O período pré-verbal é uma ferramenta indispensável para as
crianças adquirirem a sua própria linguagem. Muitos autores confirmam que a criança já na barriga da mãe reage a sons exteriores, ouvindo diariamente a voz da sua mãe. Inês Sim-Sim relata no seu livro a capacidade que o recém-nascido tem para diferenciar o que é ou não uma voz humana, identificando muito cedo a voz da mãe distinguindo entre entoações que expressam ternura e zanga, comprovando assim a capacidade precoce para o reconhecimento de padrões de fala. Os fetos conseguem ainda discriminar diferentes tipos de sons, confirmando que a relação entre a linguagem começa bastante cedo, dissociando-se como alguns autores explicitam a diferença entre o que os bebés produzem e aquilo que eles compreendem. Segundo a autora Inês Sim-Sim o vocabulário que as crianças reconhecem é largamente superior ao que ela produz, aumentando a distância entre a compreensão e a produção á medida que o bebé cresce. No primeiro ano de vida do bebé representa um período muito importante para o desenvolvimento socioafectivo, ele deverá criar autoconfiança nas suas competências comunicativas fornecendo-lhe bases sólidas para o seu desenvolvimento linguístico, embora durante este período possa não ter ainda pronunciado uma única palavra. O período pré-verbal ou pré-linguistico, caracteriza-se pelo lançamento das bases da comunicação entre o bebé e os que o rodeiam, iniciando as vocalizações e desenvolvendo as capacidades de diferenciar os sons da fala humana. O período inclui a emissão de sons que não são palavras, como o choro, tagarelar, arrulhar e imitação de sons. O autor S.W Feldman afirma que antes das crianças produzirem as suas primeiras palavras, produzem sons denominados como discurso pré linguístico, começando com o choro que, não só constitui uma forma de comunicar, como também faz parte do processo de aquisição da linguagem. De acordo com Inês Sim-Sim o choro é a primeira manifestação sonora produzida pelo bebé e, sem dúvida, a primeira forma de comunicação do recém-nascido, reflectindo o estado biológico da criança. O Choro da criança é bastante diferenciado, transmitindo diferentes sentimentos como fome/desconforto, dor ou, uma simples birra causada por ciúmes ou proibição de algo. Para além do choro, o bebé emite ainda, sons vegetativos – tosse e espirros e entre o mês e meio e os três meses o bebé emite variados sons como expressão das suas emoções, chamados de arrulhos ou gorgolejos e o riso. É através dos sorrisos, dos olhares e das suas expressões faciais que o bebé faz a comunicação com a sua mãe. Dos dois aos três/quatro meses, o bebé emite mais e variados sons, chamados chilreios e tagarelice e ainda as gargalhadas. Por volta dos seis meses o bebé torna-se repetitivo no processo de lalação, emergindo sons como – ma-ma, pa-pa. A lalação torna-se mais rica, a medida que os bebés aprendem a utilizar e a dominar os seus órgãos de fonação. A autora Inês Sim-Sim explicita que a estrutura reduplicada de consoante/vogal que é uma das características do processo de lalação da criança, estabelece na combinação de consoante/vogal repetida em cadeia como em <mamamamama> e <babababa> De seguida a estrutura reduplicada de consoante/vogal, característica da lalação, dá lugar a produções de não reduplicação como <ma> e <pa>.
Por volta do 6ª mês até ao oitavo mês surgem os balbucios da
criança. Os balbucios da criança não tem de ser exclusivamente para referir entidades, pois a criança pode estar apenas a exercitar diferentes tipos de sons. Quando a criança emite um som num determinado contexto com uma intenção comunicativa específica então pode ser interpretado como uma palavra. Tomemos como exemplo, se o bebé pronuncia <mamamamama> na presença da sua mãe, pode-se considerar que ela utiliza a sequência de sons referindo-se a sua mãe. Ainda na fase dos balbucios, as crianças já reconhecem o seu próprio nome, são capazes de reconhecer algumas palavras inseridas no meio de uma frase e também de associar alguns significados a palavras. Ainda nesta fase, surgem as exclamações que são muitas vezes limitadas pelos adultos e as onomatopeias que são imitadas pelas crianças a partir dos ruídos dos animais ou dos objectos. Ainda nesta fase, a ecolalia que é uma das fases da lalação, revelando-se como um factor importante para a apreensão da linguagem, visto que este processo ajuda o bebé a desenvolver o seu aparelho fonador e articulatório, dominando os seus órgãos e tentando imitar sons diferentes. Neste período o bebé fala, porque lhe dá um enorme prazer ouvir-se a si próprio. Por volta dos 12 meses, os bebés já produzem eficientemente cerca de 10 palavras, todavia se as crianças com essa idade ainda balbuciam, não será motivo de preocupação, uma vez que a faixa etária trata-se de uma referência, variando de criança para criança. Entre os 12 e dezoito meses o número de palavras cresce de 10 para 50, sendo que estas palavras são geralmente as que rodeiam as crianças, tomando como exemplo, as palavras <<mamã>>, <<papá>>, <<água>>, etc. Devido aos pais utilizarem palavras básicas para conversarem com as crianças, elas tendem então a utiliza-las no seu input com uma maior frequência. As suas primeiras produções reflectem um nível básico da organização do léxico, podendo existir casos de sobregeneralização de significados. A nível dos sons, as crianças nas suas construções iniciais produzem essencialmente consoante oclusivas, como o [p] [t] [k] [b] e [d], embora ainda não sejam capazes de produzir consoantes fricativas. Desta forma serão capazes de dizer pa para pato, e ta para chave, substituindo o som fricativo para um som oclusivo mais próximo. Nesta fase, as crianças também utilizam essencialmente substantivos pelo facto de serem as palavras com uma maior força denotativa; não produzem ainda sílabas terminadas em consoante e as suas produções iniciais são essencialmente holofrásicas, isto é, caracterizam-se por conter apenas uma palavra, sendo difícil detectar o conhecimento morfológico e sintáctico. Para Inês sim sim o período holofrásico, marca um certo nível de domínio lexical e para muitos autores, corresponde às primeiras manifestações do que virá a ser o conhecimento sintáctico. Nesta idade precoce as holofrases são constituídas por bissílabos, e também reproduções aproximadas dos sons produzidos animais (por exemplo: “au-au”, “miau-miau”, “quá-quá”, “piu-piu”, “mamã”, “papá”). Normalmente, já conseguem compreender o significado de alguns verbos, tais como “quero”, “dar”, “pegar”. Na segunda fase (dos 18 aos 24 meses) a criança a começa construir pequenas frases, normalmente constituídas por substantivos, alguns verbos, raros advérbios e adjectivos. Utiliza o seu próprio nome, já consegue reconhecer partes do corpo em si e nos outros. A aquisição de vocabulário parece lento ate aos 19 meses, mas a partir daí surgem muitas palavras novas por dia, levando a que nem os próprios pais perecem saber como a criança aprendeu tantas coisas novas. Os temas que abordam estão intimamente ligados ao “seu mundo”, tais como, as pessoas que lhe são mais próximas, os objectos que fazem parte da sua rotina, os seus animais preferidos. O aumento do vocabulário resulta da aquisição dos traços semânticos. O bebé aprende o significado de uma palavra através da união de várias características. Fixa-se num som, por exemplo o som que produz um certo animal, por exemplo um gato. Este animal chamar-se-á “miau”. Gradualmente a criança reconhecerá que o “miau” tem quatro patas, rabo comprido, bigodes, pelo curto. Passo a passo a criança vai alterando o seu conceito até se aproximar do conceito de “gato”. As frases formadas pelas crianças nesta altura são tipicamente frases de 2 palavras, tendendo a começar a flexionar algumas formas verbais e a aplicar algumas regras gramaticais. Existe alguma diferença entre a compressão e a produção que as crianças fazem, visto que entendem muito mais do que aquilo que dizem e isso manifesta-se a todos os níveis como na sua formação de frases. Nas primeiras frases as crianças combinam duas palavras que podem ser utilizadas para descrever diferentes relações; não cometem muitos erros na ordem das palavras, aquando da construção de frases; e, também, a nível frásico apresentam traços gramaticais comuns , devido às propriedades inatas e gerais do processo de linguagem. Nas frases iniciais simples as crianças já fazem perguntas, passando pela «fase dos porquês». Do ponto de vista da curiosidade da criança, é evidente que esta fase corresponde a uma das grandes descobertas e exploração do mundo, sendo natural que a criança tenha de facto necessidade de obter explicações. Estas primeiras frases são simples, não ocorrendo processos de subordinação e invulgarmente conseguem construir frases passivas. Por volta dos 3 anos de idade, as crianças possuem capacidade para produzir frases com várias categoriais gramaticais, surgindo, frases com artigos, frases com preposições e frases com alguns pronomes átonos. Nesta fase as crianças tendem também a utilizar a expressão “é que” nas frases interrogativas. Apesar de todos estes avanços da criança, elas ainda não correspondem inteiramente aquilo que os adultos produzem. As palavras utilizadas nesta fase são principalmente substantivos e verbos, utilizando poucos advérbios e adjectivos. Ainda nesta fase, as crianças tendem como referi anteriormente a fazer grandes generalizações, utilizando as mesmas regras gramaticais para todo o tipo de frases que constroem, tornando-se comum as crianças dizerem eu trazi, generalizando a regra dos verbos regulares. O que se torna interessante ver é que antes de cometerem este erro, elas passam por uma fase em que usam o verbo adequadamente. Uma explicação para essa regressão é que no início elas simplesmente imitam a formação do verbo, mais tarde, após aprender a regra de formação, elas simplesmente a aplicam para todos os verbos. Com o passar do tempo acabam aprendendo a forma certa, mesmo que seja através da memorização. É também nesta idade que as crianças começam a empregar o artigo definido (o – a), começam utilizar pronomes (pessoais e possessivos) e preposições. O pronome eu surge por volta dos 34 meses. Nesta fase, ainda, só utiliza frases declarativas afirmativas e negativas, quando pretende fazer perguntas sobe a entoação, e entre os 30 e os 36 meses revela-se a “gagez fisiológica”, isto é, a criança não consegue acompanhar oralmente a rapidez do seu raciocínio. Por último, nesta fase as crianças passam pela «fase dos porquês». Do ponto de vista da curiosidade da criança, é evidente que esta fase corresponde a uma das grandes descobertas e exploração do mundo, sendo natural que a criança tenha de facto necessidade de obter explicações. Dos 3 aos 5 anos a variedade e qualidade da linguagem verbal a que as crianças são expostas diariamente auxiliará a evolução da aprendizagem da linguagem. A criança entra na pré-primária, iniciando a sua aprendizagem através da modelagem, sendo o modelo a sua educadora. Esta irá transmitir e aplicar técnicas e métodos pedagógicos, tentando estimulá-la e levando-a a desenvolver comportamentos e atitudes, para que quando esta entra na escola primária tenha atingido as competências cognitivas. As frases características desta idade já são compostas por quatro a cinco palavras, dando preferência aos substantivos e advérbios. A criança começa a utilizar artigos indefinidos, preposições e pronomes. Com quatro anos as crianças já formulam frases mais compridas e complexas, já conseguem diversificar as formas subordinadas, dominar as formas verbais, formular frases exclamativas, interrogativas e imperativas, embora continuem a privilegiar o uso das frases declarativas. Por fim, posso clarificar que embora muitos autores considerem que o “Paiés” ou o “maternalês” é um factor importante para a aquisição da linguagem da criança, este processo de fala não deverá ser exclusivo, devendo-se igualmente falar de outra forma as crianças. Este discurso apresenta características específicas, tais como, frases curtas, articulação clara, entoação marcadamente expressiva, vocabulário simplificado, frequência reduzida de construções com subordinação, prevalência de palavras carregadas de conteúdo semântico e um reduzido número de palavras cuja função é meramente gramatical. Assim o “Paiés” ou “Maternalês” não deve ser utilizado exclusivamente quando os pais dialogam com as crianças, visto que este processo de linguagem não é suficiente para que elas adquiram a sua própria linguagem. Para concluir, esta fase do período pré-verbal ou pré-linguístico é essencial para o desenvolvimento da sua linguagem. No entanto, como vamos referir ainda, também outros factores são fulcrais para a aprendizagem da sua língua