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Carta da Mamãe

"Você é o Sr. Edward?"

Eu pisquei, surpreso, enquanto olhava pra baixo, para a garotinha a minha frente. Seus
olhos castanhos-chocolate estavam abertos e curiosos, e havia um pequeno sorriso
flutuando em seus brilhantes lábios rosados. Sua pele – de um escuro castanho
avermelhado – era tão macia sob minha mão enquanto eu me abaixava e segurava seu
ombro levemente, para que eu pudesse encarar seus olhos.

"Eu me chamo Edward Cullen" Eu esclareci, confuso. "Eu conheço você, senhorita?"

Ela riu da minha formalidade, e então, sacudiu a cabeça.

"Nuh uh. Mas, minha mamãe conhecia você."

Meu coração – parado há mais de cem anos – despedaçou-se quando eu percebi por
que os olhos da garotinha, tão profundos, tão belos, pareciam tão familiar.

"Bella?" Eu sussurrei, e dizer o nome que não havia sido dito há mais de quinze anos
fez meu coração partir-se novamente. Eu sabia que, se eu pudesse derramar lágrimas,
elas estariam correndo pelas minhas bochechas, tão frias, tão duras, tão pálidas, nesse
exato momento.

A garotinha assentiu.

"Uh huh! Essa era minha mamãe. Aqui." Ela disse, enquanto procurava algo dentro de
sua mochila rosa-claro em formato de gatinho e seu pequeno punho agarrou um
envelope – gasto pela idade e uso. Ela o colocou em minhas mãos e sorriu, mostrando
uma grande fenda de onde seus dentes da frente tinham caído. "Mamãe disse que, se
um dia eu te visse, eu devia te entregar isso.”

"Obrigado," Eu sussurrei, já que eu não podia permitir que minha voz se elevasse nem
um pouco, por medo de que eu começasse a soluçar. Meus dedos dançaram por sobre
o papel gasto – eu estava certo de que a garotinha tinha olhado para aquela carta
infinitas vezes – e eu lutei contra os sentimentos que ameaçavam me consumir. Os
sentimentos que ficaram trancados por tanto... tanto tempo. "Obrigado," Eu sussurrei
novamente, e a garotinha sorriu orgulhosamente.

Mas seu sorriso decaiu e ela se virou rapidamente, seus olhos se iluminaram com
felicidade quando eles pousaram no homem, preocupado, que corria em sua direção.

"Marie Alice Black! Onde foi que você esteve?”, o homem exigiu preocupado, pegando
a garotinha em seus braços morenos. Era fácil notar que esse homem era seu pai – a
semelhança era gritante. "Oh, Marie, nunca me assuste assim de novo."

O homem nem ao menos me notou, enquanto ele checava rapidamente sua filha para
ter certeza de que ela não estava machucada. E enquanto ele se afastava com ela em
seus braços, ela olhou por cima de seu ombro e acenou. Eu tentei acenar de volta, mas
eu não podia. Eu não podia me mover. Eu não podia respirar. Era tudo que eu podia
fazer para não chorar.

"Onde está a carta da mamãe?" o homem perguntou de repente, surpreso.

"Eu perdi" Marie disse alegremente, e ele franziu o cenho.

"Quer voltar para procurá-la, querida? Eu sei o quanto ela era importante para você."

"Não," Marie disse lentamente, e enlaçou seus bracinhos no pescoço do homem. "Está
tudo bem. Eu não preciso mais dela. Eu sei que a mamãe está comigo, mesmo agora.
Ela nunca me abandona.”

Uma expressão de orgulho se formou no rosto do homem, e ele beijou a testa de Marie
tão carinhosamente, tão suavemente.

"Essa é a minha garotinha," ele murmurou suavemente, e então, eu não podia mais vê-
lo. Eu não podia mais vê-la. Eu não podia mais ouvi-los.

Do contrário, eu estava sozinho. De novo. Pra sempre.

Meus dedos, tremendo, estremecendo, lentamente abriram o envelope, e eu puxei os


dois pedaços de papel do interior, papel que estava gasto com o tempo, mas eu tinha
certeza de que nunca havia sido tocado. Era quase como se Marie tivesse segurado o
envelope na sua pequena palma por toda sua vida, mas sem nunca abri-lo. As únicas
imperfeições no puro, branco papel eram as manchas de onde lágrimas haviam caído
enquanto a carta era escrita.

Edward, começava, e eu segurei um soluço enquanto eu me enrolava, pondo meus


joelhos no meu peito e um braço ao redor deles, enquanto meus olhos, brilhando com
lágrimas que eu nunca derramaria, correram rapidamente pelo papel.

Edward,

Eu consegui.

Foi a coisa mais difícil que eu já fiz, mas eu consegui. Eu segui em frente, Edward, assim como
você pediu. Eu terminei o Ensino Médio. Eu fui pra faculdade. Eu me apaixonei de novo. Eu me
casei. E eu sou a mãe da garotinha mais linda e doce do mundo inteiro. Ela é minha luz nessa
vida, e eu não podia pedir por mais.

Jacob é um bom homem. Foi ele que me manteve inteira quando você partiu. Eu tentei me
matar, sabe, porque eu estava tão certa de que eu não conseguiria prosseguir sem você. Mas ele
me salvou. Ele me puxou dos penhascos, e quando ele me segurou em seus braços, e me senti
completa pela primeira vez em tanto tempo.

Eu me apaixonei por ele, Edward. De verdade. Eu contei tudo a ele, porque eu sabia que não
seria justo se eu não fizesse isso. Porém, eu nunca poderia dar a ele meu coração inteiro, pois
meu coração nunca esteve inteiro desde que você me deixou. Mas eu entreguei a ele todos os
pedacinhos que eu pude achar, e ele cuidou deles, e ele cuidou de mim.
Eu nunca poderei amá-lo como eu amo você, mas eu o amei, eu dei a ele tudo que restou de
mim.

Nós estávamos casados quando eu terminei a faculdade. Foi um casamento simples, e toda vez
que eu via os planejamentos, ou o bolo, ou as flores, eu pensava em Alice, e desejava mais que
tudo que ela tivesse tido a chance de planejar tudo. Eu sei que ela amaria isso.

E então, eu descobri que estava grávida. Eu nunca pensei que fosse querer um bebê, Edward. Eu
estava tão certa de que nunca iria querer filhos. Mas quando eu ouvi os batimentos cardíacos
pela primeira vez na ultra, eu comecei a chorar. Era tão lindo. Jacob insistiu que a chamássemos
de Marie, e eu dei o nome de Alice como nome do meio. Eu queria chamá-la de Marie Rosalie,
mas não soava muito bem. Eu queria chamá-la assim porque toda vez que eu olhava para ela, eu
lembrava de Rosalie, e como ela queria tanto um filho.

Eu estou feliz, Edward... mas incompleta. Até mesmo quando eu casei, eu desejava que fosse
você parado a minha frente. Até mesmo quando eu dei a luz à Marie, eu desejava que fosse você
me encorajando, chorando quando você segurasse sua filha pela primeira vez. E, até mesmo
enquanto estou deitada aqui, respirando meus últimos suspiros, eu desejo que fosse você
segurando minha mão.

Oh, Edward. Eu quero te ver de novo. Mais uma vez. Só uma. Por favor, Edward, por favor. Eu
não posso morrer antes de te ver de novo. Eu não posso. Eu não irei. E vou agüentar pra sempre
se for preciso. Mas eu tenho que ver seu rosto de novo. Só mais uma vez. Por favor.

Eu não estou pronta para morrer, Edward. Eu quero estar em seus braços. Eu quero que você
me segure, que me diga que você mentiu pra mim naquele dia. Para me dizer que você ainda me
ama.

Oh, Edward, Eu nunca poderia desistir de Jacob e Marie, mas se você voltasse por mim, eu não
vejo como eu poderia ficar com eles. Eu te amo tanto. Mesmo hoje. Mesmo depois de tudo.
Mesmo depois que você me deixou. Mesmo depois que você me quebrou. Eu te amo. Eu te amo.
Eu te amo.

Eu te amarei para sempre.

Mas eu estou doente, Edward. Eu estou doente e não posso me segurar por muito tempo.

Mas não importa o que, não importa quando, eu preciso saber isso. Eu preciso que você veja essa
carta. Eu preciso que você saiba...

... que eu ainda te amo. Eu nunca deixei de te amar. Mesmo quando eu amava outro, o amor que
eu sentia por você era mais forte.

Edward ... Edward ... Edward ...

Eu te amo.

Para sempre sua,


Isabella Marie Black
Eu estava soluçando alto, soluços de perfurar o coração, quando eu terminei a carta
que eu tinha nas mãos.

Ela me amava. Oh, Deus, ela me amava mesmo depois de tudo que eu fiz. Ela morreu
me amando. Ela viveu me amando. Ela me amava. Eu a amava também eu não queria
nada além de vê-la, de senti-la, de estar com ela, de segurá-la, de dizer que eu havia
mentido. Contar que tudo que eu disse à ela naquele dia era mentira.

"E ainda te amo. Eu ainda te amo. Oh, Bella, eu te amo," Eu chorei, então virei a cabeça
para os céus, desejando mais do que tudo que ela pudesse me ouvir.

Eu estava fazendo uma cena... mas eu não me importava. Eu estava no meio do


parque, meus braços enlaçados ao redor do meu corpo, tentando desesperadamente
me manter inteiro. Tentando em vão segurar a dor.

Mas quando suas palavras voltaram correndo de novo e de novo – já que eu não podia
nunca, jamais esquecê-las – eu senti a barreira se quebrando, e a angústia, a agonia, o
horror, a dor me atingiram, me cercando, me cobrindo, me enterrando.

Eu sabia que eu nunca poderia emergir.

Bella, Eu chorei em meus pensamentos. Bella, eu te amo. Bella. Bella. Bella.

"BELLA!" Eu gritei e minha voz era um pranto enquanto eu continuava a chorar por
ela. "Bella! Bella! Bella!"

Mas eu sabia que ela nunca responderia. Eu sabia que ela nunca retornaria.

Ela se foi. Para sempre.

Eu não queria nada além de morrer naquele momento. Eu não queria anda além de
simplesmente... deixar de existir. Porque eu sabia que não podia prosseguir sem ela.

Eu fiquei de pé vacilantemente, e ainda estava soluçando quando eu procurei. Eu


tropecei e caí. Me levantei de novo. E continuei.

Eu procurei e procurei.

E então, encontrei.

Luz do Sol.

Eu tropecei para o quente raio de luz, deixando-o iluminar meu mundo sombrio,
deixando-o pôr minhas imperfeições, minha dor, à mostra para todo o mundo ver. Eu
sabia que eles viriam. Eles sempre vêm. Eles saberiam o que eu iria fazer, antes mesmo
de eu fazê-lo, como eles de algum jeito sempre sabiam.

E eu sabia, enquanto eu deixava que a luz do Sol esquentasse minha eternamente fria
pele, que estava quase acabando.
Bella.

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