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Reconhecimento, Validação e
Uma estratégia
para a inclusão
Certificação de Competências
Um novo instrumento
ao serviço do País
visando a superação
de uma das principais
causas de Pobreza
e Exclusão nos nossos
dias – a Baixa
Qualificação
dos Portugueses
Texto de Ana Cameira *
A
Santa Casa da Misericórdia de Lis-
boa (SCML) tem em funciona-
mento, desde Janeiro de 2004, um
Centro de Reconhecimento, Validação e
Certificação de Competências (CRVCC).
A funcionar no Largo Trindade Coelho em
Lisboa e na Aldeia de Santa Isabel em
Albarraque, este Centro destina-se a adul-
tos maiores de 18 anos que, não possuin-
do uma escolaridade mínima obrigatória,
podem solicitar o reconhecimento e valida-
ção dos saberes e competências adquiridos
nos mais variados contextos ao longo da
vida, podendo resultar na obtenção de uma
certificação com equivalência escolar ao ní-
vel do 4º, 6º ou 9º ano (1º, 2º ou 3º Ciclo)
do Ensino Básico.
Este Centro integra o sistema nacional de
RVCC, que consiste na instalação de uma
rede de Centros RVCC, constituída já por
um total de 87 Centros. A implementação
deste sistema, da responsabilidade da Di-
recção Geral de Formação Vocacional, vem
dar resposta à necessidade de reconhecer,
validar e certificar os conhecimentos/com-
M 209 107 82 11
Inscritos
H 66 33 23 9
M 195 60 82 11
Candidatos numa Sessão de Balanço
de Competências com a formadora HM 261 93 105 20
de Linguagem de Comunicação 0 100 200 300 400 500 600
e Cidadania e Empregabilidade Outros ASL / OFIP Funcionários SCML Ex-Formandos ASI
26 e os 35 anos, seguindo-se o escalão etário jovens”, com apenas 0,5% com idade su- colaridade) não se verificando diferenças
dos 36 aos 45 anos de idade, com um peso perior a 26 anos e os Funcionários da significativas entre homens e mulheres.
de 28%. No escalão etário dos 46 a 55 SCML os “menos jovens” onde cerca de Numa análise por tipo de público cons-
encontram-se cerca de 20% do total de ins- 54% tem idade igual ou superior a 46 anos. tata-se que todos os Ex-Formandos têm o
critos. Os escalões etários dos indivíduos A maioria dos inscritos provenientes da 2º Ciclo completo (tipo de público com
com idade inferior a 25 anos e com idade Acção Social Local (ASL) e do OFIP têm maior nível de escolaridade de entrada), se-
superior a 56 abrangem, respectivamente, idade compreendida entre os 26 e os 35 guindo-se os Outros com 67% de inscritos
14% e 6% do total de inscritos. anos (com um peso de 43%), sendo o es- com o 6º ano de escolaridade. Os inscritos
A distribuição dos inscritos no ano de 2004 calão seguinte (inscritos com idade entre 36 da ASL/OFIP e Funcionários da SCML
por escalão etário apresenta algumas diferen- e 45 anos) o que assume maior peso na ca- apresentam uma distribuição semelhante,
ças numa análise por género, constatando-se tegoria Outros (36%). com cerca de 49% de pessoas com o 2º
que os homens são “mais jovens” que as mu- Relativamente à distribuição da idade Ciclo do Ensino Básico (gráfico 3).
lheres (com idade igual ou inferior a 35 anos entre géneros verifica-se alguma homoge- Analisando a situação face ao emprego
encontram-se cerca de 66% dos homens e neidade nos Ex-Formandos da ASI e do dos inscritos constata-se que a maioria,
apenas cerca de 38% das mulheres). conjunto ASL/OFIP. No que respeita aos 61%, é Trabalhador por Conta de Outrem,
Numa análise por tipo de público cons- Funcionários da SCML e Outros constata- seguindo-se os Desempregados de Longa
tatam-se, igualmente, algumas diferenças, -se que os homens são mais jovens que as Duração, com um peso de cerca de 20% do
quer entre o total de inscritos por tipo pú- mulheres (gráfico 2). total de inscritos. Não se verificam grandes
blico, quer entre homens e mulheres da Em relação às habilitações académicas de diferenças entre géneros.
mesma categoria de público. Deste modo entrada a maioria (61%) dos inscritos tem Numa análise por tipo de público verifi-
verifica-se que os ex-formandos são os “mais o 2º Ciclo do Ensino Básico (6º ano de es- ca-se alguma semelhança na distribuição
Gráfico 2. Inscritos por tipo de público, género Gráfico 3. Inscritos por tipo de público, género
e escalão etário e habilitações académicas
100% 100%
90% 90%
80% 80%
70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 20%
10% 10%
0% 0%
H M HM H M HM H M HM H M HM H M HM H M HM H M HM H M HM H M HM H M HM
s os IP s l
io nd ASI tro ta
n ár M L a OF Ou To
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nc -fo AS
Fu Ex
=< 25 26 a 35 36 a 45 46 a 55 >= 56 < 1º ciclo 1º ciclo 2º ciclo
Candidatos com profissional de RVCC preparando os posters para apresentação em sessão de júri
Gráfico 5. Inscritos que iniciaram e concluíram Gráfico 6. Concluídos por escalão etário,
processo de RVCC por género e tipo de público situação face ao emprego, habilitações à entrada
e saída e tipo de público
Iniciaram processo
H 49 >25 anos
M 95 26 a 35 anos
36 a 45 anos
HM 144 46 a 55 anos
Concluíram processo >56 anos
6º ano de escolaridade 1 HOMENS Trabalho conta própria
17 Trabalho conta outrém
9º ano de escolaridade
DLD (>12 meses)
Validado 1
Não DLD (<12 meses)
6º ano de escolaridade 3 MULHERES Outra
<1º ciclo
9º ano de escolaridade 20
1º ciclo
6º ano de escolaridade 4 HOMENS 2º ciclo
MULHERES 1º ciclo
9º ano de escolaridade 37
2º ciclo
Validado 1 3º ciclo
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Funcionários Ex-Formandos ASL / OFIP Outros
sidades formativas. Verifica-se ainda, que os com o seu percurso de vida, o indivíduo si- tata que os principais efeitos de um processo
adultos encaminhados pelos serviços da multaneamente auto-consciencializa-se dos de RVCC incidem, exactamente, em di-
ASL/OFIP carecem de um maior número conhecimentos e saberes adquiridos ao lon- mensões pessoais de carácter eminentemen-
de sessões e de um maior apoio individua- go da vida, promovendo, desta forma, a te subjectivo: reforço da auto-estima e da
lizado. (re)definição de um novo percurso de vida. auto-valorização, reconstrução ou mesmo
Ainda que a certificação/validação cons- Grande parte do público que procura o definição do seu projecto pessoal e profis-
titua o culminar do processo, a intervenção Centro, e nomeadamente no que respeita sional. A consolidação destas variáveis pes-
do Centro, pela metodologia adoptada, aos públicos encaminhados pelos serviços soais contribui, indirectamente, para a
permite ao indivíduo a possibilidade de de Acção Social Local, não têm a noção de empregabilidade e para a inserção socio-
redefinir um percurso de vida que promo- que determinadas vivências são potencial- profissional dos adultos. De acordo com
va a sua autonomia pessoal e profissional. mente ricas em termos de competências e este estudo, o processo de RVCC, embora
A própria passagem pelo Centro de RVCC, saberes. Consideram, na sua maioria, que não directamente direccionado para o efei-
pela adopção de uma intervenção indivi- nada do seu passado é importante, o que co- to, tem promovido uma aproximação ao
dualizada e com base na história de vida do loca logo à partida um entrave à perspecti- mercado de trabalho por parte de desem-
indivíduo, constitui certamente um instru- vação de um projecto futuro. Para Marie- pregados e inactivos. No inquérito efectua-
mento de inclusão social. A participação no -Christine Josso “não podemos pensar no do aos adultos já certificados verifica-se:
processo de reconhecimento, validação e futuro se não há uma reflexão crítica sobre 29,2% dos adultos que se encontravam
certificação promove a valorização e cres- o que foi o passado e se não pensamos tam- desempregados no início do processo de
cimento dos indivíduos. Ao confrontar-se bém sobre todos os recursos que acumulá- RVCC estavam empregados seis meses após
mos progressivamente no decurso da nos- a certificação; 15,4% dos inicialmente
sa vida passada, incluindo também os pro- inactivos passaram a considerar-se desem-
jectos que deixámos e que constituem po- pregados seis meses após a certificação; os
tencialidades para o futuro”. indivíduos que se mantiveram desemprega-
Um estudo efectuado sobre o Impacto do dos (entre o início do processo e seis meses
Reconhecimento e Certificação de Compe- após a certificação) passaram a estar mais
tências Adquiridas ao Longo da Vida cons- motivados para arranjar trabalho.
Sessão de júri de validação, no Auditório da Aldeia de Santa Isabel da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
O Centro de RVCC, como resposta inte- pulação pouco escolarizada que, não exercen- empregabilidade, aumentando a sua capaci-
grada no âmbito da actuação da SCML so- do uma participação activa na sociedade, está dade para obter e manter um emprego, e evi-
bre os mais diversos públicos aos quais presta impedida de assumir a sua plena cidadania. tar situações de desemprego prolongado.
apoio no sentido de melhorar as suas condi- Actuar junto desta população numa lógica
ções de vida desempenha, deste modo, um preventiva, pela via do reconhecimento, vali- * Licenciada em Economia. Pós-graduada em
Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos.
papel de extrema importância na prevenção dação e certificação de competências, poderá Coordenadora do Centro de Reconhecimento,
de fenómenos de marginalização numa po- permitir aos indivíduos a promoção da sua Validação e Certificação de Competências da SCML.
BIBLIOGRAFIA
CIDEC (2004), O Impacto do Reconhecimento e Certificação de Competências Adquiridas ao Longo da Vida, Lisboa, DGFV
JOSSO, Marie-Christine, “As histórias de vida abrem novas potencialidades às pessoas”, in Aprender ao longo da vida, nº 2,
Outubro de 2004, Associação “O Direito de Aprender”, pp 16-23.
MTS (2001), Plano Nacional de Acção para a Inclusão 2001-2003, Lisboa, MTS.