Você está na página 1de 1

O caador de abstratos

(Verso Especial para internautas)

Geraldo Magela Cotidianamente rezo um rosrio de palavres. ( Que v merda ). Cssia Eller no digital. Diz a crtica: ( Cago. Ando. Cago ) ela est melhor. O telefone mudo. A voz muda. Estamos todos meio afnicos. Sndrome de bossa nova. Somos todos infelizes, disse Machado em suas memrias pstumas. Um grupo ingls sombrio luz do dia. Ps modernos nos postamos melanclicos. Cotidianamente rezo um rosrio de teses. Sheilas quase nuas num out-door. Estou sempre aflito. Me grito. Me calo. ( Falo ). Desesperado. Acho que vou destruir algo. Talvez todos os meus escritos. Lrico abandonado. Romntico desinspirado. A rima foi um simples acaso. Detesto rimas. Detesto vdeo games. Detesto alguns sites na internet. Detesto tudo aquilo que no sei manusear. Por isto este barco deriva? Por isto esta raiva absurda? Somos todos absurdos, disse Beckett antes de Malone morrer. Esperamos por Godot. Mas quem aparece Godard. Diz a crtica: ( Cago. Ando. Cago ) ele est pior. Cotidianamente crio um rosrio de caos. Objetos. Erees. Angulaes concretas. Retas. David Byrne toca samba. As luzes da cidade me apavoram. Prefiro a tranquilidade grotesca das trevas. O olhar opaco de um Borges. Joo Cabral de Melo Neto levou para o escuro eterno a sua viso perifrica. Memrias do presente um minuto atrs. O passado um segundo frente. Um poema que parte o vidro. disto que eu preciso. No nada disso. Partese o tempo. Somos todos frios, diz um escritor eurocomunista em extino. Estamos fervendo. Ficando loucos. Globalizando-se. Estamos assim h vrios anos. Talvez seja este o nosso prazer. Buscamos a forma. Desistimos da fama. O contedo, mesmo que seja em vo. Egos com creme de leite nacional. Os homens se tornam cyborgs. Mas sempre tero alma. Ou ento uma arma. J que tudo to concreto. Sempre. Tudo indica que continuaremos em fuga. Blade Runner caa agora os abstratos.

Você também pode gostar