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Minha Luta de Jefferson Carvalhaes
Minha Luta de Jefferson Carvalhaes
1
2
Minha luta
De
Jefferson Carvalhaes
3
À aurora com muito carinho
Quebranto as cinzas
No cárcere da aurora
Sinto o amolecer
Da petulante rosa
4
Sou isso
Sou aquilo
E na esmerada erupção
Existem muitos
Eu sou este
Aquele
Eu sou todos
A vida é um rumo,
Sinto,
Bato,
Escondo
E deliro
Nas entrementes
Das chamuscadas
E impenetráveis
Também sondáveis
Nomenclaturas de Nero.
5
Se tu quiseres... Ah, e eu sei que tu queres
Se isso é muito
Demasiado muito
Conseqüência fatal
6
Os braços do moribundo
E na pousada noite
Eu deito no matagal
Berro comigo
E com todos
7
O homem
Abrem-se os rios
E na enumerada morte
Escravos! Escravos!
Isso, isso,
Não temos,
Para continuar
Contribuir
E na esperança
Suscetível
8
Somos esta fixa palavra
Eu passo morto
Dane-se
Eu sou
Eu sou
Eu sou
Eu tenho
E tudo está
E tudo terá
Este será
9
Que as características sirvam a mim,
E auréolas.
10
Minha vida em quatro atos
Eu não mudei
Sou horrível
Sou medonho
11
Esse fato é bem marcante para cada um de nós
Se a vizinha se irrita,
Mas e daí?
Ah,
Se Deus me visse
Tem prego
Tem fuligem
É carruagem
12
É no solo estéril
E não se atém
Não se atém
13
Mataram-me sete vezes
Aquela serpente
Matou-me no leito
Matou-me no sacerdócio
Aquela serpente
Matou-me a serpente
14
Aquela serpente matou-me
A serpente matou-me
Aquela
15
Um tempo no inferno
Sinto-me impermeável
16
Um tempo no paraíso
De tempo evasivo
De cunhados tangíveis
Tempo disforme
É tempo oco
E tempo passado
É tempo de porco
Muito transparentes
Me perturbam na madrugada
E na sabatina
Só para me sufocar
17
Nas sábias usinas de força e latrina.
Tenho fogo,
Tenho inferno,
Mas também,
18
Um tempo no vazio
Diz sim
Diz não
Mas à quê
É aproprio?
É gota, é gota,
É gota de excremento
E nisso
19
Nesse ritmo
E ele
Em seu pardinheiro
De sua completa
E tolerada infância
Já na vida
Já no fim
Já na apaziguada
20
Pai
Filhos!
Filhos!
Filhos!
21
Filhos! Se tem ouvidos ouça, erga vossa fronte e
olhe adiante, o que vês?
22
Alquimia do poeta
Peste aqui
Cabelo roxo
Eu sou
Seu bem
Seu mausoléu
Transtornada de papel.
23
Testemunhos de um sacramento
Atire! O que?
24
O que disse o chapeleiro
Pois no carvão
E reumatismo de bruxo
25
O que disse a Lebre
E com isso
Nessa perturbação
Eu consegui um complexo
E atrofiado
Tom rapunzel
De destilação.
E isto me custa
Me machuca
26
Dói saber de tantas picadas
É cantar nocivo
Tudo é poesia
27
Sou vermelho de capataz cinzento
Vermelho,
Vinho,
Vermelho,
Vinho
E vermelho; isso eu aprovo?
28
No banquinho da praça, afinal de contas, já era
judeuzinho
Enquanto dormia
E enquanto sonhava
Enquanto cria
29
A criação era absorta
30
Vida
Mede-se o rumo
Em perspectivas breves
São elas:
31
Mas nem todos fracassaram comigo
Esperança
Oh, esperança
32
Nos véus do Armageddon
E disto morro
Disto nado
Nada
Vazio
Opaco
33
...
Sim.
A cura da carne
A sagacidade é a ambivalência.
34
Ruínas de minha gente
Ruína é dor
Quanta dor
Quanta dor
E se queres
E se queres
Eu morro
Vi o sol
Virar gelo
Vi a noite
Virar sangue
Vi o dia
Escurecer
E vi o lago
35
Endurecer,
Vi os cosmos
Serem partidos
Vi a valsa
Ser destratada
Vi os livros
Serem queimados
Vi Cristo
Ser crucificado
Vi Caim
Se esconder
Vi Nietzsche
Enlouquecer
Eu vi Rimbaud
Se demonstrar
Eu vi criança
Da mais miúda
Ser destratada
Eu vi heróis
Serem espancados
Eu ainda digo
Tudo é passado
É história de Deus
39
Hipócritas
Daqui
Quebro tudo
E no ritmo
Ritmo inerente
De capacidade
Visto-me na senzala
E se os anjos de ninguém
Gritassem: “Vão”,
40
Tudo daria resumo,
O resmungo
41
Sacerdócio
“Não posso”
E se da lama te esconderes
O monte tomou-me
E esquentou-me
42
Mundo de ateu
Mundo
Aquele mundo,
Aquela cidade
43
O negócio é a verdade
O recinto é para lá
44
Bate na resina
Sairemos crepusculares
45
Minhas mágoas
Este sol
Dependurado no crepúsculo
Massacrada em prelúdio
Tudo
Tudo
Em verdade
46
Escada sob os confins
Nisso testifico
De pecado e de horizonte
47
As chagas de Jó
E nisso
Mas principalmente
– Dê-me licença –
48
Minhas três Marias
René, morreu
Adolph, se foi
Richard, voltou
Marie, suicidou-se
Paul, afastou-se
E Franz
Rebelou-se.
49
Trevas
E disso
Eu me satisfaço
De neblina
Sou de rins
E sei
São cascões
Das sementes
Que me abalam
50
Como indigentes.
51
Eu posso
52
Balada da montanha
Pena!
Ótimo!
Prazer, eu redigito
Na veia eu jacinto
No fim eu digo
Começo pós-falido
53
Ecce Homo
(Uma filosofia do devasso)
54
E os gays dizem: Chupa meu bem, chupa!
O psiquiatra interfere:
Ele é louco
A televisão avisa:
55
O sistema diz boa-noite.
II
No sol da esperança
56
Coisa podre,
Que eu digo
Que eu digo
Que eu digo
É o pecado
57
É a desonra
Fui reverendo
Fui maldito
Fui maldito
Fui bendito
Fui malvado
Me ajoelho e oro
58
Sou uma pessoa amarga
Atordoado eu me enfureço
III
59
Sou revestido por uma crosta dispersa
Eu a sou
Eu a vivo
Eu a realizo e a testifico
Eu a dignifico
Não me reverenciou,
60
IV
Pinte,
Não mate,
Não mate,
Apenas diga,
Apenas diga,
Eu sou,
Eu sou.
Diga,
Eu não,
Eu não,
61
Tenho raiva desta emoção
Morram,
Morram,
Morram,
De carcaça rústica
Neutra,
Neutra,
Neutra,
Neutra
Semi-nua.
62
Vocês serão isto amanhã
Não os julgo
Eu os odeio
Eu os condeno
E testifico
E os abomino
Agora julgo.
Passa-se raio
63
Que raiva dele
Ela assassina,
Ela diz,
Diz,
Diz,
Diz
Me diz
Me diz
Disse
Disser
64
I s s e
r a d r s e
r r a d r i
s s e r a
Tenho Ra i v a deste
M uit a RAIVA de s TE
Incha de maremotos
Sarnento
Sarnento
Sarnento
Sarnento
Sarnento
Sarnento
65
Sarnento
HORRÍVEL
HORRÍVEL HORRÍVEL
HORRÍVEL
HORRÍVEL
VI
Equação lúgubre...
66
Acham que eu brinco,
VII
Maldade é um erro
Abominável, abominável
67
Não acredito em Obama,
Eu acredito em Cristo
Acredito em Cristo e eu
68
Eu acredito que existe um Cristo de benignidade
VIII
Minhas subtrações
Minhas contrações
Eu digo:
69
Sou este
Este aquele
Eu o chamo
Eu o absorvo
Eu o mato
Eu o desmantelo
E o mato
Eu o castigo
Eu o mato
Eu o castro
Eu o mato
Eu finco.
70
E neste ritmo todos gritam: Vamos lá!
Hei.
Vamos lá.
IX
As parábolas revogam-nos
71
Os transeuntes dizem-nos
As pessoas avisam-nos
Viver forte
É bem paralisador
Bem cristalizador
O mundo é este,
72
O mundo é este,
O mundo é este,
Da configuração pagã
Eu mato,
E ressuscito
E percurso de horror
73
Ganhar um histórico de sobrevivência
74
Estas pegadas
Este caminho
75
Não, não me de esta espada,
76
Como nos contos da paróquia
Na nuca de albergues.
Brasil,
77
Sinto dizer que minhas orações e minhas mães, não
mães de bebês partidos, de filhos partidos e sim deste
filho partido
Chorou
E sofreu,
Para berrar,
No inchado respirar
Eu chorei um pouco,
78
Eu usurpei a maldição da criança devassa.
E sobre vocês
Corações negros,
Formigas vermelhas,
Esgotos foragidos,
79
De um exemplo perfeito de pureza constitucional
E minhas orações
Não se dão
E esses reversos
XI
80
Tenho de cair
Cair
Cair
Cair
Cair
Cair
A janela intercede
É pousada,
É pousada,
É pousada,
81
São coisas que gostaria de parir pelas manhãs
Só desta vez,
É ser vivente
É desleal
82
De deus perverso é anormal.
É neutra
Somente.
83
Rito,
Rito,
Grito,
Grito,
De porra esquartejada.
Ruído travesso,
Ruído do avesso,
84
Porém é isso que vejo na vargem do estratagema tolo e
do contrário eleito.
Para cá
Mata
Mata
Não ressuscita
Não mata
Mata
Mata
Ressuscita
Ressuscita
Mata
Mata
Mata
85
Vive
Vive
O tempo anda
O tempo anda
O tempo anda,
Bate,
Morre,
Revive,
Sobrevive
Para sempre
Que traz
Este
86
Ritmo
Desleal
Aos consagrados
Cânticos
Leais
Das pegadas
De figurinhas
Angelicais
Entretanto
Eu digo
Que somente eu
Tenho poder
Para seguir
Conseguiram seguir
Sem tropeçar
Ou errar
87
De qualquer forma
Ou qualquer morsa
Seja lá
XII
Mata-se o homem
Mata-se todos
Mata-se este
Esta música
Ou este insinuar
Bastar cravar
88
O machado de cinco pontos
Basta travar
Basta cravar
Bastar enfiar
E esperar sangrar
Sangue
Sangue
É o que quero
Eu quero sangue
Sangue de dia
Sangue a noite
Eu
Os almejos
Eu os sou
Eles também
Eles os são
89
Mas eu também o sou
Bate o martelo
Bate a porta
Bem rapidamente
Bate a porta
Como no linguajar
Destes e daqueles
Morrer,
Morrer,
Estaca,
Estaca
Estaca o peito
Estaca estaca
Estaca o lamaceio
90
Pois adiante
Há um gigante
Gigante de platina
Palatina
E jóias de querubim.
Porém o canal
É curto
De soberana
É castrado
É neutro e reto.
Isso sou eu
91
Eu assumo este compromisso
Amasso as algemas
Amasso os canivetes
Amasso os passinhos
Os passarinhos,
Os devaneiozinhos.
XIII
Predomina
92
Porém eu digo que me domina.
Eu sou a luz,
Eu sou o sol
Morro
Morro
Sou forte
Sou bruto
Sou caquético
Sou malabarista
Sou paranormal
93
Sou coxo
E isso me inerva
Isso me estraga
Me deturpa
E isso é tudo,
Mas um lamento
Mas um estratagema
XIV
94
Rochedo dos mares
Tenho raiva
Rio,
Rio,
Isto,
Isto,
Isto,
Esta
Aquela aquarela
Vamos
Você suportou
95
Tornou-se eterno
Viveu no limite
De toda a humanidade
Você é como eu
Sem nome,
Sem identidade,
Nada,
Mate-o,
96
Nós lutamos
Tivemos inimigos
Aceitamos dedinhos
Fomos pagãos
Raiva,
Raiva,
Raiva,
Nojo,
Nojo,
97
XV
Existe fúria,
Na verdade
Todo o resto
É pura lubrificação
E constituição de valores.
Ensino o bem,
O guia é este
98
Mais homens para cada um de nós
XVI
E nas estrelas
99
Enlouquecem a fagulha de irredutíveis rios.
100
No meu solo tem palmeiras
Foi sol
Foi armadura
Foram borboletas,
Estaremos seguros.
É agora
101
A armadura cresce
A armadura cresce
Impermeável
Seco
102
Sei que todos nós éramos
O céu pinga
As estrelas pingam
Dane-se o resto.
E você
Eu sei
Por que
Também vim,
Continue e batalhe
Continue e batalhe
103
Continue por que eu também continuei
104
Isso mata
Foi o suficiente
E as amebas da usina
São lixos.
105
Eu agora sei
Eu agora sei,
EUA perdeu
Brasil se rendeu
Boom!
106
Digo que exalei chumbo
Eu não me rendi
Eu não me renderei
Eu sou mais
Eu tenho sim,
De lava derretida
107
Bem, por sua vez, explico-te:
Disserem
“Mr. Jefferson
A sutileza se esclarece
108
Um defunto de marfim
Por quanto
109
Minhas finanças são de pedra
Vida oca
De lobo solitário
110
São mais de dez os meus pecados
Dois anos:
“Morte”, ponto.
Nove anos:
“Morte”, ponto.
Doze anos:
“Morte”, ponto.
111
Dezessete anos:
“Morte”, ponto.
112
Cosmik Debris
É hoje
É hoje
113
Bola de Cristal por Louise
Foi então...
Esqueça isso
Açougueiro filhote,
Louise.
114
Minhas chagas
Vê é carne opaca,
E defunto neutro
É coração linchado
E para mim
Isso basta.
115
Sonata para a lua maior
E esse sentimento
Em mim se diz,
Se a sagrada santidade
É de sobrenome elegível.
116
A queda da bastilha
Existe um rio
Meu néctar
Meu sangue
Meu excremento
117
Deus há de me livrar
Ainda há adubo no ar
Estes crânios
Recém analisados
Dos gentios,
118
Caos é véu,
Sinto-me real.
119
É como se no mundo uma bomba estourasse
Eu me reservo
Eu me reenvidico
(Risos)
120
Biografia do autor:
121
profunda depressão de estado paranóico e ao mesmo
tempo estimulou-o a escrever a sua obra mais audaciosa
Diário de um suicida.
Em Janeiro de 2004, Carvalhaes enfrentou uma de suas
piores crises depressivas chegando até mesmo a se
comparar com o famoso pintor Vincent Van Gogh, pois
fora exatamente nesse ano em que ele tentara sua
primeira e última tentativa de suicídio.
Atordoado e recluso, o escritor estava decidido a
abandonar a literatura para sempre, entretanto algo
ainda viria acontecer em 2007 e finalmente, Jefferson
Carvalhaes com quatorze anos consegue publicar um de
seus poemas numa antologia de sucesso pois ele
ganhara o III Prêmio Literário Valdeck Almeida de
Jesus.
Em 2008 aos quinze anos Carvalhaes consegue outra
conquista, expor seus quadros numa galeria, estes por
sua vez, na Universo das Artes.
Apesar das coisas aparentarem estar indo com
exposições e premiações... na verdade não era bem
assim, pois sua situação financeira estava péssima.
Apesar de toda a desordem e de todas as decepções
Jefferson estava totalmente decidido a viver somente da
literatura, e nada mais, e com esse intuito começou a
vender seus quadros por preços absurdos, praticamente
dados, somente com intuito de sobreviver.
Em Dezembro de 2008, não suportando a pressão que os
amigos faziam Jefferson Carvalhaes tem mais uma crise
e por impulso queima mais de mil páginas de seus
diários, de seus poemas e de seus contos.
Em janeiro de 2009 o autor tornou-se um poeta del
122
mundo e publicou diversos poemas nas revistas
literárias Caderno Literário e Paralelo 30, pregando sua
mensagem ao mundo.
Em Agosto de 2009, o autor publica duas de suas
principais obras que não foram dilaceradas nesta crise
de 2008: No Guardar da Meia-noite e Diário de um
Suicida.
Atualmente Jefferson vive recluso praticamente sem
contato com nenhum amigo ou escritor próximo.
123
Para entrar em contato com o autor:
jefferson.carvalhaes@yahoo.com.br
ou visite o blog
http://confidenciasdeumescritoremcrise.blogspot.co
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