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DIAGNÓSTICO DE Criptosporidium spp.

EM FEZES DE
CARAMUJO AFRICANO (Achatina fulica)

CINTHIA LOPES SCHIFFLER

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE

CAMPOS DOS GOYTACAZES

JULHO - 2007
DIAGNÓSTICO DE Criptosporidium spp. EM FEZES DE
CARAMUJO AFRICANO (Achatina fulica)

CINTHIA LOPES SCHIFFLER

Monografia apresentada ao Curso de


Medicina Veterinária da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, como exigência da disciplina
Monografia II.

Orientador: Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira


Co-orientador: Francimar Fernandes Gomes

CAMPOS DOS GOYTACAZES–RJ


JULHO–2007
Diagnóstico de Cryptosporidium spp. em fezes de Caramujo
Africano (Achatina fulica)

CINTHIA LOPES SCHIFFLER

Monografia apresentada ao Curso de


Medicina Veterinária da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, como parte das exigências da
disciplina Monografia II.

Aprovada em 10 de julho de 2007.

Comissão Examinadora:

__________________________________________________________________
Francimar Fernandes Gomes (Doutor, Produção Animal)

__________________________________________________________________
Adriana Jardim de Almeida (Doutora, Produção Animal)

______________________________________________________________
Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira (Doutor, Parasitologia) – UENF
(Orientador)
A

Minha filha Maria Eduarda por ter mudado minha vida,


e minha avó Maria Alcina
por todo amor e carinho dados.

DEDICO

ii
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter iluminado os meus caminhos


e nunca ter me desamparado nos momentos mais difíceis.
A minha filha Maria Eduarda, por ter sido uma inspiração para mim e
uma dádiva em minha vida.
Aos meus pais Fátima e Roberval por terem sido exemplos de bom
caráter, pelo apoio e por não me deixarem perder a esperança .
Aos meus irmãos Juliana, Leonardo e Luciana pelo carinho.
A minha avó Maria Alcina pelo amor incondicional e nunca me
desamparar. Ao meu avô Belcino (in memoriam), que onde estiver sei que
está torcendo por mim.
Aos meus avós Roberval e Márcia pelo carinho.
As minhas tias Sônia e Rosane por cuidarem de mim e da minha filha.
A minha amiga Ana Carolina Queiroz Lima pela ajuda durante a
pesquisa e pela amizade.
Aos amigos Giseli, Lorena, Flávia, Felipp e Fausto Luís por estarem
comigo desde o início da faculdade e sempre demonstrarem amizade fiel.
A Helaíne e Francimar, por me mostrarem o mundo da parasitologia e
pela amizade criada.
Ao Centro de Controle Zoonoses do Município de Campos dos
Goytacazes-RJ (CCZ) pela ajuda na coleta dos animais para a realização da
pesquisa.

iii
Em especial, ao Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira, pela
orientação, confiança e incentivo em todos os momentos.

iv
BIOGRAFIA

CINTHIA LOPES SCHIFFLER, filha de Roberval Ernesto Schiffler


Filho e Fátima Ferreira Lopes, nasceu em 01 de novembro de 1983, na
cidade do Rio de Janeiro – RJ.
Concluiu o Ensino Fundamental no Colégio Santa Mônica em 1998 e
o Ensino Médio no Colégio Américo de Oliveira em 2001, na Cidade do Rio
de janeiro – RJ.
Ingressou na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Campos dos Goytacazes, em 2002, no curso de Medicina
Veterinária.
Estagiou no laboratório de Sanidade Animal, Setor de Parasitologia
no período de agosto 2002 a setembro de 2003. Foi aluna monitora da
disciplina de Anatomia dos Animais Domésticos no período de novembro
de 2005 a julho de 2007.
Graduou-se em Medicina Veterinária em 2007.

v
CONTEÚDO

RESUMO......................................................................................................... x
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 1
2. REVISÃO.................................................................................................... 3
2.1. Achatina fulica..................................................................................... 3
2.2.1. Histórico........................................................................................... 3
2.1.2. Taxonomia....................................................................................... 3
2.1.3. Morfologia e Biologia....................................................................... 3
2.2. Cryptosporidium.................................................................................. 4
2.2.1. Histórico........................................................................................... 4
2.2.2. Taxonomia....................................................................................... 4
2.2.3. Características Gerais..................................................................... 5
2.2.4. Ciclo biológico................................................................................. 6
2.2.5. Distribuição geográfica.................................................................... 9
2.2.6. Criptosporidiose em hospedeiros de sangue quente...................... 9
2.2.6.1. Em humanos............................................................................. 9
2.2.6.2. Em animais domésticos............................................................ 10
2.2.7. Criptosporidiose em hospedeiros de sangue frio........................... 11
2.2.7.1. Em répteis e peixes................................................................... 11
2.2.7.2. Em moluscos............................................................................. 11
3. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 13

vi
3.1. Local..................................................................................................... 13
3.2. Captura e manutenção dos moluscos................................................... 13

3.3.Técnica de Ritchie modificada e Técnica de Ziehl-Neelsen


modificada.......................................................................................................
16

3.4. Morfometria............................................................................................ 18

3.5. Análise estatística.................................................................................. 18

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 19

5. CONCLUSÕES........................................................................................... 25

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 26

vii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Medidas de oocistos de espécies de Cryptosporidium e


respectivos hospedeiros............................................................................... 6

Tabela 2. Distribuição de amostras de moluscos (A. fulica) examinados por


bairros/localidades, no município de Campos dos Goytacazes-RJ, em
2006............................................................................................................. 14
Tabela 3. Cryptosporidium sp. em fezes de Caramujo africano (Achatina
fulica) em Campos dos Goytacazes - RJ, Brasil....................................... 21
Tabela 4. Risco relativo da presença de Cryptosporidium spp. em fezes de
Achatina fulica em relação as condições de higiene local........................... 22
Tabela 5. Medidas médias de oocistos de Cryptosporidium spp.
observados em fezes de Achatina fulica em Campos dos Goytacazes - RJ,
23
Brasil............................................................................................................

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo de vida de Cryptosporidium spp. (CDC, 2007)..................... 8

Figura 2. Recipiente utilizado como criatório do molusco Achatina fulica... 15

Figura 3. Tubos cônicos com fezes de A. fulica em formol 10%.................. 15

Figura 4. Lâminas coradas pela Técnica de Ziehll-Neelsen modificada...... 17

Figura 5. Oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de Achatina fulica.


Em A e B observa-se pequenos oocistos com diâmetros
variando de 2,0 a 2,38 µm e em C e D oocistos maiores com
diâmetros variando de 4,53 a 5,25 µm. Coloração pelo Ziehll-
Neelsen. ..................................................................................... 20
Figura 6. Regressão linear do DIÂMETRO MAIOR sobre o diâmetro
menor para 39 oocistos de Cryptosporidium spp.. Considerado
significativo onde Y= 0,7259 + 0,3948X, R2 = 0,07 e r=0,27........ 23

ix
RESUMO

SCHIFFLER, C., L., Universidade Estadual Do Norte Fluminense Darcy Ribeiro;


Junho de 2007; Criptosporidium spp. em fezes de Caramujo Africano (Achatina
fulica); Orientador: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira.

Com o objetivo de isolar Cryptosporidium spp. em fezes Achatina fulica, 50


moluscos foram coletados em nove bairros do município de Campos dos
Goytacazes - RJ, para observação de oocistos. Esses animais foram colocados
em criatórios individuais e alimentados com água e verduras ad libitum até a
obtenção de um grama de fezes. Estas foram acondicionadas em tubos
contendo formol 10% e depois foram confeccionados esfregaços que foram
corados pela técnica de Ziehll Neelsen modificada. Das 50 amostras
examinadas, 26 (52%) foram positivas para Cryptosporidium spp.. A morfologia
e morfometria dos oocistos mostraram uma grande variabilidade morfológica
dos oocistos. No entanto, não se pode determinar as espécies diagnosticadas
ou se estas são espécies específicas do molusco. Considerando os resultados
obtidos, o molusco Achatina fulica é hospedeiro de parasitas do gênero
Cryptosporidium e pode participar da cadeia epidemiológica da
criptosporidiose.

Palavras-chave: Criptosporidiose, fezes, moluscos, oocistos.

x
Abstract

SCHIFFLER, C., L., Universidade Estadual Do Norte Fluminense Darcy Ribeiro;


Junho de 2007; Criptosporidium sp. in faeces of mollusks (Achatina fulica in
the municipality of Campos dos Goytacazes, RJ; Professor Advice: Francisco Carlos
Rodrigues de Oliveira.

As the objective of isolate Cryptosporidium sp. in Achatina fulica ´s feces, 50


mollusks were collected in nine neighborhoods of the municipal of Campos dos
Goytacazes-RJ to be observation in feces. Those animals were put in
individuals containers and fed with water and green vegetables ad libitum until
be collected a gram of feces of each animal. Those samples were conditioned
in tubes with formalin 10% and later smear of feces were made and red-faced
by Ziechl-Neelsen modified technique. Of the 50 samples examined, 26 (52%)
were positive for Cryptosporidium spp.. The oocystis morphology and
morphometry showed that are a great variability morphologic. Considering the
obtained results, the mollusk Achatina fulica is a host of Cryptosporidium
species and participate in the epidemic chain of the cryptosporidiosis.

Key Words: criptosporidiosis, feces, mollusks, oocysts.

xi
1

1. INTRODUÇÃO

O molusco Achatina fulica é uma espécie terrestre que se difundiu por quase
todo o território brasileiro (VASCONCELOS e PILE, 2001). O encontro desse animal
em vida livre no Brasil é considerado um risco por se tratar de uma espécie
envolvida na transmissão do Angiostrongylus cantonensis, nematóide cuja presença
ainda não foi assinalada em nosso país, mas presente em diversas regiões
geográficas do mundo como as ilhas do Pacífico, Sudeste asiático, Austrália, Japão
e Madagascar (SANTANA TELES et al., 1997). Esse molusco pode hospedar
também Angiostrongylus costaricensis, outro nematódeo agente causador da
angiostrongilíase abdominal, doença grave com centenas de casos já reportados no
Brasil.
Durante alguns anos coccídeos do gênero Criptosporidium foram
considerados altamente específicos a seu hospedeiro e várias espécies foram
nomeadas de acordo com o tipo de animal parasitado. Apesar de existirem mais de
20 espécies descritas em diferentes hospedeiros existem controvérsias com relação
à validade da maioria delas, já que estudos envolvendo transmissão cruzada
indicam que oocistos de C. parvum são infectantes para diferentes espécies
(O’DONOGHUE et al., 1987), porém segundo o mesmo autor espécies de
Cryptosporidium de mamíferos e pássaros não infectam répteis e nem espécies de
cobras infectam mamíferos (O’DONOGUE, 1995).
A associação de invertebrados ao solo os torna capazes de atuar como
transportadores mecânicos de oocistos de coccídeos (RUIZ e FRENKEL, 1980). Os
2

moluscos têm destaque em saúde publica por serem responsáveis pela transmissão
de uma grande variedade de enfermidades. O fato da espécie A fulica viver em
contato direto com o solo e preferencialmente em locais úmidos e poluídos com lixos
e material em decomposição (VASCONCELLOS e PILE, 2001) torna a mesma um
provável transmissor de criptosporidiose na qualidade de vetor biológico ou
paratênico. Pesquisadores como O’donoghue (1995) relataram que mesmo os
animais de sangue frio são importantes na cadeia de transmissão da
criptosporidiose, no entanto nenhuma pesquisa havia sido realizada com espécies
pertencentes à classe dos moluscos justificando-se, portanto a realização de um
trabalho com a finalidade de contribuir ao estudo da epidemiologia da
criptosporidiose no município de Campos dos Goytacazes, RJ, haja vista que se
trata de uma região onde segundo as autoridades sanitárias a espécie de molusco
A. fulica encontra-se amplamente difundida. Além disso, não se conhece todas as
enfermidades com potencial para serem transmitidas por essa espécie de molusco
no Brasil.
Esta pesquisa objetivou detectar a presença de oocistos de Criptosporidium
spp. em fezes do molusco A. fulica, determinando o possível papel deste animal na
cadeia epidemiológica da criptosporidiose. Dessa forma, obteve-se a ocorrência de
casos positivos em animais capturados no município de Campos dos Goytacazes,
gerando informações sobre o assunto.
3

2. REVISÃO DE LITERATRURA

2.1. Achatina fulica

2.1.1. Histórico

A introdução do molusco A. fulica na América ocorreu por volta dos anos 30


(VASCONCELLOS e PILE, 2001) e no Brasil no ano de 1988 com o objetivo de
substituir o escargot francês. Porém devido a razões econômicas foi abandonado no
ambiente onde encontrou condições favoráveis para sua reprodução e se tornou
uma praga (NEUHAUSS et al., 2007; SOUZA et al., 2007).

2.1.2. Taxonomia

O molusco terrestre Achatina fulica pertence ao reino Animalia, filo Mollusca,


classe Gastropoda, subclasse Pulmonada, ordem Stylommatophora, subordem
Sigmuretha, família Achatinidae, gênero Achatina e espécie Achatina fulica
(TEIXEIRA et al., 2006).

2.1.3. Morfologia e Biologia

O molusco possui um tamanho considerável, podendo na fase adulta alcançar


20 cm de comprimento de concha e pesar 200 g (VASCONCELLOS e PILE, 2001;
4

ESTON et al., 2006). Este molusco é herbívoro, tendo hábitos alimentares


generalistas e possui alta resistência a modificações ambientais, mantendo-se
escondido durante o dia e saindo para alimentar–se principalmente à noite, após ou
durante as chuvas. Gostam de habitar bananeiras, onde se escondem e encontram
alimentos (FISCHER e COLLEY, 2005), mas também são encontrados em terrenos
baldios, margens de córregos, cemitérios e locais contaminados e sujos em geral
(ROCCO, et al., 2004).
A espécie A. fulica é hermafrodita, podendo em cada postura liberar até 400
ovos (ESTON et al., 2006). Esta é hospedeira intermediária do nematódeo A.
cantonensis, causador da meningoencefalite eosinofílica, presente na Ásia, Cuba e
Porto Rico, e do nematódeo A. costaricensis, causador da angiostrongilíase
abdominal (NEUHAUSS et al. 2007; GRAEFF-TEIXEIRA, 2007).

2.2. Cryptosporidium

2.2.1. Histórico

O Protozoário Cryptosporidium foi identificado pela primeira vez em 1907 por


Tyzzer, que verificou a presença do mesmo em ratos. Em 1910, ele propôs uma
nova espécie, o C.muris e em 1912, o C.parvum.
O primeiro relato de criptosporidiose em animais de sangue frio foi em 1977,
onde Brownstein et al. (1977) identificaram a presença de Cryptosporidium em
répteis.

2.2.2. Taxonomia

A taxonomia do Cryptosporidium ainda é confusa. Ela tem sido baseada em


características morfológicas e especificidade pelo hospedeiro.
Segundo Levine (1984) o gênero Cryptosporidium Tyzzer, 1907 é um membro
do reino Protista, filo Apicomplexa Levine, 1970, classe Sporozoasida Leuckart,
1879, sub-classe Coccidiasina Leuckart, 1879, ordem Eucoccidiorida Léger &
Duboscq, 1910, sub-ordem Eimeriorina Léger, 1911, família Cryptosporidiidae Léger,
1911.
Baseando-se nos critérios de morfologia e especificidade de hospedeiros ,10
espécies são reconhecidas, entre elas : C. hominis, em humanos; C. molnari e C.
5

nalsorum, em peixes; C. serpentis, em cobras e C. saurophilum, em lagartos


(MONIS et al., 2003).

2.2.3. Características gerais

Protozoários do gênero Criptosporidium são coccídeos que fogem a regra em


relação aos demais pelo fato de possuírem como hospedeiros intermediários uma
gama variada e distinta de animais que abrange mamíferos, répteis, peixes e aves
(FAYER e UNGAR, 1986; GRAAF et al., 1999). Ao contrário de muitos outros
parasitos, na maioria das vezes não causa injúrias a seu hospedeiro, pois são
encontrados em portadores imunocompetentes (CURRENT et al., 1983). A
patogenicidade deste parasita aumenta em caso de queda da imunidade decorrente
de doenças como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA ou do
tratamento com drogas imunossupressoras (CURRENT e HAYNES, 1984).
Possui como rota de transmissão a via fecal/oral, de homem-homem, homem-
animal, animal-animal, animal-homem, podendo ser essa por ingestão direta das
fezes, água, alimentos contaminados e o ar. Também está associada como fonte de
contaminação a água de piscinas de recreação (MONIS et al., 2003; FAYER, 2004).
Os oocistos são resistentes a muitos desinfetantes, sendo os mais efetivos e
mais tóxicos aqueles que incluem amônia, etileno e ozônio (FAYER, 2004). Pode
resistir na água salgada por longos períodos se tornando viável por 35 dias a 4°C
em água do mar (ROBERTSON et al., 1992). Também sobrevivem por meses a
temperaturas abaixo de zero (ANDERSON, 1998).
Os oocistos possuem quatro esporozoítas, e algumas espécies podem se
diferenciar das outras pelo tamanho, que é medido pelo diâmetro maior e o menor
(Tabela 1).
6

Tabela 1. Medidas de oocistos de espécies de Cryptosporidium e respectivos


hospedeiros.

Espécies Hospedeiro Diâmetros


Maior Menor
C. canis Cão 3,7-5,9 3,7-5,9
C. hominis Homem 4,4-5,4 4,4-5,9
C. molnari Peixes marinhos 3,3-5,5 3,0-5,0
C. felis Gato 3,2-5,1 3,0-4,0
C parvum Rato 4,5-5,4 4,2-5,0
C. muris Rato 6,6-7,9 5,3-6,5
C. wrairi Porco 4,8-5,6 4,0-5,0
C. andersoni Bovino 6,0-8,1 5,0-6,5
C. meleagridis Peru 4,5-6,0 4,2-5,3
C. baileyi Galinha 5,6-6,3 4,5-4,8
C. serpentis Cobra 5,6-6,6 4,8-5,6
C. nasorum Peixe 3,5-4,7 2,5-4,0
C. saurophilum Lagarto 4,4-5,6 4,2-5,2
Fonte: Adaptado de MONIS et al. (2003).

Criptosporidium spp. é um protozoário oportunista aproveitando-se da


debilidade do hospedeiro para provocar sua injúria, que pode ser desde uma
infecção assintomática a uma infecção intestinal grave, podendo resultar em morte
(FAYER, 2004; HURBER et al., 2005).
Na maioria das vezes a localização do parasito é intestinal, porém já foi
encontrado nos pulmões, fígado e coração de camundongos infectados
experimentalmente (PAVLASEK, 1982).
A falta de higiene bem como a idade precoce têm sido incriminadas como
fatores predisponentes à causa de surtos em bezerros em propriedades rurais
(EDERLI, 2003).

2.2.4. Ciclo biológico

O gênero Cryptosporidium possui o ciclo de vida complexo. Parasitas deste


gênero são intracelulares obrigatórios, sendo o único estágio desenvolvido fora do
hospedeiro a fase de oocisto (FAYER, 2004).
O ciclo biológico se completa em cerca de uma semana (DUBEY e FAYER,
1982), porém em pessoas e animais imunossuprimidos esse período pode levar de
uma a várias semanas, sendo os oocistos detectados nas fezes nos últimos dias
(FAYER, 2004). O ciclo é do tipo monoxeno compreendendo uma fase assexuada e
7

outra fase sexuada (FAYER et al., 1990). Após a ingestão dos oocistos, estes
liberam quatro esporozoítos infectantes, que penetram nas células intestinais, onde
amadurecem assexuadamente em trofozoitas no interior de vacúolos, que depois se
diferenciam formando os merontes do tipo 1 (Figura 1). Estes liberam merozoítas
que também invadem os enterócitos, dando origem aos merontes do tipo 2. Alguns
merontes de tipo 2 se diferenciam em macrogametócitos e em microgametócitos.
Estes últimos fertilizam os macrogametócitos, para dar origem ao zigoto que se
transforma em oocisto (reprodução sexuada). Os outros merontes liberam
merozoítas que podem iniciar novamente a reprodução assexuada se diferenciando
em trofozoítas. Posteriormente milhões de oocistos maduros são liberados nas
fezes, contaminando o meio ambiente, e permanecendo viáveis durante vários
meses (FAYER e UNGAR, 1986). Ao contrário do que ocorre com a maioria dos
coccídeos, o oocisto de Cryptosporidium é capaz de esporular no lúmen intestinal, e
de liberar os esporozoítos, iniciando uma reinfecção. Isto porque alguns oocistos
possuem parede fina que se rompem ainda na luz intestinal (MONIS et al.,2003).
8

Figura 1. Ciclo de vida de Cryptosporidium spp. (CDC, 2007).


9

2.2.5. Distribuição geográfica

A capacidade de adaptação que este parasito apresenta em relação a classes


tão distintas de animais faz com que o mesmo apresente distribuição cosmopolita.
Grande parte das pesquisas sobre sua identificação, biologia e epidemiologia tem
sido relatadas e segundo Bomfim (1996), infecções por espécies de Criptosporidium
foram registradas em mais de 50 países localizados em zonas tropicais e
temperadas do mundo. Pesquisas como as de Ferreira e Borges (2002), indicaram
que a maior prevalência ocorre na América Latina quando comparada a América do
Norte e Europa.

2.2.6. Criptosporidiose em hospedeiros de sangue quente

2.2.6.1. Em humanos

O primeiro relato de criptosporidiose em humanos ocorreu em 1976, em


indivíduos imunocomprometidos (NIME et al., 1976).
A criptosporidiose vem sido diagnosticada em indivíduos com ampla
variedade de idades, sendo as crianças mais susceptíveis (FAYER, 2004).
Países menos industrializados e com péssimas condições de saneamento
possuem taxas mais altas de infecção, como por exemplo, países do continente
africano, onde a taxa de infecção humana avaliada por detecção de oocistos nas
fezes foi de 2,6-21,3%; países das Américas do Sul e Central apresentaram 3,20-
31,5 %; da Ásia 1,3-13,1% e países industrializados como os da Europa e América
do Norte de 0,1-14,1% e 0,3-4,3%, respectivamente (FAYER, 2004).
De acordo com Capuano et al. (2001) as manifestações clínicas quando
observadas são conseqüências do comprometimento do sistema imune, dessa
forma grande importância tem sido dada a criptosporidiose em indivíduos HIV
positivos.
As infecções mais comuns no homem são por C. parvum e C. hominis, porém,
outras espécies foram assinaladas como, por exemplo: C. canis, C. felis, C. suis, C.
muris e C. meleagridis (XIAO et al., 2004; CACCIO et al., 2005).
10

Geralmente a infecção é assintomática, porém quando está presente é


caracterizada por diarréia, podendo estar acompanhada de desconforto abdominal,
vômito, náusea, febre, anorexia, cansaço e problemas respiratórios (FAYER, 2004).

2.2.6.2. Em animais domésticos

A presença do parasito tem sido relatada em animais silvestres, domésticos,


bem como animais de laboratório. Podem ser citados como exemplos os coelhos
cuja infecção natural foi constatada no jejuno e íleo por Anman e Yakevichi (1979) e
Rehg et al. (1979).
Nos Estados Unidos, Koch et al. (1983), relataram que Cryptosporidium spp.
foi encontrado em fezes coletadas em levantamento parasitológico de gatos de
estimação de pacientes humanos que apresentaram criptosporidiose.
Esta enfermidade também foi diagnosticada em cães naturalmente infectados
por diversos autores (FUKUSHIMA e HELMAN, 1984; SISK et al., 1984). Os animais
tinham idade que variavam de uma semana a três meses. Em estudo realizado na
cidade de São Paulo, de 166 amostras de fezes de cães, tanto domésticos como de
canis, apenas quatro foram positivas, ou seja, 2,41% (HUBER et al., 2005). A
criptosporidiose em cães esta associada ao C. canis.
A criptosporidiose também tem sido associada à morbidade e mortalidade em
infecção natural de cordeiros em países como a Escócia, onde foi considerada a
maior causadora de diarréia, afetando em torno de 40% de 1064 cordeiros nascidos
em 1981 (ANGUS et al., 1982). A maior parte dos casos foi diagnosticada por
identificação dos oocistos nas fezes. Em necropsias, sangue, fluído mucoso e fezes
aquosas amarelas brilhantes, têm sido observadas nos intestinos delgado e grosso,
ambos aparecendo moderadamente hiperêmicos (BERG et al., 1978; TZIPORI et al.,
1981). Infecções naturais em caprinos por Cryptosporidium spp. foram assinaladas
na Austrália (TZIPORI et al., 1982), com identificação histológica do parasita no
intestino delgado. Em uma criação de caprinos, de 29 animais com menos de três
semanas de idade, 21 tiveram forte diarréia e três morreram. Em 11 destes animais
foi detectado Cryptosporidium spp. nas fezes ou mesmo em secção histológica do
intestino delgado (TZIPORI et al., 1982). Na Austrália, Links (1982) descreveu quatro
casos naturais de infecção por Cryptosporidium em suínos em duas pocilgas.
11

Estes animais tinham idades que variavam entre duas a nove semanas, e em uma
das pocilgas dois animais tiveram diarréia aquosa. O sistema de criação era do tipo
semi-intensivo.
Ruminantes são considerados animais carreadores de C.parvum, porém não
eliminam um grande número de oocistos. Em relação à produtividade desses
animais ela pode ser diminuída, visto que animais infectados por C. muris e C.
andersoni podem ter a produção de secreções gástricas diminuídas, devido ao fato
dessa espécie infectar somente as glândulas estomacais ou do abomaso, além de
haver queda na produção leiteira (ANDERSON, 1998; OLSON et al., 2004).

2.2.7. Criptosporidiose em hospedeiros de sangue frio

2.2.7.1. Em répteis e peixes

Em 1925, Triffit identificou Cryptosporidium spp. em cobras da espécie


Crotalus congluents e Levine (1984) identificou este mesmo parasita em Crotalus sp.
e Boidae sp. . Infecções em Boa constrictor, Elaphe e Crotalus sugerem que todas
as espécies de cobras podem servir como hospedeiras. Em estudo realizado com
serpentes em São Paulo foi verificada a prevalência de 14% de oocistos em fezes
num total de 166 amostras. Nesse trabalho foi observado que as cobras usadas
adquiram Cryptosporidium de infecções naturais (KARASAWA et al., 2002).
Infecções assintomáticas têm sido freqüentemente relatadas nesses répteis,
porém casos crônicos e severos já foram relatados em cobras imunocomprometidas
(BOMFIM, 1996; KARASAWA et al., 2002).
Em peixes, Hoover et al. (1981) encontraram-no no intestino da espécie Naso
literatus, após a realização de necropsias.

2.2.7.2. Em moluscos

Em trabalhos realizados por Goméz–Couso et al. (2003) foram observadas a


presença de oocistos de Cryptosporidum spp. em diversos moluscos infectados,
sendo as ostras (54,8%) as que apresentaram maior infecção, seguidas de
mexilhões (32,7%) e moluscos (29%). Também foi observada a presença de C.muris
em três amostras de efluentes de estações de tratamento e C.baileyie em amostras
de esgotos sem tratamento (GOMEZ–COUSO et al., 2006). Moluscos bivalves têm
12

demonstrado a capacidade de acumular os oocistos (GOMEZ–COUSO et al., 2004).


Em outro trabalho envolvendo Corbicula fluminea demonstrou que essas são
capazes de remover oocistos de C.parvum da água, demonstrando risco a saúde
pública e animal (GRACZYK et al., 1998).
13

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Local

O trabalho foi realizado no Setor de Clínica Médica dos Grandes Animais


Domésticos, do Laboratório de Sanidade Animal (LSA) do Centro de Ciências e
Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF).

3.2. Captura e manutenção dos moluscos

Os moluscos foram capturados com ajuda do Centro de Controle de


Zoonoses e Vigilância Ambiental (CCZ), do município de Campos dos Goytacazes,
Estado do Rio de Janeiro. Amostras de fezes de 50 exemplares de Achatina fulica,
recolhisas em nove bairros foram examinadas (Tabela 2). As casas onde foram
capturados em sua maioria eram precárias e havia ausência de saneamento básico,
além de possuírem locais úmidos e com a presença de lixo e fezes de animais. Os
moluscos selecionados foram levados para o laboratório onde foram lavados em
água corrente, distribuídos individualmente em viveiros de plástico de 80 cm de
comprimento, 60 cm de largura e 40 cm de altura, cobertos com grade de malhas de
um centímetro na parte superior onde foram mantidos vivos com alimentação a base
14

de verduras lavadas em água corrente e água ad libitum até liberarem quantidade de


fezes suficiente para a realização dos exames. As amostras fecais foram
preservadas em tubos cônicos contendo 7 ml de formol 10%.

Tabela 2. Distribuição de amostras de moluscos (A. fulica) examinados por


bairros/localidades, no município de Campos dos Goytacazes-RJ, em
2006.

Numero de animais
Locais de coleta Higiene Local
examinados
Donana BOM 3
Parque Saraiva RUIM 8
Parque São Domingos BOM 3
Parque Alvorada BOM 7
Parque Calabouço RUIM 9
Parque Santa Rosa RUIM 3
Parque Rosário RUIM 7
Centro BOM 7
Outros RUIM 3
Total 50
15

Figura 2. Recipiente utilizado como criatório do molusco Achatina fulica.

Figura 3. Tubos cônicos com fezes de A. fulica em formol 10%.


16

3.3. Técnica de Ritchie modificada e Técnica de Ziehll-Neelsen modificada

Foi separado um grama de fezes de cada amostra em solução de formol a


10% em tubos cônicos de 15 ml individualmente identificados. Cada tubo contendo 7
ml de formol 10% foi filtrado em camada dupla de gaze e adicionados 4 ml de éter
etílico seguindo-se homogeneização em agitador; os tubos foram centrifugados a
2500 g por 10 minutos em centrífuga RDE. Após esta etapa foram visualizadas
quatro diferentes fases onde todo o sobrenadante foi descartado. Os esfregaços em
lâminas foram feitos a partir dos sedimentos restantes, com o auxílio da parte romba
de palitos de madeira descartáveis, executando-se movimentos circulares. As
lâminas secaram a temperatura ambiente por vinte e quatro horas e após a secagem
foram fixadas com metanol absoluto por cinco minutos, e deixadas inclinadas para
secar por 15 minutos em temperatura ambiente. Em seguida foram colocadas por
sobre todas as lâminas, solução de fucsina, por cinco minutos. Após esse período,
as lâminas foram lavadas com álcool etílico a 50% e depois em água corrente e
então foram submersas uma vez em álcool ácido a 1% e lavadas em água corrente
novamente. Foi colocada solução de verde malaquita por sobre as lâminas por três
minutos, sendo estas lavadas em água corrente e secas à temperatura ambiente.
Após coloração as lâminas foram montadas com uma gota de bálsamo e lamínula e
após secagem completa foram observadas em microscópio óptico comum, em
objetiva de 100X (imersão).
17

Figura 4. Lâminas coradas pela Técnica de Ziehll-Neelsen modificada.


18

3.4. Morfometria

A análise morfométrica dos oocistos foi feita utilizando-se microscópio


binocular digital, marca “OPTION”, modelo “TNB-04D” e software “Microscopy Image
Processing System-DN2 for Windows” de análise de imagens.

3.5. Análise estatística

Os dados obtidos foram submetidos à análise descritiva e suas médias


comparadas utilizando o teste T de Student. Para verificar a associação entre as
medidas utilizou-se a regressão linear e para fator de risco o teste do qui-quadrado
(χ2 ) e o teste de Fisher (Fisher Exact test) com intervalo de confiança de 95%.
Todos os cálculos foram feitos utilizando-se o programa Graph Pad Instattm,
Copyright 1992-2000, Graf Pad Softwere v3-05 for Windows.
19

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas amostras de fezes analisadas foram encontrados oocistos de


Cryptosporidium spp. (Figura 2). Este é o primeiro relato de diagnóstico de
Cryptosporidium spp. em fezes de Achatina fulica. Tal fato pode estar relacionado à
falta de saneamento básico observado nos locais de coleta do caramujo associada
ao consórcio de diferentes espécies animais com suas excretas.
Nesta pesquisa os moluscos foram encontrados em sua maioria em
ambientes com higiene precária, onde comumente estes animais convivem com
ratos, cães, gatos e possivelmente cobras, espécies cuja infecção por
Cryptosporidium já foi comprovada (TYZER, 1910; TYZZER, 1912; FAYER et al.,
2001; ISEKI, 1979; LEVINE, 1980). Também foi encontrado o molusco parasitado
em locais dotados de saneamento básico, como o bairro do Centro (Tabela 3), o que
comprova que a dispersão tanto do molusco como de espécies de Cryptosporidium
não está associada somente às condições de saneamento básico ruim.
20

A B

C D
Figura 5. Oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de Achatina fulica. Em A e B
observa-se pequenos oocistos com diâmetros variando de 2,0 a 2,38 µm e em C e
D oocistos maiores com diâmetros variando de 4,53 a 5,25 µm. Coloração pela
Técnica de Ziehll-Neelsen modificada.
21

Em estudo feito em Viçosa por Heller et al. (2004) em dois mananciais de


abastecimento, em fezes de animais e humanos de comunidades carentes e em 13
amostras de alface, foi observado que os dois mananciais examinados foram
positivos para espécies de Cryptosporidium, ressaltando que o manancial mais
poluído apresentou a densidade maior do patógeno. Também foi observado que as
hortaliças examinadas foram negativas para oocistos, diferindo dos resultados
obtidos por Silva et al. (2005), que verificaram a presença de 30% de oocistos de
Cryptosporidium sp. em 40 amostras de alface, alimento comum do molusco foco da
nossa pesquisa. O autor descreveu ainda que as fezes humanas e animais
apresentaram densidades consideráveis de oocistos, demonstrado que as condições
precárias de saneamento contribuem para a disseminação do parasita.
Observando a ocorrência de oocistos de Cryptosporidium spp. nas fezes de
A. fulica, num total de 50 amostras examinadas, constatou–se que 26 foram
positivas para a presença de oocistos deste coccídio, representando um total de
52%. Este resultado e a ocorrência por bairros/localidades de Campos dos
Goytacazes-RJ podem ser vistos na tabela 3.

Tabela 3. Cryptosporidium spp. em fezes de Caramujo africano (Achatina fulica) em


Campos dos Goytacazes - RJ, Brasil

Bairros /Localidades n1 Diagnóstico


Positivo Negativo Ocorrência
(%)
Donana 3 2 1 66,60
Parque Saraiva 8 7 1 87,50
Parque São Domingos 3 0 3 0
Parque Alvorada 7 2 5 28.57
Parque Calabouço 9 5 4 55,55
Parque Santa Rosa 3 1 2 33,33
Parque Rosário 7 5 2 71,42
Outros 3 2 1 66,66
Centro 7 2 5 28,57
TOTAL 50 26 24 52%
1
Número de moluscos examinados.

De acordo com Gomez-Couso et al. (2006) que realizaram pesquisa de


oocistos em tecidos de mexilhões, de 184 amostras foram encontrados 29,3% de
positividade para oocistos de Cryptosporidium spp.. Em trabalho anterior do mesmo
22

autor, foi observado que em 241 amostras de tecidos de moluscos aquáticos entre
eles, mexilhões e ostras, 83 delas (34,4%) foram positivas para oocistos de
Cryptosporidium (GOMEZ-COUSO et al.,2003). Embora A. fulica não seja um
molusco filtrador, ele tem um importante papel na cadeia epidemiológica da
criptosporidiose, pois o encontro de oocistos do parasito em suas fezes indicam que
os mesmos podem contaminar verdurase o ambiente.
O percentual de positividade encontrado neste trabalho demonstra alta
contaminação ambiental, corroborando com os resultados de Xiao et al. (1998), que
demonstraram que a presença de oocistos em ostras indica contaminação da água
pelo parasita. Foi observado ainda que os locais com maior índice de positividade
apresentam pouca infra-estrutura sanitária (tabela 2), contribuindo para a presença
do parasita no molusco em pauta, como demonstrado na tabela 4 onde a higiene
local foi fator de risco quanto à presença de oocistos nas fezes de A. fulica.

Tabela 4. Risco relativo da presença de Cryptosporidium spp. em fezes de Achatina


fulica em relação as condições de higiene local.
HIGIENE LOCAL
RESULTADOS Boa Ruim Total
Positivo 04 22 26
Negativo 13 11 24
TOTAL 17 33 50
Teste χ (R= 0,0336) Rr= 0,28. IC 95%: 0,1 <Rr < 0,75.
2

Nenhum estudo foi realizado anteriormente para verificar a importância de A.


fulica na transmissão da criptosporidiose. Nesta pesquisa comprovou-se que este
molusco pode albergar diferentes espécies de Cryptosporidium incluindo esse
molusco na cadeia epidemiológica da criptosporidiose.
A identificação de algumas espécies do gênero Cryptosporidium pode ser feita
com base no diâmetro de seus oocistos, no entanto a maioria dos oocistos só pode
ser diferenciada por espécies com base na biologia molecular.
Observou-se na figura 3 uma dispersão dos pontos ao longo da linha, onde o
valor de R2 sugere haver mais de duas formas de oocistos isolados nas fezes de A.
fulica Os resultados da morfometria dos oocistos estão na tabela 5. Estes oocistos
têm formatos compatíveis com a maioria das espécies isoladas em animais e no
homem (tabela 1), exceto para o C. andersoni e C. muris que são maiores e têm o
sítio de desenvolvimento no estômago de ruminantes (abomaso) e roedores,
23

respectivamente (MONIS et al.,2003).


No entanto a maioria dos oocistos medidos são de tamanhos compatíveis
com espécies encontradas em cão, gato e no homem e de formato sub-esférico
dado pelo índice morfométrico (Tabela 5) e r= 0,27 (Figura 3).

Figura 5. Regressão linear do diâmetro maior sobre o diâmetro menor para 39


oocistos de Cryptosporidium spp.. Considerado significativo onde Y= 0,
7259 + 0, 3948X, R2 = 0,07 e r=0,27.

Tabela 5. Medidas médias de 39 oocistos de Cryptosporidium spp. observados em


fezes de Achatina fulica em Campos dos Goytacazes - RJ, Brasil

Cryptosporidium spp.
Medidas Diâmetro
IM1
Maior Menor
Média 3,58 3,12 1,15
Desvio Padrão 0,76 0,67 0,16
Valor Máximo 5,25 4,53 1,71
Valor Mínimo 2,38 2,01 1,00
1
Indice morfométrico (razão do diâmetro maior sobre o menor).

Como foi observado que na maioria dos locais onde o molusco foi encontrado
comumente há presença de cães, gato e roedor, bem como suas fezes, pode-se
24

inferir que A. fulica seja hospedeiro paratênico ou intermediário de espécies de


Cryptosporidium, porém a confirmação desta hipótese devera ser feita utilizando-se
métodos moleculares de diagnóstico.
25

5. CONCLUSÕES

Achatina fulica é hospedeira de Cryptosporidium spp.. No entanto, não se


pode afirmar que estes sejam hospedeiros definitivo ou paratêmico.
Pelos resultados desta pesquisa não se pôde afirmar quais são as espécies
de Cryptosporidium eliminadas nas fezes de Achatina fulica.
A higiene local foi considerada um fator de risco para a presença e eliminação
de Cryptosporidium pelos moluscos analisados.
26

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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