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A Atividade Portuária e as Questões Ambientais: abordagem

jurídica

Jeferson Valdir da Silva1

Leandro Paulo Cypriani2

Resumo

A atividade portuária sofreu uma modernização em sua estrutura


pelo advento da Lei nº 8.630, de 25 de Fevereiro de 1993, dando
oportunidade à inserção da iniciativa privada, e ainda para fazer
frente ao comércio internacional.

A mesma atividade portuária, também pela necessidade atual de


desenvolvimento sustentável, esta regida pela legislação ambiental.
Estampada na própria Lei de modernização dos portos, bem como
a necessidade de adaptação aos padrões ambientais exigidos
internacionalmente.

Assim a atividade portuária, seio de progresso e relações


humanas tem um novo desafio pela frente, que é a conciliação de
suas atividades com a preservação ambiental.

1
Mestrando em Ciência Jurídica da UNIVALI, linha de Pesquisa em Direito Internacional, Meio Ambiente e
Atividade Portuária.
2
Mestrando em Ciência Jurídica da UNIVALI, linha de Pesquisa em Direito Internacional, Meio Ambiente e
Atividade Portuária.
Palavras/Expressões chave: Atividade Portuária, Meio
Ambiente, Gestão Ambiental e Legislação Ambiental.

Introdução

As relações observadas entre as atividades portuárias e as


questões ambientais são complexas, já que se desenvolvem toda
uma gama de estruturas econômicas, sociais e ambientais. Tais
estruturas caminham juntas, tendo nas atividades portuárias o
condão da alavanca do sistema econômico e de escoamento da
produção.

Assim sendo, a atividade portuária é de grande importância ao


desenvolvimento da sociedade, e para isso, tem que seguir as
regras do desenvolvimento sustentável preconizado pelas políticas
ambientais.

O desenvolvimento de tal tarefa se faz pela criação de


dispositivos legas capazes de consolidar um desenvolvimento
econômico aliado a uma gestão ambiental.

Dentre os instrumentos criados com a finalidade de melhor gerir


as atividades humanas e suas interferências ao meio ambiente,
temos a Constituição da República Federativa do Brasil, que aborda
as questões ambientais em um capítulo próprio, e a Política
Nacional do Meio Ambiente, estes que dão o suporte geral para
todas as outras legislações nacionais que abordam a preservação
do meio ambiente.

Desta forma, a atividade portuária é também regulada pelas


normas ambientais, ditando as regras, e impondo condutas
normativas capazes de mitigar e compensar os impactos causados
pela atividade. Assim é observado também na Lei de modernização
dos Portos, que trouxe em seu texto, os reflexos de uma
consciência mundial.

Assim é feito no cenário nacional, bem como no internacional, ou


seja, pode-se observar a consciência da necessidade de uma nova
ordem ambiental, voltada a atender ao desenvolvimento sustentável
das atividades econômicas.

1. A Lei de Modernização dos Portos

Em vistas ao comércio internacional e à possibilidade de


modernização perante o mercado globalizado, a atividade portuária
necessitou de uma melhor gestão de seus serviços e de sua mão-
de-obra, bem como do estabelecimento de normas que
possibilitassem uma melhor operacionalização de suas atividades.

Para isso a Lei nº 8.630, de 25 de Fevereiro de 1993, através de


suas definições possibilitou reformas na estrutura dos portos. O
novo instrumento jurídico que dispõe sobre os portos organizados3
e suas instalações portuárias estabeleceu uma gama de categorias4
e de conceitos operacionais5, que vêem a melhor compreender os
aspectos técnicos que a Lei prevê.

3
Entende-se por “Porto organizado: o construído e aparelhado para atender as necessidades da navegação
e da movimentação e armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela União, cujo tráfego e
operações portuárias estejam sob a jurisdição de uma autoridade portuária.” Conceito atribuído pela Lei
nº 8.630 de 25 de fevereiro de 1993. Ver: STEIN, Alex Sandro. Curso de Direito Portuário. São Paulo:
LTr, 2002, p. 266.
4
“Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.”
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do
Direito. 8º ed. Florianópolis: OAB/SC-Editora-co-ediçao OAB Editora, 2003, p.40.
5
“Conceito Operacional (=COP) é uma definição pra uma palavra e expressão, com o desejo de que
tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da
Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 8º ed. Florianópolis:
OAB/SC-Editora-co-ediçao OAB Editora, 2003, p.40.
Assim, os portos brasileiros necessitavam de uma estruturação,
buscando uma melhor competitividade frente às Leis de mercado,
aliado a uma melhor gestão, dando ao setor a possibilidade da
entrada de iniciativa privada, setor este, antes de domínio exclusivo
do Governo Federal.

Nesta direção Alex Sandro Stein leciona que:


“A atividade portuária – leia-se: controle das operações
portuárias -, historicamente (desde o período imperial),
sempre foi monopólio do Poder Público. Assim, os portos
brasileiros sempre estiveram sob o controle administrativo
governamental, e em geral sem nenhum critério técnico,
não se podendo ignorar porem o fato de que, em sua
maioria, os grandes investimentos nesta área sempre
custeados pela União, com algumas raras exceções. [...]
Porém, o então modelo de gestão mostrou-se
absolutamente ineficiente e arcaico ante a globalização da
economia mundial, o que forçou a mudanças estruturais e
institucionais na esfera administrativa portuária, na busca
de adaptar os portos nacionais à nova realidade. Assim, o
Governo Federal permitiu a realização da operação
portuária por empresas privadas, [...] Fez-se necessária,
ainda, a implementação de mudanças de cunho
econômico e em especial tarifário, [...], o que de modo
óbvio impedia a competitividade dos portos brasileiros
perante os demais. [...] Os instrumentos legais acerca do
tema deixam clara a intenção do Governo Federal em
transferir para a iniciativa privada o controle das
atividades portuárias, sem contudo perder o controle da
situação, em face do poder dado ao Conselho de
Autoridade Portuária – CAP, que, dentre outras funções,
possui juntamente com a administração portuária o
condão de anular a pré-qualificação do operador
portuário.”6
Com a modernização dos Portos, através da Lei 8.630/93,
também foram observados em sua redação, dispositivos que

6
STEIN, Alex Sandro. Curso de Direito Portuário. São Paulo: LTr, 2002, p. 64-6.
detinham normas sobre a proteção do meio ambiente7, de forma
pró-ativa e preventivamente.

Assim em seu artigo 4º, § 1º, dispõe:

“Art. 4º Fica assegurado ao interessado o direito de


construir, reformar, ampliar, melhorar, arrendar e explorar
instalação portuária, dependendo:
I – de contrato de arrendamento, celebrado com a União,
no caso de exploração direta, ou com sua concessionária,
sempre através de licitação, quando localizada dentro dos
limites da área do porto organizado;
II – de autorização do Ministério competente, quando se
tratar de terminal de uso privativo, desde que fora da área
do porto organizado, ou quando o interessado for titular
do domínio útil do terreno, mesmo que situado dentro da
área do porto organizado.
§ 1º A aceleração do contrato e a autorização a que se
referem os incisos I e II deste artigo devem ser precedidas
de consulta à autoridade aduaneira ao poder público
municipal e de aprovação do Relatório de Impacto sobre o
Meio Ambiente – RIMA.”8

Deste dispositivo da Lei 8.630/93, podemos observar que esta


atua de forma preventiva em relação ao meio ambiente, buscando
uma forma de mitigar ou compensar os possíveis impactos
causados pela implantação das atividades portuárias, desta forma,
forçando os empreendedores a uma melhor qualificação das
estruturas portuárias.

Neste caminho, a Lei 8.630/93 ainda estabeleceu como


competência do Conselho de Autoridade Portuária, conselho este,
que nas palavras de Stein9, “constitui um órgão administrativo,

7
Conforme o Art. 3º, I da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente considera-se “meio ambiente, o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas;” BRASIL. Lei Nº 6.938/81, de 31 de Agosto de 1981.
Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e
da outras providências. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina.
Florianópolis: Fatma, 2002, p. 343.
8
STEIN, Alex Sandro. Curso de Direito Portuário. São Paulo: LTr, 2002, p. 266.
9
STEIN, Alex Sandro. Curso de Direito Portuário. São Paulo: LTr, 2002, p. 67.
instituído regionalmente, ou seja, em cada porto brasileiro, com
funções claramente normatizadoras das atividades portuárias,” a
seguinte atribuição em relação ao Meio Ambiente:

“Art. 30. Será instituído, em cada porto organizado ou no


âmbito de cada concessão, um Conselho de Autoridade
Portuária.
§ 1º Compete ao Conselho de Autoridade Portuária:
......
XII – assegurar o cumprimento das normas de proteção
ao meio ambiente;”10
Desta forma, a lei deixa clara a intenção de que as normas
ambientais sejam cumpridas dentro do porto organizado,
possibilitando assim, uma gestão ambiental11 na atividade portuária,
melhorando as condições do meio ambiente local, e possibilitando
estruturas capazes de gerir e solucionar os problemas ambientais
advindos da atividade.

Também coube a administração do porto a incumbência da


salva-guarda ambiental, assim a Lei 8.630/93 em seu art. 33,
prescreve:

“Art. 33. A Administração do Porto é exercida diretamente


pela União ou pela entidade concessionária do porto
organizado.
§ 1º Compete à Administração do Porto, dentro dos limites
da área do porto:
....
VII – fiscalizar as operações portuárias, zelando para que
os serviços se realizem com regularidade, eficiência,
segurança e respeito ao meio ambiente;”12
10
STEIN, Alex Sandro. Curso de Direito Portuário. São Paulo: LTr, 2002, p. 273-4.
1111
“A incorporação da variável ambiental dentro da gestão empresarial se tem convertido em uma
necessidade inexplicável para aquelas empresas que não queriam atuar e cumprir com as obrigações
perante a sociedade. Esta incorporação se desenvolve eficientemente mediante a inclusão junto ao sistema
de gestão geral da empresa, conhecida como Sistema de Gestão Ambiental, que deve instrumentar-se
mediante os meios e estruturas necessárias para que não fique só como uma mera declaração de
intenções.” KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira. Gestão Ambiental: um enfoque no desenvolvimento
sustentável. Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br/gestao/des_sustentavel.doc Acesso em 17
de maio de 2006.
12
STEIN, Alex Sandro. Curso de Direito Portuário. São Paulo: LTr, 2002, p. 275.
Assim, se de um lado o Conselho de Autoridade Portuária coube
assegurar o cumprimento das normas ambientais, à administração
coube a fiscalização do cumprimento das normas, estipulando que
a atividade portuária em seus serviços, observa-se a sua
regularidade, a sua eficiência, e a segurança, necessárias a
atividade, porém enumera o respeito ao meio ambiente, vinculando
por imediato às atividades portuárias a uma gestão ambiental.

Finalmente, no que versa sobre a Lei de modernização dos


portos, podemos observar que a mesma contribuiu muito para as
questões ambientais, já que trouxe dispositivos próprios e capazes
de exigir das atividades portuárias uma aplicação e gestão destas
questões.

Neste ínterim, cabe agora fazer menção a outras normas


ambientais que visam à salva-guarda ambiental perante as
atividades portuárias.

2. Aspectos destacados da Legislação ambiental Nacional


aplicados na atividade portuária.

Em nosso País a Política Nacional do Meio Ambiente foi


instituída pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que através
de seu artigo 6º, criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA.13

Os objetivos da Lei estão descritos no artigo 2º, que assim


determina: “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade

13
Segundo Antunes: “A finalidade do SISNAMA é estabelecer uma rede de agências governamentais,
nos diversos níveis da Federação, visando a assegurar mecanismos capazes de, eficientemente,
implementar a Política Nacional do Meio Ambiente.” ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. 4ª ed.
ver., ampl. e atualiz. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 93.
ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, [...].”14

Sob este aspecto, podemos verificar que a Política Nacional do


Meio Ambiente não esta voltada somente à preservação ambiental,
mas também se preocupa com as questões sociais e econômicas.
Assim, a atividade portuária também se rege sob a égide da Lei
Nacional, já que suas atividades contemplam questões sociais,
econômicas e ambientais.

Dentre os objetivos da Lei, podemos citar alguns que


diretamente acompanham as atividades portuárias, assim sendo:

“Art. 4º.A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-
social com a preservação da qualidade do meio ambiente
e do equilíbrio ecológico;
....
III – ao estabelecimento de critérios e padrões de
qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e
manejo de recursos ambientais;
....
VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação
de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao
usuário, da contribuição pela utilização dos recursos
ambientais com fins econômicos.”15
No artigo acima citado, trazendo a baila para o setor portuário,
tem-se que a Política Nacional do Meio Ambiente visa o
desenvolvimento das atividades econômicas e sociais no porto
organizado, porém requer da atividade uma compatibilização com a
qualidade ambiental. Sendo assim, estabelece normas que impõem
14
BRASIL. Lei Nº 6.938/81, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e da outras providências. Coletânea da
Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 343.
15
BRASIL. Lei Nº 6.938/81, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e da outras providências. Coletânea da
Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 343.
critérios e padrões, e impõe ainda, a recuperação e/ou indenização
aos danos causados pela atividade portuária.

A Lei prevê a possibilidade de desenvolvimento da atividade


portuária, porém estabelece critérios as suas operações.

A Política Nacional do Meio Ambiente no Brasil visou


compatibilizar as atividades humanas à preservação ambiental,
assim prescreveu em seu artigo 9º alguns Instrumentos capazes de
por em prática tais pretensões. Dentre estes Instrumentos, a
atividade portuária deve estar em consonância direta com alguns
deles:

“Art. 9º. São instrumentos da Política Nacional do Meio


Ambiente:
I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II – o zoneamento ambiental;
III – a avaliação de impactos ambientais;
IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras;
V – os incentivos à produção e instalação de
equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia,
voltados para a melhoria da qualidade ambiental; [...].“16
Os instrumentos acima mencionados encontram a sua base
constitucional no conjunto de normas jurídicas que se encontram
presentes no artigo 225 da Constituição da República Federativa do
Brasil17, especialmente no parágrafo primeiro e seus incisos.

Um dos Instrumentos que se atribui maior importância à


prevenção ambiental é o licenciamento ambiental, pois dele
decorrem as conseqüências de alguns dos outros instrumentos, ou

16
BRASIL. Lei Nº 6.938/81, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e da outras providências. Coletânea da
Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 344.
17
Ver: Art. 225 da CRFB/88. BRASIL. Constituição federal. Coletânea de legislação de direito
ambiental. (org.) Odete Madauar. (coord.) Giselle de melo Braga Tapai. 3º ed. rev. Atual. Amp. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 133-134.
seja, no licenciamento o órgão licenciador verificará as condições
de funcionamento do empreendimento, dando vistas aos outros
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente.

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente –


CONAMA 237/97, que dispõe sobre o licenciamento ambiental, em
seu artigo 1º, inciso I, assim a define:

“Licenciamento ambiental: procedimento administrativo


pelo o qual o órgão ambiental competente licencia a
localização, instalação, ampliação e a operação de
empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental, considerando as
disposições legais e regulamentares e as normas
técnicas aplicáveis ao caso.”18
Segundo a Resolução, o licenciamento de empreendimentos e
atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional
ou regional, fica sob a atribuição do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, órgão
executor do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

A mesma Resolução também, atribui competências aos demais


entes federados no que concerne ao licenciamento ambiental,
conforme se vê nos artigos 5º e 6º da Resolução:

“Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do


Distrito Federal o licenciamento ambiental dos
empreendimentos e atividades:
I – localizados ou desenvolvidos em mais de um
Município ou em unidades de conservação de domínio
estadual ou do Distrito Federal;
II – localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais
formas de vegetação natural de preservação permanente
relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de
setembro de 1965, e em todas as que assim forem
consideradas por normas federais, estaduais ou
municipais;
18
BRASIL. Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de Dezembro de 1997. Coletânea da Legislação
Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 390.
III – cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os
limites territoriais de um ou mais Municípios;
IV – delegados pela União aos Estados, do Distrito
Federal, por instrumento legal ou convenio.
Parágrafo único – O órgão ambiental estadual ou do
Distrito Federal fará o licenciamento de que trata este
artigo após considerar o exame técnico procedido pelos
órgãos ambientais dos Municípios em que se localizar a
atividade ou empreendimento, bem como, quando
couber, o parecer dos demais órgãos competentes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
envolvidos no procedimento de licenciamento.
Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos
os órgãos competentes da União, dos Estados e do
Distrito Federal, quando couber, o licenciamento
ambiental de empreendimentos e atividades de impacto
ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo
Estado por instrumento legal ou convênio.”19
A Resolução CONAMA 237/97, ainda, em seu anexo I, faz
menção as atividades potencialmente poluidoras, e discrimina a
atividade portuária como obrigatória de licenciamento.

Assim estabelece em seu anexo I:

“ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS SUJEITAS AO


LICENCIAMENTO AMBIENTAL
....
Transporte, terminais e depósitos
....
- marinas, portos e aeroportos.”20
A Resolução do CONAMA impõe o licenciamento das atividades
portuárias, possibilitando assim o crivo do órgão licenciador
competente em relação aos padrões ambientais exigidos na
Legislação.

Outra questão que merece menção, é que devido ao uso


obrigatório da água pela atividade portuária, a mesma também é
19
BRASIL. Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de Dezembro de 1997. Coletânea da Legislação
Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 390.
20
BRASIL. Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de Dezembro de 1997 – Anexo I. Coletânea da
Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 392-394.
regida pela Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecida
pela Lei nº 9.433 de 08 de janeiro de 1997, que conforme o seu
artigo 2º, inciso II, tem por objetivos “a utilização racional e
integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário,
com vistas ao desenvolvimento sustentável;”21. Desta maneira a
atividade portuária também deve prezar ambientalmente pelo uso
sustentável dos recursos hídricos.

E Ainda especificamente relacionado aos recursos hídricos,


desta vez na área marítima, lócus também da atividade portuária, e
devido à localização dos portos organizados, estes devem também,
observância às normas do Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro - Lei nº 7.661 de 16 de maio de 1988.

A Lei nº 7.661/88, que instituiu o Plano Nacional de


Gerenciamento Costeiro, como parte integrante da Política Nacional
do Meio Ambiente, em seu artigo 3º, prevê o zoneamento de usos e
atividades na zona costeira, dando prioridade a conservação e
preservação ambiental dos seguintes bens:

“[...] I – recursos naturais, renováveis e não renováveis;


recifes, parcéis, e bancos de algas; ilhas costeiras e
oceânicas; sistema fluvial, estuários e lagunares, baías e
enseadas; praias; promontórios, costões e grutas
marinhas; restingas e dunas; florestas litorâneas,
manguezais e pradarias submersas;
II – sítios ecológicos de relevância cultural e demais
unidades naturais de preservação permanente;
III – monumentos que integrem o patrimônio natural,
histórico, paleontológico, epeleológico, arqueológico,
étnico, cultural e paisagístico.”22
21
BRASIL. Lei Nº 9.433, de 08 de Janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos,
cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art.21 da
Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº
7.990, de 28 de dezembro de 1989. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa
Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 401.
22
BRASIL. Lei nº 7.661, de 16 de Maio de 1988. Dispõe sobre o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro, e da outras providências. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa
Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p.348.
Assim a atividade portuária deve levar em conta a sua
localização e os bens ambientais que o circundam.

A Lei nº 7.661/88 também dita as regras gerais para o


licenciamento de parcelamento do solo, o seu remembramento,
assim como para o licenciamento de atividades que tragam
alterações das características naturais da zona costeira. O artigo 6º
assim prescreve:

“Art. 6º. O licenciamento para parcelamento e


remembramento do solo, construção, instalação,
funcionamento e ampliação de atividades, com alteração
das características naturais da zona costeira, devera
observar, além do disposto nesta Lei, as demais normas
especificas, federais, estaduais e municipais, respeitando
as diretrizes dos Planos de Gerenciamento Costeiro.
§1º .A falta ou descumprimento, mesmo parcial das
condições do licenciamento previsto neste artigo serão
sancionados com interdição, embargo ou demolição, sem
prejuízo de cominação de outras penalidades previstas
em lei.
§2º . Para o licenciamento, o órgão competente solicitará
ao responsável pela atividade a elaboração do Estudo de
Impacto Ambiental e a apresentação do Respectivo
Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, devidamente
aprovado, na forma da lei.”23

A legislação acima mencionada veio a confirmar as


determinações legais vigentes, preceituando ainda que as
atividades a serem licenciadas na zona costeira, além das normas
específicas constantes da legislação federal, estadual e municipal,
devem também, observar os Planos Federal e Estadual de
gerenciamento costeiro.

No que diz respeito à Poluição, a Lei nº 5.357, de 17 de


novembro de 1967, foi a primeira a tratar sobre poluição marítima,
23
BRASIL. Lei nº 7.661, de 16 de Maio de 1988. Dispõe sobre o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro, e da outras providências. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa
Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p.348.
estabelecendo penalidades para as embarcações e terminais
marítimos ou fluviais que lançassem detritos ou óleos em águas
brasileiras.

As penalidades, entretanto, restringiram-se ao âmbito


administrativo. Dispunha o artigo 1º dessa Lei que:

“as embarcações ou terminais marítimos [...],


estrangeiras ou nacionais, que lançarem detritos ou óleo
nas águas que se encontrem dentro de uma faixa de 6
(seis) milhas marítimas do litoral brasileiro, [...], ficarão
sujeitos [...], à multa de 2% (dois por cento) - do maior
salário mínimo vigente no território nacional, por tonelada
de arqueação ou fração; [...].”24
Já as penalidades para os terminais marítimos ou fluviais são
um pouco mais elevadas, podendo alcançar duzentas vezes o
maior salário mínimo vigente no Brasil.

A vigência dessa Lei foi reafirmada no art. 14, § 4º, da Lei da


Política Nacional do Meio Ambiente, relativa às sanções pecuniárias
em virtude do derramamento ou lançamento de detritos de óleo em
águas brasileiras por embarcações, terminais marítimos ou fluviais.

Todavia, a Lei 5.357/67 foi recentemente revogada


expressamente pelo artigo 35 da Lei nº 9.966/00, que estabeleceu
sanções administrativas específicas, mais detalhadas e mais
graves, relativas ao despejo de substâncias nocivas no ambiente
marinho.

Assim a Lei nº 9.966 de 28 de abril de 2000, a qual dispõe sobre


a prevenção, controle e fiscalização da poluição causada por
lançamento de óleo e outras substâncias nocivas e perigosas em
águas sob a jurisdição nacional, assim apelidada de “Lei do Óleo”

24
BRASIL. Lei ,nº 5.357, de 17 de Novembro de 1967. Estabelece penalidades para embarcações e
terminais marítimos ou fluviais que lançarem detritos ou óleo em águas brasileiras, e dá outras
providências. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis:
Fatma, 2002, p. 481.
Esta Lei foi o resultado de um projeto encaminhado ao
Congresso Nacional em 1992, pelo então Presidente Fernando
Collor de Melo, e que apenas foi incluída na pauta da convocação
extraordinária do Congresso após uma mensagem enviada pelo
Presidente Fernando Henrique Cardoso, pedindo urgência em sua
votação, em decorrência do vazamento de mais de um milhão de
litros de óleo nas águas da Baía de Guanabara, cartão postal do
Rio de Janeiro e do Brasil.

A notícia escandalizou o mundo, estampando na imprensa


durante semanas os efeitos da maré negra no meio ambiente, nas
comunidades biológicas, na fauna e flora, nos manguezais, bem
como na saúde e na qualidade de vida da população.

Em relação à atividade portuária, a Lei enumera uma série de


Categorias e Conceitos operacionais importantes a sua
interpretação, e em seu artigo 1º assim se refere:

“Art. 1º Esta lei estabelece os princípios básicos a serem


obedecidos na movimentação de óleo e outras
substâncias nocivas e perigosas em portos organizados,
instalações portuárias, plataformas, e navios em águas
sob jurisdição nacional.”25
No Capitulo II, Dos Sistemas de Prevenção, Controle e Combate
da Poluição, assim dispõe em seu artigo 5º:

“Todo porto organizado, instalação portuária e


plataforma, bem como suas instalações de apoio, disporá
obrigatoriamente de instalações ou meios adequados
para o recebimento e tratamento dos diversos tipos de
resíduos e para o combate à poluição, observadas as
normas e critérios estabelecidos pelo órgão ambiental
competente.”26
25
BRASIL. Lei Nº 9.966, de 28 de Abril de 2000. Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização
da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob
jurisdição nacional e dá outras providências. coletânea de legislação de direito ambiental. (org.) Odete
Madauar. (coord.) Giselle de melo Braga Tapai. 3º ed. rev. Atual. Amp. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2004, p. 346.
26
BRASIL. Lei Nº 9.966, de 28 de Abril de 2000. Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização
da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob
Nos dizeres de Paulo Afonso Leme Machado:

“Registra-se na Lei 9.966/2000 um avanço no controle


contínuo das entidades que tenham obtido o
licenciamento ambiental. O art. 9º diz: “As entidades
exploradoras de portos organizados e instalações
portuárias e os proprietários ou operadores de
plataformas e suas instalações de apoio deverão realizar
auditorias ambientais independentes, com o objetivo de
avaliar os sistemas de gestão e controle ambiental e
suas unidades.”27
Já em relação aos crimes ambientais, podemos observar que
anteriormente a Lei de Crimes Ambientais, a legislação não
dispunha de normas criminais específicas para o caso de poluição
marinha, havendo apenas o artigo 15 da Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente, introduzido pela Lei nº 7.804, de 18 de julho de
1989, em obediência ao art. 225, § 3º, da Constituição Federal, e o
art. 3º, inc. III, que conceitua a poluição.

Assim, a Lei dos Crimes Ambientais, Lei n. 9.605, de 12 de


fevereiro de 1998, regulamentada pelo Decreto n. 3.179, de 21 de
setembro de 1999, trouxe previsões específicas a serem aplicadas
no caso de poluição marinha.

O seu art. 54 prevê o crime de poluição, incriminada em todas as


suas formas, revogando o artigo 15 da Lei n. 6.938/81. O § 1º do
referido artigo admite a forma culposa do crime em qualquer de
suas modalidades. O § 2º prevê, em seu inc. IV, a forma qualificada
do crime de poluição por tornar a poluição difícil ou inviável o uso
das praias, e em seu inc. V a forma qualificada por (...) lançamento
de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos ou detritos, óleos ou
substâncias oleosas, em desacordo com as exigências

jurisdição nacional e dá outras providências. Coletânea de legislação de direito ambiental. (org.) Odete
Madauar. (coord.) Giselle de melo Braga Tapai. 3º ed. rev. Atual. Amp. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2004, p. 348.
27
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª ed. Rev. Atual. Amp. São Paulo:
Malheiros Editores. 2004, P.870-871
estabelecidas em leis e regulamentos. O § 3º prevê que, em
ocorrendo às circunstâncias do parágrafo anterior, a omissão da
autoridade competente configura também crime se o dano causado
for grave ou irreversível.28

Aplicado à matéria, temos ainda, o art. 25, § 3º, e o art. 26 da Lei


n. 9.966/98 – Lei do Óleo, que prevêem infrações penais, devendo
estas serem punidas na forma da Lei dos Crimes Ambientais e seu
regulamento.

Assim, podemos ressaltar que o aparato jurídico nacional,


posto a nossa disposição envolvendo a atividade portuária e o meio
ambiente é grande, e não se exaure neste artigo, porém aqui, uma
fonte de inspiração a aqueles que desejam aprofundar o tema.

3. Aspectos destacados da Legislação ambiental Internacional


aplicados na atividade portuária brasileira.

No plano internacional, a mobilização para a preservação dos


mares deu origem à Conferência de Bruxelas de 1969, que resultou
na Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por
Danos Causados por Poluição por Óleo (CLC/69)29.

Restringe-se a presente Convenção aos danos de poluição por


óleo causados por navios no território, incluindo o mar territorial das
partes, e às medidas preventivas para evitar ou minimizar tais
danos.

28
BRASIL. Lei ,nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Coletânea da
Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002, p. 355.
29
Promulgada pelo Decreto nº 79.437, de 28-3-1977e regulamentada pelo Decreto nº 83.540, de 4-6-
1979. SOARES, Guido Fernando Silva. Direito internacional do meio ambiente: emergência,
obrigações e responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001, p. 189.
Não estão englobados, nesta convenção os danos causados por
derivados claros de petróleo (gasolina, óleo diesel ou querosene) ou
aqueles causados, por exemplo, por instalações portuárias ou
dutos. O que, não persistiu diante da entrada em vigor da nossa Lei
da Política Nacional de Meio Ambiente, de 1981, e da Constituição
Federal de 1988, que já mencionados neste artigo, atingem estes
tipos de poluição.

Em 1972, foi realizada a Conferência de Estocolmo, da qual


resultou a Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
que dentre outros princípios alerta para a necessidade de
preservação dos recursos vivos do mar, criando para os Estados a
obrigação de prevenir a poluição dos mares por substâncias que
possam por em perigo a saúde do homem, prejudicar os recursos
vivos e a vida marinha, causar danos às possibilidades recreativas
ou interferir com outros usos legítimos do mar.30

Ainda naquele ano, em 29 de dezembro, foi celebrada em


Londres a Convenção Sobre Prevenção da Poluição Marinha por
Alijamento de Resíduos e outras Matérias, visando prevenir a
poluição marítima por resíduos industriais e químicos e prevê ainda
uma ação internacional para controlar a contaminação do mar pelo
alijamento de resíduos ou outras substâncias lesivas à saúde
humana, aos recursos biológicos e à vida marinha, capazes ainda
de danificar as condições e interferir em outras aplicações legítimas
do mar.

Dez anos depois, a Convenção de Londres foi aprovada no


Brasil pelo Decreto Legislativo nº 10, de 21 de março de 1982, e

30
Ver: Declaração da Conferência de ONU no Ambiente Humano, Estocolmo, 5-16 de junho de 1972
(tradução livre) Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc
Acesso em : 16 de maio de 2006.
promulgada pelo Decreto nº 87.566, de 16 de setembro do mesmo
ano.

Em junho de 1992, vinte anos após a Declaração de Estocolmo,


foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que gerou a Declaração
do Rio e a Agenda 21, documentos importantes na formulação de
políticas relacionadas aos temas ambientais. O capítulo 17 da
Agenda 21, que trata da Proteção dos Mares e Oceanos, assume
papel de destaque, quando se trata da questão da prevenção da
poluição marinha.

Assim, pela implementação da agenda 21, foi possível criar a


agenda ambiental portuária, documento importante e que dá as
linhas mestras da atividade, possibilitando uma gestão ambiental no
setor portuário. A Agenda Ambiental Portuária determina que:

“Os Planos de Desenvolvimento e Zoneamento dos


Portos- PDZs - instrumento básico de planejamento
estratégico dos portos e que são submetidos aos
Conselhos de Autoridade Portuária - CAPs - para
aprovação (Lei 8.630/93), devem, por um lado, incorporar
o ordenamento ambiental do porto e, por outro, estar
compatibilizados com o planejamento da região.
Os PDZs, conforme estabelecem as orientações gerais,
deverão integrar-se aos planos diretores municipais e/ou
metropolitanos e às diretrizes e metas do gerenciamento
costeiro e do sistema de recursos hídricos, estabelecidos
para a região, contemplando: zoneamento ambiental,
identificação de áreas de risco, áreas críticas e de
preservação e definir os locais para serviços de apoio
(ex.: tratamento de resíduos e efluentes, locais de
descarte de material dragado).”31
E ainda prevê que:

“Os novos empreendimentos portuários deverão ser


licenciados com base em Estudos de Impacto Ambiental -

Comissão Permanente de Meio Ambiente. Resolução nº 006, de 02 de dezembro de 1998. (Agenda


31

Ambiental Portuária) Disponível em: http://www.transportes.gov.br/CPMA/cap03.htm#3.6 Acesso


em 16 de maio de 2006.
EIA - e seus respectivos Relatórios de Impacto Ambiental
- RIMA - de acordo com a legislação vigente, avaliando
os impactos identificados e levando em consideração as
características específicas do local de implantação e as
peculiaridades do empreendimento.”32
Pode-se observar que a Agenda Ambiental Portuária, veio a
contribuir com as normas ambientais vigentes, sendo um importante
instrumento da gestão portuária Ambiental.

Já a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,


resultou da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Direito
do Mar e foi celebrada em Montego Bay, Jamaica, tendo sido
aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 05, de 09 de
setembro de 1987, e promulgada pelo Decreto nº 1.530, de 22 de
junho de 198533. Embora a Convenção tenha definido os diversos
tipos de poluição, não estabeleceu regras acerca da
responsabilidade civil dos Estados, deixando a salvaguarda do
equilíbrio ecológico para as normas de Direito Internacional.

Em âmbito nacional a Lei nº 8.617, de 04 de janeiro de 1993,


tratou dos conceitos importantíssimos de mar territorial, zona
contígua, zona econômica exclusiva e plataforma continental,
elucidando e delimitando assim estes conceitos estampados na
Convenção de Montego Bay.

Assim, a implementação da Convenção das Nações Unidas


sobre o Direito do Mar no Brasil vem sendo efetivada pela criação
de uma série de programas e planos de integração, entre eles, o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, instituído pela Lei n.

32
Comissão Permanente de Meio Ambiente. Resolução nº 006, de 02 de dezembro de 1998. (Agenda
Ambiental Portuária) Disponível em: http://www.transportes.gov.br/CPMA/cap03.htm#3.6 Acesso em 16
de maio de 2006.
33
Na verdade, houve um decreto anterior que promulgava a Convenção, mas que, entretanto, foi
revogado, pois não havia ainda o número de ratificações pelos países, necessário para que a mesma
entrasse em vigor. A Convenção exigiu a ratificação de sessenta países, contando-se o prazo de 12 meses
a partir do depósito do último instrumento de ratificação para sua entrada em vigor.
7.661, de 16 de maio de 1988, já descrita neste artigo, do qual se
originou o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro,
coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, e o Programa de
Avaliação dos Potenciais Sustentáveis de Captura de Recursos
Vivos na Zona Econômica Exclusiva – o Revizee.

Outra importante Convenção foi aprovada pelo Decreto


Legislativo nº 04, de 09 de novembro de 1987, e em 04 de março
de 1998, por meio do Decreto nº 2.508, foi promulgada a
Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios,
de 1973, com seu protocolo de 1978 e suas emendas de 1984
(Marpol 73/78)34.

Essa Convenção é bastante extensa, cria uma série de


mecanismos de prevenção e controle da poluição, instituindo
relatórios, vistorias e certificados de inspeção dos navios que
operam no ambiente marinho.

Pode-se, atualmente, considerar a Marpol 73/78, como é


chamada, como a norma internacional de maior importância na
prevenção da poluição marinha, causada não só por petróleo, como
por outras substâncias nocivas.

Aponta-se, como significativo avanço no âmbito da prevenção da


poluição marinha por óleo, a implantação do Port State Control, que
é o Controle Estatal Portuário, garantindo a possibilidade de
inspeção de navios visitantes de qualquer nacionalidade, consoante
às normas e os padrões estabelecidos, entre outros instrumentos
da Marpol que concede aos portos, inclusive, a autonomia para

34
SOARES, Guido Fernando Silva. Direito internacional do meio ambiente: emergência, obrigações e
responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001, p.234-236.
deter o navio sob suspeita até a eliminação satisfatória do risco de
dano ao meio ambiente35.

A Marpol foi completada pela Lei nº 9.966 de 28 de abril de


2000, Lei do Óleo. Como ela é uma Convenção para navios, a Lei
do Óleo possibilita que as situações não contempladas pela Marpol,
que abrangem as instalações portuárias, das empresas ou qualquer
outro tipo de instalação, também sejam submetidas às normas de
prevenção.

Ainda nesta matéria, a Convenção Internacional sobre Preparo,


Resposta e Cooperação em caso de Poluição por Óleo (OPRC
90)36, celebrada em Londres, a 30 de novembro de 1990, foi
aprovada pelo Decreto Legislativo nº 43, de 29 de maio de 1998, e
promulgada pelo Decreto nº 2.870, de 10 de dezembro de 1998.

Trata-se de uma Convenção de cooperação entre os Estados


preocupados com a preservação e a prevenção dos danos ao meio
ambiente, pela qual um Estado pode requisitar cooperação do
outro, em face de um acidente de grande porte. Além disso, ela
prevê o estabelecimento pelos governos de planos nacionais de
contingência.

Para os navios e instalações em que haja risco de poluição, a


Convenção também prevê Planos de emergência que sejam
capazes de responder imediata e efetivamente ao incidente,
munidos de equipes técnicas devidamente treinadas.

35
It is obvious that MARPOL has made a substantial contribution to the codification and progressive
development of the law of the sea in the field of pollution from shipping in general, and on port State
enforcement jurisdiction and control, in particular. YANKOV, Alexander. The Law of the Sea
Convention and Agenda 21: Marine Environmental Implications Arising from Land-based and Sea-
based Activities. Text provided by the author in his Lecture at the 3rd Session of The Rhodes Academy
of Oceans Law and Police, 1998, p.23.
36
SOARES, Guido Fernando Silva. Direito internacional do meio ambiente: emergência, obrigações e
responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001, p.236-238.
Assim leciona Soares:

“Além de um plano nacional de contingência para a


prevenção e resposta, o qual deverá incluir as relações
dos vários órgãos envolvidos, públicos e privados,
levando-se em contra os parâmetros estabelecidos pela
Organização, cada Estado, por sua vez, individualmente
ou por meio de acordos bi ou multilaterais de
cooperação, deverá, conjuntamente com as indústrias de
petróleo e de navegação, com as autoridades portuárias
e outras, estabelecer: (a) um nível mínimo de
predisposição de equipamentos de combate a
derramamentos de óleo, compatíveis com os riscos
envolvidos, e os programas para seu uso; (b) um
programa de exercício para as organizações
encarregadas de resposta a poluições por óleo, e
treinamento de pessoal; (c) planos detalhados e
avaliações de capacidades, revisadas periodicamente,
para resposta a incidentes com poluição por óleo; e (d)
mecanismo de coordenação para respostas a incidentes
com poluição por óleo com indicação, quando for o caso,
das capacidades de mobilização de recursos.”37
Fechando a questão, a Lei nº 9.966/00 – Lei do Óleo, além de
exigir os planos, estabelece sanções administrativas para o caso do
não-atendimento das suas previsões.

Esse novo texto legal – a Lei nº 9.966, de 28 de abril de 2000,


ainda não regulamentada – define princípios básicos a serem
obedecidos na movimentação de óleo e outras substâncias nocivas
e perigosas em portos organizados, instalações portuárias,
plataformas e navios em águas sob a jurisdição nacional, ampliando
a aplicação da Marpol 73/78, estabelecendo sanções
administrativas e penais para o seu descumprimento.

Num breve comentário sobre a nova lei, tendo em vista sua


recentíssima publicação, é importante ressaltar que seu artigo 9º
introduz na legislação nacional a exigência das auditorias

37
SOARES, Guido Fernando Silva. Direito internacional do meio ambiente: emergência, obrigações e
responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001, p. 237.
ambientais independentes, instrumentos importantíssimos da tutela
preventiva do Estado na política ambiental.

As entidades exploradoras de portos organizados e instalações


portuárias ou operadores de plataforma e suas operações de apoio
deverão submeter-se à avaliação externa do sistema de gestão
ambiental de suas unidades, possibilitando-se o contínuo controle
dos pontos que precisam ser adequados para o exercício da
atividade potencialmente poluidora dentro dos parâmetros do
desenvolvimento sustentável.

Encerra-se desta forma, o presente trabalho, não com a


pretensão de finalizar o assunto, mas como ponto de discussão e
análise posteriores sobre a importância do desenvolvimento
econômico aliado ao desenvolvimento ambiental.

Considerações Finais

As relações humanas tendem a especializar-se, e assim o


desenvolvimento caminha junto aos riscos produzidos pela
sociedade. A atividade portuária de grande importância para a
sociedade, também acompanha este ritmo e para tal, cresce com as
tecnologias e com a prosperidade do sistema comercial.

Entretanto todas as atividades humanas de algum modo são


impactantes ao meio ambiente, cabe desta forma pesquisa-las e
analisa-las para possíveis estudos, buscando melhores formas de
gerenciar estes problemas. Assim também o é a atividade portuária,
atividade dinâmica e complexa em suas estruturas, pois como uma
grande indústria trabalha com uma gama ilimitada de produtos,
estes muitas vezes inofensivos, outras vezes de impacto mortal.
Isto significa que, deve-se ter na atividade portuária normas
condizentes aos possíveis impactos ambientais, bem como uma
infra-estrutura capaz de exigir do sistema as melhores tecnologias
de prevenção a acidentes e as melhores técnicas em destinação de
seus resíduos.

Para isso, em âmbito nacional, como internacional, foram


criadas legislações que contemplam os perigos advindos da
atividade portuária. Cabem agora aos administradores do porto, aos
Conselhos de Autoridade Portuária, aos trabalhadores do Porto
Organizado, aos usuários do sistema, bem como toda a sociedade,
a fiscalização do cumprimento das normas ambientais aplicadas às
atividades portuárias, como também ao cumprimento das demais
normas que regem o setor.

Desta forma, pode-se harmonizar o desenvolvimento econômico


com o meio ambiente, proporcionando uma melhor qualidade de
vida a população, melhores empregos, qualidade de seus serviços
e produtos, contribuindo assim, para a prosperidade da atividade
portuária.

Referências das Fontes Citadas

ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. 7ª ed. rev., ampl. e


atualiz. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
BRASIL. Lei ,nº 5.357, de 17 de Novembro de 1967. Estabelece
penalidades para embarcações e terminais marítimos ou fluviais
que lançarem detritos ou óleo em águas brasileiras, e dá outras
providências. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no
Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002.
BRASIL. Lei Nº 6.938/81, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre
a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e da outras providências. Coletânea da
Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa Catarina.
Florianópolis: Fatma, 2002.
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Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, e da outras
providências. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no
Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002.
BRASIL. Lei Nº 9.433, de 08 de Janeiro de 1997. Institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do
art.21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de
13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de
dezembro de 1989. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no
Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002.
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1997. Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no Estado de
Santa Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002.
BRASIL. Lei ,nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre
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Coletânea da Legislação Ambiental Aplicável no Estado de Santa
Catarina. Florianópolis: Fatma, 2002.
BRASIL. Lei Nº 9.966, de 28 de Abril de 2000. Dispõe sobre a
prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por
lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em
águas sob jurisdição nacional e dá outras providências. Coletânea
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Giselle de melo Braga Tapai. 3º ed. rev. Atual. Amp. São Paulo:
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