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Astigos - Articles + 5 ‘Numero Especial, 16 HERBERT MARCUSE: TRORIA CRITICA E SOCHEDADE janeteoldenemanes bone Dagmar Manieri de Rstudos isas em Filos TEATRALIDAD POLITICA Y MIEDO | David Gémes Torres | MEMORIA E INTERIORIDADE NAS CONFISSOES DE SANTO AGOSTINHO, Eligabuth Gonzaga de Lina ‘cleo Interdiseiplin: Pea IDEACAO REVISTA DE FILOSOFIA INTRODUGAO A NOGAO DE ESPAGO EM MERLEU-PONTY Hlarl Juliana Mantovani RACINES POETIQUES ET POLITIQUES DU SURRATIONALISME, Joan Le Peuliguen RAIZES POETICAS E POLITICAS DO SURRACIONALISMO Jeane Pouignen Tradgao Marl Buleio 1:1-SISTEMA SOCIAL DE SIGNIFICACIONES ¥ 1A INTERPRETACION DE LA EXPERIENCIA PERSONAL SEGUN JUAN MIAGHT Juan Carlos Urs RUGAO DL. UM BTHOS RAS PARA O TERCEIRO, NSOES E CONTRAPONTOS NA CONS! /UROPEU E UMA PEDAGOGIA DAS FRONT ll Miguel gel Ganon Bonds A journal of Philosophy FOUCAULT F RDADE UMA PESQUISA EM ABERTO Jorge Ueto a Cnt Rava it s NEF UEFS 4 ISSN 14184008 15- ISSN 1415 - 4668 ESPECIAL - ANO - 2006 REVISTA IDEACAO Niicleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Filosofia Kania Perces Wenecra (Unica der Sais UB) Aor Ror Yakel Aine Rib ihe (Unies Se es Caren ie Feces dy Bai fc Unni aad St ab -VECISY Tencae Am /CRPO} {ethene acna yun (Gace de WirconiaOatonh” UN/ESA) {hon an (OPA) ‘Coatane Mareundes tat anti Unleaded [Benen uci Rings caoge UR) Deane Augose Gala (U0 HA) duno Chas Oe (DENS) sb usbou Gomes ES) log Asma (C104 Son Pale sonia Papo lense Osiris UHRA) Carlo Sales Pte nS UE} Jeceeal cena Uleredode Estos Bais /UNER) eA de ea hie de rsconeiay (DEES) EduSiee Gutnadee Pesan) Otic fanioe OER) avast later Car Vale (LIS) mess Federale Rio Graal do Su) ya eon fe) SP) Flcha Caratogrifcs tases Cent ota ane ete Noda ca (Univende ede de Sia Jodo Da-8e/ UPS Nacleo Interdiseiplinar de Estudos Pesquisas em Filosofia - NEF/ UEFS Coordenador Geral Eduardo Chagas Oliveira Vice-coordenador Joio Alves Campos Seeretiria do NEF Jaciene Silva e Carvalho Membros Efetivos do NEF Angelo Marcio Gongalves / Antdnio César Ferreira da Silva 7 Eduardo Chagas Oliveira / Eliab Barbosa / Elyana Barbosa / Joao Alves Campos / Jorge Alberto da Costa Rocha / Nadia Virginia B. Carneito / Nilo Henrique Neves dos Reis / Raimundo Gama Membtos Associados Edvaldo Couto — URBA Iseael Pinheiro ~ URBA Joceval Bitencourt - UNEB Jorge Moreira — UWO/USA qe UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA REITOR José Onofee Guriéo Bosvists ds Cunha VICE-REITOR DIRETORA DO DCHE Departamento de Ciencias Humanas ¢ Filosofia “Jorge Albcsto ta Cassa: Rocha VICE-DIRETOR DO DCHF AwiSnio Lima da Anunclegs EDITOR RESPONSAVEL Edvardo Chagos. Oliveira SECRETARIA DO NEF Jaciene Silva e Carvalho DIAGRAMAGAO E DIGITAGAO Taciene Silvs © Carvalho NESTE NOMERO De, David © Elisabeth Gonzaga de Lima Harley Juliana Mancovani Miguel Angel Gaccla Bordas Sollcita-te permuta, Exchange desired Nécleo'Inverdiciplinar de Esuador * Pesquisas em Filosotin ~ NEM Universidade Fatadual de Feitn de Stang ~ UEFS REVISTA IDEACAO Revista do Nucleo Interdtsciplinar de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Universidade Estadual de Feira de Santana Enderogo para correspondéncia, Advess for correspondence Universicade Estadual de Feita de Santana Km 03, Br 116, Campus Universitario CEP 44.031-460. Caixa Postal 294 “Tel: 075) 3. E-mail ncf@uefs.br Feira de Bahia ~ Brasil REVISTA IDEACAO FEIRA DE SANTANA 16] 9.1200 | especial /Ano 2006 Sumiario-Sumary Editorial Normas E is - Editorial Rules Artigos - Articles Artigos - Articles Astigo 1 HERBERT MARCUSE: TEORIA CRITICA F, SOCIEDADE TECNOLOGICA Dagmar Manieri 17-44 Attigo 2 TEATRALIDAD POLITICA Y MIEDO. David Gomez 45-74 Artigo 3 MEMORIA E INTERIORIDADE NAS CONFISSOES DE SANTO AGOSTINHO Elizabeth Gonzaga de Lima 75 - 86 Artigo 4 INTRODUGAO A NOGAO DE ESPAGO EM MERLEU-PONTY Harley Juliano Mantovani 87 - 110 Antigo 5 RACINES POETIQUES ET POLITIQUES DU SURRATIONALISME Jean-Luc Pouliguen 1 - 124 Antigo 6 RAIZES POETICAS E POLITICAS DO SURRACIONALISMO Jean-Lae Poalgus Tradusio Marly Buledo 125 - 138 Antigo 7 EL SISTEMA SOCIAL DE SIGNIFICACIONES Y LA INTERPRETACION DE LA EXPERIENCIA PERSONAL, SEGUN JEAN PIAGET Juan Carlos Urse 139 - 162 Artigo 8 TENSOES E CONTRAPONTOS NA CONSTRUGAO M ETHOS EUROPEU E UMA PEDAGOGIA DAS FRONTEIRAS PARA O TERCEIRO MILENIO Miguel Angel Gardéa Bordat 163 - 178 Antigo 9 FOUCAULT E A LIBERDADE: UMA PESQUISA EM ABERTO Jorge Alberto da Costa Rocha 179 - 200 EDITORIAL Faduardo Chagas Oliveira ONicleo Interdisciplinar de Estudos Pesquisas em Filosofia da Universidade Estadual de Feira de Santana oferece aos seus leitores mais um namezo especial da Revista Ideagao, A peculiaridade que o torna especial, entretanto, difere daquela que caracterizou © mimero anterior. Desta vez, a narureza especial da edigio decorte da alteracio ocortida aa Comissio Editorial; ademais, essa modificagio resvala em ourras eminentemente mais sutis que ocoretio em ctapas a cada nova edi¢io. O empreendimento desses esforcos sexve para conceder niaior credibilidade & nossa publicagio ¢, além disso, atendes as expectativas dos leitores, dos articulistas ¢, sobrerudo, das instituigd cem seus exitérios de avaliacio, Entendemos que a Revista [deagio, em sua origem, atendia 4 outros propésitos, visto que surgiu com objetivos menos audaciosos. Contudo, a proposta transcendeu seus modestos cada vez mais rigorosas designios de atender 4 comunidade local e, hoje, representa um. veiculo de divulgagio do pensamento filosGfico em sentido amplo. Quando Ideacio deixou de set 0 “Jornalzinho do N para se transformar em um “insteumento de provocacio filos6tica” voltadas para a divulgacio do pensamento filossfico. Hoje Meagio se propse a promover novas modificagdes em seu formato editorial, vislumbrando melhorar 4 qualificacio do nosso periodico, E imperativa ressaltar que, embora “Ideagio” seia um periddico publicado pela URFS, aio se trata de uma nda UEFS, De reconhecido valor no ambito das publicasSes que divulga textos, pesquisas e estudos de Filosofia, contando coma colaboragio de parceiros oriundos de instituicdes aacionais e internacionais, motivo pelo qual se encontra indexada, inclusive, pelo censo de revistas culrarais iberoamericanas da ARCE — Associacién de Revistas Culturales de Espana (desde 1999) e pelo CLASE: Citas Latinoamericanas en Giencias Sociales y Humanidades (desde 2002), Nao obstante, é imperativo sublinhar que a Revista Ideacio petmitiu, ainda, a criagio de outras publicagdes estritamente voltadas para 6 campo da Filosofia, como 0s liveos em homenagem 4 Chaim Perelman ¢ a Gaston Bachelard (ambos indexados em bases de dados internacionais) além da Coleso de Ensaios da Revista Ideasio. Peetencem a este primeiro ensaio de mudanga, artigos que principiam as alteragdes acima descritas. Assim, 0 artigo do Dr. Dagmar Manieri inaugura esse nimero apresentando uma breve reflexio acerca da sociedade tecnolgica, tomando como pontos de reflexio positivismo ea producto artistica luz do pensamento de Herbert Marcuse, Nesse sentido, se discute a possibilidade de tenovacio do marxismo propondo um socialismo dizeto, inspirado em um modelo social no qual existe a possibilidade de desenvolvimento pleno do individuo. Na seqiiéncia, 0 professor David Gémez-Toires analisa criticamente os argumentos apresentados pelo St. Colin Powell, Sectetirio de Estado do Governo dos E.U.A, a0 Conselho de Seguranga das Nagdes Unidas, com o intuito de desvelar uma suposta “teatralidade politica” concernente 4 sua discursividade. Serve como orientagio & anilise critica do autor, um texto clissico de Miguel de Cervantes. Em “Memoria c interioridade nas Confisides de Santo Agostinho”, a professora Elizabeth Gonzaga Lima procura imergir na segunda parte do livro X de Ar Gonfissdes para mostrar como Agostinho procurou demonstrat a capacidade do homem em participar dos mistérios da existéncia, ‘A nogio de espaco no pensamento de Merleu-Ponty é 0 foco da abordagem concedida por Harley Juliano Mantovani, Em seu texto, 0 autor procura sustentar que a nogio de espaco, tal como. se encontra formulada na Fenonenologia da Pereepedo de Merleaw: Ponty, nao esta associada a uma intuido para dada numa rep prior! (como fundamento da expesiéncia dos fendmenos externos), visto que toda sensagio é espacial © esctitor e poeta francés Jean-Luc Pouliquen, ofereee aos nossos leitores as “taizes poéticas e politicas do surracion: Membro do Conselho Admivistrativo da Association des Amis de Gaston Bachelard, Monsieur Pouliquen participou da homenagem realizada pelo NEP em Homenagem 2o pensamento do fildsofo Gaston Bachelard, tornando-se um colaborador efetivo das nossas publicagdes. A teadugio do seu artigo, cujo titulo original “racines poetiques et politiques du sursationalisme”, foi gentilmente concedida pela professora Marly Bulcio, motive pelo qual publicamos as duas wersd Concluimas esse niimero com “El sistema social de significaciones y la interpzetacion de la experiencia personal sein Jean Piaget”, de Juan Carlos Urse, ¢ “Tensies ¢ contraponios na constragio de um etbos earopen ¢ uma pedagogia das fronteiras para 0 tercciro milénio", do professor Miguel Angel Gareia Bordas. O primeito deles realiza uma reflexio acerca dos mecanismos de aquisi¢io do conhecimento orientando-se pelas teorias de Jean Piaget. O segundo, entreranto, discorre sucintamente acerca das bases de uma Lei Exropeia da Educardo no intuito de encontrar referéncias capazes de nortear as discuss6es referentes aos processos de formagio de professores no Brasil Em sintese, como se pode perceber, a nova proposta de Ideagio surge de mancira modesta, reafirmando, pelo nivel das suas colaboragdes, um novo padrio editorial que reflete o seu cariter interdisciplinar, sem mascarar a sua natuteza filoséfica. Sintam-se convidados a participar dessa transformacio da Revista Ideacio, por meio da leitura dos seus artigos. NORMAS EDITORIAIS A 'S, de periodicidade semesteal, constitui-se de maréria Filoséfiea, Cientifica, sob forma de artigos, ‘comunicagdes, zesenhas € OUteos Todo teabalho que se destina a este periddico deveri: 4) set, preferencialmente, inédito, redigido em lingua Postuguesa ou Espanhola, Francesa on Inglesa, levando-se em conta a ortogratia oficial vigente ¢ as regeas para a indicagio bibliogréfica, conforme a ABNT; b) See em Word For Windows 7.0, em papel tamanho earta (21,6 27,9), numa tinea face, espaga duplo, 25 linhas por laudas, com mumeragin A margem superior dieita tendo, no méximo, 24 lindas; ©) ser precedido de THTULO, em lingua Portuguesa © Inglesa, RESUMO, em lingua Portuguesa, de no miximo, 150 palavras, com 0 respectivo ABSTRACT (este item nao se refere nem aos textos literitios -ahas), bem como, 3 (ts) PALAVRAS-CHAVE em lingua Portuguesa ¢ os 3 (tees) KEY-WORDS em lingua Inglesas 4) teazee as NOTAS e/ou as REFER do texto e numeradas em ordem crescente (as referéncias pode alfaberadas); ©) apreseatar as tabelase iusceagdes com suas devidas legendas, em folha & parte (deveri haver indicagZo, no texto do lugar em que serio intezcaladas). As lusteagées deverio ser feitas em papel veers cm uma pagina extra, indicar apés o titulo do trabalho: nome do » apenas autor, ttulagio © nome do ényio a que esti vinculado, Nos resumos de ese, indicar: nome do autor e tirulagio, titulo da dissertacio, instituigio, rea de concenteagio, orientador, data de defesas g) ser encaminhado em duas vias para o Editor da Re acompanhado de uma cépia em disco flexivel, com autoriza¢io do autor para publicagio, ATENGAO: Os ext deverdose encaisirnestas normas EDITORIAL PROCEDURES IDEACAO, « UEFSs journal which i published every semester, deals with Philosophical Scientific issues in the format of papers communications, reviews and others. ‘Works submited co this journal must match the followin, procedures x * 1) Preferably be unpublished, originally written in Portuguese, Spanish, French ot English, observing the curtent offical orthogeaphy and the tules for bibliographical reference according to the ABNT! ; b) Be formatted for Word for Windows 7.0, in leter-size paper (21,6:27,9 em), Front side only, double space, 25 lines per page, numbered fon the upper right side, with maximum number of 24 pages; ©) Be preceded by an ABSTRACT in both Portuguese and English of 150 words max. ‘This item does not refer to either literary texts or eviews, It should also include as well as 3 (three) KEYWORDS both in Portuguese and in English; 4d) Make use of FOOTNOTES and/or REFERENCES at the end the text, aumbered in crescent order (references can come in alphabetical order); ©) Present tables and illustrations with theie proper legends in a separate page. There should be reference in the text of where they should be pliced, Illustrations must be print in drawing paper, 8 In an extra page, print tile of the work, name of the author(s) titles and name of the institution to which he is affiliated, In the abstract Of theses/ dissertations, indicate: name of the author, his title, ttle of the thesis/ dissertation, institution, course, area of expertise, advisor, date of act, 2) Send two copies of the work to the Bditor, along with a copy of it in a floppy disk, with author's authorization for publishing, ATTENTION: The texts must follow the norms above HERBERT MARCUSE: TEORIA CRITICA E SOCIEDADE TECNOLOGICA Dagmar Manieri Doutot em Cignelas Sociais pelo Programa de Pés-Graduacio a Universidade Federal de Sto RESUMO: Este artigo tem como objetivo 6 estudo do pensamento, de Herbert Marcuse sobre a sociedade tecnoldgica, tomando como poatos de reflexio 0 positivismo ¢ a producio artistica. interessante de tal estudo reside nd fato de Marcuse procurar uma renovacio do marxismo, adaptando-0 as novas condicdes getadas pelo capitalismo tardio, sem deixar de seguir a radicalidade do pensamento de Marx PALAVRAS-CHAVE: Sociedade Tecnoligica, Arte, Positivismo, Alienagio, Conformismo, ABSTRACT: This paper sims to study Herbert Marcuse’s thought about tecnological sociery, king into accounc the reflection about the pos and the artistic production, It is interesting to notice that Marcuse search, for a renewal of Marxist, adapting it co the new conditions of the Late Capitalism, bue without forgetting the radicalism of Marx thoughts. KEY-WORDS: Tecnological Society; Art; Positivism; Alienation; Conformism. 18 No grupo denominado Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse ocupa, sem divida, uma posicio de destaque, Poscado pelas circunstincias historicas a se exilar aos EUA, é neste pais que 0 filésofo ind produzit grande parte de suas obras, polemizando com varias tendéncias tanto no seio do marxismo, quanto no freudismo, por exemplo. E dentre os varios ataques que recebe, podemos destacar 0 de Eliseo Vivas; aqui, 0 com é mais ofensivo € mais distante do campo tedrico, fato que comprova a diferenca em, relagao is critieas-dle Habermas. Vivas denuncia em Marcuse um pensador “absolutista”, pessoa que “odeia o mundo”, um “negativista puro”, “anarquista” e “mestre do niilismo”, E a lista podetia se estender ainda mais se enumerarmos todos os r6tulos que Vivas da a Marcuse. Mas se observarmos com atengio a base desse confronto, constataremos que a questio essencial est na validade ou nio do “real”. Para Vivas, 0 mundo capitalista c, principalmente, a sociedade norte-americana, é um claro sinal de que a vida social hoje é mais segura e deseavolvida. E essa vida social capitalista (desenvolvida) é o real que deve set aceito. Nesse sentido, Marcuse é deslocado para uma esfera de um pensamento indeciso, abstrato; ele surge como o profera dos “novos niilistas”, Marcuse expressa, na verdade, uma “mentalidade vulgar” Vivas afirma que podemos destacar duas caracteristicas em Mareuse: sua erudicio ¢ uma inctivel vulgaridade. Esta sltima inicia-se com “O homem unidimensional”, onde o pensador deixa claro “seu ddio pelo mundo”, exagerando nos males dos sistema, sem um bom discernimento das situages do homem teal. Na verdade, prossegue Vivas, Marcuse odeia a sociedade que tio bem o acolheu, Seu pensamento se move num vacuo, usando critérios abstratos e futuristas; seu ideal é um modelo vazio que se converte em pensamento absolutista, arsogante € inatingivel. Nesse sentido, aquilo que Vivas propde contra o pensamento de Marcuse sto os préprios valores da sociedade 19 capitalists desenvolvida ¢ sun validade ontolégiea: tao aguilo aruro do “eal” que transcende 4 esse presente é negado como ¢: ‘A critica de Vivas torna-se interessante porque além de representar a sociedade capitalista, arma-se com todo o instrumental positivist [sto explica a tazio de numa certa passagem de sua obra acusar Marcuse de smpiricamente irresponsivel”. O empirismo de Vivas se traduz na 10 das condigdes vigentes, na crenga no progtesso € no orimismo que se destaca do avanco tecnolégico como fatores que indicam, de forma nitida, o enriquecimento do homem. Em sintese, Vivas accita 0 status quo © concebe o capitalismo como tinica alternativa a0 desenvolvimento social No eral, essas Si as cxiticas que Vivas faza Marcuse € que podemos defini como umn confronto entre duas formas de pe © 0 dialético, Solbre esse confronto, Georg Lukies escreveu um ensaio especial - A reifcagio e a consciéncia do proletariado ~ que enconteaimos cm sua Hist6riae conseigacia de classe. Citando Luikies, podemos afiar «gue Vivas di nma priotidade metodologica aos “fatos”, transformando- ‘0s em “fetiche teérico”. O que parece profundo ¢ sério em Vivas nio mento: 0 analitico intifica © capitalismo, Portanto, 0 acgar onalista compactua com os limites passa de “imediatidade” que tum peasamento dialético, o pens cesternos da exiscéncia social se torna uma reflexio incapau de transcender a ordem das coisas. Torna-se um pensamento conformista que se eseonde por detris do “empirismo sério”. Assim, o exemplo da critica de Vivas sda para um novo borizonte, mostea bem como a polémica pode ser para o confeonto entre duas formas de pensamento social Este estudo que apresentamos sobre 0 pensamento de Marcuse pode ser considerado como uma ss de fe de resposta aos ata Vivas. Invertemos, ¢ claro, 0 processo, Se Vivas procutou fazer um balanco, cxtico do pensamento de Matcuse, esse artigo & uma resposta a tudo aqquilo que Vivas levania sobre a postura te6rica do pensador alemio, No, 20 interior do debate critico que nos inceoduz Marcuse, Vives passa.a signifiear ‘ais que um simples autor: Pode ser lido como uma espécie de reagio dos valores do capicaliseno ante a validade de um pensamento negativo. A SOCIEDADE TECNOLOGICA EM QUESTAO. Marcuse denomina a sociedade tecnologica desenvolvida de “sociedade unidimensional”. B, inclusive, o titulo que da a um dos capitulos de seu uabulho. particularidade desse modelo societirio, assim pensa Marcuse, além de seu elevado nivel de utomagio (¢, portanto, teenoligico) éque provoca “um fancionamento suave do todo”. Devido a0 clevado nivel de sun racionalidade tecnoligica, essa sociedad apresenta-se com caraeterisicastotalitirias, aque contém “uma coordenacio téenico-econdmica nio-terrorista que opera através da manipulacio das necessidades por interesses adquitides. Impede, assim, o susgimento de uma oposicio eficaz ao todo” (Marcuse, 1973, p. 24, 25). © “plusalismo” de partidos politicos ¢ das forcas sociais nto altera, substancialmente, 0 poder de manipulagio desse modelo social. Acima de tudo, manipula-se as necessidades; é um proceso de “pre-condicionamento” que exige do individvo um estilo de vida que satisfaz “os interesses e instituigs de consumo supérfluo gera uma espécie d cociais”. Essa forma “eufosia na infelicidade”; sio necessidades que no brotam do individuo, mas sio determinadas por forcas externas que o individuo aio controla. Marci que é um tipo de desenvolvimento ¢ de satisfai afirma 0 heterdnimas, Sto controles tlo eficientes e profundos que o precondicionamento no se di s6 no instante da produgio ¢ difusio de informacio de massa, mas “as criaturas entram nessa fase jé sendo de ha muito recepriculos precondicionados” (Ibid., p. 29). Outro fendmeno tipico que Marcuse vé na sociedade tecaolégiea 6 a “igualagio das distingdes de classe”. O trabalhador ¢ seu an patrio assistem ao mesmo programa de TV, um negro possui um cadillac, etc, Cria-se, assim, um falso sentimento de igualdade que nao deixam de existir, Nesse necessidades deoldgico, ja que as classe sso de “igualagao”, ocorte uma mistura de dividuais. Nao apreendemos mais a distincio process entre a conveniéncia do automével de seu uso simbélico (como expressio de status). E, neste sentido, Marcuse langa uma das Jdéias fondamentais de sua reflexio: a cvilizagio industrial desenvolvida presenta sua irtacionalidade como racional. A iracionalidade é © homem se teconhecer em suns mereadorias ¢ encontrar sua alma em seu automével, por exemplo, O controle social se dé do “a ponto de até através do meio tecnoligico; ele € introje © protesto individual ser afetado em suas raizes”. O dominio é tio profundo, que Marcuse até questiona 0 cermo “introjegio’ Nio ha mais, afisma cle, uma liberdade interior isolada da opinizo publica: “Atualmente, esse espaco privado se apresenta invadido e desbastado pela realidade tecnolégica” (Ibid., p. 30), ‘Ohomem nao se ajusta mais a sociedade; ha simese, uma identificagio imediata do individuo com © meio social Nesse processo, 0 pensamento negativo nfo tem como nascer, sendo que a ideologia chega a atingir uma camada profunda no homem, Sem esse pensamento negativo, a sociedade torna- se mais eficiente em sua empreitada de silenciar © reconciliar a 2 rorna-se “submis! oposicio, Sem essa oposigio negativa,a razi : impedindo 0 eeconhecimento individual de aos fatos da vida’ ‘uma vida manipulada: Se eu me reconhego nas coisas que moldam minha vida, eu accito a lei das coisas (lei de uma sociedade sticulares). icracional ¢ manipulada pelos interesses Se sinto-me satisfeite, se fui precondicionado a accirar essa satisfagio, entio 0 proprio conceito de alien: repensado. Essa identificagio com a realidade social implica numa realidade que é, acima de tudo, “uma etapa progressiva de gho precisa ser ". Marcuse ' ma que a alienacdo tornou-se objetiva: “Hi apenas uma dimensao, que esti em toda parte e tem todas s formas” (Ibid., p. 31). Nesse universo, averdadeira consciéncia representa a “falsa consciéncia” da racionalidade presente Nao que haja um “fim da ideologia”; 0 que ocorre & 0 inverso, pois agora a ideologia é mais forte e eficaz, Na propria mercadoria que consumimos esti “o sistema social como um todo”, pois elas: (.) trazem consigo atitudes e habitos presesitos, ccertas reagis intelectuais eemocionais que prendem 8 consumidores mais ou menos agradavelmente ans produtorese, através destes, a0 code (Ibid., p 32), As mercadorias comportam um tipo de doutrinacio que deixa de ser publicidade ¢ converte-se em estilo de vida. E: meteadorias impedem minha teansformaci qualicativa, singul © em liberdade: estou enredado aum “padrao de pensamento comportamento unidimensionais”. Minhas iiéias, aspiragbes ¢ comportamento encontram fandamento nz “racionalidade” do sistema, em seu cariter quantitative, Nesse modelo de sociedade 8 oposigio eficaz que presenciamos em outros tempos € inrerdirada pela racionalidade do sistema. A sociedade barra “operagdes € comportamento aposicionistas” e entre © pritica, emerge um grande fosso. A transcendén razio tebrica 1 histdrica converteuse em utopia e complementando esse processo, 0 “pensamento cieatifico” afirma-se como “finusa da Razio” que, no fondo, funciona para ¢ beneficio dos poderes existences. Tudo parece conspirar pam impedis que o pensamento se liberte da tealidade presente, O pensamento cientifico, com toda su possivel potencialidade, converteu-se em instrumento de dominagio, 23 Marcuse afirma que 0 progresso necesita de um novo direcionamento: ele pode libertar 0 homem do trabalho alienado, deixando o progeesso de servir como “instrumento de dominacio ¢ exploracio”. Sua racionalidade seria reduzida. Mas 0 sistema reage contra essa alternativa histériea, pois quanto maisa tecnologia é eapaz de criar um mundo pacificado, “tanto mais sio a mente © 0 corpo do homem organizados contsa essa alternativa” (Ibid. p. 36), A civilizag2o tecnol6gica atual mantém uma contradi¢ao que se resume na consumagio da racionalidade tecnolégica ¢ nos esfoxcos para conter suas conseqiiéncias mais maduras, Esse é 0 elemento ircacional do sistema, ja que toda forga que a tecnologia despestou (a ciéncia, enfim) “é organizado para a dominasio cada vez mais eficaz do homem”. A ideologia que operava 40, assenhoreou-se desse potencial favor de uma forma de domi tecnoldgico para se tornar ainda mais eficaz. O “rocem” de suas realizagdes é cocat nesse niicleo contraditério, nessa ideologia que anima por dentzo a instrumentalidade em prol de certos interesses, E como se comporta 0 jogo politico, nessa sociedade tecnolopica? Marcuse declara que houve um fechamento das opgdes para uma transformacio substancial. O programa © os 10s dos virios partidos cada vex se aproximam, tornam obj se “indiferengiveis”; até mesmo os partidos ditos comuni exercem hoje uma oposigio legal, mostrando a amplirade da integracio capitalista. A diferenca qualitativa converteu-se em quantitativa, A diferenca da arual sociedade daquela que Marx analisou é que agora a sociedade apresenta uma “unio e coesio internas”, desconhecidas em ctapas anteriores. As contradigdes do sistema foram administradas; no atual sistema, elas se tornaram ‘contradigdes toleriveis”. O que a sociedade tecnolégica atval 24 rem realizado & uma obstrucdo as forgas historicas libertadoras. E olamento de Marcuse se estende 16 08 serores mais explorados, quando afirma que a suciedade transformou a servidio em algo ivel ow mesmo imperceptivel, NEGACAO E CONFORMISMO NA ARTE, Ao se referis & arte, Marcuse segue de perto as idéias de Froud ¢ associa a producao artistica 4 Yeonscigneia da iberdade”, arte epresenra 1 mais visivel “retorno do reprimido”, pois € uma forma de protesto contra @ organizagio da vida pela légica da dominacio. A arte & uma forma de sublimagio, a0 indicar que o individuo esté cindido © que 0 principio de prazer, langado para as sombras do ser, expressa-se como wAgho e fantasia, desse modo, atestam uma realidade humana dividida, um principio de realidade que fragmenta o set homem, sua intepridade: \ imaginagio visiona a reconeiliagio do individva como todo, do desejo coma reali com a raxao, Conguanto essa harmonia ren removida para a topia pelo principio de realidade estabclecido, a fantasia insiste em que deve e pode na ilusio (Marcuse, 1968, p. 134), creal,em queocouhecinentnestisubentendide © erro (ow fuga) de muitas produgdes arristicas 6 que clas se refugiam em prineipios estéticos. Marcuse comenta que esse viaculo entre arte e forma vicia 0 processo de negagao. A negagio (em acte) exige que « nio-liberdade seja “representada na obsa de sete com semblante de realidade” (Ibid., p. 135). O esteticismo pode privar a realidade (eepresentada) de seu cestos, além de Produzir uma fruigio de peazer que a torna ageadével: Quando 25 isto ocorte, a obra corre o sisco de reconciliar-se com a contetdo sepresentado. Hoje, numa fase de “mobilizacio total” © nio mais de oposigdes ambival ates, 0 modelo classico tornou-se caduco: A atte somente sobrevive na medida em que se anula, aa medida em que poupa a sva substineia mediancea nepacio de sua forma tradicional eassim se negando 4 reconeiliagao; quer dizer, na medida ‘em que se torna surrealista eatonal. Ci atte compartitha da destino de toda comunicagio humana auttorica: extingue-os (Ibid, p. 136). A fantasia s6 tem éxito nos processos sub-reais e surrealistass isto acorre porque a fantasia anula o prineipium individuationis, indo além do principio de realidade. Desse modo, podemos afirmar que Marcuse nos adverte sobre 0 poder ideolégico que pode encerrar a estética; quando isto corre, a fantasia € colonizada e se reconcilia com o principio de realidade e com uma sexualidade normal, Nos surrealistas, a imaginago exige seus dieeitos; & uma im nsigente, pois nto abandonou 0 “estrito valor de verdade” em seu choque com a realidade, Ne ago sentido, arte que se aptoxima do processo proclama “a geande recusa’ Quand ‘encaminha para proclamar um novo presente a de criagio dos surrealista liberdade suprema e uma vida sem ang r6ria e na civilizagio, entio ela nio pode ser considerada utdpica, Esse teemo esta, sim, em fungio da realidade manipulada que relega pata o além o sentido de Outre campo de refle (de Marcuse) sobre a arte na conhecida sociedade de racionalizagao teenolégica éo esvaziamento da chamada “cultura sui erior”. Na verdade, foi a realidade que superou o poder (le criagio) da cultura; esta iiltima perdeu sua 26 perspectiva anterior como elemento de oposigao & realidade. A cultura cransformou-se em “instrumento de coesto social” nesse processo, os mei 's de comunicagao de massa adquiriram uma importincia vital. Ao misturarem arte, po da cultura tica, filosofia, . a média aplica um “denominador comum” 4 esfera la foi absorvida & forma de mercadoria, A verdade em si das coisas parece desvanecer-se em substituicao de outra dade” ~ 0 valor de troca. E aqui podemos fazer um paralelo idgias de Marcuse com a afirmagio de Adorno na Filosofia da nova suisica, onde encontramos a afirmagio de que um dos objetivos da Teoria Social é explicat a injustica e a justiga estética ago desafio parece perder-se, quando todos os valores giram em torno do “valor de troca”, quando tudo se transforma em mercadoria, Ao que tudo indica, 0 que se pa com a cultura é n0 fundo, uma crise do “ideal”. A realidade parece set to forte em seu poder de manipulacio e efici cia, que obliterou o antigo sonho que a “cultura superior” cultivava, Esse rebaixamento do. fo que se traduz como “uma materializacio de ideais”. A “cultura superior” néo € mais parte signifi material, Ela foi absorvida por essa dltima. A “cultura superior” ideal & uma forma de perve iva da vida, como algo que contrasta com a cultura perdeu sua eficacia no contexto da sociedade tecnolgica atual Agora, os novos herbis no representam mais uma forma de vida que nega a ordem estabelecida: Ou sio aberragées ou tipos sociais que s6 confirmam este estilo de vida, Nessa modificagio gue ocorren com a “cultura superior”, parte de sen contesdo coaservou: até nossos dias, mas sio “imagens” e “posigdes’ que foram absorvidas como “comodidades ¢ estimulos administrados”, ‘Transformaran seguado a I6gica do sistema, em “alienacio livre © consciente”. A atual sociedade converteu as potencialidades da antiga “cultura superior” numa produgio cultural vazia de 27 negagio, seu “contetdo antagnico” foi anulado. E é aqui que se manifesta 0 poder do “novo toralitarismo”, a converter as “verdades mais conteaditérias” em algo que convive, pacificamente, com a realidade existente a realidade. Marcuse pensa que a real dificuldade da obra auréntica * yma cultura que se reconciliou com geauina e negativa é confrontar-se com a realidade. Se ela conquistar essa incomparibilidade, entio sua veracidade esta antida, Deve haver nelas um contedido que nos remeta a0 a sociedade futuro: “Imagens de uma satisfagio que dissolve: que a suprime” (Mazeuse, 1973, p. 72). A arte ndo deve se reconciliar, culturalmente, com a realidade. Ela deve invocar, hovamente, a conseiéncia infeliz que vé 0 mundo como algo dividido numa perspectiva negativa, preservando “esperangas nio-concretizadas”. O cariter auréatico da arte é seu poder de negacio e sua linguagem s6 ganha sentido, quando as imagens que contesta ainda esto vivas na socicdade. Marcuse parece mostrar que uma forma positiva de alicnagio ienacio que se insere na propria “racionalidade évilida na arce, uma dle negacao”. Mas tedo isto se perde atualmente com a incorporagio dessas formas (¢ comteiidos) como “equipamento que adoraa psicanalisa o estado de coisas predominante” (Ibid., p. 75). E uma arte que cumpre a mesma fungo dos andncios: Desejan vender, reconfortar € excitar sev piblico (transformado em nidos), A alienagao artistica aZo cumpre mais a antiga fuacio de reservar um espaco intelecteal protegido dos ataques da sociedade; agora, ela se tornou funcional, assim como tem ocorrido com outros setores sociais. Nas obras clissicas, o racional ainda se presesvava do “mal”, hum campo protegido onde as “verdades feitas tabus podiam sobreviver com integridade absteata, afastadas da sociedade que as suprimia” (Ibid., p.76). Coma domesticagio ea instrumentalizacio 28 do racional © da estética, a dominasio ganhou sua dimensio estética: a dominagio democratica tem agora sua estética democratica, B a racionalidade tecnologica que opera, hoje, as engrenagens dessa “miquina de cultura”. A cultura nio exerce mais seu poder de gerar contestacio, ne, \civ; é manipulagio e integragao, imagens sem a forea da negagio, Cultura que foi domesticada astutamente que contribui para reforcar a “unidimensionalidade” da realidade; © sistema anulou uma possivel “verdade artistica” ¢ nao abre mao de seu “carter coral”, Por isso, a arte deve exercer (como na estética que propunha Brecht), um “efeito de alheamento” para se preservar a distancia ¢ poder exercer uma reflexio daquilo que a obra expressa. O “alheamento” é uma resposta da arte 4 ameaca de behaviorismo total, As obras de arte verdadeiramente sevolucionarias devem produzir um rompimento com a comunicacio (do sistema), devem saber confrontar e por em xeque a “boa consciéncia”” nfim, se recusar nos leva a idéi avizagio da mi éria”. A constaragio de que 0 universo racional bloqueou de Marcu uma espécie de fuga que realizava a cultura superior. A conquista © unificagao dos opostos significou a teanstormagao da cultura superior em algo popular. Assistimos a uma dessublimagio que tudo nivela em prol do sistema: Alienasio arcistica € sublimacio. Cria as imagens ccondigies que sio ireconeiliéveis com o Prinetpio da Realidade, mas gue, como imagens culturais, Comam-se roleriveis, até mesmo edificantese iteis Agora essas imagens mentais estio invalidadas Sua incorporacio 4 cozinha, ao escritdrio, a lojas sua liberta¢lo paraos negscios e a distrasio , sob certoaspecto, dessublimacio ~substituindo satisfaci0 :mediada por satisfac imediata, Mas écessublimacao praticada de uma “posicio de vigos” por paete di 29 sociedade, que esticapacitada aconceder mais do que antes pelo fato de os seus interesses se terer tornada os impulsos mais iatimos de seus cidadaos ce parque os prezercs que ela concede promovem a coesio ¢ © contentamento sociais (Ibid. p. 82) A dessublimacao da cultura superior € acompanhada por um acréscimo no principio de prazer. A sexualidade liberada perverte 6 aprimoramento e 0 cultivo do principio de realidade: A dessublimacio da cultura supericr opera, assim, como um subproduto dos controles sociais: amplia a liberdade enquanto ( sistema lina 0 aleance da sublimasio ao diminuir a ren desvada, diminulda as necessdades de sblimago também diminvem, Com esse rebaiszmento do crotimo 0 individu tm caanaformasio da relidade, 26 adaptando-ve. A adesio idensifcagie com o presente tornanse“agradivcisaosindivklvos sssatos", Ent, at mesmo ose “mip” pe tacionaldadefeadzalidde) ane o stenaccontr-scenfaquecil, dnolada. © prazcesjostado geron submissto E nesse contexto que a obra de arte tem que ser inserida. Bla deve coneribuir para se preservar a consciéncia, a autonomia ea compreensio. A sublimacio € o cultive da mediacao (entre © intelecto e o instinto, a rentncia ¢ a rebeliio) ¢ também o caminho para se aleangar a “forga cognitiva”. A obra autenticamente revolucioniria ao preservar os descjos reprimidos do homem, deve se converter numa entidade mais real do que a realidade da térica © anticoletivista, praticar sdade, ja que a realidade que normalidade, Ela dever ser es ‘io irrealista da soc uma represe! 30 cria & alheia © antagénica a “realidade realista”. Seus temas, como a sensualidade em Baudelaire, por exemplo, devem conter uma “promessa de felicidade”. O conteido politico numa obra de arte pode estar ao “amor” ou em qualquer outro tema, Ao salvar a face revolucionitia de certo tema, 0 artista esta sendo altamente politico. A liberdade se expressa através dessa forma, A verdadeira politica na arte & esse deslocamento da representagio usual do tema: “O politico, na arte, é despolitizado e, deste modo, torna se 0 politico verdadeiro” (Marcuse, 1999, p. 275). Marcuse afirma que 0 contetdo politico (da arte) exige uma forma “apolitica” de representacio. Assim, a verdadeira arte deve aos ensinar a ver nas formas “apoliticas” um contetido politico. A arte deveinserir na representagio um “instrumento de estraninamento”, algo artificial que provoque um choque. Este abalo vai desaudar a verdadeira relacio entre os dois mundos ¢ as duas linguagens, Quando Marcuse comenta sobre a poesia de Aragon, afirma: Deve fazé-las cantar, pois ji nao se pade fazé-tas falar sem que falem a linguagem do inimigo, A oposigio artistica nao pode falar a linguagem do inimigo, mas deve sim contradizet sua linguagem junto com seu contesido (Ibid., p. 279), Esse artificialismo que de forma consciente o artista inteoduz em sua obra funciona como um a priori politico. Diante da ordem estabelecida, este tificialismo é 0 “ilegal” que a seanscende. Assim como esse enfoque “artificial”, a forma artistica nio deve ser a semelhanga da forma real da sociedade. A arte, nesses deslocamentos ¢ artificialismos, pode lancar sobre a realidade uma luz capaz de revelé-la em coda sua incompletude e fealdade possiveis. 31 POSITIVISMO. E PENSAMENTO NEGATIVO Sc observarmos com atengio 0 que Marcuse desenvolve aa parte final de Ragdo ¢ reselugdo, podemos concluir que se trata de ums historicidade dos ataques & filosofia de Hegel, como patoxismo do idealismo alemio. De Comte, passando por Stahl, Marcuse reconstitui os muitos confrontos que © peasamento autoritirio de Mareuse gira € uma “forca realiza em torno do idealismo. Toda a refle sobre um mesmo ponto: “A doutrina de Heg hostil”, essencialmente “destrutiva”, Sua dialética destrdia cealidade estabelecida, ¢ sua teoria desde o inicio tem 0 mesmo fundamento que a revolugio” (Marcuse, 1969, p. 327). Nese contexto, Marcuse expée, ao longo do trabalho, seu estudo do pensamento, autoritario que enxerga em Hegel um potencial revolucionirio; na sua visio, o pensamento autoritdrio compreeadeu melhor 0 filbsofo alemo que agueles “que vias Flegel exaltando incondicionalmente a ordem existente”, Entio, a reagio do pensamento autoritirio ante a figura de Hegel ato deixa de ser inteligente, ja que deixou explicito desde 0 inicio que esse pensamento (autoritirin) tinha “uma fungio proterora”. Citando Stahl, Marcuse deina claro essa idéia funcional: A filosofia positiva que a substitui “promovera 0 respeito i ordem ed autoridade, talcomo forinvocado. pot Deus pasa governar as homens, ¢ 0 cespeito 1 todos 06 ditcitos e condigbes que se tornaram legitimos através da sua Voutade”, A ordem ¢ 2 autoridade, as duas palavras-chave do positivismo de Comte, reaparecem na filosotia politica de Stab] bid. p. 330) Marcuse vé no positivismo mais que uma busca desinteressada pela verdade dos fatos; tem-se, no fundo, a utilizacio da “autoridade 32 dos fatos” para sancionar o poder constituido, A desconfianga cm relagio a0 positivismo é constante em todo seu eserite sobre © tema: “A filosofia positiva era uma reagio consciente contra as tendéncias criticas e destrutivas dos racionalismos francés € alemio” (Ibid., p. 294). Ha, sem divida, um fundo bem mais politico que, propriamente, filosdfico no positivismo; politico que no campo do pénsamento equivale a uma “salvagio ideolégica” que visa neutralizar “o processo critico implicado na “negacio" filoséfica do dado” (Ihid., p. 296) Seguindo essa orientagao politico-filoséfica, 0 positivismo contribui para criar um clima de aceitagio & ordem existente; isto mostta de que forma o positivismo compartilh: va das correntes 10: Comte foi influenciado por ow doutrinas da contra-revolu De Maistre; Stahl por Burke. © “positivo” em Comte, expde Marcuse, 2 preponderincia da tcoria cientifica sobre a filosofia. O positivismo cxé na “certeza” e procura organizar 0 real, ao iavés de negi destrui-lo. E a “sujeigto do peasamento 4 experigncia imediata”, ‘A rejeicio da metafisica que propugnava Comte, na verdade, & lo ow um reptidio ao poder do homem de alterar e reorganizar a sociedade de acordo com sua vontade racional. E essas observacdes de Marcuse podem ser verificadas no proprio Comte, principalmente em seu Apelo aos consersadores . Nesta obra, o fildsofo francés mostra como 0 positivismo vem preacher uma lacuna, um vazio que se coloca entre os conservadores (que nio aceitam a época moderna) ¢ os revolucionirios (que tentam implantar o anarquismo) © positivismo “acalmaria as principais inquietagdes” da época moderna, “fornecendo aos governantes como aos governados, pe It). Nesse sentido, o positivismo é acima de rudo uma sociologia pratica que intenta “regular o presente”. Nada estd a0 acaso ou fixa de esperancas ¢ mesmo de conduta” (Comte, 1899, 33 in abstrato, no positivismo. A religito no pode ser abolida, pois em como egofsmo, Este ha © perigo dos instintos se expressi ptecisa :star subordinado ao altruismo e, nesse processo, a antiga ia é impotente. A nova religi’o (uma religito social) deve iores aritudes ¢ sentimentos onde a teolo: x nas camadas inf ‘inveja” deva ser curada: “Elas (Comte se refere As novas crengas) nio inspiram aos proletirios senio uma desconfianca facilmente superivel, (..)” (Ubid., p. 158). Dessa forma, Comte expde de fotma clara no Apelo aor conservadores, toda a funcionalidade do positivismo: O pensamento filoséfico desce até a sociologia pritica e funcional. E essa idéia funcional e politica (que Comte nunca acgou e, até fez questio de deixar nitido em seus escritos) que Marcuse resgata. © positivismo procura ineremenrar e solidificar a ordem existente. E por mais que Comte iatenre uma critica 4 meraisica ‘© umapego i realidade dos fatos, sua sociologia é mais “antimaterialista” que o idcalismo hegeliano, © pensamento em Comte aio supera © poder social; proclama um apego a verdade que é o produto do embate (¢ da exploracio) das classes sociais. O positivismo, ao proclamar uma absurda “neutralidade”, na realidade funciona como uma garantia das classes dominantes (a cause de ordre), desejande un refuriuismo (aos quadros do sistema) indispensivel para o bom funcionamento da sociedade. Outzo deslocamento empreendido pelo positivismo foi a critica 10 sujeito peasante: © positivismo desloca a fonte da evidéncia, do. sujeito pensance para o sujeito da percepgio. A observacio ciemtfica é que produ, aqui, evidencia. «As func6es espontineas do pensamento se retrem, enguanto que suas fongdes passivas € cceptivas passain 2 predominar (Marcuse, 1969, p. 316) 34 O positivismo anula esse poder ativo, revolucionatio, no homem, 10 da percepcio", 0 “amor civico” ¢ uma crengn no desenvolvimento “conservador”. Ensina a respeitar a autoridade. Em sintese, © positivismo prepara ao terreno pata © autoritarismo, jd que o individuo “quase no tem lugar na sociologia de Comte”, Ji em One-Dimensional Man, encontramos uma reflexio sobre 08 obsticulos que impedem o desenvolvimento de um “pensamento. conceptual”. Comentando sobre as “imagens” que expressam a linguagem hodierna, Marcuse explica que elas, ateavés da imediagio © objetividade, impedem o desenvol imento dos conceitos. © pensamento unidimensional opera através de uma linguagem funcionalizada, abreviada e unificada. Nesse proce 0, © porencial do conceit ¢ anulado, sua “transcendéncia” € retieada em proveito de um significado fixo, falsificado. Sem a abstracio e a mediacio, 0 pensamento fies impedido, de promover um “reconhecimento aos fatores que estio por tris dos fatos”. Ele rende-se aos fatos imediatos, ni reconhecendo maisa dimensao historia das coisas representadas. Essa “racionalidade operacional” é anticritica ¢ antidialética, pois “absorve os elementos transcendentes, negativos e de oposicio da Razio” (Marcuse, 1973, p. 103). Os conflitos, no pensamento unidimensional, sto visualizados de forma isolada, sem qualquer associagio com as contradigdes histéricas.. No fundo, a manipulagio ideolégica objetiva a “supressio da histéria”, que implica no temor das, “cransformacdes qualitativas”. Sem essa historia (que implica na seal apreensio das contradig6es) a negacio do presente fica comprometida Se suprimirmos essa “dimensio his: ica”, entao os faros Isto ji € uma forma de toralitarismo, A face dialética que deve ser preservada € aquela que concebe a identidade do individuo em sua realidade social dados adquirem um “poder onipresente’ € contra ela, E uma concepgio que ja esta longe da “lingungem 35 fechada” da atual sociedade; fechada porque “no demonstra nem explica”, mas prodaz sentengas e comandos. Marcuse insiste que nessa linguagem manipulada, as imagens (ele comenta da tual”) substituem os conceitos. Mas, por (importantes? O conceito, comenta Marcuse, “linguagem magic: ‘que 08 conceitos 0 produto de uma reflexio que entende “a coisa no context de outeas coisas que no apareceram na experiéncia imediara e que “explicam” a coisa (mediagio)” (Ibid., p. 109). O conceit & sempre abstrato € geral, porque geralmente vai além da propria coisa ao atingir a sua “relagio universal esseneial”. Bessa “relagio uaiversal essencial” que determina a forma sob a qual a coisa arece como um objeto concreto da expetiéncia. Portanto, 0 conceito quebra essa relagao da coisa com sua “aparéncia imediata”; ptomove uma “transcendéacia empirica” e no idealista da coisa, pois toma os fatos (da sociedade) em sua “toralldade histértea”, desprendendo-os da imediatez do contexto operacional, e processo de abstragio deve ser realizado por uma teoria critica, contra “concepedo ilusétia do empirismo positivista”. A teotia critica realiza seu esforco de compreensfo numa absteagao que podemos dizer que & acertada e correta. Nio se trata, como na teoria funcional (funcionalismo), de uma “abstragio mal colocada”; nessa forma de pensat, atingimos uma “generalidade vaga”, Como podemos ver, a teoria critica situa-se entre esses dois extremos: o positivismo e a teoria funcional. Sem o processo. de abstracio correto que sO uma teoria critica pode realizar, 0 pensamento “fica trancafiado dentro dos enormes limites aos quais a socicdade estabelecida valida e invalida proposigdes” (Ibid., p. 116). O suposto conhecimento desse empirismo ou fancionalismo torna-se ideoldgico porque nao escapa as gartas Jo social que controla © conhecimento. da manipul E evidente que a atengo que Marcuse toma contra a “obra de manipulagio” & um Fato importante; em caso contririo, os valores 36 dominantes condicionam um conhecimento que gera a “alsa consciéneia” sustentados pela ideologia; portanto, a simples implica na construgio de um conhecimento verdadeira, A aprecnsio dos fatos deve superar a sua de conhecimento deixari de setor uma espécie de assentimento uma realidade que produz suas Fm oposigio a essas formas errdneas ¢ ideolégicas de conhecimento, Marcuse prope o pensamento negativo. Dai porque freqiientemente, ele recorre ao idealismo alemio para sujeito a ordem reconstituir essa forma de pensar que no est iva. Ragdo ¢ revolugdo & fruro desse esforco em mostrar que opr Ua filosofia de Hegel nasce um tico e valioso pensamento negativo, Ragae ¢ revolupdo foi claborada durante a 11 Grande werra € tenta apresentar Hegel em sua face original, revolucionaria, Na ultima parte do livro, Marcuse insiste em seu argumento de que o hegelianismo é uma filosofia progressista ¢ que tal filosofia foi sendo anulada e alterada em proveito do avtoritatismo, como em Gentile 0u Green. No exemplo do revisionismo socialista, Marcuse cita Bernstein que combate a “negagao dialética” em proveito do senso comum. Assim, 0 poteneial subversiva (a dialética) que provinha de Hegel, passando pelo marsismo oy agora & negada, Fim seu lugar surge uma concepcio “naturalista” das coisas: 0 socialismo adviria como resultado de uma pacifica do capitalismo”. E 6 a citespretagio do hegelianismo no nco-iealismo itlano, O tyte explice # uilizagio de Hegel ¢ 0 comtento especiicn da formagio da Ulin: priciro conte o poder eatdico do Varieano, depois contra as nagdes imperialistas. Assim, na Itilia, “a volta & concepgio de Hegel era uma manobra ideoldgica contra a fraqueza do liberalismo italiano” (Marcuse, 1969, p, 362). Mas de fato, hegelianismo mesmo s6 havia na forma de exposigio de sua filosofia; em esséncia, 0 idealismo italiano se distancia de Hegel: A filosofie de Gentile, “quando julgada pelo conteddo, e nao pela linguagem, nada tem a ver com Hegel” (Ibid., p. 363). Marcuse constata que 0 verdadeiro contedde da Teoria do espirite como ato puro (1916), de Gentile, nio & nem idealismo, muito menos hegeliano: Sus filosofia estd mais proxima do positivismo. A io parece anuaciar- aproximagio do estado autori se na atitude de tudo submerer-se, depressa dema Aautoridade dos fatos. Fparteintegrante do controle rotaltirio oataqueaopensamentocrtico cindependente Oapeto ao fatos substimi o apelo a raz20, (..) Da ‘mesma maneita que a importincia que o fascismo i 3 agio € & mudangs, impede a comprocneio da nccessidade de caminhos racionais de agio © de mudanea,a divinizagio do pensamento, de Gentile, impede alibertagio do pensamento das cadeias do “dado” (bid., p. 364). E 0 critério que Marcuse utiliza para se cheyar @ essa conclusio ¢ que Gentile se rende aos fatos. O faro como um eo verdadeiro Deus da época. O antagonismo poder bruto torna. entre verdade e fato que sustentava o idealismo nio eacontra se mais em Gentile, Nem mesmo um “idealismo transcendental” ant, Gentile consegue ser fiel. Seu que se aproximaria de “idealismo transcendental” ¢ sem conteido, sem “realidade ma 10 de todas as leis © padrdes racionais, uma leva a “deserui exaltagio da agi independenre dos fins, um culto do sucesso” (bid., p. 366). Entio, Gentile oscila entre 0 “transcendental sem conteido” ¢ um conereto esvaziado, sem “leis supra-individuais” 38 que os possa limitar. A realidade, em Gentile, € a agio em si, num “processo incessante", mas sem a modelo da razio universal como em Hegel. Gentile proclama 0 “atualismo”, Ue filosofia que “aceita o mundo como ele é”. Ne uma espécie sentido, 0 pensamento filos6fico de Gentile esta impedide de tomar uma posigao contrat 1 “espirito” se r realidade: pensamento ¢ agio estio unidos, ‘oncilia com a cealidade, Nao ha diferenea teoria ¢ pritica, nesse “idealismo” de Gentile, que ja falsificagio do fascismo, tre Areflexio sobre Gentile faz Marcuse desenvolver um patalelo entre a filosofia de Hegel e as bases ideoldgicas do toralitar fascista. Visita os principais idedlogs do fascismo mostrando que esses pensadores repudiavam a concepgio hegeliana de Estado, do homem ¢ da sociedade civil. Se 0 fascismo proclamava a integracio do individvo 4 comunidade (natural, nacional), em Hegel “o individuo (...) & portador de tazio © de liberdade”. Hé uma passagem importante no término de Regio « revoluedo, onde Mareuse sintetiza bem 0 significado ea itmportincia do idealismo: O idealismo filossfico era uma parte essencial da cultura idealista, Festa cultura reconhecia um teino da verdade que nao estava sujeito a autoridade da ‘ordem estabelecida e dos poderes vigentes. Art, fllosofia e veligito prefiguravam um mundo que lesaflavaas imposigdes da realidade dada (Marcuse, 1969, p. 373), Nesse aspecto, Marcuse expressa bem a tese que deseavolve em Raga ¢ revolugdo, ow seja, que 0 fascismo ¢ incompativel com © hegelianismo. © intento de Marcuse (que ja se configura no preficio da obra) ao indicar que a ase do fascismo “exige 39 ‘uma reinterpretacio da filosofia de Hegel” é plenamente realizado. Ragaa ¢ revul comporta o pensamento de Hegel; indica, também, uma verdadeica historicidade do pensamento conservador que procurou obstruir io mostra as potencialidades revolucionarias que © desdabsamento do hegelianismo. OBSERVAGORS —FINAIS E no término de seu tab Marcuse langa suas reflexd ulho sobse o homem unidimensional que 5 para uma possivel transcendéncia revolucionitia, Ele afiema que a sealizagio plena ¢ livre da razio $6 se efetivari quando a socicdade cessar de eriar seu pr6prio “inferno”, Neste :aciocinio, o pensador analisa a natureza, a razao ¢ o poder de realizagio da lbendade. A transcendéncia da natureza equivale @ uma subordl 4 libergio e & pacificagio da existéncia. A sox exploragio necessita da id cural” para justificar uma domi que €irtacional: “A glosificacio do natural parte da ideologia que protege ‘ antincrural em sua luta contra a liberracio” (Marcuse, 1973, p. 219). No estigio anual da civilizagio,a ruzio ja tem nevessidade de resgatar seu poder de humanizagio, longe da brutalidade instrumental que até n sido agora t “patureza beuraliza ybmetida, O temor de Marcuse & a persisténcia da ia"; nesse intento, a razio exerce sua funcio como, “tacionilidade pés-tecnoligica”, onde a técnica se converte em “mécodo da arte da vida” Nesse nove mundo que propie o filésofo, razio © arte se aproximaen, A arte que proclama uma “verdade impotente e iluséxia”, em conitaste com a jeracionalidade da sociedade arual, conver manifestacio vélide de imagens. Mas no processo de transformacio cientifico-tecnoldgico do mundo, a arte pode funcionar no interior do sistema, deixando de ser uma forma de embelezar a miséria, Agora, a “transformagio estética é libertagio” (Ibid, p. 221); €a arte que educa 0 omen. predador, Marcuse usa Hegel pata desenvolver essa idgia, 10 40 afirmar que a “racionalidade tecnolégica da arte” aua sobre um material opressivo; ela transforma, reduz e liberra esse conteddo da conringéncia ferocidade do lomem, er-sefiela Mars quando afirma onde vive esse mat arte que ini rod Nesse instante, Marcuse procura m: ‘que as porencialidades que podem ser conquistadas no significum uma aboligio do trabalho, numa forma romintica de teatar o problema. A nova sociedade livre ¢ eacional implica numa outra estrutura da produgao socialmente necessitia, cuja base esti (hoje) na “dominagio lucrativa”. Comenta-se sobre uma possivel redu do superdesenvolvimentor (.) aclitninagio do desperdicio lucrative aumentaria 3 nda riqueva social disponivel pata distribuicio, © mola permanente redvria a necessidade social sleneyacdo das satisfagies que sio do propria individu (bid, p. 23). A soviedade deve deseavolver as “qualidad existéncia pacifica’s isto mostra que o homem deve busi autodeterminacio, num uso inteligente de sua enerpia € no, como hoje, ‘num gasto em “trabalho materiale intelectual sobreposte”. A eomodidade que verificamos cm paises desenvolviddos converte-sc, na visio de Marcuse em “contentamenic eseravizador”. Hi, sem divida vit qbestionamente dos fundamentos cla sociedade democriticae livre; nesse tipo de sociedade forma-se uma “audiéneia cativa, eaprusada no por um repine totlicitio, mas pelas liberdades dos cidadios eujos meios de diversin © clevacio compelein os outros participarem de seus sons, suas vistas ¢ seus cheigos’ (bid., p. 225). Fntdo, nfo ha verdadeiramente Hberdade a eivilizagio atual, ha uma cesta “autonomia peivada” que ni leva as realizagies fundamen is. Na sociedade dita democritica verifica-se, de fato, uma “socializagio maciga” que funciona como obsticulo ao desenvolvimento da consciéneia. As dimensSes reprimidas da expe: @ncia peecisam tetornar 10 s6 ocorreri quando cessar a onganizacio da sociedade com base nas “necessidades e satistagies heterdnimas”. F preciso, entdo, uma 4 redefinigio das necessidades. Marcuse nfo hesita em afirmar que nesta nova dimer homem possa cair auma espécie de vazio, fl que estari privado de seus falsos aprendlizado que requer outro camino e outta forma de vida. B, portanto, \delo insuportivel”. Essa dolos, amigos ou pais. Mas € um renascer verdadeito, um tum processo que deve passar por esse “pe: quebra no poder ideoligico da sociedade wecnologica pode funcionar como desintegragio dosistema: Devo recusaro complexo de informacio que reprodus dessas necessidades aciona parte do trabalho socialmente necessisio; recessidades repressivas” e supérfluos, A bus sistema tual de informacio nos leva diretamente 4 base material da dominacio. Como podemos perceber, Marcuse permanece fiel 4 radicalidade -marxista, $6 que agora el: deve enfrentar novos desafios. Q ideal de uma sociedade igualitisi, pacfica e aio repressiva comunga com uma forma de participacio politica direta: “(...) a combinagio de autoridade ventralizada ¢ democracia diteta” (Ibid, p. 231), afitma o pensador. A racionalidade tecnoligica & acionada em beneficio do desenvolvimento humano, da produgio e distibuicio das necessidades; Marcuse comenta, manipulacio”. Portanto, o ideal socialista permanece, embora conjugado com © temor de um poder toralitirin ou administeado. Mais que um ém, sobre a aurodeterminagio, onde as massas so dissolvidas em. eficio dos “individuos libertos de toda propaganda, douteinac socialismo democritico que poderia ser uma mascara da exploragio jtalista, Marcuse prope um socialismo diteto, livre, um modelo social onde o individuo possa se desenvolver pleaamente, sem temon, Ao seguir esse pensamento, a teoria eritiea se defronta com um novo obsticulo, Nas sociedades desenvolvidas, 0 “poo” (ou talvez, a sv “o fermento da coesio social” ea “nova classe média) toro estratificagio” de base conservadora, A nova forca revolucionésia emerge de setores que se situam fora do sistema, os desemprepados ¢ 0s i “(..) sua opoxigio € xevolucionsria ainda que sua eonsciéncia cempre nnio © seja” (Ibid., p. 235). Retornanda a velha imagem que Marx emprepava, Marcuse afirma que o sistema produz seus especttos; cles sho os “novos bsirbaros” que aruam como forca revaluciemaia, horizonte, Marcuse identifica a feaqueza da teoria critica, ou seja, “sua incapacidade para demonstrar as tendéacias libertadoras dentro da sociedade estabel Por isso, « woria critica permanece negativa, como expresso que indica a auséncia de um conceito que tsansponha a lacuna centre o presente e 0 foruro, A teoria exitica éa persisténcia do marxismo uma sociedade teenoligi ce administeada, mas sem a préis do antigo REFERENCIAS ADORNO, Theodor W. Filosofia da nova masica. 3. ed. Sio , 2002. Paulo: Perspectivs _____. Teoria estétiea, Lisboa: Edicdes 70, s/d. [Prankfurt, 1970} ADORNO, Theodor Tum HORKHEIMER, Max. Dialéctica del smo. Buenos Aires: Editorial SUR. 1970. ANDERSON, Perry. Consideragdes sobre o marxismo ocidental, 2. ed. Sao Paulo: Beasiliense, 1989 COMTE, Augusto. Apelo aos conservadores. 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Lu Idéias sobre uma Teoria Critica da sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972 Razio ¢ revolugdo: Hegel ¢ 0 advento da Teoria 44 Sotial. Rio de Janeiro: Saga, 1969. Tecnologia, guerra e fascismo. Sio Paulo: UNESP, 1 OLIVEIRA, Robespierre de. Razio e felicidade na filosofia de Marcuse (1936-38). Sio Carlos: Departamento de Filosofia ¢ Metodologia das Ciéncias. Universidade Federal de Sao Carlos, 1996. PISANI, Marilia Mello. Marcuse e Freud: Uma interpretagio polémica—Um estudo de Eros e civilizagio. Sio Catlos: Departamento, Metodologia das Ciéncias. Universidade Federal los, 2002 VIVAS, Eliseo. Contra Marcuse. Buenos Aires: Paidos, 1973, TEATRALIDAD POLITICA Y MIEDO. Dr. David Gémez-Torres Profesor de Espanol do Dep: Lengoa University of Wisconsin Oshkosh tmento de RESUMO: Diante do atual contexto historico, onde 0 governo dos Fstados Unidos pressiona as Nagées Unidas (UN) para estabelecer punigdes contra o Ira produz discussos ameacadozes semelhanwes iqueles que conduziram a guerra contra © Iraque, este trabalho labor: ura do discusso decisive do czetario de Estado Colin Powell a0 Conselho de Seguranga da UN cm fevereito de 2003. Este trabalho analizari_o discurso do Secretario como um texto cujo significado pode ser iluminado através da leitura de um texto anterior, O Refablo das Maravilbas, uma farsa produzids no Império Espanhol do século XVII, escrito pelo autor de Dom Quixote, Miguel de Cervances. PALAVRAS-CHAVE: Discusso Politico, Teatro, Televisio, Verdad, mentira, Medo, Guerra ABSTRACT: In the present historical context, with the United States pressing for sanctions in the United Nations against Tran, and with the appearance in political and public discoucse of threatening attitudes similar to those previous to the war against ray, this text suggests a re-reading of Secretary of State Colin Powell’s speech to the Security Council of the UN on February 5, 2003. It proposes considering his speech as a text whose meaning can be illu ed through the reading of another text 46 Elretablo de fas maravillas by Miguel de Cervantes, a farce produced in another, earlier empire, seventeenth-century Spain. Each text appears in the medium of choice of their respective periods, theatre in Cervantes’ case and television in Powell’s, Each of these media absorbed and made part of themselves the previous means of knowing and creating truth, and became in turn new epistemological media. Both texts are organized around two basie principles: lies and feas. Fear is used in both cases to suppress dissension, bur while Cervantes uses laughter in his play to reveal che gripping fear that pervaded Spanish socicry and, in a way, to help exorcize it, Powell used his speech to manufacture the necessary consent for the invasion of Iraq, Powell’s speech is a summasy of all the excuses previously purinto circulation by the Bush Administration. My last contention is that, in spite of all appearances, Powell’s speech was not directed to the rest of the world but to the public of the United States. KEY-WORDS: Political Discourse, Theater, ‘Televised speceh, Truth, Lies, Fear, War 47 En la tama politica previa a la invasi6n de Irak por los Estados Unidos, uao de los episodios clave del proceso fue, sin duda, la inte-venci6n del Secretario de Estado Colin Powell ante cl Consejo de Seguridad de la Organizacion de las Naciones Unidas el 5 de febrero de 2003. La encrucijada historica en Ia que se halla Estados Unidos en ese momento, donde el rérmino ieetamente en circulos neoconservadores, “imperio” corria al recuerda - heciendo abstcaccién de las particularidades histéricas a la que se encontraba el imperio espafol en el siglo XVI, en el sentido de haber heredado una vasta coleccién de compromisos estratégicos y por corres el riesgo de lo que se conoce como “impecial overstretch”, es decir, la imposibilidad de defender todos los intereses y obligaciones globales simultineamente'. Es evidente, po: otra pate, que cualquier potencia imperial tiene que convivir con sus demonios patticulases, IKimese herejia 0 comunismo, el tusco o el terrorismo, y que tiene que enfrentarse tarde 0 temprano aun mundo que se resiste a aceptar suhegemonia. Hay tun aspecto, sin embargo, que creo pertinente en el asunto que nos ocupa: la consideracién semejante del Oriente Medio como fuente de peligro. En el caso espanol, eso se presenta no sélo por el extenso periodo de siete siglos de guerras contea los, musulmanes duraate la Edad Media, sino por la persistencia del poder turco en el Meditersinco y la amenaza que suponian para las naves y costas espafiolas. A esto se afiaden los miedos a una nueva invasiéa desde el sur y la desconfianza hacia los moriscos, que habian sido convertidos a la fuerza a la fe catélica, en tanto en cuanto podian servir como una quinta columna, a la geografia mental occidental, Oriente Medio ha sido, entre otras cosas, lugar originario de peligro, una tradicién que se extiende al nacimicato mismo de la literatura europea, con el enfrearamieato entre ambos continentes represeatados por griegos y troyanos. La aparicién del islam no hace sino reavivar esa 48 visién, Dice Edward Said que Greimas define la livtpia como una clave de lectura—un haz de eategorfas seménticas redunclantes que hace posible una Jectura uniforme del texto que permite suprimis las ambigucdades Se basa e ls redandancia, la reitcraciin e varios segments texeuales de elementos semanticos similares o compatibles “EL palimpsesto era un pergamino cuyo texto habia sido raspado y que se habia vuelto a usar para eserbir sobre d, pero que conservaba las huellas de la anteriorbormada, Gérard Genette lo asocin al concepro de intestextualidad al relaro ‘como selects, reesericurao resumen de otto relat. * Bentremés en una pieza corta que se intoducta entres dos actos de una comedian yboy'se conoce también con el nombte de Fatsa. Segiin Eugenio Asensio “a fsa tiene por blanco la tise 0 I alegria desatada y pata logratla no repara en medios;, adiite los recursos finos o los yolpes bajos dela comicidad (173). Cervantes no fie may afortanado cn sas incursiones al reato, en un momento en que éste est dominado por Lope de Vega. Sus comedias “se vienen ofteciendo a la critica posterior como piezas de valor principalmente lixeasi, apeeciables debidamente porla leetura” (Asensio 45). * Eleambio mis radical en la tecnologia reattal se produce con la legada de Felipe 1 al trono en 1621, especialmente con la lepada del italiano Cosimo Lowi, La complicacisa de los mecanismos yla velocidad de eon la que pueden hacerse los “cambio o “mataciones' acabaron por eonstiuir un atractivo en siy una tentacin a los eseritores para crea comedias basadas en el juego mecinieo” (Arroniz 323) "De lo que conescié a un ey con los burladores que Fizion el pano uno de los ceuentos de FF conde Licinot, de Don Juan Manvel (1282-1348), es el primer antecedente en la literatua espafiola. Una vers train de est tema y posiblemente ‘mas conocida que el enteemés de Cervantes, ese} evento Eire sess deempesadar de Hans Chriss Andersen, Tomando como referencia este cuento, Archer Taylor he Emperor's New Clothes, 1927) hizo en su dia un estudio sobre las distintas fueateseinfluencias. FLasunto aparece ano en la iteracura occidental (spas, Alemania, alia, Croacia, Francia, Inglaterra) como en la oriental (Turgut, Inia, ‘Ching, s bien dice que cl autor de F/unde rear, Don Juan Manvel “has created ‘what becomes the classical literary form of the tale, anit acer history is almost ‘wholly in the field of iterature"(24). a tin Covarrubias “Algunos esirang. representaa a os suolen tree una ca de teres gue na historia sara, y de all ks Gcron ef nombre de etalon” (itado por Wardropper 27), Estos retablos fueron,muy posiblemente, incoducidos por italianos ea Uspaiay estin relacionados con las mationetas Se puede leer también como otro mecanismo inttoducido para produc la ieoni, clseatio de que los aldeanos también se macven como mattonetas cada vex uc Jos estafadowes tan dels hilos del miedo "Contant, spin Ie Sha ye Geta coi lan oe petsona sist madre, su abuela su bisbuck.otaarabuclafoerom judas de eligi" re indins de oi * Para probar Ia limpieza de sangee se necesitaba una ejecutria, documento spenealdgico dela fumiia que probaba que cl inceiesado estaba exento de sangre contamina Estes rena crn neces Yat op ean ploy ¢clesiticos cincuso para ingresaren ls gimios, Noa aro yue se fliGearan ‘Teresa Kirschner en La exeeifcacidn de mide ene Reto de as warailas dletalla los miedos particulaes de os villanos y los miedox-que causan lng “igor”: el miedo a mort aplastaos por Sansén, el oto de la muere Jos ratones, los leones y osos y el micdo a la sexvalidad encaenado en Hecodias; asi, los comedliantes jogarian con las obsesiones, eon los men er6nicos de In paca: la ubsesi6n sexual, obsesiin pore linge y por la "Se manitista fundamentalmente es los discursos pronanciadosen un asamblea © foro; cl oridor pretende consi dsuadit, apoyado en al dieotrnia ‘tiles periiiak ttcleo dela causa es an hecho que se verifier en el futuro", i bien hay también elementos del ‘ nero judicial (tic. atc elasunto que ‘onigina a eausa pertencce al pasado” (Avaustre Casas 14). Lo perjclicial sean as consecuencias de no actuar, ln justicia estan en relaci6n con la violacidin de las resoluciones dela ONU ylos eximenes del tirana. “The photos that I am going to shows you are sometimes hard for the average person (0 intexprct, hard to me. The painstaking work of photo analysis takes ‘experts with years and years of experience’ " Ir hizo una declaracn de 12.000 pi cl le piyinas a ls que slo los cinco miembros permanentes del Consejo de Seguridad (China, Francia, Reino Unidlo, Rusia y 13 stalos Unidos) tuvieron acceso sin ser prevlamente censurads (hip.// swonent.ong/d_newswire/issues/2002/12/9/2s.htm). award Said, en su anilisis de los escritos de Evening, 1 reprusentante inglés en Fyipto entre 1882,y 1907, dice que enre as clificaciones que edie alos orientales y musulmanes esein el muy propensos a la intriga, a los andes ala crucklad com los animales, 28 econo set unos mentirosos enspedemides, *y sen todo opuestos ala caridad ala recttad ya la nobleza de la raza anglosajona’ @ acing, Lord Crome culo de Blunden es uno de los muchos que han aparecido en Rstedops Unidos y el reino Unido sobre el asunto dela politica y el micdos, puede consultarse en Shep://www.werple.net.au/~andy /works/politics-fear-essay-htm> > Powell “He [Saddign Hussein} has not developed any significant expabilty wich respset to weapons of mass destruction, Hes unable to project power against his neigabors”. Condoleczea Rice: “He does not control the northem part of his country. We have been able co keep arms from him. Fis military forces have not Ibecr rebuilt.” La transcripcn de estas ccelarciones pueden encontrarse en hip / _/enwecthememoryhole.org/war/powell-no-wmd htmy un video que incluye las dcliaciones de ambos en help: / /wwweyourube.com/watch2v=vOwbpCIkKQ, BM hups//archives.cnn.com/2001/US/11/06/gen.attack.on-terror/. Sobre este punto Carrol Nosris dice que “this oversimplification [with us or against us| utterly dismisses the complexities of people, societies and thei relationships” a falta de complejidad (lo facil) lo blanco o negro, implica la eliminacién de eualquier matiz. Sobre esta dicotomia,ciettamente infantil, pero anclada en el miedo, se establece Ia creacibn de campos. opuestos en los que la no alienacién es, por definici6n, enfrentamiento o Uefne al que no se ajusta a estos presipucstos como opositor, enemigo © simplemente “el otro”. » La aetivislad del Vieepresidente—asf como la de una muchedumbre de puntitsy spindectors weoconservadores—en estos meses en televisién, en participacidn en cologuivs oa través de intervenciones en otros Foros que después aparecian como noticias, fue frencticas basten un par de ejemplos. sefalados por Joha Nichols en Tie Na‘iow: cl primero en Denver, ante la ‘Air National Guard, en diciembre de 2002, donde dijo que Irak: podia proveercualguier diaa un individuo.o grupo tertorista conarmas bactesiol6gicas ‘0 qaimicas, yel segundo en el programa de la NBC, Meet the Press, el 16 de marzo del 2003, donde dijo que “ercemos que [Saddam] ha, de hecho, 4 seconstituido armas nucleares (heep:/ /www.thenation.com/blogs/thebeat?pid=2130) * Puede verse una muestra de esto en su discursos al International Institute for Strategic Studies London, United Kingdom (hetp:// www. whitchouse.gov/news/teleases/2003 /06/ 20030626 ,huml),al Chicago Council on Foreign RelationsChieago (huip:/ www-whitchouse.cow/news/ seleases/2003/10/20031008-4 tena ft Annual Convention ofthe Natio Association of Black Journalists (hirp:/ /www.whitehouse.gow/news/ relenses/2003 /08/20030807- atl), al National Legal Center for the Peblic Interest (haap:/ /Awww. whitehouse gow/ ncws/relenses/2003/ 10/ 20031031- 5.html),a la National Commission On Terrorist Attacks Upon The United Sates (hep:/ / snww. whitehouse gov/ news/ relenses/2004/04/ 20040408.hm), ‘enapariciones en medio de comunicaci6n como National Public Radiohttp:/ Jew. state gow /seceerary/rm/2005/ 4685.hten) Pheeps//www.enn.com/2003/WORLD/meast/02/05/ spr) eq powellaworld reax/index tal © Todawia ho, uno de sus voretos de mayor audicncia, Bill O'Reilly vende pegatinas 8 $2.50)con el stogan “Boycott Feance”, esta vez debido al papel desempetade por Brancia en i erisis det Libano, © El paso siguiente de la eadena MSNBC serfa contratar awn derechistatndical, Michael Savage, euyos comentarios racists, Nenfabos, homofbivus ymisoginos son bien conocidos para los oyentes desu prog tarde seria despedido por comentatios hom acivism/savage-donabwe bn hp:/fwuprojecteensored o/publiations/2004/17 hl © up: /xrwscenn.com/2003/ SILPOLITICS 02/05 spiny powell us reax/ index html hu /wweeenn.com/2005/WORLD fmeast/08/19 /powellun/ lea. Cuatro mises mis cos, ep:/ Aww: hacorg/ MEMORIA E INTERIORIDADE NAS CONFISSOES DE SANTO AGOSTINHO Elizabeth Gonzaga de Lima Doutomem Teoria ¢ Historia Literivia pela UNICAMP Pesquisadora Associada a0 NEF- UES RESUMO: Confissder de Santo Agostinho € um dos grandes marcos das “escritas do eu”, ¢ influenciou de forma significativa a tradigio curopéia da literatura de introspeccin, Dentre as proposigses mais complesas presentes nessa obra, a segunda parte do livro X apzesenta a indagacdo do autor a respeito do papel fundamental da meméria aa busca do homem pela sua interiotidade, ¢ como tal percurso pode levé-lo a Deus. PALAVRAS-CHAVE: Confissius, Meméria, Interioridade ABSTRACT: Confessions written by Saint Augustine is one of the greatest references of “writing of the sel®”, and it influenceal the European tradition of introspective literature in a meaningful way. Among the complex arguments in this paper, the second part of the book X introduces the author's questions about the fundamental role of the memory in search of the inner of the man and how this way can lead him to God. KEY-WORDS: Confessions, Memory, Inner. 16 Para leitor contempo: neo, as Confissier de Santo Agostinko so uma leicura estranha ¢ de dificil entendimento. Nao ha diivida de que o gosto pelos paradoxos, as proposigées por vezes absurdas, seguidas de dividas inquietantes afastem os leitores menos pacientes. Entretanto, estamos diante de um marco para as denominadas “escritas do eu”, como aponta Averbach: “Sua influéncia foi da maiores, nio somente sobre os contemporineos, no somente sobre a Idade Média, mas sobre toda a cultura européia; toda a teadigzo curopéia da introspeccio espontinea, da investigacio do eu, remonta a ele”!. Dentre outras singularidades que a obra apresenta, temos 0 tom intimista no ritmo de uma constante oragio, que expressa louvor, ages de graga, consciéncia dos erros passados e 0 desejo de transformagiio. Vistas sob esse Angulo, as Confissdes se converteram em uma forma privilegiada para que Agostinho, enquanto ser human, estivesse diante de si mesmo ¢ do Seu Criador, em um eacontro sem intermediatios, tendo a sinceridade como canal, e a emogio como ténica. Se para Agostinho, por um lado, o discurso humano é transitério © fragmentitio, por outro, somente em Deus poder’ encontrar a eternidade Diewestle métalangage, eta création, sa performance “Toutes les autres chases peuvent Etre exprinées esc ineffable; lui qui parla, et toutes choses furenterées, II parla et nous ‘Rimes crées* Puisque a paroleest essence comporelle, Dicu articula Punivers sur la dane cettaine facon; lui Seul idee abyssale du que prseédait sa commencement, sue I “infirm parole’ As Confissées, metaforica ence, cumprem no plano do sagrado © erescei ¢ mtiplica’', 0 que torna 0 texto agostiniano uma espécie de Revelac: . € € por meio dessa escritura que cle testemunha 7 aos homens a provvel eternidade na transitéria vida humana. Como forma literéria, segundo Clara Crabbé Rocha, “As confissdes sio a forma que exprime de modo mais acabado o dade de absolvigio. Tal desejo de doagio do eu e a neces absolvigio pode vir de Deus, da humanidade ou até do proprio individuo, que a si mesmo sc confessa™. Partindo dessa detinigio, pode-se observar que nas Confissier de Santo de Agostinho a doagio do eu sobrepae-se A necessidade de abolvicio, pois é 0 bispo de Hipona quem trac seu itinerério espiritual ¢ nilo Agostinho devasso e maniqueu polémico do passado. A coaversio, de Agostinho cinde sua vida em dois momentos que sao transpostos para a estrucura da obra, concebida em duas partes. Na primeira parte, ele relata sua vida pregressa de pecados © de ilusdes filoséficas, ena segunda parte, cedica-se a vida presente, transformada em modelo aos demais homens, e isto seria 0 fruto de suas confissées! Bem, mortrar-Ihes-ci quem sou. Ja mio é pequeno Fruto, Serhor meu Deus, que muitos rendam geagas por mim e que numerosas pessoas implorem em mew favor. Oxala que o coragae dos meus irmios ame, em mim, o que aborregae que en: pais a aborrecs ato de confessar como sacramento na trad importa a Deus como obediéncia, mas, no entanto, serve m 20 homem como esvaziamento de si mesmo, Nesse aro, segundo ‘Agostinho, o homem depara consigo mesmo, expde sua natureza, © toma consciéncia, ainda cue limitada, de quem & Confessar também € revolver os guardados da mem asculhar as zonas de sombra ¢ trazet 4 tona o oculto, ou aquilo que tentamos deixar escondido para os outros homens, mas nio para Deus. Segundo o bispo de Hipom, confessar-se a Deus pela escrita 8 atinge dois interlocutores, Deus ¢ os homens, ¢ cumpre dupla fungio: proclama a Verdade divina e conclama aos outros a abracar a f€ cristi A vida de Agostinho € frato das dualidades de sew contexto, onde convesgem os vestigios da cultura oriental ¢ ocidental. Sua formagio greco-latina, mais tarde, mistura-se aos ideais crista 7 s assumidos por cle, sua obra “marea um corte fundamental com as tentativas da filosofia antiga (em particular em Platio © Aristoteles) que definiam o tempo em relacio a0 movimento de corpos externos, em particular em relagio 208 movimentos dos astros.”* Essa conciliagio entre os estudos helénicos & 0 cristianismo emerge a partir de sua conversio, quando Agostinho funde a teoria platénica ¢ a doutzina crista como aponta Charles Taylor: Toda perspectiva de Agos pelas doutrinas de Pl transmitidas a ele por Ploting. Sew contate com essas doutrinas teve um papel crucial em seu desenvolvimento espititual. Ble cons se dos éltimos gril quando finalmente passow a ver Devs © a alma comoimatetiais. A partirde entio, para Agostinho, entre espirito © came deva ser compreendida com o auxiio da distingSo plaeSnica entre o corporal eo nio- corporal’. inho foi influenciads da forma como forain wu liberear- cs da falsa visio maniqueisea 8 oposigio © Um dos ponros de contato entre Platio ¢ Agostinho remete 4 meméria/reminiscéncia. Enquanto a teoria platénica postulava que na memoria ja estava impressa uma vida pré existente da alma quando esta conhecen a Verdade ¢ as Idéias Puras, para Agostinho, segundo Etienne Gilson, “a preexisténcia nao explica, por si s6, a maneita em que 0 espirito toma contato 9 comas verdades eternas, A verdadeira ¢ tinica explicagao encontra- se na identidade € continuidade da narureza racional” Na seguada parte das Confisries, o livro X & emblemitico para se conhecer a ayuda reflexio de Agostinho sobre a memé No inicio do capitulo ele expde 0s objetivos de suas Coxfisies € coloca-se em uma posicio de humildade para, desta forma, clevar-se 0 Criados. Esses sio artificios preparatérios para adentar o espago que se interpée entre cle © Deus: “Chego aos campos e vastos palicios da memoria onde estio os tesouros de inumeraveis imagens teazidas por percepcoes de toda espécie."”, que apontam duas metiforas espaciais ¢ provocam a aio de percorrer, conhecer, penetzar o mundo interior: “E li que me enconto a mim mesmo, ¢ recordo as ages que fiz, 0 seu tempo, fo seu lugar, ¢ até os sentimentos que me dominavam ao pratici las”, Entretanto, como assinala Gagnebin, nis metiforas nao conseguem representar a complexidade da meméria: Agostinho reconbieci que era impossivelfalarem termas cspaciais da meméria, pois nenburna metifora (grandes Campos’, ‘Antros ¢ Cavernas sein nvimero’, “Vastos Palicis, Grande Recepticulo’' da memdninete)eonseyve ‘dar conta dus imagens que am esi, Essa ‘dioensio’ infinita da meméria provoca em Agostinho, mais tarde em Proust, uma seagao de admiragio e susto, quase demedo" A admiragio © os questionamentos de Agostinho sobre a forca da meméria pode ser vista também como uma estratégia pata instigar os homens a se voltarem para seu interior, pois esse espaco tem maior relevineia do que o exterior: “Os homens vio admirar os pincaros dos montes, as ondas alterosas do mar, as largas correntes dos tios, a amplidio do oceano, as drbitas dos astros: € nem pensam em si mesmos!""? Segundo seu entendimento, 80 4 extensio da meméria € tal que nela se encontram todos os conhecimentos, ela é a fonte das sensagdes ¢ da imaginacio e nos seus diversos abrigos, cones aces ¢ recondicos, esto as imagens. Na verdade, para ele a meméria é o lugar onde a lembranca do Criador pode ser evocada, assim, para encontrar Deus © a si proprio, 0 homem deve voltai No principio do livzo de Gi para dentro de si, jesis, a marrativa sugere que a imagem divina foi registrada no homem desde a sua criagio: “Entdo disse Deus: Fagamos o homem i nos a imagem, conforme imelhanga. Assim, Deus criow 0 homem a sua imagem, a imagem de Deus 0 criou; macho e fémea os ctiou", Desta maneira, 0 texto biblico sustenta a proposicio agostiniana de que a busca por Deus ¢ pela Verdade se encerra em nds mesmos, como assinala Etienne Gilson: is verdades eternas cimutiveis do mundo espiricual platdnico tém sua sede em Deus, que é a Verdade, Nao a conhecemos por meio de uma recordacio ou “reminiscéncia” de tipo platdnico, mas por uma recordagio tipicamente agostiniana, isto é: mediante um ato consciente de Iintetiorizagio, no qual a razao toma conseigncia da presenca de Deus, sedi a conheece’ razio, mediante a ‘recordacio” que The da acesso a infinidade de Deas, Sxposto dessa forma, parece que tal empreendimento € simples, zo entanto a busca por Deus, pela alma, ¢ pela propria Verdade é uma questio muito mais complexa. Dai uma das sa26es para que Agostinho tornasse sua escritura um itinerario espiritual, descrevendo sew movimentado percurso quando enveredou pela vida dos prazeres, vagou centre varias conrentes filosbficas, mergulhou na retérica, o que tesultou na insatisfagio e no vario, até que, no cintico de uma ctianea, toda a Verdade 81 se revelou, como se una expécie de rasiro esquecidy vultasse & wou. 0 1at0 deseneacleou a lembranga ¢ 0 sentido emergiu. —a resposta estava dentro dele: ‘Os meas bens no esasam fora, nem enim procuadas sob este sol pelos olhos da care. Agueles que quezem ovat fora de si mesmos faclmence se dissipam ¢ deeramam naquelas coisas aparentes e tempoxtis, lambendo com o pensimento faminto as imagens de tai objetos. ~) Ougam a nossa respost: Esti pravada dentro de nis a lux do vosso tosto Senbor, nis io somos & liz que iamina a todo homem, mas somos iluminados por ws, para que seitmos hie em Vis 0 ‘que fomos outroatrevas” Bi possivel depreender que um de seus argumentos mais conrundentes sobre 4 relagia do conhecimento de sie 0 conseqiente conhecimento de Deus encontre, na memoria, 0 elo de Ugagio. Desa maneira, devemos primeico tentar conhecer aossa memiéria, suas faculdadls, seu poder, pois & nla que residem as imagens impressas por Deus. Além disso, todos os nossos atos, sensagdes e sentiments pelos cexisténcia se encontram ali registeado: tuiremos nossos passos, ela Eo espago, quais passamos durante nos acionarmos suas imagens, recon: ainda que infinito, do autoconhecimento: Eis-me nos campos de minha meméria, ns seus antros ce cavernas sem nismero, epleras, 20 intinito, de toda a espécie de coisas que li esto gravadas, ou porimagens, ‘como os compos, ou por simesmas, como aseigncias eas artes, ou, enti, por Ao sei que noses e snais,como os movimentos da alma, as quais ainda quando a a0 gitar, se enraivam na meméria, posto que esteja na smieméria tudo o que esti na alma, Percoren vodas estas paragens. Vou por aguie poral. Penetro por toda parte 82 {quanto posso, sem achar fim, To grande & a poténcia da memaéria e tal o vigor da vida gue seside no homem vivente ¢ moztll® Desa forma, para Agostinho a memiria tem un papel Fondamental 20 encontro do homem com Deus, mesmo 0 Criador estando acimna VANCE, Fugene. Le moi comme langage: Saint Augustin et Paucobiographie, Podge: Pris, no 14, p.168,1973 * Neste sentido, Eugene Vance assnal, “les hommes libérés du péche doivent ritr et muller le dicoursoriginel de Dieu (.)",p.170. ROCHA, Clata Crabbé. O espago autobingefico em Miguel Torgp.Coimbra Atmedina, 1977, p99. * Samo Agostino, Confissdes. Trudugio | Oliveia © Ambrésio de Pina. Sto Pauto: Nova Cultural, 1996, p26, GAGNEBIN, Jeanne Mari, Sete aula sobre linguagem, memiiriaehistria. Rio de Jancios Imago, 1997, 70. “EAYLOR, Charles As fontes do self Traugio Adal Ubitajarae Dinah Azeveslo de Abreu. So Paulo: Loyola, 1997p. 169. GILSON, Etienne. Histsn da lsofia cist. Tralugo Raimundo Vier Petropolis Vores, 1985, p13. * Santo Agostino, p. 266 Tider, 268, ".GAGNEBIN, Jeanne Mate: Op. it, p.72. + Santo Agostino, p26? © Bite Sages, Genesis 126-27 “GU SON, Ftienne. Op ct, p14 © Santo Agostinho, p235, © Santo Agostinho, p277 © dem, p27 © em, p27. » dem, p27. » dem, p27. 2 Santo Agostinbo, p2 Biblia Sagrada, Géneis 3:19 RICOUER, Paul. Tempo c nrntva Tradugio Consanga Marcondes César SI0 Paolo: Papiras, 1994 .20.Tomo L “Santo Agostinho p. deo, p25, 86 REFERENCIAS AUERBACH, Etich. Introdugio aos estudos literarios. Traducio José Paulo Paes. Sto Paulo: Cultsix, 1972, BIBLIA SAGRADA. Tradugio Joao Ferreira de Almeida, Sio Paulo: Sociedade Biblica do Bras GAGNEBIN, Jeanne Maric. Sete aulas sobre linguagem, meméria ¢ historia. Rio de Janeiro: Imago, 1997, GILSON, Etienne. Historia da filosofia crist’ Vier. PetsGpolis: Vozes, 1985, Tradugdo Raimundo RICOUER, Paul, Tempo e narrativa. Traducio Constanga Marcondes César. Rio de Janeico: Papirus, 1994, ROCHA, Ciara Crabbé. O espago autobiogeifico em Miguel Torga. Coimbra: Almedina, 1977. SANTO AGOSTINHO. Confissdes. Traducio J. Oliveisa Santos ¢ Ambrésio de Pina, Sio Paulo: Nova Cultural, 1996. (Colegio Os pensadores) TAYLOR, Charles. As fontes do self: a construcio da identidade moderna, Tradugio Adail Ubiajara Sobra e Dinah Azevedo de Abteo. Sio Paulo: Loyola, 1997. VANCE, Eugene, Le moi comme langage: bn Poétique: Patis, n 14, p163-177, 1973. INTRODUCAO A NOCAO DE ESPAGO EM MERLEU-PONTY Harley Juliano Mantovani Graduado cm Pilosofia - Universidade Federal de Uberlindia Mestre em Filosofia - Universidade Federal de Sio Carlos RESUMO: Neste texto, procuramos demonstrat que 0 espaso, talcomo eacontramos formulado por Merleau-Ponty na Penomenolgia da Percepedo, & a preparagio de um caminho de volta ou abertura para o acontecimenta do Ser. Foi esta a nossa pergunta: como (0 espaco, enquanto caminho que se faz, pode conter as raizes da reabilitacio oatoldgica do seasivel proposta por Merleau-Ponty? PALAVRAS-CHAVE: Espaco; Merleau-Ponty; Fenomenologia. ABSTRACT: In this text, ve try to show that the space, such as we find formulated by Merleau-Ponty in Pheromenology of the Perception, is the preparation of a return of an opening way 10 the event of the being. Our question was this: How could the space, as a way to be taken, can contain the roots of the sensitive’s ontological reabilitation preposed by Merleau-Ponty? KEY-WORDS: Space, Merleau-Ponty, Phenomenology 88 De antemio, destacamos a preocupacio de Merleau-Ponty em aleangar uma experiéncia nio cient ca do corpo, porque, segundo cle, 0 corpo nao é objeto entre objetos. Aqui, entenda- se que experiéncia do corpo é reabilitagio do mesmo, é experiencia do isrefletido © do residuo de opacidade do pensamento. O corpo é a instincia de um saber originério que antecede © marca © malogro da reflexto em sua insia de retomar cado, de igualar tudo a si, Este saber origindrio é mais velho do que a reflexio, cle € da ordem da espontancidade segunda a qual o corpo sente- se a si mesmo ou sabe-se a si mesmo. antes do pensamento que faz dele um objeto. Conseqiientemente, na proposta de Merleau- Ponty de reencontrar 0 corpo enquanto experiéacia daquele saber origindrio esté implicadaa saida do mundo detetminado objetivamente no qual prevalecem as celagées mecinicas de exterioridade. Veremos que a experidneia do cospo é a de uma espacialidade Primordial, em oviros termos, € a volta & origem do espaco cicntifico ¢ geométrico, a um espaco cujas “partes se selacionam ‘umas as outres de uma maneiza original: clas nio esto desdobrada uumas a0 iado das ourras, mas eavolvidas umas nas outras (MERLEAU-PONTY, 1945, p. 114), formando um espaco distinto do espago exterior. Neste sentido, antes de falarmos de espaco, cumpre-nos falar de espacialidade. Num primeiro. momento, devemos voltar ¢ retomar a espacialidade como reducio ¢ formasio do espago. A espacialidade originatia do corpo é uma espacialidade de movimento ow, antes, que se realiza no movimento no qual apreende a manifestacio do objeto, ou seja, que se realiza enquanto sustenta ou fundamenta a aparigao do objeto. f oportuno dizer que com esta nogio de espaja mivel, dindmico, aré entio esteanha, estamos diante de uma refozmulagio do entendimento © das suas categorias ¢ de um rearranjo dos instrumentos ja falantes da tradigio filoséfica. Merleau-Poaty cacontra 0 corpo. 89 anteposto ao espaco cientifico, fixo, definido por leis imutiveis, porque sio relagdes matematicas e mecinicas, as relacdes entre suas partes justapostas, visto que, para Merleau-Ponty, “a iniciagio cinética € para o xujeito uma maneira original de referit-se a um objeto, assim como a pescepgao” (1945, p. 128). Em out palavras, 0 movimento em formagio, o espaco mével ou 0 corpo enquanto experiencia, éintencionalidade originaria, pois, continua Mezleau-Ponty, “a partir do momento em que ha conscigacia, ¢ para que haja consciéncia, é preciso que exista um algo do qual cla seja consciéncia, um objeto intencional, ¢ ela s6 pode disigir se a esse objeto enquanto se “itrealiza” ¢ se langa nele, enquanto cesté inteira nesta referéncia 2... algo, enquanto € um puro ato de significagao” (1945, p, 141), No movimento a0 qual esta implicado ‘esquecimento de si mesma, que é 0 movimento de transcendéncia, de existéncia ou de instituigao de significagoes, a eonseiéneia se faz a abertura, 0 vazio ou 0 fundo no qual aparecem os relevos de um objeto. Além disso, cumpre-nos dizer que 0 caminho percorrido pelo movimento da consciéncia ou pela consciéncia que é movimento ou permanente fluxo € 0 caminho do pr6prio saber de si no interior do outro, posto que, “oziginariamente a consciéncia € nao um ‘eu penso que’, mas um ‘eu posso”” (MERLEAU-PONTY, 1945, p. 160) que pressupde a unidade originéria entre 2 sensibilidade ¢ a motricidade. E através desta cia, que ele se faz e instieui unio que o corpa se constitui cons © espago do mundo ainda nao formado. Merleau-Ponty entio pode dizer que 0 corpo no esta ‘no’ espago © ‘no’ tempo, mas que ele ‘habita’ o espago e 0 tempo, isto €, que 0 corpo no & um objeto no espago € no tempo, mas, que ele € um sujeito neles, que movimenta-se pelos horizontes de indeterminagio espaciais e eemporais que remetema um inacabamento, a uma sintese que precisa sez recomecada sempre (MERLEAU PONTY, 1945, p. 162-164). O caminho desse espaco mével 90 otiginario é,finalmente, o caminho do proprio tempo da experiéncia da sun formagio, no qual o tempo vem a expres a0 permitir trazer a expressao 0 objeto através da sintese temporal sempre recomegada, na qual a cada fase ou diferenciagio temporal cotresponde um novo perfil do objeto ¢ um ensiquecimento da experiéneia do espaco. Quanto a isto, em que pese a temporalidade essencial do espago expressivo, Merleau-Ponty afirma que © corpo é eminentemente um espaso expressive (.). Mas nosso corpo 30 & apenas um espaco expressive entre outros. Este & apenas 0 corpo constituido. Ele € a origem de todos 0s outros, 0 ;t6ptio movimento de expres 0, aquilo que projeta as significasdes no exterior dando-Ihes um lugar, aquilo que fax com que elas comecem a existir como coisas, sob nossas mios, sab aossos olhos (0945, p. 171), F 86 tocamos e vemos aquilo que sentimos, aquilo encarnado pelo espago e pelo tempo ~ 0 espago € 0 tempo que o nosso sentimento encontra ~ e, portanto, a moticidade do coxpo proprio, da espacialidade originiria, é a otigem © o proprio movimento da expressio que depende, por fim, daquilo que Merleau-Ponty entendeu como “sintese do corpo propria” formacio daquela espacialidade primordial aquém do espaco objetivo, porque, afirma o filésofo, “nossa mera constante & por em evidéncia a funcio primordial pela qual fazemos existir para nds, pela qual assumimos o espago, 0 objeto ou o instrumento, € descrever 0 corpo enquanto lugar dessa apropriagio” (1945, p. 180), ja que na expressividade do corpo temos o rompimento do puro comércio entre sujeito epistemoldgico © 0 objeto, tumo 4 relagio primordial entre 0 sujeito encarnado € 0 seu mundo, entre © seu movimento, os seus pasos ¢ 0 caminho, € on o horizonte, Pelo movimento da expresso, enquanto espaco que contém a expresso como objeto intencional, Merleau-Ponty cfetiva o ulteapassamento da dicotomia cla jica_entze 0 sujeito 0 objeto, pois, neste movimento de formacio simultinea tanto do sujeito quanto do objeto, estamos aquém de um ser dividido em natureza “em si” © natureza “para si", em me extensa © res cogitans Essa nogio pré-lingiiistica de expressio, de subversio da Ling@istica enquanco cigncia dos signos ou semiologia, permite aMerleau-Ponty reencontrar o sajeito falentee superar as psicologias cempiristas ¢ intelectualistas que ele coloca no mesmo plano pelo Fato de ambas afirmarem que “a palavra no ‘tem’ significagio’ (MERLEAU-PONTY, 1945, p. 205) ou, 0 que € 0 mesmo, que 50, porque, tanto parao empirismo, a expressio no contém o expr quanto para o intelectualiseo, ~ acusando-nos sua comum origem = signo e significacio mantém entre si uma relagio positiva de exterioridade, pois aquela origem, fundamentando ontologicamente a matematizagao da natureza, determinou a separagio do sensivel © do sentido, do fato e da esséncia, do conteido c da forma, isto 6,0 sensivel no contém o seu sentido, entio acessivel, unicamente, através do. pensamento, E esta separagio que Merleau-Ponty pretende climinar com o seu conceito de expressio, ¢ reabilitar ‘© sensivel, salvar-the do seguinte prejuizo: entendide como sign desprovido de sentido, incapaz de ser signo de qualquer existéncia, © sensivel era, por conseguinre, incapaz de fundamentar cm si mesmo as relag6es de conhecimento, que era o conhecimento das, ivelmente conhecida era esséncias, ¢ entdo a dnica existéncia intel ado pensamento; o cognoscivel era o pensivel, Consequentemente, a relagio de conhecimento cagito-cagitatum nao havia lugar para alinguagem em decorréncia da depreciacio ontoldgica do sensivel que, desprovido de sentido e de racionalidade, negawa a linguagem a condicio de discurso racional sobre ele; também desprovida 92 de qualquer racionalidade, incapaz de ser acesso a0 racional, restava-lhe ser 0 instrumento do pensamento, cabia-lhe ser a mera tradugio de uma racionalidade prévia, quer dizer, havia uma relacto de exterioridade entre pensamento ¢ fala, esta sendo apenas o signo daquele. Com a elaboragio da sua nogio de expressio, Merleau- Ponty cctornou aquém das relagdes exteriores entre pensamento e fala e pode, entio, cortigita, posto que, através desta nocio, ele reafirma o clo do signo da significacio, a continéncia intencional do expresso na expressio e, sobretudo, a imanéncia do sentido ao sensivel. Doravante, a expresso nao separa-se realmente do expresso, mas, se ela no o contém realmente, ela contém o sentido enquanto valor expressivo ~ pré-conceitual ¢ pré-logico ~ segregado pela configuracio simbdlica do sensivel que experimentamos como um grande simbolo aatural de um

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