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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'' visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
Jü_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
jia" no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXIV

AGOSTO

1993

co SUMARIO
<

A Igreja: para qué?


co
UJ O primado de Pedro
g Celeuma em torno de "Judeus Messiánicos"
Í3
3
O "A escolha de Deus" por Card. J.M. Lustiger

co A televisao brasileira
<
Teresa de los Andes
Ul

ID O itinerario de urna conversao na Tchecoslováquia


O
rr
o. A Ciento logia
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
AGOSTO 1993
Publicado mensal N9 375

Diretor-Responsável SUMARIO
EstévSo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia A Igreja: para qué? 337
publicada neste periódico Quando comecou?
O Primado de Pedro 338
Diretor-Administrador:
"Jesús é o Messias":
D. Hildebrando P. Martins OSB
Celeuma em torno de "Judeus
Messiánicos". 345
Administrado e distribuicao:
Edicoes "Lumen Christi" Um livro raro:
Rúa Dom Gerardo, 40 ■ 5? andar - sala 501 "A escolha de Deus" por Card.
Tel.: (021) 291-7122 J. M. Lustiger 349
Fax (021) 263-5679 Tres comentarios sobre
A televisao brasileira 357
Endereco para correspondencia:
Ed. "Lumen Christi" Em plena juventude:
Caixa Postal 2666 Teresa de Los Andes 364
20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Testemunho heroico:

Imprettft e Encadernacao O itinerario de úma convenio


na Tchecoslováquia 369

Psicotécnicas e Religiao:
A Cientologia 376
•MARQUESSARAIVA "
GRÁFICOS E EDITORES S.A.
Tell: (021) 273-9498 ■ 273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

A Morte e o Além: como entendé-los? — "Um Judeu Original. Repensan


do o Jesús histórico" (John P. Meier). — Castigo até a terceira e quarta
geracao? — A B ib I ¡a das Testemunhas de Jeová. — O convite de Graca Wag-
ner.
COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA
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a Revista.
V LIOTECA
A IGREJA: PARA QUE?

Em nossos días há cristSos que professam Jesús Cristo, mas sao aves-
sos é Igreja, que eles nao freqüentam por diversos motivos ou, ás vezes,
sem motivo algum. Privatizam a su a fó, como se diz.
Tal atitude nao é crista. Derh/a-se do desconhecimento do que seja
realmente o Cristianismo. Com efeito; ser cristio nao é simplesmente crer
em Deus e valer-se dos beneficios espirituais (reconforto, estímulo...) que
o Evangelho proporciona. É crer em Deus como Jesús Cristo O revelou.'
Ora o Deus da RevelacSo crista é precisamente o Deus da Al ¡anca..., Al ¡an
ca Antiga travada com os patriarcas, e Al ¡anca Nova, selada pelo sangue
do próprio Cristo. Jesús se apresentou como o Mediador da nova e defini
tiva Al ¡anca. Esta nao diz respeito apenas á coletividade, mas refere-se a
cada um dos seres humanos. Por conseguirte,ser cristSo significa ser mem-
bro de um povo com o qual Deus fez Al ¡anca, e participar da vida desse
povo.

A Al ¡anca, na Escritura, é comparada á uniao nupcial: Deus quer ser


o Esposo da Filha de Sion (cf. ls-54, 5-7); fazendo-se homem em Jesús
Cristo, Ele é o Esposo da Igreja (cf. Ef 5, 25-30; 2Cor 11,2); trata-se, pois,
de um pacto de amor destinado a transmitir a vida divina aos homens. Ora
cada cristao é urna miniatura da Igreja (mikroekklesía);elecomungacom
a Igreja e realiza em si urna parcela da Alianca existente entre Cristo e a
Igreja.
Jesús, em sua paciente tarefa pedagógica, quis suscitar nos discípulos
a consciéncia dessa grande realidade de viverem em comunhio...: "Nao te
máis, pequeño rebanho... "(Le 12,32), "Como o Pai me enviou, assimeu
vos envió" (Jo 20,21), "Simao, Simio, eis que Satanás pediu insistente
mente para vos peneirar como trigo; eu, porém, roguei por ti, a fim de que
tua fé na*o desfaleca. Quando te convelieres, confirma teus irmaos"
(Lc22,31s).
De resto, nao poderia ser outro o caminho de crescimentó espiritual
do cristio. Como seres humanos, fomos feitos para viver em sociedade (fa
milia, escola, profissao...), onde encontramos os meiospara nos desenvol
ver e realizar plenamente, saindo de nosso egofsmo. Também assim se pro-
cessa a nossa santificacüb: ó na Igreja, onde Cristo vive como em seu sacra
mento primordial, que recebemos a vida divina e o penhor da heranca eter
na. As fainas que possamos encontrar em nossos ¡rmá*os, ná*o nos surpreen-
dem, visto que ninguém está isento de cometer iguais ou piores. O misterio
da Encarnapfo ou do Deus velado e revelado através do humano se prolon
ga na vida de cada cristSo... Sem isto o Cristianismo é rótulo, é um belo
nome esvaziado de seu rico conteúdo.

E.B.

337
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXIV - N9 375 - Agosto de 1993

Quando comecou?

O PRIMADO DE PEDRO

Em sfntese: Vai, a seguir, publicada urna Catequese deJoao Paulo II


proferida na quarta-feira 16/12/92 sobre o exercício do primado de Pedro
na Igreja nascente. SSo passados em revista atenta os textos dos Atos
doá Apostólos e das epístolas que evidenciam a fungió primacial de
Pedro desde os primeiros dias da Igreja. Essa funció, que tem a promessa
da assisténcia do Espirito Santo (cf. Jo 14,15-17. 26; 16,12s), é fatorde
unidade da Igreja.

* * *

0 primado do Apostólo Pedro e de seus sucessores é sempre um pon


to nevrálgico ñas relacSes entre os católicos e os demais cristaos. é difícil
a estes aceitar urna chefia visível para a Igreja, pois as tradicoes nacionais
tendem a dilacerar a unidade da Igreja, unidade que urna chefia visível tem
o papel de garantir. — é importante mostrar que está nos próprios desig
nios do Senhor e nos documentos do Novo Testamento o fundamento do
primado do Apostólo Pedro, Pastor universal do rebanho, destinado a tute
lar a unidade da fé e da Moral dos cristaos sob a assisténcia do Espirito
Santo.

0 S. Padre Jólo Paulo II dedicou tres de suas Catequeses semanais á


explanacao dos textos do Novo Testamento relativos ás funcSes de Pedro:
aos 2 e 9/12/92, deteve-se sobre os Evangelhos, onde Jesús aparece prome-
tendo e conferindo o primado a Pedro; ver Mt 16,16-19; Le 22, 31se Jo
21, 15-17. Aos 16/12 percorreu os textos dos Atos dos Apostólos e das
epístolas que mostrarri o exercício de autoridade singular por parte de Pe
dro logo nos primeiros anos da Igreja. É esta terceira Catequese que vai
abaixo transcrita em traducio portuguesa. Tornase muito interessante
perceber, numá leitura atenta, como de fato Pedro presidia ao Colegio dos

338
O PRIMADO DE PEDRO

Apostólos desde os inicios do Cristianismo, ficando assim afastada a hipo-


tese de urna instauracao tardía e usurpativa do primado de Pedro e seus su-
cessores.

A palavra do Papa seguir-se-á o depoimentc do teólogo protestante


Osear Cullmann sobre o mesmo assunto.

1. A PALAVRA DO PAPA

1. Os textos que expus e expliquei ñas catequeses passadas dizem


respeito diretamente á missSo, de Pedro, de confirmar na fé os irmaos e de
apascentar o rebanho dos seguidores de Cristo. Sao os textos fundamentáis
sobre o ministerio petrino. Contudo, eles devem ser considerados no qua-
dro mais completo de todo o discurso neotestamentário sobre Pedro, a co-
mecar pelo inserimento da sua missao no conjunto do Novo Testamento.
Ñas Epístolas de Paulo, ele é recordado como a primeiratestemunhada res
surreicao {cf. 1Cor. 15, 3ss), e Paulo disse que foi a Jerusalém "para ver
Cefas" (cf. Gal. 1,18). A tradicao joanina registra urna grande presenca de
Pedro, e também sao numerosas nos Sinóticos as referencias a ele.

O texto neotestamentário diz respeito também á posicao de Pedro no


grupo dos Doze. Nele sobressai o trio.Pedro, Tiago e Joao: basta pensar,
por exemplo, nos episodios da transfiguracao, da ressurreipao da filha de
Jairo, do Getsémani. Pedro está sempre no primeiro lugar em todas as lis
tas dos Apostólos (em Mt. 10,2 até com a qualif¡cacao de "primeiro"). É-
Ihe dado por Jesús um novo nome, Kefa, que é traduzido em grego (era
portanto considerado significativo), para designar a tarefa e o lugar que Si
mio terá na Igreja de Cristo.

Sao elementos que nos servem para compreender melhor o significa


do histórico e eclesiológico da promessa de Jesús, contida no texto de Ma-
teus (16,18-19), e o conferimento da missao pastoral narrado por Joao
(21,15-19): o primado de autoridade no colegio apostólico e na Igreja.

2. Tratase de um dado de fato, narrado pelos evangelistas como ano-


tadores da vida e da doutrina de Cristo, mas também como testemunhas
da crenca e da praxe da primeira comunidade crista. Nos textos deles re
sulta que, nos primeiros tempos da Igreja, Pedro exercia a autoridade de
modo decisivo ao nivel mais elevado. Este exerefeio, aceito e reconhecido
pela comunidade, está em correspondencia histórica com as palavras pro
nunciadas por Cristo acerca da missao e do poder de Pedro.

é fácil admitir que as qualidades pessoais de Pedro nao teriam sido


por si sos suficientes para obter o reconhecimentó de urna autoridade su-

339
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 376/1993

prema na Igreja. Mesmo se tinha um comportamento de chefe, já demons


trado naquela especie de associacio para a pesca no lago, feita por ele com
os "companheiros" JoSo e Andró {cf. Le. 5, 10), nao teria podido impor-
se sozinho, dado que tinha limites e deféitos de igual modo conhecidos. E,
por outro lado, sabe-seque, durante a vida terrena de Jesús, os Apostólos
tinham discutido sobre quem, de entre eles, teria obtido o primeiro lugar
no reino. Portanto, o fato de que a autoridade de Pedro fosse depois reco-
nhecida pacificamente na Igreja, é devido exclusivamente á vontade de
Cristo, e demonstra que as palavras com as quais Jesús tinhaatriburdoao
Apostólo a sua particular autoridade pastoral, tinham sido escutadas e re-
cebidas sem dificuldade na comunidade crist3.

3. Papamos urna breve exposicao dos fatos. Logo depois da Ascen-


sáo, refere o Livro dos Atos, os Apostólos reuniram-se: na sua lista, Pe
dro é o primeiro a ser nomeado (cf. At 1,13), como também ñas listas dos
Doze, que nos sao fomecidas pelos Evangelhos e na enumeracao dos tres
privilegiados (cf. Me 5, 37; 9,2; 13,3; 14,33 e par.).

é ele, Pedro, que por sua iniciativa toma a palavra: "Naqueles dias, >e-
vantando-se Pedro no meiodosirmaos" (At. 1,15). Nao é a autoridade que
o designa. Ele comporta-se como quem possui a autoridade. Naquela reu-
niao Pedro expoe o problema que surgiu da traicao e da morte de Judas,
que reduz o número dos Apostólos a onze. Por fidelidade á vontade de Je
sús, cheia de simbolismo sobre a passagem do Antigo Israel ao Novo (doze
tribos constitutivas - doze Apostólos), Pedro indica a solucao que se im-
poe: designar um substituto que seja, com os onze, "testemunha... da res
surreicao" de Cristo (cf. At. 1,21-22). A assembléia aceita e p5e em práti-
ca esta solucao, tirando á sorte, a fim de que a designacao viesse do alto:
e "a sorte caiu em Matías, o qual foi associado aos onze Apostólos"
(At. 1,26).

Convém ressaltar que entre as testemunhas da ressurreicao, em virtu-


de da vontade de Cristo, Pedro tinha o primeiro lugar. O anjo que anuncia
ra ás mulheres a ressurreicao de Jesús dissera: "Ide, dizei aos seus discípu
los e a Pedro..." (Me. 16, 7). Jólo deixa que seja Pedro o primeiro a entrar
no sepulcro (cf. Jo. 20,1-10). Aos discípulos que retomaram de Emaús os
outros dizem: "Na verdade o Senhor ressuscitou e apareceu a Simio" (Le.
24,34). é urna tradicao primitiva, recolhida pela Igreja e referida por Sao
Paulo, que Cristo ressuscitado apareceu primeiro a Pedro: "foi visto por
Cefas e depois pelos onze" (1Cor 15,5).

Esta prioridade corresponde á missao, conferida a Pedro, de confir


mar na fé os seus irmaos, como primeira testemunha da ressurreicao.

340
O PRIMADO DE PEDRO

4. No dia de Pentecostés Pedro age como chefe das testemunhas da


ressurreicáo. E ele quem toma a palavra, com um impulso espontáneo:
Pedro, apresentando-se com os onze, levantou a voz e disse..." (At 2 14)
Ao comentar o que tinha acontecido, ele declara: "A este Jesús ressuscitoii
Deus, do que todos nos somos testemunhas" (At 2,32). Os Doze sao teste
munhas deste fato: Pedro proclama ¡sto em nome de todos. Podemos dizer
que ele é o porta-voz institucional da primeira comunidade e do grupo dos
Apostólos. E ele que indica a quem o escuta o que devemfazer:"Fazei pe
nitencia e cada um de vos seja batizado em nome de Jesús Cristo "
(At2,38).

É aínda Pedro que realiza o primeiro milagro, causando o entusiasmo


da multidáo. Segundo a narracao dos Atos, ele encontrase em companhia
de Joao quando se dirige ao coxo que pede esmola. é ele que fala. "Pedro,
pondo nele os olhos juntamente com Joao, disse: "'olha para nos!". Ele
(o coxo) olhava para eles com atencao, esperando receber alguma coisa.
Mas Pedro disse: "Ni"o tenho prata nem ouro, mas, o que tenho, ¡sto te
dou: em nome de Jesús Cristo de Nazaré, levanta-te e anda!". E, tomando-
o pela mió direita, levantou-o, e ¡mediatamente se Ihe consol ida ram os pés
e os tomozelos. Dando um salto, pos-se em pé, e andava..." (At. 3,3-8).
Portante Pedro, com as suas palavras e os seus gestos, faz-se instrumento
do milagro, convencido de dispor do poder que Jesús Ihe tinha conferido
também neste campo.

É precisamente neste sentido que ele explica ao povo o milagro, mos


trando que a cura manifesta a potencia de Cristo ressuscitado: "Deus res-
suscitou-0 dos mortos, do que nos somos testemunhas" (At. 3,15). Por
conseqüéncia, ele exorta quem o escuta: "Arrependei-vos, pois, e conver-
tei-vos!" (At. 3,19).

No interrogatorio do Sinedrio é Pedro, "cheio do Espirito Santo",


que fala, para proclamar a salvacab trazida por Jesús Cristo (cf. At. 4, 8s),
crucificado e ressuscitado (cf. At. 7, 10).

Sucessivamente é Pedro que, "juntamente com os Apostólos", res


ponde á proibicao de ensinar em nome de Jesús: "Deve-se obedecer antes a
Deus que aos homens..." (At. 5,29).

5. Também no caso penoso de Ananias e Safira, Pedro manifesta a


sua autoridade como responsável da comunidade. Ao repreender aquele
casal cristáo pela mentira do lucro da venda de um campo, ele acusa os
dois culpados de terem mentido ao Espirito Santo (cf. At. 5,1-11).

De igual modo o próprio Pedro responde a Simao mago, que tinha


oferecido dinheiro aos Apostólos para obter o Espirito Santo com a impo-

341
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

sicao das maos: "O teu dinheiro pereca contigo, visto que julgaste que o
dom de Deus se pode adquirir com dinheiro... Faze, pois, penitencia desta
tua maldade, e roga a Deus que, se é possível, te seja perdoado este pensa-
mento" (At 8.20.22).

Os Atos, além disso, dizemnos que Pedro é considerado pela multi-


dao como aquele que, ainda mais do que os outros Apostólos, opera mará-
vilhas. Certamente nao é o único a realizar milagros: "Entretanto eram fei-
tos pelas maos dos Apostólos muitos milagres e prodigios entre o povo"
(At 5,12). Mas é principalmente d'Ele que esperam as curas: "traziam os
doentes para as rúas e punham-nos em leitos e enxergoes, a fim de que, ao
passar Pedro, cobrisse ao menos a sua sombra algum deles" (At. 5, 15).

Portanto, oestes primeiros momentos do ini'cio da Igreja, sobressai


claramente um aspecto: sob a forca do Espirito e em coeréncia com o
mandamento de Jesús, Pedro age em comunhao com os Apostólos, mas
toma a iniciativa e decide pessoalmente como Chefe.

6. Explica-se deste modo também o fato de que, no momento da


prisao de Pedro por parte de Herodes, se tenha elevado na Igreja urna ora-
pao mais ardente por ele: "Pedro, pois, estava assim guardado no caree re.
Entretanto a Igreja fazia sem cessar oracao a Deus por ele" (At 12,5).
Também esta oracao deriva da conviccao comum da importancia única de
Pedro: com ela tem ini'cio a cadeia ininterrupta de súplicas que se elevarao
na Igreja em todos os tempos pelos sucessores de Pedro.

A intervencao do Anjo e a libertacao milagrosa (cf. At 12, 6-17),


além disso, manifestam a protecao que Ihe permite realizar toda a missao
pastoral que Ihe foi confiada. Os fiéis pedí rao esta protecao e assisténcia
para os Sucessores de Pedro, ñas penas e perseguicoes que encontrarlo
sempre no seu ministerio de "sen/os dos servos de Deus".

7. Podemos concluir reconhecendo que, verdaderamente, nos pri


meiros tempos da Igreja, Pedro age como aquele que possui a primeira au-
toridade do ámbito do colegio dos Apostólos, e por este motivo fala em
nomé dos Doze como testemunha da ressurreicao.

Por isso faz milagres que se assemelham aos de Cristo e realiza-os em


Seu nome. Por isso assume a responsabilidade do comportamento moral
dos membros da primeira comunidade e do seu futuro desenvolví mentó.
Por isso está no centro do interesse do povo de Deus e da oracao dirigida
ao Céu a fim de Ihe obter a protecao e a libertacSo.

342
O PRIMADO OE PEDRO

2. A PALAVRA DE UM PROTESTANTE

O teólogo protestante Osear Cullmann distingüese por sua erudicao e


sua abertura de espirito. Foi observador do Concilio do Vaticano II, a
convite do Papa Paulo VI e é bom amigo do Cardeal Joseph: Ratzinger;
foi agraciado com o premio Paulo VI do Instituto do mesmo nome, dada a
sua contribu ¡gao para o proficuo diálogo católico-protestante.

Autor de varios livros, foi entrevistado por Lucio Brunelli e Alfred


Labhart em nome da revista 30 DÍAS, áqualfezsignificativasdeclaracdes
sobre o primado de Pedro. Transcrevemo-las a partir do número de marco
1993, p. 12, da citada revista (edicao brasileira):

R: O senhor atribuí a Roma toda a responsabilidade pela ruptura


com Lutero?

CULLMANN: Nao, a responsabilidade é de ambas as partes, também


de Lutero. Ele disse coisas sem propósito sobre o papado ("fundado pelo
diabo") e sobre a Eucaristía, Havia reformadores como Martín Butzer, de
Estrasburgo, que nao queriam a ruptura mas urna reforma interna. Eu tam-
bém nasci em Estrasburgo e considero isso um fato providencial para toda
a minha vida e a reflexao que fiz. O cristianismo afsaciano sempre viveu a
unidade na diversidade.

R: Lutero disse também: "Se obtivermos o reconhecimento do fato


de que Deus justifica únicamente por pura graca, nos nao só levaremos o
Papa na palma da mao mas também beijaremos os seus pés". Que espapo
existe para o ministerio de Pedro na sua proposta?

CULLMANN: Eu considero o sen/ico de Pedro um carisma da Igre/'a


católica, com a qual nos, protestantes, também temos que aprender. Eu o
vejo é luz dos problemas que a secu/arizacSo traz para as denominacoes
protestantes. Nao concordo com tudo o que o Papa diz, mas pelo menos
existem diretrizes. No mundo protestante elas nao existem. Nos também
precisaríamos de urna forma de magisterio. O Papa é o bispo de Roma e,
enquanto tal, ele poderia ter a presidencia da "comunidade das Igre/as"
de que falei. Pessoalmente, vejo o papel dele como de quem garante a
unidade. Ele poderia ser aceito, se nao tivesse ¡uridicio sobre todos os
cristaos, mas um primado de honra. O servico de Pedro seria necessário,
em urna forma nova, inclusive como reacio contra possfveis erros coleti-
vos. Nem sempre a maioria traz a verdade. Por isso, sou contra a mistura
de Igreja com democracia. Na Idade Media, havia elementos do baixo ele-
ro que pediam que os judeus fossem queimados, e os Papas reagiram con
tra esses métodos.

343
"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

Este texto sugere alguns comentarios:


1) Osear Cultmann reconhece a necessidade de urna autoridade na
Igreja, que promulgue diretrizes e exerca o magisterio. Tal necessidade Irte
parece tanto mais evidente quanto mais se verifica que o protestantismo
se vai esfacelando diante dos problemas que a secularizacao (ou o apaga-
mento da fé) Ihe tem suscitado: "Considero o servico de Pedro um caris-
ma da Igreja Católica, do qual nos, protestantes, temos que aprender...
(No catolicismo) existem diretrizes; no mundo protestante elas nao exis-
tem. Nos também precisaríamos de urna forma de magisterio... O papel
do Papa garante a unidade".
2) Cullmann parece incoerente quando, logo a seguir, concebe o Pa
pa como dotado apenas de "um primado de honra". - O primado de hon
ra ocorre entre os ortodoxos orientáis, que o atribuem ao Patriarca de
Constantinopla (Istambul); tal fundo honorífica nao é suficiente para
garantir a unidade de doutrina e a comunhao dos membros da Igreja- os
ortodoxos orientáis se distribuem por "igrejas autocéfalas", cada qual go-
vernada por um Sínodo local.

3) Cullmann mesmo torna a dizer, no fim do seu depoimento, que


ele quer urna instancia que "reaja contra eventuais erros colativos". Ora
esta fungió só é possível se tal instancia possui autoridade e é respeitada
como arbitro em questóes controvertidas, ... arbitro que tem a palavra
final porque goza da infalível assisténcia prometida por Jesús a Pedro
(cf. Mt 16, 16-19; Le 22,31s; Jo 21, 15-17; Jo 14,16s. 26; 16,13-15).
Cullmann julga que a Igreja nlo pode ser estruturada como urna democra
cia, em que as grandes questóes s3o resolvidas pelo voto da maioria; deve
haver urna autoridade carismática, assistida por Deus, para preservar a
multidao de incorrer nos erros que a fragilidade humana pode ocasionar.
- Em última análise, portanto, Cullmann reconhece a validade do minis
terio do Papa como indispensável fator e penhor da unidade de doutrina
e de comunhao da Igreja.

4) As declaracóes de Cullmann levam espontáneamente o leitor a


pensar no contraste existente entre o protestantismo culto e o protestan
tismo de pouca profundidade do nosso Brasil. Enquanto aquele tende a re-
ler o passado com olhar objetivo, destituido de paixoes e preconceitos, o
protestantismo no Brasil se fecha em preconceitos e se exprime em atitu-
des agressivas, fanáticas, freqüentemente caluniosas. Quanto mais estudo
há, tanto mais os cristaos podem derrubar os obstáculos da unidade, ao
passo que a pouca cultura religiosa alimenta suspeitas infundadas e di-
visSes.

O Espirito de Deus, que hoje em dia impele os cristaos á procura da


unidade, leve a termo a obra iniciada!

344
"Jesús é o Messias":

CELEUMA EM TORNO DE
"JUDEUS MESSIÁNICOS"

Em sfntese: No país de Israel levantou-se urna candente celeuma por


causa da presenca de "judeus messiénicos" (judeus que aceitam Jesús co
mo Messias). Pediram a cidadania ¡sraelense, tendo emigrado a partir dos
Estados Unidos e da África do Su/ para Israel. O título, porém, Ihes é con
testado, porque acreditan) em Jesús; se fossem ateus ou fudeus nao prati-
cantes, nao sofreriam represalias, mas a adesao a Jesús é considerada grave
crime pelas autoridades israelenses, mesmo que se trate de Judeus inflama
dos de ideal sionista e beneméritos por ter lutado em prol do Estado de
Israel. Há, porém, dentro do próprio pafs vozes que se levantam em favor
dos "judeus messiánicos", representados, no momento, por tres casáis: Be-
resford, Kendall e Speakman.

A atitude dos "fudeus messiánicos" ou "para Cristo" (que parecem


ser 100.000, espalhados pelo mundo) expfica-se bem. Quem eré ñas profe
cías do Antigo Testamento, proferidas há 2.500 anos ou mais, deve estar
cansado de esperar o cumprímento das mesmas e, por isto, propenso a crer
que Jesús e o significativo fenómeno "Cristianismo"correspondem autén
ticamente ao teorde tais predicóos.

* * *

A revista norte-americana TIME, de 15/03/93, p. 23, apresenta um


artigo intitulado "A Test of Faith" (Um Teste para a Fé), que trata de
"judeus messiánicos" ou judeus que acreditam em Jesús Cristo como o
Messias de Israel prometido pelos Profetas do Antigo Testamento. Tal cor-
rente de judeus tem suscitado candente polémica com o Estado de Israel,
pois este nao quer reconhecer como cidadaos israelenses judeus que acei-
tem o Messias Jesús.

A seguir, analisaremos os dados da controversia, ao que se seguirá


breve comentario.

345
JO "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

1. OS FATOS

O ponto nevrálgico da questao atual préndese ao casal Gary e Sh ir-


ley Beresford, que nasceram na África do Sul, de pais judeus, e emigraram
para o país de Israel, onde pediram a cidadania israelense. Esta, porém,
Ihes é contestada porque cometem o crime de reconhecer Jesús como Mes-
sias. A Sra. Shirley, de 52 anos de idade, é benemérita, pois pertence a
urna familia dedicada á causa judaica: perdeu um tio e urna tia por oca-
siao do Holocausto (perseguicao dos nazistas aos israelitas); dois de seus
filhos lutaram no exército de Israel e outros seus familiares sao pioneiros
da restauracá*o do Estado judaico. Ela e seu marido casaram-se numa sina
goga ortodoxa há pouco mais de onze anos; observam o repouso do sába
do, as prescricSes judaicas relativas aos alimentos (kasher) e jejuam no
Grande Dia da ExpiacSo (Yom Kippur). Sao bons e fiéis cidadaos, isentos
de qualquer atrito policial, mas o fato de reconhecerem Jesús como Mes-
sias os torna inaceitáveis para o Governo de Israel, que os quer expulsar.

Alias, dois outros casáis estao na mesma situacao em Israel, proveni


entes dos Estados Unidos da América; sao o casal Kendall, vindo de
Idaho, e o casal Speakman, de Oregon. Todos se confessam membros de
urna corrente dita "de judeus messiánicos". No mundo inteiro parece ha-
ver 100.000 judeus membros dessa confissao de fé; os mais conhecidos
sao os de San Francisco (U.S.A.), ditos "Jews for Jesús" (judeus para Je
sús). No país de Israel devem ser 2.000 membros, reunidos em trinta
congregares.

Tais judeus preferem falar de Yeshua para designar Jesús, em vez de


usar o nome Cristo, que, em sua origem grega, significa Ungido. Tém-no
como Messias, que já veio e há de voltar para rematar a historia. Adotam
os livros do Antigo e do Novo Testamento, mas nao se consideram cris-
táos; nao celebram o Natal nem a Páscoa crista, mas celebram o Passover
(Páscoa judaica) e a Hanukkah, festa da Dedicacao do Templo de Jerusa-
lém após a profanacao infligida pelos sirios nos tempos dos Macabeus
(séculoll a.C).

O casal Beresford insiste em que nao abandonou a religiao judaica;


apenas reconhece o Messias prometido aos seus ancestrais; seria Jesús de
Nazaré! Todavía as instancias judiciárias de Israel respondem-lhes que a
crenca em Jesús Messias é incompatível com a fé judaica, que espera o
Messias como ainda vindouro. é digno de nota o fato de que, para adqui
rir a cidadania israelense, o judeu nao precisa de praticar o culto judaico
nem mesmo de crer em Deus; muitos dos fundadores do Estado de Israel
eram ateus ou agnósticos e a maioria da populacao israelense nao observa
as práticas religiosas legáis. Todavia crer em Jesús 6 crime,... crime pior do

346
JUDEUS MESSIÁNICOS 11

que o ateísmo. As razdes desta concepcao sao explicadas pelo Rabino


David Hartman, de Jerusalém: "Nao nos ¡nteressa o caso de judeus para
Buda. Jesús pode ter-se considerado um rabino judeu, mas nao podemos
esquecer o que aconteceu após ele. Atravás dos sáculos, Jesús tornou-se
um símbolo dos nossos inimigos. Em nome de Jesús fomos perseguidos,
maltratados, tidos como assassinos de Jesús. Estamos tocando num ponto
nevrálgico, que nao foi sanado".

A chaga é tao sensível para os judeus tradicionais que varias organi


zares judaicas espalhadas pelo mundo estao á procura de "judeus mes-
siánicos" para denunciá-los ás autoridades israelenses; assim, quando quise-
rem desembarcar em Israel, logo se rao identificados como ineptos para
receber a cidadania. Acontece, porém, que n§o poucos "messiánicos"
conseguiram entrar em Israel clandestinamente. O casal Beresford foi de
nunciado por um dos filhos de Shirley chamado Javin Weinstein; irritado
pela crenca messiánica de sua m3e, houve por bem apresentá-la como sus-
peita ás autoridades israelenses.

A atitude do Govemo, embora pareca firme, é contestada dentro


do próprio país de Israel; há quem a julgue extremista e contraria ao espi
rito do Sionismo. Verifica-se, além do mais, que em 1988 um inquérito
populacional deu a ver que 78% dos israelenses interrogados acreditavam
que "judeus messiánicos" (como o casal Beresford) tinham direito á cidada
nia israelense desde que participassem ativamente da vida do Estado de Israel.
Por isto também alguns juristas israelenses resolveram defender a causa dos
casáis Beresford, Kendall e Speakman apresentando ao Parlamento (Ke-
nesset) urna peticao para que Ihes seja concedido permanecer em Israel.
No momento presente sao turistas, cuja autorizaclo de permanencia já ex-
pirou e nao tém direito a emprego. Diante do fato exclamou David Stern,
um representante da común¡dade messiánica: "Nos podíamos morrer em
Auschwitz como judeus, mas nao nos é permitido viver em Israel como
judeus".

2. COMENTARIO

Tres observacSes vém ao caso.

1) É certa mente merecedor de destaque o fato, pouco conhecido, de


que cerca de 100.000 judeus aceitam Jesús como Messias. Eméndese tal
fenómeno: os judeus estao cansados de esperar o Messias prometido pelas
Escrituras. Muitos hoje perderam a fé; outros imaginam que o Messianis-
mo será simplesmente urna era de paz e bonanca sobre a térra, sem a inter-
vencSo do "Filho de Davi". Quem eré ñas profecías, é, por isto, propenso
a admitir que estas já se cumpriram, pois foram proferidas há 2.500 anos

347
.12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

ou mais. Além do que, o fato "Jesús Cristo" e o Cristianismo tornaram-se


tao pujantes e significativos na historia da humanidade que bem podem ser
tidos como a realizacao das profecias.

2) 0 que, em parte, dificulta aos judeus aceitar Jesús como Messias, é


um certo nacionalismo ou o receio de perder a sua identidade étnica, a tal
ponto religiao e etnia estao associadas entre si no povo judeu.

3) Os judeus "messiánicos" afirmam com razao que nao trairam a sua


religiao judaica. Esta é essencialmente a expectativa do Messias, de modo que
aderir ao Messias Jesús está na linha mesrna ou na dinámica da religiao de
Israel. É o que professa também o Cardeal Jean-Marie Lustiger no livro
"Le Choix de Dieu" comentado ás pp. 349-356 deste fascículo. O Cristia
nismo é o remate ou a consumacSo do judaismo, a tal ponto que Pió XI
afirmava que nos, cristaos, somos judeus ou o verdadeiro Israel.

♦ * *

A IMAGEM DA VIRGEM DE FÁTIMA EM MOSCOU

Há quarenta e seis anos urna imagem de Nossa Senhora de Fátima vem percor-
rendo o mundo. Em outubro de 1992 chegou a Moscou!

Com efeito. Aos 16/10/92 urna grande comitiva que viajara em dois avióes
jumbo charter, e também por térra, desembarcou em Moscou, trazando a imagem da
Virgem SS. Foi recebida por cerca de 1.400 pessoas, entre as quais 300 delegados de
movimentos de jovens. Os avióes sobrevoaram o Kremlin, levando, além dos passagei-
ros, seis toneladas de Bi'blias em russo, rosarios, escapularios e outros presentes para o
povo russo.

A estatua de Nossa Senhora foi ¡ntroduzida no "Auditorio do Cosmos", onde se


reuniu grande assembléia proveniente nao so da Rússia, mas também da Ucrania, da
Polonia e de pai'ses distantes como Estados Unidos, Cuba, México, regióos da África e a
Asia.

No dia 17/10/92 a visita da imagem foi oficialmente abena com urna concele-
bracao eucarística, da qual tomaram parte mais de SO presbíteros e cinco Bispos.
Estavam presentes outrossim mais de cem observadores, entre os quais o decano dos
C&negos da diocese de Fátima e o ¡rmáfo do sucessor ao trono de Portugal/D. Henrique
de Braganca. Um dos principáis oradores foi o Pe. Ken Roberts, conhecido por suas
mensagens na TV americana; a cerimónia foi filmada pela rede de televisSo católica
dos Estados Unidos (EWTN).

No dia 18/10/92 mais de mil "peregrinos da Paz" invadiram a Praca Vermelha


após ter rezado diante da cápela provisoria, no lugar em que se reconstrói a Basílica de
Nossa Senhora de Kazan, padroeira da Rússia; tal local fica precisamente em diagonal
ao túmulo de Lenin.

(Continua na pág. 368)

348
Um Hvro raro:

'A ESCOLHA DE DE US'

Cardeal Jean-Marie Lustiger

Em síntese: Vaoabaixopublicados trechos de um diálogo do Cardeal


Jean-Marie Lustiger, de París, com dois repórteres franceses a respeito da
pessoa deste prelado e de seu modo de pensar. Lustiger é um fudeu nasci-
do em París no ano de 1926. Em 1940 abracou a fé católica, depois de um
amadurecimento paulatino, favorecido pela leitura da Biblia e pelo teste-
munho de vida de bons cató/icos; num clima de antisemitismo, alimenta
do pelo nacionalsocialismo alemSo, esses fiéis cristaos nSo manifestavam
hostilidade ao povo judeu. Lustiger, ao talar de sua conversSo, pde em re
levo o papel significativo que os católicos desempenharam na sua deseo-
berta de Cristo, como também enfatiza nio ter traído o judaismo, pois há
continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento; Jesús Cristo é o Mes-
sias aguardado pelo povo judeu. — Os trechos publicados a seguir fazem
parte do livro que reproduz o dialogó completo entre Lustiger e seus en-
trevistadores, com o nome "Le Choixde Dieu" (A Escolha de Deus).

* * *

0 Cardeal Jean-Marie Lustiger é o arcebispo de Paris. Judeu conver


tido, tem assumido posicSo de destaque ná*o somente na Igreja, mas tam
bém no mundo civil francés e internacional.

Dada a singularidade do caso, dois intelectuais franceses, um judeu e


outro católico, foram entrevistar o Cardeal-arcebispo a respeito de sua vi
da e de seu pensamento em materia de fé, de historia, de política, etc. Tra-
tava-se de Jean-Louis Missika, redator-chefe da revista .Medias Pouvoirs,
e de Dominique Wolton, Diretor de Pesquisas no CBRS francés. O livro
que daí resultou, traz o título Le Choix de Dieu (A Escolha de Deus) e
conta 474 páginas de interessante leitura1.

A obra apresenta dados biográficos do Cardeal e aborda cinco temas:


1) Judaismo, Cristianismo e Anti-semitismo; 2) Ciencias Humanase Fé;

1 Editions de Fallois, 22, rué la Boétie, Paris 1987.

349
J4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

3) Política e Sociedade; 4) Aspectos da Teologia e da Vida Pastoral; 5) A


abertura da Igreja ao mundo.

Interessa-nos extrair desse livro alguns trapos relativos á conversao de


Aron Lustiger (como cristlo, Jean-Marie) e ao seu modo de pensar sobre
Judaismo e Cristianismo. Com efeito; é realmente inédito o caso de um
judeu, declaradamente judeu de sangue, que tenha sido nomeado bispo a
Cardeal da Igreja Católica, ocupando urna de suas sedes episcopais mais
importantes.

1. A CONVERSAO

Aron Lustiger nasceu em París no ano de 1926, filho de judeus polo


neses que se haviam estabelecído na Franca, julgando encontrar na Europa
Ocidental melhores condipSes de vida e mais seguranpa do que na Polonia.
Os pais de Aron nSo eram profundamente religiosos, mas, como quer que
seja, incutiram ao filho e á filha (irml de Aron) o garbo de serem judeus,
membros do povo messiánico. Toda a familia Lustiger era honesta e amiga
do estudo por efeito de suas tradipSes.

Aron assim concebeu grande estima ao seu povo judeu. Vivendo na


Franpa, nao queria dissimular, como outros judeus, a sua identidade étnica.

Na escola, o menino sofreu urna ou outra represalia da parte dos cole


gas, represalia que ele sabia ser a continuapáo da perseguipSo tantas vezes
sofrida pelos judeus desde os tempos do Faraó.

Os contatos que o adolescente teve com professores e com familias


católicas (especialmente em 1936 e 37) foram-lhe abrindo os olhos para a
face bela do Catolicismo. Tais pessoas deram-lhe genuino testemunho de
amor cristao, sem ponta de anti-semitismo.

Clandestinamente o menino lia a Biblia, tanto o Antigo como o Novo


Testamento, em traducao francesa, e ia percebendo que o Messias procla
mado pelos cristá*os era o Messias aguardado pelos judeus. Era curioso por
saber mais e mais a respeito do Cristianismo, de modo que lanpava fre-
qüentes perguntas a quem Ihe pudesse responder.

Em setembro de 1939, quando estourou a segunda guerra mundial,


Aron e seus pais estavam em OrleSes; o menino estudava num colegio des-
ta cidade, experimentando dentro de si o fervilhamento religioso; este o
preocupava milito mais do que o receio de ser vi'tima do anti-semitismo.

350
"A ESCOLHA DE DEUS" 15

Na Semana Santa de 1940, estando na Catedral de Órleles, Aron con-


cebeu o desejo de ser batizado. - Damos agora a palavra aos interlocutores
do diálogo:

J.L.M.: "Como se deu esse desejo de Batismo?

J.M. Lustiger: "Eu compartilhava a existencia cotidiana de cristSos


convictos. Sabiam perfeitamente que nos éramos judeuse trataram-mecom
discricao exemplar".

J.L.M.: "A m§e do senhor ia regularmente visitá-lo?"1

J.M. Lustiger: "Sim, semanalmente. Os contatos com meus colegas de


colegio proporcionaram-me outra ocasiá*o de intercambio com o Cristianis
mo... Recordo-me bem de que pedi á pessoa que nos hospedava, um Novo
Testamento. Comecei por ler o Evangelho segundo Sá*o Mateus, que é o
primeiro. Nessa mesma época eu lia Pascal. Lia-o assiduamente. Comecei a
recopiar o Evangelho segundo Sao Mateus á mao. Sublinhei algumas passa-
gens que me impressionavam. Eu tinha comigo urna pequeña edicao da Bi
blia de Crampón, em fascículos separados, que continham cada qual um
Evangelho. Nao cheguei a terminar; copiei apenas alguns capítulos. Isto
deve ter acontecido por volta do Natal".

J.L.M.: "O senhor falava disso com sua irma?"

J.M. Lustiger: "Nao creio. Alguns meses depois, entrei na catedral,


que ficava no caminho para o Liceu. No meio de urna praca abena... um
enorme edificio de beleza austera e despojada, sempre em reparos. Entrei
lá num dia que hoje identifico com a quinta-feira santa. Detive-me no tran-
septo meridional, onde reluzia um conjunto harmonioso de flores e luzes.
Fiquei lá por um certo tempo, impressionado. Eu nSo sabia porque estava
lá, nem por que as coisas aconteciam daquele modo em mim. Eu ignorava
o significado daquilo que via. NSo sabia que festa era celebrada, nem o que
as pessoas lá faziam em silencio. Depois voltei para o meu quarto. Nada
disse a quem quer que fosse.

No dia seguinte voltei á catedral. Eu quería rever aquele lugar. A igre


ja estava vazia. Espiritualmente também vazia. Experimentei a sensacSo
desse vazio: eu ná*o sabia que era a sextafeira santa... e naquele momento
pensei: quero ser batizado. Em conseqüéncia, dirigi-me á pessoa que me

1 A mae de Aron deixara OrleSes para estabelecer-se em París, onde tinha


urna pequeña fofa comercia/.

351
J6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

hospedava em sua casa. Era o mais simples. Eu sabia que era católica e que
ia i Missa: eu a vía, sabia quem ela era.

Disse-me: 'é preciso pedir autorizado aos seus pais'. Encaminhou-me


para o Bispo de OrleSes, Mons. Courcoux. Era um oratoriano muito culto;
instruiu-me no Cristianismo, dando-me aulas particulares. Oesde o inicio
dos nossos encontros, ele me incitou a pedir a autorizacüo dos meus pais.
A cronología me escapa, mas lembro-me muito bem do dia em que o co-
muniquei aos meus pais - cena extremamente dolorosa, altamente insu-
portável. Acabaram por aceitar. Mas isto é outra historia".

D.W.: "Recusararn o seu propósito?"

J.M. Lustiger: "Sim. Meu pai devia estar de I ¡cenca em casa. Expli
que i-I he que o meu propósito nSo me levava a abandonar a condicSo de
judeu, mas, muito ao contrario, a confirmá-la, a dar-lhe a plenitude de sen
tido. Eu nao tinha, em absoluto, a impressao de estar traindo, nem de me
camuflar, nem de abandonar o que quer que fosse, mas, ao contrario, de
atingir o pleno alcance e significado daquilo que recebera desde o nasci-
mento. Isto Ihes parecía totalmente incompreensfvel, louco e insuportável,
a pior das coisas, a pior das desgracas que Ihes pudesse acontecer.

Eu tinha a consciéncia muito aguda de que Ihes causava urna dor ¡n-
tolerável ao extremo. Sentia-me, por isto, dilacerado; só o fizera por urna
real necessídade interior. Outra solucáo teria consistido em guardar tudo
dentro de mim mesmo, nada dizer e simplesmente aguardar. — Todavía,
esta outra solucá*o, eu nao a quis considerar.

Mons. Courcoux era homem muito respeitoso do próximo. Nao sei se


ele tinha consciéncia do que isso representava para meus pais; nSo sei que
conhecimento tinha ele dos judeus do nosso tipo. Era muito culto e inteli
gente. Os judeus que ele conhecia, eram os judeus liberáis da intelligentsia
francesa, dos quais Bergson era um representante.

Por fim, meus pais aceitaram. Para a minha irmS e para mim".

J.L.M.: "Sua irm§ quería tambérn converter-se?"

J. M. Lustiger: "Ela me seguiu. Mas seguíu-me por conviccSo, embora


nunca tivéssemos falado disso".

J.L.M.: "Ambos tivestesa mesmaevolucá"o em OrleSesnesse período?"

J.M. Lustiger: "Em todo caso, a mesma ¡nstruca*o. A que o Bispo nos
dava... Seus cursos eram de um nivel notável. Desde aquela época, fui ini-

352
"A ESCOLHA DE DE US" 17

ciado no estudo das origens cristas, no conhecimento dos textos mais ami
gos, com grande rigor histórico. Em poucas palavras: recebi urna iniciacSo
críst3 de qualidade intelectual e espiritual raramente oferecida a um ado
lescente. Confirmava a intuicSo muito viva que eu tinha, dacontinuidade
do Cristianismo com o judaismo. Mons. Courcoux falou-me de varios as-
suntos; entre mu itos outros, ele mencionava o Pe. Teilhard de Chardin,
abordava também as relacSes entre a ciencia e a fé. Isto equivale a dizer
que eu nio era mal tratado".

D.W.: "O Sr. tinha sorte..."

J.M. Lustiger: "Lembro-me de so ter encontrado nessa área gente que


me inspirou respeito".

D.W.: "Por que se Ihe tornou evidente passardo judaismo ao Cristia


nismo em vez de se voltar para o judaismo?"

J.M. Lustiger: "O Cristianismo é um fruto do judaismo! Para ser mais


claro, acreditei no Cristo, Messias de Israel. Cristalizou-se algo que eu tra-
zia em mim desde anos, sem que eu o tivesse dito a alguém. Eu sabia que o
judaismo trazia em si a esperanca do Messias. Ao escándalo do sofrimento
respondía a esperanca da redencSo dos homens e do cumprimento das pro-
messas que Oeus fez ao seu povo. E eu fiquei ciente de que Jesús é o Mes
sias, o Cristo de Deus."

D.W.: "Nesse momento, nao há no senhor um sent¡mentó de revolta?"

J.M. Lustiger: "Era a confirmacSo da descoberta do Messias de Israel


e do Filho de Deus e, por conseguinte, da descoberta do próprio Deus. Eu
ainda vivia a idade metafisica e a idade da dúvida: será que Deus existe?
é esta a pergunta da razao critica, pergunta lancinante ou subliminar do
pensamento. Precisei de quinze anos, vinte anos para sair dessa questao,
levando-se em conta a cultura que eu recebera e a minha evolucSo pes-
soal".

J.L.M. "Mas no momento mesmo da conversSo ou dessa tomada de


consciéncia existia essa dúvida?"

J.M. Lustiger: "A certeza absoluta de que Deus existe e a negacSo ra


dical que diz: 'Deus nao existe', esses dois pensamentos encontravam-se
em mim sucessivamente e, ás vezes, simultáneamente. Mas no fundo eu sa
bia, mesmo quando na*o estava certo de crer, que Deus existe, pois eu era
judeu".

353
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

D.W.: "Como assim?"

J.M. Lustiger: "Porque eu bem sabia que Deus nos tinha escolhido
para mostrar que Ele existe!"

J.L.M.: "O sr. insistía muito, e compreendo-o, sobre o fato de que


nao havia proselitismo no ambiente que o acolheu".

J.M. Lustiger: "Insisto nisso porque o proselitismo é a primeira idéia


que vem á mente em semelhante situado. Foi também o que meus pais
logo incriminaram".

J.L.M.: "Digo a mesma coisa: será que o proselitismo mais requintado


nao é aquele que se dissimula?"

J.M. Lustiger: "NSo sei. Tudo o que Irte posso dizer, é que eu era um
adolescente insuportável, muito orgulhoso e de forte personalidade. Ai de
quem me pisasse nos calos! Imagino que me possam manipular — toda gen
te é manipulável -, mas os interlocutores que eu tinha eram homens e mu-
I he res de evidente honestidade. Além do qué, prestaram-me o sen/ico de
ser críticos a meu respeito e de me recolocar no meu lugar".

D.W.: "Seus pais nao Ihe propuseram urna solucao alternativa: apro-
fundar a fé judaica?"

J.M. Lustiger: "Sim, sem dúvida. Tivemos urna entrevista com famo
so personagem do judaismo, urna discussáo que durou duas horas em casa
dele. Demonstre i-I ríe que Jesús é o Messias. Ño momento em que safmos,
ele disse aos meus pais: 'Nada podem fazer; deixem-no proceder' ".

D.W.: "O confuto familiar deve ter sido muito violento. O sr. encon-
trou reconforto junto á sua míe ou ao seu pai?"

J.M. Lustiger: "é muito complicado. Minha mae morreu cedo de-
mais. Foi deportada e faleceu em Auschwitz. Meu pai teve urna evolucSo
que nSo pode ocorrer com minha má"e: por conseguinte, nao posso respon
der. Meu pai era sobrio em palavras. Quando ele falava, a forca.era enor
me, mas contida. Minha mSe, ao contrario, era expansiva, mais nervosa,
mais expressiva."

J.L.M.: "Seus pais na*o podiam também considerar que essa conver-
sio afinal nSo era coisa má no seu contexto histórico?"

J.M. Lustiger: "Fizeramesse cálculo. Viram urna protecSo frente aos


alemSes. Creio que foi por isto que a aceitaram. Eu Ihes disse: 'Para nada
servirá'".

354
"A ESCOLHA DE DEUS" 19

J.L.M.: "E ao sr. essas circunstancias históricas nlo incomodavam?


Quero dizer: nao é difícil deixar o judaismo quando os judeus slo perse
guidos".

J.M. Lustiger: "Nao fiz raciocinios políticos. Para mim, nlo se trata-
va, em absoluto, de renegar a minha identidade judaica. Muito ao contra
rio. Eu percebia o Cristo Messias de Israel, e via muitos cristlos que ti-
nham estima para com o judaismo".

J.L.M.: "O sr. nunca encontrou cristaos destituidos de estima aos


judeus?"

J.M. Lustiger: "Aos olhos meus os anti-semitas nao eram fiéis ao Cris
tianismo".

J.L.M.: "Isto quer dizer que nlo há muitos cristlos na Franca!"

J.M. Lustiger: "Eram goyim, paglos; nao eram cristios".

J.L.M.: "0 sr. vivia num plano espiritual, mas consciente da realidade
histórica?"

J.M. Lustiger: "A realidade histórica era, para mim, extremamente


forte, mas na*o tomou a forma de oportunismo político no meu caminho.
Poucos anos depois, li os cadernos clandestinos de Témoignage Chrétien,
em que encontrei claramente as minhas conviccSes. De Lubac, Fessaid e
Journet, que na clandestinidade escreviam sobre a resistencia ao paganis
mo nazista e sobre o judaismo, disseram o que era preciso dizer".

O.W.: "O sr. se lembra da data de sua prime ira Comunhá'o?"

J.M. Lustiger: "Batismo e Eucaristía, aos 25 de agosto de 1940; e a


Crisma aos 15 de setembro de 1940, sendo oficiante o Bispo de Órleles,
na cápela do Bispado de Órleles, em que celebrei a S. Missa como Bispo
cerca de quarenta anos depois."

J.L.M.: "O sr. mudou de preñóme naquela ocasiao?"

J.M. Lustiger: "NSo. Guardei meu preñóme de estado civil: Arlo,


que é o preñóme do meu avó paterno. A tradíelo queria que, quando o
avó morresse, um dos netos tomase o seu nome; guardeio como nome de
Batismo, porque era meu e Arlo, o Grlo-Sacerdote, aparece com Moisés
no calendario cristlo. E acrescentei Jólo e María. JoSo era o preñóme do
meu padrinho".

Passemos a breve reflexlo.

355
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 376/1993

2. COMENTANDO...

Este belo depoimento do Cardeal Lustiger chama-nos a atencio para


dois pontos:

1) Tornarse cristio nSo significa, para um judeu, perder a sua identi-


dade israelita. Com efeito; o Cristo Jesús é o Messias prometido aos ju-
deus; a religiao judaica é toda ela norteada pela expectativa do Messias, de
modo que reconhecer o Cristo é reconhecer o que o judaismo mais preza.
NSo há antfíese entre judaismo e Cristianismo; daC também nlo se com-
preende o antisemitismo, que á urna contradicio da parte dos cristSos.
Existe auténtica continuidade entre Israel e a Igreja ou entre o Antigo e o
Novo Testamento. Por isto muito bem acentúa, pouco adiante, o Cardeal
Lustiger:

"(Estando na Igreja), eu nao estava em térra estrangeira. Fazia parte


dos filhos mais velhos. Estava apenas entrando no gozo da heranga que me
fora prometida" (p. 72).

A propósito de conversdes do judaismo ao Cristianismo veja-se ainda


o artigo deste fascículo, pp. 345-348.

2) Muito contribuiu para a conversado de Aran, entre outros fatores,


o comportamento correto e digno dos cristSos que acompanhavam o meni
no. A linguagem da vida ou da conduta é, por vezes, tao eficiente quanto a
das palavras. Aron pode conhecer o Cristianismo através de representantes
translúcidos, que nao hostilizavam o judaismo, embora o clima da Europa
de 1930-40 fosse de anti-semitismo. A lica*o vale para os católicos de nos-
sos dias: a coeréncia de vida e a coragem de levar até o fim os principios
abracados sao de valor capital numa sociedade que pouco se interessa por
livros de doutrina católica, mas muito observa o procedimento daqueles
que se dizem católicos e que mu ¡tas vezes sSo o único Evangelho que os ir-
mSos podem ler.

A personalidade do Cardeal Lustiger tem brilhado á frente do arcebis-


pado de París, pois se trata nao somente de um erudito, mas tambóm de
um homem de fé e de oracffo.

* **

"O HOMEM É APENAS UM CANICO, O MAIS FRÁGIL DA NATUREZA.


MAS É UM CANIQO PENSANTE. NAO É NECESSÁRIO QUE O UNIVERSO SE
ARME PARA ESMAGÁ-LO; UM VAPOR. UMA GOTA DÁGUA BASTA PARA
MATÁ-LO. MAS, AÍNDA QUE O UNIVERSO O ESMAGASSE, O HOMEM AÍNDA
SERIA MAIS NOBRE DO QUE AQUILO QUE O MATA, PORQUE ELE SABE QUE
ELE MORRE, AO PASSO QUE O UNIVERSO IGNORA A VANTAGEM QUE
ELE TEM SOBRE O HOMEM" {Paical, t1662, Pensamentos, fragmento 347).

356
Tres comentarios sobre

A TELEVISÁO BRASILEIRA

A pedido de leitores, transcrevemos aquí o famoso artigo do Cardeal


D. Lucas Moreira Neves, Arcebispo de Salvador (BA), publicado no "JOR
NAL DO BRASIL" de 13/01/93 a respeito da televisao brasileira. As pon-
deracoes de D. Lucas conservan! até o momento presente a sua atualidade.
O mesmo autor publicou em 27/01/93 mais um artigo sobre o assunto,
que esclarece e aprofunda o anterior; parece oportuno reproduzi-lo como
se encontra em sua fonte (JB).

As consideracSes do prelado brasileiro sao corroboradas pelo teste-


munho insuspeito de Walter Clark, fundador e ex-diretor da TV GLOBO,
um dos criadores do chamado "padrao GLOBO de qualidade". Publicou
suas reflex6es na ¡mprensa brasileira; extraimo-las do jornal "ESTADO
DE MINAS". edicSo de 07/01/93, p. 13.

"J'ACCUSE!"

D. Lucas Moreira Naves

Do polémico manifestó de Emile Zola estou plagiando sonriente o tí


tulo - e, se puder, a veeméncia. Fora isso, nSo pretendo revisitar nesta
crónica o clamoroso affaire Dreyfus. O meu j'accuse é assestado contra a
televisao brasileira. E o lanco como brasileiro preocupado com meu pai's e
como bispo responsável por grande número de fiáis.

NSo quero, de modo algum, generalizar. Estou pronto aexcetuarda


minha acusaca*o o canal dedicado á educacáo e cultura e os programas que,
nos diferentes cañáis, contribuem para o crescimento e a elevacao cultural
e humana da populacao.

Feito isso, e tomando por testemunhas a sociedade brasileira em ge-


ral, os pais de familia e os educadores em particular, os pastores de Igrejas
e líderes religiosos, eu acuso a televisffo brasileira pelos seus muitos delitos.

357
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 37S/1993

Acuso-a de descumprir sistemáticamente as funoSes em vista das


quais obteve do governo urna concessSo: informar, educar, cultivar, formar
a consciéncia e divertir. Em vez disso, ávida somente de pontos no Ibope e
de faturamento, ela n2o hesita em apelar aos instintos mais baixos do ho-
mem. Seu pecado mais grave é o que concerne á educacao por ser esta a
necessidade e a exigencia fundamentáis no nosso país. Com raras e louvá-
veis excecfies, a TV brasileira nao so n§o educa, mas, com requintes de per-
versidade, deseduca. Abusando dos seus recursos técnicos, do seu poder de
persuasib e de penetracSo nos lares do país inteiro, ela destrói o que ou-
tras instancias pedagógicase educativas, a duras penas, procuram construir.

Acuso a televisao brasileira de ministrar copiosamente á sua clientela


os dois ingredientes que, por um curioso fenómeno, andam sempre juntos:
a violencia e a pornografía. A primeira é servida em filmes para todas as
idades. A segunda impera, solía, em qualquer género televisivo: telenove
las, entrevistas, programas ditos humorísticos, spots publicitarios e clips de
propaganda*. Há cerca de tres anos, em artigo no JB, o editor e jornalista
Sergio Lacerda denunciava que, com sua enxurrada de pornografía, a TV
brasileira está formando urna geracSo de voyeurs.

Acuso a televisao do nosso país de estar utilizando aparelhagens e


equipamentos sofisticados com o objetivo de imbecilizar faixas inteirasda
populacao. Urna geracáfo de debilóides. 0 processo se torna consternador e
inquietante quando, a pretexto de humor, um instrumento de educacao,
como a escola, se transforma em "escolinha", onde o mau gosto, a idioti
ce, o achincalhe sao dados em pasto a enancas, adolescentes e jovens em
formacio. Em materia de humor televisivo, alias poucos o analisaramtao
profundamente como Moacyr Werneck de Castro, ao apontá-lo como ver-
dadeira regressao á infancia, por meio de um "repertorio de bocal idades"
(Humor na televisao, JB 06/07/91).

Acuso a TV brasileira de ser demolidora dos mais auténticos e inalie-


náveis valores moráis, sejam eles pessoaisou sociais, familiares, éticos, reli
giosos e espirituais. Demolidora porque n3o somente zomba deles, mas os
dissolve na consciéncia do telespectador e propde, em seu lugar, os piores
contravalores. Neste sentido, é assustadora a empresa de demoliólo da fa
milia e dos mais altos valores familiares — amor, fidelidade, respeito mu
tuo, renuncia, dom de si — realizada quotidianamente, sobretudo pelas te
lenovelas. Em lugar disso, o deboche e a dissolucSo, o adulterio, o incesto.

Acuso a TV brasileira de ser corruptora de menores, em virtude de


programas da mais baixa categoría moral, pelas cenas e pelo palavreado,
em horarios em que enancas estao diante da caixa mágica.

358
TELEVISÁO BRASILEIBA 23

Acuso-a de atentar contra o que há de mais sagrado, como seja, a vi


da. Nao há mu ¡tos d¡as, em programa reprisado, milhares de espectadores
viram e ouviram, no diálogo entre um talkman e urna jovem de vinte anos,
.a mais explícita apología do aborto e o nSo velado incitamento á supressao
de vidas humanas no seu nascedouro.

Acuso-a de disseminar, em programas varios, idéias, crencas, práticas


e ritos ligados a cultos os mais estranhos. Ela se torna, deste modo, veículo
para a difuslo de magia, inclusive magia negra, satanismo, rituais nocivos
ao equilibrio psíquico.

Acuso a TV brasileira de destilar em sua programacao e instalar nos


telespectadores, inclusive jovens e adolescentes, urna concepcao totalmen
te aética da vida: triunfo da esperteza, do furto, do ganho fácil, do estelio
nato. Neste sentido, merecem urna análise á parte as telenovelas brasileiras
sob o ponto de vista psicossocial, moral, religioso. Quando foi que, pela úl
tima vez, urna novela brasileira abordou temas como os meninos de rúa, os
sem-teto e sem-trabalho, os marginalizados em geral? Qual foi a novela que
propds ideáis nobres de servico ao próximo e de construcfo de urna comu-
nidade melhor? Em lugar disso, as telenovelas oferecem á populacSo em
pobrecida, como modelo e ideal, as aventuras de urna burguesía em de-
composicao, mas de algum modo atraente.

Acuso, enfim, a televisSo brasileira de instigar á violencia: "A televi-


sao brasileira terá de procurar dentro de si as causas da violencia que ela
desencadeou e deque foi vftima" (Editorial Estrelascadentes JB, 06/01/93).
"Já se chamou a atencSo para o fato de que o crescimento da rede mono-
polística de televisSo coincida com o crescimento da violencia no país e ja
máis se chegará no ámago da questao enquanto a própria televisSo se recu
sar a assumirsua responsabilidade" (Editorial Limites da dor, JB, 08/01/93).
Ela nSo pode procurar alibis quando essa violencia produz frutos amargos.
Quem matou, há dias, urna jovem atriz? Seria ingenuidade nSo indiciar e
n¿*o mandar ao banco dos réus urna co-autora do assassinato: a TV brasilei
ra. A novela das 8. E — sinto ter que dizé-lo — a própria novela De corpo
e alma.

(JB. 13/01/93)

359
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

II. RESISTIR,QUEM HADE?

D. Lucas Moreira Nevet

Primeiro nao se trata de um combate contra a televisa"o brasileira,


mas a favor de urna televislo resgatada dos males que a desfiguraram; re
conciliada com seus mais altos objetivos; livre e responsável; norteada por
um seguro Código de Ética. Resistir pode (deve) ser um ato de amor. Por
amor a urna televisSo saudável, feita para educar e nSo para corromper,
e por amor aosseus usuarios, lancei denuncias veementes, mas nSo injustas.

Em segundo lugar, meu manifestó (JB, 13/01/93) nada tem de polí


tico-partidario nem deveria ser ¡nstrumentalizado por interesses particu
lares. A bandeira que levantei, e que suscitou um consenso quase plebisci
tario, é de todos os patriotas e tem sentido se for empunhada pelo conjun
to dos partidos e agremiacSes.

Terceiro: nao convém tampouco a resistencia de urna so Igreja. Va-


lem a solidaríedade e o apoio de todas as Igrejas e grupos religiosos. Dos
católicos, naturalmente. Dos cristlos em geral. Dos n3o-cristSos e até dos
sem-fé, que, ná*o adotando o ethos cristSo, recebem, da sua fá ou do seu
simples senso do homem, razSes para quererem urna televisa*o coerente
com suas finalidades essenciais.

Isto posto, pergunto: resistir, quem há-de? Ou seja: quem deve fazer
frente aos males vigentes na TV em favor de urna TV passada a limpo?

Opino que a Familia deve estar na linha de frente de resistencia: os


pais, os filhos, os parantes, os agregados-toda a constelado familiar.
Eta é a prime ira vítima, torpemente agredida dentro da própria casa; deve
ser também a primeira a resistir, é ela quem dá Ibope, deve ser também
quem o negué, á custa de fazer greve ou jejum deTV.Cabe.pois, ás fami
lias, formar a conscténcia crítica de todos os seus membros frente á tele-
vistió; velar sobre as enancas e adolescentes com relacSo a certos progra
mas; mandar cartas de protesto aos donos de televislo; chamar a atencffo
dos anunciantes, declarando a decisSo de nSo comprar produtos que fi-
nanciam programas ¡moráis ou que se servem de pepas publicitarias ofensi
vas ao pudor, exigir programas sadios e sabotar os mórbidos para que nSo
se diga que o público quer urna TV licenciosa, violenta ou deseducativa.

Semelhante ao papel da Familia ó o da Igreja. Os fiéis, que sa"o ao


mesmo tempo usuarios da televislo, tém direito a urna formacao do seu
senso crítico peranteoque Ihes impingem na pequeña tela. O direito de di-
zer "nSo" e "basta" á degradaca*o via TV. Os usuarios católicos, revoltados

360
TELEVISÁOBRASILEIRA 25

resignados, clamam por pronunciamentos claros e decididos dos seus Bis-


pos e da CNBB em todas as suas instancias. Esta sabe que nao pode omitir
se diante da grave e continuada agressSo da mídia, sobretudo televisiva,
aos cidadaose fiéis, forma intolerável de injustica social.

Cabe aos poderes públicos uma modalidade peculiar de resistencia.


Salvaguardadas as prerrogativas democráticas e alijado o recurso á censura
e á estatizado, a autoridade civil dispde de válidos instrumentos de apri-
moramento qualitativo da programado da TV: o Conselho Nacional de
Comunicacao Social, previsto na ConstituicSo, e um Código de Etica que
n§o deve faltar como normativa a que se obriguem, consciente e respon-
savelmente, os mass-media. Uma TV que eduque e cultive, em todos os
nfveis da populacao; que respeite e promova os valores humanos, fami
liares, cívicos, moráis e religiosos; que informe bem e divina sadiamente
é a contrapartida obrigatória: sem ela a concessáo de cañáis tornase uma
benesse para a concessionária e um daño para a concédeme-um absurdo
social.

Uma resistencia particularmente eficaz e decisiva é a daquelesque, de


certo modo, alimentam e lubrificam a poderosa máquina mediática. Prefi-
ro, porém, dar a palavra a um prestigioso empresario, cujo nome omito
por obvias razSes. Depois de declarar que o meu manifestó de 13 de Janei
ro "constituí, cortamente, um divisor.de aguas, marcando o fim da passivi-
dade da sociedade brasileira diante do descalabro do setor, com deterio
rante impacto sobre a populacho em geral e a infancia e juventude em par
ticular", o conhecido industrial acrescenta: "é indispensável que o empre-
sariado nacional, cujos recursos financiam diretamente os programas exibi
dos, seja conscientizado de sua responsabilidade quanto a qualidade dos
mesmos e sua adequacáb aos horarios em que sao exibidos. Só a pressao da
sociedade, através das suas Iideraneas de todos os matizes, sobre produto-
res, financiadores e poder concédeme, permitirá a reversSo do gravíssimo
quadro ora prevalecente". Tudo está dito nesta materia. Os empresarios,
movidos por sua fé crista, por senso ético ou por simples patriotismo, uma
vez conscientizados, tém o poder de "reverter o gravísimo quadro": basta
que financiem programas verdaderamente educativos e formadores, cor
tando os subsidios á programacSb deletéria.

Mas a resisténcia: que aqui cito por último, talvez seja a prime ira por
ordem de importancia: a dos próprios comunicadores. Os "donos" da TV,
os responsáveis diretos, os produtores e rote instas, os eventuais ombuds-
men, os entrevistadores, talkmen e talkwomem, os humoristas e cómicos;
na consciéncia humana e crista dessas pessoas está o destino da TV brasi
leira—continuara empresa de demolicáfo, a breve prazo suicida, ou dar vi
da a uma televisSo que ajude a reconstruir o pafs. Chegar á consciéncia de,

361
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

pelo menos, algumas dessas pessoas seria a minha única ambicSo com esses
artigos.

E, se me permitem, um pedido final: pelo amor de Deuse do Brasil,


sobretudo do Brasil em formaca*o na pessoa das enancas, dos adolescentes
e jovens, ninguém se refugie no fácil - mas falso • alibi de que a TV fornece
o que o público deseja e pede. Seria um círculo vicioso infernal, pois, de
formado, esse público pediria sempre o pior. A funcüo da TV, como edu
cadora, ná*o é satisfazer os baixos instintos—é propor um alto ideal huma
no e torná-lo acessível a todos.

UB, 27/01/93)

III.ATVBRASILEIRA

Walter Clark

1 • A TV brasileira está vivendo um momento autofágico. Lamento


ter contribu ido, de alguma forma, para que ela chegasse onde chegou.

2 - A Gloria Pérez exerceu nepotismo para dar á sua filha Daniella


um papel de destaque, e talvez ela até tivesse talento. Mas, ao mesmo
'tempo, fez a filha conviver, durante meses, em cenas de amor e intimida-
de, com um sujeitinho obscuro, um garoto de 'miché', um despreparado
que subiu na vida atravás de sua atividade sexual e que, aproveitador, am
bicioso, tratou ¡mediatamente de estar próximo da filha da autora... O fi
nal nao poderia ser diferente.

3 - Quando se faz um filme, que dura 90 minutos, deve existir a preo-


cupacao de ter cuidado na escolha do elenco. Urna novela, entSo, nem se
diz. No entanto, vocé pega um qualquer sem preparo e o transforma em
pessoa da intimidade e idolatría da cidade, do país.

4 - Como no "Día do Gafanhoto" o personagem mata urna enanca,


urna bailarina, o ator Guilherme de Páduatambóm matou alguém, em seu
desespero ambicioso.

5 - A Gloria Pérez escreveu..., urna novela sórdida, e a filha foi vítima


de sua novela. Ela está,de alguma forma, pagando pelo que escreveu, viven-
do o que escreveu. A novela é abominável.

362
TELEVISÁOBRASILEIRA 27

6 - ... A emissora está nivelando por baixo: existem traicSes, incestos,


impulsos sexuais incontidos, cobica, odio, tudo isto existe, mas nao é so
isto. Algumas novelas tém apelado para isto, sem que ninguém ponha um
freio.

7 • N3o é moralismo. Ná"o sou moralista, mas aquele Clube de Mulhe-


res chega a dar arrepios. As pessoas ná"o sSo todas assim, ou nao s3o apenas
assim. Nao é possível criar no país urna casta de ficcao, de pessoas que n3o
tém nada-a ver com arte, com nada.

8 - Veja o dado social: a má"e que acabou induzindo a filha, Inconsci


entemente, áquela obrigacSo de contracenar, conversar, conviver com um
maluco, um psicópata. Ai acontece urna brutalidade destas.

9 - A sociedade, que já está violenta, acaba tendo no seu registro mais


forte de comumcaca*o, que é a televis2o, só violencia.

10 - A novela da Gloria Pérez é pior que as novelas mexicanas, que


pelo menos guardam principios moráis. A déla é asquerosa e ná*o tem nada
de útil - e está sendo vista por enancas, ¿s oito horas da noite.

11-0 Raúl Gazzola está na capa dos jomáis e ñas manchetes, como
se a real idade fosse urna continuacáferda ficca*o. Na verdade, a televisao es
tá virando urna ficcSo, engolindo a si mesma.

12 • 0 tratamento que os telejornais estSo dando ao caso da Daniella


Pérez 6 pior do que o "Aquí e Agora", porque este pelo menos é um pro
grama sincero.

13 - A TV Globo, apelando para a fórmula fácil, está acabando com


a televíselo brasileira. Há urna absoluta falta de responsabilidade e vergo-
nha na maneira de fazer televislo no Brasil.

* **

NADA TE PERTURBE. NADA TE ESPANTE.

TUDO PASSA.

, DEUS NAO MUDA.


A PACIENCIA TUDO ALCANCA.

SÓ DEUS BASTA.
(Santa Tere» de Ávila)

363
Em plena juventude:

TERESA DE LOS ANDES

Em síhtese: A Irma Teresa deJesúsde losÁndeseurna Religiosa carme


lita falecida em 1920, com vinte anos de idade, após orne meses de vida claus
tral intensamente vivida. Foi canonizada ou incluida no catálogo dos San
tos da Igrefa aos 21/03/93 pelo S. Padre JoSo Paulo II. Era alegre e vivaz,
dada aos esportes e caminhadas alpinistas antes de entrar no Carmelo. 0
fato de ter chegado em tao pouco tempo a elevado grau de perfeicio es
piritual é digno de nota e serve de estímulo aos jovens contemporáneos;
todos sao chamados á santidade, quaisquer que se/am sua idade, sua épo
ca, suas circunstancias históricas. Esta ponderacSo vale também para os
adultos, aos quais é recordado que a graca de Deus pode realizar maravi
lhas nos coracoes dóceis.

* * *

Aos 21 de margo pp. foi canonizada (inscrita no catálogo dos San


tos da Igreja) urna jovem de vinte anos de idade, chilena, morta em 1920
como Religiosa carmelita de nome "IrmS Teresa de Jesús de los Andes".

O fato merece relevo, pois se trata de urna figura juvenil, sujeita a to


do tipo de séducOes deste mundo; foi fortalecida pela graca para, em
poucos anos, adquirir a maturidade de urna longa vida, em ressonáncia do
que diz o livro da Sabedoria: "Amadurecida em pouco tempo, atingiu a
plenitude de urna vida longa" (4,13).

Tal caso fala, sem dúvida, a todos os jovens, chilenos e nao chilenos,
como fala também aos adultos, pois vem demonstrar que a grapa de Deus
pode fazer maravilhas ou pode ajudar qualquer um(a) a galgar o cume da
santidade, apesar dos percalcos da caminhada.

Vejamos, pois, quem foi a jovem heroína "de los Andes".

364
TERESA DE LOS ANDES 29

1. TRAQOS BIOGRÁFICOS

Aos 13 de julho de 1900, em Santiago do Chile, nascia Joana Fer


nandez Solar. Era o quarto dos sete filhos do casal Miguel Fernández Ja-
raque mada e Lucia Solar Amstrong.

Desde pequeña, era muito aberta á vida de piedade; recebeu forte in


fluencia da vida crista de seus familiares, particularmente de seu avó, a
quem vé diariamente "passar as contas do rosario". Quis logo fazera Pr¡-
meira Comunha*o, mas, embora desse provas de "conhecer bem a doutri-
na", por ser ainda muito enanca, nao Irte permitiram receber Jesús na Sa
grada Hostia. Comecou, assim, um arduo trabalho consigo mesma, prepa-
rando-se para o día da Eucarístia. Tratava-se de verdadeiro empenho ascéti
co, nada comum em enancas de sua idade. A menina propusera controlar
suas tendencias e modificar o seu caráter. "Nao mais brigava com os me
ninos. As vezes mordía os labios e apressava-me em vestír-me. Fazia atos
que anotava em uma caderneta. Ninguém me fazia perder a paciencia."
Desta maneira no dia 11 de setembro de 1910, ela se apresentou para a
"recordacSo mais pura de toda a vida".

"Nao posso descrever o que se passou entre minha alma e Jesús (...)
A Virgem, eu a sentí perto de mim. Pela prímeira vez sentía uma paz
deliciosa".

Em dezembro de 1914, Joana sofre uma grave crise de apendicite.


Foi necessário submeter-se a uma intervencSo cirúrgica. O pos-operatorio
foi ocasiao para aprofundar o já intenso relacionamento com Jesús. "Nos-
so Senhor me falou e me deu a entender quá*o abondonado e só estava no
tabernáculo. Disse-me que o acompanhasse. Entao, deu-me a vocacao, pois
me disse que quería meu coracffo so para Ele, e que fosse carmelita".

Mas, desde este chamado até a concret¡zaca*o do ideal depositado no


coracáo de Joana, muita coisa transcorreu; ela soube aproveitar plenamen
te deste tempo, vivendo cada instante em atitude de oferta a Deus. Come
cou a levar uma vida pautada no programa que dá primazia á meditacSo,
a leitura espiritual, ao exame diario e á prática da humildade. Em dezem
bro de 1915, fez voto particular de castidade, prometendo "nao admitir
outro esposo senao Jesús Cristo".

Costumava passar as ferias na fazenda do avó. Levava uma vida como


a de qualquer outra jovem de seu tempo. Gostava de cavalgar; fazia longas
caminhadas a pé; participava dos concursos de natacáo; divertia-se e convi
vía com os primos e amigos ñas reuniSes familiares. Foi durante estes pe
ríodos na propriedade de Chacabuco que Joana, com outras mocas, se de-

365
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 376/1993

dicou ás aulas de catequese aos filhos de lavradores e prestou auxilio ás


missfles.

Mesmo quando estava em Santiago, preocupava-se ern manifestar sua


fé com obras. Tornou-se famoso o fato de ter vendido o seu relógio para
conseguir trinta pesos e comprar um par de sapatos para um menino po
bre. Como interna no Colegio das Irmis do Sagrado Coracáfo, Joana apare-
ceu como aluna exemplar, consciente de suas obrigacSes. Foi premiada
como primeira aluna em Historia.

O tempo de intemato foi para ela profundo sofrimento. Cheia de


amor e ternura para com os seus, temperamento alegre e vivaz, estar inter
na era-lhe por demais pesado. Mas tudo superava para dar provas de amor
a Jesús.

"Hoje voitamos ao colegio. Simo um desespero e urna vontade louca


de chorar, A ti, meu Jesús, ofereco este sofrimento, pois quero sofrerpara
parecer-me contigo, Jesús meu amor".

No entanto, tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus. é


ali, junto das irmSs, que Joana intensifica sua vida espiritual; cresce sobre-
maneira na piedade eucarfstica, que nutre desde sua Primeira Comúnha"o
e se prepara definitivamente para entrar no Carmelo.

Em 1918, passa por ¡numeras provas interiores: abandono espiritual,


secura, aridez... Em dezembro deixa o Colegio e em Janeiro de 1919 entra
em contato com as Carmelitas de Los Andes.

Superadas | as dificuldades para ser carmelita: saúde débil, oposicao


de alguns familiares, dificuldades para conseguir o dote, pois os negocios
de seu pai n&o vio muito bem, Joana entra no mosteiro em 7 de maio de
1919. Ela se senté extremamente feliz, realiza aquilo a que se senté chama
da e busca corresponder ao Amor que percebe palpitar em si.

"Jé faz oito dias que estou no Carmelo. Oito días de cóu. Sinto de tal
maneira o amor divino que há momentos nos quais pensó que nao vou nxistir".

"Quero ser hostia pura, sacrificar-me em tudo e continuamente pelos


sacerdotes e pecadores".

"Pamce-me que comecei a viver só no dia 7 de maio. Asseguro-lhe


que os sacrificios \feitos parecem-me nada'. (...) Ao separar-me dos meus,
ao arrancar-me dos bracos de minha mié, sentí que Jesús me abría os seus
e me estreitava ¡unto ao seu Divino Coracio. Como é suave viver unida a
E/el"

366
TERESA DE LOS ANDES 31

No dia 14 de outubro desse mesmo ano, IrmS Teresa recebe o hábito


de carmelita e inicia o seu noviciado.

Irm3 Teresa esmera-se por seguir seu noviciado com a máxima perfei-
cSo na prática das virtudes. "Tem que rezar por mim, para que eu seja
muito fervorosa, pois de meu noviciado depende toda a minha Vida Reli
giosa, e, custe o que cu star, tenho de ser urna santa carmelita". Permeia
seus atos de amor, aceita sofrimentos com generosidade e espirito apos
tólico.

"Creía que a PaixSo de Jesús Cristo é o que mais bem me faz. Au


menta em mim o amor, ao verquanto sofreu meu Redentor; o amorao sa
crificio, o esquecimento de mim mesma. Serve-me para ser menos orgulho-
sa. Excita-me é conf¡anca neste meu Mestre adorado, que sofreu tanto por
amar-me".

Em margo de 1920, revela ao confessor urna alocucao que teve. Mor-


rerá dentro de um mes.

E assim acontece. Irma" Teresa vive a observancia quaresmal com todo


o rigor. Apesar de já sentir no corpo os primeiros síntomas da molestia que
Ihe tiraría a vida, nao quis dispensas nem alivios. Sonriente após as cerimd-
nias da Sexta-feira santa, quando a Mestra de novicas a vé muito averme-
Ihada, é que ela vai para a cama. Está muito febril, e os médicos diagnosti
caran! o seu mal: Tifo.

No dia 5 de abril, segunda-feira após a Páscoa, administram-lhes os


sacramentos, a seu pedido. No dia 6, faz sua Profissao Religiosa em artigo
de morte. Dia 7, comunga pela última vez. Durante os dias que se segui-
ram, Teresa de Los Andes sofreu muitos delirios em virtude da alta febre
que a tomava. No dia 11, teve alguns momentos de lucidez e, ent2o, can-
tou hinos litúrgicos. Depois, assistida pelo Padre CapelSo, entregou-se a
um estado letárgico, do qual nSo mais saiu. Dia 12, ás 19:45 hs, entregou-
se em um sonó tranquilo ao Deus de sua vida.

Pouco antes de tudo isso, já em plena maturidade espiritual, IrmS


Teresa escrevera: "Para urna carmelita a morte nao tem nada de espantoso.
É o inicio da verdadeira vida para ela, que vai lancar-se nos bracos daquele
que sobre a térra amou sobre todas as coisas. Vai submergir-se no Amor
para sempre". Foram estas palavras que se realizaram nela. A única Reli
giosa sobrevivante das que Ihe assistiram no leito de morte, deixou este
testemunho: "Dava a impressSo de ir submergindo numa ¡mensa felicida-
de. Seu rosto, perdendo a palidez própria da morte, se ia ruborizando e
se iluminando, como que irradiando a felicidade da qual gozava".

367
32 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

2. LEGADO ESPIRITUAL

Paulo VI, em margo de 1978, nos últimos dias de seu pontificado,


dispds que se abrisse o processo de IrmS Teresa de Jesús de Los Andes o
mais rápido possi'vel. Era necessário que essa jovem, tSo che ¡a de vida, vin-
culadora de lacos de amizade tío sincera, amante dos esportes, mas, sobre-
tudo, fascinada por Jesús, fosse conhecida pela juventude moderna. Teresa
de Los Andes, urna adolescente de 20 anos, tem muito a dizer aos seus
coetáneos de hoj'e!

Mas a sua tao breve existencia fala somonte a eles?

Ao homem moderno, que busca tío ávidamente o equilibrio, a sereni-


dade e a maturidade, Teresa, dominando o seu caráter, pondo extrema
confianca em Deus, mantendo um íntimo relacionamento com Ele, dele
esperando tudo, mostra, com sua vida, o caminho a seguir para atingirmos
a plenitude de nosso ser.

é na comunhSo com Deus que o homem chega á mais alta dignidade


humana. IrmS Teresa é boa prava disso. Une com a maior naturalidadeo
trato com Deus e com os homens, a oracSo com a atividade. No estado de
plena comunhSo com Deus a que ela chegou, aquilo que é legítimamente
humano, longe de ficar anulado, purifica-se, fortifica-se e se aperfeicoa;
em urna palavra, diviniza-se.

** *

(Continuado da pág 348)


Os peregrinos, levando dois grandes icones de mais de 2 metros de altura, abrí-
ram as barricadas que ¡mpediam o acesso á Praca, enfrentando soldados fardados, que
queriam proibir a passagem. A multidSo parecía urna onda de gente que nao se podia
reprimir; alguns dos seus membros trajavam urna veste azul com os símbolos do 75?
aniversario das aparicoes de Fátima.

O grande grupo dirigiu-se para o centro da Praca, carregando os icones de Cristo


e de sua Mae SS. Aproximaram-se da Basílica de SSo Basilio; junto a esta havia urna
plataforma sobre a qusl urna pequeña imagem de Nossa Senhora de Fátima foi coroa-
da. A procissao caminhou um pouco mais, chegando perto do ícone de Nossa Senhora
de Kazan, Padroeira e Protetora da Rússia; entao o Arcebispo ortodoxo de Moscou, o
Pe. Ken Roberts, um capeláo das delegacfies estrangeiras rezaram juntos pela paz
e pela unidade, enquanto um intérprete traduzia as preces para a multidSo. Nunca um
fato semelhante a este ocorrera durante os mil anos de separacao entre católicos e
ortodoxos na catedral de Moscou.

Quando o grupo de peregrinos se foi, alguóm perguntou á interprete como ela se


sentía. Contando as lágrimas, disse: "Vos nos trouxestes Deus, vos nos trouxestes o
Amor". Estava tao comovida que nao pode continuar

(Continua na pág. 375)

368
Testamunho heroico:

O ITINERARIO DE UMACONVERSÁO
NA TCHECOSLOVÁQUIA

Em sfntese: O texto re/ata a convenio paulatina de urna /ovem


cidadi da antiga Tchecoslováquia, filha de país ateus, mas batizada no
luteranismo por influencia de seus avós. M.A., como ela mesma subscre-
ve, comecou a sentir a questio do sentido da vida, que o materialismo, no
qual era educada, nSo /he esclarecía. A/udada por um rapaz, de fé católi
ca, foi-se aproximando do Catolicismo, que, apesar de fortemente perse
guido, tinha suas expressdes de coragem e fídelidade na Tchecoslováquia.
Aos 18 anos de idade, M.A., em 2/11/1974, fez sua profissao de fé católi
ca e concebeu o dese/o de se consagrar tota/mente a Deus — o que nao era
fácil em seupafs de origem. Tomou-se viávef após urna visita a um conven
to de IrmSs Ciarissas na Polonia. Após o noviciado realizado na "Igre/a
do Silencio" ou clandestinamente em sua patria, M.A. professou a negra
das Ciarissas em 2/8/1986, feliz por ter conseguido atravessar duras prova-
cBes e chegar ao termo do seu itinerario religioso.

* * *

Publicamos, a seguir, a historia de urna Religiosa da Ordem de Santa


Clara, que conheceu o clima de perseguicSo comunista na Tchecoslováquia
e conseguiu manter-se fiel aos seus propósitos, sustentada pela graca de
Deus.

O texto é traduzido do francés, como se encontra na revista francis


cana "Evangile aujourd'hui" n? 152, pp. 26-31.

"PROFESSAR A FÉ NO SEIO DE UMA FAMILIA ATÉIA

'Tenho apenas 34 anos de idade, mas o caminho que me levou ató


Deus foi longo, muito longo, por vezes doloroso, mas na verdade maravi-
Ihoso', escreveu a IrmS no inicio do seu relato, que ela assina com a sigla
M.A.

369
3£_ "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

Ela nasceu nu ma grande cidade da Tchecoslováqu ia. Sete semanas de-


pois, foi batizada na igreja luterana, grapas aos seus avós, pois seus país nao
tinham fé, como nao a tinham os outros familiares. Seu pai era funciona
rio graduado do Partido Comunista Tcheco, de modo que eta pode rece-
ber urna ótima educacfo: foi matriculada na melhor escola, pode realizar
viagens ao estrangeiro e aprender cinco Ifnguas importantes. Ela tinha seis
anos de idade, quando Ihe nasceu um irmaozínho, que nunca foi batizado.
Quando estava com oito anos, os seus genitores comunistas, absorvidos
por compromissos políticos, entregaram a urna tía os cuidados de sua edu-
cacSo. Entrementes a sua mSe abandonou o lar para juntar-se a outro ho-
mem, de modo que, aos doze anos de idade, M.A. se tornou dona de
casa. O seu pai, cada vez mais solicitado por suas atividades políticas, con-
fiou-lhe o encargo de cuidar do irmSozinho.

Tendo superado os exames de bacharelado com éxito, M.A. pds-se


a estudar Filosofía, Ética e Artes. Ela se sentía vagamente crente.

Essa fé, frágil, pouco segura, passou por suas primeiras provacSes
em 1973. M.A. tinha 17 anos. Foí informada de que sua mae estava grave
mente enferma. O diagnóstico dos médicos era irreversfvel: cáncer no es
tómago. Durante tres meses, M.A. assistiu á sua m3e com dedicacSb; toda
vía nada podía fazer diante das dores cada vez mais insuportáveis da geni-
tora. Esta caminhava inexoravelmente para a morte. Consciente desses
sofrimentos, M.A. algumas vezes só podía desejar o fim rápido da doenca
de sua mSe.

Já naqueles dias tristes, e mais ainda após a morte de sua genitora,


M.A. sentía dentro de sí a questSo angustiante do sentido da vida huma
na. A vida de um homem ou de urna mulher ná"o seria mais do que um
punhado de cinzas? Mesmo que a questlo estívesse mal formulada, M.A.
sabia que a resposta seria capital para a sua própria existencia.

ACONVERSAO

Seis meses depoís, aproximavam-se as festas do fim do ano. Em cer


ta reuniao, M.A. devia recitar alguns poemas de Rabíndranath Tagore so
bre o Amor, a Vida e a Morte. A reuniio realizou-se num velho castelo,
longe do domicilio de M.A., e terminou em hora ayancada da noíte. Por
isto aceitou com prazer a oferta da companhia de um rapaz que a levaría
para casa. Durante a viagem, quando conversavam sobre a mensagem dos
poemas citados, o jovem perguntou-lhe a queima-roupa: 'Vocé tem fé?'.
A resposta, sem hesítacSo, foi positiva. EntSo o jovem declarou-se católi-

370
ITINERARIO DE UMACONVERSAO 35

co, e ambos concordaram com a idéia de, um dia, ir visitar urna igreja
católica.

M.A. já assistira urna ou duas vezes á Missa católica em companhia


de outrasestudantes. Tratándose da filha de um alto funcionario do co
munismo, isto era surpreendente. A visita á igreja na companhia do men
cionado rapaz tomou-se urna auténtica descoberta. Após a Missa, o sacer
dote foi ter com eles e contou-lhes a historia da sua vocacSb. Era jovem
professor, mas nao via sentido para a sua vida no contexto sócío-cultural
em que se achava. Foi no exercício do sacerdocio, difícil, mas magnífico,
que ele descobriu a riqueza espiritual da Igreja.

0 jovem amigo foi de novo procurar M.A. alguns dias após a visita á
igreja católica. Juntos voltaram a esta; passando de altar a altar, o rapaz
explicou a M.A. o sentido do sacrificio da Missa, a mensagem expressa por
cada Santo cuja estatua ou imagem se achava na igreja. A seguir, o jovem
pos-se a cantar algumas melodías muito antigás de cunho religioso, que ela
nunca ouvira anteriormente. - Assim M.A. descobriu a Igreja Católica e
sentiu dentro de si um fmpeto forte que a fazia exclamar: 'Quero conhe-
cé-la ainda melhor...'. M.A. doravante aplicou-se a estudar realmente o
Catolicismo.

Aos 2 de novembro de 1974, com dezbito anos de idade, foi admiti


da a fazer sua profissSo de fé católica: Nasceu em seu coracSo um estranho
desejo: o de consagrar toda a sua vida a Deus. Como, porém? Ela na*o o sa
bia. Mas percebia que, para pertencer totalmente a Deus, ela nSo se devia
casar. Sendo assim, como organizaría a sua vida? Ela também nSo o sabia;
em toda a sua existencia, ela nunca vira urna Religiosa. Mas a idéia de viver
totalmente para Deus encheu a sua alma de paz.

Entrementes o pai soube da conversSo de sua filha. Julgando que ela


sofría de grave choque psicológico decorrente da morte de sua mSe, ele a
levou a um psiquiatra. Este o tranqüilizou: a jovem era sadia de corpo e
alma. Entilo o pai, nada compreendendo da conduta de sua filha, entre-
gou-se ainda mais ao trabalho e cortou relaoSes com a jovem. Isto deve
ter sido muito doloroso para ambos, porque muito estimavam um ao
outro. Foi no inicio desse período de separacao do pai que M.A. encon-
trou a primeira Religiosa em sua vida. Religiosa clandestina (o que mais
ainda importava!).

O DESPERTAR DE UMA VOCACAO

Convém recordar que o Governo tchecoslovaco expulsou Religiosos


e Religiosas de suas casas na noite de 13 para 14 de abril de 1950. Muitos

371
36 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 376/1993

Religiosos foram entSo levados para campos de concentracSo; as Religio


sas, em grande número, foram distribuidas por usinas e fábricas. Chega-
ram a criar para elas 'conventos concentracionários'. A maioria dos Supe
riores, após processos simulados, foram encarcerados, alguns com a sen-
tenca de dez a vinte anos de reclusSo. Todo tipo de vida comunitaria foi
proibido; quem violasse essa proibicSo, e principalmente quem admitisse
candidatos á Vida Religiosa, corría o risco de longos anos de prisSo. A si-
tuacao das Irmas enfermeiras era menos penosa; já que havia falta de en
fermeiras, elas podiam ser lotadas em hospitais, especialmente no trata-
mento de doentes contagiosos. Mas em 1956 também as Irmas enfermeiras
sofreram a sorte de suas co-IrmSs, sendo enviadas para conventos concen
tracionários.

A primavera de Praga em 1968 devolveu-lhes a liberdade, mas,


dada a ¡ntervencSo dos tanques russos, essa liberdade quase n3o durou.
Nao obstante, os poucos meses de liberdade foram muito úteis. Enriqueci
dos pela experiencia dos dias diffceis, os Religiosos puderam criar novas
estruturas cuja eficacia foi posteriormente comprovada.

O controle exercido pelos órgaos do Partido Comunista era menos


preciso fora das grandes cidades. Por conseguinte, tres ou quatro Irmabs
(ou Irmas) podiam alugar urna casa discreta e ali organizar urna vida quase
conventual. Med itácito e oracSo da manha" antes de sairem para o trabalho.
De tarde, após o retorno das oficinas de trabalho, ainda oracdes (Oficio
Divino) e Missa; depois, leitura espiritual e, para os jovens, estudo de Teo
logía ou da Espiritualidade da Ordem ou Congregacao respectiva. Jantar e
recreio em comum; e a jornada se encerrava com a recitacSo de Vésperas e
Completas. A Missa era sempre celebrada por um sacerdote clandestino,
pois ninguém tinha confianca nos sacerdotes autorizados pelo regime.

Esta situacáo muito tensa devia mudar após novembro de 1989, ano
da canonizacSo de Santa Inés de Praga, Clarissa e amiga de Santa Clara,
que se tomou assim.sete sáculos após a sua morte, a protetora das Irmas
na Tchecoslováquia...

Voltando ao passado, registra-se que na primavera de 1975 M.A. co-


mecou a estudar seriamente a vida conventural regular. Para a sua grande
felicidade, a jovem convertida encontrou algumas IrmSs franciscanas en
fermeiras. Foi admitida por estas como postulante. O inicio da experiencia
foi difícil; mas a Providencia Divina deu a M.A. urna Mestra de Novicas
cheia de sabedoria, a quem a jovem ficaria devendo muito da sua forma-
cao. A direcSo espiritual era-I he prestada por um padre franciscano.
Infelizmente nao por muito tempo, pois o padre foi denunciado e preso,
juntamente com varios outros franciscanos.

372
ITINERARIO DE UMACONVERSÁO 37

M.A. DESCOBRE AS CLARISSAS

Enquanto continuava a trabalhar junto aos doentes, gracas as Francis


canas enfermeiras, M.A. pode estudar a espiritualidade franciscana. Mas o
seu coracSo n3o encontrou repouso; por ocasiSo de suas meditacSes,
estava perplexa ao verificar suas incertezas. Intensificou suas oracñes: du
rante um mes ela recitou diariamente a Via Sacra. Foi nessesdiasde inten
sa procura que a Mestra de Novicas Ihe deu, para ler, uma biografía de
Santa Clara. Rasgou-se entSo a cortina de suas incertezas: foi a revelacSo.
Quantas luías, quantas incompreensfies, quantas dores... e finalmente estas
palavras sublimes: 'Senhor, eu te agradeco por me teres criado...', escreveu
M.A. em seu Diario. 'Quealma sublime! Meu coracSo p6s-se a bater muito
forte. E que autenticidade nessas simples palavras, que alegría!'. M.A. re-
solveu ¡mediatamente procurar uma Clarissa — o que nSo era coisa fácil.
Pediu conselho a um frade franciscano que fízera seus estudos na Polonia
e lá encontrara um auténtico mosteiro de Clarissas. O jovem padre deu-lhe
uma carta de apresentacSo para a Abadessa das Clarissas, e M.A. seguiu pa
ra a Polonia.

Nesse mosteiro, a jovem passou seis meses; mas recordar-se-ia dessa


estada como sendo uma das mais belas temporadas de sua vida, embora o
inicio também tenha sido difícil. Ela ia compreendendo o sentido da vida
regular comunitaria, com suas alegrías, e suas dores. As Clarissas polonesas
a teriam hospedado por mais algum tempo, mas as leis tchecoslovacas a
obrigavam a voltar ao seu país. Regressava, mas já nSo se via sozinha: uma
outra jovem tcheca, animada pela mesma vocacSo, a acompanhava. Eram
duas, portento, mas o seu futuro era incerto. Foram visitar as Clarissas do
convento concentracionário de Osseg, mas apenas receberam reconforto
espiritual sem alguma solucgo em vista. Evidentemente elas nSo podiam fi-
car em Osseg. Vinha a M.A. a idéia de emigrar para o estrangeiro, mas a
sua companheira a rejeitava logo: 'Temos que f¡car em nosso país, nosso
lugar é aqui; este país precisa de nossas oracSes'. M.A.entao, resoluta co
mo era, foi procurar o Cardeal Tomasek de Praga; este, após escutar tonga
mente o relato de vocacáb das jovens, prometeu ajudá-las. Tres meses de-
pois, chegou a permissSo de Roma para que comecassem sua vida de Cla
rissas na Tchecoslováquia, em clandestinidade. Ambas receberam o hábi
to de Clarissas em 1981.

M. A. CLARISSA

Esse tipo de Noviciado extraordinario revelou-se logo bem mais di


fícil do que imaginavam: 'Estudávamos a Vida, as Regras e as Constituí-
cSes das Clarissas traduzidas por um padre franciscano. Morávamos as

373
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1993

duas na mesma casa; rezávamos diariamente juntas, e também íamos


juntas para o trabalho. Mas a incerteza da nossa condicSo, do nosso futu
ro pesava fortemente sobre as nossas almas. Após seis meses de Novicia
do, a companhejra de M.A. abandonou a luta e voltou para o mundo.
Hoje está casada, tem urna bela familia crista e, como Terciaria de SSo
Francisco, anima a vida litúrgica da sua paróquia.

Na mesma época o pai de M.A. morreu sem dar o mínimo sinal de


reconciliacSo com Deus, também sempre afastado da sua filha. M.A. ex-
perimentou mais urna vez o sentido da solidao, mas em sua alma ela já
gozava da presenca e do reconforto de Deus. Para ela, urna só coisa im-
portava: continuar seu Noviciado para ser fiel ao apelo de Clara.

CLARISSA PARA SEMPRE

Em 1983 o Padre Provincial dos Capuchinhos foi encarcerado, mas,


antes de ser aprisionado, ele pode delegar suas facuidades a um de seus
sacerdotes, incluida a faculdade de receber a profissSo de M.A., caso es-
tivesse em condicSes e quisesse realmente tornar-se Clarissa para sem
pre. M.A. permaneceu firme em seus propósitos.

A cerimdnía dos votos temporarios estavam presentes apenas o sa


cerdote celebrante e as duas testemunhas. Mas o coraca'o de M.A. estava
em festa, cheio de paz e de alegría franciscanas.

Fora, na vida cotidiana, havia sempre médo e angustia alimentados


pelas autoridades civis e políticas; mas, apesar de tudo, multíplicavam-se
as cand¡datas para a Vida Religiosa. M.A. logo teve urna e, depois, duas
companheiras que desejavam viver segundo as Regras e ConstituicÓes de
Santa Clara. Rezavam juntas, viviam em pequeña comunidade, participa-
vam sempre da Missa cotidiana dos sacerdotes clandestinos após a sua jor
nada de trabalho. Os vizinhos sabiam muito bem que perto deles vivia urna
pequeña comunidade proibida, mas ninguém asdenunciou. As pessoasco-
mecavam a ter esperance...

Chegou finalmente o dia da profissSo solene e definitiva. M.A. nota


em seu Diario: 'Em lugar da minha familia, que perdí, Deus me deu urna
verdadeira familia espiritual... Prostrada diante do altar, minha vida passou
ante os meus olhoscomo um filme; minha familia comunista, minha inces-
sante procura de Deus, a morte da minha mae, a incompreensab, as dúvi
das, a morte de meu pai, de novo a luta, as incertezas, os perigos, as angus
tias... tudo isto agora é passado... Minha alma respira em grande paz e ale-

374
ITINERARIO DE UMA CONVERSAO 39

gria... Como está escrito no Salmo 126: 'Os que semeiam em lágrimas, co-
IherSo em cantos'.

Aos 2 de agosto de 1986, dia da Porciúncula, festa de Nossa Senhora


dos Anjos, cercada de Irmfos e IrmSs Franciscanas, M.A. emitiu sua pro-
fissSo solene e definitiva, recordando-se das palavras de Santa Clara:
'Senhor, eu te agradeco por me teres criado!'.

* * *

O relato concerniente a M.A. Clarissa á um testemunho de como a


graca de Deus age nos coracSes bem dispostos, apesar dos mais ameaca-
dores obstáculos que se Ihes possam opor. A luta do homem contra Deus
redunda nSo em morte de Deus, mas em morte do homem, que assim se
autodestrói, sem lograr extinguir o atrativo que Deus exerce sobre as suas
criaturas.

. * * *

(Continuapao dapág. 368)

No dia 17/10/92, o Arcebispo de Moscou recebeu os delegados provenientes de


Fdtima, que Ihe ofertaram um ícone de Ndssa Senhora de Fátima, comemorativo do
75? aniversario das aparicoes. O prelado Ihes disse que podía ser apresentado no dia
seguinte no Offcio Litúrgico da catedral e acrescentou:

"Conhecemos a mensagem de Fátima; durante os anos negros, essa mensagem foi


nossa esperanca... Sabemos que o original do i'cone de Nossa Senhora de Kazan está em
Fátima e esperamos o seu regresso para a Rússia. Temos aqui urna copia dele, junto á
qual as pessoas vím rezar. Vamos juntos rezar diante déla".

Disse aínda o Arcebispo: "Agradecemos aqueles que oraram pela liberdade


religiosa na Rússia".

Tais fatos merecem relevo, principalmente se pensamos que até 1989 jamáis
teriam podido ocorrer. A intercessSo da Virgem Míe de Deus e dos homenj terá obtido
do Onipotente Senhor a grande graca da liberdade religiosa após mais de setenta anos
de perseguicao na URSS, em cumprimento da predicáb: "A Rússia se converterá e será
concedida grande era de Paz á human idade".

Noticias colhidas no jornal L'Homme Nouveau, 15/11/1992, p.6.

375
Psicotécnicas e Religiib:

ACIENTOLOGIA

Em síntese: A Cientologia é urna corrente de pensamento filosófico-


religioso mesclada a técnicas psicoterapias, que, conforme o fundador Sr.
Lafayette ñon Hubbard (1911-1986), devem despertar no discípulo a
consciéncia de que ele é ¡mortal. A Cientologia • submete seus adeptos a
cursos varios e sessdes de psicoterapia ditas auditing, que resuitam muito
caras para quem as segué, podendo provocar a crise financeira dos clientes.
Tais cursos procuram purificar a mente de ferimentos e chagas que tenha
contraído em existencias anteriores é atual: tal processo percorre varias
etapas, passando pelos graus de Preclear, Clear e Operating Thetan.
O Thetan seria a esséncia espiritual do homem, a sua alma, o verdadeiro
eu, que decaiu de um estado de perfeicSo para dentro da materia; passa
por varías reencarnacdes até se purificar totalmente e conseguir plenos po
deres sobre o tempo e o espaco.

0 regime da Sociedade Cientologista é fortemente autoritario. Os


seus membros sao incitados a considerar os demais homens com desconfi-
anca, pois Ihesparecem inimigos em potencial.

Estas características tém suscitado fortes polémicas contra a Ciento-


logia, da parte, principalmente, de profissionais da psicoterapia; dentro
mesmo da Escola Cientologista hé pessoas que se afastam da Chefia central
e tentam fundar grupos dissidentes, menos autoritarios e mais baratos (em
seus custos). Varias familias norte-americanas e européias se queixam de
graves males psíquicos e financeiros de que sofrem seus filhos após fre-
qüentarem a Cientologia.
* * *

Entre as novas correntes religiosas de nossos dias está a Cientologia.


É muito singular, porque funde numa so mensagem concepcfies religiosas,
exercício de psicotécnicas e procura de dinheiro e poder. Conta, como se
diz, cerca de sete milhfles de adeptos esparsos por diversos continentes
ou em trinta países. A Cientologia está associada á Dianótica, ou seja,
á ciencia que explica o modo como funciona o intelecto humano. Desta
maneira o Cientologia pode ser ctassificada entre as correntes religiosas

376
CIENTOLOGIA 41

que tentam explorar o potencial psíquico do ser humano. - Procuremos


analisar o seu sistema.

1.0 FUNDADOR

O fundador da Cientologia é o norteamericano Lafayette Ron Hub


bard (1911-1986). Deste personagem ngo se tem urna biografía muito fi
dedigna, pois alguns de seus familiares resolveram romper com a Ciento-
logia e emitiram depoimentos sobre Hubbard que nao sSo aceitáveis por
que nao verídicos.

Sabe-se. porém, que o fundador era filho de um Oficial de Marinha;


viajou com seu pai, ao menos urna vez, pelo Oriente. Também teve con
tatos com psicanalistas. Até 1949 dedicou-se á literatura de fícelo (aven
turas policiaise pseudo-c¡encía). Em 1950 publicou alguns escritos sobre
Dianética (Dianetics). Em 1954 fundou o que Hubbard chamou "a Igreja
da Cientologia", baseada sobre a Dianética. Essa nova Sociedade propa-
gou-se pela Australia, a Nova Zelandia e a Europa. Em 1959 o fundador
transferiu-se para a Inglaterra. 0 cultivo de suas idéias suscitou a Hubbard
o antagonismo e debates (que o levaram a deixar a Inglaterra em 1966).
Passou a viver a bordo de urna nave - Apolo -, a partir da qual dirigia a
Sea Org (Organizacao do Mar ou Marítima), que vinha a ser urna especie
de Congregacáb Religiosa dentro da "Igreja da Cientologia". Ñas décadas
de 1960 e 1970 foi crescendo a hostilidade contra a Cientologia em varios
países do mundo; na Australia alguns Estados promulgaram leisque impe-
diam as atividades desse movimento religioso; todavía em 1983 a Suprema
Corte Australiana houve porbem reconhecé-lo como organízacao religiosa
lícita. Nos Estados Unidos a oposícao era suscitada em parte pela categoría
dos psiquiatras, que denunciavam charlatanismo e exploracáfo da creduli-
dade pública. Hubbard passou em retiro os últimos anos de sua vida, que
terminou em 1986.

A obra de Hubbard gerou polémicas clamorosas até nossosdias. Assim


em 1988 a Alemanha Ocidental concedeu á Cientologia o título de organi
zado religiosa oficialmente reconhecida; os alemles, porém, discutem ar
dorosamente a respeito, a tal ponto que um articulista — Hans-lngo von
Pollern - da revista Herder-Korrespondenz (agosto de 1992) classifica a
Cientologia como Deutschlands gefaehrlichste Sekte (a mais perigosa seita
da Alemanha). Em outros países há processos judiciários contra a Ciento-
logia. Na Italia as sedes desta organizado forarrt fechadas e, posteriormen
te, reabertas em parte; militas pessoas foram acusadas perante os tribunais
de Milao por causa de suas atividades cientologistas.

Vejamos agora em que consiste a mensagem dessa "Igreja".

377
42 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 376/1993

2. A MENSAGEM DOUTRINARIA

A Cientologia pretende oférecer aos seus seguidores o estudo e o


"acompanhamento pastoral" necessários para que tomem consciéncia da
sua imortalidade e possam atingir a mais elevada verdade. O caminho que
conduz a tais metas, é chamado "a Ponte para a plena Liberdade".

Mais precisamente: Hubbard concebe o ser humano como urna má


quina necessitada de conseno. Com efeito; a mente (mind) humana, limi
tada como é, nao permite ao individuo tomar consciéncia de que ele é des
tinado a sobreviver após a morte. O homem traz em si muitas cicatrizes
devidas a ferimentos psíquicos que ele sofreu em encamacdes anteriores;
ora, sempre que na vida presente um agente qualquer (cansaco, decepcáb,
baque...) toca numa dessas cicatrizes, a mente traz á tona os acontecimen-
tos desagradareis que a afetaram em existencias pregressas.

Pois bem, diz a Cientologia; é preciso apagar ou extinguiressascica


trizes do íntimo do sujeito e comunicar-lhe o otimismo derivado da pers
pectiva da feliz imortalidade. Esta tem em vista libertar o homem dos
seus engramas (cicatrizes) e levá-lo ás condicSes de cléar, condicSes alta
mente vantajosas, pois implicam aumento do Ql, melhoras da saúde física
e sucesso nos negocios. A Dianética realiza essa sua terapia em sessSes cha
madas auditing, sessSes ñas quais a pessoa, mediante regressSb no tempo,
considera os ferimentos que recebeu outrora e se dispSe a apagá-los defi
nitivamente da memoria; o mais importante engrama é o basic-basic ou o
primeiro de todos (pode ter sido urna tentativa de aborto, que sacrificaría
o ¡nteressado ou preclear, urna enfermidade da m§e ou urna relacSo sexual
da genitora durante a gravidez). No decorrer da sessSo psicoterapéutica
ou auditing, é utilizado um aparelho chamado E-meter, eletrómetro inven
tado por Hubbard para permitir ao preclear recordar-se mais rápidamente
dos traumas psíquicos de outrora e averiguar o apagamento dos mesmos.
Tal aparelho procede medindo a resistencia da pele aos estímulos que
Ihe vém de fora. — Quando todos os engramas tiverem sido apagados, o in
dividuo terá ná*o mais urna mente reativa (reactive mind), mas urna mente
analítica (analytic mind) e atingirá as condioSes de clear. O caminho da
Dianética até o estado de clear resulta caro, mas os dirigentes da Cientolo
gia observam que os outros tipos de psicoterapia nSo s3o mais baratos; além
do qué, seriam inúteis ou mesmo prejudiciais por que nao atinariam com o
essencial (os engramas); os remedios psicotrópicos e as intervencSescirúr-
gicas sa*o tidos pela Cientologia como violacfies dos direitos humanos.

A sessio dita auditing vem a ser o cerne da Cientologia e da sua dou-


trina. É orientada por um auditor diplomado pela Escola Cientológica; es-

378
CIENTOLOGIA 43

te ouve o paciente e prop5e-lhe perguntas, que tém por objetivo ajudar o


preclear a descobrir e remover limitares a ele impostas pelo seu passado;
o auditor anal isa os pretensos erros cometidos apontados peto cliente e
procura chegar ás causas desses defeitos. O processo que ocorre entre o
mestre e seu cliente, se prolonga tanto quanto seja necessário para que o
paciente se torne plenamente consciente da sua identidade, assuma o exer-
cício da sua liberdade e saiba ser chamado á ¡mortalidade.

Segundo a Cientologia, o ser humano consta de tres componentes:

1) o Thetan: espi'rito puro, que existe "desde o principio"; é omni-


cíente e ¡mortal; através da "pista do tempo" percorre varias vidas. A prin
cipio todos os Thetan gozavam de profunda felicidade num eterno presen
te. Julgaram, porém, que tal estado era fastidioso e, por isto, resolveram
"jogar um jogo" criando os universos. Acabaram sendo vítimasdesse jogo
mesmo, pois se deixaram absorver pelos mundos de materia, energía, es-
paco e tempo; esqueceram que eram os criadores livres e independentes da
realidade material e deram-se por prisioneiros dos corpos;

2) o Corpo: é um componente do ser humano hoje, mas um compo


nente indesejado;

3) a Mente, sistema de comunicares entre o Thetan e o mundo am


biente.

Através das sessoes da Cientologia (auditing), a pessoa passa por sete


graus de purif¡cacao dos engramas; como dito, ao fim deste processo, deixa
de ser preclear para ser clear. Isto, porém, nao ésenSo a primeiraetapade pu
rif¡caca*o. A segunda é chamada a etapa do Thetan operativo (operativo
thetan), que, por sua vez, compreende oito degraus. Nesta segunda grande
fase, o Thetan passa a entender que o mundo visfvel nSo é urna realidade
plena, mas, sim, urna realidade aparente; os degraus fináis desta fase sao
mantidos em segredo pelos dirigentes da Cientologia. Alguns dissidentes
desta Escola narraram "ter feito a experiencia de seres mitológicos, envol
vidos outrora em guerras ñas estrelas há milhfies de anos". Assim o Thetan
operativo vai aprendendo a deixar seu corpo; a morte do individuo é um
acídente secundario nessa caminhada, que tende ao encontró com o Abso
luto ou Infinito, o qual pode ser chamado "Ser Supremo" ou "Deus". É
esta relacío a Deus que justifica, aos olhos de Hubbard, o nome de Igreja
da Cientologia-(Igreja que tem seus cerímoniais e rituais próprios para o
nascimento, o casamento e os funerais), mas que pouco fala de Deus e
atribuí ao culto sagrado urna importancia secundaria.

379
44 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 375/1893

3. A ETICA DA CIENTOLOGIA

Pódese dizer que as concepc3es éticas da Cientologia sao contraditó-


rias:de um lado, esta Escola propOe finalidades transcendentais; de outro
lado, porém, tem os olhos voltados para a conquista de dinheiro e poder.
- Sao declarares de Hubbard:

"Aspiramos únicamente á evolucSo e a elevados graus de existencia


para o individuo e a sociedade... Urna civilizacio sem doencas mentáis,
sem crimes e sem guerra, em que as pessoas idóneas tentam sucesso e os
homens honestos exercam seus direitos e gozem da liberdade de chegar a
metas mais elevadas. Tais sSo os objetivos da Cientologia".

Eis, porém, que Hubbard também escreveu:

"A única razio em virtude da qual existem organizacoes, é oferecer


bens materiais e servicos aos seus membros em troca de urna contríbuicio
e procurar pessoas famosas ás quais essesbenspossam ser oferecidos... To
das as organizacdes da fgrefa da Cientologia foram fundadas únicamente
em vista deste objetivo".

Assim dir-se-ia que, conforme os cientólogos, a promocao da humani-


dade e a venda de beneficios (como livros e cursos) s3o coisas inseparáveis
urna da outra.

A Ética é explicitamente conceituada como a superacá*o de todo tipo


de resistencia ao programa da Cientologia. é, como diz Hubbard, "o rolo
compressor que aplaina a estrada". Nesta perspectiva n§o há lugar para a
tolerancia em relacSo aos adversarios; nSo há respeito para com a pessoa
humana que pense diversamente. No livro "Ética da Cientologia" s?o tidos
como meios legítimos para conseguir manter e expandir o poderío da Es
cola "a corrupcSo moral, a agressáo física, os prejuízos materiais, a perse
guidlo e o esmagamento de quem professa outra filosofía, a violencia con
tra os inimigos". Os que criticam e combatem a Cientologia, vém a ser
considerados inimigos do género humano, dado que a Cientologia é tida
como a única via de sobrevivencia da humanidade. Porconseguinte, o fim
justifica os meios.

Tais concepcdes e a aplicacSo prática das mesmas estao confiadas ao


"Inspector Geral da Ética", que é um dos membros graduados da Escola.
Compreende-se entSo que a Cientologia venha a ser a tentativa de criar
um grande imperio, dotado de poderosa economía, que procura ganhar di
nheiro e aumentar seu capital enquanto apregoa a desencarnacSo dos seus
membros.

380
CIENTOLOGIA 45

Num dos folhetos programáticos da Cientologia lé-se: "Make Money,


make more Money" (Faca dinheiro, faca mais dinheiro).

4. HIERARQUIA E ORGANIZACAO

A Igreja da Cientologia é estruturada segundo urna hierarquia cujo


principio básico é "Preceito e Obediencia", preceito que tem por finalida-
de facilitar a expansSo da mensagem respectiva. A chefia da "Igreja" tem
sede em Los Angeles (USA), onde se acha o "Religious Technology Cen-
ter". Os programas dessa chefia sSo claramente orientados para a conquis
ta de dinheiro e poder; a execucáo dos mesmos é controlada por oficiáis
graduados, entre os quais o Inspector Geral da Ética.

A fim de atrair adeptos, podem ser ministrados cursos gratuitos,


que tornam a Escola simpática ao público. O discípulo que queira abando
nar seus cursos, é pressionado mediante cartas, telefonemas e aconselha-
mentos minuciosos para que nSo o faca.

0 auditor ou "terapeuta", através das sessSes respectivas (auditing),


vai conhecendo o i'ntimo dos clientes - o que Ihe facilita persuadir o discí
pulo a que nao deixe a Escola. Todo membro da "Igreja" que tenha con
tato com pessoa infensa á Cientologia, é tido como PTS (Potential-Trou-
ble-Source), Fonte Potencial de PerturbacSes, ao passo que a pessoa in
fensa é SP (Suppressive Person). A pessoa PTS é munida contra as cn'ticas
e objecSes que Ihe venham da SP; se a PTS se mostra influenciada pelas
cn'ticas, 6 submetida a tratamento especial ou a castigo; sao-lhe sonegados
alguns servicos da Escola.

Para Hubbard, os que criticam a Cientologia, s3o criminosos: "Nunca


encontramos um crítico da Cientologia que ná"o tivesse um passado crimi
noso". Por cautela, o fundador manda, através de urna lnstrucá*o Secreta,
que os seus adeptos pocurem sondar e perscrutar o tipo de pessoas que os
visitam: onde trabal ha ou trabalhou, qual o seu módico, o seu dentista,
quais os seus amigos, os seus vizinhos... — Assim poderío talvez descobrir
algum criminoso!

Os ¡nstrutores da Cientologia sa*o admoestados para que dispensem


benevolencia e amabilidade aos novos adeptos; tal atmosfera simpática de-
ve contribuir para que os novatos se convencam de que em seu íntimo
existem pontos fracos (ruins, ruinas), que s3o de importancia vital ou mor
tal e exigem absolutamente um tratamento, ou seja, a Dianática. A fim de
que o candidato tome conhecimento de si e de suas carencias moráis,
ele recebe um questionário com duzentas perguntas aproximadamente,

381
46 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 376/1993

destinadas a propiciar "urna análise científica" das capacidades do indivi


duo; entre as perguntas, acham-se as seguintes:

"Costuma ser difícil, para vocé, reconhecer urna falha e assumir a res-
ponsabilidadeda mesma?

Será que vocé, alguma vez, senté os seus músculos contrair-se, mesmo
quando nao há motivo para contracto?

Vocé confessaria estar em erro apenas por amor á paz?

Acredita que naja pessoas que Ihe sio avessas e que trabalham contra
vocé?

Reflete vocé muitas vezes sobre infortunios passados?

Cai ocasionalmente em situacSes de apuros?

ñói vocé as suas unhas ou outros objetos?

Será que vocé nao deverá esforcar-se para pensar em suicidio?

Paga vocé as suas dividas e cumpre as suas promessas desde que isto
seja possível?"

Estas perguntas tém o objetivo de levar o candidato a tomar consci-


éncia de que ele traz em si pontos fracos. Dado este passo, a candidato
se convencerá de que deve seguir passo a passo o roteiro indicado pela
Cientologia para chegar a plena liberdade interior. O teste também tem
a vantagem de fornecer ao instrutor um conhecimento mais profundo
do candidato, conhecimento que será utilizado para mais vincular o dis
cípulo á Escola: o candidato receberá, na base das suas respostas, instru-
cSes oráis e escritas, que Ihe oferecem amizade e ajuda; receberá visitase
telefonemas, que o atrairSo mais e mais á Escola. Todo um modo de pen
sar e falar é transmitido ao discípulo; assim, por exemplo, ser-lhe-á incui-
tido que o vocábulo "Ética" significa a remojo de tudo o que se op6e a
Cientologia.

A terapia cientológica ¡sola totalmente o candidato em relacSo aos


genitores e familiares. Procura cortar todo o relacionamento com a parente
la. Freqüentemente dizem os pais que seus filhos na Cientologia foram ra
dicalmente transformados; ná"o compreendem que jovens, ató época recen
te muito sobrios e parcimoniosos, de repente se tenham endividado tanto.
Na verdade, este endividamento se explica pelo fato de que o discípulo

382
CIENTOLOGIA 47

novato é submetido a cursos que ele deve pagar; tais cursos e outros meios
de "cura" sa*o indicados a cada um pelo Inspector do respectivo Centro
de Cientologia; a principio, sá"o de preco tolerável, mas váo-se tornando
cada vez mais caros, a ponto de causar total dependencia e endividamento
em relacáo á Cientologia.

A Cientologia tem membros efetivos, comprometidos, e clientes (sim


patizantes) . Isto explica as discrepancias das estati'sticas. Em 1988, seis mi-
IhSes de pessoas no mundo inteiro tinham passado ao menos por um curso
de Cientologia ou se haviam submetido ao auditing. 0 primeiro contato
com tal Escola decorre, nSo raro, de um anuncio em jornal ou de urna car
ta: a pessoa, convidada a fazer um teste de personal idade, encaminha-se
para urna sede da Cientologia, onde Ihe propSem as vantagens de seguir
cursos e tratamentos para melhorar um ou outro aspecto de seu caráter
pessoal.

5. QUE DIZER?

A Cientologia quer ser "ciencia exata, técnica psicoterápica, filosofía


e religiSo"; na verdade, é urna mesclagem de psicotécnicas, teorías reencar-
nacionistas e ciencia de ficcao (fantaciéncia). Em conseqüéncia, já foi de
finida como "um budismo tecnológico". Por su as promessas de beneficios
corpóreos e espirituais, consegue atrair mu ¡tos adeptos, que nao se recu-
sam a pagar os altos custos, que correspondem á ¡niciacá'o cientológica;
nSo poucos destes se projetam assim na ruina financeira, sem conseguir
vantagem alguma de ordem psíquica ou espiritual; antes, tornam-se mais
e mais dependentes dos seus mestres-orientadores.

Deve-se também observar que a Cientologia incorre no desrespeito á


pessoa humana, submetendo-a a urna estrutura totalitaria. Pretende ser a
única cosmovisÉo aceitável, de modo que quem nao a compartilha é in¡mi
go do discípulo da Cientologia e do género humano. 0 amor ao próximo
é, pois, algo de estranho a esta Escola, como estranhos Ihe s3o osdireitos
humanos e a protecSo devida á familia.

Em linguagem religiosa, pode-se dizerque a Cientologia é urna doutri-


na que ensina a auto-salvacSo ou a redenc&o do individuo pelo individuo,
sem levar em conta a graca ou o auxilio de Deus. De resto, o concertó de
Deus é vago na Cientologia, aproximando-se do panteísmo, já que o The-
tan do homem é tido como "espirito que existe desde o principio, omni-
ciente e ¡mortal". Donde se vé que é despropositado o nome de "Igreja"
atribuido á Cientologia.

383
48 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 37S/1993

Como todos os movimentos de sucesso, a Cientologia conheceu tam


bé m as suas divisñes ou rupturas. A partir da década de 1950, alguns se
guidores da Escola preconizaram urna Cientologia mais aberta e simpática
ao público e menos comercial. Todavía acabaram reproduzindo a organi
zado de Hubbard. Aponta-se assim urna constelacSo de pequeños grupos
cieritológicos, mais ou menos independentes entre si. Em conseqüéncia, a
Cientologia;'por seu chafe central em Los Angeles, tem movido processo
contra esses pequeños grupos, acusados de violar os direitos autorais de
Lafayette Ron Hubbard.

Entre as faccd'e.s dissidentes sobressai, por seu número de adeptos, o


Advanced Abitity Canter, fundado em Santa Barbara na California por
David Mayo.

Muitas familias norte-americanas e européias lamentam os males cau


sados pelo fascínio vazio da Cientologia sobre as jovens geracSes.

BIBLIOGRAFÍA:

CASCARD, JOHANNES /?., Le Nuove Religioni. Tra anelito e Pato-


logia.fdizioni o Paol'me, Milano 1989.
INTROVIGNE, MASSIMO, Le Nuove Religioni. Sugarco Edizioni,
Milano 1989.
von POLLERN. HANS-INGO, Deutschlands gefáhrlichste Sekte,
em Herder-Korrespondenz, n? 8, agosto 1992, pp. 379-383.

♦ * *

UM SO ATO DE AMOR...

"TODOS OS CORPOS. O FIRMAMENTO, AS ESTRELAS. A TÉRRA E SEUS


REINOS NAO VALEM O MENOR DOS ESPl'RITOS. POIS O ESPÍRITO CONHECE
TUDO ISSO, E CONHECE A SI MESMO. E OS CORPOS NADA CONHECEM.
TODOS OS CORPOS REUNIDOS, E TODOS OS ESPl'RITOS REUNIDOS, E
TODAS AS SUAS OBRAS NAO VALEM O Ml'NIMO MOVIMENTO DE AMOR.
POIS O AMOR PERTENCE A UMA ORDEM DE COISAS INFINITAMENTE MAIS
ELEVADA.
DE TODOS OS CORPOS REUNIDOS NAO SE PODERIA EXTRAIR UM MÍ
NIMO PENSAMENTO. É IMPOSSlVEL. POIS PERTENCE A OUTRA ORDEM DE
COISAS. E DE TODOS OS CORPOS E ESPl'RITOS NAO SE PODERIA EXTRAIR
UM MOVIMENTO DE VERDADEIRO AMOR. ISTO É IMPOSSlVEL, PERTENCE
A OUTRA ORDEM DE COISAS, Á ORDEM SOBRENATURAL".
(Blaisa Patcal, Parlamentos n? 793).

384
t.f:

Álbum com 110 págs. coloridas (30 x 23). texto histórico expli
cativo documentado, de autoría de D. Mateus Rocha O.S.B.
— Em 5 línguas, volume separado (portugués, espanhol, fran
cés, inglese alemao).

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Em Comemoracao do IV Centenario de sua Fundagao

408 páginas (30 x 23) de uma obra ricamente policromada


Texto histórico documentado por D. Mateus Rocha OSB

É a crónica corrida e compacta da construclo do Mosteiro, da sua


igreja e das obras de arte nele comidas. Resume as mais diversas contri-
buicoes que, durante séculos. formaram o patrimonio da Ordem Benediti-
na na provi'ncia do Rio de Janeiro.

Palavras do renomado arquiteto Lucio Costa:

"Esse mosteiro - este monumento — é, sem dúvida. a áncora da ci-


dade do Rio de Janeiro. - Em boa hora o intelectual e fotógrafo Humber
to Moraes Franceschi que já nos deu a obra-prima "O Oficio da Prata",
resolveu fazer, com o pleno apoio do engenheiro-Abade 0. Inácio Barbosa
Accioly (falecido a 26 de maio de 1992) — impecável dono da casa - este
definitivo inventario visual, velho sonho de 0. Clemente da Silva Nigra."

Oe D. Abade Inácio Barbosa Accioly:

"Hoje o Mosteiro é realmente a áncora da cidade do Rio de Janeiro.


É igualmente foco de luz ardente que. sem qualquer ostentagáo ilumina to
dos aqueles que aqui vivem, que aqui vém louvar o Senhor, ou que aqui
encontram alimento para a chama misteriosa de sua fé — pois o Mosteiro
nao é um simples monumento ou um museu, mas uma casa viva a irradiar
a presenca de Deus."

Da mesma obra, álbum com 110 págs. 130 x 23) somante sobre a IGREJA DE SAO
BENTO, em S volumes separados ñas línguas portuguesa, espanhola, francesa, inglesa
ealemS.

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