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Adélia Prado is one of the top poets in Brazil. In her poetry she
discusses the great tie between her and her lover called José, a love that
reaveals some traces that can be found in the relationships anywhere,
including those developed between partners in BDSM.
As in the BDSM relationships the vanilla couples(and vice versa) will
show one of the partners in a submissive role and this devotions garantees
Os Escritos de Janus
both the legitimacy of the command as the fully expression of the
submission.
The D/s submission , in this scenario, becomes a very important and
pleasant experience, driving us to strengh the ties and continously increase
our pleasure.
Para o Zé
(Adélia Prado)
(em Poesia Reunida, Editora Siciliano, S.Paulo, 1991, p.99)
Os Escritos de Janus
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.
Calma! Você não lerá um artigo acadêmico por dois motivos: aqui não
é o espaço e não tenho cabedal para fazê-lo. Vou apenas tentar compilar
algumas coisas que eu escrevei para ninguém ler e o tanto que está em
minha cabeça à partir de algumas experiências D/s que vivo.
Porque chamar essa série de reflexões de “Cela de Veludo”?
Primeiramente porque o poema lindíssimo de Adélia Prado trata muito de
submissão e, como é (ou deveria ser) regra, uma submissão voluntária
como pode-se facilmente notar. Em segundo lugar, porque é uma cela
confortável, que não tem a intenção de provocar um dano físico ou mental
de alguma monta.
Como acredito ter esboçado na minha primeira intervenção, o poema
é reconhecidamente “submisso”, estando a palavra entre aspas por uma
assunção de que no “diálogo amoroso” não deveria importar (ao menos
idealmente) um exercício de poder explícito mas eventualmente
construído na dinâmica das relações.
Tudo muito bem, tudo muito bom mas JB, o que tem isso a ver com o
BDSM? - podem dizer os mais apressados. Apesar do que há de peculiar no
relacionamento amoroso comum (baunilha?) e no relacionamento
Dominador(a)/submisso(a)? Para mim ambos guardam, no fundo,
grandes similaridades e igualmente grandes diferenças.
A primeira similaridade, ao meu ver, refere-se ao processo de
sedução. Por mais que possamos (queremos?) negar, o processo de
“negociação” é na verdade um processo de sedução baseado em
características de personalidade pré-existentes e que começam a ser
construídas/reconstruídas e/ou moldadas durante esse mergulho no
mundo do fetiche.
Um parêntese: tenho visto muitas intervenções em várias
comunidades, discutindo se a submissão é construída ou conquistada do
submisso(a). Dentro da minha experiência, vejo que a submissão, no
BDSM, é uma expressão sistematizada de algo que sempre esteve presente
na personalidade do submisso, algo que os psicólogos e demais
profissionais de áreas afins podem explicar com mais competência do que
do que eu e acredito piamente que o mesmo valha para os
Dominadores(as).
Isso ao meu ver, tem implicações fáceis de serem previstas mas que não
tenho visto serem enunciadas: há um processo legítimo de
“enamoramento” do Dominador(a) por seu submisso(a). Isso não é
novidade? Ufa! Que bom! É novidade? Vamos expandir um pouquinho.
Deve dar calafrios em determinadas pessoas saberem que de repente se
enamoraram de seus parceiros BDSM. Isso é rendição ao “baunilhismo”?
De forma alguma.
Recorro ao meu “Velhíssimo Dicionário da Língua Brasileira” para achar a
significação do verbo “enamorar” e encontro:
Os Escritos de Janus
“ENAMORAR, v.t. Encantar; enfeitiçar; apaixonar; p. Deixar-se possuir
por amor; apaixonar-se; enlevar-se”.
Sei que muitos vão “torcer o bico” ao ler essa frase mas ao menos para mim,
é o que acontece. Mesmo o mais sádico dos dominadores (as) sofrem ou são
agentes de um processo de sedução que leva ao enamoramento versão
BDSM.
O mais importante é assumir , e não vejo nenhum problema nisso, que
somos enamorados de nossos(as) submissos(as) em diversos graus de
envolvimento. Assim é a vida e não há porque negá-la.
Os Escritos de Janus
usufruir de sua submissão, mas de justificá-la, legitimá-la e dar-lhe corpo.
Os cariocas como a Helena diriam: “Que responsa, mermão!!!” Pois é! Pois
é! Não vou nem dizer que ser Dominador é mais fácil do que ser submisso
porque sei que essa discussão não tem pé nem cabeça até porque , como
diria Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, uma
frase lapidar. No entanto, isso pode suscitar uma discussão (em outro lugar
e momento) se os Dominadores(as) e submissos(as) sabem realmente com
o que estão lidando, a responsabilidade e gravidade de cada gesto e/ou
atitude tomada.
Se é verdade que a personagem do poema de Adélia é indiscutivelmente
submissa e o José um Dominador, convém examinar algumas pistas do
caráter da relação que constróem.
Ao ver alguns casais “BDSMistas” não tenho quaisquer dúvidas que ocorra
algo assim. No entanto, se nem no “baunilhismo” isso é norma, não
esperaria que fosse possível no BDSM que não tem, em essência, tanta
diferença assim das práticas habituais, só tem um caráter um tanto
Os Escritos de Janus
diferente nas práticas.
Isso contempla uma das tríades que H. propôs tão bem, o “Nós dos Nós”.
Lembro-me que ali ela pontua que as emoções transcendiam as dores e
chegavam à unir almas em algo muito maior , unindo almas e corações.
Perfeito!
Saudações à todos.
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