sobre os pro-
priefarios de'lagares, de forma que estes, certamente pouco dispostos a,
canseiras p incomodas com o vinho alheio, recusar-se-hão a ceder os
seus lagares, como até aqui faziam, do que resultará inevitavelmente o
desperdicio de quantidades de uva.
S e alguma coisa boa teve em vista o autor destas impagaveis dis-
posições nada conseguiu, posto que as faalsificacóes não se praticam nos
lagares mas por quem possue o alcool indispensavel para esse efeito,
sendo portanto sobre êste produto que deve incidir a fiscalização.
Teinos depois uma nova tributação expressa no artigo 31." do
projecto d o regiilamento vinícola. Não se pensou que o estado precario
da viiicultura madeirense não permite o estabelecimento de mais impos-
tos. Tri brit-ou-se, e pronto.
Tributa-se vergonhosame~~te no nosso país mas sem que desses
tributos chegue u:n ceitii aos cofres puhlicos. O imposto é quasi sempre
absorvido por unia praga de empregados de todas a s especies e com a s
dcspezas de cobrança e fiscalisaçáo se vai toda a receita, É o que no
nosso caso se observa. O novo imposto, que rião existe no continente
nem nos Açores, que e uma excepção iniqiia e injustificavel e que está
absoliitarnentc incompativel com a situação pouco próspera da viticul-
tura, seria inteiramente absorvido pelo exercito de empregados que se
criaric; com o projecto a que nos reportamos, A receita do estado não
aumentaria mas ter-se-hia extorcluido a fraca coinpensação que os viti-
cultores attialniente arrecadam.
Corn esta disiribuiçáo de fatias a inumeros apadrinhados e com o s
poderes discricioníírio~que se pretende conceder á futura «Comissão
de Viticulíura da Regiáo da Madeira», o projecto de regulamento, sôbre
ser inexcedivel no disparate, advoga, muito ás claras, numa grande imo-
ralidade. As largas faculdades conferidas á Comissáo de Viticulfura,
torna-Ia-hiam mais uma agrerniação politica do que outra coisa, con-
forn~ediz o sensato parecer da comissão que apreciou esta monstruosi-
dade nunca suficientetnente combatida. Imaginem o s senhores uma co-
missão a admitir o pessoal que lhe der na gana, em harmonia com os
empenhos que lhe dirigirem; a estipuiar ordenados ao seu arbitrio; po-
dendo favorecer quem entender, ainda que para isso haja de inventar ne-
cessidades de serviço como pretexto para a distribuição de fatias!
Nem esmiuçaremos mais nesta inextricavel meada de desconcha-
vos que compõe o projecto de regulamento para o comercio dos vinhos
da Madeira. Os leitores teem j6 conhecimento, pela imprensa diaria, da
justa apreciação que lhe fez a comissão que o estudou, e essas decididas
enxadadas abriram a cova onde desaparecerá sem deixar saudades, o
famoso mostrengo. Dele não deve ficar mais que a recordação, para
honra e gloria de quem o elaborou, nilm momento de inspiração gerico-
grafica.
A ilha da Madeira patenteou já o doscontarnento que experimentou
com a leitura do projecto, e a representação que vai ser enviada ao mi-
nistro do Fomento será a eloquente confirmação desse descontentamento.
Não pode subsistir o projecto porque os interesses da viticultura madei-
rense, a moralidade e a justiga, assim o exigem.
Contra o projeeto do novo regulamento

Corno já tivemos ocasião de mostrar dos nossos leitores, o pt-o-


jecto de wguiametito pdra produção e comercio dos vinhos da Madeira,
recentemente elaborado, 6 um documento altamente ruinoso para o s in-
teresses vinicotas e viticofas do nosso distrito, beni podendo dizer-se
que, a consumar-se a aprovação daquele disparatado projecto, seria a
cultura dos vinhos da Madeira aiingida por um golpe de morte, de gra-
vissimas consequencias.
As disposiçtjes do projecto afectain a ecoriomia da ilha, e yortanio
ioda a gente e portanto tambem os trabalhadores, pelo que a s associa-
çbes operárias resolverain ocupar-se do assunto, tendo reunido conjun-
trrrnente, ]-ia seguiida-feira passada, ùs direcções das Associações de
Classe dos Carpinteiros, Tanoeiros, Pedreiros e Maniyuladoi-es de Cal-
$tido.
O assunto foi largamente ventildclo, mostrando-se todos os presen-
tes concordes em condem nar o novo projecto, cujos iriconvenien tes foram
amplamente salientados, e opinanb-se pela conservação de legislaqoo
vinicola em vigor, que de tia 'anos vem servindo a contento geral.
Foi tarnbenl resolvido convocar a s restantes colectividades opera-
rias para que com mais amplitude se pondere o assuhto.
Foi por fim aprovada uriia rnoc2o constibstanciando o parecer dos
presentes, 1110gao que não rranscrevemos na integra porque a imprensa
diiÍria ii dela tlci~ conhecimetito a o pbblico, e cuias conclusões são as
seg~~intes:

1 . ' I Pedir. aos srs. Presidente da Republica, Presidente do Conse-


lho, M i n i s t r o s d o Fonicnro, F i n a n ~ a se justiça que seja mantido o regula-
mento de 8 d e Noverijbro de 1915, visic~estarem nele acautelados todos
os interesses vinicolas e viticolas :
2." Consignar na acta um protesto contra o malfadado projecto
para u m novo regulamento de vinl-]os, por ser iniquo, desiiecessario.
5 Tirar copia da rtioção para enviar aos ministros acima citados.

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