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Porque é que os pais não são mais firmes? Porque têm medo que os seus filhos os deixem de
amar?
As crianças olham para o mundo como os pais o apresentam. A firmeza, quando é usada, vai
passar a ser uma dimensão natural do mundo. Por vezes, as coisas não são perfeitas e é preciso
gastar mais energia e mais tempo, mas os pais devem manter-se firmes, sem nunca esquecerem a
ternura.
No seu livro afirma que as crianças não têm direitos. Porquê?
Explico no livro que quando a França tencionava assinar a Convenção Internacional dos Direitos
da Criança, os especialistas reunidos pelo Governo, entre os quais eu me encontrava, recusaram a
sua assinatura porque é um documento que não se adequa ao contexto europeu, porque são só
direitos, sem enunciar qualquer dever, o que leva ao laxismo. No entanto, o Governo já a havia
assinado.
Mas há crianças europeias que vivem na miséria, são vítimas de abusos e de maus tratos.
Não precisam de ter direitos?
São poucas as que vivem essas situações. É importante sublinhar que o direito mais importante a
que a criança tem direito é à educação. É curioso verificar que "educar" e "seduzir" são
construídas a partir da mesma palavra do latim "ducere", que quer dizer, "puxar para si",
"conduzir", o que deu "ducare", "educar". Mas "ducere" parte do radical "dux" que quer dizer
"chefe". A ideia de chefe ou do exemplo que dele se destaca. Ora "seducere", é exactamente o
contrário, é colocar de parte o exemplo do chefe. Educar implica impor à criança um
constrangimento ou uma privação que faça sentido em si. E que não é para ter efeito imediato, mas
a longo prazo.
Em consultório, já houve pais que discordaram consigo e deixaram de o consultar?
Há pais que ficam chocados com o que digo. Não posso fazer nada. Pelo meu consultório
passaram pessoas de 48 línguas diferentes. Quando vejo alguém pela primeira vez cuja língua
materna não é o francês, pergunto como é que na sua língua se diz "não tenhas medo" e transcrevo
foneticamente. Sei em chinês, grego... E quando pego na criança digo-lhe "não tenhas medo". À
criança digo pouca coisa, trato-a com ternura e ela sente-a. Mas falo sobretudo com os pais. O que
é surpreendente é a rapidez com que os pais recuperam as suas capacidades de educadores. Falo
com eles e é como se se encontrassem e se sentissem autorizados.
Já foi acusado de ser de extrema-direita?
Sim, por uma imprensa que recusa totalmente a possibilidade de educar. Digo que são pessoas que
não sabem nada de educação, que me acusam de fazer muito barulho e de querer impor um
modelo e de dar uma ideia de catástrofe. Mas é preciso chamar a atenção para os perigos de uma
educação permissiva. Contudo, a maior parte das reacções, as centenas de cartas e de e-mails que
recebo são de pais que me agradecem.
E os investigadores e outros autores estão de acordo com as suas ideias?
A maior parte está de acordo. Os psicanalistas que conheço, excepto, dois ou três, dizem que o
meu trabalho é excelente e necessário.
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