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PROFESSORA ADRIANA
Os namorados da filha
Quando a filha adolescente anunciou que
ia dormir com o namorado, o pai no disse nada.
No a recriminou, no lembrou os rgidos
padres morais de sua juventude. Homem
avanado, esperava que aquilo acontecesse um
dia. S no esperava que acontecesse to cedo.
Mas tinha uma exigncia, alm das
clssicas recomendaes. A moa podia dormir
com o namorado:
Mas aqui em casa.
Ela, por sua vez, no protestou. At ficou
contente. Aquilo resultava em inesperada
comodidade. Vida amorosa em domiclio, o que
mais podia desejar? Perfeito.
O namorado no se mostrou menos
satisfeito. Entre outras razes, porque passaria a
partilhar o abundante caf da manh da famlia.
Alis, seu apetite era espantoso: diante do olhar
assombrado e melanclico do dono da casa,
devorava toneladas do melhor requeijo, do mais
fino presunto, tudo regado a litros de suco de
laranja.
Um dia, o namorado sumiu. Brigamos,
disse a filha, mas j estou saindo com outro. O
pai pediu que ela trouxesse o rapaz. Veio, e era
muito parecido com o anterior: magro, cabeludo,
com
apetite
descomunal.
Breve, o homem descobriria que
constncia
no
era
uma
caracterstica
fundamental de sua filha. Os namorados
comearam a se suceder em ritmo acelerado.
Cada manh de domingo, era uma nova
surpresa: este o Rodrigo, este o James, este
o Tato, este o Cabea. L pelas tantas, ele
desistiu de memorizar nomes ou mesmo
fisionomias. Se estava na mesa do caf da
manh, era namorado. s vezes, tambm
acontecia ah, essa prstata, essa prstata
que ele levantava noite para ir ao banheiro e
cruzava com um dos gals no corredor. Encontro
inslito, mas os cumprimentos eram sempre
gentis.
Uma noite, acordou, como de costume, e,
no corredor, deu de cara com um rapaz que o
olhou apavorado. Tranquilizou-o:
Eu sou o pai da Melissa. No se
preocupe, fique vontade. Faa de conta que a
casa
sua.
E foi deitar.
Na manh seguinte, a filha desceu para
tomar caf. Sozinha.
E o rapaz? perguntou o pai.
Que rapaz? disse ela.
Algo lhe ocorreu, e ele, nervoso, ps-se
de imediato a checar a casa. Faltava o CD player,
faltava a mquina fotogrfica, faltava a
COMPREENSO/ INTERPRETAO
COMPREENSO/ INTERPRETAO
1. A crnica , geralmente, um texto curto e de fcil
interpretao. Tem por caracterstica descrever fatos
do cotidiano, assumindo um carter humorstico,
crtico ou irnico. Seus personagens tambm so
comuns e de fcil identificao do pblico.